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1. 121 5 1 Os KAINGANG E O ESFOR O PARA MANTER SUA CULTURA 122 5 1 1 Ind genas nos espa os da cidade ou a cidade nos espa os dos Tale e nT Cae sai tres E arde caisiarasa ro covas si cs semanas asa fiinn ones 135 5 2 AS MODIFICA ES NO MUNDO DO TRABALHO A VIDA CONTEMPOR NEA E OS AINGANO asso ai ii a dd a 142 5 3 INF NCIA CRIAN AS IND GENAS ENTRE CESTOS E COLARES si 152 5 3 1 Atividades produtivas e a comunidade Kaingang 156 6 FIBRAS E CESTOS EM MEIO URBANO assnnnn eee 162 6 1 CULTURA NAS M OS QUE TRAMAM A ARTE DE ENSINAR 166 6 1 1 Sociedade Kaingang e Sociedade envolvente viv ncia e SUDSIST NCIA E A car saaana ias nisdai adiada ienhai cuadisa 175 6 2 FAR IS E PARABRISAS REFLEXOS NO DIA E NA NOITE eee 182 6 2 1 Sinaleira fechada confrontos de leis snnnnn 188 6 2 2 Pol ticas P blicas parabrisas emba ados 199 7 PARA SEGUIR E N O CONCLUIR s sis reresereeseraesesereeseraeseranaes 210 REFER NCIAS BIBLIOGR FICAS ririeeeerereeesereeeesesereeserereeeseseneese 214 AP NDICE A INSTRUMENTO DE PESQUISA FORMUL RIO A ENTREVISTA COM OS KAINGANG eeeeeeeeeeeeeeeereeereeeremrereresereaes 229 AP NDICE B INSTRUMENTO DE PESQUISA FORMUL RIO B ENTREVISTA COM
2. Gravura 4 Realidade Urbana Fonte Autor Artur Garlet Dietrich 2009 Uma coisa que me atinge muito mesmo sobre a natureza que eu tinha que estar mostrando pros meus filhos contando pra eles fazendo com eles praticando com eles seria mesmo no mato na mata S que hoje eu passo pros meus filhos em palavra em hist ria agora eu passo sempre pros meus filhos em palavra em hist ria o que ainda existe O que n s fizemos o que a gente faz sempre falei sempre conto pra eles pra que eles n o esque am Mas na verdade era mostrar pra eles pra eles praticar Ensinar a minha filha fazer um pix fazer um kumi um pyrf Minhas filhas mo as agora n o sabem fazer um pix um mi l assim fazer alguma coisa natural mesmo eles n o sabem tem coisas que a gente tem que estar ensinando agora mas tudo comprado pra poder mostrar L nas reservas ind genas n o precisava gastar a gente mesmo plantava ou conseguia as folhas por l Terra 41 anos 2009 163 Neste depoimento um pai Kaingang expressa que a din mica do seu povo esteve vinculada natureza ao afirmar que eu tinha que estar mostrando pros meus filhos e que suas filhas mo as n o sabem fazer alguma coisa natura isto demonstra a mudan a de sua realidade com o passar dos tempos Ele reside em S o Leopoldo e em sua mem ria est inscrito o que vivenciou quando residia na TI de Nonoai Afirma que naquela poca n o pr
3. o CT foi l na aldeia o procurador esteve l tamb m e discutimos bastante sobre isso sobre o tipo de trabalho das crian as mas virou em nada porque ningu m sabe o que fazer nem o CT sabia o que fazer Ar 2009 195 Tal afirma o ningu m sabe o que fazer resulta no fato de que as comunidades Kaingang buscam as suas solu es nem sempre bem vistas Como eu disse que a gente n o tem nenhum emprego ent o a gente faz os grandes balaios e os pequenos ent o eles v o pra sinaleira com os balaios pequenos porque s fim de semana que a gente sai vender mas s que balaio grande eles n o levam eles levam peixinhos casinhas colar pulseira pra eles comer o que eles querem porque n o tem pra dar Vento 2009 O processo de pauperiza o das comunidades Kaingang que se acentua significativamente imp s tamb m o envolvimento das crian as nas atividades diretas de venda do artesanato e na mendic ncia Esse mesmo processo contribui para que as comunidades criassem outras formas de organiza o Hoje aqui pra gente se alimentar a gente tem que trabalhar tem que lidar com taquara cip Tem que lidar com outras coisas que a gente faz bancas venda de artesanato para os fog E que tem o seu tempo a venda A venda tem no ver o tem que fazer as bancas No inverno a gente n o lida com balaio Agua 2009 O participante Terra demonstra ao afirmar que a crian a em sua atividade produtiva consegue m
4. ora de forma idealizada Comumente ouvem se coment rios de que os ndios no Brasil j perderam sua cultura Como vimos no cap tulo anterior o Brasil sim um pa s dinamicamente multicultural e diverso e concentra in meras especificidades culturais como a universalidade da l ngua portuguesa Ora se no Brasil existe em pleno s culo XXI cerca de 180 l nguas ind genas diferentes isto nos demonstra que a diversidade tnica e cultural existente aqui se caracteriza na din mica de diversas rela es sociais concentradas num mesmo pa s O tema da diversidade cultural permanece um assunto candente nas ci ncias humanas assim como nas artes na literatura no direito na antropologia e at mesmo recentemente nas pol ticas p blicas Exemplifica se com a afirma o dos direitos espec ficos dos negros e povos ind genas em nossa sociedade o que vem consolidando espa os para pol ticas diferenciadas Na atualidade as popula es ind genas ocupam diferentes espa os distribu dos em praticamente todo o territ rio brasileiro vivendo em grande parte nas periferias de centros urbanos em diferentes estados e munic pios o que os obriga a viver de forma e em condi es completamente adversas de suas pr ticas culturais origin rias Neste cap tulo a reflex o ser sobre a import ncia do entendimento sobre a categoria cultura bem como suas implica es para a garantia de direitos diferenciados educa o sa de
5. As descri es entre par nteses e it lico a partir daqui s o falas ouvidas ao longo do trabalho e conv vio com o povo Kaingang As falas ind genas inseridas entre aspas s o de lideran as e artes os homens e mulheres que ao longo dos anos foram compartilhadas com a pesquisadora 7 As express es descritas aqui s o anota es que fizemos ao longo dos anos do trabalho com os Kaingang Seguidas vezes eles s o convidados para realizar falas em semin rios palestras eventos culturais em escolas universidades reuni es diversas onde palestram e debatem sobre sua cultura suas viv ncias na aldeia ind gena e na periferia da cidade No anexo fotos de alguns eventos 27 taquara Do cor tiram a gordura que usam como medicamento em ferimentos e para preparar alimentos Vez que outra o p ssaro pica pau se antecipa e rouba dos Kaingang este importante alimento Na verdade o cor alimenta a ambos e de quem chegar primeiro mais ou menos assim Sabem que o pica pau se alimenta de algo sadio e que por isto a comunidade tamb m fica fortalecida com este alimento saud vel O pica pau bate seu bico tantas vezes e com tanta for a que perfura sabiamente a taquara e saca por esse orif cio o alimento vivo Os p ssaros deixam sequelas na taquara deixam feridas Onde batem com seu bico ficam buracos que segundo os Kaingang caruncham a planta Os Kaingang conhecem bem as fases do bichinho que fica escondi
6. Os adultos n o t m acesso ao trabalho e atribuem isto ao preconceito Afirmam que n o conseguem emprego na cidade por causa da discrimina o e se n s n o lidar com artesanato a gente vai campiar emprego um servicinho eles n o d o pra n s por causa que a gente muito discriminado pelos branco Vento 2009 Ah os f g os f g muitas vezes tem uns que tiram sarro da gente gua 2009 a gente criticado sempre Fogo 2009 As express es dos entrevistados refletem que o preconceito uma realidade vivida cotidianamente e o fato de serem considerados sujos b bados relaxados acentua a falta de perspectiva o descr dito ao mesmo tempo em que os fortalece para cria o de outras estrat gias de sobreviv ncia A gente vai ensinando at ele estudar e saber trabalhar com o artesanato porque da ele tem dois lados pr ganhar se n o ganhar emprego ele pula pro artesanato a nunca falta o que comer Vento 2009 N s ensinamos nossas crian as a se virar desde pequenos porque um dia eles t m que se virar sozinhos v o ter que cuidar da fam lia deles tamb m v o ter que se sustentar por conta Chuva 2009 Na organiza o que tem procuram fortalecer suas crian as para que quando adultos tornem se independentes e em condi es de assumirem sozinhas suas vidas N s ensinamos nossas crian as a se virar desde pequenos nem que ele ta estudando a gente ensina igual por caus
7. compreendido como reflete J nior 2005 como o direito ao usufruto equitativo das cidades dentro dos princ pios de sustentabilidade e justi a social e o destaca como um direito coletivo dos habitantes em especial dos grupos vulner veis e desfavorecidos Aqui est colocada a comunidade ind gena a qual se mant m confinada em um pequeno territ rio que em nada se assemelha ou identifica as grandes matas e plan cies que aprendemos a reconhecer nos estudos sobre os ndios que povoam essa terra brasilis 140 Nos espa os das cidades o passado continua sendo um elemento essencial ativo para a produ o cultural do presente No permanente processo de produ o de novos significados e valores os Kaingang recriam o passado para afirmarem sua identidade ind gena Sua din mica sempre esteve vinculada natureza e mesmo na cidade eles procuram sair e circular por encostas de morros campos arroios matas ch caras s tios pr ximos Nestas trilhas recolhem cip s taquaras ch s ervas saladas tradicionais Em rela o aos Kaingang em Porto Alegre Freitas refere que Cada sub bacia define um conjunto ou mosaico de paisagem em que s o determinadas as ilhas florestais onde os Kaingang manejam as fibras vegetais que est o na base de sua produ o artesanal e os campos onde coletam uma s rie de ervas envolvidas no sistema tradicional de cura 2005 p 25 Em rela o aos limites das aldeias na periferia
8. especificidades culturais e tnicas Fotos 13 e 14 Tochas decorativas em v g taquara e mri r cip e cestinhos e bola decorativa em cip s S o Jo o e cip marrom Fonte Foto de Marinez Garlet 09 02 2010 5 1 1 Ind genas nos espa os da cidade ou a cidade nos espa os dos ind genas ie a urbaniza o tomou conta de n s Esta frase dita por um dos professores bil ngues da Aldeia Por Fi nos motiva iniciar este item refor ando que as cidades avan aram para seus territ rios e para os Kaingang historicamente as cidades s o definidas como m m g cidade grande Iniciamos este item lan ando um desafio de repensarmos a territorialidade fora do padr o modelo que assumimos qual seja o de que a cidade n o lugar de ndio Os ind genas que frequentam moram vivem nas cidades s o vistos como um problema Mas s o um problema de quem Para quem Ainda h a necessidade de indagar se aqui quem que est ocupando um local que n o lhe pertence 5 Di rio de Campo 2009 136 Os Kaingang mesmo ap s cinco s culos de contato permanecem presentes em todos os cen rios de nosso pa s nas cidades ou em territ rios demarcados pela FUNAI continuam existindo e provavelmente continuar o aqui por centenas de anos ainda Podemos dizer que hoje os ndios n o vivem sem as cidades TOMMASINO 2000b p 39 pois as cidades s o atraentes e re nem algumas facilidades n o s
9. ndios independente do local ou forma de organiza o que utilizam e desta forma a educa o ind gena um dos direitos que reconhece e respeita suas especificidades culturais Na CF 88 em seu Art 210 est assegurado que Art 210 Ser o fixados conte dos m nimos para o ensino fundamental de maneira a assegurar forma o b sica comum e respeito aos valores culturais e art sticos nacionais e regionais 8 2 O ensino fundamental regular ser ministrado em l ngua portuguesa assegurada s comunidades ind genas tamb m a utiliza o de suas l nguas maternas e processos pr prios de aprendizagem A educa o ind gena est contemplada no Plano Nacional de Educa o na Lei n 9 394 96 Lei de Diretrizes e Bases da Educa o LDB e em projeto de lei de revis o do Estatuto do ndio em tramita o no Congresso Nacional No Art 78 da LDB est assegurado que O Sistema de Ensino da Uni o com a elabora o das ag ncias federais de fomento cultura e de assist ncia aos ndios desenvolver programas integrados de ensino e pesquisa para a oferta de educa o bil ng e e intercultural aos povos ind genas Art 78 da LDB 1996 O Parecer do Conselho Nacional de Educa o CEB n 14 de 1999 reconhece e especifica dois termos a educa o ind gena e a educa o escolar ind gena A educa o Ind gena refere se aos conhecimentos e viv ncia cotidiana dos ndios com as suas comunidades segundo os i
10. 2 Existem pol ticas p blicas para a comunidade Kaingang 3 Em rela o presen a de crian as nas ruas sinaleiras O que o munic pio tem feito 4 O que poss vel ser feito 5 Voc tem conhecimento dos direitos constitucionais para os ind genas 6 Quais as principais dificuldades empecilhos para a aplica o de Leis considerando a cultura Kaingang 7 Comoo Senhor percebe a rela o dos CTs e a comunidade Kaingang 8 No seu entendimento o que poderia facilitar a rela o cultural dos Kaingang com a sociedade envolvente 232 AP NDICE D INSTRUMENTO DE PESQUISA FORMUL RIO D ENTREVISTA COM GESTOR P BLICO CONSELHEIRO TUTELAR Roteiro D para entrevista com Gestor P blico Conselheiro Tutelar de S o Leopoldo 1 Como voc percebe a presen a das fam lias Kaingang em meio urbano 2 Como o CT se posiciona frente a situa o de encontrar crian as Kaingang nas sinaleiras vendendo seus produtos 3 Em que situa es o CT acionado chamado em rela o as crian as Kaingang 4 Como os Kaingang reagem ao trabalho do CT 5 Existem rea es da sociedade local em rela o a eles Como a sociedade local reage De quem v m as rea es comerciantes cidad os donas de casa 6 Existe diferen a no trato das crian as Kaingang e dos demais cidad os 7 Como percebes a rela o entre a aplicabilidade da lei e a sua viabilidade em se tratando dos Kaingang 8 Que entra
11. Capacita o Pol ticas inadequadas ONGs Terceiro Setor Quadro 4 Categorias de An lise entre os gestores p blicos Assim a descri o vai se constituindo no texto em que se expressam o conjunto das falas presentes nas diversas unidades das an lises que comp em o cap tulo 6 intitulado Fibras e cestos em meio urbano Contudo antes vamos relatar algumas situa es do cotidiano da aldeia que fazem parte de importantes momentos da pesquisa com a popula o ind gena 2 7 A PESQUISA NA ALDEIA ALGUMAS ANOTA ES Antes de prosseguirmos na reflex o de an lise dos dados da pesquisa consideramos importante relatar algumas situa es que fazem parte do cotidiano da Aldeia e consequentemente da rotina da pesquisa social Tais anota es foram registradas em nosso di rio de campo e assim socializados nesta pesquisa No cotidiano da aldeia Kaingang no centro urbano alguns aspectos transcorrem diariamente por exemplo a tecnologia que domina o mundo contempor neo tem presen a constante entre os ind genas Muitos s o contr rios a que os ndios utilizem as modernidades dizendo inclusive que por usarem celulares n o seriam mais ndios expressando com isto um preconceito de que ser 53 ndio ser selvagem viver na selva N s concordamos absolutamente que os ndios utilizem tais modernidades Vamos discorrer mais sobre isto nos pr ximos cap tulos Trazemos este tema aqui na apresent
12. Indigenous child Productive activities Urban environment Social Service LISTA DE ILUSTRA ES Foto 1 Artesanato Kaingang Aldeia Por Fi 6 Foto 2 Taquareira Bairro Rio Branco Munic pio de S o Leopoldo RS 18 Foto 3 Mulher Kaingang raspando e estalando taquara para confec o do ANESANATO ara pt A da ida a Dica toda au Du 31 Foto 4 Kur fibras interiores da taquara as quais n o aproveitam no artesanato 43 Gravura 1 Desenho de menina Kaingang 5 anos 58 Foto 5 Mulher Kaingang tran ando taquara para o artesanato 88 Gravura 2 Charge sobre a explora o de terras ind genas 95 Gravura 3 Banner did tico organizado pelo professor bil ngue da Aldeia SL 104 Foto 6 Os Kaingang na sua Aldeia S o Leopoldo sssiiiiiiiiiiis 112 Foto 7 Crian as e Artesanato Kaingang Aldeia Por Fi 121 Fotos 8 e 9 Banho de Ervas em Crian as Dia do ndio S o Leopoldo 127 Foto 10 Apresenta o cultural Grupo de Dan a Kaingang da Aldeia Por Fi 130 Fotos 11 e 12 Habita es da Aldeia Por Fi 133 Fotos 13 e 14 Tochas decorativas em v g taquara e mr r cip e cestinhos e bola decorativa em cip s S o Jo o e cip marrom 135 Foto 15 Menina Kaingang Aldeia Por Fi aa 152 Foto 16 Crian as
13. Muitas crian as ind genas s o hoje for adas a aprender em uma l ngua estranha o que pode provocar um choque traumatizante capaz de resultar em efeitos negativos irrepar veis sua sociabilidade BANIWA 2006 p 122 Neste item centramos aten o em rela o pol tica de educa o para os povos ind genas contextualizando a origem da escola que como institui o surgiu para os povos ind genas a partir do contato com o colonizador tendo como principais objetivos a domestica o a catequiza o e prepara o para o mercado de trabalho a introdu o da escola no meio ind gena foi um dos principais instrumentos empregados para promover a domestica o dos povos ind genas para alcan ar sua submiss o e para negar suas identidades promovendo sua integra o na comunh o nacional desprovidos de suas l nguas maternas e de seus atributos tnicos e culturais GRUPIONI 2006 p 43 100 A imposi o da catequese e explora o da m o de obra ind gena foram duas formas eficazes de desmantelamento das culturas ind genas Este dado hist rico relaciona se com a origem da escola fundamentado na obra de Harper a qual refere que a institui o escola ainda na Idade M dia tinha por princ pio a transmiss o do saber HARPER 1994 p 26 Ocorre que apenas as elites podiam desfrutar da escola e com o apoio de religiosos o saber era ensinado aos poucos privilegiados da poca Como estrat
14. Percebe se que cada sociedade constr i sua pr pria concep o de territ rio seguindo pr ticas e rela es sociais atrav s de sua vis o de mundo o que certamente proporciona possibilidades de subsist ncia e reprodu o social Temos que refletir sobre situa es como esta que estabeleceram uma cruel realidade para os Xokleng que moram nas periferias de cidades importantes e ricas de Santa Catarina como Ibirama e Blumenau Em Manaus h forte mobiliza o das comunidades ind genas que residem no centro urbano Tamb m eles se organizam para serem reconhecidos e preferem ser denominados de ndios de Manaus Informativo FUNAI janeiro 09 Recentemente por ocasi o da Il Confer ncia Estadual dos Povos Ind genas do Amazonas apresentaram um documento ao Presidente da FUNAI reunindo propostas para atendimento diferenciado nas reas de sa de educa o sustentabilidade emprego e renda territorialidade e habita o O reconhecimento dos ndios urbanos pelo presidente M rcio Meira no seu pronunciamento na abertura da Il Confer ncia foi aplaudido pelos ndios de Manaus que hoje s o mais de 20 mil Essa popula o se concentra em v rias reas da cidade com bairros que se assemelham a aldeias como o caso de Cidade de Deus Santos Dumont e Japiim Informativo FUNAI 2009 p 11 Site ISA http pib socioambiental org pt povo pankararu 883 Acesso em 24 01 10 138 Segundo o Informativo da FUNAI o
15. contada essa hist ria de descobrimento do Brasil pela historiografia oficial configura se num verdadeiro conjunto de mitos Assim a exist ncia desses mitos serve para encobrir a verdade a de que o Estado Brasileiro formou se sobre um vasto territ rio que pertencia milenarmente a centenas de povos ind genas Esses mitos t m como base exatamente a Carta de Pero Vaz que de pronto conta que com a chegada dos portugueses em solo brasileiro identificaram uma terra nova Todos os povos t m os seus mitos fundantes n o s os ind genas mas qualquer povo Os mitos tamb m s o necess rios para explicar o presente quando n o se tem mais no o ou certeza do passado ou quando se quer encobri lo O universalmente conhecido mito crist o do para so que tenta explicar a origem dos seres humanos ou o do dil vio No mito da origem dos Kaingang o da origem do povo h tamb m a hist ria de um dil vio e dois seres sobrenaturais que sobreviveram a esse dil vio e criaram o povo Kaingang o Kairu e o Kaiurucr Normalmente os mitos s o permeados narrativas de proezas dos personagens e de her is que o comp em pois sua fun o criar no presente um esp rito de perten a a um grupo de orgulho por se fazer parte desse grupo ou mesmo de justificar se perante poss veis abusos ou erros no passado Al m do mito de origem os Kaingang possuem outros do casamento dos Kuj dos p ssaros que avisam do bem e do mal da origem
16. o sa de dos povos ind genas Isso nos remete ao ano de 1998 O Sistema Unico de Sa de SUS foi criado em 1990 e de l at 1998 as comunidades ind genas ficaram sem atendimento pa http www funasa gov br internet dsei asp Acesso em 19 11 09 a8 http www agenciabrasil gov br noticias 2008 09 17 materia 2008 09 17 5563601793 view Acesso em 25 11 09 108 A explica o manifesta o descontentamento das comunidades ind genas contr rias proposta de cria o da secretaria de aten o prim ria dentro do Minist rio da Sa de porque a medida joga a responsabilidade da pol tica de sa de ind gena para os munic pios o que em muitos casos j vem ocorrendo e tem se mostrado desastroso pois h nos munic pios pr ximos s comunidades ind genas uma maior discrimina o com rela o a elas Uma den ncia comumente apresentada pelas lideran as ind genas em rela o ao desconhecimento das equipes de sa de sobre seus aspectos culturais pois observam um consider vel despreparo t cnico e dist ncia entre a realidade de vida e viv ncia cultural dos ind genas com os gestores de sa de O SUS que garante a sa de como um direito fundamental ao ser humano n o efetiva na sua ess ncia o direito dos cidad os devido grande burocracia e interesses privados existentes no pa s notadamente dos grandes conglomerados dos planos privados de sa de Isto mais uma vez nos faz avaliar que toda e qualquer le
17. o com agulha de costura e fio encerado Montam pe as diversas deixando as secar penduradas em suas casas Os colares s o levados para diversas feiras e acompanham adultos e crian as que as vendem nas sinaleiras e ruas da cidade Muitas vezes acontece que s o as crian as que perambulam pelas matas na cata desses materiais pois conhecem as matas e seus perigos suas possibilidades e riquezas respeitam na Pensamos nisto quando os vemos enfrentarem os riscos e perigos que ocorrem nas cidades nas sinaleiras quando ouvimos as pessoas em geral e os gestores p blicos falarem disto assombradas pelo descuido que tais situa es lhes representam Qual a observa o que mais nos chama a aten o nesses processos Certamente o trabalho conjunto comunit rio e igualit rio Mas mais do que isto o trabalho em fam lia e na descontra da atmosfera de respeito participa o e aprendizado onde raramente as crian as s o sequer admoestadas mesmo quando destroem ou perdem materiais e at mesmo pe as prontas Nesses processos n o h imposi o de hor rios jornadas castigos D para afirmar que as crian as s o vistas praticamente como adultos n o no sentido da responsabilidade mas no sentido da igualdade de a o e participa o assim que se d o processo de forma o e aprendizado delas O cuidado com o problema da explora o do trabalho infantil de amplitude internacional e a Organiza o Internacional do
18. o os Kaingang na cidade enfrentam dificuldades e especificamente em rela o a sua seguran a econ mica deveria ser lhes garantido possibilidades de manuten o e desenvolvimento de suas autonomias mas isto certamente n o depende deles unicamente Depende da prote o social que deveria ser prestada pelos poderes p blicos e esta n o atende seus anseios Segundo Pereira 2008 h que se perseguir a otimiza o da satisfa o de necessidades como um compromisso tico pol tico e c vico concretizados nos valores da liberdade e da igualdade PEREIRA 2008 p 88 6 2 2 Pol ticas P blicas parabrisas emba ados na lei do branco assim e temos que trotear conforme ela Terra 2009 Ao longo deste estudo afirmamos que um dos problemas dos Kaingang est vinculado a terra ou seja a falta de terra Refor amos aqui que para uma comunidade ind gena viver na cidade em um pequeno lote de 2 04 hectares torna impratic vel a sobreviv ncia de suas especificidades culturais Podemos reafirmar que a raiz de todos os problemas enfrentados pelos Kaingang hoje tem origem na perda de seus territ rios e na devasta o do meio ambiente o que n o lhes permite viver dignamente E viver dignamente para os ndios ter abund ncia de comida que produz consequentemente boa sa de TOMMASINO 2002 p 1 Antes da ocupa o de seus territ rios pelos colonizadores eles n o enfrentavam dificuldades para ali
19. o social dos sujeitos desta pesquisa objetivo principal deste estudo Por esta via entende se por metodologia o caminho percorrido trilhado e a pr tica desempenhada na abordagem da realidade pesquisada Assim a metodologia um dos objetivos centrais para o desenvolvimento de pesquisas visto que abrange as concep es te ricas e as t cnicas que enriquecem o estudo de uma dada realidade somada obviamente ao potencial cr tico e criativo das observa es do pesquisador social MINAYO 1994 Segundo PRATES 2008 p 7 a escolha de um tema significa uma op o uma disposi o de conviver com ele por algum per odo s vezes longo significa nos aprofundarmos no seu desvendamento e durante o per odo deste estudo junto ao PPGSS PUCRS esta foi nossa inten o tentar aprofundar e qualificar nosso conhecimento a respeito da cultura Kaingang buscando amparo na academia para elaborar uma an lise mais consistente e respeitosa associada ao compromisso tico de socializar os resultados desse estudo Nosso objetivo poder contribuir para uma compreens o mais aproximada da realidade dos Kaingang no mundo contempor neo Essa busca do amparo na academia ao mesmo tempo em que possibilitou o descortinar de novos conhecimentos tamb m provocou sofrimentos para a pesquisadora na medida em que os resultados da pesquisa poderiam criminalizar h bitos costumes tradi es deste povo Essa contradi o ao mesmo tempo
20. s desigualdades AGUINSKY 2008 p 42 Queremos buscar a partir dessa pr tica do artesanato desde a colheita da mat ria prima at a comercializa o algumas observa es e explica s que julgamos convenientes a este candente tema O artesanato dos Kaingang nas cidades vem sendo investigado por v rios pesquisadores como FREITAS 2005 CHAGAS 2006 e TOMMASINO 1998 que afirmam ser uma atividade produtiva que visa dar sustentabilidade ao n cleo familiar Chagas 2006 afirma isto levando em conta a atualiza o das rela es socioculturais do povo podemos considerar que o artesanato contemporaneamente uma atividade produtiva dos Kaingang que os permite atualizar uma s rie de rela es socioculturais e econ micas com fulcro no fortalecimento de um modelo de organiza o que procura dar sustentabilidade ao grupo familiar atrav s da valoriza o de uma perspectiva de mobilidade espacial CHAGAS 2006 p 57 A comercializa o est assim associada s rela es territoriais com acesso a recursos ambientais que v o al m do que costumeiramente vemos nas cidades No conjunto desses espa os feiras ruas lojas os Kaingang comercializam em Porto Alegre diversos objetos cestos bolas bicicletas vasos lumin rias balaios produzidos a partir de um conjunto de cip s mur r que manejam que manejam e obt m nas florestas locais FREITAS 2005 p 22 159 V rias esp cies de taquaras
21. traduzir em palavras escrever a respeito dos Kaingang que residem na cidade e a complexidade cultural que envolve este contexto e o outro de onde eles s o origin rios vencer meus pr prios receios de que a esta pesquisa possa de alguma forma expor a comunidade Kaingang Isto fortalece a preocupa o com a tica profissional tendo em vista a especificidade atinente a esta tem tica A tentativa no decorrer da escrita ser o mais coerente poss vel com a 1 O Programa de P s Gradua o e Antropologia Social UFRGS v m pesquisando intensamente os Kaingang os Charrua e os Guarani situados no territ rio de Porto Alegre e Regi o Metropolitana realidade e igualmente respeitosa com o povo Kaingang tentando socializar suas din micas descrevendo sobre seus jeitos suas viv ncias sua cultura A este povo por quem mantenho profundo carinho e respeito pe o permiss o para percorrer minhas trilhas na constru o deste trabalho acad mico Asseguro que trata se de uma tentativa positiva que objetiva contribuir para a garantia da prote o social e o direito diversidade cultural especialmente para suas crian as que realizam a venda dos artesanatos nos centros urbanos Agora nesta nova trilha da escrita inicio afirmando que o interesse e a paix o por este tema nasceram h muitos anos Escrever sobre determinado povo ind gena um desafio pois envolve descobrir caminhos seguir por estradas de asfalto ch o batido cr
22. 1995 p 20 24 SCIELO BRASIL Sobre Revista de Antropologia Dispon vel em lt http Avww scielo br scielo php pid S0034 77011997000100009 amp script sci arttextt gt SERRA Rose org Trabalho e reprodu o enfoques e abordagens S o Paulo Cortez Rio de Janeiro PETRES FSS UERJ 2001 SILVA Aracy Lopes da MACEDO Ana Vera L da Silva NUNES ngela orgs Crian as Ind genas ensaios antropol gicos S o Paulo Global 2002 Cole o Antropologia e Educa o 280 p SOUZA Jos Ot vio Catafesto de Territ rios e Povos Origin rios Des velados na metr pole de Porto Alegre In Povos Ind genas na Bacia Hidrogr fica do Lago Gua ba N cleo de Pol ticas P blicas para os Povos Ind genas Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Seguran a Urbana Prefeitura Municipal de Porto Alegre 2008 198 p STOTZ Eduardo Navarro Pobreza e capitalismo In VALLA Victor Vicente et al orgs Para compreender a pobreza no Brasil Rio de Janeiro contraponto 2005 227 TOMMASINO Kimiye Revista Media es Londrina v 3 N 2 jul dez 1998 p 66 71 MOTA Lucio Tadeu e NOELLI Francisco Silva org Novas Contribui es aos estudos interdisciplinares dos Kaingang Londrina Eduel 2004 423 p Territ rio e Territorialidade Kaingang Resist ncia cultural e historicidade de um grupo J In TOMMASINO Kimiye MOTA Lucio Tadeu e NOELLI Francisco Silva orgs Uri e W xi Estudos Interdis
23. 54 O artesanato ind gena comercializado nas diferentes cidades do Brasil uma atividade produtiva que permite estabelecer rela es socioculturais e 150 econ micas no fortalecimento de um modelo que procura dar sustentabilidade s fam lias inseridas nos centros urbanos Assim ao contr rio do sistema capitalista que contempla a concentra o de lucro e capital em geral as comunidades ind genas n o t m em sua cultura a concep o de concentra o de riquezas com o objetivo de prover patrim nio fazer reserva financeira Ao contr rio eles t m a cultura de distribuir o que possuem para o todo ou seja de forma comunit ria Tampouco se reconhecem como pobres pois seus valores e costumes refor am os aspectos coletivos onde as fam lias se auxiliam nas dificuldades enfrentadas nas aldeias e acampamentos Mas claro eles tamb m consomem como qualquer cidad o inserido no mundo capitalista Eles mant m sonhos desejos vontades Eles compram gastam fazem credi rios em lojas e centros comerciais como qualquer indiv duo faz Nesta perspectiva a pobreza uma realidade nas sociedades de produ o capitalista E tem como consequ ncia o estado de car ncia em que vivem indiv duos ou grupos populacionais impossibilitados por insufici ncia de rendas ou inexist ncia de bens de consumo de satisfazer suas necessidades b sicas de alimenta o moradia vestu rio sa de e educa o SANDRONI a
24. Avww funai gov br J os pesquisadores utilizam de descri es para dizer quem ndio Os ndios s o grupos socioculturais do presente e participam ativamente da vida de nosso pa s Eles se constituem uma parcela significativa da nossa sociedade E por fazerem parte dela colaboram na sua caracteriza o de pa s pluri tnico necess rio reconhecer que vivemos em um contexto permeado de diferen as socioculturais MOTA ASSIS 2008 p 77 A Conven o 169 da OIT trouxe e firmou na nossa legisla o e doutrina a concep o da autodefini o outorgando a esses grupos de autodefinirem quem ndio e quem n o retirando essa atribui o do Estado Assim resumindo podemos dizer que ndio quem se define como ndio mas ao mesmo tempo quem definido e aceito por um grupo ind gena como ndio portanto muito mais mas n o s uma defini o coletiva do que indiv dual Afirmamos que existem muitas denomina es para designar essas pessoas mas destaca se o termo ndio uma nomenclatura equivocada e de certa forma folcl rica que acabou sendo assimilada e utilizada at mesmo pelos pr prios povos ind genas a denomina o de ndios dada aos habitantes nativos dessas terras continua at os dias de hoje Para muitos brasileiros brancos a denomina o tem um sentido pejorativo resultado de todo o processo hist rico de discrimina o e preconceito contra os povos nativos da
25. BARROS LEHFELD 1999 p 50 Todas as etapas garantiram orienta es estabelecidas no Termo de Consentimento entre os sujeitos contemplados Realizadas as entrevistas iniciamos o processo de transcri o dos testemunhos obtidos Estes foram exaustivamente lidos e escutados Para analisar os dados obtidos durante a coleta a partir das observa es e entrevistas realizadas com os Kaingang e gestores utilizamos a an lise textual discursiva por utilizar se de metodologia que contempla a natureza da pesquisa qualitativa Moraes e Galiazzi definem da seguinte maneira a import ncia da pesquisa qualitativa Pesquisas qualitativas t m se utilizado cada vez mais de an lises textuais Seja partindo de textos j existentes seja produzindo o material de an lise a partir de entrevistas e observa es a pesquisa qualitativa pretende aprofundar a compreens o dos fen menos que investiga a partir da an lise rigorosa e criteriosa desse tipo de informa o N o pretende testar hip teses para comprov las ou refut las ao final da pesquisa a inten o a compreens o 2007 p 11 Na pesquisa qualitativa n o necess rio seguir rigidamente uma defini o exata dos sujeitos a serem investigados A entrevista semi estruturada orienta a pesquisa com roteiro contendo perguntas abertas e fechadas e se justifica pois 48 se desenrola a partir de um esquema b sico por m n o aplicado rigidamente permite que o entre
26. Eles sabem e aplicam o saber da for a das taquareiras que unidas resistem a qualquer vendaval dobram se at quase o ch o mas assim que o vendaval passa voltam sobranceiros e altivos quase na mesma posi o original O cap tulo seguinte versar sobre os Kaingang na cidade seus esfor os em manter sua cultura trazendo tona as atividades produtivas realizadas por meninos e meninas da Aldeia urbana bem como as modifica es do trabalho na sociedade contempor nea 121 5 OLHARES E COLARES ATIVIDADES PRODUTIVAS E A CRIAN A KAINGANG FRAGMENTOS DAS RELA ES URBANAS Foto 7 Crian as e Artesanato Kaingang Aldeia Por Fi Fonte Foto de Marinez Garlet 30 09 2009 Em toda trilha h momentos de parada Por um ou outro motivo parar importante quer seja para um breve descanso para contemplar algo natureza fatos mist rios para fazer um lanche beber gua visitar algu m parente ou conhecido Neste momento faremos uma parada na reflex o acerca de compreens es indaga es e constata es da extensa diversidade existente no Brasil ind gena Agora a reflex o ser sobre o Povo Kaingang da Aldeia Por Fi Propomos refletir a seguir especificamente sobre a cultura e modos de vida desse povo especialmente fazendo um recorte para a situa o vivida pelas fam lias residentes na cidade de S o Leopoldo que se distancia de Porto Alegre em apenas 32 km Em nossa pesquisa e mesmo antes dela
27. Em mar o de 1997 escreveu um de seus importantes trabalhos sua disserta o de mestrado Mobilidade Mby hist ria e resignifica o PUCRS Em 2004 nos deixou de forma prematura Ivori motivou me a seguir trilhas que levaram a conhecer as diferen as culturais A viv ncia com as comunidades ind genas possibilitou mais do que conviver e conhec las algo mais importante que isto que aprender com elas Em janeiro de 1987 ao ingressar na ANAI cursava a Faculdade de Turismo na PUCRS e naquele per odo o Servi o Social n o estava em meus horizontes nem em minhas trilhas Nessa poca a ANAI mantinha um pr dio denominado de Casa de Tr nsito nas proximidades da PUCRS Essa casa tinha por objetivo ser uma refer ncia para os Mby sendo um local de passagem para aqueles ind genas que se deslocavam de suas aldeias e acampamentos no interior do Estado para a capital em busca de servi os p blicos sendo a rea da sa de a mais emergente para este povo Na Casa de Tr nsito os Mby eram acolhidos pela equipe de profissionais da ANAI onde eram assessorados conduzidos e acompanhados pela equipe em atendimento de sa de em diversos hospitais e postos de sa de em Porto Alegre Permaneciam muitas vezes por longos per odos nessa casa enquanto aguardavam audi ncias reuni es com inst ncias p blicas consultas m dicas libera o de exames de sa de ou mesmo tratamentos sistem ticos de sa de Por um longo per od
28. Funai deve morar na aldeia e trabalhar na atividade rural em regime de economia familiar A legisla o previdenci ria garante aos ind genas os benef cios de aposentadoria por idade ou por invalidez aux lio doen a aux lio acidente sal rio maternidade pens o por morte e aux lio reclus o De acordo com a informa o veiculada na imprensa a partir da lei 8 213 24 de julho de 1991 que estabelece avan os previdenci rios aos trabalhadores do campo tamb m os o Site CIMI http www cimi org br action read amp eid 349 amp id 1763 amp system news Acesso em 09 03 09 68 Site Presid ncia da Rep blica http www fomezero gov br noticias aposentadoria e salario maternidade beneficiam indios mineiros Acesso em 13 03 10 194 ind genas passam a ser protegidos como segurados especiais Uma quest o que nos chama aten o de que o ind gena para ser inclu do na codi o de segurado especial deve trabalhar na atividade rural E as fam lias ind genas que residem de forma coletiva nas cidades ficam exclu das desta prote o social N o h por parte dos Kaingang o descaso com a lei do branco h sim esfor o para entend la eu n o gosto desta lei ECA porque a gente tem que ensinar as crian as a trabalhar A lei dos f g eu n o apoio deles dizer que a gente ta fazendo as crian as de escravo N o escravo ensinar E um ensino pra eles amanh ou depois n o sa rem roubar por isso
29. Isto acarretar portanto mais problemas do que solu es Deve se estar ciente portanto que n o h como atuar eficazmente na garantia dos direitos humanos dos povos ind genas sem que se conhe a e se considere essa diferencia o essas especificidades culturais ou melhor a complexa diversidade cultural existente Para incluir as diferentes etnias ind genas importante elaborar pol ticas p blicas que sejam de fato eficazes no contexto sociocultural pois de forma geral tais pol ticas p blicas n o levam em considera o a diversidade existente Direitos sa de e educa o espec ficos aos ndios por exemplo mesmo previstos e garantidos em leis geralmente n o s o cumpridos pelas esferas p blicas e privadas a quem compete a implanta o dos sistemas diferenciados o que comprova que a garantia da lei n o significa a sua efetividade na pr tica Os assistentes sociais em suas interven es v em possibilidades de garantir direitos e de criar estrat gias para o enfrentamento de realidades excludentes por m deparam se com leis programas e servi os burocratizados que dificultam e precarizam a es importantes Em geral as pol ticas p blicas s o estruturadas a partir de princ pios comuns ou seja de forma homog nea igual a todos os cidad os brasileiros Em fun o disto agindo com atitudes meramente t cnicas os profissionais das mais diversas reas de execu o dessas pol ticas at mesmo dif
30. O Estado garantir a todos o pleno exerc cio dos direitos culturais e acesso s fontes da cultura nacional e apoiar e incentivar a valoriza o e a difus o das manifesta es culturais 1 O Estado proteger as manifesta es das culturas populares ind genas e afro brasileiras e das de outros grupos participantes do processo civilizat rio nacional A conquista dos povos ind genas no Brasil com a CF 88 nessa rea da educa o uma das pautas contempor neas em rela o a esta pol tica diferenciada uma vez que culturas e tradi es est o sendo resgatadas revalorizadas e revividas l nguas v m sendo reaprendidas e praticadas na aldeia na escola e nas cidades BANIWA 2006 p 39 O movimento social ind gena no Brasil continua lutando e se organizando para que a educa o seja de fato diferenciada que ofere a possibilidade e facilidade para que eles pr prios possam definir como ser o processo de educa o dentro de suas comunidades a partir de seus processos de aprendizagem levando em conta os projetos coletivos de cada povo O que as comunidades discutem agora que tipo de escola elas querem ter Aos educadores que atuam junto a essas comunidades cabe um desafio o de garantir e preservar a diversidade cultural existente no Brasil cuidando para que o 103 contato que ocorre entre as diferentes culturas e o sistema educativo seja de fato garantidor desse direito e promova cidadania dignidad
31. Sendo o ethos entendido como modo de vida ou seja vinculado cultura ent o os Kaingang no centro urbano ainda s o ca adores e coletores Uma vez que disputam em uma sociedade competitiva espa os de sobreviv ncia e de express o A presen a de crian as em meio ao com rcio local de S o Leopoldo algo constante e que provoca tencionamentos por suas presen as e seu modo de ser parecer e agir Para explicitar a compreens o acerca do que considerado trabalho para os Kaingang analisamos as falas dos seis ind genas pesquisados E a partir desta compreens o que deve ser compreendida esta categoria O trabalho pr n s fazer o artesanato Vento 2009 Trabalho pr n s a sobreviv ncia da nossa fam lia lidar com artesanato pr vender Ar 2009 meu artesanato Terra 2009 l na aldeia pr n s o trabalho era trabalhar na ro a Isso da pr n s era trabalho E aqui na cidade a gente n o tem ro a o nosso trabalho o artesanato Chuva 2009 O nosso trabalho o que a gente sabe fazer desde pequeno o nosso artesanato O artesanato a nossa profiss o o trabalho que a gente tem o que a gente aprendeu gua 2009 Foi necess rio buscar no artesanato formas de sobreviver visto que n o era mais poss vel fazer ro as e a ind gena Chuva diz que na sua aldeia de origem o trabalho para eles era trabalhar na ro a por m no pequeno espa o onde reside
32. coletivos exigidos para cada caso em todos os n veis de complexidade do sistema Lei 8 080 de 19 09 90 Colet nea de Leis CRESS 10 Regi o 2005 p 111 http Awww010 dataprev gov br sislex paginas 42 1990 8080 htm Acesso em 10 12 09 105 que as a es e Nesta mesma Lei est ordenado no Art 19 A cap V servi os de sa de voltados para o atendimento das popula es ind genas em todo o territ rio nacional coletiva ou individualmente obedecer o ao disposto nesta Lei A Lei passa a vigorar acrescida da Lei N 9 836 que disp e sobre as condi es para a promo o prote o e recupera o da sa de a organiza o e o funcionamento dos servi os correspondentes e d outras provid ncias instituindo o Subsistema de Aten o Sa de Ind gena Nesta Lei fica institu do o Subsistema de Aten o Sa de Ind gena que dever funcionar em perfeita integra o com o SUS No 2 par grafo desta Lei conhecida como o SUS ind gena previsto que ocorram adapta es na estrutura e organiza o do SUS nas regi es onde residem as popula es ind genas Aten o sa de segundo o pr prio Minist rio da Sa de tudo aquilo que envolve o cuidado com a sa de do ser humano incluindo as a es e servi os de promo o preven o reabilita o e tratamento de doen as No SUS o cuidado com a sa de est ordenado em n veis de aten o que s o a b sica a de
33. com cultura e cren as 91 diferenciadas e que representam neste pa s as ra zes de todos n s Portanto imprescind vel para nossa viv ncia e sobreviv ncia que tenhamos o amparo e as ra zes de um grupo cultural e tnico como se fosse aquele taquaral unido e entrela ado pelas profundas ra zes este grupo que nos transmite conhecimentos valores conceitos objetivos formas de comunica o como a l ngua e s mbolos que orientam e dignificam a vida em seu todo num espa o coletivo Povos Ind genas n o s o um nico povo mas sim diferentes povos em que cada qual possui a sua organiza o social e cultural Entende se que cada pessoa nasce num contexto ou num grupo cultural e tnico e ali entre suas pr prias teias ou ra zes o cotidiano vai entrela ando se num emaranhado de c digos e s mbolos espec ficos e diferenciados E justamente este grupo que oferece as condi es de viver e desenvolver se de uma forma adequada e o mais harmoniosa poss vel Portanto imprescind vel para viv ncia e sobreviv ncia que os indiv duos sejam amparados pelo seu grupo cultural e tnico A historiadora de filosofia brasileira Marilena Chau reflete a complexidade do termo cultura refor ando que uma categoria de dif cil defini o CHAUI 1986 p 10 Um dos principais antrop logos do s culo XX Clifford Geertz antrop logo norte americano apresentou em 1989 uma redefini o do conceito de cultura p
34. com os povos ind genas e suas culturas eles t m todo o significado de suas vidas ligado terra Isto seguidamente salientado por eles em debates e reuni es acerca de reivindica es de demarca o de Tils no Estado do RS onde afirmam que a terra sua m e pois dela que retiram seu sustento Para os Kaingang a explica o m tica que mant m em rela o terra t o forte que explica inclusive o mito de sua origem 113 Essa liga o origin ria com a terra a Terra m e permanece nas atividades do cotidiano e se reafirma em todos os momentos cruciais das pessoas Pode se dizer que os Kaingang est o o tempo todo metaforicamente ligados terra A rela o de unicidade Homem Terra permeia a vida desde o nascimento at a morte da terra nasceram e a ela retornar o TOMMASINO 2004 p 152 Por conta disto certamente os ind genas que vivem nas periferias das cidades em espa os reduzidos ou mesmo sem terras s o os que mais sofrem pois na maioria dos casos como aqui no RS as poucas terras que lhes restaram s o insuficientes para tantas pessoas Muitos deles saem das aldeias e v o para as cidades onde al m de toda discrimina o e descaso dos poderes p blicos ainda sofrem pela falta de terra pela falta de sua m e A forma de vida e organiza o das comunidades ind genas mesmo na contemporaneidade e com o desenvolvimento de tecnologias muito diferente das sociedades capitalistas
35. direito terra para o segmento ind gena 4 1 O DESAFIO DE AFIRMAR DIREITOS DIFERENCIADOS Interessa nos aqui abordar alguns aspectos tendo em vista a cidadania como direito A cidadania no Brasil foi constru da como privil gio de classe ra a e g nero sendo os direitos concebidos pela concess o pela tutela e depend ncia podendo ser retirados pelos governantes quando estes assim decidissem Somente a partir 90 da Constitui o de 1934 que o voto passou a ser universal para mulheres negros pobres trabalhadores Conforme Couto A concretiza o dos direitos sociais depende da interven o do Estado estando atrelados s condi es econ micas e base fiscal estatal para ser garantidos Sua materialidade d se por meio de pol ticas sociais p blicas executadas pela rbita do Estado 2004 p 48 Somente com a Constitui o de 1988 que reconheceu a capacidade plena dos ndios que estes passaram a votar Nossa sociedade marcada por rela es hier rquicas nas quais a viol ncia simb lica que perpassa estas rela es regra da vida social e cultural Viol ncia invis vel sob o paternalismo e exaltada como de car ter nacional As leis no Brasil sempre foram instrumentos para preservar privil gios e instrumentos para a repress o e opress o No consenso popular as leis s o consideradas in teis e feitas para serem violadas jamais contestadas ou transformadas CHAUI 1986 p 54 A transg
36. e como tais n o tinham os mesmos direitos dos crist os Como tamb m o fato dos portugueses considerarem 65 sua uma terra que nunca tinham visto mesmo que a encontrassem cheia de gente Mas neste relato acima o que nos chama mais a aten o que qualquer resist ncia dos povos ind genas como foi o caso dos Tupinikim que por certo atacavam os colonos europeus pelo simples fato de que estes haviam invadido seus territ rios nunca era admitida pelos europeus como um direito resist ncia Os europeus se arvoravam o direito de conquista mas n o admitiam o contraponto que seria l gico e aceit vel em cen rios de guerras que era o direito da resist ncia Qualquer resist ncia era vista como uma ofensa ao rei e n o um direito e como tal deveria ser cabalmente reprimida E a destru e matei todos os que quiseram resistir e na vinda vim queimando e destruindo todas as aldeias que ficaram atr s Porque o gentio se ajuntou e me veio seguindo ao longo da praia lhes fiz algumas ciladas onde os cerquei e os forcei a lan arem se a nado ao mar de costa brava Mandei outros ndios atr s deles que os seguiram perto de 2 l guas e l no mar pelejaram de maneira que nenhum tupinikim ficou vivo PREZIA 1989 p 75 Esse direito de conquista que os europeus se autodelegavam negava o direito de resist ncia simplificando essa tarefa dos conquistadores de exterminar os ind genas Nessa carta o tom do governador como se estive
37. gia mission ria havia a ado o de int rpretes os l nguas ou o aprendizado do idioma ind gena permitindo o ensino do evangelho s crian as atrav s do aprendizado da escrita e da leitura Nos col gios de meninos os curumins eram educados atrav s da m sica sacra e de pr ticas lit rgicas utilizando os jesu tas instrumentos pedag gicos como catecismos vocabul rios e gram ticas elaboradas com o aux lio de int rpretes OLIVEIRA FREIRE 2006 p 47 A educa o escolar surgiu ainda com a burguesia os que moravam nos burgos nas cidades de ent o e estava a servi o dos que tinham o poder social pol tico e econ mico A educa o escolar apresentada era de cunho estritamente alfabetizador e de prepara o para o mercado de trabalho A estrutura educacional alfabetizadora preparava essencialmente para o mercado de trabalho para um sistema organizado com o objetivo de tornar os indiv duos dependentes e limitados na forma de agir e pensar Nos primeiros anos de escola a crian a ter de aprender a falar e a escrever uma l ngua estranha que raramente a sua ou a de seus pais trata se de l ngua escolar estandardizada a nica reconhecida pela escola como correta HARPER 1994 p 50 Antes da chegada dos europeus os povos ind genas n o conheciam a institui o escola que relativamente recente na hist ria da educa o ind gena Eles mantinham formas pr prias de reprodu o de saberes dese
38. l nguas cren as e tradi es dos povos ind genas Em rela o sobreposi o de lei ainda h forte reflex o em que o Kaingang Terra questiona da seguinte maneira Se os f g t m a lei deles como a gente faz Eles tem a lei deles e n s temos a nossa Terra 2009 A comunidade ind gena mant m sua organiza o e entendemos aqui que em ambos os lados h o reconhecimento acerca das leis em cada segmento Um n o est ignorando o outro o que se evidencia a necessidade de atuar de forma conjunta Nas sociedades ind genas os jovens se tornam adultos socialmente quando entram na puberdade tanto os rapazes quanto as mo as E por isso que se casam mais cedo que os nossos jovens E se tornam maiores entre 13 e 15 anos porque j est o socialmente aptos para assumir os pap is sociais adultos TOMMASINO 2002c p 10 O Kaingang reflete sobre esta quest o e mostra a contradi o da lei entre as duas sociedades em rela o ao auxilio maternidade 193 Teve umas meninas aqui que ganharam filho tem maridos e n o conseguiram fazer as maternidades por motivos de idade a lei do branco l fora a lei do branco n o aprovou A lei do f g diz que elas s o menor de idade s o jovens demais s o de menor e j n o consegue o auxilio Terra 2009 Ao referir se fazer as maternidades quis dizer que as meninas n o conseguem alcan ar o benef cio porque s o consideradas menores de idade At
39. lia 1997 ANTUNES Ricardo Os sentidos do trabalho ensaios sobre a afirma o e a nega o do trabalho 7 ed S o Paulo Boitempo 2007 Adeus ao trabalho Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho 10 ed S o Paulo Cortez 2005a O Caracol e sua concha ensaios sobre a nova morfologia do trabalho S o Paulo Boitempo 2005b ARA JO Ana Val ria org Povos ind genas e a lei dos brancos o direito diferen a Minist rio da Educa o Secretaria de Educa o Continuada Alfabetiza o e Diversidade LACED Museu Nacional 2006 Bras lia 2006 212 p ARANHA Guilherme A Direitos Humanos e Dignidade In PIOVESAN Fl via IKAWA Daniela Coords Direitos Humanos fundamento prote o e implementa o Curitiba Juru Editora 2008 V 2 ARCO DIGITAL IVANA Sobre Declara o Solene dos Povos Ind genas Conselho Mundial dos povos ind genas Port Alberni Vancouver Canad 1975 Dispon vel em lt http Aynww indiosonline org br blogs index php blog 41 amp p 1436 amp more 1 amp c 1 amp tb 1 amp pb 1 gt ARQUEOLOGIA do Rio Grande do Sul Brasil ISSN 0103 5630 DOCUMENTOS 05 2 edi o Instituto Anchietano de Pesquisas UNISINOS S o Leopoldo RS Brasil ASSIS Val ria Soares de D diva mercadoria e pessoa as trocas na constitui o do mundo social Mby Guarani Tese de doutorado IFCH UFRGS Porto Alegre 2006 326 p 215 BANIWA Gersem
40. m amparados em cren as poderes e legisla es ex genas a esses povos dizimaram culturas e pessoas por tantos s culos Investigar o significado que as atividades infantis t m para a comunidade Kaingang na sua rela o de com rcio de artesanatos com vistas a contribuir para o aprimoramento da prote o social a esses sujeitos foi nosso objetivo Infelizmente em nosso pa s para uma imensa parcela da popula o muitas pol ticas p blicas ainda n o se tornaram realidade principalmente para os pobres as crian as e adolescentes os idosos os portadores de necessidades especiais os menos poderosos politicamente Por certo os grupos ind genas est o entre os menos favorecidos pois s o um grupo quase inexpressivo numericamente e economicamente O que se dizer ent o das crian as Kaingang que sequer t m atendidos os direitos mais b sicos como a sa de e educa o Nesse sentido assume um maior significado essa pesquisa considerando t o distintas concep es legais morais e ticas desses dois segmentos que se relacionam que s o o povo Kaingang e a sociedade nacional o Estado Brasileiro 18 F g a palavra na l ngua Kaingang que designa o branco o n o ind gena 37 Nas palavras de um pai Kaingang da Aldeia Por Fi a fam lia participa de todo o trabalho onde tiver um trabalhando todos se juntam Se as crian as acham importante elas v o junto ali aprender tamb m Postas estas palavras inicia se a
41. m fala que sua posse permanente mas por que ent o n o lhes dar a propriedade At porque a Conven o 169 da OIT como j vimos diz que a propriedade das terras pertence aos povos ind genas e o Brasil signat rio dessa Conven o Alguns povos ind genas sentem se inseguros pelo fato deles terem somente a posse pois isto uma fragilidade de seu direito terra Alegam que as conjunturas pol ticas podem mudar e como podem E assim pode ocorrer em tese que no futuro algum governante queira mudar isto e possa retirar as terras dos ndios Afinal j afirmamos essas terras s o da Uni o e n o deles E o receio justificado 116 pois isto j ocorreu muitas vezes nesses j cinco s culos de luta por suas terras e garantia de seus direitos constitucionais Isto se d em nosso entendimento pelo fato de vivermos numa sociedade capitalista que tem na concentra o de poder de renda e de terras seus fundamentos basilares A reflex o realizada por Campos 1997 fundamenta este sentimento quando afirma que nos pa ses capitalistas ocidentais apesar da liberdade de escolha dos dirigentes governamentais e da exist ncia de in meros movimentos reivindicat rios ainda persiste um interdito democratiza o da propriedade privada CAMPOS 1997 p 24 Isto tamb m se d pelo entendimento de que os ind genas ainda precisam se integrar dita sociedade nacional e tendo terras pr prias este processo se torna ma
42. mitos e dos ritos BANIWA 2006 p 43 Neste contexto as crian as sabem o que podem e o que n o podem fazer e a reflex o de Assis refor a que as crian as demonstram tranquilidade neste constante ir e vir Elas n o apresentam problemas no seu desenvolvimento pessoal ASSIS 2006 p 70 Os adultos auxiliam no desenvolvimento da criatividade e a vinculam autonomia Um ser criativo curioso estimulado ser um ser independente com autonomia Entendemos que a autonomia se constr i atrav s da conscientiza o do indiv duo onde ajudar a fazer e pensar fundamental para este crescimento pessoal Aprender com o exemplo dos pais e m es uma esp cie de trama Da mesma forma que as fibras inseridas na base do balaio v o ligando os elos e cores com o objetivo de montar um artesanato tamb m podemos pensar que na comunidade Kaingang a crian a une suas fibras com elos afetivos e no tecer dos fios que partem das m os dos adultos e lhes s o estendidos fortalecem sua autonomia Atividades produtivas a partir da arte com as taquaras e cip s antes de serem materializadas nos produtos comercializados pelas meninas e meninas no meio urbano s o consideradas transmiss o de conhecimento e fortalecimento emocional da crian a Kaingang 6 1 1 Sociedade Kaingang e Sociedade envolvente viv ncia e subsist ncia Os Kaingang t m por h bito a coleta de alimentos nas suas rela es com a natureza e na cid
43. morros e encostas no Estado de Santa Catarina onde casas pr dios fazendas estradas foram totalmente destru das e soterradas por conta das intensas chuvas foi bastante comum coment rios de homens e mulheres Kaingang da Aldeia Por Fi atribuindo Natureza esses fen menos Esta frase dita por um l der da aldeia sempre nos acompanha a natureza ta ficando braba por isso ta acontecendo tanta coisa ruim em tantas partes do mundo Na profundidade destas palavras a import ncia reverenciada Natureza e ao meio ambiente Refor am que a Natureza est ficando esgotada saturada com tanta agress o por parte da Humanidade que eles consideram inconsequente e desrespeitosa Abaixo quadro demonstrativo sobre idade e profiss o dos entrevistados para este estudo 06 ind genas e 03 gestores p blicos Minist rio P blico Federal Secretaria Municipal de Assist ncia Cidadania e Inclus o Social e Conselho Tutelar 42 Total 9 entrevistas Quadro 1 Idade e profiss o dos entrevistados da pesquisa A demonstra o do perfil dos entrevistados refor a a profiss o Artes o para quatro ind genas com os cognomes de Vento Ar Terra e Chuva sendo que a informante Vento a pessoa mais velha kof da Aldeia Por Fi Ressaltamos que os informantes gua e Fogo s o importantes l deres pol ticos da comunidade e que por esta raz o n o se identificaram como artes os A informante Chuva al m de artes desempenha
44. ncia quest es que incidem sobre o direito Educa o Sa de e Terra Refor a se que na raiz de todas as quest es est o problema da garantia da terra do direito terra visto que uma s rie de problemas enfrentados pelas popula es ind genas hoje e sempre tem sua origem na perda dos territ rios e na devasta o do meio ambiente que n o permite aos ind genas viverem dignamente de acordo com suas tradi es Sa de educa o assist ncia social por si s n o bastam para garantir a perenidade dessas culturas Todos esses direitos devem ser permeados pelo reconhecimento e respeito das suas especificidades suas diferen as Parte da o principal problema a ser enfrentado pelos profissionais de todas as reas mas especialmente das reas sociais N o basta que se garanta aos ind genas os direitos que todos os cidad os t m eles t m direitos a serem tratados de forma espec fica e diferenciada que o direito humano a viver num grupo tnico e n o ser pasteurizado no caldo cultural homog neo do restante de uma sociedade E exatamente a que residem seus maiores problemas A sociedade em geral e os profissionais que os atendem n o est o preparados para isto pois a homogeneidade da sociedade acaba imputando aos ind genas um problema a mais aos que eles j t m Ao buscarem um servi o de sa de o qual n o conhece ou n o reconhece suas especificidades al m de n o terem seu direito b sico atendido ter
45. ndios desaldeados pois entend amos que saindo de suas terras no interior do Estado n o tinham mais aldeias Fixavam se nas periferias de cidades na regi o metropolitana de Porto Alegre no Vale do Rio dos Sinos e noutras regi es sem territ rio reconhecido e demarcado oficialmente pela Funda o Nacional do ndio FUNAI Portanto n o tinham aldeias Esse tema foi muito debatido posteriormente e a designa o desaldeados foi deixada de lado pois tamb m nas cidades eles mantinham suas aldeias mesmo que em espa os reduzidos mesmo que nas favelas e este fen meno social existe em praticamente todo o pa s O COMIN um rg o da Igreja Evang lica de Confiss o Luterana no Brasil IECLB uma importante organiza o n o governamental ONG criada em 1982 com a finalidade de assessorar e coordenar o trabalho da IECLB com os povos ind genas em todo Brasil Para atender este objetivo o COMIN se faz presente junto a alguns povos e comunidades ind genas criando parcerias e dando apoio nas reas da educa o sa de terra organiza o e auto sustenta o O COMIN tem como princ pio e compromisso apoiar as prioridades colocadas pelos povos e comunidades ind genas respeitando seu jeito de ser e sua cultura trabalhando com eles e n o por eles A institui o mant m atua o com povos ind genas em n vel nacional e sua sede principal mantida no munic pio de S o Leopoldo RS No COMIN trabalhei por 14 anos optando
46. para os ind genas preciso ainda dizer que as cidades exercem grande fasc nio sobre as popula es ind genas em geral visto que concentram a tecnologia do branco os grandes espa os de compra e venda os bancos as grandes institui es p blicas e privadas Trata se de um mundo ao mesmo tempo atraente e assustador para os ndios TOMMASINO 2000b p 38 Mesmo nas cidades h um perfil da perman ncia de princ pios principalmente ao que se refere s regras de descend ncia resid ncia produ o econ mica e autoridade pol tica nas comunidades Kaingang Todos os acontecimentos provocados pela coloniza o de suas terras alteraram os padr es de abastecimento e sua organiza o social sofreu transforma es no novo contexto hist rico A sobreviv ncia restringiu se basicamente com o artesanato o que os for a a viver de forma sedent ria Foram abruptamente privados de seus meios de vida e a concentra o compuls ria afetou profundamente sua organiza o social e tradicional O processo de ocupa o dos territ rios pertencentes aos povos ind genas provocou transforma es no sistema de vida das fam lias fazendo que muitas se dispersassem para os centros urbanos em v rias cidades Expropriados de seus territ rios tradicionais os Kaingang foram obrigados a adotar novos padr es impostos pela sociedade dominante A nica alternativa para sobreviver era adaptarem se s novas condi es materiais de
47. pertencimento deles Nos p tios da aldeia percebemos que tamb m os animais especialmente os c es se inserem no cotidiano e disputam espa os alimentos cuidados Em S o Leopoldo como em qualquer centro urbano h muitos c es abandonados Estes se achegam livremente no espa o da aldeia Kaingang Ali s o alimentados acolhidos Em geral s o c es adoecidos maltratados e abandonados trazem consigo doen as sarna picho do p vermes que acabam por alastrar na aldeia diversas doen as de pele intestinais entre outras Nos momentos das entrevistas inclusive os c es descansavam ressonavam pr ximos da gente no mesmo pano estendido no ch o de terra pura Vale destacar estes aspectos pois eles nos d o a dimens o de onde vivem e de quem s o os sujeitos desta pesquisa N o utilizamos mesas escrivaninhas salas fechadas Tudo aconteceu no nosso entendimento como tem que acontecer no espa o deles respeitando os jeitos deles valorizando suas pessoas h bitos e viv ncias Martinelli destaca a concep o de sujeito coletivo no sentido de que aquela pessoa que est sendo convidada para participar da pesquisa tem uma refer ncia 45 grupal e expressa de forma t pica o conjunto de viv ncias de seu grupo MARTINELLI 1999 p 24 As entrevistas foram realizadas com o pr vio consentimento dos entrevistados em algumas utilizamos o gravador noutras fez se anota es e ap s a transcri o das fitas Todos
48. que consta no 4 artigo do ECA que dever da fam lia da comunidade da sociedade em geral e do poder p blico a prote o de crian as e adolescentes e esses devem assegurar a efetiva o de direitos que se referem vida com as garantias de sa de lazer dignidade cultura 6 2 1 Sinaleira fechada confrontos de leis z A comercializa o do artesanato nas sinaleiras realizada pelas crian as meninos e meninas com idades variadas de 07 a 14 anos As crian as conhecem a din mica da rua e enfrentam sozinhas abordagens aos motoristas nas sinaleiras da cidade ineg vel que correm riscos que sua inf ncia est sendo atingida O desconforto provocado por sua presen a nas sinaleiras ruas e cal adas leg tima na medida em que sinaliza a preocupa o da sociedade com os pequenos Por m esse desconforto pode estar significando desconhecimento sobre a cultura O Kaingang denomindado gua denota a dist ncia entre as leis Pr n s normal a crian a trabalhar normal na cultura Kaingang isso e n o adianta a lei do f g querer cortar isso a pr gente Agua 2009 A crian a em sua atividade de venda comunica se na l ngua portuguesa uma m e e artes da aldeia expressa a import ncia da l ngua nas atividades desenvolvidas pela crian a Come am nos 7 anos quando come am a entender o portugu s porque como que eles v o vender se n o entendem o portugu s Os meus come aram assim
49. reflex o sobre a complexa situa o em torno do assunto das atividades produtivas das crian as Kaingang da Aldeia Por Fi de S o Leopoldo E a partir da surgem outras indaga es que s o elencadas como quest es norteadoras Que concep o de trabalho orienta a comunidade Kaingang e a partir dela como e quais s o as atividades realizadas pelas crian as ind genas Que valores est o associados ao mundo Kaingang tendo em vista as atividades produtivas Como construir conhecimento para garantir a prote o social das crian as ind genas resguardando sua cultura Como o poder local MPF CT Assist ncia Social e outros percebe e enfrenta esse tencionamento de valores na sua a o concreta Em nosso horizonte al m dessas indaga es tamb m nos impulsiona o objetivo geral de investigar o significado que as atividades produtivas infantis t m para a comunidade Kaingang na sua rela o de com rcio de artesanatos com vistas a contribuir para o aprimoramento da prote o social a esses sujeitos respeitando a sua cultura sem desconsiderar o contexto em que est o inseridos Assim os objetivos espec ficos foram Analisar a concep o de trabalho em rela o as atividades produtivas e a sustentabilidade na sociedade Kaingang Identificar que entraves existem na efetiva o dos direitos das crian as considerando a organiza o social ind gena Analisar a rela o entre produ o e a c
50. tenham o registro de sua hist ria em suas mem rias Atualmente em todo o Brasil v rios estudantes ind genas t m se debru ado sobre as hist rias que s o contadas e recontadas nas suas aldeias principalmente pelos anci os das tribos Nessas hist rias s o encontrados elementos e fatos hist ricos antigos que permanecem vivos nas mem rias coletivas Numa rea ind gena todos mesmo as crian as conhecem os mitos e a hist ria do povo Neste caso a aprendizagem acontece em qualquer momento e lugar Todos adoram contar e ouvir hist rias e assim todos produzem e partilham o conhecimento O conhecimento produ o e propriedade coletiva e esta j uma enorme diferen a entre as culturas ind genas e a cultura ocidental Basta dialogar com os ind genas em pleno s culo XXI para ouvir deles que o Brasil foi sim invadido e que todas as terras do Brasil s o dos ndios mesmo ap s 510 anos de tentativas de abolir as popula es ind genas elas continuam existindo recriando pr ticas ancestrais e reivindicando sua sobreviv ncia MOTA ASSIS 2008 p 12 e o fazem com esfor os para manterem se como sociedades espec ficas e independentes A hist ria do Brasil j est sendo escrita de forma diferente pelos acad micos ind genas de diferentes etnias brasileiras Em nossa met fora das ra zes s folhas entendemos que os povos ind genas do Brasil diante de desafios e dificuldades mant m se encorajad
51. vamos fazer pra n s vender Chuva 2009 Percebe se que para os Kaingang o trabalho com artesanato desde sua produ o at sua comercializa o em centros urbanos entendida como de cunho educativo ou seja ensinam as crian as para que no futuro estas n o venham a sofrer com o desemprego e falta de acessos na cidade Fica evidente que h inseguran a em rela o ao futuro e h preocupa o com a prepara o e prote o dessas crian as Quando afirmam que a fam lia inteira trabalha refor am o aspecto cultural forma coletiva em que as crian as participam e interagem de acordo com a organiza o do grupo pois para eles o trabalho se caracteriza como momento de troca de experi ncia entre os membros do grupo O trabalho constitui assim importante aspecto da vida comunit ria de muitas sociedades ind genas fornecendo as bases de uma organiza o social de tipo igualit ria em que a fam lia funciona como unidade b sica de produ o acumulando e trocando os conhecimentos indispens veis subsist ncia de todos os seus membros FALEIROS FALEIROS 2007 p 65 Desta forma compreende se que para as comunidades ind genas trabalhar aprender a fazer junto FALEIROS FALEIROS 2007 evidenciando a rela o sociocultural das fam lias ind genas que se concentram num coletivo onde o aprendizado para o trabalho incorporado nas pr ticas coletivas que s o em si educativas Em outras palavras
52. vel sua diminui o minimizar os efeitos do processo de desigualdade sendo a pobreza uma delas Entendemos ser econ mica pol tica social e humanamente poss vel melhorar as condi es de vida desta popula o que se encontra em vulnerabilidade social atrav s de pol ticas interligadas que garantam a intersetorialidade entre as a es diferenciadas que contemplem as popula es ind genas em suas especificidades poss vel garantir Educa o Sa de e Habita o com qualidade e com respeito diversidade 207 llustramos abaixo a realidade das pol ticas p blicas que pela configura o que apresenta dificulta o processo de constru o de a es direcionadas crian a Kaingang Dissemos dificulta mas n o impossibilita Comunidade Prefeitura Municipal Kaingang 1 de S o Leopoldo Secretarias Municipais l Fam lias pai m e m es solteiras Governo do Estado Secretarias Estaduais CEPI CEED ESCOLA Pnora ad Dingue Governo Federal Minist rios FUNAI FUNASA MPF Demais lideran as Cacique Vice cacique Conselheiros CT CRAS ONGs Sociedade Envolvente Quadro 6 Pol ticas p blicas diferenciadas articula o em rede Sintetizamos a forma como entendemos a articula o entre os diferentes agentes envolvidos no atendimento diferenciado crian a ind gena no centro urbano tendo em vista as especificidades culturais e direitos especiais dos Kaingang que assim como as trama
53. 30 03 2005 Dispon vel em lt http Anww polis org br artigo interno asp codigo 28 gt Acesso em 12 Jun 2009 ISA Instituto Socioambiental Apresenta o Dispon vel em lt http pib socioambiental org pt c no brasil atual quem sao introducao gt Acesso em 31 jul 2009 Instituto Socioambiental Povos Ind genas no Brasil Dispon vel em lt http pib socioambiental org pt povo kaingang 286 gt Acesso em 02 Jun 2009 Instituto Socioambiental Popula o Ind gena no Brasil Dispon vel em lt http pib socioambiental org pt c 0 1 2 populacao indigena no brasil gt Instituto Socioambiental ndios Emergentes Dispon vel em lt http pib socioambiental org pt c no brasil atual quem sao Indios emergentes gt Instituto Socioambiental Quadro Geral dos Povos ind genas Dispon vel em lt http pib socioambiental org pt c quadro geral gt J NIOR Nelson Saule O Direito Cidade como paradigma da governan a urbana e democr tica Polis publicado em 30 03 2005 Dispon vel em lt http Awww polis org br artigo interno asp codigo 28 gt Acesso em 12 06 2009 Jr Lima Benvenuto Jayme O car ter expansivo dos direitos humanos na afirma o de sua indivisibildade e exigibilidade In PIOVESAN Fl via coord Direitos Humanos globaliza o econ mica e integra o regional desafios do Direito Constitucional Internacional S o Paulo Max Limonad Justi a Global 2002 KOGA Dirce Medidas de Cidades
54. A exclus o da dimens o social e subjetiva CAMPOS 1997 interfere negativamente no processo de cura A medicina moderna possui pr ticas fundamentadas na objetividade que refor am o atendimento mecanicista onde escutar o sujeito paciente via de regra n o faz parte do processo de diagn stico Um fato recentemente ocorrido no sistema de sa de de S o Leopoldo exemplifica isto uma gestante da aldeia procurou o nico hospital da cidade com fortes dores de parto chegou ao hospital no final da manh e logo no in cio da tarde foi liberada com a solicita o de que retornasse se voltasse a se sentir mal Com dificuldade ela retornou para a aldeia atrav s de transporte p blico Na mesma noite entrou em trabalho de parto A lideran a comunicou o servi o de ambul ncia para que fosse fazer a remo o acusando o estado de emerg ncia A ambul ncia n o atendeu ao chamado A ind gena entrou em sofrimento tendo que iniciar o trabalho de parto no pequeno barraco onde mora sem as m nimas condi es de seguran a para um parto dif cil Era uma noite chuvosa e os familiares a socorreram tendo que lev la de forma prec ria imediatamente ao hospital pois o beb estava retido Evidencia se aqui a aus ncia de rela o entre os sujeitos m dico paciente e uma grave contradi o no servi o de sa de destinado a esta popula o De acordo com Campos o saber e a pr tica cl nica n o tomam como problema a s
55. Assist ncia Social vem normatizando crit rios para a apresenta o de propostas de CRAS ind genas No texto para orienta o de projetos consta que O Centro de Refer ncia da Assist ncia Social CRAS uma unidade p blica estatal de presta o de servi os de prote o social b sica continuados de assist ncia social e localiza se em territ rios de vulnerabilidade social As a es nele desenvolvidas devem abranger um total de at 1 000 fam lia ano Para os Kaingang que residem em S o Leopoldo que re nem cerca de 120 pessoas como ficar esta quest o Percebemos que as normativas definem quantas fam lias ser o atendidas e aqui novamente a Prote o Social B sica prevista na Pol tica Nacional de Assist ncia Social n o contempla os Kaingang da Aldeia Por Fi O movimento que os Kaingang fazem para serem reconhecidos em meio urbano tem produzido mudan as com o passar dos tempos e essas mudan as 7 Site MDS http www mds gov br Acesso em 07 03 10 7 Documento dispon vel site MDS Orienta o para elabora o de projetos para constru o de CRAS para Popula es Ind genas http Awww mds gov br Acesso em 07 03 2010 206 aparecem tamb m na confec o do artesanato que v m se modificando em sua apar ncia e fun o Outros modelos e tipos de artesanato foram sendo incorporados acrescentados e atualmente s o produzidos para a sobreviv ncia do grupo Este aspecto imp e pensarmos no futur
56. DAI Departamento de Assuntos Ind genas ECA Estatuto da Crian a e do Adolescente FUNAI Funda o Nacional do Indio FUNASA Funda o Nacional da Sa de GFASSS Grupo Fam lia Servi o Social e Sa de PUCRS IECLB Igreja Evang lica de Confiss o Luterana no Brasil IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estat stica INSS Instituto Nacional de Seguridade Social ISAEC Institui o Sinodal de Assist ncia Educa o e Cultura MDS Minist rido do Desenvolvimento Social e combate Fome MPF Minist rio P blico Federal MS Minist rio da Sa de NEST N cleo de Estudo Sa de e Trabalho PUCRS NH Novo Hamburgo OIT Organiza o Internacional do Trabalho ONG Organiza o n o governamental PMSL Prefeitura Municipal de S o Leopoldo PIDA Projeto Indios Desaldeados e Acampados PR Procuradoria Regional da Rep blica RS Rio Grande do Sul SACIS Secretaria de Assist ncia Cidadania e Inclus o Social PMSL SL S o Leopoldo SMED Secretaria Municipal de Educa o PMSL SPILTN Servi o de Prote o ao Indio e Localiza o de Trabalhadores Nacionais i SPI Servi o de Prote o ao Indio SUS Sistema Unico de Sa de TI Terra Ind gena SUM RIO TEINTRODU O ss o E RES S S 24 2 NOS ESTALOS DAS TAQUARAS TRILHAS DO CONHECIMENTO 31 2 1 COMENT RIOS INICIAIS SOBRE A ESPECIFICIDADE DESTA COLETA s 33 2 2 ABRINDO AS TRILHAS r
57. FREITAS 2005 p 200 5 2 AS MODIFICA ES NO MUNDO DO TRABALHO A VIDA CONTEMPOR NEA E OS KAINGANG Nasci e me criei nas aldeias grandes Os brancos e as cidades chegaram e acabaram com nossas matas nossas ca as pescas e nossas terras N o temos mais nossas comidas t picas naturais Para sobreviver temos que trabalhar com o artesanato Isto n o era da nossa cultura mas tivemos que aprender a viver assim D R F Artes o 45 anos Aldeia Por Fi Di rio de Campo julho 2009 O desabafo acima de um artes o da Aldeia Por Fi manifesta v rios elementos presentes em nossas an lises Um dos mais importantes est relacionado com o que desenvolvemos no final do item anterior que se mostra na fala do artes o Kaingang ao afirmar que os brancos e as cidades chegaram e acabaram com nossas matas nossas ca as quando afirma que o povo Kaingang teve que trabalhar com o artesanato e aprender a viver assim e que isto n o era parte da cultura O que contribuiu para que isto acontecesse Nas p ginas anteriores asseguramos que historicamente este povo era coletor que vivia livremente e para sua subsist ncia realizava o recolhimento de recursos advindos da natureza Bem ap s tantos anos de contato com a cultura europ ia muitas transforma es aconteceram para eles mas para a humanidade como um todo tamb m Analisando as mudan as no mundo do trabalho e as condi es de vida da class
58. FUNDO RS Fone Fax 54 3311 4233 3311 4103 3311 4935 252 ANEXO D DECLARA O FUNAI AER PASSO FUNDO CONSENTINDO A PESQUISA DATA 30 10 2008 MINIST RIO DA JUSTI A FUNDA O NACIONAL DO NDIO FUNAI ADMINISTRA O EXECUTIVA REGIONAL DE PASSO FUNDO RS DECLARA O A FUNAI vem por meio deste informar o recebimento do projeto de pesquisa intitulado Entre Cestos e Colares Viv ncias de crian as Kaingang num espa o urbano que ser desenvolvido junto comunidade indigena do municipio de S o Lepoldo RS pela Mestranda e pesquisadora Marines Garlet Assistente Social CRESS 3780 A FUNAI manifesta seu consentimento tendo em vista a concord ncia da referida comunidade ind gena e informa que n o h nenhum impedimento para o desenvolvimento dos estudos propostos pela pesquisadora Marinez Garlet Passo Fundo RS 30 de outubro de 2008 i A VI 4 UE J O ALBERTO FERRAREZE Administrador Executivo Regional AER PFD RS Rua Morom 1060 Sobre Loja CEP 99010 030 PASSO FUNDO RS Fone Fax 54 3311 4233 3311 4103 3311 4935 253 ANEXO E INSTRU O NORMATIVA N 001 PRESI BRASILIA DATA 09 11 1995 e no DOE Prot No Qi Data 03 AA TO Assihatara E Funda o Nacional do ndio MINIST RIO DA JUSTI A INSTRU O NORMATIVA N 001 PRESI BRAS LIA 29DE di pa o N D L AA i RR a q N me B ApS A pP n t o PRESIDENTE DA FUNDA O NACI ONAL
59. Fogo quem compra gosta de coisas diferentes Com o desenvolvimento eles v o criando os modelos e da v o vendo qual o modelo que mais comercializado da eles produzem mais esse que est o sendo aceitos no com rcio Vai evoluindo Quem compra gosta de coisas diferentes ent o os Kaingang v o acompanhando Os modelos s o criados a partir da necessidade do com rcio Fogo 2009 O entrevistado Fogo ao dizer que os modelos s o criados a partir da necessidade do com rcio demonstra que os f g apresentam lhes demandas que estimulam a cria o de novos modelos Desta forma entendemos que as atividades produtivas sup em sociabilidade uma vez que os seres humanos agem atrav s das rela es sociais Conforme Barroco o trabalho n o obra de um indiv duo mas da coopera o entre os homens BARROCO 2008 p 26 6 2 FAR IS E PARABRISAS REFLEXOS NO DIA E NA NOITE A situa o de exclus o social dos povos ind genas e a an lise sobre os direitos de crian as ind genas est o ligadas hist ria desse povo na luta por autonomia e vida digna Uma hist ria marcada pela viol ncia por eles 183 sofrida pela a o das armas onde sociedades inteiras foram dizimadas tamb m por doen as viol ncias diversas e falta de pol tica p blica ou pol tica equivocada baseada no conceito de que os ndios deveriam assimilar a nova cultura INESC 2008 p 4 Em noites de temperatura agrad vel n
60. Kaingang Eles n o precisam assim completar os 18 anos pra depois ir trabalhar eles come am trabalhando desde pequenos para ajudar assim na economia na 168 subsist ncia ent o todos os trabalhos n o importa a idade e o trabalho feito junto Fogo 2009 Ao analisarmos essa fala observamos que ela se distancia da afirma o de Marx citado por Tommasino 2002c que reflete a ess ncia do trabalho na sociedade capitalista O trabalhador por conseguinte s se sente ele mesmo fora do seu trabalho e o seu trabalho surge como exterior a si mesmo Ele se sente vontade quando n o est trabalhando e quando est trabalhando n o se sente vontade Seu trabalho portanto n o volunt rio mas coagido trabalho for ado N o portanto a satisfa o de uma necessidade meramente um meio de satisfazer necessidades exteriores TOMMASINO 2002c p 5 6 Podemos refletir que passados 510 anos os Kaingang continuam vivenciando e atualizando a sua cultura e organiza o mesmo com todas as dificuldades contempor neas Ent o como entendida a tradi o da coleta que antes era realizada diretamente da natureza e hoje ocorre nos espa os da cidade Isto pode ser entendido como coleta Estariam as crian as coletando nas sinaleiras Como isto hoje Se a sociedade Kaingang j estava na cidade de S o Leopoldo que recebeu os primeiros imigrantes alem es em 1824 ent o os Kaingang j pertenciam a este ter
61. O GESTOR P BLICO MPF remete 230 AP NDICE C INSTRUMENTO DE PESQUISA FORMUL RIO C ENTREVISTA COM GESTOR PUBLICO SACIS SL sssso ossos 231 AP NDICE D INSTRUMENTO DE PESQUISA FORMUL RIO D ENTREVISTA COM GESTOR PUBLICO CONSELHEIRO TUTELAR 232 AP NDICE E FOTOS DA ALDEIA POR Fl itereeeeeeeeeeerererereseeeeeenenene 233 AP NDICE F TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 245 AP NDICE G CARTA DO COORDENADOR DO SERVI O 246 AP NDICE H CARTA DE AUTORIZA O DAS LIDERAN AS KAINGANG DA ALDEIA POR FI PARA INSER O DE FOTOGRAFIAS NESTA PESQUISA DATA 09 02 10 Gsssasna seis tuainiaoca aeieea ona aaae asa a ds Rai Rr u a tias Ss ii ndo as penbianda dE 247 AP NDICE FOLHA DE ROSTO CONEP PARA PESQUISA ENVOLVENDO SERES HUMANOS FR N 23 29 57 DATA 21 11 08 0 2 000 0 248 ANEXO A MAPA 1 REGI O SUL REAS KAINGANG 249 ANEXO B MAPA 2 LOCALIZA O DA ALDEIA POR FI MAPA DE BAIRROS SAO LEOPOLDO aiikoran aonaran aanas Asiara A asi aan einen dama dinda 250 ANEXO C OFICIO N 286 GAB STE AER PFD RS ADMINISTRA O REGIONAL FUNAI PASSO FUNDO DATA 17 10 2008 251 ANEXO D DECLARA O FUNAI AER PASSO FUNDO CONSENTINDO A PESQUISA DATA 30 10 2008 0 0unsne sos eesseesorrensaereo
62. Percebe se assim que um significativo nus decorrente do processo de reestrutura o produtiva recai sobre parcelas da classe trabalhadora que permanecem no mercado em condi es prec rias ou que t m sofrido um processo crescente de exclus o principalmente dos postos formais ANTUNES 2005a o que determina um impacto significativo para um povo com as peculiaridades dos Kaingang Os Kaingang por n o terem as qualifica es necess rias ao modo de produ o capitalista altamente tecnificado fazem parte desse ex rcito ou sequer se incluem nesse grupo de exclu dos estanto portanto exclu dos dos exclu dos A realidade para os povos ind genas vem mudando de forma r pida e surpreendente Os recursos naturais foram dilapidados alterando suas rela es com o meio ambiente Um modelo de subsist ncia desenvolvido nas reas ind genas a 148 potencialidade dos recursos naturais o que hoje enfrenta profundas modifica es medida em que o meio ambiente foi sendo destru do No RS a degrada o dos recursos naturais tem resultado em consequ ncias tr gicas particularmente para os povos ind genas onde A luta pela sobreviv ncia tnica cultural Kaingang n o pode e n o poss vel sem uma luta pela recupera o e preserva o ambiental ao mesmo tempo em que h necessidade de auto sustenta o econ mica H uma interdepend ncia entre esses fatores A auto determina o dos Kaingang enquanto um grupo
63. SUA HIST RIA E SEU PRESENTE Estimativas apontam que no atual territ rio brasileiro habitavam pelo menos 5 milh es de pessoas por ocasi o da chegada de Pedro Alvares Cabral no ano de 1500 Se hoje esse contingente populacional est reduzido a pouco mais de 700 000 pessoas muitas coisas ruins as atingiram Gersem Baniwa 2006 p 17 A descoberta do Brasil via de regra aparece na historiografia oficial de nosso pa s como algo leve sem traumas algo casual que aconteceu com um desvio de rotas das embarca es portuguesas Nas trilhas da hist ria oficial aprende se desde crian a que o Brasil foi descoberto em 1500 mais precisamente no dia 22 de abril No comando de uma esquadra de treze embarca es Pedro lvares Cabral partiu de Portugal com destino s ndias mas com ordens expressas do Rei D Manoel para que a frota se deixasse levar pelos ventos do Atl ntico at terra dos brasis A bordo veio especialmente para registrar esta descoberta Pero Vaz de Caminha que fez isto numa minuciosa e reveladora carta datada de 1 de maio de 15002 Darcy Ribeiro um dos mais reconhecidos antrop logos brasileiros diz que a carta o atestado de descobrimento e batismo do Brasil RIBEIRO 1992 p 22 Isto resumidamente o que ouvimos sobre a descoberta do que hoje o Estado Brasileiro como nos conta a historiografia oficial 24 ndio da etnia Baniwa aldeia Yaquirana alto rio Negro munic pio de S o G
64. Trabalho OIT atrav s da Conven o 182 estabelece par metros de prote o Todo pa s membro elaborar Sementes olho de boi rvore macuna ou macun http br olhares com olho de boi fotoi 632956 html Acesso em 09 03 10 161 e desenvolver programas de a o para eliminar com prioridade as piores formas de trabalho infantil Fazemos quest o de dizer que n o estamos estudando o que poderia ser considerado trabalho infantil entre os Kaingang O que estamos tentando deixar claro neste estudo que as atividades produtivas entre os Kaingang s o uma maneira de atualizar rela es socioculturais e econ micas N o se pode analisar esta quest o a partir do que se v nas sinaleiras Temos que buscar ver o todo E esse todo um processo muito amplo e complexo que vai muito mais al m do que coletar mat ria prima process la vender o produto Para muito mais al m do que isto exige como vimos discorrendo desde o in cio nesta disserta o um ambiente envolto de mist rios de novidades de esp ritos onde a descontra o marca sempre presente E para muito mais al m disto tamb m esse todo envolve o processo permanente qualificado e espec fico de inser o e educa o das crian as na cultura Kaingang na sua cosmovis o na sua maneira de ver e interpretar o mundo se localizando nele e se projetando como povo ind gena pr prio nico e diferenciado 162 6 FIBRAS E CESTOS EM MEIO URBANO
65. a fam lia passou a ser alvo dos higienistas atrav s da crian a Segundo Rizzini 2008 o conceito de crian a passou a ter um significado bem como uma dimens o social que at ent o n o existia no mundo ocidental onde A crian a deixa de ser objeto de interesse preocupa o e a o no mbito privado da fam lia e da Igreja para tornar se uma quest o de cunho social de compet ncia administrativa do Estado RIZZINI 2008 p 23 Especialmente em rela o s crian as e este centro de nossa pesquisa a presen a dos ind genas em meio urbano provoca reflex es ao que se pode chamar de tens o cultural Os ind genas s o um grupo culturalmente diferenciado com leis e organiza o espec ficas e como tais devem ser olhados e isto tamb m vale evidentemente para suas crian as Devemos tentar tirar da frente de nossos olhos as m scaras e lentes que nos fazem ver nos outros o que somos e n o o que eles s o Assim a garantia de direitos para esses segmentos torna se um desafio para os servi os p blicos ainda mais em se falando de crian as ind genas em suas rela es com a sociedade envolvente Para os povos ind genas os cuidados com as 156 crian as seu aprendizado suas rotinas s o orientados atrav s da cultura e n o das normas do Estado ou atrav s de normas e moral religiosas A crian a ind gena tem papel muito importante dentro de sua sociedade particular Reconhecer isto assumir que ela um
66. a nova pobreza In VALLA Victor Vincent et al orgs Para compreender a pobreza no Brasil Rio de Janeiro Contraponto 2005 228 WIESEMANN Ursula Gojt i Dicion rio Bil ng e Portugu s Kaingang Kaingang Portugu s Editora Evang lica Esperan a Curitiba 2002 98 p 229 AP NDICE A INSTRUMENTO DE PESQUISA FORMUL RIO A ENTREVISTA COM OS KAINGANG Roteiro A para entrevista com os Kaingang de S o Leopoldo 1 O que considerado trabalho para o a senhor senhora 2 Como faziam a venda do artesanato antigamente quando o a senhor senhora era pequena o e ou morava longe da cidade 3 nd Desde que idade a o senhora senhor trabalha 4 nd Seus filhos trabalham H quanto tempo Onde O que fazem 5 Como morar na cidade a ed 6 Como ensinado o trabalho para as crian as E quem ensina a crian a a fazer 7 Quando as crian as v o vender os produtos na cidade nas sinaleiras O que acontece com o CT a Prefeitura a assist ncia social 8 O que o senhor senhora pensa elas enfrentam algum perigo 9 Existe uma lei Kaingang sobre divis o de tarefas Quem trabalha Quem faz o que E como Leis dos f g sobre a presen a das crian as nas ruas e sinaleiras 10 Os Kaingang sempre fizeram artesanato Artesanato da cultura Kaingang 11 De onde vem a subsist ncia da comunidade 12 Os Kaingang t m a divis o das etapas crian a e adolesce
67. ao apoio respeito e cumplicidade de alguns ou de muitos E na dif cil tentativa de contemplar a todos re no aqui de forma especial alguns agradecimentos a aqueles e aquelas que estavam est o e estar o diretamente vinculados a mim na sequ ncia das minhas trilhas por a afora Meus agradecimentos e reconhecimentos seguem aqui atrav s de PALAVRAS especiais a PESSOAS muito especiais Uma palavra TUDO para quem iniciou minha vida meus pais Ana e Adelino por tudo o que s o fazem fizeram e v o continuar fazendo por mim Amo voc s para sempre Uma palavra AMOR para meus filhos Paulo e Artur A voc s meus amores com infinitas palavras de reconhecimento e agradecimento por tudo o que posss vel agradecer Artur muito obrigada por me ensinar tanto tudo todos os dias A voc devo muitas palavras de tudo e mais um pouco Perd o pelas minhas aus ncias e obrigada por tanta compreens o e suportabilidade Filho amado vens nutrindo e iluminando o meu esp rito Uma palavra PRESEN A para a mana Marisa e cunhado Caetano por me quererem t o bem me apoiarem muito e aos sobrinhos L o e Dudu por suas descobertas e afetos Uma palavra VIT RIA para a mana Mareliza e meu sobrinho mais que ESPECIAL LENIN Obrigada por estarem a e aqui comigo sempre todos os dias de longe e de perto Her i e Hero na s o voc s Uma palavra AFETO aos manos Vanderlei e Valdair s cunhadas Ros ngela
68. as a sua l ngua afilada servindo de captura por ser pegajosa e comprida http Awww infoescola com aves pica pau Acesso em 13 01 10 Pri uma tecnologia de pesca em que os Kaingang disp em uma esp cie de cesto de taquara em pontos espec ficos das corredeiras de rios e arroios FREITAS 2005 p 230 28 As sementes tamb m servem para alimentar os p ssaros A taquara favorece os Kaingang e os pr prios p ssaros o que afirmam As folhas s o aproveitadas em diferentes situa es forrar o ch o para sentar deitarem se fazer sombra e para cobrir suas casas Folhas s o utilizadas como rem dios fazem ch para pris o de ventre No forro das casas as folhas s o amarradas com cip s de maneira uniforme sem que entre gua da chuva sem que o sol penetre S o muitas as ra zes a taquara tem muitas ra zes sobrepostas e unidas Usam tamb m suas ra zes como rem dio para problemas nos ossos quando quebram costelas pernas bra os Cozinham as ra zes e aplicam no ferimento por muitos dias por v rias semanas Afirmam que se o m dico do branco soubesse a import ncia disso pra n s isso ia ajudar nosso povo quando algu m chega no hospital com estes machucados Preservam a v g Sabem respeit la sabem quando podem cortar cuidam a poca certa de acordo com as fases da lua N o se colhe em qualquer poca colhem na lua nova e um fen meno da natureza Tradicionalmente usam as taquaras p
69. atual presidente do rg o indigenista declarou que reconhece a popula o ind gena urbana por ser uma realidade que n o se pode desconsiderar Ano 02 N 03 2009 p 11 Em n vel nacional h mobiliza es em reuni es f runs e confer ncias ind genas para que sejam efetivados os direitos garantidos na CF de 1988 tamb m para aqueles que residem nas cidades A partir dessa fala do Presidente da FUNAI percebem se avan os no di logo dos povos ind genas em seu reconhecimento nos espa os urbanos J uma fala do administrador regional da FUNAI do RS expressa num Semin rio intitulado Indios no meio urbano realizado nos dias 7 e 8 de agosto de 2001 em Santa Maria RS mostra que a pr pria FUNAI n o reconhecia a organiza o dos ind genas da cidade para a FUNAI ndios s o aqueles que est o dentro das reas Evidencia se ent o que a autarquia vem modificando sua vis o acerca da presen a ind gena na cidade Em S o Leopoldo em v rias reuni es de 2004 a 2007 onde os l deres Kaingang articulavam a garantia de um territ rio urbano muito se ouviu da FUNAI FUNASA e CEPI esta mesma fala de que para esses rg os n o havia possibilidade de reconhecimento aos ind genas na cidade sendo assim impratic vel os atendimentos espec ficos nas reas da sa de educa o habita o sustentabilidade Entendemos que a cidade um ser em movimento e que para al m da rua e dos pr dios h hist
70. bastante diferente um conceito introduzido por um historiador ingl s contempor neo chamado Edward Thompson que nos mostra que o modo de vida exatamente o modo como esse sujeito constr i e vive a sua vida Envolve portanto seus sentimentos valores cren as costumes e pr ticas sociais cotidianas 1999 p 22 23 A condi o de vida diz respeito as caracter sticas s cio demogr ficas tais como condi es de moradia n mero de pessoas que residem na casa renda da fam lia entre outros aspectos que interferem no cotidiano dos sujeitos O modelo de gest o da m o de obra Taylorista fordista divide espa o com o Toyotismo e outros modelos de processos produtivos que se assemelham a este novo prot tipo e que caracterizam a reestrutura o produtiva do capital ANTUNES 2007 Mesmo com melhorias nas rela es e condi es de trabalho e maior acumula o do capital n o se pode negar neste processo a contradi o inerente ao sistema capitalista As reivindica es por melhores sal rios e a consequente interven o do Estado para garantir o desenvolvimento n o deixam de representar a conflituosidade entre o capital e o trabalho Para Marx o ponto de partida de toda e qualquer a o humana gira em torno do trabalho e n o do valor IAMAMOTO 2008 p 60 No entanto a implanta o dos princ pios de Taylor gerou rea o negativa dos trabalhadores que passaram a reclamar do controle excessivo e do n o repa
71. compara o ao ECA que em seu Art 60 afirma que proibido qualquer trabalho a menores de quatorze anos A lei Cap V define que o trabalho poss vel casos de aprendizagem e sem que haja preju zos para o adolescente aprendiz Ap s os 16 anos os adolescentes podem trabalhar desde que a atividade n o ofere a risco sua sa de Uma categoria que deve ser aprofundada a inf ncia ou seja o que considerado inf ncia para as comunidades ind genas Para os povos ind genas O ciclo vital divide se em inf ncia e idade adulta A gente n o usa dizer que de menor isto a a gente est aprendendo com o branco porque assim que se diz na lei dos f g Pr n s n o tem De 12 13 anos pr cima uma ndia j est casada mas pros f g uma adolescente da n o pode Agua 2009 191 Ao afirmar que est o aprendendo com o branco demonstra que est o utilizando uma linguagem que n o lhes comum porque assim que se diz na lei do f g e afirma os Kaingang n o identificam o adolescente em seu grupo O ECA tem como norma a prote o integral da crian a e do adolescente no Brasil e uma das quest es que chamamos aten o de que o ECA tem como diretriz a absoluta igualdade de prote o e garantia de direitos e em seu Art 2 considera crian a o indiv duo que possui at doze anos de idade e adolescente um indiv duo at os 18 anos Em rela o as fases de crescimento social mo
72. de Dan a em Apresenta o Cultural em escola no munic pio de Sapiranga RS Foto Marinez Garlet 04 08 Acervo ISAEC DA PIDA Gauro DE DAN A KAINGANG EM APRESENTA O CULTURAL PARA CRIAN AS EM ESCOLA PARTICULAR w Foto 8 Apresenta o Cultural em Sapiranga Foto Marinez Garlet 24 4 09 Acervo ISAEC DA PIDA Apresenta o Cultural Grupo de Dan a em escola municipal Observa se a participa o de crian as meninos e meninas Kaingang da Aldeia Por Fi Foto 9 Munic pio de Campo Bom Foto Marinez Garlet 18 08 2007 Acervo ISAEC DA PIDA e pr a ee Foto 10 Meninos Kaingang em atividades de venda do artesanato na Av Feitoria S o Leopoldo Balaios colares casinhas de passarinho Foto Marinez Garlet 09 09 237 238 Foto 11 Meninos Kaingang em atividades de venda do artesanato na Av Feitoria S o Leopoldo Foto Marinez Garlet 09 09 resta sasadi Foto 12 Balaios Grandes tuias confeccionado com taquara tingida e taquara natural Foto Marinez Garlet 09 09 Banca de artesanato Kaingang em feira durante evento na cidade de S o Leopoldo Fate Gar to Marinez t Acervo ISAEC DA PIDA Reuni o com Prefeito Municipal sobre local adequado feiras pra as para venda do Artesanato Kaingang Percebe se a participa o de
73. de efetivar essa Lei que garante o direito diferenciado de acordo com suas culturas cren as valores Essa mobiliza o fez acontecer nos ltimos dez anos quatro confer ncias nacionais de sa de ind gena sendo a ltima em julho de 2005 em Goi s Na hierarquia da pol tica de atendimento sa de ind gena em 1999 foram criados os Distritos Sanit rios Especiais Ind genas DSEIs No Brasil s o 34 Distritos que t m a seguinte identifica o O Dsei uma unidade organizacional da Funasa e deve ser entendido como uma base territorial e populacional sob responsabilidade sanit ria claramente identificada enfeixando conjunto de a es de sa de necess rias aten o b sica articulado com a rede do Sistema Unico de Sa de SUS para refer ncia e contra refer ncia composto por equipe Ee http www funasa gov br internet competencias asp Acesso em 19 11 09 107 m nima necess ria para executar suas a es e com controle social por interm dio dos Conselhos Locais e Distrital de Sa de Assim como na pol tica de sa de preconizada no SUS o processo de implanta o deste sistema espec fico tem sido marcado por intensos debates Conforme Mioto e Nogueira mesmo ap s duas d cadas a proposta continua com seus radicais defensores e radicais opositores MIOTO NOGUEIRA 2006 p 16 Assim tamb m como na rea da educa o a pol tica nacional de aten o sa de dos povos ind genas vem sendo mar
74. de pesquisa em portugu s detalhando a s terra s ind gena s na s qual is pretende ingressar e cronograma HI curriculum vitae do s pesquisador es redigido em portugu s gt IV c pia autenticada da Carteira de Identidade ou Passaporte quando se tratar de nacionalidade estrangeira V atestado individual de vacina contra mol stia end mica na rea atestado m dico de n o portador de mol stia contagiosa VI quando se tratar de pesquisador es de nacionalidade estrangeira exigir sel para a efetiva o de seu ingr sso ia na terra ind gena a obten o de seu respectivo visto ka tempor rio como prev o artigo 22 do decreto n 86 715 REES de 10 de dezembro de 1981 al m do cumprimento do En disposto no decreto n 98 830 de 15 de janeiro de 1990 254 ROSES CEA RT l f f E ES errar Funda o Nacional do ndio MINIST RIO DA JUSTI A Ea Art 6 O Pesquisador dever enc aminhar diretamente ao Conselho lvimento Cient fico e Tecnol gico Nacional de Desenvo CNPq o Projeto de Pesquisa e curriculum vitae Art 7 A solicita o do ingresso em terra ind gena por parte de Art 9 Quando se tratar de Pesquisa em espa o territorial de ocupa o tradicional de ndios isolados o pedido ser ainda objeto de ex ame e parecer pr vio espec fico por parte do Departamento de ndios Isolados DIJ FUNAI j Art 10 A p
75. desenvolvido a pol tica de demarca o das Tis mas esse processo tem sido lento e penoso para os povos ind genas uma vez que que cada dia mais est ficando insuficiente para assegurar sobreviv ncia adequada e digna principalmente aos povos ind genas das regi es Sul Nordeste e Centro Oeste sem levar em considera o as mais de 600 terras que ainda precisam ser garantidas e regularizadas pelo Estado brasileiro BANIWA 2006 p 20 Das 611 terras ind genas oficialmente reconhecidas somente 455 est o com processos quase conclu dos conforme o quadro 5 abaixo mesmo assim muitas delas se encontram invadidas por posseiros garimpeiros fazendeiros colonos empresas de minera o 2 www funai gov br Acesso em 28 12 09 119 N de T I s o em revis o EM ESTUDO 123 a 0 DELIMITADA 33 1 66 1 751 576 DECLARADA 30 7 67 8 101 306 HOMOLOGADA 57 3 40 3 599 921 REGULARIZADA 398 87 27 92 219 200 TOTAL 611 100 105 672 003 Quadro 5 Situa o das terras ind genas resumo geral Fonte FUNAI www funai gov br Acesso em 28 12 2009 Portanto apesar de mais de cinco s culos de toda sorte de dificuldades para manterem e terem seus territ rios oficialmente reconhecidos e protegidos ainda faltam ser regularizadas cerca de 150 Tis no Brasil e muitas das j regularizadas sofrem algum tipo de problema Isto demonstra por um lado que os setore
76. deve ser catequizado de outro lado avista se o mau selvagem aquele ind gena que necessita ser exterminado RODRIGUES 2009 p 447 Ao falarmos ent o acerca dos ndios n o podemos perder de vista esta dimens o pois h possibilidades de muitas generaliza es e temos que ter cuidado com isto De acordo com Baniwa Com o surgimento do movimento ind gena organizado a partir da d cada de 1970 os povos ind genas do Brasil chegaram conclus o de que era importante manter aceitar e promover a denomina o gen rica de ndio ou ind gena como uma identidade que une articula visibiliza e fortalece todos os povos origin rios do atual territ rio brasileiro e principalmente para demarcar a fronteira tnica e identit ria entre eles enquanto habitantes nativos e origin rios dessas terras e aqueles com proced ncia de outros continentes como os europeus os africanos e os asi ticos A partir disso o sentido pejorativo de ndio foi sendo mudado para outro positivo de identidade multi tnica de todos os povos nativos do continente BANIWA 2006 p 30 Mesmo ent o designando os genericamente de ndios pelo menos n o podemos perder a dimens o real que a diferencia o entre eles Nem a proximidade geogr fica os torna semelhantes como por exemplo o caso dos povos Kaingang e Guarani no RS habitando muitas vezes na mesma rea ind gena mas com culturas completamente diferenciadas uma da outra onde sequ
77. dia o cansa o da semana transformam os desejos desse cidad o que mant m se no processo de exclus o onde na cidade a l gica segue a valoriza o do ter e n o a do ser Ao romper se a fronteira entre a subjetividade e objetividade reencontra se o homem perdido dentro de categorias generalistas morador popula o e se arrisca estabelecer conex es entre dom nios da vida que costumam ser estudados separadamente em seu movimento incessante de constru o SAWAIA 1995 p 20 z Neste contexto a identidade do morador trabalhador confrontada com diferentes situa es onde os indiv duos s o ao mesmo tempo pai m e vizinho vizinha trabalhador cidad o enfim um universo de gente que disputa acumula ama odeia sente preconceito e dificuldade de aceitar as diferen as sociais existentes Entendemos que h vida social no cotidiano de toda cidade e que junto a isto h a vida ntima com todos os ingredientes somados nela H temor dor alegria h desafios e inseguran as num espa o coletivo e ao mesmo tempo individual Ao se observar o cotidiano das cidades e das grandes metr poles com seus agitos encontram se empecilhos para aqueles que n o condizem com as exig ncias da figura humana pensada na arquitetura da cidade FERNANDES 2002 p 51 Sabemos que o trabalho fundamental para a exist ncia humana e que no momento atual ele se configura em m ltiplas modifica es e com profundas c
78. do Brasil Porto Alegre CORAG 6 edi o 1988 Estatuto da Crian a e do Adolescente Lei 8 069 de 13 de julho de 1990 Funda o Nacional de Sa de Aten o b sica e especializada aos povos ind genas regulamenta o dos incentivos Funda o Nacional de Sa de Bras lia Funasa 2007 40 p 216 Funda o Nacional de Sa de Diretrizes para a aten o sa de bucal os Distritos Sanit rios Especiais Ind genas manual t cnico Funda o Nacional de Sa de Bras lia Funasa 2007 68 p LEI N 8 080 de 20 de Setembro de 1990 Disp e sobre a Lei Org nica da Sa de Dispon vel em lt http Iwnww010 dataprev gov br sislex paginas 42 1990 8080 htm gt BREGALDA Damiana CHAGAS Miriam de F A diversidade no artesanato Kaingang um passaporte na cidade In Povos ind genas na Bacia Hidrogr fica do lago Gua ba et al Prefeitura de Porto Alegre 2008 198 p CAMPOS Gast o Wagner de Souza Reforma da Reforma repensando a sa de 2 ed S o Paulo Editora Hucitec 1997 CARDOSO Ruth org DURHSAM Eunice R et al A Aventura antropol gica Teoria e Pesquisa Rio de Janeiro Paz e Terra 1986 156 p CARMO Paulo S rgio do A ideologia do trabalho S o Paulo Moderna 1992 Cole o Pol mica 88 p CASTRO Silvio A carta de Pero Vaz de Caminha o descobrimento do Brasil 2 edi o Porto Alegre L amp PM Ed 1987 133 p CASTRO Eduardo Viveiros de No Brasil
79. dos Santos Luciano O ndio Brasileiro o que voc precisa saber sobre os povos ind genas no Brasil de hoje Bras lia Minist rio da Educa o Secretaria de Educa o Continuada Alfabetiza o e Diversidade LACED Museu Nacional 2006 232p BARDIN Laurence An lise de Conte do Lisboa Edi es 70 1979 BARROCO Maria Lucia Silva tica e Servi o Social fundamentos ontol gicos 7 Ed S o Paulo Cortez 2008 222 p tica fundamentos s cio hist ricos S o Paulo Cortez 2008 Biblioteca b sica de servi o social V 4 BARROS Aidil Jesus P de LEHFELD Neide A de Souza Projeto de Pesquisa propostas metodol gicas 8 ed Petr polis Vozes 1999 102 p BEAUD St phane WEBER Florence Guia para a pesquisa de campo produzir e analisar dados etnogr ficos Petr polis Rio de Janeiro Vozes 2007 235 p BECKER tala Irene Basile O ndio Kaingang no Rio Grande do Sul S o Leopoldo Antropologia n 29 Instituto Anchietano de Pesquisas Unisinos 1976 334 p BOSCHETTI Ivanete Seguridade Social e Trabalho paradoxos na constru o das pol ticas de previd ncia e assist ncia social no Brasil Bras lia UNB 2006 BRAND O Carlos Rodrigues Impor persuadir convidar dialogar a cultura do outro CNBB CIMI Carlos Rodrigues Brand o Incultura o e liberta o Semana de Estudos Teol gicos S o Paulo Paulinas 1986 pp 9 17 BRASIL Constitui o da Rep blica Federativa
80. dos fen menos que o comp em Assim entende se que n o basta somente o resgate da hist ria dos sujeitos mas sim buscar os significados existentes em seus movimentos e viv ncias enquanto coletivo e cultura diferenciada e sua inser o no espa o das cidades 47 Na intera o universal portanto os seres s o simultaneamente causa e fim uns dos outros determinando se reciprocamente E a natureza aparece como um todo sem que essa caracter stica seja transcendente causalidade O todo entretanto n o possui nenhum car ter misterioso que o situe como um al m de todos os seres LEFEBVRE 1991 p 207 A historicidade aponta nos que tudo est vinculado a tudo O desafio justamente trazer a vida do movimento para o trabalho de pesquisa O conhecimento a penetra o do processo de an lise parte significativa no todo a ser investigado junto aos sujeitos desta disserta o ind genas e gestores p blicos envolvidos com as pol ticas sociais de atendimento na comunidade Kaingang de S o Leopoldo Seguindo nesta l gica a entrevista semi estruturada permitiu a possibilidade de incluir novas perguntas durante o processo da coleta para o aprofundamento dos temas a serem pesquisados A t cnica realizou se sob forma de formul rio O formul rio definido como um instrumento muito utilizado para o levantamento de informa es e preenchido indiretamente ou seja pelo pr prio entrevistador
81. dos nomes Neste estudo n o abordaremos a especificidade desses mitos por considerarmos outro tema de enfoque Na sequ ncia da carta Pero Vaz passa a falar desta terra como as terras de Vossa Majestade e despede se do Rei ao final dizendo dessas terras de Vossa Majestade Ou seja a partir da j estava definido que a terra pertencia ao rei de Portugal ignorando os donos que visivelmente j estavam l pois ao aportarem logo avistaram homens que andavam pela praia O relato de que havia ali uns sete ou oito indiv duos e logo chegaram mais em quantidade De acordo com Caminha Eram pardos Todos nus sem coisa alguma que lhes cobrisse as suas vergonhas Traziam nas m os arcos e setas Vinham todos rijamente em dire o do batel lhes fez sinal que pousassem os arcos E eles assim fizeram CASTRO 1987 p 76 Alguns pesquisadores contempor neos que referem o tema TOMMASINO 1995 p 39 FREITAS 2005 p 446 LAROQUE 2006 p 20 CREPEAU ROSA entre outros 63 Na sequ ncia da carta registrou se que a tripula o ofereceu alimentos aos nativos p o e peixe cozido confeitos bolos mel e figos passados N o quiseram comer quase nada de tudo aquilo E se provavam alguma coisa logo a cuspiam com nojo Trouxeram lhes vinho numa ta a mas apenas haviam provado o sabor imediatamente demonstraram de n o gostar e n o mais quiseram CASTRO 1987 p 79 A carta escrita ainda descre
82. e Uni o a propriedade das terras Sem entrar no m rito desse tema fazemos esse registro que deve ser lamentado o de que mesmo ap s 510 de ocupa o de seus territ rios os povos ind genas ainda n o s o donos de fato de suas terras Tamb m n o vamos adentrar na discuss o se bom ou n o que eles tenham a propriedade que possam vender ou n o suas terras pois mesmo entre os que os defendem h as duas posi es O que queremos ressaltar que sempre houve e continua havendo um embate jur dico muito grande em torno do tema terras ind genas Quanto aos demais direitos n o h muitas vozes contr rias ou mesmo posi es divergentes Tem havido consenso que eles tenham direitos diferenciados sa de e educa o por exemplo Mas n o h consenso quando se fala no direito terra Em nosso entendimento TERRA deveria ser considerada a primeira pol tica p blica para os ind genas do Brasil tendo em vista que tudo depende dela ou seja toda e qualquer outra pol tica de atendimento depende do acesso dos povos ind genas a ela importante frisar bem este aspecto at como argumento contra os que falam que os ndios t m muita terra Como vimos de direito mesmo no Brasil nenhum ndio tem um palmo sequer de terras pois todas as terras ind genas pertencem Uni o isto est escrito no Art 22 de nossa CF Os povos ind genas vivem portanto sobre terras que n o s o suas de direito Claro que a Constitui o tamb
83. e Lia e aos sobrinhos Bruno Jo o Vitor e Luiza Voc s caminham comigo Uma palavra APOIO para minha cunhada Val ria e sobrinha Sofia Mesmo na dist ncia de nossas trilhas sei que ficamos bem perto Uma palavra SEMENTE para meu mano lIvori no cora o Tuas sementes de motiva o germinaram Esta disserta o fruto disso Sei que tu estavas aqui Mano De onde est s sei que continuas me vendo crescer brotar germinar Uma palavra HIST RIA para Mafalda por toda sua import ncia na minha vida e na vida de Ivori Tu s minha segunda MAE Sabes da import ncia que tens na minha vida e nos objetivos alcan ados at aqui Uma palavra CONHECIMENTO para todos meus professores do PPGSS por todo o incentivo e produ o de conhecimento deste estudo Aos queridos professores doutores Berenice Rojas Couto Carlos Nelson dos Reis Gleny Duro Guimar es Jane Prates Le nia C Bulla Jussara R Mendes Beatriz G Aguinsky Patr cia Grossi E a Idilia Fernandes estimuladora Agrade o o incentivo de todos e todas Uma palavra ESTALOS para minha orientadora Maria Isabel Barros Bellini que foi minha professora na Gradua o Belinha tu s uma profissional comprometida e teima para que tenhamos uma sociedade mais humana e com mais tica Amei trilhar e estalar conhecimentos contigo Minhas trilhas nunca mais ser o as mesmas depois dos estalos que fizemos juntas A coleta que resulta aqui fize
84. e o morrer da taquara fazendo a conta exata dividindo 510 anos por 30 anos de vida natural deste elemento tradicional para eles Muitas mortes aconteceram muitos conflitos e disputas houveram mas o povo Kaingang ainda uma das maiores etnias ind genas do Brasil T m se dados de que a popula o Kaingang de 28 mil indiv duos distribu dos em quatro estados 124 do Sul do Brasil S o Paulo Paran Santa Catarina e Rio Grande do Sul No RS segundo dados recentes da FUNAI h aproximadamente 70 aldeias Kaingang em 21 munic pios Nesta contagem n o inclu mos os acampamentos de beiras de estradas e nas cidades que s o em torno de 15 em todo o Estado Estes foram exclu dos porque n o poss vel afirmar exatamente este n mero uma vez que h aus ncia de mapas e dados atuais que indiquem onde est o e quantos s o Em rela o FUNAI e outros rg os vale ressaltar que recente sua aceita o em rela o aos grupos Kaingang que residem nas cidades E como afirmamos anteriormente os dados populacionais de ind genas que moram fora das Tis oficialmente demarcadas pela FUNAI n o est o contabilizados no censo da FUNASA de 2006 Um n mero n o conhecido por m significativo de indiv duos vive fora dos limites das Terras Ind genas ou nas periferias dos centros urbanos ou agregados a propriedades rurais pr ximas s suas terras de origem FERNANDES 2004 p 97 Apesar de enfrentarem transforma es
85. ela precisa ser trilhada muitas vezes necess rio ser incans vel e insistente para que nossas a es apontem novos caminhos e assim devemos trilhar muito refazendo as trilhas pisando muito e sempre 211 Caminhar muito pelas mesmas trilhas pelas mesmas estradas Este pisar muito refazendo nossos passos reafirma nossas convic es nossos sonhos revitaliza nossas reflex es e nossa pr xis no caminho para a constru o de novas pr ticas sociais pol ticas sociais necess rio persist ncia necess rio acreditar H muitas maneiras de trilhar caminhos podemos fazer sempre do mesmo jeito da mesma forma com os mesmos m todos e ambi es mas podemos mudar nossas atitudes nossos v cios nossos jeitos Podemos no novo caminho paviment lo com a es efetivas qualificadas com a es capazes de fazer a transforma o social Crian as Kaingang em meio urbano na sinaleira entre cestos e colares a diversidade cultural entre far is e parabrisas imp em a que se identifiquem trincas fissuras e rachaduras no asfalto onde elas pisam Que consequ ncias esta realidade ter para suas vidas Quem far reparos Quem enxergar atrav s do parabrisas a crian a que ali est L est o os meninos e meninas Kaingang da Aldeia Por Fi de S o Leopoldo com suas expectativas com suas experi ncias sinalizando um futuro que n o desejam em seu presente Os parabrisas nos apontam o que Que sinais nos d
86. entre territ rios de vida e territ rios vividos S o Paulo Cortez 2003 299 p LANDA Beatriz dos Santos NASCIMENTO Adir Casaro et al A cosmovis o e as representa es das crian as Kaiow e Guarani o antes e o depois da escolariza o 53 Congresso Internacional de Americanistas Dourados MS 2005 p 1 15 222 LANGDON E Jean A toler ncia e a pol tica de sa de do ndio no Brasil s o compat veis os saberes biom dicos e os saberes ind genas In GRUPIONI L D B et al orgs Povos Ind genas e Toler ncia S o Paulo Edusp 2001 pp 157 165 LARAIA Roque de Barros Cultura um conceito antropol gico 16 ed Rio de Janeiro Jorge Zahar Ed 2003 117 p LAROQUE Lu s Fernando da S Fronteiras geogr ficas tnicas e culturais envolvendo os Kaingang e suas lideran as no Sul do Brasil 1889 1930 Tese de doutorado UNISINOS S o Leopoldo 2006 432 p LAS CASAS Bartolom de O para so destru do Porto Alegre L amp PM Ed 1985 150 LEFEBVRE Henri L gica formal L gica dial tica Editora Civiliza o Brasileira Rio de Janeiro 1991 LUDKE M ANDR M Pesquisa em Educa o abordagens qualitativas S o Paulo EDIPUCRS 1986 98 p MAGALH ES Edvard Dias org Legisla o Indigenista Brasileira e Normas Correlatas 3 ed Minist rio da Justi a FUNAI CGDOC Bras lia 2005 686 p MAGNANI Jose Guilherme C As transforma es da cultura urbana nas grandes metr p
87. es o que os fortalece como grupo no contexto da cidade Freitas relata esta situa o na cidade de Porto Alegre crian as ind genas embalam se nas pra as cuidando dos irm os menores e fam lias ind genas faziam das ruas lugar de trabalho tecendo cestos e atualizando gestos e formas milenar FREITAS 2005 p 190 As fam lias fazem inova es com seus artesanatos um fator desencadeador disso a aus ncia de mat ria prima taquara cip sementes cada vez menos presentes no contexto urbano Mesmo assim o passado mant m se ativo e atualizado uma vez que continua sendo elemento de reprodu o cultural do que vivem no presente No centro urbano as fam lias buscam novas alternativas para o artesanato ao inserir em seus produtos pe as industrializadas como mi angas pe as em acr lico Recorrem a produtos industrializados adquiridos em atacados em Porto Alegre e regi o metropolitana e desta forma recriam seus valores para afirmarem sua identidade de ind gena no presente uma vez que a sociedade um processo cont nuo de estrutura o e desestrutura o MARTINS 2002 p 46 Quem n o conhece o passado e o presente dos Kaingang os rotula de camel s quando em feiras de comercializa o localizam em suas bancas produtos advindos da industrializa o como exemplo colares pulseiras em pedra marcassita pulseiras e chaveiros com s mbolos do Gr mio e do Inter entre outros O que queremos aqu
88. es dos participantes na pesquisa Na pesquisa bibliogr fica sobre as atividades produtivas desenvolvidas pelas crian as Kaingang localizamos breves contribui es em estudos antropol gicos CHAGAS 2006 2007 e alguns artigos BREGALDA CHAGAS 2008 MOTA 2000b H sim estudos sobre educa o cultura sa de religiosidade parentesco referentes aos Kaingang residentes em Porto Alegre e regi o metropolitana FREITAS 2005 ROSA 2005 Constatamos que no RS h car ncia de estudos 164 sobre a presen a da crian a Kaingang por m Silva e Nunes 2002 afirmam que v m crescendo o n mero de estudos acad micos sobre esta tem tica no sentido de trazer os modos pr prios das crian as bem como suas vis es de mundo expectativas experi ncias para a aten o das reas do conhecimento H avan o na produ o de teses disserta es sobre os Kaingang no RS e na ltima d cada pesquisadores da UFRGS v m pesquisando as tr s etnias que residem em Porto Alegre e regi o metropolitana mas especificamente sobre o tema crian a Kaingang em meio urbano em atividades produtivas inexistem estudos e publica es Apresentamos a seguir os resultados do que coletamos buscando socializar nosso artesanato que esta disserta o respeitando a complexidade que o tema apresenta Na an lise do material localizamos nos depoimentos dos ind genas sete categorias intermedi rias 1 p 51 da mesma forma n
89. especificidade cultural V Garantias a Garantia de requerer esclarecimentos a qualquer pergunta ou d vida a cerca do estudo b Da liberdade de retirar do consentimento a qualquer momento e deixar de participar do estudo sem que traga qualquer preju zo c Da seguran a de n o ser identificado e que se manter em car ter confidencial as informa es relacionadas privacidade d Da garantia dos preceitos ticos e legais ap s o termino do estudo e Do compromisso do acesso as informa es em todas as etapas do trabalho bem como dos resultados deste f De permitir anota es das falas com garantia de anonimato Eu fui informado dos objetivos da pesquisa acima de maneira clara e detalhada Recebi informa es a respeito do estudo e esclareci minhas d vidas sei que em qualquer momento poderei solicitar novas informa es e modificar minha decis o se assim desejar A Dr Maria Isabel Barros Bellini certificou me de que todos os dados desta pesquisa ser o confidenciais e terei liberdade de retirar meu consentimento de participa o a qualquer momento Fui informado a de que n o existem danos minha integridade f sica e emocional provocados pela pesquisa Caso ocorram novas perguntas sobre este estudo posso chamar Dra Maria Isabel Barros Bellini no telefone 51 3320 3546 ou o telefone do CEP PUCRS 51 33203345 ou ainda com o Comit de tica em Pesquisa pelo telefone 51 33203345 Dr Jos Roberto Goldim e contatando a
90. estadual nas imedia es da comunidade ind gena Esta passagem evidentemente n o se d de forma tranquila e com facilidades Ao contr rio sempre um processo de sofrimento para as crian as lembrando que a legisla o p tria 134 determina que o ensino fundamental seja todo bilingue o que no caso dessas crian as n o se d mais a partir da quarta s rie Nos anos de 2006 a 2008 atrav s de parceria entre l deres fam lias COMIN C ritas de Porto Alegre e uma Escola da Rede Sinodal de Sapiranga foi poss vel em tr s anos a realiza o de cursos para no es em inform tica destinado s crian as e jovens da aldeia O interesse partiu da pr pria comunidade que devido constante presen a de crian as em casas de jogos eletr nicos lan house fliperamas as fam lias perceberam que a aproxima o destas com computadores poderiam auxili las facilitando lhes o conhecimento da tecnologia contempor nea de forma a possibilitar maior rela o com a tecnologia do f g As crian as e jovens frequentaram de forma ass dua as aulas na escola Sinodal de Sapiranga onde o objetivo da proposta foi possibilitar no es de inform tica bem como oportunizar a socializa o entre os Kaingang e aquela comunidade escolar fotos no Ap ndice E No t rmino do curso sete crian as e onze jovens Kaingang receberam certificados de participa o Nas cidades o trabalho manual de produ o do artesanato a nica fonte e
91. genas aponta para esta realidade a realidade de que no Brasil pa s pluricultural existem cerca de 230 etnias ind genas Em fun o de todo esse debate que vimos trazendo nesta disserta o os segmentos sociais que atuam na rea dos direitos da crian a e do adolescente especialmente os conselhos de direitos conselhos tutelares rg os especializados do minist rio p blico entidades de apoio s crian as e adolescentes foram se convencendo da necessidade de modifica o de alguns itens do ECA no tocante aos direitos e pol ticas direcionadas aos povos ind genas O Conselho Nacional dos Direitos da Crian a e do Adolescente CONANDA v m acompanhando esta quest o e reunindo com lideran as ind genas com o objetivo de qualificar a aten o voltada crian a ind gena no Brasil Comprovou se a necessidade de constru o de pol ticas p blicas que atendam de modo mais espec fico as crian as ind genas demonstrando que precisa avan ar em alguns pontos e um desses pontos justamente a aus ncia de legisla o espec fica para a crian a ind gena Recentemente foi aprovada no Congresso a Lei 12 010 que altera em parte a Lei 8 069 Em seu Art 28 foram acrescentados alguns par grafos que s o os seguintes 6 Em se tratando de crian a ou adolescente ind gena ou proveniente de comunidade remanescente de quilombo ainda obrigat rio que sejam consideradas e respeitadas sua identidade social e cultural os
92. humano tem de olhar o mundo atrav s de sua pr pria cultura considerando a como a mais adequada e correta poss vel E o comportamento etnoc ntrico um dos aspectos do processo das rela es s cio culturais pelo qual se tende a transformar o que se identifica como normal luz do olhar de outra cultura olhar este que se mant m superior s outras culturas Tal comportamento refor a a discrimina o por n o aceitar as diferen as existentes entre os segmentos sociais Portanto n o poss vel comparar ou julgar uma cultura em detrimento da outra pois cada povo possui seus pr prios valores e convic es acerca de suas viv ncias e comportamentos Por ter tantos grupos tnicos diferenciados o Brasil um Estado plurinacional plurijurisdicional e multicultural o que significa que se re nem neste territ rio diferentes na es e culturas tema este que gera m ltiplas controv rsias e oposi es Tema complexo e hist rico pois remonta s origens do Estado Brasileiro Comparando se com a nossa taquareira percemos que o Brasil assim como ela um emaranhado de formas tamanhos cores mas todos firmemente fixos no ch o formando um conjunto apesar de diferenciados 3 2 DIVERSIDADE CULTURAL AS PROFUNDAS RA ZES DO BRASIL Seguimos agora pelas trilhas do tema da diversidade cultural cuidando para n o idealizar as sociedades ind genas pois elas n o s o puras ternas mansas ut picas paradis acas ou qualqu
93. iniciar observamos que em pleno S culo XXI mesmo morando todos juntos permanecendo em comunidade eles permanecem ilhados atravessados pela cultura da sociedade envolvente ou seja 122 pela cultura ocidental que em muitos aspectos se diferencia do cotidiano do grupo Ao utilizarmos a met fora da taquara cnamamos a aten o para essa diferen a destacando que para uma comunidade que vive em meio urbano em uma sociedade de consumo uma planta mant m um significado especial Deixamos claro que n o estamos em hip tese alguma comparando os Kaingang com a natureza mas sim mencionando as diferen as entre este povo e a natureza n o no sentido da preserva o Preservam se matas n o indiv duos Na sequ ncia das trilhas destacamos os aspectos da taquara e de sua import ncia para os Kaingang e dos profundos mist rios que ela assume para este povo dando vida alimento mat ria prima para o trabalho provocando emo es e concentrando profundos significados Este cap tulo objetiva apresentar as transforma es ocorridas no mundo do trabalho no decorrer do S culo XX e in cios deste S culo XXI verificando seus impactos para as comunidades ind genas especialmente o povo Kaingang residente no entorno da cidade Al m disso ser o tratados aspectos relacionados s atividades produtivas desenvolvidas pelas meninas e meninos Kaingang 5 1 OS KAINGANG E O ESFOR O PARA MANTER SUA CULTURA Na contemporaneidade
94. lias que miscigenadas e territorialmente espoliadas ao longo do tempo reencontram no presente contextos pol ticos e hist ricos favor veis retomada de suas identidades coletivas ind genas site ISA Esses eram considerados extintos submersos no caldo cultural brasileiro emergiram do anonimato para o conhecimento p blico ao sentirem se fortalecidos tanto pelo texto constitucional do Artigo 231 da Constitui o Federal que reconhece os costumes e tradi es como tamb m pelo texto da Conven o 169 da OIT que reconhece a autonomia desses grupos em se auto definirem se s o ind genas ou n o o auto reconhecimento Para exemplificar este dado vale aqui informar que o povo ind gena Charrua que habitava originalmente os pampas ga chos e uruguaios foi dado como extinto em meados do s culo XIX No ano de 2007 este povo foi oficialmente reincorporado nos sensos da FUNAI e das pol ticas p blicas com atendimento diferenciado na cidade de Porto Alegre Este fen meno social mais comum no Nordeste onde j s o dezenas de grupos emergentes que reivindicam reconhecimento como ind genas mas tamb m ressurge em outros lugares uma vez que os direitos ind genas tornam se mais reconhecidos e respeitados Por sua vez esse fen meno gerou outro que s o os ndios sem terras Alguns desses emergentes at mesmo perderam a mem ria da localiza o de suas terras tradicionais e agora a FUNAI est buscando formas alternat
95. mais ainda convencer a sociedade em geral que as pr ticas da esmola ou mesmo da compra de pequenos objetos ou quitutes alimenta a perman ncia de crian as nas ruas Marrom 2009 187 O que tamb m refor ado pelos ind genas l sinaleira ganham mais coisas doadas por isso eu acho que a pr pria popula o da cidade incentiva as crian as a irem l Terra 2009 a gente ganha alguma pecinha de roupa um cal adinho pros nossos filhos que n o precisa comprar ganha caderno que as pessoas doam pros nossos filhos pra estudar l pis mochila essas coisas nossos filhos ganharam tudo Terra 2009 As fam lias ind genas no processo de vulnerabilidade que v m sofrendo sistematicamente t m desenvolvido estrat gias de sobreviv ncia uma vez que inserem suas crian as nas diversas formas de sobreviv ncia urbana O ensino na prepara o do artesanato uma express o da cultura Kaingang mas a venda do produto uma a o provocada por uma sociedade que impossibilita a sobreviv ncia pelo sistema de troca e coleta O participante Kaingang reconhece as mudan as sofridas A gente vender com os filhos junto parte da cultura sim sempre foi assim mas o que n o vem fazendo parte isso a das sinaleiras isso a n o de nosso povo O filho sai vender com a m e da junto com a m e da sim da nossa cultura mas ficar na sinaleira isso n o Agua 2009 A mulher Kaingang em meio urbano enfren
96. mato que envolve as casas L fez consultas a todos os que fizeram fila em frente sua cabana Rosa argumenta que para os Kaingang o kuj um ser sobrenatural que tem poderes para lidar com os esp ritos ROSA 2004 p 205 Desta forma o que tamb m envolve o poder da kuj a necessidade da comunidade leopoldense na busca de tratamentos com ervas e ch s Este fato acentua a riqueza dessa diversidade cultural onde o cidad o da sociedade envolvente busca na cultura ind gena um resultado um suporte para suas dores seja do corpo ou da alma A diversidade no centro urbano mantida no cotidiano da Aldeia Por Fi onde a maioria das casas possui um local apropriado para o fogo de ch o lugar destinado ao preparo o mi p o assado nas cinzas alimento tradicional do povo Kaingang Em rela o escolha dos nomes para os filhos h o esfor o em manter a tradi o onde as crian as recebem nome Kaingang e nome em portugu s O nome Kaingang tem fundamental import ncia para a sua identidade sendo compreendido como um poderoso elo de liga o entre as florestas o mundo e as pessoas FREITAS 2005 p 211 Este povo mant m uma organiza o dualista que demarca seus princ pios e sistemas de vida sociocultural Explica se assim a exist ncia do dualismo entre as metades Kam e Kanhru Essas metades s o exog micas e patrilineares e cada A grafia das metades cl nicas escrita de diferentes maneiras A
97. mesmo o Bolsa Fam lia elas n o conseguem porque na lei do branco elas s o chamadas de menor de idade mas pr n s n o s o de menor Terra 2009 Sobre situa o semelhante refletimos sobre o que veiculou na imprensa em rela o s ind genas do povo Maxakali em Belo Horizonte onde o MPF sustentou que preciso levar em conta algumas peculiaridades acerca da cultura maxakali especialmente os relacionados idade em que se iniciam as atividades laborativas e em que se celebram os casamentos e por consequ ncia em que ocorre a primeira gesta o o que obriga a um tratamento diverso do empregado na sociedade envolvente site CIMI A Ju za que acatou os argumentos do MPF ainda argumentou que se no caso dos trabalhadores urbanos que trabalham antes de completar a idade m nima prevista na Constitui o Federal de 1988 a jurisprud ncia j se consolidou no sentido de que h possibilidade de contagem de referido tempo muito mais no caso do povo ind gena e determinou ao INSS que observe na concess o do benef cio do sal rio maternidade para as ndias maxacalis a idade m nima de 14 anos site CIMI A prote o social s crian as ind genas um tema amplo e complexo e da mesma forma a garantia de direitos aos adultos continua sendo um desafio para os povos ind genas e em rela o legisla o previdenci ria Para preservar a condi o de segurado especial o ndio assistido pela
98. mestranda pelos telefones 51 3591 9891 e 51 9682 7448 A aplica o dos instrumentos est sendo realizada pela Mestranda Marinez Garlet Declaro que recebi uma c pia do presente Termo de Consentimento Data 2009 Nome do entrevistado Assinatura do entrevistado Marinez Garlet Nome da pesquisadora Assinatura da pesquisadora Maria Isabel Barros Bellini Nome Orientadora Assinatura Orientadora 246 AP NDICE G CARTA DO COORDENADOR DO SERVI O PUCRS PAROU RAN f sf Pontif cia Universidade Cat lica do Rio Grande do Sul FACULDADE DE SERVI O SOCIAL NEST N cleo de Estudos e Pesquisa em Sa de e Trabalho S o Leopoldo RS 2008 CARTA DE AUTORIZA O DO COORDENADOR DO SERVI O Eu Conhe o o protocolo de pesquisa Entre cestos e colares viv ncias de crian as Kaingang num espa o urbano das pesquisadoras Maria Isabel Barros Bellini e Marinez Garlet da Faculdade de Servi o Social da PUCRS e aprovo a coleta de dados neste Setor ap s a aprova o do referido projeto pelos rg os competentes Comiss o Cient fica e Comit de tica em Pesquisa Nome completo Assinatura Munic pio Data 247 AP NDICE H CARTA DE AUTORIZA O DAS LIDERAN AS KAINGANG DA ALDEIA POR FI PARA INSER O DE FOTOGRAFIAS NESTA PESQUISA DATA 09 02 10 AUTORIZA O N s abaixo assinados lideran as e comunidade Kaingang da Aldeia Por Fi de S o Leopoldo RS AUTORIZAMOS que a assistent
99. na sua rela o de com rcio de artesanatos com vistas a contribuir para o aprimoramento da prote o social a esses sujeitos respeitando a sua cultura sem desconsiderar o contexto em que est o inseridos Como objetivos espec ficos est o 1 Analisar a concep o de trabalho e a sustentabilidade na sociedade Kaingang 2 Identificar que entraves existem na efetiva o dos direitos das crian as considerando a organiza o social ind gena 3 Analisar a rela o entre produ o e a comercializa o pelas crian as de produtos que possibilitam a sustentabilidade das fam lias na comunidade ind gena e 4 Analisar que valores est o associados ao mundo Kaingang e o mundo da sociedade abrangente tendo em vista a concep o do trabalho infantil Ser utilizada a abordagem da pesquisa qualitativa que privilegia o contato direto com Os sujeitos a serem pesquisados Vale ressaltar que a pesquisadora goza de larga experi ncia profissional com a comunidade ind gena objeto desta proposta de estudos Tendo em vista que na pesquisa qualitativa n o necess rio seguir rigidamente uma defini o exata dos sujeitos a serem investigados ser sugerida aqui uma previs o de sele o podendo sofrer altera es devido grande mobilidade do grupo Kaingang O trabalho de campo ter que definir a amostragem t o logo iniciarem os trabalhos de coleta de dados Os sujeitos desta pesquisa s o as fam lias Kaingang residentes na perif
100. no estudo deste tema precisamos seguir Esta disserta o de mestrado tem por objetivo efetivar sua contribui o mesmo que inicial acerca do tema Mesmo que de forma inicial a mudan a necess ria e h muito a ser feito e transformado deseja se que os resultados produzidos aqui possam servir tamb m aos Kaingang em dois aspectos O primeiro deles que pol ticas p blicas diferenciadas possam ser efetivadas a fim de minimizar os impactos culturais neste pa s multicultural que o nosso a fim de que sejam diminu dos os desgastes provocados pelo impacto hist rico e cultural que dizima grupos etnicamente diferenciados E o segundo que este estudo possa subsidiar aos n o ind genas sobre os aspectos relacionados cultura Kaingang a fim de adequarem se suas demandas aos direitos garantidos ao povo Kaingang O mestrado nos possibilitou crescimento e materializa o de conhecimento uma vez que entendemos que a pr tica profissional uma a o importante mas somente a riqueza da pr tica acumulada n o basta para o conhecimento profissional Deste modo a pesquisa contribuiu para reiterar que pol ticas p blicas existem para responder as demandas apresentadas pela popula o As institui es devem estar a servi o da popula o e n o o contr rio Martinelli afirma que n o h pr tica nova onde n o h ruptura 1999 p 15 e assim se queremos de fato conhecer os modos de vida dos Kaingang precisamos primeiro conhe
101. no lado externo da casa numa pequena brecha de sombra na soleira da casa onde o pai fazia esfor o para concentrar se em sua fala Enquanto o entrevist vamos continuava seu trabalho fazia um balaio com fibras da taquara Devido aos ru dos que o filho fazia precisou interromper sua fala algumas vezes Respirou olhou o filho silencioso Depois tentou continuar suas respostas A crian a continuava ali martelando O barulho provocado por ela n o incomodou o pai que continuou seu trabalho e sua fala Como as marteladas eram intensas num nico momento o pai falou com o filho Falou no idioma Kaingang Uma frase pequena curta uma nica vez e o menino sorriu para n s e saiu com seus pregos martelo e ripas de t bua para mais longe sombra das poucas rvores que existem na aldeia Outro momento de expectativa com o cacique foi frustrada O vizinho lindeiro da rea com o motosserra ligado serrava troncos de cinamomo muito pr ximo da casa do cacique Fazia muito barulho tanto que n o pod amos conversar sequer nos ouvir N o foi poss vel gravar a entrevista e ficamos ao redor do fog o a lenha tomando chimarr o e conversando outros assuntos da fam lia e da situa o pol tica da aldeia esperando o vizinho desligar sua m quina Como ele n o parava ele pacientemente esperava e continuava nos contando sobre as ltimas reuni es com CEPI FUNAI MPF COMIN Os assuntos eram diversos e contemplavam a realidade deles s
102. nossos filhos n o vivem nas ruas roubando nada Vento 2009 A lei do f g pro be A gente discutiu bastante sobre isso At agora estamos discutindo com todas as lideran as em n vel de Estado Ar 2009 Para os Kaingang est evidente que a lei do f g pro be e isto vem sendo discutido entre as lideran as Kaingang no Estado do RS Crian as Kaingang na madrugada mendigando denunciam o processo de vulnerabiliza o que essas comunidades est o vivenciando sem terra sem ro a sem mat ria prima para o artesanato A comunidade leopoldense aciona o CT e exige interven o conforme relata Cinza Ent o no caso temos aplicar a lei do branco do ECA que proteger aquela crian a Em dado momento j aconteceu de eu chamar o cacique na madrugada que eu fui acionada que tinha 5 crian as pedindo na Independ ncia Cinza 2009 A comunidade local aciona o Conselho e pergunta voc s n o v o tirar eles dali Cinza 2009 Sobre pedir nas sinaleiras a comunidade Kaingang reflete internamente na sua aldeia e tem consci ncia de que este fato n o ocorre somente na Aldeia Por Fi a gente ta sempre se organizando porque n o s aqui que est acontecendo isso a em muitos lugares no Estado e no Brasil todo tamb m Ar 2009 O participante Ar que residiu por algum tempo junto comunidade Kaingang no munic pio de Estrela ressalta que aquela comunidade vem enfrentando quest es semelhantes
103. o por um lado pressupostos e por outro resultados e cria es do processo de produ o capitalista s o por ele produzidos e reproduzidos MARX 1998 p 272 v 5 z Fica evidente que o processo de produ o capitalista um sistema de produ o de bens materiais que se desenvolve em rela es sociais contradit rias que o levam a crises peri dicas e a ciclos alternados de recess o econ mica uma vez que sempre h competi o e concorr ncia Toda esta an lise que fazemos do mundo do trabalho no sistema capitalista pode ser aplicada ao mundo dos Kaingang que vivem em meio urbano para entend los em suas a es e atividades de gera o de trabalho e renda Os Kaingang na cidade vivem em duas culturas e entrela am se com o mundo do trabalho com o com rcio com a dificuldade emergente da subsist ncia e compartilham com a sociedade envolvente no es e valores diferenciados Na mesma sociedade capitalista h de um lado essas comunidades ind genas e de outro a imposi o econ mica caracter stico do capitalismo o aproveitamento incompleto da capacidade de trabalho do proletariado o que Marx conceituou de ex rcito industrial de reserva Com a reestrutura o do capital esse ex rcito ganhou maior signific ncia e fez emergir os sobrantes sujeitos desqualificados que n o conseguem se inserir no mercado formal de trabalho pois n o h empregos dispon veis sem qualifica o CASTEL 2004
104. o trabalho integra o processo de socializa o das crian as e jovens ind genas FALEIROS FALEIROS 2007 p 65 Na aldeia sentam se pr ximos no ch o entre risos e brincadeiras estalam taquaras raspam na tingem e tramam cestarias de formas cores e tamanhos diversos Ali a crian a vivencia tudo o que acontece ao seu redor observa e observada e aprende com os mais velhos sobre o artesanato os costumes os h bitos Em rela o s tarefas do dia a dia a fam lia procura manter a organiza o social de forma a contemplar uma divis o interna das atividades que desempenham juntos Desta forma algumas tarefas s o masculinas buscar taquara cip lenha carregar para a aldeia restos de t buas encontradas pelas ruas do bairro As tarefas femininas s o os cuidados com a casa roupas alimentos aten o s crian as No momento de trabalhar com a mat ria prima coletada nas matas pr ximas a fam lia 172 toda se re ne e tamb m as crian as s o inseridas e fazem o que est de acordo com sua idade como referem os Kaingang Desde pequeninhos a gente t fazendo e eles sempre est o olhando a gente v o aprendendo junto Depois mais tarde l com 5 6 7 anos eles querem come ar e da a gente ensina eles Chuva 2009 N o tem idade certa a maioria das crian as come a com 7 8 anos Eles acham bonito o pai a m e a av fazendo e assim come am junto tamb m Ar 2009 A fam lia inteira trabalha com as
105. o um outro agregado que se traduz em segrega o discrimina o desrespeito desconsidera o Um profissional de sa de que atende um ind gena e desconhece ou desconsidera por exemplo causas culturais de diagn stico e terapia pr prias desse povo possivelmente vai errar no diagn stico e na terapia e causar mais dificuldades do que curas As pol ticas p blicas no Brasil seguem a es homogeneizadoras e o povo Kaingang enquanto protagonista de sua hist ria n o se conforma com o modelo que lhe apresentado ou imposto Os direitos sociais t m sido objeto de constantes disputas na sociedade para que possam ser efetivados COUTO 2004 98 Considerando se que a quest o social o objeto do Servi o Social o mesmo se d com um profissional da rea social que atende um ind gena A quest o social nas suas m ltiplas formas de express o assim como a realidade ind gena bastante ampla e complexa A quest o social indissoci vel da forma de organiza o da sociedade capitalista que promove o desenvolvimento das for as produtivas do trabalho social e na contrapartida expande e aprofunda as rela es de desigualdade a mis ria e pobreza IAMAMOTO 2002 p 26 Em rela o realidade ind gena especificamente ao partir de sua vis o homogeneizada da sociedade o agente social poder aparentemente ver um problema e uma solu o que n o refletem a verdadeira situa o e aspira o desses indiv duos
106. opressora de olharmos essas culturas pois assim quer se mant los no atraso longe das possibilidades tecnol gicas como se isto fosse um definidor de cultura Percebemos que a sociedade envolvente que continuar definindo um modelo de ser ndio 3 2 1 Nas profundas ra zes a import ncia do coletivo Na ocasi o da chegada dos portugueses a este territ rio os povos ind genas n o dominavam a escrita e mantinham a tradi o oral para garantir sua pr pria hist ria repassada de gera o em gera o A tradi o oral considerada uma forma t o eficaz quanto a escrita para produzir e transmitir conhecimentos Cunha refor a que a l ngua de um povo um sistema simb lico que organiza sua percep o do mundo CUNHA 1987 p 100 Na contemporaneidade h escolas ind genas na maioria das aldeias e reservas do Brasil mesmo assim eles continuam mantendo paralelamente sua tradi o oral Os ind genas n o conheciam a institui o escola antes da chegada dos europeus e do contato com a sociedade envolvente mas possu am formas pr prias de reprodu o de saberes desenvolvidas por meio da tradi o oral transmitidas em seus idiomas diferentes todas sem escrita alfab tica FREIRE 2004 p 11 A diversidade ent o existente dos grupos ind genas impressiona cerca de 3 000 povos nas tr s Am ricas e um n mero maior de l nguas faladas Somente 84 na Am rica do Sul Curt Nimuendaju Mapa Etnogr fico 1940
107. os Kaingang vivem como qualquer outro povo ind gena vive no Brasil com muitos desafios e problemas Um deles como j vimos no cap tulo anterior a falta ou precariedade das pol ticas p blicas que respeitem a especificidade cultural atinente a cada segmento sendo o principal deles a quest o da terra Imaginamos que em nossa cultura ocidental as pessoas desconhecem os mist rios contidos numa taquara Quando olhamos para uma planta assim o que vemos Que significado tem para n s Nenhum decorativa Os Kaingang reconhecem sua import ncia de diferentes formas e sentidos Para eles al m da import ncia do artesanato a taquara re ne mist rios e como exemplo citamos o estudo do antrop logo Rog rio Rosa 2005 em rela o ao que denominou de doen as invis veis que afligem os Kaingang da TI Votouro munic pio de Benjamim 123 Constant do Sul Para o autor doen as invis veis s o um tipo de enfermidade cujas causas principais s o o ataque do esp rito e o malfeito Os Kaingang costumam usar a no o doen a invis vel a uma s rie de acontecimentos sejam aquelas pertencentes s trocas xam nicas seja no relacionamento dos diferentes grupos dessa sociedade Desse modo aspectos que pertencem ao plano cosmol gico interferem no plano sociol gico e vice versa aspectos do mundo aqui interv m no mundo outro ROSA 2005 p 369 Um dos mist rios para o povo o ataque de esp ritos da taquara sobre os beb s
108. que as crian as sempre am junto com os adultos para a comercializa o do artesanato nas cidades Afirmam o sistema de troca de produtos entre os colonos vizinhos de suas terras ind genas Quando a gente morava longe da cidade tinha uns agricultores l da a gente fazia neg cio com eles l a gente trocava por roupas c mbio pela alimenta o porco galinha A gente fazia c mbio com eles n com o artesanato a gente fazia assim n Ar 2009 Para Freitas 2005 o campo das trocas na cidade inclui uma ampla rede de interlocutores Podemos entender o sistema de trocas dos Kaingang como um sistema de distribui o de bens e produtos que excediam em suas aldeias em troca de bens e produtos que lhes fazia falta Desta forma em contraposi o ao sistema capitalista excludente podemos entender o sistema dos Kaingang como um modelo mais humano que agrega a partilha e a troca Os Kaingang entrevistados afirmam que sempre sa am da TI onde moravam para realizar a venda de seus materiais e explicam como faziam Aquela poca era dif cil dif cil a passagem Faziam bastante artesanato e os mais pequenos sempre iam junto e os grandes j ficavam na aldeia por causa da passagem Chuva 2009 Aqui constatamos que a dificuldade de locomo o acompanhou a vida da ind gena que faz uma compara o do momento em que vive hoje na cidade de S o Leopoldo com o per odo de sua inf ncia na TI Nonoai Viver aqui na
109. regi o Para eles o ndio representa um ser sem civiliza o sem cultura incapaz selvagem pregui oso trai oeiro etc Para outros ainda o ndio um ser rom ntico protetor das florestas s mbolo da pureza quase um ser como o das lendas e dos romances BANIWA 2006 p 30 Concordamos que utilizar o termo ndio fazer uma repeti o da mesma falha cometida pelos portugueses e espanh is quando chegaram neste continente que pensavam ter chegado s ndias Mas tamb m n s como for a de express o usamos esta denomina o mesmo fazendo esfor os para denomin los de povos ou comunidades ind genas at porque a generaliza o impede de apreciar se a 82 incr vel diversidade dos povos ind genas e mesmo porque como j dissemos n o h duas sociedades ind genas iguais RAMOS 1988 p 11 J o termo selvagem possui duas express es o bom e o mau selvagem Rosseau no s culo XVIII foi o primeiro a usar a primeira express o Descrevia o ndio num est gio primitivo de ser humano por ser um ser d cil n o oferecendo perigo algum para a humanidade RODRIGUES 2009 O mau selvagem justamente o contr rio aquele que precisa ser exterminado Como se pode notar o bom e o mau selvagem s o imagens opostas e catalisam o imagin rio sobre os nativos De um lado tem se o bom selvagem aquela criatura d cil pura ing nua que n o oferece nenhuma periculosidade humanidade mas que
110. rem dio nem nosso nem do branco a gente n o sabe o que fazer No relato da Als pode se constatar que ainda h uma grande dist ncia entre as duas culturas ind gena e n o ind gena o que nos evidencia um processo ainda mecanicista que orienta a pol tica de sa de para a comunidade Kaingang ora exemplificada Seguindo nesta l gica impratic vel a efetiva o de aten o integral sa de ind gena sem considerar o saber tradicional dos povos ind genas Os ind genas reconhecem que sempre h uma dupla causa para as doen as causas m sticas e causas naturais onde as concep es da m stica explicam o porque das doen as e as naturais explicam o como E estas seguem mais nitidamente nossa pr pria tradi o ocidental racionalista Na l gica ind gena for as m sticas e naturais atuam sobre o indiv duo de forma integral Portanto a sele o de plantas ch s ervas medicinais assim como os rem dios dos brancos s o fundamentais no tratamento de doen as diversas Uma importante contribui o para a discuss o sobre pol tica p blica em sa de para os povos ind genas trazida por Jean Langdon 2001 Essa autora nos diz que importante que o treinamento dos profissionais que lidam com sa de ind gena dedique tempo suficiente para que eles compreendam profundamente o conceito antropol gico de relativismo e tamb m o conceito de cultura Devem estar familiarizados com a natureza do siste
111. reservas ind genas s o fortes e existe uma rela o de reciprocidade pois h uma esp cie de rotatividade das festas entre as diferentes aldeias inclusive elas se organizam entre si marcando datas alternadas entre uma e outra para que todos possam aproveitar as festas no m s de abril Se um parente participa em S o Leopoldo o parente sente se automaticamente convidado para os dias de festa no Morro do Osso ou Lomba do Pinheiro ambas aldeias na cidade de Porto Alegre A rela o de parentesco entre estas aldeias mantida e existe total respeito em rela o s normas de hierarquia e poder dos caciques Sempre que um parente vem para as festas nas aldeias da cidade recebido como um convidado especial recebendo muita aten o durante todo o per odo da visita que pode ser de uma semana ou mais Em momentos festivos as lideran as convidam entidades de apoio ONGs rg os p blicos e gestores aos quais em momento oficial dado a palavra para pronunciamentos ao p blico Nesses momentos evidencia se a articula o pol tica dos Kaingang onde as demandas das aldeias s o apresentadas como reflete um Kaingang O Dia do ndio s serve para lembrar as dificuldades que temos Lembramos neste dia que temos que continuar nossa luta este dia serve pr gente discutir em conjunto o que temos que fazer pensar juntos nas 131 pol ticas que precisamos e de que forma vamos enfrentar isto aqui na cidade JV 41 anos l d
112. rias dificuldades exclus o conflitos diversos onde para a grande maioria a luta pela sobreviv ncia a maior dificuldade enfrentada Podemos compreender que o morador urbano gosta da cidade porque ela tem tudo e bonita apesar de n o usufruir de tudo o que ela oferece SAWAIA 1995 Assim pode se dizer que a cidade uma grande vitrine e os indiv duos que nela moram satisfazem se com a possibilidade de andar trabalhar passear circular por ruas lojas pra as e diferentes espa os p blicos A cidade procura ser um todo organizado onde tudo deveria funcionar para atender as diferentes necessidades dos seus habitantes Significa reconhecer que a cidade n o t o humana s porque uma constru o do homem ou porque engendra subjetividade mas porque os processos vitais de ambos se entrela am espa o e homem compartilham a mesma materialidade e a mesma subjetividade SAWAIA 1995 p 20 139 A cidade n o s um conjunto de ruas edif cios e pra as um s mbolo complexo que exprime a tens o entre a racionalidade geom trica e o emaranhado de exist ncia humana SAWAIA 1995 e assim exerce atra o fascina o despertando expectativas al m de aproximar o cidad o dos recursos e servi os existentes nela Pequenos propriet rios de terra colonos e fam lias ind genas acabam por vezes saindo de suas propriedades em busca de garantias e melhor qualidade de vida nos centros urbanos Para os ind gen
113. sendo desprezadas sendo lhes impostos outros servi os ou a es que elas de fato nem quiseram ou necessitavam No entanto consideramos que a assist ncia social como pol tica social p blica n o pode ser entendida como solu o para a elimina o da desigualdade social Nenhuma pol tica capaz de tal feito Portanto a assist ncia social n o provoca sozinha uma mudan a estrutural Segundo Sposati 1992 um equ voco tamb m pensar que a assist ncia acontece em situa es imediatas que sua atua o deve prover bens e servi os e que tais bens e servi os devem ser realizados objetivando transformar a situa o de pobreza dos indiv duos Para a autora a assist ncia deve potencializar A promo o do homem e integra o das diferentes faixas da popula o no processo de desenvolvimento por meio de a es t cnicas racionalmente planejadas Nesta perspectiva os elementos estruturais da pobreza s o reconhecidos enquanto causa o circular e cumulativa o que exige estrat gias de trabalho global que ataquem a marginaliza o social SPOSATI 1992 p 57 Devemos sobretudo analisar a assist ncia social dentro desses limites estabelecidos pelas condi es estruturais que subscrevem as pol ticas sociais nos marcos da sociedade capitalista Significa perceber que colocar a assist ncia social como direito foi um ganho pol tico extremamente importante e necess rio tendo em vista que vivemos num
114. ser completo em suas atribui es um ser ativo na constru o das rela es em que se engaja sendo parte integrante da sociedade participante e construtora de cultura LANDA NASCIMENTO 2005 p 08 Na contemporaneidade quando olhamos o mundo de hoje o que vemos Vemos milhares de desempregados sem perspectiva de vida de trabalho de bem estar f sico e mental Vemos crian as sem escola vemos dezenas de crian as sem lugar para dormir Podemos dizer que s o crian as do mundo S o crian as que sofrem com o abandono com a fome com a doen a e o descaso Mesmo num mundo onde h superabund ncia de alimentos de produ o de alimentos h aproximadamente um bilh o de crian as e adultos que passam fome por pertencerem a uma sociedade onde o pobre n o tem vez nem lugar N o esta a realidade que vemos nas crian as da Aldeia Por Fi mesmo que elas estejam muitas vezes perambulando pelo centro da cidade olhando as vitrines pedindo um troquinho vendendo artesanato nas sinaleiras Elas n o s o crian as do mundo est o em suas fam lias em seu grupo protegidas e amparadas por elas e pela cultura Kaingang 5 3 1 Atividades produtivas e a comunidade Kaingang Em S o Leopoldo e Novo Hamburgo constante a presen a de meninos e meninas ind genas nas ruas entremeio aos carros com o artesanato nas m os A abordagem aos f g o meio que encontram para realizar a venda de seus materiais confeccionados na A
115. seus costumes e tradi es bem como suas institui es desde que n o sejam incompat veis com os direitos fundamentais reconhecidos por esta Lei e pela Constitui o Federal Il que a coloca o familiar ocorra prioritariamente no seio de sua comunidade ou junto a membros da mesma etnia A leitura dessa modifica o deve ser lida a partir de tudo o que vimos dizendo ou seja a partir da diversidade cultural ind gena e a partir do fato de que a Constitui o Federal em seu Art 231 reconhece e determina o respeito aos direitos ind genas ou seja aos seus usos costumes e tradi es Lei 12 010 03 08 09 Site da Presid ncia da Rep blica http www planalto gov br ccivil 03 Ato2007 2010 2009 Lei L12010 htm Acesso em 12 03 10 204 Ora a partir disto por um lado n o podemos negar que houve avan os com essa altera o legal na medida em que comunidades negras e ind genas passam a ser inclu das em textos legais de garantia de direitos Mesmo assim por outro lado percebemos que permanece uma tens o entre os direitos ind genas e o direito do Estado e mesmo se acentua essa tens o Nesta altera o da Lei do ECA o Estado se contradiz fundamentalmente ao dizer que na garantia dos direitos das crian as e adolescentes ind genas sejam consideradas e respeitadas sua identidade social e cultural os seus costumes e tradi es bem como suas institui es mas desde que n o sejam incompat veis com os di
116. sua consci ncia mudam de acordo com qualquer modifica o registrada nas suas condi es de vida nas suas rela es sociais na sua exist ncia social MARX 1979 p 12 Nesta situa o Marx sugere a significativa observa o das condi es de vida e do modo de vida dos sujeitos Somente assim poss vel compreender a realidade dos mesmos Na an lise de Marx a especificidade do modo de produ o capitalista tem por objetivo central a permanente maximiza o da acumula o do capital Para tanto tal sistema utiliza se da explora o onde o capitalista age sobre o trabalhador atrav s da produ o de suas mercadorias Mais uma vez afirmamos a import ncia de se considerar a localiza o do sujeito em sua cultura verificando os diferentes aspectos de suas viv ncias no coletivo cultural Desse modo podemos nos surpreender se formos despojados de pr an lises ao encontro dessas comunidades que continuam teimosamente vivendo ao seu modo em meio a um t o complexo e selvagem sistema de explora o humana Eis a a grande riqueza dos Kaingang Sem um conhecimento adequado desses aspectos culturais dos Kaingang as interfer ncias repetir o os mesmos erros e v cios produzindo sempre mais danos que benef cios Ignor ncias e ingenuidades t m historicamente produzido clientelismo depend ncia e destrui o das sociedades ind genas e os problemas sociais n o poder o ser resolvidos se n o forem desvendados
117. suas crian as O tema resultado de d vidas e incertezas minhas mas que tamb m s o dos gestores de diferentes institui es p blicas Na rela o de contato e proximidade com a comunidade Kaingang in meras vezes fui solicitada a fazer media es junto aos rg os p blicos FUNAI MPF CTs Secretarias Municipais e com a comunidade Kaingang especialmente quanto complexa presen a das crian as no meio urbano em suas atividades de comercializa o de seus artesanatos Na trajet ria profissional observei que as raz es que levam as crian as Kaingang aos sem foros e portas do com rcio s o vistas e entendidas de diferentes formas por todos esses atores e pela sociedade envolvente o que reitera a complexidade dessa quest o Em v rios momentos em reuni es dentro e fora da aldeia com os ind genas e com os gestores p blicos de S o Leopoldo e Novo Hamburgo a presen a das crian as ind genas nas sinaleiras foi assunto pol mico Como compreender e analisar esta realidade que vis vel diariamente em muitas cidades A escolha do tema nasceu da necessidade de compreender o fen meno da presen a de crian as Kaingang nas rela es de venda de seu artesanato na cidade especialmente nas sinaleiras Este fen meno vinha chamando aten o de CTs MPF Secretarias Municipais de Assist ncia Social CEPI FUNASA ONGs e da pr pria FUNAI Como entender este fen meno social contempor neo Como garantir a prote o dess
118. taquaras e os cip e as crian as come am junto a partir dos 6 7 anos assim a organiza o dos Kaingang Fogo 2009 H envolvimento dos membros da comunidade e da fam lia ind gena no processo de aprendizagem da crian a uma vez que no ensinar h satisfa o muito bom as crian as saberem as coisas Assim v o fazendo meio por conta e a gente ta sempre em cima olhando sempre Ar 2009 Eles aprendem junto com n s j desde pequenos Meu baixinho ali aprendeu j com 6 anos aprendeu fazer os arquinhos carrinho de m o as casinhas de passarinho Terra 2009 O fato de as crian as interagirem ativa e cotidianamente nas a es da fam lia as fortalece de forma a se integrarem com toda a comunidade Entre as casas nos pequenos espa os entre uma casa e outra as crian as andam descal as n o se importando se inverno ou ver o Brincam com outras crian as organizam brincadeiras com galhos tocos lascas de taquara cip s e outros materiais soltos no ch o Quando sentem necessidade de colo se aproximam de um adulto pai m e tia av S o acarinhadas e quando satisfeitas retornam ao grupo para continuar brincando H crian as Kaingang que aos 3 4 anos continuam mamando no peito Este ato acolhedor e carinhoso onde a crian a se achega na sua m e sempre que sente vontade ou necessidade de estar pr ximo Ela sabe que a m e est ali basta chegar atrav s deste coletivo de suas viv nci
119. ticas p blicas faz com que a sociedade civil se envolva em processos de formula o e execu o de pol ticas que contemplem os direitos ind genas dif cil descrever as importantes a es desenvolvidas pelas ONGs na garantia de pol ticas p blicas diferenciadas para os povos ind genas no Brasil mas entendemos que as atividades das ONGs n o podem confundir se com a responsabilidade dos tr s entes federados estado munic pio e governo federal Devido inoper ncia do Estado algumas ONGs est o assumindo fun es que dizem respeito ao Estado no entanto isto tem suscitado criticas s ONGs quando s o cobradas a executar a es que n o lhes cabe atender Por ironia as cobran as indevidas atribu das s ONGs v m dos pr prios ind genas e dos rg os p blicos Entendemos que este assunto deva ser debatido para que o estado assuma ele pr prio sua responsabilidade bem como a execu o das pol ticas p blicas voltadas s comunidades ind genas Para que pol ticas p blicas diferenciadas aconte am o participante Marrom gestor p blico municipal alega que chegam a ser verdadeiros obst culos e define da seguinte forma as dificuldades enfrentas em seu munic pio Inexist ncia ou desconhecimento de metodologia ou metodologias para o trabalho com povos ind genas Marrom 2009 Desconhecimento da legisla o para povos ind genas por parte de governos e da sociedade em geral Marrom 2009 A falta de di logo en
120. todo mundo ndio exceto quem n o ISA Instituto Socioambiental 2006 16 p http pib socioambiental org files file PIB institucional No Brasil todo mundo C3 Y A9 Y C3 ADndio pdf Acesso em 02 03 10 CAVALCANTI Marilda do C MAHER Terezinha de J M O ndio a leitura e a escrita Unicamp Cefiel 2005 CASTEL Robert As armadilhas da exclus o In BELFIORE WANDERLEY Mari ngela BOGUS Lucia YASBEK Maria Carmelita orgs Desigualdade e quest o social S o Paulo EDUC 2004 CHAGAS Miriam de F tima An lise Antropol gica In Inqu rito Civil n 423 2007 Minist rio P blico Federal Procuradoria da Rep blica no Munic pio de Novo Hamburgo Novo Hamburgo RS 2006 217 CHAUI Marilena Conformismo e Resist ncia aspectos da cultura popular no Brasil Ed Brasiliense S o Paulo 1986 CLASTRES Pierre A Sociedade contra o Estado pesquisas de antropologia pol tica 52 ed Rio de Janeiro Francisco Alves 1990 152 p COLE O 500 Anos Vis o dos vencidos S o Paulo Ed Paulinas n 1 e n 3 COLET NEA de Leis Revista e Ampliada CRESS 10 regi o Porto Alegre RS 2005 277 p CONVEN O 169 da Organiza o Internacional do Trabalho sobre Povos Ind genas e Tribais OIT septuag sima sexta sess o Genebra CHE 1989 CONVEN O sobre os direitos da crian a Save the Children on Brasil Rio de Janeiro 2002 59 p COSTA C ntia Cruz GARLET Marinez O acesso de c
121. um dos dias em que realizamos a coleta mais um fato marcou aquela atividade o qual tem diretamente a ver com esta pesquisa Ao sair da aldeia vimos de longe quatro meninos com idades entre 5 e 10 anos que estavam saindo da aldeia no final da tarde com balaios nas costas casinhas de passarinhos numa das m os e colares na outra Dirigiam se para a sinaleira para vender o artesanato na Avenida Feitoria localizada pr ximo da comunidade Ao nos ver saindo gritaram pedindo carona e no trajeto fomos conversando Um menino contou que ganham muitas coisas quando pedem de casa em casa massa arroz sab o leite e para carregar os alimentos que ganham sempre levam junto uma mochila vazia Sinaliza que a venda do artesanato n o t o pr spera assim e que acabam por pedir uma moedinha aos motoristas que trafegam nas sinaleiras Situa es como estas fazem parte da vida na aldeia onde o cotidiano se apresenta de formas diversificadas a cada momento Para eles que j sofreram toda sorte de dificuldades nesses j cinco s culos de ocupa o de seus territ rios pelos europeus a luta pela sobreviv ncia marca di ria Os Kaingang constituem uma grande diversidade cultural configurando costumes cren as l nguas distintas da dita sociedade nacional e assim ao seu modo diferenciado inserem se de distintas maneiras na sociedade contempor nea margeada pelo preconceito 57 Ressaltamos que a coleta na aldeia nos aproximo
122. utilizado tamb m chamado de sem foro sinal sinaleiro dependendo da regi o do Brasil Tamb m porque muitas vezes senti me acuada no cuidado com o julgamento a priori pois por n o utilizar a terminologia trabalho infantil fui instigada por colegas de que estava mascarando a realidade em rela o ao objetivo desta pesquisa O que apresento nesta produ o o poss vel neste momento n o final n o conclusivo mas sem d vida o meu artesanato 24 1 INTRODU O Neste estudo por n s intitulado Entre cestos e colares far is e parabrisas crian as Kaingang em meio urbano a inten o refletir sobre trilhas que nortear o essa investiga o investigar a rela o cultural e a produ o do artesanato comercializado em meio urbano com o foco na rela o das atividades produtivas das meninas e dos meninos ind genas residentes na Aldeia Por Fit no munic pio de S o Leopoldo RS O tema ndios na cidade ou ndios urbanos vem se consolidando pela antropologia desde a d cada de 1990 TOMMASINO 1995 2000 MOTA 2000 2000b FREITAS 2005 e n o queremos aqui refor ar que por identific los como ndios urbanos eles estejam fora de lugar A cidade os espa os urbanos tamb m s o espa os apropriados para essas crian as pois entendemos que nestas rela es os Kaingang mant m se num constante processo de re territorializa o Nossa preocupa o em contemplarmos aspectos da cultura Ka
123. v n e de cip s mr r ex cip marrom S o Jo o guaimb etc s o utilizados pelos Kaingang no centro urbano Alguns tamb m compram contas mi angas sementes e penas nos atacados da cidade FREITAS 2005 Realizam tran ados diversos com os cip s raspados e pintados ou em estado e cor naturais Com a habilidade que possuem v o transformando o rolo de cip coletado em cestos balainhos bolas decorativas peixinhos bicicletas tochas para enfeites de jardim e para decora o em festas diversas Com as taquaras em cor natural tran am v rios modelos e quando querem decorar com cores tingem com anilina as fibras cruas trazendo cores vivas para os tran ados que v o fazendo Tamb m as tampas s o decoradas dependendo da finalidade que d o aos cestos tuias ou balaios A prepara o da taquara leva alguns dias para ficar adequada ao momento de montagem necess rio deixar murchar para que fique mais macia ou male vel Sentam se no ch o sobre um pano entendido e ali iniciam o processo de prepara o inicializando com a raspagem depois lascam partindo com o fac o ou faca em uma das pontas abrem os n s que unem os elos nas diferentes hastes Este momento chamado de estalar Estalam a quantidade necess ria e v o empilhando Depois fazem o tingimento na cor desejada utilizando se de uma panela para este fim colocada com gua e anilina em cor escolhida sobre o fogo de ch o Ali fervem as fibras depois as ret
124. 004 423 p Os Kuj s o diferentes um estudo etnol gico do complexo xam nico dos Kaingang da Terra Ind gena Votouro Tese de Doutorado IFCH UFRGS Porto Alegre RS 2005 416 p RIBEIRO Darcy A funda o do Brasil Petr polis Ed Vozes 1992 447 p Os ndios e a civiliza o Petr polis Ed Vozes 1982 509 p et al Suma Etnol gica brasileira Petr polis Ed Vozes e FINEP 1987 Volle Il 226 RIBEIRO Berta O ndio na hist ria do Brasil 5 ed S o Paulo Global Ed 1988 125 p RIZZINI Irene O s culo perdido Ra zes hist ricas das pol ticas p blicas para a inf ncia no Brasil 2 ed rev S o Paulo Cortez 2008 200 p PILOTTI Francisco orgs A Arte de governar crian as hist ria das pol ticas sociais da legisla o e da assist ncia no Brasil 2 Ed rev S o Paulo Cortez 2009 335 p SADER Emir Estado e pol tica em Marx para uma cr tica da filosofia pol tica S o Paulo Cortez 1993 148 p SANDRONI Paulo Dicion rio de Economia In REIS Carlos Nelson dos org O sopro do minuano transforma es societ rias e pol ticas sociais um debate acad mico Porto Alegre EDIPUCRS 2007 355p SANTILLI M rcio Os brasileiros e os ndios Editora SENAC S o Paulo S o Paulo 2000 Serie Ponto Futuro 1 156 p SAWAIA Bader B O calor do lugar segrega o urbana e identidade In Revista S o Paulo em perspectiva Funda o SEADE Vol 9 n 2 abr jun
125. 116 no trevo de acesso a S o Leopoldo para o Bairro Feitoria Seller onde se encontram atualmente Para eles o nome da nova aldeia tem o seguinte significado Por o nome do p ssaro e Fi considerado a f mea deste p ssaro Desta forma Por Fi tem o significado de um p ssaro feminino segundo eles que faz barulho anunciando quando algu m se aproxima da comunidade 36 cuidam da natureza no seu tempo de amadurecimento tamb m tivemos o nosso tempo observando nosso amadurecimento acad mico Na Aldeia Por Fi residem aproximadamente 120 pessoas contemplando cerca de 35 fam lias N o h possibilidade de apresentar esses dados com exatid o devido grande mobilidade do grupo Kaingang Estes t m como caracter stica uma grande mobilidade e vez que outra saem da aldeia para visitas aos parentes no interior do estado e ou outros acampamentos ind genas onde possuem la os de parentesco Nestas visitas permanecem fora da aldeia por 6 meses ou mais 2 4 CARACTERIZA O DO TIPO DE PESQUISA O horizonte que nos impulsionava foi a constante indaga o como garantir a prote o social e o direito diversidade cultural garantidas na lei para as crian as ind genas que realizam atividades produtivas nos centros urbanos Ambivalentes em como tratar essa situa o como pessoa profissional e pesquisadora f g e portanto orientadas pela legisla o dos f g tem amos repetir a viol ncia dos europeus que tamb
126. 5 IDENTIFICANDO OS PROTAGONISTAS Os elementos principais coletados em campo para esta pesquisa foram realizados com as fam lias ind genas na Aldeia Por Fi no munic pio de S o Leopoldo Tratam se de fam lias do povo Kaingang sendo a maioria com proced ncia da TI Nonoai do munic pio de Nonoai noroeste do Estado RS Especialmente para este estudo nossa aproxima o com o universo Kaingang deu se atrav s de entrevistas com l deres Kaingang cacique professores agente ind gena de sa de kof pais e m es de crian as ind genas Tamb m realizamos entrevistas com os seguintes gestores p blicos Procurador da Rep blica Minist rio P blico Federal Secretaria de Assist ncia Cidadania e Inclus o Social de S o Leopoldo Dire o de Prote o Social B sica e Conselheira Tutelar no munic pio de S o Leopoldo Para que sejam preservadas as identidades dos sujeitos entrevistados selecionamos cognomes vinculados Natureza por acreditarmos na sincronia dos indiv duos com o Universo pois mesmo na periferia das cidades os Kaingang mant m profundo respeito com o meio ambiente e a natureza que os envolve Para os Kaingang os velhos s o chamados de kof S o os detentores do saber da hist ria e da cultura do povo Para eles velho n o tem apelo pejorativo ou preconceituoso ao contr rio os velhos s o respeitados e valorizados por suas viv ncias e experi ncias de vida Afirmam que os
127. 6 8 Sujeitos na Pesquisa N de Sujeitos no Centro Total Praal N de Sujeitos Total Grupos Especiais 19 19 Medi t Placebo IV Aos iad Wash out Sem Tratamento Especifico NAO N O N O N O Pesquisador Respons vel Pesquisador Respons vel CPF Identidade Maria Isabel Barros Bellini 339 184 900 25 10 096 931 34 rea de Especializa o Maior Titula o Nacionalidade SERVI O SOCIAL DOUTORADO BRASILEIRA Endere o Bairro Cidade R LUCAS OLIVEIRA 909 202 BELA VISTA PORTO ALEGRE RS Telefone Fax Email 51 3320 3500 99794964 maria belliniQpucrs br Termo de Compromisso Declaro que conhe o e cumprirei os requisitos da Res CNS 196 96 e suas ed am Comprometo me a utilizar os materiais e dados U seja coletados exclusivamente para os fins previstos no protocolo e publicar os im oa avant is ou k a Aceito as responsabilidades pela condu o cient fica do projeto acima spa jr Assinatura Data I d Institui o Onde Ser Realizado Nome CNPJ Nacional Internacional Pontificia Universidade Cat lica do Rio Grande do Sul PUCRS 88 630 413 0002 81 Nacional Unidade rg o Participa o Estrangeira Projeto Multic ntrico Faculdade de Servi o Social N O N O Endere o Bairro Cidade Avenida Ipiranga 6681 Partenon Porto Alegre RS C digo Postal Telefone Fax Email 90619900 51 3320 3500 51 3339 1564 gabreitQpucrs br Termo de Compromisso Declaro que conhe o e cumprirei os requisitos da Res CNS 196 96 e suas co
128. 90 decidiram fixar se de forma permanente 8 Dados do IBGE 2007 divulgam que a popula o de S o Leopoldo de 207 721 indiv duos ao passo que a popula o do Munic pio de Nonoai de 12 327 indiv duos http www ibge gov br home estatistica populacao contagem2007 defaulttab shtm Acesso em 07 12 09 133 casas s o pequenas prec rias algumas recobertas de lona preta pl sticos retalhos de t buas outras feitas de lascas de costaneiras e sobras de constru o que v o recolhendo nas ruas da cidade As casas s o constru das por eles Abaixo duas fotos que refletem a realidade contempor nea da aldeia Fotos 11 e 12 Habita es da Aldeia Por Fi Fonte Fotos de Marinez Garlet 09 02 2010 Acervo Comunidade ind gena Os integrantes da aldeia falam a l ngua ind gena inclusive as crian as que aos 5 6 anos sentem dificuldade de dialogar na l ngua portuguesa com os f g que diariamente chegam na comunidade As conversas entre eles s o sempre na l ngua materna A popula o inserida neste espa o urbano bil ngue pois s o falantes de l nguas distintas o Kaingang e o portugu s As crian as aprendem o portugu s somente no di logo direto com os f g na escola e atrav s da televis o e r dio que assistem e ouvem na aldeia At a 4 s rie do Ensino Fundamental as crian as estudam dentro da Aldeia ap s s o matriculadas na rede de ensino regular no caso de S o Leopoldo uma escola
129. Alegre P 173 186 DALLARI Dalmo de Abreu Elementos de teoria geral do Estado S o Paulo Ed Saraiva 1989 259 p DUROZOI Gerard Dicion rio de Filosofia Campinas S o Paulo Ed Papirus 1990 EDUCA O Escolar ind gena em Terra Brasilis tempo de novo descobrimento Rio de Janeiro IBASE 2004 88p FALEIROS Vicente de Paula FALEIROS Eva Silveira Escola que protege enfrentando a viol ncia contra crian as e adolescentes MEC UNESCO Cole o Educa o para Todos 1 edi o Bras lia 2007 91p FERNANDES Ricardo Cid Uma contribui o da antropologia pol tica para an lise do faccionalismo Kaingang In TOMMASINO Kimiye MOTA L cio Tadeu NOELLI Francisco da Silva org Novas contribui es aos estudos interdisciplinares dos Kaingang Londrina EDUEL 2004 413 p FERNANDES ldilia A diversidade da condi o humana Defici ncia diferen as na perspectiva das rela es sociais Tese de Doutorado PPGRSS PUCRS Porto Alegre 2002 244 p FERNANDES Jos Ricardo Ori Ensino de Hist ria e diversidade cultural desafios e possibilidades Cad Cedes Campinas vol 25 n 67 p 378 388 set dez 2005 Dispon vel em lt http Anww cedes unicamp br gt FERREIRA Aur lio Buarque de H Novo Dicion rio Aur lio da L ngua Portuguesa Editora Nova Fronteira S A Rio de Janeiro 1499 p FERREIRA Luciane O MORINICO Jos Cirilo O parar Mby e a indigeniza o do centro de Porto Alegre
130. DO NDIO FUNAI no uso das atribui es que lhe s o conferidas pelo Estatuto aprovado pelo Decreto n 564 de 08 de junho de 1992 tendo em vista o que consta do Processo FUNAI BsB 2105 92 RESOLVE Art 1 A Provar as normas que disciplinam o ingresso em Terras Ind genas com finalidade de desenvol ver Pesquisa Cient fica conforme documento em anexo Art 2 Esta Instru o Normativa entra em vigor na data de sua publica o Art 3 Revoga se a Instru o Normativa N 001 PRESI 94 de 08 de abril de 1994 como qualquer outro dispositivo em contr rio sa i Ouala OR 2 JOS BRANDO SANTILLI Presidente da FUNAI Funda o Nacional do ndio MINIST RIO DA JUSTI A ANEXO DA INSTRU O NORMATIVA N 001 PRESI 5 Bras lia 29 de novembro de 1995 qualquer pesquisador nacional ou estrangeiro que pretenda ingressar em terras ind genas para desenvolver projeto de Pesquisa cient fica dever encaminhar sua solicita o Presid ncia da FUN AI e no caso de requerimento coletivo dever ser subscrito por um dos membros do grupo como seu respons vel Art 5 O pesquisador ou a seguinte documenta o I i pesquisadores dever o anexar ao pedido do que trata o Art 1 Carta de apresenta o da Institui o a que o pesquisador est vinculado e no caso de estudantes de gradua o e p s gradua o carta de apresenta o do orientador respons vel H Projeto
131. EL aa da i associados ao mundo Kaingang eao com Ind genas e I 2 n reta I mundo da sociedade abrangente gestores i a o concreta l tendo em vista as atividades i p blicos fais radar sis i I Quadro 2 S ntese das trilhas metodol gicas desta pesquisa Qualitativa 51 Vale ressaltar que no processo de categoriza o podem ser constru dos diferentes n veis de categorias e inicialmente organizamos grupos de unidades com sentidos pr ximos o que evidencia as categorias iniciais Ap s a unitariza o ampliou se para as categorias mais abrangentes assim definidas categorias intermedi rias e finais Ressaltamos que para melhor compreens o optamos por categorizar as falas dos Kaingang em separado da fala dos gestores p blicos Desta maneira no quadro 3 elencamos a categoriza o advinda das entrevistas com os Kaingang e no quadro 4 com os gestores p blicos sendo que as an lises ser o realizadas no Cap tulo 6 Atividade Produtiva Interm Trabalho Preconceit Aprendizagem CULTURA Cidade Artesanato Fam lia Sustentabilidade Terra Coleta troca Vulnerabilidade POL TICA P BLICA Legisla o gt Direitos diferenciados Quadro 3 Categorias de An lise entre os Kaingang 52 Preconceito Sociedade envolvente Artesanato N Crian a CULTURA Inf ncia EIGIE O POLITICA a Cidade P BLICA Leis diferenciadas Sustentabilidade Assessoria T cnica
132. ESQUISAS Funda o Nacional do ndio Coordena o Geral de Estudos e Pesquisas SEPS 702 902 bloco A 3 andar Bras lia DF CEP70390 025 telefax 61 3321 0613 3313 3606 e mail cgep funai gov br Of cio n 5 7 CGEP 08 Bras lia 4S de dezembro de 2008 Senhora Marinez Garlet Rua Ana Maria Planicka Glaser 136 Bairro Barreira 93044 700 S o Leopoldo RS Assunto ingresso em terra ind gena l Cumprimentando a vimos tratar da sua solicita o de autoriza o para ingressar no Acampamento Ind gena S o Leopoldo com o objetivo de desenvolver o projeto de mestrado intitulado Entre cestos e colares viv ncia de crian as Kaingang num espa o urbano 2 Temos a informar que conforme os termos da Instru o Normativa n 001 PRESI necess rio que o interessado submeta o seu projeto de pesquisa ao CNPq 61 2108 9698 9691 para an lise de m rito cient fico 3 Assim o processo que ser autuado pela Funai em seu nome ficar aguardando a emiss o do parecer do CNPq para o seu prosseguimento Atenciosamente io dos Santos Romero Coordenador Geral de Estudos e Pesquisas GAMAES oficiosioficio doc 259 ANEXO H PARECER MS CNS CONEP N 201 2009 PROTOCOLO DE APROVA O DA PESQUISA JUNTO AO CONEP BRASILIA DATA 14 04 2009 RECEBIDO EM 05 05 09 MINIST RIO DA SA DE Conselho Nacional de Sa de Comiss o Nacional de tica em Pesquisa ONEP Carolinh Faraco Se
133. FACULDADE DE SERVI O SOCIAL PROGRAMA DE P S GRADUA O EM SERVI O SOCIAL MESTRADO EM SERVI O SOCIAL MARINEZ GARLET ENTRE CESTOS E COLARES FAR IS E PARABRISAS crian as Kaingang em meio urbano Porto Alegre 2010 PG PR REITORIA DE PESQUISA E P S GRADUA O PONTIF CIA UNIVERSIDADE CAT LICA DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE SERVI O SOCIAL PROGRAMA DE P S GRADUA O EM SERVI O SOCIAL MESTRADO EM SERVI O SOCIAL ENTRE CESTOS E COLARES FAR IS E PARABRISAS crian as Kaingang em meio urbano Porto Alegre 26 de mar o de 2010 Marinez Garlet Dados Internacionais de Cataloga o na Publica o CIP Garlet Marinez Entre cestos e colares far is e parabrisas crian as Kaingang em meio urbano Marinez Garlet Porto Alegre 2010 266 T il Diss Mestrado em Servi o Social Fac de Servi o Social PUCRS Orienta o Profa Dra Maria Isabel Barros Bellini 1 Servi o Social 2 ndios Assist ncia Social 3 Indios Kaingang 4 Pol tica Social Brasil 5 Exclus o Social 6 Crian as Trabalho I Bellini Maria Isabel Barros II T tulo CDD 361 981 Ficha Catalogr fica elaborada por Vanessa Pinent CRB 10 1297 ENTRE CESTOS E COLARES FAR IS E PARABRISAS crian as Kaingang em meio urbano Disserta o de Mestrado apresentada ao Programa de P s Gradua o em Servi o Social da Pontif cia Universidade Cat lica do Rio Grande do Sul como requisito p
134. Grande do Sul onde em nenhum momento foi nos exigido qualquer esp cie de exames infecto contagiosos para ingresso nas reas e acampamentos ind genas dos Kaingang e dos Mby Guarani Felizmente ap s todos estes tr mites e burocracias recebemos a aprova o por parte do CEP CONEP e FUNAI documentos anexos nesta disserta o 12 Resolu o N 196 de 10 de outubro de 1996 Conselho Nacional de Sa de 13 Comiss o Nacional de tica em Pesquisa CONEP Conselho Nacional de Sa de Minist rio da Sa de Bras lia http conselho saude gov br comissao eticapesq htm Acesso em 05 12 09 14 Administra o Regional em Passo Fundo RS e Sede Nacional em Bras lia DF 15 Carta de apresenta o da institui o a que a pesquisadora est vinculada projeto de pesquisa Curriculum Vitae c pia autenticada da carteira de identidade atestado individual de vacina contra mol stias end micas e atestado m dico de n o portadora de mol stias contagiosas 35 2 2 ABRINDO AS TRILHAS No processo de constru o desta disserta o utilizamos fontes bibliogr ficas hist ricas como BECKER 1976 RIBEIRO 1982 LAS CASAS 1985 CHAUI 1986 CARDOSO 1986 CASTRO 1987 GOMES 1988 GEERTZ 1989 CLASTRES 1990 PREZIA 1992 e contempor neas como TOMMASINO 1995 1998 2000 2002 SANTILLI 2000 SILVA 2002 LARAIA 2003 MOTA 2000 2000b 2004 FERNANDES 2004 FREITAS 2005 ROSA 2004 IAMAMOTO 2008 entre
135. IOTO Regina C lia Tamaso e NOGUEIRA Vera Maria Ribeiro Desafios atuais do Sistema Unico de Sa de SUS e as exig ncias para os Assistentes Sociais In Servi o Social e Sa de forma o e trabalho profissional 2006 p 1 25 In Revista Servi o Social e Sociedade Ano XVIII N 55 S o Paulo Editora Cortez MINIST RIO P blico Federal Procuradoria Regional no munic pio de Novo Hamburgo IC 423 2007 Verificar a venda de Artesanatos por ind genas da Comunidade Kaingang de S o Leopoldo na cidade de Novo Hamburgo 24 01 2007 164 p MONTANO Carlos Terceiro Setor e quest o social cr tica ao padr o emergente de interven o social S o Paulo Ed Cortez 2002 288 p MOTA Lucio Tadeu ASSIS Val ria Soares Popula es ind genas no Brasil hist rias culturas e rela es interculturais Maring EDUEM 2008 134 p MORAES Roque An lise de Conte do Educa o PUCRS Porto Alegre ano XXII 37 7 32 mar o 1999 MORAES Roque GALIAZZI Maria do Carmo An lise textual discursiva Iju UNIJUI 2007 224p 224 NASCIMENTO Adir Casaro Escola ind gena palco de diferen as Cole o teses e disserta es em educa o v 2 Campo Grande UCDB 2004 205 p OLIVEIRA Jo o Pacheco de FREIRE Carlos Augusto da Rocha A presen a ind gena na forma o do Brasil Cole o educa o para todos S rie Vias dos saberes N 2 MEC UNESCO Bras lia 2006 272 p PEREIRA Magali C
136. Kaingang da Aldeia Por Fie suas atividades produtivas no centro urbano na cidade de S o Leopoldo Fonte Foto de Marinez Garlet 30 12 2009 157 Gravura 4 Realidade Urbana Fonte Autor Artur Garlet Dietrich 2009 162 Foto 17 M e trabalhando e a crian a ao seu lado 166 Gravura 5 Desenho de uma menina Kaingang 09 anos 210 LISTA DE QUADROS Quadro 1 Idade e profiss o dos entrevistados da pesquisa 42 Quadro 2 S ntese das trilhas metodol gicas desta pesquisa Qualitativa 50 Quadro 3 Categorias de An lise entre os Kaingang 51 Quadro 4 Categorias de An lise entre os gestores p blicos 52 Quadro 5 Situa o das terras ind genas resumo geral 119 Quadro 6 Pol ticas p blicas diferenciadas articula o em rede 207 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ANAI Associa o Nacional de Apoio ao ndio Art Artigo CEPI Conselho Estadual dos Povos Ind genas CEP Comiss o de Etica em Pesquisa CONANDA Conselho Nacional dos Direitos da Crian a e do Adolescente CT Conselho Tutelar CIMI Conselho Indigenista Mission rio CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Cient fico e Tecnol gico CONEP Conselho Nacional de Etica e Pesquisa COMIN Conselho de Miss o entre Indios CRAS Centro de Refer ncia de Assist ncia Social
137. Kaingang no meio urbano e os direitos diferenciados Outra categoria que emergiu nos depoimentos foi preconceito tanto nas falas dos Kaingang como na fala dos gestores p blicos pesquisados Ind genas afirmam que vivenciam preconceito no meio urbano gestores afirmam que a sociedade envolvente n o facilita as rela es entre culturas diferentes Notamos que as categorias identificadas nos agrupamentos se interligam no momento da categoriza o e aqui optamos por n o dividi las em subitens para n o corrermos o risco de fragment las Em nossa an lise preocupamo nos em compreender os problemas que as crian as ind genas enfrentam com a confec o e a venda de artesanatos at porque eles s o reais por vezes dram ticos e merecem toda a nossa aten o e 9 Lei n 8 069 de 13 de julho de 1990 166 cuidados SILVA NUNES 2002 p 17 Entendemos que as crian as ind genas as situa es de vulnerabilidade vivenciadas por elas e o acesso aos seus direitos representam na contemporaneidade uma express o da quest o social e denunciam o processo de exclus o social 6 1 CULTURA NAS M OS QUE TRAMAM A ARTE DE ENSINAR Foto 17 M e trabalhando e a crian a ao seu lado Fonte Foto de Marinez Garlet 10 09 2009 Na nossa cultura a gente ensina os filhos A gente acompanha eles e prepara eles pr quando forem adultos n o sofrerem sem ter o que comer Assim normal eles participarem de tudo o
138. MAS A CULTURA DEFINE TRAN ADOS Vivendo em estado tribal at o contato com o branco tinham uma divis o de trabalho por sexo Sua organiza o social partia da fam lia BECKER 1976 p 17 Foto 5 Mulher Kaingang tran ando taquara para o artesanato Fonte Foto de Marinez Garlet Aldeia Por Fi 19 05 2009 A cultura caracteriza se por sua dimens o coletiva din mica e sofre transforma es Assim como as m os da mulher Kaingang que trama nesta imagem seu artesanato a cultura tamb m entrela ada pelas pessoas que fazem parte de cada grupo E ela vai ganhando novas formas continuamente pois as pessoas v o criando ou v o reproduzindo e re significando os fatos do dia a dia das rela es A habilidade e rapidez do tran ado expressam s culos de uma cultura que tem nas tramas e fibras das taquaras e cip s a representa o da ess ncia do povo Kaingang Ainda nos dias atuais homens mulheres e crian as ferem suas m os na transforma o da mat ria prima em estado bruto S o necess rios v rios dias de dedica o para transformar o material coletado na mata para que este seja 89 transformado em produto final o artesanato Assim como a cultura a mat ria prima para a confec o do artesanato tamb m sofre transforma es n o est tica A sociedade brasileira ao se referir aos ind genas ora os v de forma preconceituosa justamente por desconhecimento das especificidades culturais
139. No sistema coletivo das comunidades ind genas todos podem por exemplo usar a mesma terra para fazer ro as e realizar plantios Os ind genas v em na terra algo muito mais do que um simples espa o econ mico como o para o modo capitalista de explora o A terra para eles representa a base da vida social suas ra zes e n o apenas serve para a subsist ncia das comunidades e est diretamente ligada ao cotidiano como um todo interligado e mesmo assim a pouca terra que lhes resta continua sendo objeto de propriedade coletiva e n o apenas de sociedades individuais como nos refor a a l gica contempor nea Dif cil para as comunidades ind genas manterem se exclusivamente dentro de um dado territ rio GARLET 1991 p 43 uma vez que com o avan o das cidades seus territ rios foram diminu dos E drasticamente neste aspecto que eles mais sofreram e ainda sofrem com a ocupa o de seus territ rios Somados todos os territ rios ind genas atualmente no Brasil temos algo em torno de 112 milh es de hectares o que d algo em torno de 12 do territ rio nacional Muitos ainda dizem que os ndios t m muita terra mas por este dado podemos perceber que eles ficaram somente com 12 de tudo o que tinham Esta n o a realidade dos povos amaz nicos pois naquela regi o ainda poss vel demarcar terras em larga extens o como foi o recente caso da demarca o da TI Raposa Serra do Sol no Estado de Roraima Nas re
140. RS Povos Ind genas na Bacia Hidrogr fica do Lago Gua ba N cleo de Pol ticas P blicas para os Povos Ind genas Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Seguran a Urbana Prefeitura Municipal de Porto Alegre 2008 198 p 219 FILHO Carlos Frederico Mar s de Souza Os direitos ind genas e a Constitui o NDI Ed Sergio Ant nio Fabris Porto Alegre 1993 312 p FREITAS Ana Elisa de Castro Mr r Jykre a cultura do cip territorialidades Kaingang na margem Leste do Lago Gua ba Tese de Doutorado IFCH PPGAS UFRGS Porto Alegre 2005 464 p Nossos contempor neos ind genas In Povos Ind genas na Bacia Hidrogr fica do Lago Gua ba N cleo de Pol ticas P blicas para os Povos Ind genas Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Seguran a Urbana Prefeitura Municipal de Porto Alegre 2008 198 p FREIRE Jos Ribamar Bessa Trajet ria de muitas perdas e poucos ganhos In Educa o escolar ind gena em Terra Brasilis em tempo de novo descobrimento Rio de Janeiro IBASE 2004 88p FUNAI Funda o Nacional do ndio Apresenta o Dispon vel em lt http www funai gov br gt FUNASA Funda o Nacional da Sa de Sobre Compet ncias Dispon vel em lt http www funasa gov br internet competencias asp gt Funda o Nacional da Sa de Sobre Sa de Ind gena Dispon vel em lt http www funasa gov br internet Bibli saudelnd asp gt GADOTTI Moacir Diversidade cultural e educa o
141. Social PUCRS Rua Ana Maria Planiccka Glaser n 136 Bairro Barreira S o Leopoldo RS CEP 93044 700 Assunto Orienta o para autoriza o de Pesquisa encaminha Ao cumpriment lo cordialmente acuso o recebimento da solicita o de autoriza o para ingresso na comunidade ind gena S o Leopoldo RS para a realiza o da pesquisa de mestrado intitulada Entre cestos e colares viv ncias de crian as kaingang num espa o urbano Em aten o a referida solicita o encaminho a Vossa Senhoria em anexo c pia do Memo n 188 CMMA CGPIMA 04 a instru o Normativa que orienta os procedimentos e relaciona documentos necess rios para autoriza o de ingresso para pesquisa em terras Ind gena Os documentos referidos que est o faltando s o Carta de apresenta o da Institui o a que o pesquisador est vinculado e carta de apresenta o do professor orientador corr culum vitae do pesquisador atestado individual de vacina contra mol stia end mica na rea atestado m dico de n o portador de mol stias contagiosas Ap s providenciar todos os documentos necess rios enviar a esta administra o para serem remetidos FUNAI de Bras lia DF onde ser emitida a autoriza o Assim que receber a referida autoriza o enviaremos lhes neste mesmo endere o Atenciosamente Cana BBRTO FERRAREZE gt Administrador ivo Regional AER PFD RS mm Rua Morom 1060 Sobre Loja CEP 99010 030 PASSO
142. a o do cotidiano da aldeia para ilustrar mostrando como o uso do celular facilita suas din micas e demandas s cio culturais Assim natural que ao atender ao telefone celular a comunica o entre os parentes aconte a no idioma Kaingang Nos momentos na aldeia observamos a facilidade oferecida por esta tecnologia onde vimos pessoas falando no celular em seu idioma de forma descontra da e sorridente O telefone celular um importante instrumento de comunica o entre as aldeias de Porto Alegre e Regi o Metropolitana Tem tamb m a fun o de aproximar as fam lias que residem na cidade com os parentes que residem em Tis no interior do Estado Desta forma diferentes not cias como por exemplo falecimento doen a casamento nascimento viagens e visitas s o socializadas de forma bastante pr tica tamb m atrav s deste recurso que reuni es e agendas diversas s o repassados aos Kaingang de S o Leopoldo em rela o FUNASA FUNAI CEPI MPF Prefeitura e as diversas escolas p blicas e privadas universidades institui es e outros segmentos sociais O uso de tais tecnologias modernas em nada interfere ou modifica no processo cultural dos Kaingang Algumas situa es no cotidiano da aldeia e que retratam o modo de viver daquela comunidade dificultaram nossa coleta em dias e hor rios agendados previamente Uma situa o bastante comum aconteceu no dia marcado com o cacique Era um lindo s bado de sol e o cacique mes
143. a hist ria segurar em suas m os que se ferem nas fibras da taquara ou abrir suas falas suas vozes que ecoam atrav s do sil ncio ou no grito Esperamos que n o deixem de lutar de buscar de volta as fibras da sua hist ria para fortalecer o seu presente Em nosso pa s esse fen meno surge de modo mais evidente nas ltimas d cadas quando as hist rias regionais passam a ser reestudadas os direitos ind genas mais reconhecidos e respeitados e as organiza es de apoio aos ndios se consolidam de forma mais efetiva e passam a ser agentes importantes da causa ind gena Com isto queremos dizer que precisamos desafiar nos a conhecer aproximarmos da realidade ind gena e propor pol ticas de inclus o para as tr s esferas de governo e em todo o territ rio brasileiro Estamos cientes de que nosso artesanato n o possui acabamento Ficam trilhas em aberto bases tampas cestos para serem conclu dos Reconhecemos brechas e lacunas mas entendemos que este artesanato deva seguir tramado e confeccionado sempre num coletivo 214 REFER NCIAS BIBLIOGR FICAS AGUINSKY Beatriz Gershenson Eticidades discursivas do Servi o Social no campo jur dico gestos de leitura do cotidiano no claro escuro da legalidade da moral Tese de Doutorado PUCRS Porto Alegre 2008 ANTONIO lraci Greja Hoje e antigamente In g Jam n K M textos Kanhg g TORAL Andr Amaral de APBKG DkKa Austria MEC PNUD 1 edi o Bras
144. a da discrimina o Vento 2009 Na fala da ind gena Vento percebemos que uma expectativa est vinculada ao estudo e que este pode trazer melhores condi es de vida s crian as manifestando que quando adulta ela ter dois lados pr ganhar Quando afirma que se n o ganhar emprego ele pula pro artesanato refor a a import ncia de desenvolver diferentes compet ncias pois sabe fazer o artesanato e com isto poder ter melhores condi es de vida na cidade Em rela o ao preconceito os gestores p blicos informam Os comerciantes dizem eles incomodam na Independ ncia os nossos clientes que est o sentados nos bares Cinza 2009 a sociedade local poderia facilitar rela o cultural com os ind genas do que os ind genas facilitarem a rela o com a sociedade local Verde 2009 186 A sociedade envolvente reage de forma etnocentrista sem compreender a diversidade cultural existente na cidade e isto fica expresso nas falas dos gestores p blicos entrevistados e nas pol ticas p blicas que deveriam contemplar essas diferen as e singularidades A entrevistada Cinza refor a que no CT cidad os leopoldenses donos de bares e lanchonetes fazem den ncias em rela o circula o de crian as na principal rua da cidade afirmando que eles incomodam nossos clientes As den ncias n o visam a prote o das crian as mas a tranquilidade do comerciante O entrevista
145. a de trabalhar implica suspens o imediata de sua renda VALLA 2005 p 50 Assim a vulnerabilidade social que se origina de prec rias e inst veis rela es de trabalho possui particularidades no Brasil Dessa maneira os trabalhadores passam a presenciar a expans o do trabalho precarizado tempor rio informalizado em decorr ncia da industrializa o ANTUNES 2005b Marx afirma que todo homem vive de trocas e se torna em certa medida um comerciante e reflete al m afirmando que se cada fam lia produzisse todos os produtos que consome a sociedade poderia manter se ainda que n o existisse qualquer tipo de troca na nossa conjuntura avan ada de sociedade a permuta ainda que n o fundamental imprescind vel 2006 p 162 Mas a permuta e a troca n o fazem parte do modo de produ o capitalista A especificidade do modo de produ o outra e objetiva a maximiza o permanente da acumula o de capital Nesse contexto compreende se o processo de produ o capitalista como uma forma historicamente determinada do processo social de produ o em geral Como todos os seus predecessores o processo de produ o capitalista transcorre sob determinadas condi es materiais que no 147 entanto s o ao mesmo tempo portadoras de rela es sociais determinadas nas quais os indiv duos entram no processo de reprodu o de sua vida Aquelas condi es assim como essas rela es s
146. a por uma galinha gorda ou queijo ou salame Agua 2009 As palavras do participante demonstram a seguran a que o Kaingang tem no c mbio com o f g e para ele o balaio precisa ser bem caprichado para que haja venda ou troca imediata Tais evid ncias demonstram a manuten o da reprodu o sociocultural e est o diretamente vinculadas sua inf ncia que o preparou para dar conta de sua vida adulta O informante orgulha se de ter uma profiss o e ainda reflete que Aqui aqui na cidade Se n o souber fazer balaio se n o souber lidar com o cip com a taquara se n o souber fazer nenhum tipo de artesanato ele vai passar fome Ele passa fome a mulher os filhos se n o souber tran ar eles v o passar fome Agua 2009 Em rela o venda dos seus produtos as falas a seguir demonstram que o deslocamento para as cidades uma pr tica antiga 178 Vender normal A gente sa a pr cidade pegava um nibus cedinho sempre a nas cidades Na cidade vendia pros f g Eu sempre ia junto Agua 2009 Quando a gente morava longe da cidade tinha uns agricultores da gente fazia um neg cio com eles A gente pegava roupas em troca em c mbio sabe A gente fazia c mbio com o artesanato Ar 2009 Eu tinha j 7 anos eu j saia com a minha v N s ia muito pra essas cidades com a minha av eu sempre saia com ela A gente ia pra cidade pra vender nossos balaios Terra 2009 As falas afirmam
147. a sobreviv ncia baseada na coleta e na ca a como exemplifica colheita de mel ca a de animais silvestres e refor a que n o faziam artesanato para sobreviv ncia que nem sabiam fazer BECKER refor a a fala da ind gena afirmando que A economia do grupo era baseada na colheita especialmente de pinh es e na ca a que lhes era garantida no territ rio de ca a considerado propriedade coletiva para cada grupo Seu regime alimentar constava de carne de ca a e peixe de mel e frutos silvestres ab bora e milho 1976 p 17 Em rela o aos artesanatos BECKER embasando se em estudos realizados em 1913 argumentou que havia trocas entre os ind genas e os brancos que vizinhavam com as Tis Dos h bitos artesanais se pode dizer que ficaram reduzidos confec o de chap us de palha e cestos de taquara que constituem um elemento comerci vel trocando os com o branco por bebidas fumo erva mate fazendas ou roupas 1976 p 26 Percebe se que o com rcio do artesanato acompanhou as transforma es de vida dos Kaingang Inicialmente faziam trocas ou c mbio de produtos com os agricultores vizinhos depois precisaram sair para os n cleos urbanos a fim de garantir sua subsist ncia Desde que me conhe o a minha m e j andava vendendo balaio ent o me criei vendendo E da nossa cultura da cultura Kaingang e eu fa o desde que me conheci Agua 2009 177 Como se pode ver a ven
148. a sociedade que produz e reproduz v rias formas de 95 desigualdade e que os direitos sociais estiveram historicamente voltados para os trabalhadores inseridos no mercado de trabalho mas que necess rio unir se for as com outras inst ncias p blicas no que Sposati chama de trabalho global 4 2 PERANTE A LEI O DIREITO DE SER DIFERENTE CONSEGUI CRESCER ENT NDO PORQUE PRECISAMO DE CESTA B SICA PARA SOBREVIVER Gravura 2 Charge sobre a explora o de terras ind genas Fonte Centro de Etnoconhecimento http centrodeetnoconhecimento blogspot com Acesso em 16 10 2009 A mobiliza o ind gena fez afirmar seus direitos na CF 1988 onde surgem inscritos pela primeira vez numa Constitui o Federal os seus direitos de serem respeitados em suas cren as costumes tradi es autonomia Aparece pela primeira vez que o Brasil um pa s pluri tnico e que esta riqueza deve ser garantida e preservada Rompe se com a ideia de unifica o cultural onde os grupos tnicos t m direito de viverem de acordo com suas cren as e costumes A partir de 1988 passou se a perceber cada vez mais que a nica forma de garantirem se os diversos direitos desses povos era garantir se sua exist ncia do jeito que eles s o sem imposi es externas paternalistas leigas religiosas ou mesmo estatais Em suma sem querer transform los em brancos Na reflex o sobre a situa o da diversidade cultural fundamental que s
149. abriel da Cachoeira AM 25 A carta de Pero Vaz de Caminha comp e se de sete folhas cada uma de quatro p ginas totalizando vinte e sete de texto e uma de endere o t pica da poca CASTRO 1987 p 13 it lico da autora para enfatizar que j existiam centenas de povos no Brasil antes da chegada dos portugueses e que estes que haviam descoberto esta terra j milhares de anos antes dos europeus 61 Esta hist ria t o repetida criou uma verdade aceita pela sociedade com naturalidade qual seja a fal cia de que o Brasil foi mesmo descoberto pelos portugueses em 1500 Por um lado contada desta forma a hist ria refor a uma vers o cheia de fantasias e sensa es rom nticas acerca do assunto Por outro acaba encobrindo a outra hist ria a dos povos ind genas que aqui viviam Apesar deste tema o dos povos ind genas que aqui viviam ser por bvio mais antigo que a pr pria exist ncia do Brasil percebe se que a hist ria dos povos ind genas ainda desconhecida da maioria da popula o brasileira assim como o o tal descobrimento que provocou o tr gico exterm nio de no m nimo 4 milh es de pessoas BANIWA 2006 p 17 Somente na Amaz nia viviam nada menos que 3 7 milh es de pessoas e no restante do Brasil cerca de 1 3 milh es de indiv duos Esses 5 milh es de pessoas estavam constitu dos em cerca de 700 na es diferenciadas PREZIA 1992 p 71 Centenas de povos foram v timas de viol
150. acompanhei lutas de supera o de vulnerabilidade social e garantia de direitos das comunidades Kaingang em diversos munic pios do RS e me motivei a buscar conhecimento sobre as linguagens existentes entre as duas culturas ind gena e n o ind gena entre o ndio e o n o ndio entre o Kaingang e a sociedade que o envolve ou seja a sociedade envolvente O uso do termo sociedade envolvente corrente para se referir de um modo gen rico sociedade n o ind gena em rela o comunidade ou grupo ind gena Tamb m s o utilizadas outras express es para designar a sociedade n o ind gena como por exemplo sociedade nacional sociedade abrangente sociedade englobante entre outras Retornar aos bancos acad micos desacomodou me em muitos sentidos Primeiro porque como Assistente Social estive por longos anos junto aos povos ind genas Guarani e Kaingang e por este motivo escrever sobre eles significa levar em minha bagagem e trajet ria profissional o respeito por estes povos t o complexos Estar com eles tem para mim diversos sentidos pois sentar beira da casa no sol ou na sombra ao lado do fogo de ch o dialogar com eles ouvi los sem d vida um aprendizado cotidiano Ouvi hist rias conheci diferentes realidades diferentes espa os geogr ficos viajei para v rias terras ind genas e acampamentos dos Kaingang Cruz Alta Nonoai Ira Salto do Jacu Estrela Lajeado Farroupilha Porto Alegre S o L
151. ade esta pr tica fragiliza se uma vez que residem em um pequeno lote urbano sem mata ca a rvores rios e peixes N o h espa os amplos para as crian as brincarem h poucas rvores que permitem que subam ou se balancem livremente 176 A coleta realizada pelos Kaingang n o era considerada um trabalho Para eles bastava andar pela mata e apropriar se dos recursos oferecidos pela natureza A fala seguinte de uma mulher Kaingang a mais velha 58 anos da aldeia Observa se que a sua fala diferencia se da fala dos demais entrevistados Aquela poca n s n o sabia muito fazer artesanato N s lidava mais era com o mel colher os bichinhos do mato que s o os cor Os cor da taquara os cor do coqueiro cor do pau podre comer tatu paca porco do mato n s n o fazia muito artesanato eu at 12 anos n o sabia fazer artesanato porque a gente n o sabia vender n o sabia conversar outra linguagem que a do branco ent o era muito dif cil Na terra que eu nasci naquela poca n o tinha desmatamento Tinha jaboticaba guavirova guabiju pinh o c co N s tinha comida t pica era s isso quer carne vai ca ar Quer peixe vai pro rio N s tinha tudo Quer banha tira o cor do coqueiro e faz duas latas de banha Ent o n s n o sabia trabalhar n s vivia s daquilo muita gente vivia assim Vento 2009 O depoimento de Vento reponta suas viv ncias num outro per odo hist rico que evidencia
152. agora n o h ro as n o h frutas silvestres rios peixes sequer rvores suficientes para sombra e oportunizar s crian as suas brincadeiras Na rea de 2 04 hectares em que vivem n o h espa o para um campo de futebol meu trabalho e da minha fam lia s a lida com o artesanato a nica coisa que a gente sabe fazer desde pequeno lidar com cip taquara e s Agua 2009 O artesanato da nossa cultura sempre fizemos isto mas antes a gente s fazia pr gente depois com o passar do tempo tivemos que comercializar por causa da precariedade da economia Fogo 2009 170 A lida com os cip s mr r e taquaras v g o trabalho dos Kaingang considerado por alguns a nica coisa que sabem fazer e que o fazem desde pequenos Ressaltam que faziam somente para seu uso interno e que acabaram comercializando para poder sustentar se devido ao avan o da coloniza o e perda de seus territ rios Sendo assim o sair para vender artesanato uma op o ou falta de op o A participa o dos meninos e meninas nas atividades de venda dos produtos feitos atrav s do trabalho familiar na aldeia provoca questionamentos na sociedade envolvente Para os gestores p blicos as atividades produtivas s o vistas da seguinte forma a quest o do trabalho das crian as esta realmente foi uma quest o onde houve e onde h uma dificuldade grande de resolu o dos problemas concretos porq
153. ais recursos do que se um adulto Eu acho que as crian as que vivem trabalhando assim na sinaleira conseguem vender mais f cil por exemplo botamos um velho um grande l ele as vezes pode passar o dia todo mas n o vai vender mais do que 2 coisas e as crian as j n o eles vendem mais ganham mais coisas doadas Terra 2009 Esta uma realidade urbana e o Kaingang tem conhecimento de que uma crian a na sinaleira sensibiliza a sociedade envolvente uma vez que um grande l pode passar o dia todo e n o vende e n o ganha coisas doadas A fala do Kaingang Ar apresenta uma realidade cotidiana ao afirmar que a crian a fica cansada de caminhar pela cidade ou outras cidades munic pios na regi o do Vale do Rio dos Sinos e que optam por ficar num mesmo lugar o que lhes facilita a venda As crian as sempre andam com os pais e acham melhor vender ali porque sair caminhando com a gente eles ficam cansados e a gente n o tem como levar eles pra estar caminhando trabalhando no sol pr l e pr c Eu por exemplo eu levo os meus Ar 2009 Eles pr prios refletem que as cidades s o permissivas ou seja estimulam o fato do ganhar ou do pedir Nas palavras do entrevistado Terra 196 Se a sociedade abre a m o est incentivando claro que em qualquer lugar assim seja crian a de ndio ou crian a de branco Terra 2009 O ind gena tem clareza de que n o s o somente as cria
154. ais resolv los O que queremos dizer que h em nossa volta diferentes culturas que chegam de diferentes lugares fam lias grupos espec ficos Cada uma possui seus jeitos de compreens o de mundo de suas viv ncias e rela es com o meio Possuem c digos cores s mbolos e l nguas espec ficas e em algum lugar tornam se nicas seja na sala de aula no posto de sa de na fila do banco no banco da pra a no supermercado Ressaltamos a import ncia de cada profissional que atua com pessoas e grupos observar e fazer a distin o desta ampla diversidade que re ne tantos indiv duos num mesmo conjunto Visto desta forma cada retalho dessa imensa colcha que nosso pa s tem a sua hist ria sua especificidade e sua import ncia da potencializar direitos torna se um desafio para muito al m das apar ncias Abordar o tema da diversidade implica saber o significado de cultura e o que ela provoca no modo de ser da humanidade Na Antropologia dif cil definir o conceito de cultura e em verdade n o se pergunta mais o que ela mas ao que ela se refere N o se pergunta tamb m o que que produz e o que gera cultura mas antes o que ela tem a ver fundamentalmente com a ordem social a que que est ligada e o que que ela significa BRAND O 1986 p 15 A exist ncia de diferentes culturas garante a diversidade sociocultural num pa s que agrega reivindica es e garantias de direitos por distin
155. al para o registro dos dados coletados z A segunda explica o em rela o ao processo de aprova o desta pesquisa junto ao Comit de tica em Pesquisa da PUCRS Considerando a Resolu o 196 96 do Conselho Nacional de Sa de onde ficam estabelecidas as diretrizes e normas regulamentadoras para pesquisas envolvendo seres humanos esta pesquisa ficou submetida em diferentes inst ncias e comit s Primeiro junto Comiss o Cient fica do Programa de P s Gradua o em Servi o Social onde obteve parecer favor vel Ap s foi encaminhada ao CEP O Comit de tica em Pesquisa da PUCRS aprovou o protocolo recomendando que a mesma fosse encaminhada ao CONEP esclarecendo que a coleta dos dados somente poderia ser iniciada ap s a libera o por parte deste Ocorre que tamb m a FUNAI precisou ser consultada devendo ela remeter ao CONEP um parecer t cnico alegando o m rito cient fico Nesse per odo houve bastante interlocu o da pesquisadora com o CONEP e FUNAI de Passo Fundo e Bras lia Esclarecemos que a FUNAI seguindo exig ncias da Instru o Normativa N 001 PRESI exigiu farta documenta o e exames m dicos para que a pesquisadora pudesse realizar ingresso na aldeia ind gena foco desta pesquisa Consideramos peculiares e no m nimo interessantes as exig ncias da FUNAI uma vez que temos duas d cadas de entrada e sa da em diferentes reas acampamentos e Tils em v rios munic pios do Rio
156. alando l nguas diferenciadas em ambientes quase fechados e isto se reflete em casos como esses da Borboleta Mesmo que a legisla o atual como o caso da Conven o 169 da Organiza o Internacional do Trabalho defina o autoreconhecimento como forma de defini o do que seja uma comunidade ind gena ainda h resist ncias na pr pria FUNAI para isto efetivar se O antrop logo brasileiro Eduardo Viveiros de Castro deixa patente isto ao afirmar que quest o de quem ndio cabe s comunidades que se sentem concernidas implicadas por ela N o cabe ao antrop logo definir quem ndio cabe ao atrop logo criar condi es te ricas e pol ticas para permitir 37 Publicado no D O U 09 01 1996 p 265 Se o 78 que as comunidades interessadas articulem sua indianidade CASTRO 2006 p 15 As fontes de dados oficiais sobre as popula es ind genas sempre foram muito prec rias e at a d cada de 80 essas popula es eram consideradas uma categoria social em extin o e fadados integra o com a sociedade envolvente Acreditava se at no desaparecimento enquanto grupos sociais distintos Ainda que a presen a ind gena seja constante na Hist ria do Brasil e mesmo que eles j estivessem aqui quando os colonizadores europeus chegaram a partir do S culo XVI somente na oitava Constitui o Federal Brasileira de 1988 os direitos dos ind genas foram inscritos pela primeira vez na chamada Constitu
157. amorados amigos entre amigos conhecidos parentes degustam petiscos apreciam bebidas trocam conversas e risadas Em mesas dispostas sobre as cal adas em frente aos bares ao longo da Avenida Independ ncia ou Rua Grande como chamada as crian as Kaingang da Aldeia Por Fi se aproximam e as abordagens aos mun cipes leopoldenses por eles sempre em pequenos grupos provoca rea es Em dias ensolarados em v rios lugares de S o Leopoldo avenidas Feitoria Mau Imperatriz Leopoldina Independ ncia Jo o Corr a ruas Saldanha da Gama Lindolfo Collor Concei o etc a presen a de meninos e meninas Kaingang se repete da mesma forma e desta vez a abordagem aos motoristas que param nas sinaleiras da cidade Cenas como estas s o uma realidade na cidade assim como em qualquer outra cidade no Brasil onde n o s crian as ind genas lutam pela sobreviv ncia As crian as carregam nas m os pequenos artesanatos colares cestinhos casinhas de passarinho peixinhos e oferecem os produtos para os n o ind genas e na recusa da compra luz do dia ou da noite pedem uma moedinha As m es acompanham observam da cal ada sentadas embaixo de alguma rvore atentas Ali tramam cestos e balaios cuidam de filhos menores e observam seus filhos e filhos de outros parentes que levam consigo para o centro da cidade Ali tamb m s o observados despertam sentimentos contradit rios S o criticados ridicularizado
158. anos as fam lias ind genas mant m suas concep es m sticas mesmo que de forma velada Suas pr ticas de curas benzimentos interpreta o de sonhos s o mantidas de gera o em gera o Somente s o percebidas por quem de fato investir em aproxima o e abordagem diferenciada Pode se afirmar que possuem um sistema emp rico para suas curas e tratamento de doen as comuns Temos que concordar que mesmo que n o sejam metodologias cient ficas os conhecimentos que mant m historicamente s o eficientes na maioria de suas doen as Obviamente na contemporaneidade o ambiente onde est o inseridos centros urbanos acrescenta fatores que comprometem o ciclo natural de cuidados para suas doen as pois como refor a a Als da comunidade Kaingang de S o Leopoldo a gente n o sabe o que fazer quando n o encontram seus rem dios naturais e nem do m dico do f g 111 Para todos em geral a import ncia do aspecto do sentir se saud vel est relacionada concretamente s condi es ecol gicas ao sistema econ mico e organiza o social Mas para as popula es ind genas esses fatores s o alicerces do sentir se saud vel Por isto se para grande parte da popula o brasileira por precariedade nesses elementos condicionantes h dificuldades para o sentir se saud vel para as popula es ind genas as dificuldades s o maiores pois o atendimento oferecido em termos de sa de est aqu m de suas necessidades
159. antes e atrasados 1989 p 73 Na hist ria do Brasil que se estendeu desde ent o os povos ind genas lutaram muito para permanecer vivos e manter suas terras o que desencadeou muitas guerras e conflitos entre eles e os europeus Os povos ind genas litor neos lutaram quase 200 anos contra os portugueses os franceses os holandeses No in cio do s culo 17 dos numerosos povos de l ngua Tupi que habitavam a faixa litor nea entre S o Paulo e Rio Grande do Norte s restavam 30 mil pessoas PREZIA 1989 p 72 Os trechos a seguir extra dos da carta de Mem de S sintetizam a viol ncia contra os povos ind genas no litoral Nestes tempos veio recado ao governador como o gentio o ind gena tupinikim da capitania de Ilh us se alevantava e tinha morto muitos crist os e destru do e queimado todos os engenhos dos lugares e os moradores est o cercados e n o comiam j sen o laranjas Logo pus reuni em conselho e posto que muitos eram que n o fosse por n o ter poder para lhes resistir nem o poder do imperador fui com pouca gente que me seguiu Na noite em que entrei em Ilh us fui a p dar em uma aldeia que estava a 7 l guas da vila em um alto pequeno todo cercado de gua ao redor de lagoas PREZIA 1989 p 75 Muitos aspectos sempre nos chamam a aten o nesses relatos feitos diretamente pelos pr prios europeus conquistadores como o fato de considerarem ateus todos aqueles que n o professavam a f crist
160. ara contar suas idades A idade contada pelo nascer e morrer da planta O ciclo vital da v g dura em m dia 30 anos desde o nascer florescer morrer at o renascer de novo A cada 30 anos a taquara nasce e morre naturalmente Este o processo natural dela e para os Kaingang a v g nosso documento de nascimento nossa certid o ainda que reconhe am que para muitos esta cren a faz parte do passado e que hoje diferente Quando uma pessoa nasce sua idade contada pelo desenvolvimento da taquara Exemplo quando seca a taquareira quando ela morre conta se 30 anos Assim se ela morrer e brotar duas vezes no decurso do tempo de vida de uma pessoa esta ter 60 anos Se morrer e brotar tr s vezes ter 90 No passado se contava assim e hoje ainda muitos contam suas idades desta maneira Afirmam que a taquara liga o passado e o presente considerada em sua import ncia e enaltecido seu esp rito Segundo eles a taquara possui um esp rito e por esta raz o a respeitam n o a colhendo antes da fase lunar certa ela tem o prazo certo de viver A afirma o de que a taquara a vida da popula o Kaingang uma das express es culturais acerca desta importante mat ria prima da natureza 29 Ao investigar o significado que as atividades produtivas infantis t m para a comunidade Kaingang na sua rela o de com rcio de artesanatos pretende se contribuir para o aprimoramento da pro
161. ara impedir que suas culturas seus territ rios sua soberania fossem destru dos mostra que eles nunca aceitaram o fato de serem subjugados N o est de acordo com os seus costumes e h bitos com as suas leis com a sua vis o de mundo que um povo possa vir e massacrar assim o outro impunemente matando crian as e velhos Eles lutaram e lutam de todas as formas que conheciam e conhecem confedera es guerras regulares guerrilhas suic dios coletivos e jamais se entregaram O fato decisivo entretanto foi a resist ncia dos pr prios ndios que inviabilizou essa forma cultivar as terras improdutivas http www historica arquivoestado sp gov br materias anteriores edicao02 materia02 Acesso em 27 11 09 68 de etnoc dio ao recha ar o fanatismo mission rio e o paternalismo burocr tico impondo respeito suas pr prias lideran as RIBEIRO 1988 p 13 Cada uma dessas formas de resist ncia se desenvolveu desde os prim rdios da coloniza o europ ia e se estende at hoje Os suic dios dos Guarani que ainda hoje ocorrem nas terras ind genas do Mato Grosso do Sul que t m sido objeto de manchetes internacionais cujas causas t m desafiado os pesquisadores t m uma hip tese comum trata se de uma forma de resist ncia dos Guarani que n o t m suas terras demarcadas e protegidas naquele Estado Por n o aceitarem essa situa o buscam no suic dio uma forma de lutar contra de resistir Segundo levantamento
162. ara obten o do grau de Mestre em Servi o Social Orientadora Prof Dr Maria Isabel Barros Bellini Porto Alegre Mar o 2010 MARINEZ GARLET ENTRE CESTOS E COLARES FAR IS E PARABRISAS crian as Kaingang em meio urbano Disserta o de Mestrado apresentada ao Programa de P s Gradua o em Servi o Social da Pontif cia Universidade Cat lica do Rio Grande do Sul como requisito para obten o do grau de Mestre em Servi o Social COMISS O EXAMINADORA Prof Dr Maria Isabel Barros Bellini Orientadora PPGSS PUCRS Prof Dr Gleny Terezinha Duro Guimar es PPGSS PUCRS Prof Dr Beatriz dos Santos Landa Dr Hist ria Pr Reitora UEMS Porto Alegre 26 de mar o de 2010 Foto 1 Artesanato Kaingang Aldeia Por Fi Fonte Foto de Marinez Garlet 19 05 2009 Dedico esta pesquisa aos Kaingang da Aldeia Por Fi em S o Leopoldo por suas habilidades de viver em duas culturas Aos homens e mulheres Kaingang s crian as e jovens por suas viv ncias e culturas suas tramas de significados As suas esperan as EP GRAFE Eu acho bom por uma parte mas por um lado eu n o acho bom O lado que eu acho bom sobre nossa sustentabilidade que mais f cil da gente sobreviver nas cidades com as nossas fam lias A gente ganha alguma pecinha de roupa um cal adinho pros nossos filhos que n o precisa comprar ganha caderno que as pessoas doam pros nossos filhos pra estudar l p
163. as Kaingang COMIN C ritas Porto Alegre e Escola Sinodal de Sapiranga 2007 Foto Marinez Garlet Acervo ISAEC DAI PIDA 244 245 AP NDICE F TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Pontif cia Universidade Cat lica do Rio Grande do Sul FACULDADE DE SERVI O SOCIAL NEST N cleo de Estudos e Pesquisa em Sa de e Trabalho Termo de Consentimento Livre e Esclarecido T tulo da Pesquisa Entre cestos e colares viv ncias de crian as Kaingang num espa o urbano I Justificativa Esta pesquisa pretende investigar o significado que as atividades laborais infantis tem para a comunidade Kaingang de S o Leopoldo na sua rela o de com rcio de artesanatos com vistas a contribuir para o aprimoramento da prote o social a esses sujeitos respeitando a sua cultura II Procedimentos A coleta de dados ser feita atrav s de question rios com perguntas abertas e fechadas grupo focal e observa o sistem tica com roteiro HI Desconfortos As informa es n o ser o identificadas a fim de impedir a socializa o e exposi o dos sujeitos da pesquisa N o se identificando outros poss veis desconfortos nessa pesquisa receio de exposi o receio de ser avaliada da cr tica etc IV Benef cios Entre os benef cios destaca se a possibilidade de aprofundar conhecimentos e contribuir para o aprimoramento de quest es que possibilitem a prote o social dos sujeitos envolvidos com o devido respeito a sua
164. as cotidianas constru das e reconstru das que elas v o aprendendo pois Nas sociedades ind genas essa aprendizagem visa propiciar crian a a apropria o de todos os conhecimentos de que necessitar em sua vida adulta Para uma crian a ou adolescente ind gena fazer parte de uma fam lia e portanto de uma unidade de produ o significa ser membro da sociedade FALEIROS FALEIROS 2007 p 65 173 A aprendizagem com os membros do grupo fortalece a crian a Kaingang no sentido de que os conhecimentos vivenciados em seu grupo a acompanham em sua vida adulta dentro e fora da aldeia Pereira 1998 descreve da seguinte forma a atividade de aprendizagem e a participa o da crian a com o artesanato Com aproximadamente 7 8 anos aprendem a tran ar pequenos cestos A m e av ou a tia monta a base do cesto e a menina come a a tran ar as fitas de taquara previamente preparadas raspadas e tingidas formando desenhos que se definem pela composi o das cores Com 10 12 anos s o capazes de tecer sozinhas cestos de tamanhos variados PEREIRA 1998 p 105 Por estarem familiarizadas com o trabalho dos pais as crian as n o encontram dificuldades em interagir com as atividades desempenhadas pelos adultos por m a crian a tamb m se integra gradativamente ao mundo adulto pela imita o e a participa o Aprende brincando faz miniaturas do mundo adulto COHN 2002 p 216 A crian a Kaingang age e
165. as crian as Como respeitar os processos produtivos e a atualiza o cultural desse povo Igual ao ato de coletar mat ria prima para a produ o do artesanato ind gena que leva o Kaingang para dentro da mata inicio este caminho de dissertar agora na trajet ria acad mica Estou de forma metaf rica entrando na mata para escolher buscar selecionar a melhor mat ria prima para a confec o deste trabalho acad mico O povo Kaingang tem como h bito tradicional o uso da taquara que chamam de v g para confeccionar parte de seus artesanatos Mas n o s isso retiram dela alimento subsist ncia cura e para isso embrenham se na mata correndo riscos alguns conhecidos outros n o machucam suas m os ferem a pele mas procuram por sua mat ria prima Semelhante a essa busca aqui fa o minhas trilhas na trajet ria em busca da mat ria prima para adensar o conhecimento e para isto adentro selvas desconhecidas arranhando meus pr conceitos machucando verdades constru das durante esses anos de trabalho O sentimento de solid o muitas vezes me acompanhou E esse sentimento se explica na medida em que n o encontrei entre os profissionais da rea do Servi o Social quem tenha experi ncia com esse povo ou mesmo com qualquer realidade ind gena Ainda poss vel afirmarmos que nos 30 anos do Programa de P s Gradua o em Servi o Social da PUCRS esta a primeira pesquisa sobre esse tema 3 O termo aqui
166. as esta possibilidade bastante concreta pois na cidade poss vel interagir mais com o mundo do branco com diferentes facilidades uma vez que nas cidades se concentram diversos setores p blicos institui es shoppings centers bancos possibilidades de com rcio de artesanato melhores oportunidades para acesso educa o e atendimento da sa de por exemplo Para Tommasino Os acampamentos de hoje s o uma reedi o hist rica e culturalmente atualizada de uma antiga tradi o Kaingang Os novos acampamentos provis rios surgem dentro do presente contexto que os obriga a sa rem das suas reservas para a obten o de v veres objetos de uso e servi os no territ rio modificado e dominado pelo branco Se antes ca avam e coletavam nas florestas hoje o fazem na cidade ou em bag ym m g na sua l ngua 1995b p 11 A cidade de S o Leopoldo compreendida para os Kaingang da Aldeia Por Fi como uma m m g ou seja uma cidade grande que lhes apresenta possibilidades de comercializa o devido a circula o tradicional onde nas falas dos ind genas comum o relato de que seus pais av s irm os circulavam por todo o Vale do Rio dos Sinos Historicamente realizavam acampamentos tempor rios nesta cidade local que possibilitava o livre tr nsito para o com rcio da produ o artesanal que era vendida tamb m em diversas cidades vizinhas COSTA GARLET 2007 p 127 O direito cidade
167. assifica es das terras ind genas e o procedimento para sua regulariza o Terras regularizadas s o as que j tiveram sua tramita o em processos administrativos levados a cabo pela FUNAI que v o desde os estudos iniciais de identifica o e delimita o dos territ rios passando pela sua declara o como terra ind gena demarca o f sica dos limites de seu per metro e o registro nos cart rios de registro de im veis em nome da Uni o pois terras ind genas s o bens da Uni o MAGALH ES 2005 p 183 As terras ind genas portanto de acordo com sua situa o jur dica s o classificadas nas seguintes categorias identificadas delimitadas declaradas demarcadas e registradas Os rg os governamentais por imposi o legal somente podem atuar nas terras que j tiveram algum reconhecimento como ind genas no caso as terras que j est o al m das fases de declara o Em fun o disto muitos povos ind genas ficam de fora dos censos e em consequ ncia das pol ticas p blicas No RS acompanhamos por mais de duas d cadas a organiza o da comunidade ind gena Kaingang da TI da Borboleta localizada nos munic pios de Salto do Jacu Jacuizinho e Campos Borges Mesmo ap s duas d cadas de luta por reconhecimento e por suas terras a comunidade ainda n o foi reconhecida pela FUNAI Ainda impera na FUNAI uma orienta o restritiva de povos ind genas que seriam aqueles que se mant m confinados nas suas terras f
168. assistem televis o compram no supermercado A realidade de vida mudou mudou para eles tamb m E apontam para uma realidade agora vivida num outro contexto social na conviv ncia permanente com os n o ind genas Na presente proposta de estudo pretende se problematizar a situa o de fam lias ind genas do povo Kaingang lotadas em acampamento urbano no munic pio de S o Leopoldo Nesse espa o urbano moram h aproximadamente nove anos um grupo de 21 fam lias cerca de 98 pessoas da etnia Kaingang sendo em sua maioria provenientes do assentamento Ind gena do munic pio de Nonoai As fam lias vivem em situa o prec ria sem saneamento b sico num pequeno lote urbano sem local adequado para a manuten o de sua cultura e viv ncias tradicionais Ocupam uma pequena rea de 2 04 hectares cedida pela Prefeitura Municipal e encontram no artesanato a nica fonte econ mica que lhes possibilita renda e meios de vida As condi es de vida nesse contexto ferem o que preconiza a Constitui o Federal que reconhece os direitos ind genas de manter sua organiza o social como na manuten o de seus costumes l nguas cren as e tradi es O com rcio do artesanato tem objetivos diversos al m de garantir alimentos vestu rios equipamentos diversos tem a importante fun o de garantir estrat gias de resist ncia cultural social e pol tica o que lhes tem permitido a manuten o de sua especificidade tnica Mesmo na c
169. aticadas pelas crian as nas ruas e sinaleiras nas cidades de S o Leopoldo e Novo Hamburgo E com isto n o queremos aqui dizer que estamos mascarando o trabalho infantil Estamos sim cuidando para n o interpretar a priori um termo que na sociedade envolvente at mesmo considerado crime pass vel de penalidade 158 Olhando essa realidade das crian as Kaingang muitos se perguntam que outras op es teriam as crian as Kaingang nesta contemporaneidade ap s tantas tristezas enfrentadas e suportadas pelo seu povo Certamente n o temos a pretens o de responder a esta pergunta Temos sim a tarefa de problematizar esta tem tica para que gestores p blicos sociedade envolvente entidades ONGs e tantos segmentos que trabalham com pol ticas sociais especialmente no atendimento da crian a Kaingang possam subsidiar se com este trabalho a fim de qualificar suas a es e compreens es acerca desta realidade contempor nea Neste mbito atrav s da tica que se pode desnaturalizar a barb rie da desigualdade as diferentes formas de exclus o e opress o e o contexto de lutas que se objetivam no cotidiano da vida social sem desconect las de um movimento que lhes constitutivo e constituinte rela es de domina o e oposi o portanto intimamente afetas s determina es da din mica estrutural conjuntural e da pr pria cotidianidade que se expressam como produ o reprodu o aliena o e resist ncia
170. c los escut los para que as pol ticas sociais sejam de fato o mais aproximada poss vel dos seus jeitos de viver e formas espec ficas de organiza o mantida na aldeia Como profissionais precisamos atuar para a garantia de direitos A aus ncia de pol tica p blica ou a exist ncia de pol ticas equivocadas onde em pleno s culo XXI ainda se pretende fazer com que os ind genas assimilem outra cultura n o 213 contemplam a especificidade das comunidades Kaingang Para tanto a capacita o qualifica o profissional dos diferentes gestores e rg o p blicos uma das evid ncias positivas propostas neste estudo uma vez que os Kaingang afirmam que eles n o entendem a gente e n o conhecem nossas leis e os gestores expressaram que n o estamos preparados para atend los Quais s o os pr conceitos que formamos E os Kaingang Ser que querem continuar sendo coadjuvantes em rela o garantia de seus direitos e acesso aos servi os p blicos At quando precisam curvar se assim como as hastes da taquareira que envergam se e retornam a sua posi o e em alguns momentos quase se quebram Tamb m eles devem se conscientizar da sua capacidade n o s o incapazes e podem modificar a situa o vivida na cidade podem emergir da sua situa o e ser protagonistas e n o coadjuvantes que esperam pol ticas sociais eficazes Certamente para os Kaingang sempre um desafio precisam buscar de volta a su
171. cada por constantes avan os e retrocessos Tanto o SUS como a politica nacional de aten o sa de dos povos ind genas s o um direito s o conquistas dos segmentos populares por m carregam diferentes concep es e interesses pol ticos e econ micos resultados do sistema capitalista mantido em nosso pa s onde o capital financeiro define quase tudo especialmente nesta rea da sa de com o poder dos planos de sa de e da ind stria e comercializa o de medicamentos Dentro desta realidade tornam se sempre mais dif ceis os avan os que garantam mais sa de bem estar f sico e mental melhores condi es de vida aos cidad os brasileiros Exemplo disto que em 2007 lideran as ind genas iniciaram mobiliza o nacional uma vez que o MS manifestou sua inten o de transferir os servi os de aten o sa de ind gena da FUNASA para outro rg o A articula o do movimento ind gena reuniu se com os DSEIs FUNASA e FUNAI a fim de elaborar manifestos ao Minist rio da Sa de ao Senado e Presid ncia da Rep blica opondo se proposta de cria o de uma nova secretaria espec fica ao atendimento das pol ticas de sa de proposta esta do ministro da sa de Jos Gomes Tempor o O presidente do Conselho Distrital de Sa de Ind gena do Mato Grosso do Sul expressou assim sua adequada discord ncia A gente est vendo isso com muita preocupa o porque avaliamos como um retrocesso na pol tica nacional de aten
172. cessos discursivos tem por objetivo atingir aprendizagem em forma de compreens o reconstru da no discurso conduzindo a uma comunica o do aprendido e desta forma assumindo se o pesquisador como sujeito hist rico capaz de participar na constitui o de novos discursos A elabora o e interpreta o dos sentidos da leitura provocam m ltiplos significados MORAES GALIAZZI 2007 p 3 O sistema de categorias constru do na an lise textual a base de novas teorias produzidas no processo Nesta l gica a pesquisadora foi produzindo textos parciais englobando as diferentes categorias que foram se organizando na estrutura o do texto como um todo O aprofundamento na leitura e a impregna o nos temas n o se d o de modo simples e linear A unitariza o constitui assim um processo interativo de progress o por aproxima es sucessivas onde a pr pria defini o da unidade de an lise sua amplitude e seus crit rios de constitui o s o definidos gradativamente MORAES GALIAZZI 2007 Assim o processo consiste em reler cuidadosamente os materiais com vistas a definir a unidade de an lise que tamb m pode ser denominada de unidade de registro ou unidade de significado 49 A unidade de registro a unidade de significa o a codificar e corresponde ao segmento do conte do a considerar como unidade de base visando categoriza o BARDIN 1979 p 98 Estas unidades podem ser constitu das por palavras
173. cidade a mesma coisa que viver l na reserva L na reserva se tu n o se virar pra ter seu alimento n o tem e aqui a mesma coisa Se tu n o se virar pra fazer os teus artesanatos n o tem S que aqui mais perto Tu vai ali e vende e l n o Em Nonoai n o l na aldeia se tu n o tem dinheiro pra pagar a passagem l dif cil conseguir pra pagar a passagem e aqui ainda a gente mora pertinho um do outro se diz vizinha tu me empresta uma passagem e se tem eles emprestam e a gente paga quando volta e assim aqui na cidade Chuva 2009 179 Segundo suas express es a cidade facilita os deslocamentos para a comercializa o do artesanato visto que n o precisa investir com passagens e na aus ncia do recurso um parente pr ximo auxilia O participante Fogo refor a que com o passar do tempo os passos foram emcompridando o que os fez deslocarem se para mais longe Comercializavam os artesanatos mais nos vizinhos brancos nas col nias depois foram encompridando os passos e sa am pr longe nas cidades grandes Fogo 2009 Nas express es seguintes os Kaingang refor am a circula o para as cidades pr ximas e esclarecem que as crian as acompanhavam sempre am junto e os que ficavam na TI eram cuidados por parentes pr ximos Quando eu tinha 7 anos eu j sa a com minha av fora da aldeia eu sempre sa a com ela Mesmo morando l na aldeia a gente sempre sa a pras cidades pr ve
174. ciplinares dos Kaingang Londrina Editora UEL 2000 375 p Algumas considera es acerca das exposi es proferidas pelos representantes dos povos ind genas no Simp sio As cidades e os Povos Ind genas mitologias e vis es In MOTA Lucio Tadeu org As cidades e os Povos Ind genas mitologias e vis es Maring EDUEM 2000b 47 p A hist ria dos Kaing ng da bacia do Tibagi uma sociedade J meridional em movimento Tese de Doutorado Universidade de S o Paulo 1995 346 p s pol ticas p blicas para os ndios no Paran Trabalho apresentado na Reuni o de Trabalho Cultura Corporal e Povos Ind genas do Paran Guarapuava PR Universidade Estadual do Centro Oeste CEDETEG Guarapuava De 02 a 04 de outubro de 2002 Mesa redonda Pol ticas p blicas em terras ind genas 8 p quest o do trabalho ind gena no Paran Palestra apresentada no evento A promo o da igualdade de oportunidade no trabalho promovido pelo Minist rio do Trabalho Organiza o Internacional do Trabalho em Maring PR no dia 07 de junho de 2002c 13 p Os acampamentos Kaingang na cidade de Londrina GT 9 Estudos Interdisciplinares dos G do Sul V Reuni o ABA Merco Sul Tramanda RS 1995b TRIVINOS Augusto N S Introdu o Pesquisa em Ci ncias Sociais a pesquisa qualitativa em Educa o S o Paulo Atlas 1987 175 p VALLA Victor Vincent Globaliza o a quest o social e
175. comunidade Esta compreens o da especificidade cultural dos Kaingang reconhece que o artesanato uma das atividades produtivas como uma forma de express o da cultura pois o artesanato confeccionado tramado e selecionado a partir de experi ncias que foram aprendidas e s o repassadas de gera o em gera o Estas atividades produtivas n o t m a concep o cl ssica do trabalho para o capitalismo pois n o est o calcadas na mais valia no lucro na explora o dos menos favorecidos economicamente na m utiliza o dos recursos naturais poss vel entender que mesmo que os Kaingang considerem as lidas com o artesanato um trabalho o seu trabalho ele difere da l gica dos f g e necess rio relembrar a complexidade da categoria trabalho que se acentua quando nos referimos a um grupo diferenciado outra cultura outra forma de pensar e agir TOMMASINO reitera que A economia ind gena se orienta em dire o oposta nossa a terra e os recursos naturais e sociais pertencem a todos e cada sociedade estabelece as formas e normas sociais de acesso a eles sendo condi o nica a pertin ncia ao grupo 2002c p 2 O trabalho para os Kaingang faz parte da vida deles pois realizado em conjunto e envolve todos os membros da fam lia desde muito cedo como observamos no depoimento abaixo A fam lia inteira trabalha por exemplo as crian as come am a trabalhar a partir dos 5 anos isso a organiza o dos
176. con mica direta onde o material produzido pelas fam lias n o feito em larga escala no sentido da produ o e estoque de produtos Confeccionam algumas pe as em cip e taquara cestos colares balaios bolas casinhas de passarinho tochas etc Fotos 13 e 14 da p gina seguinte e saem para a comercializa o imediata pelas ruas e cal adas em diferentes munic pios pr ximos O recurso advindo da venda est longe de suprir as necessidades do cotidiano No territ rio urbano as fam lias t m no artesanato ind gena a principal atividade produtiva para suprir a subsist ncia familiar Com esse peso e objetivo essa atividade n o estava inscrita na cultura tradicional Kaingang e se contrap e l gica capitalista do ac mulo pois n o serve para enriquecer e sim para sobreviver CHAGAS 2006 p 5 diferente da cultura da sociedade n o ind gena a qual se caracteriza pelo ac mulo consumo e concentra o de diferentes sup rfluos O artesanato para os Kaingang surge da necessidade de sobreviv ncia e pelo interesse dos f g por seus produtos O que produziam era para suas necessidades utilit rias para seus rituais Na atualidade para a comunidade Kaingang o com rcio 135 do artesanato tem dois objetivos principais na mesma medida que garante a obten o de alimentos vestu rios equipamentos diversos ele tamb m importante express o de resist ncia cultural social e pol tica e de preserva o de
177. cretaria Comit de tica em Pesquisa PUCRS PARECER N 201 2009 Us Registro CONEP 15252 Este n deve ser citado nas correspond ncias referentes a este projeto CAAE 0382 0 002 000 08 Processo n 25000 011815 2009 91 Projeto de Pesquisa Entre cestos e colares viv ncias de crian as Kaingang num espa o urbano Pesquisador Respons vel Maria Isabel Barros Bellini Institui o Faculdade de Servi o Social da Pontif cia Universidade Cat lica do Rio Grande do Sul PUC RS CEP de origem PUC RS Area Tem tica Especial Popula es ind genas Patrocinador n o h Sum rio geral do protocolo Um dos fen menos que vem chamando a aten o de estudiosos e de autoridades a urbaniza o de fam lias ind genas em dimens es consideradas fora do comum Estudar a presen a de ind genas residentes em centros urbanos ou nas cidades como mostra a realidade atual remete ao aprofundamento da rela o de exclus o social provocada por impactos culturais ao ongo da hist ria Os deslocamentos geogr ficos comuns a alguns povos ind genas e a localiza o em espa os urbanos rompem com tudo o que sempre se soube sobre esses sujeitos seja mito ou verdade Comunidades ind genas que viviam em ocas que sobreviviam nas matas que usavam lan as e pescavam com as m os deixaram de certa forma de existir pelo menos nos espa os das cidades Hoje os ind genas vivem em casas n o tradicionais a sua cultura
178. culturais e mesmo sociais os Kaingang continuam seguindo muitos de seus caminhos tradicionais numa l gica cultural pr pria Mant m a din mica da l ngua ind gena e quando conseguem procuram manter h bitos alimentares tradicionais e assim tamb m v o alimentando nutrindo e revitalizando mudan as s cio culturais Mesmo nas cidades passam de gera o para gera o suas pr ticas alimentares tradicionais Quando poss vel abastecem se da natureza para garantir alimentos tradicionais coletam ervas e saladas tradicionais como o caraguat o fu esp cie de couve o kumi mandioca brava o pyrf urtig o nas regi es pr ximas as Aldeias Na cidade alimentam se destas sempre que encontram tais riquezas nas matas encostas de rios ruas e bairros com terrenos desocupados Al m do mi fazem pratos enriquecidos como por exemplo o feij o com caraguat que chamam de r nr kar fynh Nas cidades devido a escassez desses alimentos encontrados na mata necessitam deslocar se para muito longe noutros bairros e at mesmo outros munic pios A coleta era parte importante da dieta Kaingang V rios tipos de cor s mel palmito pinh o tub rculos ra zes e plantas constitu am itens importantes Dados da FUNASA referente ano de 2006 http pib socioambiental org pt c quadro geral Acesso em 01 10 2009 125 da dieta ind gena Nas matas tamb m colhiam plantas medicinais TOMMASINO 2000 p 205 A
179. culturas Suas autonomias societ rias foram consideradas contr rias ao esp rito nacional e aos poucos suprimidas e em seu lugar foram lhes impostas outras estruturas culturais sociais pol ticas econ micas e jur dicas notadamente europ ias mas tamb m houve a miscigena o com africanos e rabes Nas concep es da poca os europeus se entendiam como povos civilizat rios Durozoi reflete que para o pensamento cl ssico civiliza o fundamentalmente o conjunto de fen menos religiosos intelectuais pol ticos etc e dos valores que a ele correspondem caracterizando as popula es que participam da heran a greco romana e do cristianismo A civiliza o ent o se op e de maneira muito etnoc ntrica ao selvagem ou barb rie DUROZOI 1990 p 84 Se a forma o do Brasil foi inventada encoberta sendo entendida como um exemplo da imposi o unificadora pretendida pelos europeus que aqui chegaram evidente que essa imposi o foi e feita com a destrui o de direitos Tal situa o n o pode ser mascarada e cabe a n s pesquisadores profissionais que discutem os direitos e a justi a que falamos em humanismo e direitos sociais assumirmos de maneira franca respons vel e comprometida esta delicada e urgente quest o No contato com a realidade ind gena percebe se a contradi o de uma sociedade que usa o discurso das leis da justi a e do desenvolvimento social para encobrir
180. cursos pra sobreviv ncia N o uma quest o da cultura n o um aspecto cultural um aspecto de sobreviv ncia aspecto do econ mico deles Eu acho que n o uma quest o que eles est o se valendo da cultura deles um aspecto que eles est o correndo atr s de dinheiro pra poder se alimentar Verde 2009 Os Kaingang entrevistados tem clareza dos riscos a que est o expostas suas crian as quando est o nas sinaleiras Afirmam que elas correm riscos de atropelamentos roubo de crian as ass dio sexual e a perman ncia das meninas na sinaleira provoca preocupa es na aldeia gua relata uma situa o vivida por sua filha de 11 anos Um dia minha filha saiu vender colar Me disse eu vou ir vender tamb m Da ela pegou os colares e foi vender Da parou um carro l Ela parou l pra vender e o rapaz parou e disse pra ela ah o que tu est fazendo a tu 197 n o acha melhor dar umas voltas comigo Ela disse N o Eu estou trabalhando ela disse Nunca mais ela quis ir vender gua 2009 z A inseguran a na cidade uma realidade para as fam lias Kaingang e o participante acima demonstrou que sua filha n o quis ir vender temendo outros ass dios As crian as e adolescentes em especial est o expostas a situa es de constrangimento pelas prec rias condi es de vida que as levam a mendigar alimentos e muitas delas meninas principalmente s o exploradas sexual
181. d cera e 35 2 3 A COMUNIDADEJESCOLHIDA at cistos perdas E Cia LS URTo Fa MEARSO Pad Td SE 35 2 4 CARACTERIZA O DO TIPO DE PESQUISA eeeeererereaeeeeeeeenerererenanea 36 2 5 IDENTIFICANDO OS PROTAGONISTAS cciiisiisieeeeeeeeeeeeeresasanenaaananeearesenanaa 40 2 6 PROCESSO DE CONSTRU O DAS FIBRAS eeteeeeeemeeessseeerererereressaaoa 43 2 7 PESQUISA NA ALDEIA ALGUMAS ANOTA ES ccicieresiieeeeeeeeerereresanas 52 3 DAS RA ZES S FOLHAS PELOS CAMINHOS DA HIST RIA 58 3 1 QUEM O IND GENA BRASILEIRO SUA HIST RIA E SEU PRESENTE 60 3 2 DIVERSIDADE CULTURAL AS PROFUNDAS RA ZES DO BRASIL c 75 3 2 1 Nas profundas ra zes a import ncia do coletivo 83 4 CONHECENDO AS TRAMAS A CULTURA DEFINE TRAN ADOS 88 4 1 O DESAFIO DE AFIRMAR DIREITOS DIFERENCIADOS iteesseeeeeeeeeees 89 4 2 PERANTE A LEI O DIREITO DE SER DIFERENTE eceeeeeeeeeeseseeeerrreeeenea 95 4 2 1 Educa o Ind gena inclus o e garantia de direitos 99 4 2 2 Pol tica Nacional de Aten o Sa de dos Povos Ind genas 104 4 2 3 A terra como elemento essencial de vida ss 112 5 OLHARES E COLARES ATIVIDADES PRODUTIVAS E A CRIAN A KAINGANG FRAGMENTOS DAS RELA ES URBANAS
182. da de artesanato faz parte do universo Kaingang desde a inf ncia e a afirma o do informante gua garante que o artesanato da cultura de seu povo e nos informa seu significado para eles O seguinte coment rio aborda as estrat gias que um Kaingang utiliza para n o passar fome o que demonstra a independ ncia adquirida desde crian a O ndio pode estar num lugar dif cil Est dif cil para arrumar uma comidinha pra comer Mas se ele tiver uma faquinha boa junto se ele achar um mato ele entra ali no mato pega os materiais ele pode at fazer um foguinho na beira da estrada Mas se ele faz o balaio dele ele nunca se aperta Agua 2009 grifo nosso Ao descrever esta possibilidade d nfase ao nunca o que denotou a valoriza o da sua cultura em rela o ao seu trabalho que desde crian a atrav s de sua fam lia e grupo tnico o qualificou como artes o o que garantiu sua sobreviv ncia Para gua um Kaingang sabendo fazer artesanato nunca se aperta ou seja n o passar fome a sua arte o protege e lhe d condi es de enfrentar o seu cotidiano pois com a produ o de um balaio poder vend lo ou troc lo imediatamente e descreve como isto poss vel Ele apronta um balainho que faz rapidinho ali sentadinho na sombra da rvore Faz um bem caprichado e vai andando na estrada Caminha um pouco e se tem uma casa l na frente ele oferece l e vende ou troca Da compra ou troc
183. da social que permita vislumbrar possibilidades de interfer ncia nos processos sociais I AMAMOTO 2007 p 273 59 Ao iniciarmos esta caminhada ou trilhas como preferimos dizer refletimos sobre como denominar o terceiro cap tulo O t tulo definido aqui pretende refletir sobre o nosso cor ou seja o alimento desta pesquisa para entender como as atividades produtivas e a crian a Kaingang se configuram na sociedade contempor nea apresentando as transforma es da hist ria dos povos ind genas no Brasil do ano de 1500 at os dias atuais Normalmente vamos utilizar neste trabalho o termo povos ind genas quando designarmos esses agrupamentos humanos Mas tamb m se utilizam as designa es comunidades ind genas sociedades ind genas na es ind genas ou somente ind genas ou ndios Primeiro porque assim que eles se entendem se auto definem e isto lhes est garantido no texto da Constitui o Federal CF e na Conven o 169 da Organiza o Internacional do Trabalho OIT Conven o sobre Povos Ind genas e Tribais Segundo porque de fato o conceito jur dico de povo ou na o a exata express o do que eles s o Dallari conclui que o termo na o se aplica a uma comunidade de base hist rico cultural pertencendo a ela em regra os que nascem num certo ambiente cultural feito de tradi es e costumes geralmente expresso numa l ngua comum tendo um conceito id ntico de vida e dinamizada pelas
184. dade ind gena ou n o fruto de uma determinada trajet ria hist rica nica pr pria e as situa es conjunturais e hist ricas jamais se repetem n o h duas sociedades iguais Cada sociedade tamb m desenvolve respostas pr prias na sua estrutura o e estas s o respostas suficientes que completam suas necessidades e n o poss vel copiar se modelos de um lugar e tempo para z outros Assim afirmamos que cada sociedade cada cultura independente 94 aut noma e auto suficiente sem jamais ser inferior ou superior a outra A vis o de superioridade portanto etnoc ntrica e baseada em premissas falsas e preconceituosas Para Aranha os direitos humanos t m sua import ncia hist rica de sua afirma o quando poss vel introduzir no direito um novo fundamento racionalmente constru do qual seja a dignidade ao inv s da domina o ARANHA 2008 p 14 As comunidades ind genas a maioria vivendo em espa os geogr ficos reduzidos ou ainda morando nas periferias das cidades necessitam avan ar nas lutas para que a dignidade de seu povo possa efetivar se no sentido de sentirem se inclu dos nos servi os p blicos existentes Decorre da uma dupla exclus o a social e a cultural Pelo fato dos servi os p blicos n o estarem aparelhados para isto fam lias ind genas muitas vezes sequer s o entendidas por esses agentes p blicos por exemplo e portanto n o devidamente atendidas E assim acabam
185. dades de vida europ ias claro Aqui a Antropologia tem uma defini o interessante para mostrar a vis o que as pessoas t m sobre o outro sobre aquele indiv duo e aquela situa o que causam estranheza e que por 3 Para contemplar linguagem inclusiva tentaremos utilizar ao longo deste estudo nomenclaturas como pessoas ser humano e indiv duo para fazer jus quest o de g nero ao inv s de utilizarmos a nfase masculina como por exemplo o homem No entanto em algumas cita es fidedignas isto ser inevit vel tendo em vista a utiliza o do assento masculino como a usada por Marx entre outros 75 ser diversa do que conhecida e aceita considerada inferior Este fen meno denominado de etnocentrismo Laraia define etnocentrismo da seguinte forma O fato de que o homem v o mundo atrav s de sua cultura tem como conseq ncia a propens o em considerar o seu modo de vida como o mais correto e o mais natural Tal tend ncia denominada etnocentrismo respons vel em seus casos extremos pela ocorr ncia de numerosos conflitos sociais LARAIA 2003 p 72 Refletindo a respeito das atitudes dos europeus que aqui aportaram entendemos que foram etnoc ntricas pois enxergavam a si pr prios como os corretos no modo de nascer vestir se alimentar se trabalhar quanto aos casamentos e em rela o religiosidade ind gena Etnocentrismo ent o uma maneira que o ser
186. de Kaingang e a partir 1 dela como e quais s o as i AESA CR Eee ENE E aaa a 1 atividades produtivas realizadas 1 1 Analisar a concep o de trabalho pelas crian as ind genas l o i em rela o as atividades E E E ESC N N A q produtivas e a sustentabilidade na Entrevistas I us me pe aa 1 l I sociedade Kaingang com Ind genas e Que valores est o associados ao produtivas realizadas pelas crian as i i L estores i 4 EE E ARRAS T i 3 i r PE EN EEE E EE q Vo E blicos i mundo Kaingang tendo em vistaa 1 l i E i A o Identificar que entraves existem na 1 l i concep o das atividades T 1 efetiva o dos direitos das crian as i produtivas ii i considerando a organiza o social gt LEE SS a E Ls ind gena preememe E a T ana Ra a papa a A i ES EO e Dep E RR aa aa E i Ed i Como construir conhecimento para J a a vi eo genase garantir a prote o social das La Analisar a rela o entre produ o e gestores 1 crian as ind genas resguardando nd A aik I a comercializa o pelas crian as p blicos oa tura BEA sua cultura li I de produtos que possibilitam a Do Se RE i i i i sustentabilidade das fam lias na PARTE pi o pps pp SN Ap E l 1 comunidade ind gena i i L ud ci e ri I STEFE TRR a SS e RAR I l EPER S A AREEN E EE E E TE Como o poder local MPF CT E a l l l Analisar que valores est o 1 Entrevistas ERR ne D
187. de Porto Alegre Freitas 2005 reflete que os ecossistemas de florestas e campos margeados pelos Kaingang n o se restringem ao limite das aldeias ou reas de moradia onde a circula o que perfazem abrange praticamente toda a bacia do Lago Gua ba Desta forma entendemos que o territ rio organizado atrav s das rela es entre as pessoas que se utilizam dele e orientam se atrav s das rela es sociais A vida na cidade no entanto n o se restringe as experi ncias do cotidiano que transcorrem no mbito do bairro A circula o em dire o e atrav s de territ rios mais amplos se d por meio de trajetos percursos determinados por regras de compatibilidade que abrem o particularismo do peda o a novas experi ncias situadas fora das fronteiras daquele espa o conhecido onde se est protegido por regras claras de pertencimento MAGNANI 1998 p 69 Um fator preocupante em rela o subsist ncia dos Kaingang de S o Leopoldo em rela o coleta de mat ria prima para o artesanato sementes taquaras cip s cada vez mais dif cil de encontrarem pois estes recursos naturais esgotaram se com o avan o das cidades Mesmo assim o trabalho com o artesanato vem se desenvolvendo no sentido de encontrar atividades de subsist ncia econ mica e mesmo com a escassez de mat ria prima d o continuidade s suas pr ticas tradicionais a partir do artesanato A FUNAI sempre somente reconheceu os ind genas qu
188. de classe arraigados na estrutura de nossas institui es valores etnoc ntricos tamb m presentes nos rg os de administra o p blica SOUZA 2008 p 14 Ainda hoje a sociedade brasileira enxerga os ind genas como primitivos incapazes selvagens Historicamente os ndios t m sido objeto de m ltiplas imagens e conceitua es por parte dos n o ndios e em consequ ncia dos pr prios ndios marcadas profundamente por preconceitos e ignor ncia BANIWA 2006 p 34 Os ind genas entrevistados relatam como sentem a discrimina o o ndio n o tem aonde achar emprego gua 2009 como eu sempre falei o ndio discriminado o ndio e o negro discriminado e da o trabalho nosso o artesanato Vento 2009 Por causa da discrimina o o ndio n o consegue emprego na cidade porque a gente muito discriminado Vento 2009 E sem acesso a outras formas de manuten o resta lhes a venda do artesanato Esse artesanato vendido pelas crian as pois a mesma sociedade que discrimina a perman ncia das crian as na rua vendendo a sociedade que n o compra o artesanato vendido pelo ind gena adulto ou idoso mas alimenta a situa o oferecendo esmolas Algumas pessoas chamam a gente de mendigos Acham que a gente mendigo Ar 2009 Aqui na cidade complicado pr n s por causa da discrimina o que sofremos Os f g n o entendem e n o querem a gente aqui Fogo 2009 185
189. deais e viv ncias de cada sociedade Esta educa o designa a maneira pela qual os membros de uma dada sociedade socialzam suas gera es objetivando a continuidade de valores e institui es 102 consideradas fundamentais J a educa o escolar ind gena a oferta de educa o que o Estado deve fazer aos ndios mas respeitando valorizando e utilizando se de suas formas pr prias e espec ficas de educa o Curr culos e manuais did ticos que silenciam e chegam at a omitir a condi o de sujeitos hist ricos s popula es negras e amer ndias t m contribu do para elevar os ndices de evas o e repet ncia de crian as provenientes dos estratos sociais mais pobres A grande maioria adentra nos quadros escolares e sai precocemente sem concluir seus estudos no ensino fundamental por n o se identificarem com uma escola moldada ainda nos padr es euroc ntricos que n o valoriza a diversidade tnico cultural de nossa forma o FERNANDES 2005 p 380 381 A Lei de Diretrizes e Bases da Educa o Nacional em seus artigos 78 e 79 estabelece que compete ao Estado oferecer aos ndios uma educa o escolar bil ngue e intercultural ou seja simultaneamente em portugu s e nas l nguas ind genas ARA JO 2006 p 67 importante n o perdermos de vista a quest o das especificidades que cada povo ind gena possui e compreender que est o reconhecidos os direitos garantidos na CF 88 como por exemplo Art 215
190. do Conselho Indigenista Mission rio CIMI rg o anexo Confer ncia Nacional dos Bispos do Brasil CNBB 42 ndios da etnia Guarani Kaiow foram assassinados em 2008 No ano passado tamb m ocorreram 34 suic dios entre esse povo Sem terra n o tem muito sentido a vida disse Anast cio Peralta l der ind gena de Mato Grosso do Sul Para Peralta h uma pol tica de exterm nio contra os ind genas que n o querem viver em favela ou em reserva com super concentra o populacional para os padr es dos Guarani Kaiow A partir da d cada de 1970 iniciou em todo mundo um movimento internacional por parte dos pr prios povos ind genas dos v rios continentes No Brasil esse movimento foi conhecido como as Assembl ias dos Caciques Participamos da organiza o de algumas dessas assembl ias nas reas ind genas de Toldo Chimbangue em Santa Catarina de Ira no Rio Grande do Sul e num grande encontro nacional de caciques e outras lideran as ind genas realizado em Bras lia em 1989 do qual participamos com as lideran as do RS Todos esses encontros tiveram como ponto de motiva o e inspira o a grande assembl ia do Conselho Mundial dos Povos Ind genas que ocorreu em Port Alberni no Canad em 1975 Esse hist rico e decisivo encontro que desencadeou pela primeira vez na hist ria um movimento ind gena internacionalista produziu uma eloquente e expressiva Declara o Solene dos Povos Ind genas
191. do Mundo N s povos ind genas do mundo unidos numa grande assembl ia de homens s bios declaramos a todas as na es quando a terra m e era nosso alimento quando a noite escura formava nosso teto quando o c u e a lua eram nossos pais quando todos ramos irm os e irm s quando nossos caciques e anci os eram grandes l deres quando a justi a dirigia a lei e sua execu o a outras civiliza es chegaram Com fome de sangue de ouro de terra e de todas as riquezas trazendo numa m o a cruz e na outra a espada sem conhecer ou querer aprender os costumes de nossos 69 povos nos classificaram abaixo dos animais roubaram nossas terras e nos levaram para longe delas transformando em escravos os filhos do sol Entretanto n o puderam nos eliminar nem nos fazer esquecer o que somos porque somos a cultura da terra e do c u somos de uma ascend ncia milenar e somos milh es e mesmo que nosso universo inteiro seja destru do n s viveremos por mais tempo que o imp rio da morte Por outro lado para os portugueses franceses e holandeses no Brasil e espanh is na Am rica Espanhola e suas leis tamb m n o era permitido fazer o que fizeram Mas a gan ncia pelas riquezas do solo o interesse pelas terras consideradas um para so tamanha beleza e tranquilidade cegou os europeus que aqui chegaram e os fez praticar atrocidades com os ind genas que aqui estavam A causa pela qual os espanh is destru ram tal in
192. do Verde gestor p blico federal afirma que a sociedade local poderia facilita as rela es culturais com os ind genas e defende os Kaingang afirmando que eles s o um grupo bastante minorit rio e est o pressionados dentro de uma cidade onde eles est o deve ter uns 220 ou 250 mil habitantes e eles devem ser no m ximo uma centena Eu acho que eles nunca que eu me lembre assim desde que estou l que eles nunca fizeram nada para agredir a sociedade local ficaram sempre na deles Verde 2009 E segue refor ando os Kaingang de S o Leopoldo em rela o sociedade envolvente O m ximo que eles fizeram foi a busca da sobreviv ncia sem nenhuma tentativa de arrua a ou qualquer atividade delituosa que pudesse estragar a imagem deles perante a comunidade deles nem em SL nem em NH Verde 2009 A situa o econ mica na opini o do gestor p blico deve ser contemplada da seguinte forma acho que temos que relativizar a quest o do trabalho das crian as e das crian as pedindo nos sem foros que eu acho que tem que ser contextualizada com a quest o econ mica que tem que ser vinculada a ela Verde 2009 Na fala do entrevistado Marrom gestor p blico municipal evidencia que as pr ticas de esmola realizadas pela comunidade local v m estimulando a presen a das crian as na sinaleira muitas s o as dificuldades para o convencimento de fam lias e crian as ind genas e
193. do dentro dos gomos da taquara S o eles os cor s os pr prios roedores das taquaras pois se alimentam dela Roem tanto que passam de um gomo para outro Roem os duros elos que fazem a uni o de um entren ao outro Ficam impressionados com a vitalidade do bichinho que se defende assim sozinho Ele cresce r i e sai pelos caminhos constru dos por ele pr prio no interior da taquara Tem seu caminho interrompido pelo pica pau Se isto acontece os Kaingang ficam sem saborear seu disputado alimento Eles n o reclamam dividem com os p ssaros e at com os ratos que tamb m alimentam se dela e na taquareira outros p ssaros fazem ninhos colocam ovos criam suas fam lias Da taquara os Kaingang tiram as sementes fazem rem dios usam suas fibras para fazer uma armadilha p r e usam na cotidianamente para seus artesanatos A raspa da taquara que chamam de kuk n utilizam para rem dios cura a tosse comprida mas o mais importante dizem eles o que est dentro o bichinho Dizem que parece um bichinho mole pregui oso mas n o assim ele tem vitaminas natural puro limpo sem veneno Comem crus ou fritos aproveitam a gordura comem puros ou com farinha torrada 8 Ave de pequeno porte fam lia Picidade No Brasil existem aproximadamente 42 esp cies de cores variadas Alimentam se de larvas e insetos que est o dentro dos troncos das rvores Sua especialidade para ca ar os insetos acontece gra
194. do do exterm nio ou total submiss o dos ind genas N o havia como resistir ao poder das armas pois o arco e flecha n o venciam a p lvora trazida pelos colonizadores Essa realidade de uma fila de cad veres estendidos lado a lado por 6 Km de praia 1 l gua um resumo da a o de somente um governante Mem de S e num nico local o litoral do atual Estado do Esp rito Santo Estima se que ele matou 30 mil ndios e arrasou cerca de 300 aldeias somente entre os Tupinikim sem contar o n mero de escravos feitos Atualmente os Tupinikim ainda existem em pequenas tribos aldeadas naquele Estado contudo seu nome ficou gravado nos mitos brasileiros e ainda de forma pejorativa Quando se quer menosprezar alguma atitude comum dizer se que isto coisa de tupinikim Um pensamento tupinikim seria um pensamento pequeno Os brasileiros que n o agem de acordo com as normas do mercado que n o t m pensamentos empreendedores s o designados at mesmo pela m dia de tupinikins Desse movimento litor neo surgem os primeiros brasileiros diferentes dos ndios e dos europeus os filhos de ningu m como os chama Darcy Ribeiro os sertanejos no Nordeste os mamelucos e cai aras no Rio e S o Paulo S o os filhos de escravas ndias e negras Esses parias que n o se identificavam com a etnia materna e que eram recha ados pela paterna RIBEIRO 1988 p 10 constitu am uma terceira camada de gente nem na
195. do em sua maioria como captadoras de recursos para custear a sustentabilidade dos movimentos sociais MONTANO 2002 Nesse per odo ent o para os ind genas e suas ONGs pr prias ou apoiadoras foi necess rio garantirem se outros direitos o de serem diferentes com dignidade espec ficos pr prios nicos e isto quase que por si s garantiria sua sobreviv ncia Ser reconhecido como diferente espec fico viver de acordo com essas especificidades portanto o grande avan o que os ind genas conquistaram nesse per odo Portanto as viola es dos direitos humanos dos povos ind genas n o podem ser somente olhadas do ponto de vista da falta de acesso sa de educa o habita o da garantia dos direitos das crian as e dos jovens ind genas Esses direitos gen ricos eles efetivamente possuem por serem cidad os brasileiros Os mecanismos de efetiva o e vigil ncia de garantia desses direitos que a sociedade em geral possui tamb m devem ser estendidos aos povos ind genas Mas para bem mais do que isto eles t m o direito a terem todos esses direitos garantidos mas tudo de acordo com seus usos e costumes com suas culturas 97 No processo hist rico de constru o do arcabou o dos direitos humanos que temos atualmente entendemos que os direitos que traduzem mais propriamente a condi o dos povos ind genas o direito diferencia o e em consequ ncia especificidade cultural Abordaremos na sequ
196. e aceita o permanentes Com os ind genas poss vel afirmar que em muitos momentos eles respondem aquilo que o pesquisador quer ouvir Isto talvez ocorra pelo fato de que pesquisadores se dirigem a eles e pesquisam a gente fazem entrevistas escrevem 44 sobre n s e a gente acaba n o sabendo o que escreveram sobre nossa cultura como afirmou uma l der em S o Leopoldo durante nossa coleta Desta forma Martinelli 1999 observa que a devolu o dos resultados aos sujeitos que dela participam deve ser garantida exatamente por ser um exerc cio pol tico porque trabalha com os significados de viv ncias sobre o modo de vida das pessoas e sobre os significados que atribuem s suas experi ncias sociais Tal rela o com a pesquisa social uma constru o coletiva entre pesquisados e pesquisador e orientadas por Martinelli indispens vel que tenhamos claro que se n o conhecermos essa popula o que se n o nos colocarmos escuta desse outro n o teremos como construir o coletivo MARTINELLI 1999 p 13 Assim entendemos que a constru o coletiva e a dimens o pol tica da pesquisa partem da realidade dos sujeitos e a eles devem retornar de forma cr tica e criativa As entrevistas aconteceram na aldeia respeitando a rotina no cotidiano das fam lias e eles pr prios indicavam os lugares onde sentar amos se no p tio ao sol a sombra na cozinha pr ximos ao fogo de ch o todos estes lugares de
197. e e inclus o A diversidade social e cultural a pluralidade tnica e racial s o hoje o desafio daqueles que n o querem ser apenas pessoas que ensinam mas querem tamb m educar Nesta busca pautam se por princ pios mais amplos e consequentes e tentam apoiar se nas leis que regulam e orientam o processo educativo GUSMAO 2008 p 101 De um lado a comunidade ind gena com sua especificidade cultural e seus direitos garantidos na CF 88 e de outro a sociedade dita organizada regida e normatizada por suas leis valores e preconceitos A partir de 1988 n o se discute mais se eles t m ou n o t m direito esses direitos especiais diferentes do restante da sociedade nacional pois isto j est garantido na lei Sabemos que em nosso pa s a conquista de leis nem sempre garantia de enfrentamento supera o e resolu o de problemas O que talvez dev ssemos pensar que import ncia tem a educa o ind gena no Brasil um pa s multicultural Por que implantar um sistema diferenciado para um p blico t o reduzido e que nem sabem falar a l ngua portuguesa Ou ainda por que atendimento diferenciado se existem tantas crian as n o ind genas sem escola sem acesso a Educa o Talvez ainda dev ssemos refletir se a institui o escola tradicional abordada no inicio modificou mesmo seu agir nesse per odo recente p s Constitui o de 1988 Entendemos que o desafio persiste e que s o os pr prios povos ind genas que a
198. e eles fazem a venda l na sinaleira Chuva 2009 A comunica o na l ngua portuguesa fundamental para o di logo com os f g e percebemos que a crian a n o vai para a rua sem a seguran a do di logo Na not cia veiculada no ano de 2002 no jornal da cidade de S o Leopoldo refor a que um adulto sempre fica de lado observando 189 A grande quantidade de ndios basicamente crian as impressionante nas ruas centrais de S o Leopoldo noite a apari o dos pequenos ndios maior Eles param nas esquinas meio fios e sinaleiras pedindo troco a quem passa aos motoristas ou vendendo artesanato sempre sob a fiscaliza o de um adulto da tribo que fica de lado enquanto os menores trabalham Jornal VS S o Leopoldo 12 01 02 Esta uma das not cias veiculadas no Jornal VS na cidade de S o Leopoldo A imprensa local divulga a realidade no munic pio manifestando que a presen a das crian as ind genas na noite maior que no dia As den ncias no CT s o comuns nos dizem vi os pequeninhos vendendo com aquela m e com o nen no colo vendendo usando a crian a pra vender o produto Cinza 2009 Em rela o s leis num pa s multicultural como o Brasil as leis para os ind genas merecem aten o A nossa Constitui o de 88 assegurou um pa s uma P tria pluralista onde se afirma a possibilidade o exerc cio de v rias cren as e da conviv ncia pac fica de varias cultura
199. e pense em dignidade e cidadania como pressuposto b sico garantia de acessos a direitos 96 Nas d cadas de 70 e 80 do S culo passado os movimentos sociais no Brasil desenvolveram atividades dirigidas para ou contra o Estado muitas vezes apoiadas por um tipo de organiza o que particularmente nos contextos ditatoriais surgia e se expandia de forma progressista Nessas d cadas as conhecidas ONGs surgem vinculadas aos movimentos sociais com articula o participa o reivindica o e luta de movimentos diversos As ONGs v m assumindo o papel de protagonistas na execu o das pol ticas sociais e isso se intensifica com a ades o ao modelo neoliberal implementado no Brasil a partir da d cada de 1990 As ONGs Come am a ganhar mais credibilidade do que os movimentos sociais uma vez que elas n o representam uma amea a mas sim uma contribui o para o crescimento econ mico No Brasil sua expans o come ou a partir da d cada de 1970 quando florescem os chamados novos movimentos sociais movimentos de mulheres negros ndios homossexuais etc e juntamente com eles v rias ONGs s o criadas para atuar em conjunto com os movimentos sociais Nessa poca se estabelece uma rela o de co participa o entre ONGs e movimentos sociais onde as a es coletivas buscam solu es para os problemas localizados Nesse contexto dos anos 70 as ONGs assumem um papel articulador ao lado dos movimentos sociais se colocan
200. e residem em reas demarcadas A nega o por parte da autarquia em rela o ao reconhecimento de grupos ind genas que moram fora das Tis nos centros urbanos ainda um fato 141 concreto apesar de algumas mudan as recentes Alguns avan os v m surgindo como a not cia que veiculou recentemente na imprensa em rela o ao reconhecimento dos Kaingang que residem em Porto Alegre e Regi o Metropolitana na qual vemos que a Justi a Federal acolheu pedido do MPF RS para que os ind genas que residem nos centros urbanos sejam reconhecidos como segurados especiais junto ao INSS e FUNAI site Minist rio P blico Federal O MPF exige que a FUNAI forne a a certid o de ind gena artes o para os ind genas urbanos uma vez que nas cidades as comunidades sobrevivem da venda do artesanato elaborado com mat ria prima proveniente de extrativismo vegetal Na mesma a o civil p blica o MPF obteve a condena o do INSS a expedir uma instru o normativa que contemple como segurado especial o ndio artes o extrativista que desenvolve a sua atividade em regime de economia familiar independentemente do local onde reside Todos os ndios t m o direito morando em suas terras ou fora delas praticando atividade em meio rural ou atividade de artesanato em meio urbano de verem se reconhecidos pelo rg o previdenci rio e pelo rg o indigenista como segurados especiais visto que a Constitui o n o admite tal discrimina o ent
201. e social e mestranda Marinez Garlet orientanda da Prof Dr Maria Isabel Barros Bellini vinculadas ao Programa de P s Gradua o da PUCRS Faculdade de Servi o Social utilizem as fotos em sua Disserta o de Mestrado disserta o esta intitulada Entre cestos e colares far is e parabrisas crian as Kaingang em meio urbano Marinez trabalhou no COMIN e por muitos anos esteve atuante em nossa comunidade e pessoa id nea Assim autorizamos que divulgue as Fotos de N meros 1 3 4 5 6 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 e 19 no corpo de seu estudo e tamb m as Fotos de N meros 1 a 30 em seus anexos Sem mais para o momento Aldeia Por Fi S o Leopoldo 09 de fevereiro de 2010 flaco de Leto env OZZL IO pe o E ia A Frotanoa Brum Po e A Jdemin Pdea frefjoani Bur aye Assinaturas 248 AP NDICE FOLHA DE ROSTO CONEP PARA PESQUISA ENVOLVENDO SERES HUMANOS FR N 23 29 57 DATA 21 11 08 MINIST RIO DA SA DE Conselho Nacional de Sa de Comiss o Nacional de tica em Pesquisa CONEP FOLHA DE ROSTO PARA PESQUISA ENVOLVENDO SERES HUMANOS FR 232957 Projeto de Pesquisa Entre cestos e colares viv ncias de crian as kaingang num espa rea de Conhecimento 00 Ci ncia iai rea s Tem tica s Especial s Popula es Ind genas Unitermos crian a trabalho diversidade cultural atividade laboral interface cultural a D e 2 gt g a o o o S S z6 8
202. e trabalhadora ANTUNES 2005b no per odo compreendido entre o final do S culo XX e limiar do S culo XXI vemos que estas v m sofrendo grandes 143 transforma es socioecon micas Transforma es estas que atingem diretamente a classe trabalhadora que passa a vivenciar o chamado desemprego estrutural somado a condi es e rela es de trabalho precarizadas O emprego sempre foi prec rio mas essa precariza o se acentua nesse per odo num mercado de trabalho altamente tecnificado tecnol gico Nesse cen rio de desemprego estrutural uma contradi o que muitas empresas que empregam tecnologias avan adas n o conseguem completar sua for a de trabalho por falta de m o de obra qualificada de fato uma contradi o mas ao mesmo tempo ela demonstra o peso que a qualifica o tem na manuten o do emprego Mesmo para o trabalhador urbano h dificuldades de manter se no emprego pois a evolu o tecnol gica exige constante aperfei oamento Tamb m nesse cen rio vemos os Kaingang na sua luta di ria pela sobreviv ncia trabalhando incessantemente mesmo que sua qualifica o nesse campo do trabalho e de gera o de renda n o tenha quase nada a ver com um mundo t o t cnico e especializado Frente esta realidade do mundo do trabalho os ind genas tamb m s o afetados pois a par de possu rem caracter sticas e qualifica es pr prias e espec ficas como l ngua cultura h bitos costumes n o possuem a qua
203. e um aterro sanit rio oferecia riscos devido o grande fluxo de ve culos e pela exposi o a uma rea de risco por vizinhan a com hist rico de uso de drogas e viol ncia tr fico assaltos furtos Em 2005 iniciou se um longo processo de debates com as lideran as ind genas MPF FUNAI rg os do Estado e o poder p blico municipal a fim de ser localizada outra rea que oferecesse melhores condi es de moradia Atrav s dos debates e di logos foi poss vel a destina o de rea para assentamento definitivo o que acabou acontecendo no ano de 2008 Atualmente residem em uma rea de 2 04 hectares Anexo B na estrada do Quilombo Bairro Feitoria Seller A pequena rea foi cedida pela Prefeitura Municipal distando cerca de 6 quil metros do centro urbano A partir da passam a organizar se de forma diferenciada em um pequeno espa o de terra e segundo Koga a no o de territ rio se constr i a partir da rela o entre o territ rio e as pessoas que dele se utilizam 20083 p 35 A comunidade hoje composta por 35 fam lias cerca de 120 pessoas uma lideran a composta por cacique vice cacique conselheiro l der espiritual agente ind gena de sa de Possuem uma escola ind gena e dois professores bil ngues As Iniciamos nosso trabalho no COMIN em 1994 e as fam lias Kaingang j estavam na cidade de S o Leopoldo Os l deres de hoje contam que historicamente acampavam nesta cidade mas em 19
204. ecili Surjus Meninas e Meninos Kaing ng o processo de socializa o Londrina Editora UEL 1998 PEREIRA Potyara A P Necessidades Humanas subs dios cr tica dos m nimos sociais 5 Ed S o Paulo Cortez 2008 215 p PRATES Jane C Possibilidades de media o entre a teoria marxiana e o trabalho do assistente social 2003 251p Tese de Doutorado em Servi o Social POLANYI Karl A grande transforma o as origens da nossa poca 5 Edi o Editora Campus Rio de Janeiro 2000 O Planejamento da Pesquisa Revista Temporalis Porto Alegre ABEPSS n 7 2003 PORTAL KAINGANG Apresenta o Dispon vel em lt http www portalkaingang org index_povo_1 htm gt Acesso em 03 Dez 2009 PORTAL S O FRANCISCO Apresenta o Dispon vel em lt http www portalsaofrancisco com br alfa primeiro reinado periodo colonial php gt Acesso em 27 Dez 2009 PREZIA Benedito HOORNAERT Eduardo Esta terra tinha dono 3 ed S o Paulo FTD 1992 184 p SEVERINO Antonio Joaquim Metodologia do trabalho cient fico S o Paulo SP Cortez 1975 21 ed 2000 SANTOS Ricardo V COIMBRA Carlos E A orgs Sa de e Povos Ind genas Funda o Osvado Cruz Rio de Janeiro Editora Fiocruz 1995 SILVA Aracy Lopes da GRUPIONI Luis Donisete Benzi A Tem tica Ind gena na Escola novos subs dios para professores de 1 e 2 graus Bras lia MEC MARI UNESCO 1985 ndios S rie Ponto por Ponto Ed t
205. ecisava gastar o que demonstra que n o encontra na cidade seus alimentos tradicionais e sente se atingido em rela o escassez dos recursos alimentares advindos da natureza As lembran as falam de um tempo que n o existe e das mudan as que ocorreram para os Kaingang pois antes alimentavam se na natureza e agora em meio urbano compram os produtos e n o podem ensinar aos filhos como colher da mata os alimentos necess rios a sua subsist ncia Em sua express o o participante Terra traz para o presente o que lhe foi ensinado hoje eu passo pros meus filhos em palavra em hist ria agora Eu passo sempre pros meus filhos em palavra em hist ria o que ainda existe o que n s fizemos o que a gente faz sempre falei sempre conto pra eles pra que eles n o esque am Terra 2009 Para que os filhos n o se esque am da cultura de seu povo contam hist rias passo sempre em palavra em hist ria evidenciando principalmente que atrav s da oralidade que essas culturas resistem Neste cap tulo apresentamos a an lise dos dados tendo como evid ncias as categorias apresentadas nos quadros tr s e quatro do cap tulo 2 Ressaltamos que as falas dos gestores p blicos Verde Marrom e Cinza n o estar o em it lico optamos por inserir it lico apenas nas falas dos Kaingang Vento Chuva Ar gua Fogo Terra por entendermos que desta forma facilita a leitura e identifica o das express
206. eger as terras ind genas mas tamb m o de inserir trabalhadores nessas terras para que esses ensinassem os of cios aos ind genas Ou seja protegiam se as terras e os indiv duos mas se destru a a cultura Somente portanto com a CF de 1988 que passamos ter uma pol tica mais efetiva e dirigida por par metros cient ficos de demarca o dos territ rios dos povos ind genas ainda que n o os considere propriet rios A CF de 1988 em seu Artigo 231 tra ou os par metros cient ficos dentro dos quais o Estado Brasileiro deve desenvolver a pol tica de regulariza o dos territ rios dos povos ind genas Diz esse Artigo Art 231 S o reconhecidos aos ndios sua organiza o social costumes l nguas cren as e tradi es e os direitos origin rios sobre as terras que tradicionalmente ocupam competindo Uni o demarc las proteger e fazer respeitar todos os seus bens 1 S o terras tradicionalmente ocupadas pelos ndios as por eles habitadas em car ter permanente as l Decreto 8 072 de 20 de junho de 1910 criou o SPILTN que foi substitu do pela FUNAI em 1967 http www scielo br scielo php pid S0034 77011997000100009 amp script sci arttext Acesso em 26 12 09 118 utilizadas para suas atividades produtivas as imprescind veis a preserva o dos recursos ambientais necess rios a seu bem estar e os necess rios a sua reprodu o f sica e cultural segundo seus usos costumes tradi es A
207. egocio com br conteudo php id 12325 Acesso em 13 01 10 25 nica pois se entrela am pelas ra zes e unem se de forma totalmente coletiva Para arranc las preciso o uso de for a Taquaras n o s o sozinhas n o est o sozinhas N o uma planta que sobrevive s no meio da mata e ao olh las v se um belo coletivo umas grudadas nas outras Diferentes das rvores elas n o criam galhos desenvolvem longas hastes elevadas praticamente sem folhas Elas s o cheias de n s e n o de eus Suas hastes s o longas e ocas dando possibilidade de concentrar alguns mist rios Ah os mist rios contidos na taquara Os Kaingang sabiamente conhecem e respeitam seus mist rios E taquaras t m algumas outras particularidades elas sempre crescem para o alto poss vel sim quebrar uma s fr gil e isolada mas ao reunir mais que duas tr s a for a humana n o consegue destru las como se fosse aquela j conhecida hist ria dos gravetos quando juntos num feixe imposs vel quebr los ou separ los Dificilmente consegue se quebr las num feixe maior e se dobradas retornam forma original Mesmo com a for a dos ventos se armam dobram se inclinando se muitas vezes at o ch o e retornam ao seu lugar original Ao olharmos mais atentamente percebemos que uma taquareira um grande emaranhado de diferen as mas em harmonia hastes longas curtas grossas finas h taquaras novas taquaras velhas e todas for
208. eira UNISINOS Kimiye Tommasino e Rog rio da Rosa UFPEL agrade o o apoio em momentos certos Rog rio valeu o apoio recebido Muito obrigada por me ajudar a enfrentar meus kuprig em rela o a escrita Uma palavra ALEGRIA s pessoas descontra das Mara Taba Cel T re E de forma mais que especial ao JONIL e CICA Voc s s o GRANDES amigos de todas as horas dias meses anos Obrigada por importantes momentos de desestress risadas descontra o Sem o que vivemos juntos n o teria gra a nenhuma Uma palavra AMIZADE para Gabi Marcel Joshua Heide e Nelson Kirst A presen a de voc s nestes dois anos marcou para sempre meus caminhos A esta grande fam lia extensa meu reconhecimento a tudo que fizeram todos os dias a Artur e a mim Obrigada Gabi Obrigada Fam lia Budde amp Kirst Uma palavra AGRADECIMENTO para as Prof s Dr s Beatriz dos Santos Landa e Gleny Guimar es por aceitarem compor a comiss o avaliadora e contribu rem de forma relevante no exame de qualifica o e banca final Obrigada por me ensinarem tanto e pela companhia nesta caminhada t o linda Uma palavra REALIZA O Ao CNPq pela concess o de bolsa de estudos durante 14 meses Pen ltima palavra OBRIGADA aos que n o consegui nomear aqui Saibam que sei da import ncia e significado de cada um e uma ltima palavra RESPEITO comunidade Kaingang da Aldeia Por Fi de S o Leopoldo especialmente s mul
209. elaborada durante os dois anos do mestrado vem sendo fomentada na experi ncia profissional desenvolvida em longos anos junto s comunidades ind genas e tem como sujeito o povo ind gena Kaingang povo ind gena da fam lia lingu stica J origin rio do Brasil Meridional e em especial o grupo que reside na Aldeia Por Fi munic pio de S o Leopoldo J na apresenta o quero destacar que utilizarei os nomes dos povos ind genas com a primeira letra mai scula e n o pluralizada Isto se deve a uma conven o entre linguistas e antrop logos que estabeleceram designar desta forma uma vez que se trata do nome de um povo de uma coletividade nica e n o apenas de um conjunto de indiv duos MAHER 2006 p 14 Desta forma refiro me aqui aos Kaingang e n o aos Kaingangues aos Guarani e n o aos Guaranis O desejo de escrever este trabalho traz impl citos alguns desafios e denominarei esses desafios de trilhas como forma de homenagear a comunidade Kaingang pois este povo utiliza se de trilhas seguidas vezes para adentrar na mata no interior do Estado ou mesmo nos espa os das cidades Tais trilhas os levam para a coleta da mat ria prima para seus artesanatos feitos em cip s taquaras e sementes Para chegar at aqui fiz v rios percursos diferentes trajetos segui por v rias trilhas onde meu compromisso com a pesquisa e com o povo Kaingang marcou minhas viagens em busca da realiza o deste desejo Outro desafio
210. elencamos abaixo a organiza o do material coletado Esta organiza o constitui se da categoriza o das unidades constru das sendo este o aspecto central da an lise textual discursiva MORAES GALIAZZI 2007 Segundo estes autores A categoriza o um processo de compara o constante entre as unidades definidas no momento inicial da an lise levando a agrupamentos de elementos semelhantes al m de reunir elementos semelhantes tamb m implica nomear e definir as categorias 2007 p 22 23 Objetivo Geral Problema Investigar o significado que as atividades Como garantir a prote o social e o produtivas infantis t m para a comunidade direito a diversidade cultural de crian as Kaingang na sua rela o de com rcio de ind genas que realizam atividades gt artesanatos com vistas a contribuir para o produtivas nos centros urbanos aprimoramento da prote o social a esses sujeitos respeitando a sua cultura sem desconsiderar o contexto em que est o I l I l l I l I I l inseridos F o T i a i ea Fe Da I Z W i 5 ce no Tema M todo 7 i N e Dial tico A P i F Cr tico Quest es Norteadoras r o gt Estudo sobre a rela o entre cultura ne i e trabalho na comunidade Kaingang i de S o Leopoldo com nfase nas atividades infantis l l I I N y a a a e I l Que concep o de trabalho orienta 1 i a comunida
211. em que nos trazia riqueza tamb m configurava um drama e nos fazia indagar qual o objetivo de pesquisar Pesquis vamos para que Para descobrir que as atividades realizadas pelas crian as Kaingang s o julgadas pela sociedade envolvente como trabalho infantil z Ent o isto crime pass vel de penaliza o Ressaltamos que no ambiente 10 Entende se aqui estalar no sentido da compreens o mais profunda discernimento intelectual acerca dos procedimentos metodol gicos explos o quebra ruptura Insight 33 acad mico fomos confrontadas por outros pesquisadores de estarmos mascarando o trabalho infantil Este trabalho cient fico de mestrado baseia se no m todo dial tico cr tico desenvolvido por Karl Marx Salienta se que a import ncia da clareza do m todo essencial para o desenvolvimento da pesquisa assim a formula o de uma quest o a sua resolu o MARX 2006 p 15 Desta forma apresentamos neste cap tulo os estalos metodol gicos percorrendo agora o processo de conhecimento nas desafiantes trilhas para a constru o metodol gica do trabalho realizado 2 1 COMENT RIOS INICIAIS SOBRE A ESPECIFICIDADE DESTA COLETA Antes de entrar nas trilhas explicativas da coleta dos dados deste trabalho entendemos ser necess rio algumas explica es A primeira que ao longo desta escrita manifestamos que nossa pr tica profissional foi pautada pelo trabalho com os povos ind genas do Ri
212. eopoldo e dos Guarani Porto Alegre Estrela Velha Barra do Ribeiro Camaqu Ca apava do Sul S o Miguel das Miss es Torres Riozinho Viam o Isto por certo enriqueceu minha bagagem profissional de forma muito especial Em segundo lugar exigiu dedica o pessoal e a vigil ncia quanto ao compromisso e tica de problematizar e qualificar o conhecimento a respeito do estudo aqui proposto de forma que seja til a todos os envolvidos mas fundamentalmente que possa subsidiar pol ticas sociais adequadas ao atendimento ofertado aos povos ind genas A trajet ria aqui evidenciada inclui quase que a totalidade das experi ncias profissionais vividas junto aos ind genas e traz consigo hist rias da viv ncia direta e concreta com eles e de forma especial com o povo Kaingang S o hist rias de suas alegrias e dores suas mortes e nascimentos seus casamentos e separa es suas afli es e esperan as suas mis rias e grandezas suas crises suas doen as e cren as seus sonhos e desejos suas convic es suas conquistas suas contradi es enfim assim como a nossa sociedade plena em contradi es tamb m o povo Kaingang uma sociedade humana como qualquer outra que sofre e vibra com suas singularidades O tema investigado nesta disserta o est vinculado linha de Pesquisa Servi o Social e Pol ticas Sociais e incide sobre o significado para a comunidade Kaingang das atividades produtivas realizadas por
213. er investigado profissionalmente o fato de que o processo de diagn stico e de cura sempre uma rela o entre dois sujeitos sempre influenciado pela hist ria social e caracter sticas ps quicas dos dois elementos envolvidos nesse jogo e que mecanismos conscientes e inconscientes peculiares a esses dois sujeitos estar o sempre interferindo na hist ria da doen a e no processo de aten o sa de CAMPOS 1997 p 184 Com atitudes meramente t cnicas perdem se potenciais eficazes de interven o que possibilitaram a inser o do paciente em seu meio na sua realidade e sua cultura Se as fam lias ind genas devem ser atendidas pelo 112 subsistema dentro da rea do SUS e contando com a rede de atendimento estabelecida pela FUNASA situa es como esta acontecida recentemente n o deveriam mais ser pauta de reclama o de l deres ind genas 4 2 3 A terra como elemento essencial de vida Foto 6 Os Kaingang na sua Aldeia S o Leopoldo Fonte Foto de Marinez Garlet 2009 z Temos salientado que a terra o elemento essencial da exist ncia das comunidades ind genas como tamb m a ess ncia de sua cultura E neste aspecto n o podemos esquecer que a taquareira s taquareira por causa da terra N o bastam taquaras fortes nem ra zes poderosas se n o h terra onde elas possam se assentar se aprofundar e retirar tudo o que necessitam para se constitu rem em taquareira Assim
214. er Kaingang Aldeia Por Fi Sem a observa o participante e o longo conv vio com os Kaingang seria dif cil compreender os diversos significados que preenchem suas rela es sociais como estas que acontecem em comemora o ao Dia do ndio A l gica das rela es entre os Kaingang como vimos dividida por suas marcas ou metades sendo assim patrilineares e ao nascer as crian as seguem a marca do pai S o estas marcas que definem suas lideran as organiza o interna os casamentos os rituais etc O dualismo Kaingang tamb m normatiza os casamentos que procuram manter a din mica das marcas culturais Desta forma uma mo a Kaingang pertencente metade dos Kam somente poder casar se com um rapaz pertencente metade Kanhru Um rapaz Kam somente poder casar se com uma mo a pertencente marca Kanhru Para Cr peau 1997 uma crian a pertence automaticamente metade de seu pai e deve em princ pio casar se na outra metade 1997 p 176 H esfor os dos Kaingang em manterem esta din mica uma vez que residindo nas cidades algumas vezes os casamentos entre os jovens e mesmo entre os adultos ocorrem com mo as e rapazes n o ndios que vizinham com as aldeias urbanas Na atualidade tem sido cada vez mais comum acontecer uni es diversas Os filhos que resultarem destas uni es pertencer o marca do pai Tais aspectos s o valorizados e mantidos pelos Kaingang que residem por exemplo
215. er favor vel do CNPq quanto ao m rito da pesquisa proposta e ap s ouvidas as lideran as ind genas Par grafo nico A consulta s lideran as ind genas ser realizada pela FUNAI com a presen a e participa o do pesquisador podendo este em caso de resposta positiva permanecer na terra ind gena com autoriza o provis ria at a emiss o de uma definitiva Art 8 No caso de negativa das lideran as ind genas quanto ao pleito do ingresso ou quaisquer outros entraves levantados no decorrer da an lise do processo ou em qualquer outra etapa de desenvolvimento da pesquisa a CGEP encaminhar a quest o ao Conselho Indigenista atrav s da Presid ncia do rg o Art 9 Quando se tratar de pesquisa em espa o territorial de ocupa o tradicional de ndios isolados o pedido ser ainda objeto de exame e parecer pr vio espec fico por parte do departamento de ndios Isolados DI FUNAL Art 10 A presid ncia da FUNAI poder suspender a qualquer tempo as autoriza es concedidas de acordo com as presentes normas desde que I seja solicitada a sua interrup o por parte da comunidade ind gena em quest o II a pesquisa em desenvolvimento venha a gerar conflitos dentro da terra ind gena HI a ocorr ncia de situa es epid micas agudas ou conflitos graves envolvendo ndios e n o ndios Par grafo nico Fica automaticamente prorrogada a autoriza o pelo prazo que a terra ind gena objeto do Projeto estive
216. er h palavras nas duas l nguas que se assemelham Seus costumes e culturas s o completamente diferentes Al m disto tamb m seu biotipo diferente Os Guarani possuem estruturas f sica pequena enquanto os Kaingang s o maiores quase corpulentos Saltam aos olhos essas diferen as No processo hist rico observam se as diversas imposi es postas a estes povos dependendo do momento hist rico A hist ria do Brasil mostrou diferentes 83 tentativas de fazer com que os ndios deixassem de ser ndios evidenciada pelas a es das ordens religiosas como os mission rios jesu tas que deram in cio ao processo de interfer ncia no sistema de vida das culturas ind genas atrav s da imposi o da catequese crist e explora o da m o de obra ind gena For ados a deixar de lado seus rituais suas l nguas seus costumes o objetivo era transform los em brasileiros civilizados Hoje se faz justamente o contr rio disso exige se que para serem ndios e usufru frem dos direitos que lhes s o inerentes devem permanecer na cultura devem falar a l ngua manter suas tradi es seus rituais enfim necess rio que sejam preservados no que seria seu estado natural Por isto comum ouvir se que ndio n o pode usar celular cal a jeans antenas parab licas sendo esta mais uma forma de impor os valores da sociedade envolvente contradit ria pois novamente imp e uma forma de viver tamb m uma forma pejorativa e
217. er outro adjetivo m tico ou rom ntico Elas s o o 76 que s o sociedades constru das por seres humanos e certamente com dificuldades e problemas a serem enfrentados O Brasil conhecido mundialmente por sua vasta diversidade tnica e lingu stica e ainda n o h dados exatos de quantos povos ind genas existem aqui A FUNASA a partir de 1991 vem procurando efetuar coletas de dados populacionais com enfoque para os epidemiol gicos para a melhoria da oferta dos servi os de sa de At mesmo a FUNAI pesquisadores e outras institui es n o possuem dados seguros acerca do n mero exato dos povos indigenas e suas gentes At porque vez que outra s o identificados novos grupos na Amaz nia como foi o caso registrado pela FUNAI Informativo N 03 2009 p 13 que em maio de 2008 localizou seis habita es de uma etnia n o definida de ind genas isolados no Estado do Acre pr ximo ao Rio Envira na fronteira com o Peru H povos ind genas ainda sem contato com a sociedade nacional os chamados isolados Trata se de grupos ind genas principalmente na Amaz nia que ainda n o foram contatados e s o chamados de arredios pois tamb m evitam esse contado Segundo estimativas da FUNAI s o cerca de 40 grupos de arredios dos quais n o se conhece praticamente nada nem seu nome l ngua e cultura H um departamento dentro da FUNAI que trata especificamente dos grupos isolados A FUNAI e FUNASA em geral t m por
218. eria urbana no munic pio de S o Leopoldo Rio Grande do Sul O universo da pesquisa conta com 21 fam lias num total de 98 pessoas integrantes da comunidade A respeito desta pesquisa do tipo qualitativa a amostra dirigida ter como foco central tr s lideran as o cacique da comunidade um professor biling e e um agente ind gena de sa de tr s fam lias um integrante de cada fam lia ou pai ou m e Roteiro C dois velhos kof Roteiro D Tamb m ser utilizada a t cnica do grupo focal Roteiro H com oito Kaingang pai m e homens ou mulheres que comp em a comunidade ind gena al m da entrevista ao Procurador da 2 3 Ac fr 260 Cont Parecer CONEP 201 2009 Rep blica de Novo Hamburgo 1 Conselheiros Tutelares 2 e um integrante da Secretaria Municipal de Assist ncia Cidadania e Inclus o Social S o Leopoldo 1 Roteiros E Fe G o que totaliza vinte indiv duos A finalidade da pesquisa qualitativa n o puramente a contagem de opini es e sim a explora o dessas opini es com suas diferentes representa es sobre o assunto pesquisado Esta pesquisa aprofundar o conte do das falas dos sujeitos entrevistados que possibilitar o a interface das no es de cultura em rela o s pol ticas p blicas existentes A socializa o da pesquisa ou seja a devolu o dos estudos realizados obriga o tica para o Servi o Social e portanto um compromisso pol tico para o referencial que se d
219. eseja construir e contribuir com a transforma o e a qualifica o da categoria A socializa o ser feita com a constru o do relat rio na apresenta o nos N cleos de Pesquisa da FSS em semin rios dentro e fora da PUC em poss veis publica es encontros para devolu o na Universidade e em institui es e rg os que trabalham com a quest o ind gena Os resultados da pesquisa ser o divulgados no COMIN e em suas rela es de trabalho com CEPI FUNAI MPF CTs Universidades entidades que manifestarem interesse pelo tema Local de realiza o A pesquisa ser desenvolvida na comunidade Kaingang residente na zona urbana do munic pio de S o Leopoldo Rio Grande do Sul Trata se de comunidade ind gena que vive fora de seu contexto cultural mas nem por isso deixam de ser Kaingang Apresenta o do protocolo A Folha de Rosto est assinada e datada Os curr culos das pesquisadoras est o anexados ao protocolo e demonstram experi ncia na rea proposta O projeto de pesquisa est bem fundamentado com refer ncias bibliogr ficas atuais inclui todos os roteiros de entrevistas e os Termos de Consentimento Livre e Esclarecido O or amento financeiro informa o custo total de R 770 60 sob responsabilidade da pesquisadora O projeto apresenta uma declara o da FUNAI concordando com o projeto de pesquisa e informando que a comunidade ind gena aceitou fazer parte desta pesquisa apresenta uma carta do cacique Da
220. esses procedimentos tiveram o consentimento dos entrevistados ap s a leitura pausada e da explica o cuidadosa e detalhada do porque dos objetivos da import ncia do estudo resguardando assim os princ pios ticos Na sequ ncia ser o relatadas as viv ncias de campo durante as entrevistas e observa es realizadas no per odo da coleta dos dados Tais situa es reiteram a import ncia do m todo que ancora esta pesquisa Trata se do m todo dial tico cr tico que possibilita esclarecimentos do fen meno social a partir de an lises da hist ria dos sujeitos e dos fatores da sociedade como a cultura os fatores pol ticos e econ micos em uma perspectiva de totalidade Segundo Goerk o m todo dial tico visa desvelar a vincula o entre a unidade e a totalidade a historicidade e o movimento que engendra as contradi es existentes nos fen menos e processos sociais 2006 p 85 Assim o m todo dial tico tem sua base hist rica no marxismo e busca reunir explica es de fen menos da natureza de aspectos sociais e do pensamento Para desvendar o aparente toma se a pr tica como crit rio de verdade n o se parte daquilo que os homens dizem imaginam ou representam nem do que s o nas palavras no pensamento imagina o e representa o dos outros para a partir da chegar aos homens de carne e osso parte se sim dos homens em sua atividade real e a partir de seu processo na vida real exp e se tamb m
221. est por sem implantado Quero apontar para as dificuldades de implantar um sistema de sa de que respeite o que est na Constitui o isto que leve em considera o a cultura do grupo tnico que parta da realidade dos ndios e que reconhe a e integre o sistema ind gena de sa de TOMMASINO 2002 p 3 Em se falando de pol tica p blica diferenciada n o poss vel atrelar o processo sa de doen a sem considerar a especificidade cultural de cada povo Seguindo a reflex o de Campos a rela o profissional cliente concebida como um interc mbio entre um sujeito potente geralmente o m dico e um objeto suposto de ser d cil ativo apenas quando presta informa es necess rias ao diagn stico e de quem se espera servid o volunt ria A pr pria denomina o paciente que usualmente atribu da ao doente j um dado revelador do sentido principal dessa rela o paciente significa aquele que possui a virtude de suportar os sofrimentos sem queixa CAMPOS 1997 p 181 No universo da sa de ind gena existe consider vel dist ncia entre a teoria e a pr tica da medicina oficial p blica e massiva as quais se chocam na rela o m dico paciente quando confrontadas com o contexto sociocultural dos povos ind genas Neste deve ser olhado para al m do que se v ou seja transcende a l gica da medicina oficial pois valoriza a natureza e o sobrenatural Mesmo nos espa os urb
222. express es frases entre outros sendo que nesta disserta o ser o utilizados os segmentos das falas Nas trilhas do processo da an lise metodol gica desta pesquisa Entre cestos e colares far is e parabrisas crian as Kaingang no meio urbano ressaltamos que todo o material da coleta de campo precisou ser relido cuidadosamente para que a pesquisadora n o incorresse em interpreta es emp ricas Cabendo aqui ressaltar que no processo de an lise das nossas coletas foi imposs vel a neutralidade desta pesquisadora o que consideramos aspecto positivo pois imposs vel esvaziar se de tantos anos e ac mulos de trabalhos junto deles Fomos sim assombradas com o compromisso tico de n o ferir o povo Kaingang uma vez que a tem tica das atividades desenvolvidas pelas crian as compreendida de diferentes formas por eles e pela sociedade envolvente Mesmo assim as viv ncias e conhecimento acerca dos Kaingang n o puderam ser desconsiderados pela pesquisadora uma vez que na fase da pesquisa bem como os objetivos da mesma precisavam ser aprofundados nas dif ceis trilhas de an lise do produto final aqui entendido como a mat ria prima de nossa coleta junto aos Kaingang No quadro 2 da p gina seguinte sintetizamos as trilhas metodol gicas deste estudo Ap s a contextualiza o da metodologia que utilizamos os pr ximos passos nas trilhas desta pesquisa visam abordar os resultados das coletas realizadas Antes por m
223. ezuela Guiana Francesa Col mbia e Bol via conforme informa o do Instituto Socioambiental Os povos ind genas contempor neos est o espalhados por todo o territ rio brasileiro V rios desses povos tamb m habitam pa ses vizinhos No Brasil a grande maioria das comunidades ind genas vive em terras coletivas declaradas pelo governo federal para seu usufruto exclusivo Centenas de povos viviam espalhados pelos quatro cantos do Brasil haviam constru do cada qual seu sistema pr prio de sociedade organizavam rotinas mantinham sua cultura seu sistema de governo estatal ou n o seus ordenamentos jur dicos internos e externos pr prios poca da chegada dos europeus no novo mundo o territ rio hoje conhecido como as Am ricas era um enorme mosaico de formas diferenciadas de vida e sociedades cada qual milenarmente adaptada ao seu modo pr prio constru do na sua trajet ria hist rica exclusiva como podemos 3 Tis a sigla de Terras Ind genas categoria jur dico administrativa do Estado brasileiro que denomina as reas demarcadas para a posse de grupos ind genas 34 Instituto Socioambiental ISA http pib socioambiental org pt c 0 1 2 populacao indigena no brasil Acesso em 10 09 09 73 ver no expressivo Mapa Etnogr fico elaborado por Curt Nimuendaj Esses povos que habitavam o Brasil de forma origin ria e desde tempos imemoriais foram em sua maioria destru dos e impedidos de viver com suas
224. finidade de almas foi unicamente n o terem outra finalidade ltima sen o o ouro para enriquecer em pouco tempo enfim n o foi sen o por avareza que causou a perda desses povos que por serem t o d ceis e t o benignos foram t o f ceis de subjugar LAS CASAS 1985 p 30 Jamais ser poss vel dizer tudo o que havia em alguns territ rios at o s culo XVI tamanha foi a destrui o causada pelos europeus Trabalha se hoje com estimativas Estas s o baseadas em incans veis pesquisas em cartas fragmentos estudos escritos de curiosos relatos dos primeiros invasores Sobre a Am rica Espanhola sabe se mais pois l vivia Bartolom de Las Casas que n o suportou o que viu e por indigna o registrou tudo em min cias Em um dos tantos trechos Las Casas relata Os espanh is com seus cavalos suas espadas e lan as come aram a praticar crueldades estranhas entravam nas vilas burgos e aldeias n o poupando nem as crian as e os homens velhos nem as mulheres gr vidas e parturientes e lhes abriam o ventre e as faziam em peda os como se estivessem golpeando cordeiros fechados em seu redil Faziam apostas sobre quem de um s golpe de espada fenderia e abriria um homem pela 9 Conselho Mundial dos povos ind genas Port Alberni Vancouver Canad 1975 http moleskinemm blogspot com 2008 08 declaraao solene dos povos indgenas do html Acesso em 03 12 09 3 Um exemplo disto a cole o de livros q
225. fun es pertinentes s a es de sa de aos integrantes da aldeia fazendo articula es entre estes e os setores p blicos como posto de sa de hospital e FUNASA 43 2 6 PROCESSO DE CONSTRU O DAS FIBRAS Foto 4 Kur fibras interiores da taquara as quais n o aproveitam no artesanato Fonte Foto de Marinez Garlet 04 10 2009 Realizamos 09 entrevistas semi estruturadas com roteiro com perguntas abertas facilitando a compreens o dos sujeitos bem como seu envolvimento nas mesmas Deste total seis foram realizadas na aldeia sentadas no ch o nos p tios beira da casa dentro de casa beira do fog o a lenha no movimento cotidiano dos integrantes da aldeia onde al m dos indiv duos as crian as participavam e brincavam com restos de tocos taquaras facas que estavam sendo utilizadas para lascar taquaras e desfiar os cip s As demais realizamos com tr s gestores p blicos em seus gabinetes de trabalho em Porto Alegre e S o Leopoldo Sobre o procedimento de entrevistar L dke e Andr 1986 afirmam que na entrevista a rela o que se cria de intera o Havendo um clima de est mulo e aceita o m tuos as informa es fluir o de maneira not vel e aut ntica permitindo a capta o imediata e corrente das informa es desejadas praticamente com qualquer tipo e sobre os mais variados t picos Entendemos que isto n o sempre assim Pesquisadores e entrevistados nem sempre est o em sintonia
226. gi es Leste Nordeste e Sul a realidade bem outra No caso do RS por exemplo somadas 114 todas as terras dos Charrua Kaingang e dos Guarani temos algo em torno de 90 mil hectares o que d 0 3 do territ rio do Estado A perda de territ rios uma constante assim como constante a luta para garanti los Somente for a e elimina o de seus povos foi poss vel aos colonizadores se apossarem e dominarem os territ rios ind genas E foi sempre na uni o que os ind genas puderam resistir pois eles sabem que quebrar uma taquara relativamente f cil quebrar um feixe quase imposs vel De todo o processo de luta dos ind genas por suas terras no campo legal constatamos tristemente que somente na CF de 1934 nossa 3 Constitui o brasileira das oito que j tivemos eles conseguiram pela primeira vez inscrever algum direito s suas terras Diz a Constitui o de 1934 em seu Art 129 Ser respeitada a posse da terra por ind genas que nelas se achem permanentemente localizados sendo lhes no entanto vedado alien las Trata se sem d vida de uma garantia importante num cen rio de total desrespeito s TIs como foi o in cio do s culo XX pois foi um per odo em que se dizimaram muitos povos ind genas Foi nesse per odo que o lend rio Marechal Rondon percorreu o Brasil buscando evitar que mais povos fossem dizimados e expulsos de seus territ rios Nessa esteira que foi poss vel inserir pe
227. gico Para isto faz se necess rio a utiliza o de m todos e t cnicas espec ficas que venham ao encontro da ci ncia na qual se est atuando SEVERINO 2000 Com base nestas considera es e para seguir as trilhas produzidas neste estudo apresentaremos a seguir a metodologia aplicada neste estudo sob o t tulo Nos estalos da Taquara trilhas do conhecimento para assim convidar o leitor a nos acompanhar em nossa caminhada desde o in cio em um desejo de ver o povo Kaingang pelos olhos do povo Kaingang No terceiro cap tulo Das ra zes s folhas pelos caminhos da hist ria ser o abordados aspectos hist ricos sobre os povos ind genas no Brasil apontando a 30 complexidade da diversidade cultural existente no pa s por entendermos a import ncia da hist ria e dessa diversidade cultural para a compreens o do tema e da realidade presente No quarto cap tulo Conhecendo as tramas da taquara a cultura define tran ados versar sobre a import ncia do entendimento sobre cultura bem como suas implica es para a garantia de direitos diferenciados educa o sa de direito a terra para o segmento ind gena Abordaremos os direitos ind genas e o elemento terra como aspecto essencial de vida para esses povos No quinto Colares e Olhares atividades produtivas e a crian a Kaingang fragmentos das rela es urbanas ser o realizadas a constru o da compreens o de indaga es e constata es acerca da e
228. gisla o e sua efetiva o vit ria unicamente da classe trabalhadora e dos movimentos populares organizados que sempre precisam levantar suas bandeiras de luta e reivindicar direitos mesmo que bvios e j garantidos em lei Em rela o efetiva o de direitos para a sa de dos povos ind genas como j mencionado ocorrem diversos debates entre as comunidades com as inst ncias p blicas mais diretamente respons veis FUNAI e FUNASA al m do Minist rio P blico Federal a quem cabe a fiscaliza o da aplica o desses direitos diferenciados bem como dos servi os prestados pelos setores de sa de H sim concord ncia entre os ind genas de que o servi o prestado pela FUNASA n o adequado e precisa ser melhorado com maior contingente e capacita o de t cnicos entre outras reivindica es Na fala da Agente Ind gena de Sa de da Aldeia Por Fi evidencia se n o s a necessidade de qualifica o das equipes t cnicas como tamb m a aus ncia de reformula es da organiza o do servi o de sa de no munic pio Fica muito dif cil o trabalho da gente aqui na comunidade porque eles n o sabem lidar com a gente t certo que eu sou Kaingang que falo tamb m o portugu s e fa o o que posso mas muitas vezes n o tem rem dio do branco e no mato a gente n o encontra mais nossos rem dios naturais da eles n o entendem que os doentes nem v o l no posto pra falar com o 109 m dico ent o se n o tem
229. gr ficas que auxiliaram na confec o deste trabalho ou seja do nosso artesanato 31 2 NOS ESTALOS DAS TAQUARAS TRILHAS DO CONHECIMENTO Foto 3 Mulher Kaingang raspando e estalando taquara para confec o do artesanato Fonte Foto de Marinez Garlet Aldeia Por Fi 19 05 2009 Neste cap tulo desenvolvemos as etapas percorridas para a coleta da mat ria prima desta disserta o neste caso as trilhas metodol gicas utilizadas em rela o ao tema a ser investigado Estudo sobre a rela o entre cultura e trabalho na comunidade Kaingang de S o Leopoldo com nfase nas atividades desenvolvidas pelas crian as ind genas Assim como os Kaingang possuem seus cuidados e precau es para adentrar na mata entende se que tamb m a investiga o das trilhas percorridas na investiga o merece cuidados especiais durante a coleta realizada no trabalho de campo A coleta de dados em campo aconteceu nos meses de abril a agosto de 2009 e consistiu em entrevistas e observa o sistem ticas realizadas na Aldeia e com os gestores p blicos Neste sentido n o basta somente olhar o objeto mas 32 sim contempl lo para que o estalar do conhecimento aconte a e seja de fato consistente Compreendemos que o exerc cio profissional qualificado com a pesquisa e investiga o social e podemos com a produ o de conhecimento subsidiar a qualifica o de pol ticas p blicas ou seja que tenha impactos para a prote
230. heres e crian as com seus brilhos nos olhos suas esperan as e viv ncias em meio urbano muito bom saber que voc s fazem parte de mim da minha vida das minhas alegrias das minhas trilhas e dos meus momentos Tudo seria dif cil sem voc s RESUMO Esta disserta o aborda o tema das atividades produtivas realizadas por meninos e meninas Kaingang na cidade de S o Leopoldo RS e tem como objetivo investigar o significado que essas atividades t m para a comunidade Kaingang com vistas a contribuir para o aprimoramento da prote o social s crian as respeitando a sua cultura A pesquisa foi desenvolvida no per odo de abril a agosto de 2009 e se constituiu em uma abordagem qualitativa amparada no m todo dial tico cr tico Foram realizadas seis entrevistas com os ind genas da Aldeia Por Fi e tr s entrevistas com os gestores p blicos Minist rio P blico Federal Conselho Tutelar e Secretaria de Assist ncia Cidadania e Inclus o Social do Munic pio de S o Leopoldo A an lise das entrevistas das observa es e do di rio de campo aliados experi ncia profissional da pesquisadora comp em o produto aqui apresentado Os resultados apontaram que as atividades produtivas infantis s o compreendidas pela comunidade Kaingang como parte da cultura e que os mais velhos s o respons veis pelo ensino dos mais jovens O artesanato considerado trabalho pelos ind genas e em rela o venda dos produtos pela
231. i o Cidad COUTO 2004 Nesta Constitui o ficou garantido o respeito s cren as costumes tradi es autonomia Tamb m na atual Carta Magna que aparece pela primeira vez que o Brasil um pa s pluri tnico e que esta forma o deve ser garantida e preservada A partir de 1988 os ind genas passaram a ter mais visibilidade pol tica em nosso pa s e em nossa sociedade h uma tend ncia de subestimar se a for a das culturas e das etnias Refor amos o dito acima afirmando que as escolas brasileiras v m colaborando para que os ind genas permane am estigmatizados pois os livros did ticos ainda mant m uma concep o positivista acerca da hist ria do Brasil e segundo Gadotti A diversidade cultural a riqueza da humanidade Para cumprir sua tarefa humanista a escola precisa mostrar aos alunos que existem outras culturas al m da sua Por isso a escola tem que ser local como ponto de partida mas tem que ser internacional e intercultural como ponto de chegada Escola aut noma significa escola curiosa ousada buscando dialogar com todas as culturas e concep es de mundo Pluralismo n o significa ecletismo um conjunto amorfo de retalhos culturais Significa sobretudo di logo com todas as culturas a partir de uma cultura que se abre s demais GADOTTI 1992 p 23 Tais livros did ticos via de regra exaltam uma linguagem refor ada pelos relatos dos her is nacionais que s o geralmente os her
232. i dizer que os Kaingang no meio urbano com a escassez inexist ncia de mat ria prima para seus artesanatos est o ressignificando seus objetos e produtos comercializ veis com a sociedade envolvente os objetos artesanais Kaingang relacionam se a hist ria de trocas sociais que os envolve s necessidades e prioridades das fam lias ind genas a leitura que fazem de quais seriam os objetos que a sociedade envolvente estaria interessada CHAGAS 2000 p 7 182 Sobre o interesse da sociedade envolvente em seus trabalhos h os seguintes relatos O que der pr vender a gente faz O que adianta a gente fazer o que a gente n o vai vender Ar 2009 s vezes os f g tamb m pedem modelos pra gente inventar modelos Tem vez que a pessoa manda a gente tran ar numa tampa de garrafa ou desse potes tamb m pra eles colocarem em cima dos potes deles Chuva 2009 As falas demonstram a flexibilidade dos Kaingang que alteram suas t cnicas para acompanhar as necessidades advindas do consumo dos f g mas tamb m apontam que h perda da singularidade dos trabalhos anteriormente feitos com materiais encontrados na natureza e utilizados por eles A gente faz o que os f g pedem Se n o sabemos damos um jeito de aprender uns aqui ajudam os outros Porque os f g pedem coisas modelos que a gente nunca fez ainda Terra 2009 Modernizam o artesanato a pedido dos f g pois segundo a fala do entrevistado
233. ibilidade de grupos ind genas em espa os urbanos com suas capacidades de articula o das pol ticas garantidas em lei junto aos poderes p blicos municipais estaduais e federais refor a os como grupos tnicos O processo de urbaniza o est ligado acelera o de fatores pol ticos que fazem parte da hist ria do capitalismo mundial As formas de organiza o social pol tica econ mica em que os Kaingang vivem nas reas urbanas e que estabelecem para si s o as formas como eles se compreendem no espa o coletivo 149 Neste espa o procuram adaptar se s normas e regras de sobreviv ncia estabelecidas pela sociedade no entorno de suas aldeias onde as for as produtivas do capitalismo buscam no dia a dia esmagar suas viv ncias poss vel referir que h implica es que determinam a forma de constitui o das rela es sociais instauradas no processo da divis o social do trabalho Ao longo da hist ria na busca constante da mais valia a burguesia modifica os padr es de produ o o que altera as rela es sociais e econ micas e consequentemente atinge culturas diferenciadas como neste caso a popula o Kaingang Neste sentido mesmo nesse contexto imposto de produ o e produtividade capitalista ao contr rio do que se poderia esperar o material produzido pelos Kaingang n o feito em larga escala em n vel de produ o Eles continuam confeccionando algumas poucas pe as e saem para a comerciali
234. ica S o Paulo 1988 40p 225 RAMOS Alcida Rita Sociedades ind genas 2 ed S o Paulo Ed tica 1988 96 p REIS Carlos Nelson dos org O Sopro do minuano transforma es societ rias e pol ticas sociais um debate acad mico Porto Alegre EDIPUCRS 2007 MINIST RIO DA EDUCA O Secretaria de Educa o Continuada Alfabetiza o e Diversidade Referencial curricular nacional para as escolas ind genas MEC SECAD Bras lia 2005 348 p MINIST RIO DA JUSTI A Sobre localiza o de ind genas no Acre Dispon vel em lt http Anww mj gov br data Pages MJ2498B870ITEMIDED5659572C24436BAE C33C2911 96AEO7PTBRIE htm gt Acesso em 30 Jul 2009 MINIST RIO DA SA DE Apresenta o Dispon vel em lt http portal saude gov br portal saude area cfm id area 960 gt Sobre Comiss o Nacional de tica em Pesquisa CONEP Dispon vel em lt http conselho saude gov br Web comissoes conep index html gt Acesso em 05 Dez 2009 RODRIGUES C ntia R gia O Bom e o mau selvagem na imprensa In KERN Arno SANTOS M Cristina dos GOLIN Tau orgs Povos ind genas V 5 Cole o Hist ria Geral do Rio Grande do Sul Passo Fundo M ritos 2009 559 p ROSA Rog rio R us Gon alves da A r tmica da lua na luta pela terra dos Kaingang de lrai In TOMMASINO Kimiye MOTA Lucio Tadeu NOELLI Francisco Silva orgs Novas contribui es aos estudos interdisciplinares dos Kaingang Londrina Eduel 2
235. icultam na pr tica sua implementa o Infelizmente o sistema mantido burocratizado e tecnicista o que provoca distanciamento entre profissionais e ind genas As equipes de interven o 99 perdem momentos importantes de interc mbio e di logo que possibilitaram a inser o do ind gena em seu meio e o agente p blico na sua realidade e cultura A luta dos povos ind genas hoje pode ser caracterizada tanto como resist ncia tnica como de cidadania N o podemos dissoci las pois fazem parte do mesmo processo onde a conquista de uma depende da garantia da outra A constru o de uma ideia de pertencimento entre os ind genas antes de tudo uma refer ncia sociocultural Para os Kaingang por exemplo o sentimento de pertencer ao grupo com valores e pr ticas culturais comuns refor a a sua identidade cultural isto os fortalece como comunidade sedimentando novas formas de organiza o para quest es do cotidiano subsist ncia do grupo familiar no es de espa o organiza o v nculos internos etc Certo que vivemos em uma sociedade bastante complexa na qual a divis o social do trabalho provoca distin es entre as categorias sociais exemplificando classes pobres classe m dia classe m dia alta O que se configura na contemporaneidade basicamente os que t m e os que n o t m poder aquisitivo para suprir suas necessidades b sicas 4 2 1 Educa o Ind gena inclus o e garantia de direitos
236. idade continuam mantendo sua cultura diferenciada Continuam Kaingang Falam e apontam para uma realidade agora vivida num outro contexto social f Atuando nas atividades desenvolvidas no Conselho de Miss o entre ndios COMIN percebe se o agravamento de situa es de extrema vulnerabilidade social e a urgente implanta o de garantia de direitos das comunidades Kaingang Os grupos Kaingang est o 13 ac Cont Parecer CONEP 201 2009 distribu dos em diversos munic pios do estado como Porto Alegre S o Leopoldo Estrela Lajeado Farroupilha Salto do Jacu Passo Fundo Santa Maria entre outros Uma das express es da situa o dram tica das condi es de vida dessa comunidade constata se pelo fato de o Minist rio P blico Federal ser chamado pelos Conselhos Tutelares e Secretarias Municipais de Assist ncia Social para intervir na garantia dos direitos ind genas Ocorre principalmente em rela o presen a das crian as Kaingang que perambulam no centro da cidade e nas cidades vizinhas Novo Hamburgo Campo Bom Est ncia Velha etc As raz es que levam as crian as aos sem foros e s portas dos comerciantes s o vistas e entendidas de diferentes formas pelos rg os p blicos e sociedade local i Em S o Leopoldo e Novo Hamburgo constante a presen a de meninos e meninas ind genas nas ruas entremeio aos carros com os artesanatos nas m os A abordagem o meio que encontram para realizar a venda dos produt
237. ilizada por aqueles segmentos interessados em acabar com os direitos ind genas Pierre Clastres renomado antrop logo rebate essas concep es Para ele os povos sem escrita n o s o ent o menos adultos que as sociedades letradas Sua hist ria t o profunda quanto a nossa e a n o ser por racismo n o h porque julg los incapazes de refletir sobre a sua pr pria experi ncia e de dar a seus problemas as solu es apropriadas CLASTRES 1990 p 16 Assim apesar de t o ou mais velha que o Estado Brasileiro a hist ria ind gena ainda caracteriza se por um acentuado desconhecimento A sociedade brasileira ainda n o conhece seus primeiros povos Os m ltiplos estere tipos impostos contribuem para esse desconhecimento e percebe se in meras situa es em que julgamentos generalizantes s o proferidos em fun o desses estere tipos que assimilamos desde as classes escolares mais iniciais Para ver isto basta folhear os livros escolares de Hist ria No livro did tico hoje encontramos imagens que descaracterizam a realidade ind gena como por exemplo as cnamadas ocas que se referem s casas ou mesmo a palavra taba que remete ideia de uma aldeia no formato redondo Tommasino diz que os conquistadores forjaram as categorias selvagem e bugre termos que aparecem frequentemente nos livros did ticos que s o apresentados como empecilhos ao progresso TOMMASINO 1995 p 143 Mas esta n o uma realidade em toda
238. inda precisam lutar exigir pautas fazer os enfrentamentos pol ticos necess rios e essencialmente realizarem eles mesmos os processos pr prios de aprendizagem utilizando a estrutura estatal e pr pria de cada comunidade como exemplo o material did tico elaborado pelo professor bil ngue da Aldeia Por Fi que apresentamos abaixo 104 R YEr Qi r Escr ta q 4444444448 LAARA N has 4 444444 4 ASS 44 44 R t PRAIAS ETULIITE ATZEA ZEATE PII DIAS E 444 44 A a a E X a e A s a 5 A a N gt amp o Gravura 3 Banner did tico organizado pelo professor bil ngue da Aldeia SL Fonte Acervo da Escola da Comunidade Kaingang S o Leopoldo 2007 4 2 2 Pol tica Nacional de Aten o Sa de dos Povos Ind genas O Sistema nico de Sa de SUS atrav s da Lei 8 080 disp e sobre as condi es para a promo o prote o e recupera o da sa de a organiza o e o funcionamento dos servi os correspondentes Esta lei regula em todo o territ rio nacional as a es e servi os de sa de executados isolada ou conjuntamente em car ter permanente ou eventual por pessoas naturais ou jur dicas de direito p blico ou privado e tem por objetivo conforme seu Art 7 a integralidade de assist ncia entendida como conjunto articulado e cont nuo das a es e servi os preventivos e curativos individuais e
239. ingang nos fez optar por utilizarmos a taquara e o h bito da sua coleta como met fora e inspira o Em muitos anos com eles partilhando de diferentes momentos observamos e ouvimos muitas hist rias sobre a v g taquara que al m de ser fonte de sustentabilidade para o grupo pois dela que retiram as fibras para a confec o da maioria de seus artesanatos ela tamb m re ne outros segredos e significados para o povo Kaingang Para eles ela tem diversos significados mist rios e utilidades Para n s n o ind genas o que sabemos sobre a taquara Podemos pensar que as taquaras ou bambus como popularmente se costuma identificar nos ensinam a humildade e a for a diante de desafios Por criarem ra zes profundas e consistentes praticamente imposs vel arrancar uma 4 Por Fi um p ssaro e para os Kaingang ele carrega o significado de avisar quando algu m se aproxima Para os n o ndios este p ssaro chamado de Tovaca e tem o nome cient fico de Chamaeza uma ave passeiforme da fam lia Formicariidae http www wikiaves com br tovaca cantadora Acesso em 13 01 10 Taquara a denomina o comum a v rias esp cies de gram neas nativas da Am rica do Sul A taquara ou bambu pertence fam lia gram nea com cerca de 45 g neros e mais de 1 000 esp cies diferentes Geralmente essas esp cies s o pr prias da mata Requerem solos profundos f rteis midos e drenados http Awww portaldoagron
240. ingresso em terras ind genas Page 1 of3 Normas que Disciplinam o Ingresso em Terras Ind genas com Finalidade de Desenvolver Pesquisa Cient fica _ FUNAIBRASIL INSTRU O NORMATIVA N 01 95PRESI 29 11 1995 O PRESIDENTE DA FUNDA O NACIONAL DO NDIO FUNAI no uso das atribui es que lhe s o conferidas pelo Estatuto aprovado pelo Decreto n 564 de 08 de julho de 1992 tendo em vista o que consta do Processo FUNAI BsB 2105 92 RESOLVE Art 1 Aprovar as normas que disciplinam o ingresso em Terras Ind genas com finalidade de desenvolver Pesquisa Cient fica conforme documento em anexo Art 2 Esta Instru o Normativa entra em vigor na data de sua publica o Art 3 Revoga se a Instru o Normativa N 001 PRESI 94 de 08 de abril de 1994 como qualquer outro dispositivo em contr rio M RCIO JOS BRANDO SANTILLI Presidente da FUNAI ANEXO DA INSTRU O NORMATIVA N PRESI Bras lia 29 de novembro de 1995 Art 4 Todo e qualquer pesquisador nacional ou estrangeiro que pretenda ingressar em terras ind genas para desenvolver projeto de pesquisa cient fica dever encaminhar sua solicita o Presid ncia da FUNAI e no caso de requerimento coletivo dever ser subscrito por um dos membros do grupo como seu respons vel Art 5 O pesquisador ou pesquisadores dever o anexar ao pedido do que trata o Art 1 a seguinte documenta o I Carta de apresenta o da Institui o a que o pe
241. inteiramente por quem se inquieta com sua ocorr ncia e atua no sentido de super los E o meio de faz lo atrav s do conhecimento que ao mesmo tempo os situe explique suas causas e caracter sticas e situe as dificuldades do entendimento que temos sobre eles MARTINS 2002 p 23 24 Ou ser poss vel continuar exigindo que tais sociedades se adaptem realidade capitalista com suas leis de mercado que ainda v a natureza como um empecilho ao progresso que estabelece outras rela es entre as pessoas que prega o lucro e o ac mulo individual N o existe assim divis o e especializa o do trabalho entre os ind genas Para o que precisam todos sabem fazer quase tudo Aos segmentos p blicos cabe 152 o desafio de agir na implanta o de pol ticas p blicas diferenciadas sabendo que qualquer a o implica em considerar e valorizar essas pr ticas coletivas essas concep es e os conhecimentos tradicionais 5 3 INF NCIA CRIAN AS IND GENAS ENTRE CESTOS E COLARES Foto 15 Menina Kaingang Aldeia Por Fi Fonte Foto de Marinez Garlet 30 09 2009 Desde o in cio do contato entre os colonizadores europeus e os Kaingang as leis do Estado e as ordens religiosas andavam juntas atuando de forma espec fica e contundente sobre as crian as ind genas com os objetivos expl citos de transform las em membros da sociedade ent o estabelecida e de incoporar os povos ind genas como brasileiros gen
242. ira selvagem como afirma o pr prio impetrante se v da certid o de fls 20 e se evidenciou de sua presen a no Tribunal ignorando inteiramente a l ngua portuguesa cujo conhecimento um dos requisitos da legisla o especial para a entrada do ndio na vida social e que por essa raz o deve estar ela mesma sujeita jurisdi o do juiz dos rf os FILHO 1998 p 295 6 O h bito de bater nas crian as para educ las n o fazia parte das culturas ind genas que habitavam o Brasil Viviam em grupos entre parentes em fam lias 154 com a rotina pautada na liberdade observa o e cuidado Este cuidado era diferente daquele imposto pelos padres e pelo Estado que objetivavam a transforma o das crian as para explor las em trabalhos diversos como dom sticos como coroinhas nas missas como auxiliares diversos nos conventos e escolas trabalhos estes nunca antes vivenciados pelos grupos ind genas 92 No per odo colonial o Evangelho a espada e a cultura estavam lado a lado na inten o de colonizar e catequizar os povos ind genas no Brasil Ao cuidar das crian as ndias os jesu tas visavam tir las do paganismo e disciplin las inculcando lhes normas e costumes crist os como o casamento monog mico a confiss o dos pecados o medo do inferno RIZZINI PILOTTI 2009 p 17 Mesmo que ambos Estado e Igreja tivessem os mesmos objetivos incorporar e explorar os m todos e fundamento
243. iram deixando secar Este processo realizado como um ritual cotidiano e dele participam todos na aldeia velhos jovens crian as Ap s a prepara o das fibras a fam lia inicia o processo de montagem de cestos e balaios com estilos e tamanhos diversos e v o fazendo o que chamam de s gs g j ja misturando cores dando forma e colorido aos seus produtos Importante ressaltar que a t cnica de produ o leva em considera o algumas especificidades como por exemplo a de que as fibras da taquara n o podem estar secas demais Nesse caso umedecem as fibras com sua pr pria saliva a fim de que fiquem male veis evitando que se quebrem ao torcer e virar para v rios lados e assim v o tramando e desenhando formatos de tran ados diversos 160 Na cidade coletam poucas esp cies de sementes uma vez que h escassez de matas Duas esp cies ainda facilmente encontradas s o o olho de bo e a joarana Joarana uma pequena semente marrom coletada nas cidades em todo o Vale dos Sinos Recolhem as vagens das rvores localizadas em diferentes espa os como por exemplo no canteiro central da BR 116 entre S o Leopoldo e Novo Hamburgo De volta na aldeia come am a prepara o Tal atividade desenvolvida no conjunto da fam lia sentam se de forma coletiva sombra no ver o ou ao lado do fogo de ch o no inverno e v o separando as sementes da vagem Depois fervem cozinham para que ela fique macia e iniciam a perfura
244. is mochila essas coisas nossos filhos ganham tudo Ent o de um lado pra n s bom sobre isso Nas aldeias tamb m l se a gente n o plantar e n o trabalhar tudo sai do bolso e por aqui a gente consegue as coisas mais f cil por exemplo ganha uma cesta b sica vende mais o nosso artesanato mais f cil pra sair negociar por isso que eu acho bom a cidade bom para a sobreviv ncia e a nossa sustentabilidade Mas num lado que eu n o acho bom por causa que eu n o tenho mais bicho ca as peixes pra mostrar para meus filhos eu n o tenho mais coisas naturais mesmo das aldeias pr mostrar para meus filhos mel de abelha trepar num pinheiro pra tirar o pinh o trepar num coqueiro pra mostrar pra eles como que se faz para comer o coco das palmeiras pescar fazer mondeu fazer ca a isso a faz falta Ent o uma das coisas que me aborrece esse lado que as coisas da natureza mesmo que eu poderia mostrar para meus filhos n o t m mais nem na aldeia e nem na cidade ent o isso a me atinge mas do lado da nossa viv ncia de sustentar a nossa fam lia a cidade melhor Um Kaingang da Aldeia Por Fi ao responder pergunta Como morar na cidade 16 09 09 AGRADECIMENTOS In cio agradecendo ao povo Kaingang de forma especial a comunidade da Aldeia Por Fi contemplados neste estudo A materializa o do processo de escrita envolve boa dose de esfor o individual e isto s foi poss vel gra as
245. is dif cil A quest o da integra o dos povos ind genas em nossa sociedade sempre foi um tema candente debatido e defendido por aqueles que queriam tomar suas terras De acordo com Baniwa Ainda hoje essa vis o continua sendo sustentada por grupos econ micos que t m interesse pelas terras ind genas e pelos recursos naturais nelas existentes Os ndios s o taxados por esses grupos como empecilhos ao desenvolvimento econ mico do pa s pelo simples fato de n o aceitarem se submeter explora o injusta do mercado capitalista uma vez que s o de culturas igualit rias e n o cumulativistas Dessa vis o resulta todo o tipo de persegui o e viol ncia contra os povos ind genas principalmente contra suas lideran as que atuam na defesa de seus direitos 2006 p 36 E tamb m pelos que os defendiam muitas vezes havia essa inten o como era o caso dos positivistas no final do s culo XIX e in cio do s culo XX Estes defendiam que os ind genas tinham direito s suas terras mas era quase consenso que eles deveriam evoluir e integrar se sociedade Ou seja preservavam se as terras mas ao mesmo tempo paulatinamente se buscava incorporar os ind genas ao caldo cultural brasileiro e ent o as terras n o teriam mais import ncia Esta escola positivista da qual o Marechal Rondon era adepto entendia que os ndios eram hordas fetichistas atrasadas que necessitavam sim de prote o mas at que alcan assem os est gios
246. is europeus A linguista Maher refor a que preciso ensinar as crian as brasileiras que o Brasil tinha donos quando os europeus chegaram MAHER 2006 p 13 Somente em 2009 um primeiro her i ind gena foi reconhecido no Brasil e teve seu nome inscrito no http pib socioambiental org files file PIB institucional No Brasil todo mundo C3 A9 H C3 AD ndio pdf Acesso em 02 03 10 79 Pante o dos Her is na pra a dos Tr s Poderes localizada na capital Bras lia Trata se do her i nacional Sep Tiaraju ndio Guarani que enfrentou portugueses e espanh is na defesa do territ rio do RS Da mesma forma somente no ano de 1997 um negro Zumbi dos Palmares tamb m foi reconhecido como her i nacional e inscrito nesse Pante o Isto demonstra a pouca valoriza o da presen a e participa o dos negros e ind genas na forma o do que hoje o Estado Brasileiro e ainda quando aparecem no cen rio brasileiro foram e continuam sendo tratados de forma pejorativa discriminat ria e preconceituosa Mesmo no cinema o mocinho sempre foi o homem branco ao passo que aos pardos negros e ndios eram relegados os pap is de vil es Isto presente tamb m na literatura e ind stria cinematogr fica mundial como por exemplo os filmes do g nero faroeste americano que embalaram e influenciaram gera es e povos no mundo todo construindo preconceitos sobre os ind genas evidenciados nesses filmes e seriados com
247. ivas de garantir espa os ai http pib socioambiental org pt c no brasil atual quem sao Indios emergentes 87 territoriais a eles Como n o mais poss vel identificar delimitar declarar uma terra tradicional est o sendo constru das alternativas como assent los em terras p blicas ou mesmo a desapropria o de terras particulares destinando as a esses grupos S o fen menos como esses que demonstram a for a das culturas ind genas e o quanto elas est o arraigadas nesses grupos pois esse fen meno do ressurgimento mostra que alguns desses povos n o estavam de fato extintos Ficaram submersos no caldo cultural brasileiro mas unidos resistindo culturalmente na espera do momento prop cio para ressurgirem o que est ocorrendo agora Este fen meno comprova que n o se extingue uma cultura a n o ser que se extingam as pessoas que manifestam essa cultura Para entender as causas e motiva es que determinaram esse tipo de relacionamento da sociedade envolvente com os povos ind genas necess rio verificar o passado as leis as ideologias fazer a sua cr tica entender esse processo genocida para que se busquem formas de melhor compreend lo e ent o se inserir nele com corre o No cap tulo seguinte nossa reflex o contempla a import ncia do entendimento sobre a categoria cultura bem como suas implica es para a garantia de direitos diferenciados para a popula o ind gena 88 4 CONHECENDO AS TRA
248. la primeira vez num texto constitucional uma garantia dos direitos dos ind genas s suas terras Mas salientamos que o texto daquela constitui o fala em posse e n o em propriedade A posse de uma terra n o d todas as garantias ao seu detentor Somente quem tem a propriedade que tem de fato todas as garantias sobre um bem Na defini o jur dica a posse tem como atributos o uso e a frui o do bem enquanto que a propriedade tem esses dois e mais um terceiro que o atributo da disposi o do bem Ou seja o posseiro s pode usar e fruir dos frutos da terra mas n o pode dispor dela N o pode vender ou doar Somente o propriet rio pode dispor Assim vemos que a primeira Constitui o brasileira que falou do direito terra pelos ndios foi a de 1934 portanto somente 434 anos ap s a chegada dos portugueses Mas mesmo assim essa constitui o disse que somente a posse das 1824 1891 1934 1937 1946 1964 1967 1988 http pt wikipedia org wiki ConstituiwC3 A7 C3 A30 do Brasil Acesso em 27 12 09 115 terras lhes pertenciam Isto foi repetido pelas Constitui es de 1937 e 1946 A constitui o ditatorial de 1967 al m de repetir o que as anteriores falavam sobre a posse passou a dizer que a propriedade das terras era da uni o CF 1967 Art 14 De l para c nas Constitui es de 1969 a segunda da Ditadura e 1988 A Constitui o Cidad permanece a mesma situa o aos ndios cabe a posse
249. ldeia Por Fide S o Leopoldo Nas ruas nos port es das casas nas sinaleiras oferecem o artesanato e assim refor am a economia dom stica dos pertencentes ao grupo que comp em a comunidade Kaingang Foto 16 Crian as Kaingang da Aldeia Por Fie suas atividades produtivas no centro urbano na cidade de S o Leopoldo Fonte Foto de Marinez Garlet 30 12 2009 De um lado a comunidade ind gena com sua especificidade cultural e seus direitos garantidos na CF 1988 e de outro a sociedade dita organizada regida e normatizada por suas leis valores prejconceitos H ambiguidades e diferen as culturais nessas rela es Ambiguidades ou antagonismos refletem se em situa es como falta de entendimento das quest es pertinentes cultura diferenciada fragilidade de pol ticas sociais espec ficas que atendam demanda apresentada pela comunidade respeitando suas particularidades e nas rela es com tantos rg os p blicos gestores MPF CTs Secretarias Municipais e tantos outros que muitas vezes n o sabem como agir frente a esta diversidade cultural Por outro lado reconhecemos a exposi o de crian as a todo um contingente de viol ncia urbana que precisa ser evitada Assim os caminhos seguidos no conhecimento da realidade Kaingang s o inquietantes tamb m para a pesquisadora Pela tica e respeito cultura Kaingang utilizamos nesta disserta o o termo atividades produtivas para designar as a es pr
250. lev ncia que o mesmo tem para a efetiva o de pol ticas sociais com respeito diversidade cultural 72 Site do Conselho Ind gena de Roraima CIR http Avww cir org br noticias php id 655 Acesso em 11 03 10 210 7 PARA SEGUIR E N O CONCLUIR Hoje se sabe que as sociedades ind genas s o parte de nosso futuro e n o s de nosso passado CUNHA 1999 p 22 a 0280 20 20 400 200 00 E A P ABE E AE AE AE AE AE AE AE AE AE AE AE AE AE A A AM O AM ZA 180 40 IM OA B E A A ABE AB A AE AE AE AE AE AE AE AE AE AE A AY AY LA LA A 180 00 20 7400 40 00 H BSS SS SS SS SS SS SS SS SS SS SS SS 3 bs LAR Z AE CABO ARO AB AR AB CARO A AB ARO AB ARA ARO AB AB ARO AB ARA ARO AB AB ARO AB Z AB AO ARO AB AB ARO AB Y AR AO ARO AB AB ARO AB AR ARO ABBO AB ABA AB ARA ARO RABO ARO AB AR AO ARO RABO ARO AB ARO ARO ARO AB ARO AB Y AE A A A LB Gravura 5 Desenho de uma menina Kaingang 09 anos Fonte Menina Kaingang Aldeia Por Fi 09 02 2010 Os passos trilhados ao longo desta disserta o permitiram refletir as viv ncias dos Kaingang na cidade e especialmente sobre as atividades produtivas desenvolvidas por meninos e meninas da Aldeia Por Fi na cidade de S o Leopoldo Realizamos ao longo desta disserta o trilhas e passos na coleta da mat ria prima para materializar nosso artesanato Trilhas s o caminhos e de tanto faz las podem renovar se ou sedimentar se Para que a trilha seja de fato transformada em caminho
251. lguns autores escrevem Cam s e Kayrucr s Tel maco Borba Kadnyer e Kam Becker Baldus Kame e Kaf ru Veiga Kam e Kairu Tommasino Rosa e Fernandes Kam e Kairukr Freitas Nesta pesquisa utilizaremos Kam e Kanhru seguindo as defini es do professor bil ngue da Aldeia Por Fi 129 metade possui pintura corporal distintiva os Kam pintam se com riscos e os Kanhru com c rculos TOMMASINO 2004 p 152 Segundo o mito Kaingang de origem do mundo e da sociedade humana Kam e Kairu s o ancestrais das respectivas metades A sociedade kaingang estabelece uma rela o de oposi o e complementariedade entre os Kam e os Kairu TOMMASINO 2004 p 161 Cada metade utiliza um tipo de marca que define quem Kam e quem Kanhru e fazem isto com pinturas corporais Antigamente faziam com tinturas das pr prias ra zes e cascas de rvores e hoje o fazem com tinta t mpera Os pertencentes aos Kam pintam se com riscos compridos na face dorso pernas e os Kanhru pintam se desenhando c rculos TOMMASINO 2004 p 152 Identificam tais metades como suas marcas culturais e somente fazem isto em dias especiais por exemplo festas apresenta o de dan as culturais cerim nias e em algumas reuni es com gestores p blicos No grupo de dan as participam homens e os meninos jovens mas tamb m tem sido comum a participa o de meninas nestas ocasi es quando de apresenta es em atividades cul
252. lifica o da m o de obra exigida em uma sociedade capitalista quanto mais frente tal demanda por m o de obra t o especializada Assim eles parece se encontrarem frente s piores condi es de competi o em rela o aos demais trabalhadores no cen rio contempor neo e passam a compor a listagem daqueles que permanecem em vulnerabilidade social em fun o do desemprego Mas como dissemos parece pois na realidade n o assim que eles est o como queremos ver e debater neste item Na contemporaneidade a viv ncia nas periferias das cidades uma das formas encontradas pelos Kaingang para que consigam sobreviver mas isto se d basicamente com a venda de seus materiais artesanatos al m de tamb m receberem doa es diversas como alimentos roupas cal ados m veis usados utens lios diversos que para o homem branco acabou de ser descartado Assim a comercializa o do artesanato nos centros urbanos se estabelece quase como nica alternativa para sustentabilidade para alimentar se e viver Mas ser que isto os coloca na mesma categoria que os trabalhadores exclu dos dos processos de produ o em fun o de desqualifica o de m o de obra e desemprego 144 Para o trabalhador urbano que trabalha oito horas di rias ou mais e recebe um sal rio que n o d para satisfazer seu lazer comer bem morar bem seguramente isto remete a ele ang stias frustra es e inseguran a A fadiga do
253. logia o caminho do pensamento e a pr tica desempenhada na abordagem da realidade Para o desenvolvimento da pesquisa a metodologia apresenta se como aspecto central pois abrange as concep es te ricas de abordagem as t cnicas que possibilitam o estudo da realidade bem como o potencial criativo do pesquisador MINAYO 1994 Al m disso a pesquisa qualitativa n o descarta as rela es e a din mica entre a pesquisadora e os participantes sujeitos do estudo Isto considera a import ncia da subjetividade e da interpreta o durante o processo da caminhada Para L dke e Andr 1986 esse tipo de abordagem enfatiza a complexidade das situa es evidenciando a inter rela o dos seus componentes seguindo a met fora de que a uni o de suas ra zes possibilita a seguran a ao grupo Kaingang 40 Foi necess rio no decorrer de nossa an lise buscar na Antropologia apoio te rico tendo em vista que a pesquisa trata da cultura ind gena e aqui a Antropologia tem especial import ncia por demonstrar interesse pelas minorias tnicas e dominadas de todos os tipos ndios negros camponeses favelados desviantes pobres em geral em detrimento do estudo dos grupos ou classes politicamente dominantes e atuantes CARDOSO 1986 p 18 A reflex o cr tica neste estudo ser poss vel com o embasamento antropol gico em rela o cultura dos Kaingang associada s teorias da contemporaneidade do Servi o Social 2
254. m dia complexidade e a de alta complexidade Essa estrutura o visa a melhor programa o e planejamento das a es e servi os do sistema A Visando garantir n o s a aten o prim ria sa de das diferentes comunidades ind genas em n vel nacional mas tamb m criar um elemento facilitador da comunica o entre a popula o ind gena e os servi os oferecidos pela rede do SUS na organiza o dos segmentos ind genas evidenciou se de fundamental import ncia a capacita o de agentes ind genas de sa de Als Os Als s o pessoas da pr pria comunidade contratados pelo gestor municipal com recursos repassados pela FUNASA indicados pela comunidade e pertencentes mesma etnia e que possibilitam uma aproxima o desta com as equipes de sa de nos diferentes locais Possuem assim um perfil de atuar dentro e fora da comunidade e necessariamente precisam ter conhecimento da l ngua Inclu do pela Lei n 9 836 de 1999 Colet nea de Leis CRESS 10 regi o 2005 p 122 4 rg o executivo do Minist rio da Sa de uma das institui es do Governo Federal respons vel em promover a inclus o social por meio de a es de saneamento A Funasa tamb m a institui o respons vel pela promo o e prote o sa de dos povos ind genas http www funasa gov br internet competencias asp Acesso em 19 11 09 106 portuguesa para que sejam facilitadas as discuss es com a equipe local de sa de
255. m dios dizendo que muito dif cil de encontrar aqui na cidade um lugar que tenha e a gente tem que caminhar muito longe pr achar 3 Tuia para os Kaingang o balaio grande com tampa feito em taquara tingida ou fibra natural 56 Ela ouviu atentamente as perguntas que lhe faz amos enquanto tran ava a tampa de uma tuia com fibras de taquara tingidas Neste momento suas duas netas 4 e 6 anos se aproximaram sentando se ao nosso lado brincavam com o fac o que utilizado para os trabalhos de preparo da taquara Ap s lermos e explicar lhe sobre o termo de consentimento entregamos lhe uma c pia mesmo sabendo que aquele documento n o teria significado algum para ela que o dobrou e o colocou sob o pano estendido onde est vamos sentadas Naquele mesmo espa o onde est vamos sentadas no ch o um tempo depois vimos o papel preenchido e assinado por ela tornar se o inv lucro de seu pr prio cigarro feito na hora com fumo picado Parte restante dele virou migalhas nas m ozinhas de suas netinhas Mas o termo de consentimento importante para quem mesmo Certamente para os f g n o para a kuj No dia da entrevista com a kuj fomos interrompidas apenas quando uma de suas filhas chegou onde est vamos e falando no idioma Kaingang com sua m e anunciou a visita de uma mulher f g que veio receber tratamento de ervas e ch s A kuj nos explicou a visita da f g e saiu imediatamente para receber a visitante Em
256. m o e muito prestativo foi respondendo as perguntas previstas na entrevista Houve momentos em que demonstrou grande concentra o sempre manifestando interesse pelo assunto por considerar a import ncia de mostrar aos f g o que as atividades produtivas das crian as significam para eles Os Kaingang s o um povo bastante feliz gostam de dan ar gostam de bailes e de m sica sertaneja No m s de julho o local escolhido pelo entrevistado desta vez foi na soleira da casa Mesmo fazendo muito frio foi ali que nos sentamos Sentados pr ximos apenas ele e a pesquisadora Na aldeia o espa o geogr fico pequeno as casas est o muito pr ximas Nesse momento ent o outro Kaingang ligou seu r dio em volume muito alto Ouvimos e ficou gravado o radialista dizer R dio Alegria agora s o 11h23 e a m sica mais pedida voc n o vale um real Ambos r amos daquela situa o e nos mudamos de lugar cada um carregando sua cadeira e nos sentamos longe da m sica que alegrava o ambiente da casa de seu parente A entrevista com a kuj aconteceu no p tio em frente a sua casa sentadas num pano estendido na terra pura Neste dia como dissemos a pouco dois cachorros acolheram se no mesmo espa o bem pr ximos de n s Falamos sobre ervas ch s onde a kuj nos contou sobre uma crian a que estava doente e que ela a estava tratando com seus conhecimentos de ervas tradicionais Ela comentou a dificuldade de se localizar os re
257. m como a sociedade envolvente estranha a organiza o ind gena esta estranha a organiza o da sociedade envolvente conforme Freitas 2005 refere grande estranhamento do modo como a sociedade branca trata as crian as criadas longe da m e em creches e escolas desde beb s FREITAS 2005 p 147 Na cultura Kaingang as crian as se inserem naturalmente nas atividades do artesanato porque isto faz parte do seu cotidiano na aldeia todos os dias est o em contato com o tramar separar manusear taquaras e cip s e expressam da seguinte forma o que consideram um aprendizado cotidiano As crian as sempre andam com os pais Ar 2009 Meus filhos aprenderam j com 6 anos de idade pra cima e comercializar tamb m vender tamb m Terra 2009 Eles n o precisam assim completar os 18 anos pra depois ir trabalhar eles come am trabalhando desde pequenos para ajudar assim na economia na subsist ncia ent o todos os trabalhos n o importa a idade e o trabalho feito junto Fogo 2009 N o h idade definida para que as crian as sejam inseridas na lida com o artesanato uma vez que est o em constante contato com os materiais e observando seus pais trabalharem na prepara o dos mesmos Na agricultura na col nia toda a fam lia trabalha tanto ndio como branco as crian as j come am a trabalhar desde cedo cuidar as cria es dar comida para as cria es v o na ro a e assim Fogo 2009 A compa
258. ma ind gena de sa de ind gena e como as suas pr ticas fazem parte da sua cultura como um sistema simb lico composto de valores representa es e significados inter relacionados E necess rio apontar que os ndios tamb m t m desenvolvido conhecimentos e saberes sobre sa de e como no caso de nossa biomedicina estes saberes comp em seu sistema de sa de definindo o que doen a e sa de o que causa doen as e o que as cura e o que cura As respostas culturais para estes conceitos de sa de e doen a s o diferentes daquelas da biomedicina e resultam em no es valores e expectativas diferentes e espec ficos segundo a etnia particular O primeiro passo para realizar os princ pios da legisla o sobre sa de ind gena o reconhecimento que estas diferen as s o leg timas e fazem parte de um sistema cultural de sa de N o s o supersti es ou fragmentos de um pensamento menos evolu do LANGDON 2001 p 160 x Entende se que esfor os v m sendo feitos em rela o capacita o de t cnicos da sa de para ind genas no RS H estudos realizados pesquisas produ es acad micas e essas contribui es devem ser aproveitadas para a Di rio de Campo 06 08 09 110 forma o dos profissionais de sa de para que possam implementar de fato um modelo diferenciado de aten o sa de para os povos ind genas Portanto o modelo diferenciado proposto pelo MS de conformidade com os preceitos da CF ainda
259. ma das causas da sa da das reas e a vinda para as cidades ou acampamentos de beira de rodovias Na concep o de territ rio entendemos que cada sociedade ind gena elabora a sua concep o de tempo e de espa o conforme a sua vis o de mundo a qual tamb m orienta as suas pr ticas e rela es sociais e simb licas com a natureza e entre si TOMMASINO 2000 p 192 Em rela o a mobilidade dos Kaingang Tommasino 1998 2000 2004 refor a que um grupo familiar permanecia em local fixo denominado em enquanto o outro vivia em acampamentos tempor rios denominados w re Nas regi es de campo faziam suas aldeias fixas em Faziam tamb m acampamentos ou abrigos provis rios w re Nas florestas e margens dos rios onde permaneciam nas semanas ou meses em que praticavam a ca a ou a pesca Os deslocamentos eram feitos por grupos de parentesco de modo que sempre haviam pessoas no em e outras no w re TOMAMASINO 2000 p 203 204 A autora aponta que os deslocamentos eram feitos por grupos de parentesco de modo que sempre havia grupos no em e outros no w re Desta forma tamb m justifica se a presen a de fam lias nas periferias das cidades enquanto seus parentes permanecem em territ rios demarcados pela FUNAI no interior do Estado do RS As fam lias da Aldeia Por Fi s o provenientes da TI Nonoai no norte do Estado onde a popula o Kaingang de cerca de 1 200 pessoas O processo de aldeamento i
260. mais elevados de nossa civiliza o Demarcavam se as Tis para proteg las mas a pol tica era demarcar pequenas reas por isto a maioria das terras ind genas demarcadas por Rondon no Leste Nordeste Centro Oeste e principalmente no Sul s o pequenas 117 Outra pol tica dos positivistas que muitas vezes ainda est presente era a inser o nas terras demarcadas de funcion rios p blicos como chefes de postos ind genas com a fun o principal de ensin los a trabalhar desenvolvendo inclusive atividades dom sticas A cria o do Servi o de Prote o ao ndio e Localiza o de Trabalhadores Nacionais SPILTN se deu em 1910 Decreto 8 072 de 20 06 10 Gagliardi informa que O rg o tinha dois objetivos espec ficos a prestar assist ncia aos ndios do Brasil que viviam aldeados reunidos em tribos em estado n made ou promiscuamente com civilizados b estabelecer centros agr colas constitu dos por trabalhadores nacionais Os dispositivos relacionados assist ncia ao ndio tratavam a rigor dos seguintes conte dos a prote o ao ndio a terra do ndio e a povoa o ind gena 1989 p 228 229 A Lei do SPILTN dizia que a esposa do chefe de posto deveria saber cozinhar e costurar para ensinar s mulheres ind genas Foi esta uma das principais fun es do antigo SPI O SPILTN conhecido mundialmente somente por SPI e pela atua o vigorosa e protetiva do Marechal Rondon tinha a tarefa de prot
261. mam um feixe de grande resist ncia Mas qual a import ncia da Taquara para os Kaingang Os Kaingang entram na mata e com gestos certeiros abrem trilhas S o vidos matutos Possuem a sabedoria tradicional em si e desenvolvem algumas de suas pr ticas culturais na busca deste material de infinitas possibilidades abastecendo se da natureza pela coleta da taquara cip s e sementes de onde retiram a mat ria prima para a confec o do seu artesanato Na cidade com a escassez de recursos naturais devido inexist ncia de mato rvores cip s e sementes reestruturam o artesanato com recursos industrializados mi angas pe as em metal e bijuterias em geral Mas sempre que poss vel utilizam se da natureza para sua sobreviv ncia e no taquaral escolhem as melhores aquelas que lhes oferecem v rias possibilidades Cortam com o fac o na base cortam as pontas ao longo de cada uma Limpam toda sua extens o O fac o certeiro o bra o decidido a for a necess ria aplicada no lugar certo Cortam uma por uma V o empilhando separando com 26 cuidado Com o fac o um breve corte numa das extremidades o suficiente para que ela lasque por inteiro O corte na ponta facilita a abertura como se a estivessem rasgando de um lado a outro Dentro dela encontra se gua Dentro dela encontra se o cor alimento tradicional O cor uma larva que se origina dentro dos gomos da taquara e com a escassez das matas dificilme
262. mentar se e havia produ o de materiais confeccionados por eles para usufruto da comunidade Com o passar dos tempos com a desapropria o de territ rios fim da ca a pesca e desmatamentos surgiram dificuldades econ micas O processo de reconhecimento e demarca o de territ rios deveria ser considerado prioridade em pol tica p blica voltada para os povos ind genas pois tudo depende da TERRA Toda e qualquer a o melhoria direitos deve partir da garantia do territ rio onde vivem E se para os Kaingang a lei do branco assim n o podemos derrubar essa lei temos que trotear conforme Terra 2009 acentua que a quest o da terra e das leis deva ser refletida pelas lideran as Kaingang FUNAI Minist rio P blico e demais rg os envolvidos com os 200 direitos ind genas Sem territ rio em condi es dignas como ent o pensar em pol tica p blica para os Kaingang que residem num pequeno lote urbano Esta realidade refletida pelos gestores p blicos No caso de S o Leopoldo h o fato de a FUNAI ter dificuldades no reconhecimento do ndio urbano colocando se muitas restri es Isso inviabiliza o repasse de terras e por conseguinte das escrituras para os ndios de forma coletiva As consequ ncias disso a inviabiliza o de constru o habitacional o abastecimento de gua e esgoto entre outras a es determinadas pelo poder p blico Marrom 2009 a doa o da terra que eu acho que
263. mente INESC 2008 p 3 A m e Kaingang relata que A minha menina j foi atropelada l perto da rodovi ria quebrou uma perna e ficou muito tempo sem caminhar ficou em cadeira de rodas E tem outro gurizinho que tamb m foi pego por um carro l em Novo Hamurgo e tamb m ficou muito machucado foi pro hospital e precisou de muito tratamento pr ficar bom Chuva 2009 A concentra o de crian as ind genas em frente ao Shopping de Novo Hamburgo cidade vizinha de S o Leopoldo referenciada pelo gestor p blico Ali n o uma grande arrecada o que eles obt m e ainda por cima uma situa o de perigo que eles est o se expondo aos ve culos que passam ali NH um transito dif cil principalmente nas sinaleiras Verde 2009 A preocupa o com a vulnerabilidade da comunidade refor ada na fala do gestor p blico que expressa a situa o econ mica da seguinte forma Eu acho que ali nas sinaleiras principalmente em NH s o vistos muito mais como pedintes sinceramente Ali uma situa o que pode at ser boa economicamente para eles ao mesmo tempo uma situa o que est fragilizando eles demais Primeiro eles como comunidade eles est o perdendo a pr pria for a deles a pr pria dignidade deles como comunidade que v o virar apelar para a mendic ncia Verde 2009 A exist ncia de crian as Kaingang nas sinaleiras reflete parte do processo de aviltamento e dizima o sofrida pelo seu po
264. mesmas aspira es de futuro e os mesmos ideais coletivos DALLARI 1989 p 82 Sabe se que o contato com os n o ind genas ou com a sociedade envolvente inevit vel para os povos ind genas e que vem ocorrendo desde o ano de 1500 quando da chegada dos primeiros europeus no que mais tarde foi definido como o territ rio brasileiro Iniciamos afirmando que escrever sobre povos ind genas no Brasil n o uma tarefa simples pois se trata de um verdadeiro universo com quest es extremamente espec ficas e complexas Falar sobre povos ind genas requer antes de tudo um esp rito aberto despojado de conceitos pr vios e nesse percurso h desafios a serem seguidos e aqui seguiremos pelas trilhas da hist ria importante e necess rio reconhecer que praticamente todo o conhecimento que se tem acerca dos povos ind genas prov m de documentos escritos pelos europeus e tamb m no decorrer dos tempos at o presente momento ou produzido por ci ncias afetas a esta quest o Antropologia Arqueologia Hist ria Etnologia Etnobiologia umas mais antigas outras mais recentes mas todas prenhes e alicer adas em um cientificismo ocidental 60 Para o Servi o Social brasileiro necess rio a aproxima o com este tema nos contextos das pol ticas sociais pois essa aproxima o ainda t mida e em seus 30 anos de PPGSS PUCRS esta a primeira pesquisa sobre o tema ind gena 3 1 QUEM O IND GENA BRASILEIRO
265. mesmo forma o aos professores etc A lentid o no reconhecimento do ndio urbano por parte da FUNAI dificultando a posse e o registro das escrituras Marrom 2009 Atrav s do depoimento do gestor p blico municipal percebemos que S o Leopoldo caminha solitariamente para atender das demandas apresentadas pelos Kaingang e mesmo afirmando que o munic pio n o possui pol ticas diferenciadas para as fam lias ind genas que residem ali minha compreens o de que as a es aplicadas para a comunidade ind gena no munic pio fazem parte de um conjunto de pol ticas p blicas n o se caracterizando no entanto como pol ticas espec ficas para aquela comunidade ind gena Marrom 2009 201 Afirma por m que No caso das crian as ind genas muitas conversas j foram efetuadas envolvendo a comunidade Kaingang Minist rio P blico Federal Conselhos Tutelares e Secretarias afins No entanto muitas s o as dificuldades Marrom 2009 O gestor p blico expressou que embora a execu o das pol ticas p blicas seja uma prerrogativa do Estado em seu munic pio poss vel a articula o atrav s de parcerias com o chamado terceiro setor a f rmula encontrada para a complementaridade das pol ticas em nosso munic pio sobretudo para aqueles espa os ou a es que o pr prio Estado se v limitado a executar Marrom 2009 A precariedade do trabalho desenvolvido pelo Estado em rela o s pol
266. mo sabendo de nosso compromisso saiu de casa com toda a fam lia para a comercializa o de artesanatos Ao chegar aldeia fomos informadas que ele sa ra sem deixar recado Sabemos da import ncia desta atividade para ele sendo o com rcio do artesanato a fonte de sustentabilidade da fam lia No dia seguinte telefonamos a ele Calmamente nos disse ah o dia estava t o bom pra sair vender que decidi n o te esperar Fui para aproveitar porque nos finais de semana a venda melhor pra gente a gente encontra as pessoas em casa e complementou nos fazendo um velho convite ah tu pode vir outra hora n j sabe como que a gente funciona vem almo ar aqui comer um mi com a 2 m P o tradicional feito de gua farinha de trigo ou milho e assado nas cinzas Veja fotos no anexo A escrita Kaingang possui diferencia es Palavras como emi em por exemplo s o 54 gente Entendemos a atitude do cacique uma vez que importante para ele e sua fam lia vender seu artesanato e n o colaborar com uma pesquisa Para ele a pesquisa n o traz resultados imediatos Mas o trabalho dele sim Relatamos outros fatos comuns no processo de coleta e que fazem perfeitamente parte do cotidiano da comunidade da Aldeia Por Fi No p tio em frente casa um menino batia um martelo em pregos e ripas de t bua batia repetidas vezes fazendo bastante barulho N s pesquisadora e entrevistado sentados no mesmo ambiente
267. mos juntas Muito muito obrigada por tudo Uma palavra CONTRIBUI O para meus e minhas colegas de MESTRADO do NEST e do GFASSS por contribu rem com discuss es te ricas di logos conversas que ampliaram meus caminhos e fazem parte das minhas trilhas a partir de agora Uma palavra COMPET NCIA aos queridos funcion rios do PPGSS Ant nio e Juliana Voc s s o 10 eu sempre disse Uma palavra CUMPLICIDADE para a amiga Cris Rieth sempre presente eterna incentivadora Obrigada Cris voc foi fundamental para meus dias Uma palavra FOR A aos colegas do COMIN especialmente lone Evanir Sandro e Cledes Uma palavra CARINHO aos sempre amigos de S o Paulo Elton e Simone obrigada pela imensa for a e energia Est o comigo h muitos anos e vamos continuar juntos E especialmente ao Mozar que me desacomodou e que s assim reaprendi a voar para novos horizontes Uma palavra RECONHECIMENTO a amiga Yudi Obrigada pela tua presen a em todos os momentos Com admira o a tudo que s e fazes por nossa amizade t o antiga Uma palavra EST MULO para Magda que enxergou longe meu potencial e de forma muito querida e especial Marguit amigas de verdade que me fizeram sentir dor a dor necess ria para estar hoje aqui Sofri muito na m o de voc s Valeu tudo o que fizeram eu faria tudo de novo Uma palavra CRESCIMENTO aos antrop logos Lori Altmann UFPEL Walmir Per
268. mplementares e como esta institui o tem condi es para o desenvolvimento deste projeto autorizo sua execu o Nome Data I I Banco de Materiais Biol gicos N O C digo Postal 90440 011 Assinatura 249 ANEXO A MAPA 1 REGI O SUL REAS KAINGANG REAS KAINGANG D1 loat 02 vanuire 03 Bar o de Antonina 04 Jer nimo da Serra 05 Apucaraninha D6 Mococa 07 Queimadas DS Ivai Da Faxinal 10 Guarapuava 11 Rio das Cobras 12 htangueininha 13 Palmas 14 Xapec 15 Chimbangue 16 Pinhal 17 Kond Csoma i en qd 35 18 Ibirama 19 Inhacor 20 Guarita 21 Ira 22 Rio da V rzea 23 Nonoai 24 Serrinha 25 Vetouro 26 Ventarra 27 Ligeiro 28 Carreteiro 29 Cacique Doble 30 Caseros 31 Rio dos ndios 32 Xingu 33 Cand ia 34 Forquilha 35 Boa sta Fonte Wilmar D Angelis 2006 250 ANEXO B MAPA 2 LOCALIZA O DA ALDEIA POR FI MAPA DE BAIRROS S O LEOPOLDO Aldeia POR FI 251 ANEXO C OFICIO N 286 GAB STE AER PFD RS ADMINISTRA O REGIONAL FUNAI PASSO FUNDO DATA 17 10 2008 MINIST RIO DA JUSTI A FUNDA O NACIONAL DO NDIO FUNAI ADMINISTRA O EXECUTIVA REGIONAL DE PASSO FUNDO RS Of N 28L GAB STE AER PFD RS Passo Fundo 17 de outubro de 2008 A Senhora Marinez Garlet Mestranda no Curso de Servi o
269. mposto pelo SPI nos anos de 1910 a 1950 consistiu colocar de maneira for ada o povo ind gena em territ rios demarcados Neste espa o definido delimitado pequenos ficavam restritos sem a possibilidade de circula o o que alterou o sistema de vida provocando transforma es profundas na produ o e na reprodu o social Esses acontecimentos alteraram os padr es de abastecimento natural e sua organiza o social que sofreu muta es no novo contexto hist rico pois foram abruptamente privados de seus meios de vida a concentra o compuls ria afetou profundamente sua organiza o social e 127 tradicional TOMMASINO 2000 2004 Esse processo de ocupa o dos territ rios pertencentes aos povos ind genas provocou transforma es no sistema de vida das fam lias fazendo que muitas se dispersassem para a beira de rodovias e para os centros urbanos em v rias cidades ga chas A rela o entre indiv duos que vivem em espa os coletivos em comunidade tem elementos de harmonia prote o e seguran a ao mesmo tempo em que surgem elementos de conflito preocupa o inseguran a Numa viv ncia comunit ria um indiv duo depende do outro e ambos se ajudam reciprocamente em suas necessidades rotineiras no conturbado cotidiano social Na comunidade ind gena especialmente o elo de uni o entre os indiv duos d se pelo parentesco Viver em comunidade portanto implica a compreens o do viver comum e est vinculada a
270. mulheres e crian as Participaram desta reuni o al m da comunidade ind gena Prefeito ONGs CIMI e COMIN MPF Secretarias Municipais de S o Leopoldo Foto Marinez Garlet Acervo ISAEC DA PIDA 239 Reuni o na aldeia sobre transfer ncia da rea local e constru o da Escola Ind gena Participaram al m das lideran as cacique vice cacique 2 professores bil ngues m es mulheres e crian as e representantes da 2 CRE SEC CEPI Secretaria Municipal de Educa o de S o Leopoldo e COMIN Foto 15 Aldeia Por Fi 14 03 08 Foto Marinez Garlet Acervo ISAEC DAI PIDA Reuni o na aldeia Kaingang para tratar da presen a de crian as Kaingang nas sinaleiras ruas e com rcio na cidade de Novo Hambugo Al m da comunidade e lideran as da aldeia partiparam CTs Novo Hamburgo e S o Leopoldo COMIN MPF PR de Porto Alegre e Novo Hamburgo Fotos 16 e 17 Aldeia de S o Leopoldo abril de 2007 Foto Marinez Garlet Acervo ISAEC DA PIDA 240 BANCAS DE ARTESANATOS EM ESCOLAS DA REGI O DO VALE DOS SINOS Foto 18 Escola Municipal S o Foto 19 Escola Particular Munic pio de Leopoldo 19 05 07 Sapiranga 24 04 08 Foto Marinez Garlet Foto Marinez Garlet Acervo ISAEC DA PIDA Acervo ISAEC DAI PIDA Atividades palestras em escolas da regi o do Vale dos Sinos por ocasi o da Semana dos Povos I
271. n as ind genas que est o nas ruas e sinaleiras e que este fato incentivado pela sociedade que abre a m o ou seja a sociedade que oferece d esmolas e assim provoca a perman ncia de crian as na condi o de pedintes Este Kaingang segue sua reflex o expressando que Ato de pedir Isto em geral em toda cidade ou Estado assim ent o eu acho que a primeira coisa a ser feito seria cortar mesmo a incentiva o da crian a ali naquele lugar Se cortar a incentiva o das crian as da termina n Terra 2009 melhor pedir do que roubar Ar 2009 pedir n o feio feio roubar N s estamos dando um exemplo pros nossos filhos porque amanh ou depois eles n o venham roubar Est o l vendendo e n o roubando Chuva 2009 Na fala da informante Chuva misturam se os discursos ouvidos de bocas dos brancos onde afirma que pedir n o feio feio roubar Abaixo Vento reconhece que se n o vendem eles pedem um troquinho Acho eu que se eles n o vendem nada eles pedem um troquinho Acho eu que pedir muito mais melhor do que roubar do que assaltar Vento 2009 Para o gestor tudo uma quest o clara de sobreviv ncia Eu acho que uma outra coisa mas que n o envolve aspectos da cultura Kaingang e da nossa lei Acho at que envolve um aspecto econ mico das regi es pra com rcio que eles se movem pra comercializar e saem em busca de re
272. na rea de abrang ncia da aldeia ou acampamento onde esteja organizada a comunidade Os Als centram suas principais fun es na informa o de servi os de sa de no entorno das aldeias conhecimento das unidades de refer ncia identificando os problemas de sa de no ambiente da comunidade e poss veis agentes causadores de doen as Al m destas fun es os Als refor am o elo de comunica o entre a comunidade ind gena e os profissionais de sa de gestores que prestam servi os nos postos de sa de hospitais locais e regionais localizados na rea de abrang ncia das aldeias e acampamentos ind genas O Minist rio da Sa de concedeu FUNASA a responsabilidade de administrar o Subsistema de Aten o Sa de Ind gena articulado com o SUS instituindo se a partir de agosto de 1999 a Pol tica Nacional de Aten o Sa de dos Povos Ind genas preconizada na Constitui o e na Lei Org nica da Sa de A FUNASA tem a miss o de realizar a es de saneamento ambiental em todos os munic pios brasileiros e de aten o integral sa de ind gena promovendo a sa de p blica e a inclus o social com excel ncia de gest o em conson ncia com o SUS No entanto possivel constatar na perversa realidade das aldeias que a sa de ind gena passa por um per odo de muita fragilidade Nos timos anos aconteceram mobiliza es e protestos em nivel nacional de diferentes etnias ind genas que se mobilizaram na busca
273. nando e tais situa es s o motivos de orgulho tem aquela netinha da v ali tem uns 4 5 anos e ela j faz bolinhas de cip J aprendeu a fazer o fundo do balaio e j sabe at fazer balainhos Agua 2009 Os meus come aram cedo ensinamos eles quando eram bem pequeninhos e hoje que eles t o aqui com 14 16 e 17 anos eles sabem tudo T o todos grandes Agora s o profissional Terra 2009 As crian as interagem com os materiais de forma livre por m cuidadosa e o manuseio com a faca fac o fogo ou outros materiais acompanhado pelo adulto que est pr ximo Em rela o confec o dos balaios tramados pelo povo Mby Guarani Assis afirma que crian as jovens adultos e idosos de qualquer g nero e em qualquer fase da vida podem se dedicar elabora o desse objeto ASSIS 2006 p 252 Da mesma forma os Kaingang se utilizam de encontros coletivos para a montagem de balaios cestos colares diversos onde a crian a tem circula o e participa o Assim nas sociedades ind genas a aprendizagem visa propiciar 175 crian a a apropria o de todos os conhecimentos de que necessitar em sua vida adulta FALEIROS FALEIROS 2007 p 60 A import ncia do coletivo garante a organiza o social cultural e econ mica de um povo ind gena e esta organiza o que fortalece suas concep es de vida e de mundo a uma determinada cosmologia organizada e expressa por meio dos
274. nas aldeias dos munic pios de S o Leopoldo e em Porto Alegre Morro do Osso e Lomba do Pinheiro onde procuram seguir tais aspectos culturais quando ocorrem casamentos entre jovens das aldeias urbanas Nas rela es de conviv ncia entre culturas diferentes ocorre uma resignifica o de alguns dos tra os culturais mantidos h s culos Mudan as ocorrem em qualquer cultura e fazem parte da transforma o social culturas alteram se de forma din mica englobam diferen as culturais que existem em outras culturas como por exemplo dan as linguagem vestimentas etc e tamb m envolvem concep es como a moral e a religi o 132 Apesar de todo o territ rio do Vale do Rio dos Sinos ser considerado pelos historiadores pesquisadores e evidentemente pelos Kaingang como um territ rio tradicional desse povo a resid ncia fixa dos Kaingang em S o Leopoldo mais recente Em meados de 1990 cerca de seis fam lias provenientes do munic pio de Nonoai chegaram ao munic pio S o Leopoldo Acamparam nas margens do Rio dos Sinos no trevo de acesso cidade na faixa de dom nio da BR 116 Permaneceram ali acampados embaixo do viaduto de acesso rodovi ria municipal por cerca de oito anos Devido s constantes enchentes do rio e s condi es prec rias que mantinham foram deslocados pela Prefeitura para outra rea p blica ainda nas proximidades da esta o rodovi ria O novo local tamb m insalubre se tratava d
275. nas e africanos que tamb m foram trazidos para o Brasil na condi o de escravos Para Cunha a miscigena o foi fruto primeiro das alian as entre portugueses e ndios acrescida mais tarde de uni es da viol ncia CUNHA 1987 p 114 Importante reiterar nas trilhas desta escrita que o Brasil se tornou essencialmente um pa s mesti o pluri tnico e multicultural em parte como resultado da hist ria das invas es europ ias neste territ rio Essa mesti agem que hoje vemos muito presente nos povos ind genas notadamente nos das regi es Sul Sudeste e Nordeste onde os primeiros avan os colonizadores ocorreram de forma mais intensa contudo n o descaracterizou as culturas ind genas Em nossos trabalhos de campo muito comum vermos dentro das pr prias reas Kaingang por exemplo muitos que s o considerados mesti os entre os pr prios ndios N o seriam nem brancos puros nem ndios puros Em muitos lugares eles s o chamados pelos pr prios ndios de indianos ou seja que n o s o os Kaingang leg timos mas s o considerados Kaingang Eles s o diferenciados pelos demais mas nem por isto deixam de ser considerados como pertencentes ao povo Kaingang Vimos que assim a mesti agem foi assimilada pela cultura pois a cultura n o determinada pela apar ncia mas pelos costumes pelas tradi es pelas cren as comuns A luta desesperada e muitas vezes suicida dos povos ind genas p
276. nas no Brasil In Forma o de professores ind genas repensando trajet rias GRUPIONI Lu s D B Minist rio da Educa o Bras lia 2006 230 p HAVERROTH Moacir Kaingang rela o entre classifica o das plantas e organiza o social p 32 47 In Revista de Divulga o Cultural Os ind genas no Sul uma vis o antropol gica Ano 20 N 64 FURB Blumenau SC 1998 84 p HARPER Babette et al Cuidado Escola Desigualdade domestica o e algumas sa das 33 ed S o Paulo Brasiliense 1994 HOLANDA S rgio Buarque de Ra zes do Brasil 26 ed S o Paulo Companhia das Letras 1995 220 p IAMAMOTO Marilda V Projeto profissional espa os ocupacionais e trabalho do assistente social na atualidade In Atribui es privativas do a Assistente Social CFSS Bras lia 2002 Servi o Social em tempo de capital fetiche capital financeiro trabalho e quest o social 2 Ed S o Paulo Cortez 2008 495 p O Servi o Social na contemporaneidade trabalho e forma o profissional 12 Ed S o Paulo Cortez 2007 326 p 221 INESC Or amento amp Pol tica da Crian a e do Adolescente Crian as ind genas e exclus o social Ano IV N 16 Bras lia novembro 2003 12 p INFORMATIVO FUNAI Minist rio da Justi a Ano 02 N 03 Caderno Bras lia Janeiro de 2009 INSTITUTO P LIS Sobre O Direito Cidade como paradigma da governan a urbana e democr tica Polis publicado em
277. ncia e da Juventude nos diz se est em risco o ECA Da age pela lei do branco o ECA Cinza 2009 complicado porque se quer constituir fam lia etc a lei ind gena mas se est em risco a prote o existente a lei do ECA Cinza 2009 192 Desta forma percebemos que o ECA inadequado para os Kaingang pois n o contempla a realidade do grupo e a participante Cinza concorda afirmando O ECA n o adequado para eles N s brancos nos pegamos em situa es muito delicadas aqui N o podemos mudar isso Cinza 2009 Problematizamos o ECA e sua adequa o para as crian as ind genas pois deveria considerar a diversidade das culturas ind genas Enquanto legisla o federal possui car ter universal e como afirmamos destina se prote o social de todas as crian as e adolescentes no Brasil complicado pr n s Conselheiros N s temos que agir com a prote o at os 18 anos para eles at os 13 ent o se aos 13 anos tem um deles que est em uma festa com um monte de situa es inadequadas pr idade e da Pr eles pode mas pr n s n o pode e dai E muito complicado isso Cinza 2009 O ECA atua independentemente de origens tnicas e socioculturais ou seja sua atua o n o leva em conta a especificidade das diferentes etnias brasileiras Isto contrap e o preconizado na CF 88 que em seu Art 231 que reconhece as peculiaridades em rela o organiza o social costumes
278. ncia na poca de seus primeiros contatos com os europeus e este n o foi um processo estanque ele se estendeu s culos afora e tem sua express o nos dias de hoje Darcy Ribeiro contabilizou que no S culo XX foram exterminados 87 povos ind genas RIBEIRO 1982 p 250 Um resumo tr gico mas verdadeiro dessa realidade o seguinte se existiam 700 povos ind genas em 1500 e restam hoje cerca de 230 foram exterminados em torno de 100 povos a cada s culo desde ent o De fato n o houve um descobrimento mas um encobrimento da verdadeira hist ria do Brasil o que n o se deu por acaso foi tangenciado por interesses diversos vinculados apropria o de terras explora o da m o de obra escrava a explora o do solo aos interesses pol ticos religiosos econ micos e tamb m evidentemente com o objetivo de esconder encobrir essa triste realidade Express es essas que ainda hoje configuram a quest o social no Brasil Visto desta forma conclui se que o Brasil n o foi descoberto e sim sofreu uma invas o num territ rio que j tinha seus habitantes seus verdadeiros donos De acordo com Prezia Os povos que ali viviam falavam diversas l nguas e tinham costumes diferentes Eram tantos que os primeiros europeus que por l estiveram n o cansavam de admirar a quantidade de aldeias encontradas beira dos rios 1992 p 71 62 Existe uma vers o margeada por mitos acerca da forma o do Brasil A maneira como
279. nd genas Em tais eventos a comunidade escolar contribui com alimentos n o perec veis Foto 20 Palestra para crian as f g Foto 21 Palestra em Escola Munic pio Munic pio de Sapiranga RS 24 04 08 de S o Leopoldo RS 20 04 08 Foto Marinez Garlet Foto Marinez Garlet Acervo ISAEC DA PIDA Acervo ISAEC DA PIDA 241 CRIAN AS KAINGANG COMUNIDADE DA ALDEIA POR FI Fotos 22 e 23 Crian as da Aldeia de S o Leopoldo Foto Marinez Garlet Acervo ISAEC DA PIDA COLETA DE CIP MULHERES DA ALDEIA POR FI Fotos 24 e 25 Mulheres coletam cip mr r e armazenam enrolado para facilitar o transporte e manuseio em suas atividades 2007 Foto Marinez Garlet Acervo ISAEC DAI PIDA 242 Foto 26 Coleta de frutas e mr r nas matas pr ximas a Aldeia Por Fi Ressalta se a participa o das crian as nestas atividades 2007 Foto Marinez Garlet Acervo ISAEC DA PIDA Fotos 27 e 28 Bancas de artesanato Divulga o e comercializa o de Artesanato em Escolas particulares 21 11 2007 Foto Marinez Garlet Acervo ISAEC DA PIDA 243 Foto 29 Inclus o Digital Parceria entre Lideran as Kaingang COMIN C ritas Porto Alegre e Escola Sinodal de Sapiranga 2007 Foto Marinez Garlet Acervo ISAEC DA PIDA Foto 30 Menino Kaingang da Aldeia Por Fi Parceria entre Lideran
280. nda da Faculdade de Servi o Social da Pontif cia Universidade Cat lica do Rio Grande do Sul Colho a oportunidade para solicitar sua colabora o autorizando a mestranda a coletar os dados para o desenvolvimento de sua pesquisa de campo junto aos ind genas Kaingang com o intuito de elaborar sua Disserta o de Mestrado Seu projeto de pesquisa sob o t tulo Entre Cestos e Colares viv ncias de crian as Kaingang num espa o urbano ser desenvolvido junto comunidade Kaingang residente no munic pio de S o Leopoldo RS e est sendo orientado por mim Manifestamos a import ncia e a relev ncia do tema proposto pela mestranda tanto para a produ o de conhecimento vem como para a qualifica o das pol ticas p blicas de atendimento popula o ind gena Cordialmente jr Prof Dr bebado Pesquisadora respons vel Orientadora maria bellini Mpucrs br 263 ANEXO J CARTA DA COORDENA O DO PPGSS PUCRS PARA FUNAI DE PASSO FUNDO DATA 22 10 2008 A Pontif cia Universidade Cat lica do Rio Grande do Sul S FACULDADE DE SERVI O SOCIAL PUCRS i PROGRAMA DE P S GRADUA O r d Porto Alegre 22 de outubro de 2008 Prezados Senhores O Programa de P s Gradua o em Servi o Social da Faculdade de Servi o Social da Pontif cia Universidade Cat lica do Rio Grande do Sul vem por meio deste apresentar mestranda Marinez Garlet Assistente Social CRESS 3780 aluna vinculada ao Programa de P s Gradua o de Ser
281. nder nossos balaios Terra 2009 Nas cidades a gente vendia pros f g Eu era pequeno e sempre ia junto Agua 2009 Quando a fam lia sai todas as crian as acompanham se algu m dos filhos ficasse ent o ficava nos cuidados da av ou da tia Fogo 2009 Comparando a sociedade Kaingang com a sociedade envolvente constata se que houve significativas mudan as em seu modo tradicional de vida O Kaingang precisou sair para vender O seu mundo n o se sustentou mais no sistema de troca ou apenas do produto da ca a e da pesca Uma vez que a sociedade capitalista traz em sua ess ncia o imediato onde as coisas n o s o dur veis como reflete Sader 1993 o sistema capitalista atua incentivando a supera o da produ o voltada para a subsist ncia podemos dizer que a sobreviv ncia dos Kaingang por meio do artesanato uma quest o contempor nea e influenciada pelo capitalismo Percebemos algumas diferen as significativas entre a sociedade Kaingang e a sociedade contempor nea no tocante s crian as Os ind genas procuram estar em contato permanente com seus filhos levam nos consigo para suas atividades onde quer que estejam ou v o Suas crian as n o lhes oferecem impedimentos para circula o ou para que desempenhem suas atividades produtivas Na sociedade envolvente as crian as s o colocadas em creches maternais logo ap s o t rmino da licen a maternidade E isso tamb m significa cuidado 180 E assi
282. ndi o de desiguais Essa discrimina o como resultado da forma o e da perpetua o de barreiras ambientais e atitudinais que os impede de participar na sociedade de forma aut noma E mais do que isso numa cultura individualista e reprodutora de estere tipos padronizados o diverso sempre negado desvalorizado e subalternizado quando n o reprimido e agredido Epis dios repetidos de viol ncia contra ind genas negros mendigos homossexuais estrangeiros e mulheres tingem de vergonha o cotidiano brasileiro Frente a isso afirma se que os ind genas constituem um grupo diverso necessitando de pol ticas eficazes que respeitem a sua diversidade como povo que agrega suas especificidades culturais diferentes dos contextos sociais entendidos aqui como sociedade envolvente 93 Baniwa reflete sobre esta quest o na contemporaneidade como resultado de um processo hist rico que precisou inclusive taxar pejorativamente os ndios como forma de por um lado at mesmo destru los e por outro roubar lhes suas terras e suas riquezas processo que permanece atual Ainda hoje essa vis o continua sendo sustentada por grupos econ micos que t m interesse pelas terras ind genas e pelos recursos naturais nelas existentes Os ndios s o taxados por esses grupos como empecilhos ao desenvolvimento econ mico do pa s pelo simples fato de n o aceitarem se submeter explora o injusta do mercado capitalista uma vez q
283. nte 230 AP NDICE B INSTRUMENTO DE PESQUISA FORMUL RIO B ENTREVISTA COM O GESTOR P BLICO MPF Roteiro B para entrevista com o Gestor P blico MPF 1 A Lei aplicada para todos os cidad os brasileiros A fun o de ser Procurador muitas vezes coloca o em uma situa o dif cil com decis es complexas Lidando com Leis num pa s multicultural como o nosso como se efetivam as leis quanto a isto 2 nd Existem possibilidades de garantir o direito cultural e constitucional dos Kaingang no espa o urbano no que se refere s atividades desenvolvidas pelas crian as ind genas Como 3 nd Em rela o a cultura Kaingang que alternativas podem ser usadas respeitando a diferen a cultural para a efetiva o de direitos e a aplicabilidade da Lei 4 Quais os principais empecilhos para a aplica o de Leis considerando a cultura Kaingang 5 Que experi ncias suas o Senhor destacaria que d o visibilidade a essa tens o entre a Lei escrita Judici rio e a cultura Kaingang 6 Como o Senhor percebe a rela o dos CTs e a comunidade Kaingang 7 No seu entendimento o que poderia facilitar a rela o cultural com a sociedade local 231 AP NDICE C INSTRUMENTO DE PESQUISA FORMUL RIO C ENTREVISTA COM GESTOR P BLICO SACIS SL Roteiro C para entrevista com Gestor P blico SACIS S o Leopoldo 1 Qual pol tica p blica S o Leopoldo tem para as crian as e adolescentes
284. nte encontram este alimento O estalar da taquara ecoa no mato Ali est um Kaingang O esfor o do bra o a respira o ofegante a posi o curvada a taquara se rasga como se fosse um tecido uma esp cie de magia Ap s o corte e retirada da base o fac o somente auxilia se acaso o n elo que une um gomo ao outro estiver muito duro Se n o estiver duro a taquara rasgada com as pr prias m os m os de quem sabe o que est fazendo Os n s ou entren s que seguram um gomo ao outro s o importantes e por vezes dificultam o trabalho deles Dificultam a abertura total da taquara que separada ao meio Ao rasgar a haste da taquara a primeira surpresa um mist rio tem gua dentro dela mas n o em todas elas que isto acontece A gua dizem eles parece suja tem jeito de gua suja mas para n s Kaingang ela boa cura doen as usada como rem dio serve para matar a sede Parece gua estragada mas n o Ela escura mas pura natural n o est contaminada por nada Alegam que dela tiramos nosso alimento o cor uma comida muito importante para n s antiga de nossos antepassados uma comida sagrada para nossa cultura Ao rasgar a v g a segunda surpresa tem um bichinho l dentro Tamb m n o encontrado em todas as hastes Chamam este bichinho de v ga na l ngua Kaingang mas tamb m o chamam de cor O cor est dentro dos gomos da
285. nvolvidas por meio da tradi o oral e eram transmitidas em mais de 1 200 l nguas diferentes desprovidas da escrita alfab tica FREIRE 2004 p 11 Deste modo possu am seus pr prios processos de educa o aprendizagem e concep es pedag gicas A l ngua ind gena um elemento cultural importante para a autoestima e a afirma o identit ria do grupo tnico ao lado de outros elementos culturais como a rela o com a terra a ancestralidade cosmol gica as tradi es culturais os rituais e as cerim nias BANIWA 2006 p 123 101 Como princ pio pedag gico a l ngua materna deve ser utilizada para alfabetizar e educar as crian as ind genas BANIWA 2006 onde a alfabetiza o deve acontecer na l ngua espec fica de cada povo lembrando que h cerca de 180 l nguas ind genas faladas no Brasil BANIWA 2006 p 123 No decorrer dos anos a cultura e a l ngua portuguesa mantiveram se dominantes onde a inser o da escola manteve se com o objetivo de integrar para ensinar os ind genas a ler e escrever em portugu s As primeiras escolas para ind genas e n o de ind genas centradas na catequese ignoraram as institui es educativas ind genas e executaram uma pol tica destinada a desarticular a identidade das etnias discriminado suas l nguas e culturas que foram desconsideradas no processo educativo FREIRE 2004 p 11 A Constitui o brasileira garante o direito aos ind genas de permanecerem
286. o LEFEBVRE 1991 p 237 Portanto as categorias te ricas do m todo quais sejam totalidade historicidade e contradi o devem orientar a busca pelo conhecimento pois como constru o coletiva que parte da realidade dos sujeitos mediando processos de reflex o e desvendamento a eles deve retornar de forma cr tica e criativa Lefebvre 1991 ressaltando o rigor do m todo dial tico assim resume as regras pr ticas para a sua operacionaliza o como apreender a analisar a luta os conflitos das contradi es as tend ncias e captar as transi es dos aspectos contradi es e do devir n o perdendo de vista que o processo de conhecimento infinito O saber que se busca neste processo implica compreender a singularidade dos sujeitos estabelecendo aproxima es em rela o realidade de vida dos ind genas O fogo de ch o o p o assado nas cinzas o alimento preparado com banha su na o bolinho frito o almo o coletivo os barulhos a organiza o da casa as rela es que envolvem o grupo em suas rotinas s o aspectos pr prios e singulares que nos aproximam dessa realidade Significa compreender as rela es que estabelecem no contexto social e suas especificidades culturais ou seja a rela o do contexto social como um todo entre as particularidades apresentadas Prates 2003 p 25 aponta que A totalidade concreta n o um dado mas um movimento de autocria o permanente o que implica a historiciza o
287. o Ser que sabemos entender estes sinais Sabemos diferenciar nosso olhar atrav s do parabrisas sempre que vemos crian a na sinaleira na cidade n o apenas meninos e meninas Kaingang Ou vemos e n o enxergamos Ao abrir o sinal verde fugimos dali e deixamos para tr s algo para algu m resolver Neste momento desta caminhada percebemos que os estalos provocados pelo conhecimento realizam pavimentos em nossas trilhas H pavimentos r gidos duros aplicados em a es que provocam pouca comodidade desconfortos mas h outros construtivos e male veis para a pavimenta o de nossos caminhos e a es Entendemos que os profissionais que atuam com os povos ind genas devam seguir por trilhas male veis mexendo com seus cor s seus n s e n o seus eus Entendemos que a exclus o consequ ncia de um processo hist rico e social que privilegia aqueles indiv duos que tiveram condi es de se desenvolver e se manter em uma sociedade consumista e individualista 212 necess rio inovar atuar de forma coletiva e integrada para que as a es diferenciadas aconte am de forma a atender as demandas apresentadas pelos Kaingang Trazer discuss o acad mica as mudan as provocadas na cultura Kaingang e partindo de problemas reais e atuais que perpassam a sociedade contempor nea vivenciadas por diversas comunidades Kaingang no Sul do Brasil entendemos que ao Servi o Social necess rio avan ar
288. o pertenci equipe e residi nesse local em conjunto com outras pessoas da equipe ANAI Devido ao trabalho burocr tico desenvolvido no escrit rio passei a conviver diariamente com os Mby fortalecendo o contato com essa etnia pois uma de minhas tarefas era receb los e aloj los e em fun o disso iniciamos um relacionamento que permanece at hoje Naquela poca a luta pela terra era a quest o maior que mobilizava a equipe da ANAI o que exigiu deslocamentos para fortalecimento da luta e dos direitos especiais aos atendimentos de sa de e educa o Tive a oportunidade de conhecer reas e acampamentos ind genas em todo o Estado Somente ingressei no curso de Servi o Social no segundo semestre de 1988 poss vel afirmar que o interesse por esta tem tica portanto anterior ao Servi o Social pois antes de ingressar nessa Faculdade a realidade ind gena j me mobilizava At o presente momento s o mais de duas d cadas de trabalho exclusivo e direto com os povos ind genas no Rio Grande do Sul Depois de um longo caminho percorrido surge a necessidade acad mica Na sequ ncia do trabalho com os ind genas em julho de 1994 j como Assistente Social assumi o trabalho com os ent o chamados ndios desaldeados no Projeto ndios Desaldeados e Acampados PIDA na institui o Conselho de Miss o entre ndios COMIN Os Kaingang que residiam em meio urbano foram inicialmente denominados por n s equipe COMIN de
289. o Grande do Sul Rece vamos que nosso envolvimento com a comunidade pudesse contagiar nossas an lises pelo excesso de familiaridade contida em nossos v nculos Entendemos que a tica n o neutra exige posicionamentos frente a realidade pois vai al m das ra zes dos fen menos A tica pressup e a compreens o do sujeito portanto n o cabe trat la como uma teoria apenas n o entendida apenas como conhecimento mas tamb m como pr xis BARROCO 2008 Em rela o observa o participante corremos o risco de nada ver ou ainda ver somente aquilo que j conhec amos aquilo que j nos era dado como conhecido N o fomos vazias para o campo fomos com um ac mulo consider vel de viv ncias Beaud e Weber 2007 p 97 refor am que n o h observa o sem anota o e que esta deve estar sustentada em tr s t cnicas fortemente entrela adas perceber memorizar e anotar Por isto utilizamos o di rio de campo sempre que amos na aldeia coletar dados Di rio de campo a principal ferramenta do etn grafo dia a dia anotam se os eventos da pesquisa e o progresso da busca BEAUD WEBER 2007 p 65 Mesmo que n o tenhamos feito esta 11 A dial tica marxista desenvolve se a partir do pensamento hegeliano Marx muda o foco de um movimento que antes estava pautado nas ideias para a apreens o a partir do concreto 34 pesquisa em car ter de etnografia nos utilizamos do di rio de campo como ferramenta fundament
290. o ao setor competente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cient fico e Tecnol gico CNPq a solicita o H consultar as lideran as quanto ao retorno do pesquisador na terra ind gena observar o cumprimento do Art 8 Sa pesquisador interessado por parte do 256 ar E NEA NG mammen eeaeee aen nn ee recompra 257 ANEXO F OFICIO CEP 1446 08 COORDENADOR DO CEP PUCRS DATA 12 12 08 Pontif cia Universidade Cat lica do Rio Grande do Sul PR REITORIA DE PESQUISA E P S GRADUA O COMITE DE ETICA EM PESQUISA OF CEP 1446 08 Porto Alegre 12 de dezembro de 2008 Senhora Pesquisadora O Comit de tica em Pesquisa da PUCRS apreciou e aprovou seu protocolo de pesquisa registro CEP 08 04457 intitulado Entre cestos e colares viv ncias de crian as kaigang num espa o urbano Salientamos que seu estudo ser encaminhado CONEP e somente poder ser iniciado ap s parecer aprobat rio da mesma Os relat rios parciais e final dever o ser encaminhados a este CEP Atencios Prof Dr Jds R Coordenador CEP PUCRS Ilma Sra Profa Dr Maria Isabel Barros Bellini Faculdade de Servi o Social N Universidade Campus Central PUCRS Av Ipiranga 6690 3 andar CEP 90610 000 Sala 314 Fone Fax 51 3320 3345 E mail cepOpucrs br WWww pucrs br prppg cep 258 ANEXO G OFICIO N 524 CGEP 08 FUNAI BRASILIA DATA 15 12 08 COORDENA O GERAL DE ESTUDOS E P
291. o desenvolvimento dos reflexos ideol gicos e dos ecos desse processo vital N o a consci ncia que determina a vida mas a vida que determina a consci ncia MARX 2005 p 52 A totalidade na perspectiva dial tica mais do que uma reuni o de partes um todo articulado interconectado Neste processo a partir do todo isolam se as partes a serem estudadas identificando suas interconex es para posteriormente retornar a totalidade Assim sempre necess rio voltar das partes ao todo pois este que cont m a realidade a verdade a raz o de ser das partes LEFEBVRE 1991 p 210 ou seja a pesquisa dial tica considera o fen meno no conjunto de suas rela es 46 Para desvendar as express es da quest o social materializadas na vida do grupo pesquisado em suas viv ncias com a sociedade n o ind gena pode ser efetivado a partir do que Lefebvre 1991 chama de detour Um movimento regressivo que vai ao passado e progressivo que retorna ao presente desvendando as contradi es desse percurso para a partir da reflex o dial tica n o s a cr tica mas a articula o de novas media es superar suas limita es As leis do m todo devem ser concretas no sentido de que nos permitem penetrar em todo o objeto em toda realidade Com efeito s o as leis internas necess rias de todo devir de todos os objetos e de cada objeto do universo como totalidade e de cada objeto como parcela do univers
292. o dos Kaingang na cidade em rela o de sua subsist ncia Se cada vez mais h redu o de seu territ rio satura o do meio ambiente e no caso desta comunidade h o esgotamento da mat ria prima utilizada para produ o de artesanato para a manuten o do seu trabalho como a sociedade ind gena e n o ind gena vai enfrentar esta quest o Que possibilidades de sustentabilidade t m um povo que originalmente vivia da rela o com a natureza mas que agora mudou tudo No caso das crian as Kaingang para que sejam inclu das a es eficazes e adequadas a elas devem estar articuladas as tr s esferas de governo municipal estadual e federal uma vez que os direitos ind genas est o pautados nos diferentes segmentos do poder p blico e nas pol ticas sociais Constatamos que a es para a efetiva o de pol ticas sociais que atendam a demanda dos Kaingang devem ser tramadas constru das coletivamente assim como o fazem os Kaingang no ato de lidar com a taquara e criar o seu artesanato Sem tramas fortes o balaio se desmancha Sem articula o dos diferentes segmentos p blicos poss vel garantir direitos diferenciados aos meninos e meninas Kaingang que residem em S o Leopoldo A vulnerabilidade tem componentes diversos sociais econ micos culturais e a es desarticuladas do poder p blico e pol ticas sociais universalistas n o permitem sua supera o Se n o poss vel a erradica o da pobreza poss
293. o modo de vida dos indiv duos pertencentes ao grupo A resist ncia tnica dos Kaingang que est o nas cidades busca significados Mesmo em meio urbano os Kaingang de S o Leopoldo mant m sua lideran a espiritual e neste caso a kuj xam especialista em cura uma mulher De acordo com Rosa os xam s s o respons veis pelo tratamento de todas as doen as mas de algumas espec ficas uma doen a de ordem sobrenatural necessita ser tratada com poderes e manipula es de ordem espiritual 2005 p 78 Fotos 8 e 9 Banho de Ervas em Crian as Dia do ndio S o Leopoldo Fonte Foto de Marinez Garlet abril 2007 Acervo ISAEC DAI PIDA 128 Alguns mist rios envolvem a kuj que mesmo n o encontrando com facilidade ervas medicinais para curas e tratamentos se mant m como l der para a comunidade ANTONIO 1997 p 35 refor a que o kuj tem em si a sabedoria divina que um mist rio Assim tamb m denominamos de um mist rio o fato de que a kuj da Aldeia Por Fi seja procurada pela comunidade leopoldense em busca de curas espirituais orienta es de ervas e ch s medicinais para suas doen as contempor neas A l der espiritual inclusive pela grande procura tem vendido os ch s que ela mesma prepara ferve cozinha coa e entrega pronto em uma embalagem de garrafa pet Em abril 2009 na festa de comemora o do Dia do ndio a kuj montou uma cabana xam nica no pequeno
294. o selvagens e sanguin rios A diversidade cultural e os desafios para a materializa o de direitos para os povos ind genas apontam para diferentes formas de ser estar pensar e agir Todos estes aspectos s o relevantes e importantes no processo da sa de educa o do ensino aprendizagem moradia costumes cren as No meio social onde vivemos muitas vezes nem nos apercebemos mas convivemos diariamente com diversas culturas e etnias italiana espanhola alem portuguesa japonesa negra ind gena Estas culturas est o nas salas de aula e os educadores vivenciam esta situa o e muitas vezes nem percebem esta diversidade H diversidade cultural na fila do banco na rodovi ria no supermercado nas igrejas N o paramos para pensar nisto e acabamos por achar que tudo e todos s o iguais Somente quando nos debru amos mais profundamente nessas culturas que nos damos conta dessas diferen as que s o imensas e isto uma riqueza que temos em nosso pa s mas que precisa ser conhecida reconhecida valorizada e levada em conta No caso dos povos ind genas como veremos abaixo sem estas atitudes o mais que os agentes 3 Em 21 de mar o de 1997 o Her i Nacional Zumbi dos Palmares foi inscrito no Livro dos Her is que est depositado no Pante o da Liberdade e da Democracia na Pra a dos Tr s Poderes na capital federal 80 p blicos que atendem os ndios conseguem fazer somente se aproximar dos problemas sem jam
295. obre a amplia o do espa o da aldeia sobre a desist ncia da esposa do cacique que n o queria mais continuar sendo professora na comunidade sobre o casamento do filho mais velho que se casou com uma mo a afrodescendente As anota es foram realizadas no di rio de campo pois neste dia n o foi poss vel utilizar o gravador escritas com acento til sobre as primeiras vogais N o poss vel inserir tal forma de escrever desta forma utilizamos o s mbolo para escrever mi ma entre outras palavras Kaingang que utilizaremos ao longo da escrita 55 Na casa do professor Kaingang a entrevista aconteceu beira do fogo de ch o na parte externa da casa Fazia frio e o espa o escolhido por ele foi bem escolhido e acolhedor como s o os Kaingang Neste dia tamb m agendado previamente o fogo estava aceso e nele assavam m e a cuia de chimarr o seguia entre todos os que ali estavam professor esposa sogra netos filhos e outras crian as que circulavam Houve momentos em que a fuma a flu a bastante A sogra do professor sentou se ao nosso lado fazia sua tuia com um grande feixe de fibras de taquara preparadas e tingidas dias antes Para o tran ado ela precisava molhar as fibras secas para que midas n o se quebrassem Sentada no ch o silenciosa e absorta em seu trabalho umedecia as fibras com sua pr pria saliva como feito por todos os artes os quer sejam homens ou mulheres O professor com a cuia na
296. oles in MOREIRA Alberto da Silva org Sociedade Global cultura e religi o Petr polis Vozes 1998 MAHER Terezinha Machado Forma o de professores ind genas uma discuss o introdut ria In Forma o de professores ind genas repensando trajet rias GRUPIONI Lu s Donizete Benzi org Minist rio da Educa o Bras lia 2006 230 p MARTINELLI Maria Lucia org Pesquisa qualitativa um instigante desafio S o Paulo Veras Editora 1999 S rie de Pesquisa 143 p MARTINS Jos de Souza A sociedade vista do abismo novos estudos sobre exclus o pobreza e classes sociais Petr polis RJ Vozes 2002 228p MARX Karl Manuscritos econ micos e filos ficos Texto integral Tradu o MARINS Alex Ed Martin Claret S o Paulo 2006 223 Sobre literatura e arte Tradu o de Olinto Beckerman S o Paulo Global Editora 1979 HENGELS F O Manifesto do Partido Comunista In MARX ENGELS COUTINHO et al O manifesto comunista 150 anos depois S o Paulo Perseau Abramo 1998 ENGELS Friedrich A ideologia Alem Ed Martin Claret 2005 MEIRELLES Hely Lopes Direito administrativo brasileiro 17 ed S o Paulo Malheiros Ed 1990 701 p MINAYO Maria Cec lia de S O desafio do Conhecimento pesquisa qualitativa em sa de S o Paulo HUCITEC ABRASCO 1994 Maria Cec lia de S org Pesquisa social teoria m todo e criatividade Petr polis Rio de Janeiro Vozes 1994 M
297. omercializa o pelas crian as de produtos que possibilitam a sustentabilidade das fam lias na comunidade ind gena Analisar que valores est o associados ao mundo Kaingang e ao mundo da sociedade abrangente tendo em vista as atividades produtivas realizadas pelas crian as 38 Este estudo incidiu sobre tema n o discutido nos 30 anos do PPGSS PUCRS que a popula o ind gena especialmente a cultura Kaingang A abordagem da pesquisa qualitativa privilegia o contato direto com os sujeitos a serem pesquisados Nossa rela o com os Kaingang resultado de v rios anos com a comunidade ind gena bem como com os gestores p blicos o que favoreceu nossa aproxima o e coleta de dados Assim todos os passos da pesquisa abordaram a intera o constante entre a pesquisadora e o grupo contemplado para a an lise da quest o espec fica da socializa o das crian as Kaingang por meio do processo da produ o e venda de artesanato e da garantia da prote o da crian a e do adolescente previstos na legisla o brasileira Na compara o com a taquara que necessita de solo firme e instala suas profundas ra zes tamb m o conhecimento precisa ser consistente e firme para que possibilite o descortinar de novos enfoques e pr ticas profissionais adequadas ao segmento diferenciado Tamb m n s necessitamos de investimento e tempo para fazer brotar nossos conhecimentos Esta disserta o pode ser caracterizada como pesqui
298. os Kaingang Talvez aqui se encontre respostas ao que os pr prios Kaingang sentem quando afirmam que J o CT foi l na aldeia o procurador esteve l tamb m e discutimos bastante sobre isso sobre o tipo de trabalho das crian as mas virou em nada porque ningu m sabe o que fazer nem o CT sabia o que fazer Ar 2009 O tema da diversidade cultural tem implica es em pol ticas p blicas diferenciadas que contemplem a realidade da crian a ind gena em meio urbano A falta dela ou pol ticas equivocadas contribuem para acentuar a vulnerabilidade da crian a e de sua comunidade A compreens o acerca da especificidade cultural por m merece aten o especial uma vez que os gestores demonstram inseguran a ou desconhecimento para lidar com a cultura ind gena De modo geral os CTs t m s rios limites na compreens o do seu papel incluindo se a a concep o e a metodologia especialmente em se tratando da cultura Kaingang Marrom 2009 Devido aus ncia de pol ticas p blicas e de legisla o espec fica direcionadas crian a ind gena no Brasil vale ressaltar que nos ltimos anos este tema v m sendo discutido entre os movimentos sociais entidades representativas dos direitos da crian a e do adolescente 203 Sabemos que o ECA em seus vinte anos de atividade apontou defici ncias e fragilidades em lidar com as diferentes culturas ind genas Falar em garantia de direitos para crian as ind
299. os confeccionados na aldeia de S o Leopoldo Nas ruas nos port es das casas nos sem foros oferecem cestos e colares confeccionados por suas fam lias atividades que refor am a economia dom stica dos pertencentes ao grupo que comp em a comunidade Kaingang De um lado a comunidade ind gena com sua especificidade cultural e seus direitos garantidos na Constitui o Federal CF 1988 e de outro a sociedade dita organizada regida e normatizada por suas leis valores preconceitos H ambig idades e diferen as culturais em ambas as rela es Essas ambig idades ou antagonismos refletem se nas seguintes situa es como por exemplo a falta de entendimento das quest es pertinentes cultura diferenciada aus ncia de pol ticas sociais que atendam a demanda apresentada pela comunidade respeitando suas particularidades Por outro lado a exposi o de crian as a todo um contingente de viol ncia urbana que precisa ser evitada O objeto desta pesquisa avaliar o significado do trabalho atividades laborais de meninas e meninos Kaingang na sua rela o de com rcio dos artesanatos em taquara cip s e mi angas cestos colares nas ruas da cidade de S o Leopoldo e em Novo Hamburgo munic pio vizinho O foco da pesquisa tamb m ser direcionado no o da sociedade envolvente em rela o ao tema proposto O objetivo principal do estudo Investigar o significado que as atividades laborais infantis t m para a comunidade Kaingang
300. os depoimentos dos gestores p blicos destacamos sete categorias intermedi rias 1 p 52 Essas categorias foram reagrupadas em seis e finalmente em novo re agrupamento para duas grandes categorias finais que s o cultura e pol tica p blica Embora sejam as mesmas categorias cultura e pol tica p blica como explicitamos no pr prio quadro poss vel observar a import ncia da cultura para a comunidade ind gena pois a maioria das categorias intermedi rias vinculam se a elas O mesmo observamos na categoria pol tica p blica em rela o aos gestores Essa observa o j aponta um dos caminhos necess rios para o enfrentamento dessa realidade que a compreens o da import ncia da cultura para os ind genas Mais do que pol ticas p blicas e trabalho os ind genas querem ser acolhidos e respeitados no que lhes diferencia e qualifica a sua maneira singular de ser e viver Durante o processo de an lise identificamos as seguintes categorias intermedi rias 1 nas express es dos Kaingang entrevistados em rela o categoria final cultura atividade produtiva aprendizagem artesanato sustentabilidade coletatroca e vulnerabilidade E em rela o categoria pol tica p blica direitos diferenciados foi a categoria intermedi ria 1 que sobressaiu Faremos a an lise das amp Charrua Kaingang e Guarani 165 mesmas de forma individual mas estamos conscientes de que est o interligadas da mesma forma que as fibras da
301. os e firmes no ch o assim como as ra zes da taquareira que fixam se de forma firme nutrem se no coletivo com ra zes profundas e em grande quantidade S o ra zes consistentes dif ceis de arrancar exterminar assim como ocorre na taquareira Em todo o pa s eles n o est o soltos dispersos mas sim se mant m num coletivo em comunidades nas quais se fortalecem Os povos ind genas resistiram e ainda resistem nesses coletivos dentro de suas aldeias nas terras ind genas ou fora delas Chamamos especial aten o aqui 86 para o fato de que nas ltimas d cadas vem aumentando o n mero de popula es ind genas fora das Tis Mas mesmo morando nas cidades permanecem reivindicando p blica e oficialmente sua condi o de povos ind genas no territ rio brasileiro S o fam lias ind genas muitas vezes miscigenadas vivendo em periferias de cidades ou nos fundos dos grot es pois ao longo do processo de invas o de seus territ rios sofreram espolia o de seus espa os territoriais e muitos at mesmo esqueceram sua l ngua at mesmo porque eram proibidos de fal la Nos embalos dos ventos mais democr ticos p s Constitui o de 1988 esses grupos t m reencontrado contextos pol ticos e hist ricos favor veis retomada de suas identidades coletivas ind genas Nos ltimos anos aumenta o n mero de popula es que passam a reivindicar p blica e oficialmente a condi o de ind genas no Brasil Trata se de fam
302. outras e realizamos a pesquisa de campo Ressaltamos que no trabalho de campo para a coleta de dados exercitamos a observa o participante onde tamb m por nossa larga experi ncia profissional junto aos Kaingang sentimos um envolvimento maior com os sujeitos justamente por manter com eles fortes v nculos emo es e rela es constru das em duas d cadas de trabalho E vale ressaltar aqui que esta rela o de proximidade n o aconteceu durante as etapas de coleta J mant nhamos rela o de trabalho com os ind genas pesquisados mas tamb m com os gestores p blicos Procurador da Rep blica Conselheira Tutelar Diretor do Departamento de Prote o Social B sica PMSL pessoas e institui es com as quais nos articul vamos acerca dos atendimentos para a comunidade Kaingang foco deste estudo Os registros das entrevistas foram feitos em formul rios e anota es sistem ticas no di rio de campo 2 3 COMUNIDADE ESCOLHIDA A pesquisa desenvolveu se na comunidade Kaingang da Aldeia Por Fi localizada na zona urbana do munic pio de S o Leopoldo Rio Grande do Sul Trata se de comunidade ind gena que vive na periferia da cidade mas nem por isso deixam de ser Kaingang Na realiza o da investiga o assim como os Kaingang 1 Os formul rios de entrevistas constam nos ap ndices desta disserta o 17 A comunidade nomeou a Aldeia somente em dezembro de 2008 quando foram transferidos das margens da BR
303. para todos Rio de Janeiro Graal 1992 90 p GAKRAM Nambla Os povos ind genas e as cidades criadas em seus antigos territ rios In MOTA Lucio Tadeu org As cidades e os Povos Ind genas mitologias e vis es Maring EDUEM 2000b 47 p GALV O Ana Maria de Oliveira BATISTA Ant nio Augusto Gomes Oralidade e escrita uma revis o Cadernos de Pesquisa v 36 n 128 p 403 432 maio ago 2006 Dispon vel em lt www scielo br pdf cp v36n128 v36n128a07 pdf gt GAGLIARDI Jos Mauro O ind gena e a Rep blica Editora Hucitec Editora da USP Secretaria do Estado da Cultura de S o Paulo S o Paulo 1989 220 GARLET Marinez O Servi o Social e a Quest o Ind gena alguns apontamentos Trabalho de Conclus o de Curso Faculdade de Servi o Social PUCRS Porto Alegre outubro de 1991 145 p GEERTZ Clifford A interpreta o das culturas LTC Editora Rio de Janeiro 1989 213 p GOERK Caroline Processos de trabalho na economia popular solid ria uma forma diferenciada de organiza o do trabalho coletivo no Rio Pardo Disserta o de Mestrado PUCRS Faculdade de Servi o Social Porto Alegre 2006 GOMES M rcio Pereira Os ndios e o Brasil Rio de Janeiro Ed Vozes 1988 237 p GUSM O Neusa Maria M de org Diversidade cultura e educa o olhares cruzados S o Paulo Biruta 2003 223p GRUPIONI Lu s Donisete Benzi Contextualizando o campo da forma o de professores ind ge
304. pesquisou e catalogou 1 400 etnias diferenciadas Um universo fant stico e ainda pouco conhecido O poder da mem ria entre os povos ind genas altamente especializado ao contr rio da civiliza o ocidental que delegou a mem ria para os livros e mais recentemente para os computadores celulares internet A tradi o oral dos povos ind genas uma fonte geradora de conhecimentos que satisfaz plenamente suas culturas Os povos sem escrita n o s o ent o menos adultos que as sociedades letradas CLASTRES 1990 p 16 e principalmente devido oralidade que essas culturas s o t o resistentes A oralidade imp e o constante interc mbio de informa es para a caracteriza o de sociedades que t m se valido da linguagem oral em seus processos de comunica o GALV O BATISTA 2006 Mas devido aos avan os tecnol gicos das ltimas d cadas tamb m as comunidades ind genas precisaram incluir em seus conhecimentos as ofertas tecnol gicas existentes em nosso mundo contempor neo No cotidiano de suas aldeias no desenvolver de sua cultura os povos ind genas prescindem absolutamente da escrita mas para fora do grupo nas articula es com o mundo do branco imposs vel ficar sem ela Para a vida interna nas aldeias a oralidade supre plena e eficazmente suas necessidades de elaborar e transmitir conhecimentos A imposi o da escrita se n o for bem trabalhada no grupo poder ser um fator de desestr
305. pois esses apreciam prender o kuprig esp rito das crian as quando suas m es se deslocam para a mata no ato da coleta da mat ria prima para seus artesanatos uma vez que a mata um espa o povoado de seres e esp ritos vis veis e invis veis Para as mulheres Kaingang da TI Votouro munic pio de Benjamim Constant do Sul os esp ritos da taquara n o ficam parados como o fazem os seres humanos mas ficam falando no ar Rosa 2005 Apesar de todos os esp ritos que residem na floresta virgem terem propens o a raptar o kuprig de crian as o esp rito da taquara aquele que mais se destaca nessa pr tica esses esp ritos s o mais fortes que os esp ritos das crian as Por isso as m es colocam as crian as nas costas amarradas com um pano de medo dos esp ritos da taquara assegurarem o esp rito das crian as ROSA 2005 p 371 A for a da taquara e a gua contida entre os entren s s o considerados mist rios para os Kaingang Tamb m n s podemos associar que a resist ncia Kaingang um algo misterioso pois mesmo ap s 510 anos de contato com a sociedade envolvente sofrendo toda sorte de opress es e sofrimentos eles continuam firmes e fortes bem pr ximos de n s Um dos professores bil ngues da Aldeia Por Fi durante nossa coleta de dados associou os 510 anos de invas o do Brasil com a idade das taquaras Referiu se em sua associa o desta maneira a coloniza o do Brasil tem 17 vezes o nascer
306. por desvincular me em outubro de 2008 por conta dos objetivos a serem percorridos nas trilhas do Mestrado no PPGSS PUCRS Por mais de uma d cada trabalhei como assistente social nessa institui o e isto enriqueceu minha atua o profissional e abriu portas que ajudaram a efetivar aos ind genas a inclus o em algumas pol ticas sociais No COMIN de julho de 1994 a dezembro de 1997 constitu a equipe de trabalho do PIDA juntamente com um assessor jur dico e uma pastora luterana Um dos objetivos de nosso trabalho foi realizar um mapeamento de fam lias Kaingang que migraram para a periferia de diversas cidades na regi o metropolitana da Grande Porto alegre como Canoas Alvorada Gravata Gua ba Novo Hamburgo S o Leopoldo e outras cidades mais para o interior como Ivoti Nova Petr polis Parob Lindolfo Collor Bento Gon alves e assessorar lideran as para a demarca o de terras ind genas no interior do Estado A partir de 1997 atuei junto ao povo Mby Guarani por cerca de tr s anos na luta pela garantia de territ rios na identifica o de poss veis terras para demarca o nos munic pios de Camaqu Gua ba Tapes Barra do Ribeiro Mariana Pimentel Eldorado do Sul Torres S o Miguel das Miss es Nesse per odo a atua o profissional tamb m contemplou atendimentos em sa de subsist ncia garantia da efetiva o das pol ticas p blicas entre outras a es Nos quatorze anos de trabalho no COMIN
307. princ pio de trabalho o n o contabilizar os ind genas que vivem fora de terras reconhecidas e demarcadas ou seja atuam com as popula es reconhecidas e registradas por elas De acordo com Baniwa Nos dados da FUNAI e da FUNASA portanto n o est contabilizado o grande n mero de ind genas que atualmente reside nas cidades ou em terras ind genas ainda n o demarcadas ou reconhecidas mas que nem por isso deixam de ser ndios O IBGE utilizou o m todo de auto identifica o para chegar aos seus n meros o que parece ser mais confi vel e realista Al m disso ainda existem povos ind genas brasileiros que est o fora desses dados inclusive os do IBGE e que s o denominados ndios isolados ou ndios ainda em vias de reafirma o tnica ap s anos de domina o e repress o cultural BANIWA 2006 p 28 H uma cr tica com rela o atua o da FUNAI e FUNASA nesse tocante pelo fato delas n o aceitarem ainda a determina o da Conven o 169 da Organiza o Internacional do Trabalho assinada e reconhecida pelo Estado Brasileiro da auto identifica o dos povos ind genas e tribais Ou seja s o esses povos que se auto definem como ind genas e n o estudos ou pareceres externos a TT eles que garantem esta diversidade Isto vem mudando paulatinamente mas a FUNAI ainda utiliza se de estudos antropol gicos para definir a indianidade ou n o de determinados grupos O Decreto 1 775 96 define as cl
308. pud Reis 2007 p 31 A defini o da categoria pobreza remete ao pensamento da situa o econ mica ou seja financeira Para os povos ind genas a l gica outra Em linhas gerais para eles a pobreza n o est associada inexist ncia de bens de consumo ou ao ac mulo de bens m veis e im veis Para os Kaingang pobreza poderia sim ser considerada como a aus ncia de cren a de seguran a de espa o adequado para realizar dan as e curas tradicionais Pobreza mais aus ncia ou impossibilidade de viver sua cultura Num espa o de terra reduzido encontrado na realidade dessas aldeias nas vilas e periferias urbanas a percep o de pobreza vista pelos de fora por aqueles e aquelas que passam pela comunidade e os v ali organizados de outra forma Sem saber como se estabelecem em suas rela es internas como se reproduzem f sica e culturalmente atrav s das atividades econ micas qual o meio ambiente que necessitam para a sua reprodu o f sica e cultural quais as rela es estabelecidas com a economia de mercado como lidam com o excedente e como integram as esferas da economia esse assistente externo com o entendimento que possui e 151 percebe dos demais exclu dos da sociedade capitalista certamente errar em sua an lise sobre a situa o de pobreza dessas comunidades Ser necess ria uma grande perspic cia para compreender que as id ias as concep es e as no es dos homens numa palavra a
309. que a gente faz e os meus filhos trabalham com artesanato desde pequeninhos junto com a gente Chuva 2009 O depoimento da participante Chuva inicia explicitando como se configura a sua cultura E a partir da tece o dia a dia na comunidade com a participa o e a constante proximidade entre adultos e crian as Ao afirmar que meus filhos trabalham com artesanato e que participam de tudo o que a gente faz entende que para os Kaingang as atividades desenvolvidas por seus meninos e suas meninas garantem um espa o de socializa o e aprendizado na aldeia pois est o desde pequeninhos junto com a gente 167 Desde pequenas as crian as Kaingang s o preparadas de acordo com a cultura do povo para enfrentarem a vida adulta atrav s da venda do artesanato que os Kaingang ensinam suas crian as a enfrentar na cidade o desafio da comercializa o nas ruas esquinas port es de resid ncias ainda que reconhe am que estas est o expostas a alguns perigos Para BREGALDA e CHAGAS 2008 o artesanato contemporaneamente uma atividade produtiva dos Kaingang que os permite atualizar uma s rie de rela es sociais culturais cosmol gicas 2008 p 52 A manuten o do grupo seus modos de vida sua organiza o e especificidades est o diretamente vinculadas ao trabalho do artesanato e desta forma as atividades das crian as em rela o confec o inscrevem se como importante refer ncia na
310. r baixo a fim de que lentamente dando gritos e em tormentos infinitos rendessem o esp rito ao Criador Eu vi uma vez quatro ou cinco dos principais senhores torrando se e queimando se sobre esses gradis e penso que havia ainda mais dois ou tr s gradis assim aparelhados e pois que essas almas expirantes davam grandes gritos que impediam o capit o de dormir este ltimo ordenou que os estrangulassem mas o sargento que era pior que o carrasco que os queimava eu sei seu nome e conhe o seus parentes em Sevilha n o quis que fossem estrangulados e ele mesmo atuchou pelotas na boca a fim de que n o gritassem e ati ava o fogo em pessoa at que 71 ficassem torrados inteiramente e a seu bel prazer Eu vi as cousas acima referidas e um n mero infinito de outras e pois que os que podiam fugir ocultavam se nas montanhas a fim de escapar a esses homens desumanos despojados de qualquer piedade ensinavam c es a fazer em peda os um ndio primeira vista Esses c es faziam grandes matan as e como por vezes os ndios matavam algum os espanh is fizeram uma lei entre eles segundo a qual por um espanhol morto faziam morrer cem ndios Las Casas 1985 p 32 33 A ideia difundida de que os povos ind genas eram bandos errantes povos sem o m nimo de civilidade e como tais n o tinham qualquer direito propriedade e nem tinham organiza o social pol tica e jur dica ainda est presente na nossa sociedade em geral e muito ut
311. r interditada pelos motivos apontados no Art 10 inciso III Art 11 Todos os pesquisadores estrangeiros ou nacionais que tiverem autoriza es concedidas para ingresso em terras ind genas obrigar se o I cumprir todos os preceitos legais vigentes notadamente os previstos na Lei n 6 001 de 19 12 73 mhtml file EAMESTRADON r o j e t o de Pes q u i s alprojeto 2008iModelos AnexosiF 9 12 2009 266 FUNAI ingresso em terras ind genas Page 3 of 3 II remeter FUNAI relat rio dos Trabalhos de campo em portugu s at 6 seis meses ap s o t rmino da pesquisa onde poder o constar sugest es pr ticas que possam trazer benef cios para as comunidades ind genas que poder o ser consideradas pela FUNAI nas defini es de sua pol tica III remeter FUNAI 2 dois exemplares de publica es artigos teses e outras produ es intelectuais oriundas das referidas pesquisas Art 12 Nos casos de solicita o de prorroga o do prazo para continuidade do projeto de pesquisa cient fica na mesma terra ind gena caber a Coordena o Geral de Estudos e Pesquisas CGEP os seguintes procedimentos I notificar junto ao setor competente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cient fico e Tecnol gico CNPq a solicita o II consultar as lideran as quanto ao retorno do pesquisador na terra ind gena III observar cumprimento do Art 8 por parte do pesquisador interessado Resolu o 196 96 Dire
312. ra o que o entrevistado Fogo nos traz tem sua import ncia uma vez que os filhos dos brancos desde pequenos tamb m aprendem e ajudam suas fam lias Os trabalhos na ro a cuidados com cria es e nos trabalhos dom sticos Nas sociedades ind genas isto faz parte da vida de todos e em rela o aos Kaingang Becker relata que em 1929 As crian as grandes e pequenas e at rapazes tomam parte indistintamente nos brinquedos e as crian as maiores zelam pelas menores BECKER 1976 p 138 Para Cohn os pequenos aprendem entre si e por conta pr pria muito do que necessitam COHN 2002 p 222 Nas sociedades ind genas irm os maiores cuidam dos menores semelhante a outras culturas existentes no Brasil As formas de educa o que desenvolvem lhes permitem continuar a ser eles mesmos e transmitir suas culturas atrav s das gera es A educa o praticada e vivenciada pelos povos ind genas possibilita que o modo de ser e a cultura venham a ser reproduzidas pelas novas gera es 181 mas tamb m d o a essas sociedades o poder de encarem com relativo sucesso situa es novas o que faz com que eles n o se mostrem perdidos diante de acontecimentos para eles inteiramente in ditos BANIWA 2006 p 130 A reflex o acima de um ind gena da etnia Baniwa evidencia como os Kaingang sustentam suas din micas no cuidado de suas crian as desenvolvendo a educa o transmitida atrav s de suas gera
313. ral considerado pelos f g como crian a e adolescente o participante Terra manifestou certa dificuldade de entender esta complexidade Foi necess rio explicar lhe exemplificando para que ele entendesse o que a pesquisadora queria saber se para ele existe uma divis o entre o que considerado crian a e o que considerado adolescente Entendi mais ou menos esta pergunta mas pr gente assim os nossos filhos s o crian as e j viram adultos quando tem 12 13 15 anos a gente j considera eles adultos podem casar ter filhos essas coisas Terra 2009 Os povos ind genas no Brasil n o tem a mesma percep o que os demais cidad os brasileiros tem em rela o categoria adolescente uma vez que com 13 14 anos o indiv duo passa a ser considerado um adulto Para os Kaingang por exemplo existe a crian a e o jovem Pr mim o Jo o um jovem Ele tem 14 anos e n o mais considerado crian a j passou por esta parte a gente percebe que a fala dele j mudou e assim ele logo pode se casar e ter a fam lia dele Chuva 2009 As express es de Cinza comprovam o que a lei exige O ECA bem claro pr n s a prote o at os 18 anos pr eles at os 13 e a partir dos 13 eles podem constituir fam lia casar etc Da a gente se coloca assim se est em risco pr n s vai funcionar como est dito no ECA porque como que a gente vai agir Cinza 2009 A gente segue o que a nossa Promotora da Inf
314. ramos deixamos tudo ajeitadinho e isto demora leva um temp o pr fazer isso porque temos que catar as boas limpar cortar as pontas de baixo e de cima Quando t tudo prontinho chega o caminh ozinho da Habita o e leva a carga de material pr n s e deixa l na aldeia Di rio de Campo 2009 Esta demanda articulada pelos ind genas com a SEMHAB evidencia como eles v o criando e recriando processos mesmo em meios urbanos e modernos Ao inv s de se inserirem na ind stria no com rcio nos servi os continuam tran ando sua cultura produzindo cestos e colares e lutando pela sobreviv ncia na cidade Como resultado do processo de imposi o governamental h reas ind genas onde moram no mesmo territ rio dois povos ou mais No RS temos exemplos de Tis onde vivem os Kaingang e os Guarani por exemplo as TI de Cacique Doble Nonoai Tenente Portela Mesmo morando na mesma rea ind gena cada etnia possui suas leis regras lideran as cultura Em regra geral n o h 126 embricamento ou sobreposi o de poder por parte dos caciques entre as etnias onde cada um procura manter a organiza o do seu territ rio de acordo com seus princ pios culturais cada um com sua lideran a na sua comunidade No entanto vez que outra ocorrem problemas de ordem social pol tica e econ mica nessas terras pois al m de terem sido aldeados dois povos num mesmo espa o este ainda via de regra diminuto insuficiente sendo esta u
315. rci Rodrigues Fortes aprovando a coleta dos dados pela pesquisadora apresenta carta do Procurador da Rep blica do munic pio de Novo Hamburgo autorizando a pesquisa ap s aprova o pelos rg os respons veis apresenta carta do Conselho Tutelar e da Secret ria Municipal de Assist ncia Cidadania e Inclus o Social aprovando a pesquisa Diante do exposto a Comiss o Nacional de tica em Pesquisa CONEP de acordo com as atribui es definidas na Res CNS 196 96 manifesta se pela aprova o do projeto de pesquisa proposto Situa o Protocolo aprovado Bras lia 14 de abril de 2009 Coordenadora da CONEP CNS MS 3 3 Acifr 261 262 ANEXO CARTA DA ORIENTADORA DA PESQUISA PARA A FUNAI DE PASSO FUNDO DATA 22 10 2008 s Pontif cia Universidade Cat lica do Rio Grande do Sul FACULDADE DE SERVI O SOCIAL NEST N cleo de Estudos e Pesquisa em Sa de e Trabalho Av Ipiranga 6681 P 15 sala 330 Cep 90619 900 Porto Alegre RS Brasil Fone 51 3320 3539 Fax 51 3320 3606 E mail servi o social pgOpucrs br Porto Alegre 22 de outubro de 2008 FUNAI Passo Fundo RS Sr Jo o Alberto Ferrarezze e ou Sr Maria In s de Freitas M D Administrador Regional Rua Uruguay 2648 Bairro Boqueir o CEP 99 010 112 PASSO FUNDO RS Prezados senhores Pela presente apresento a mestranda MARINEZ GARLET Assistente Social CRESS 3780 aluna do Programa de P s Gradua o Mestra
316. re o que ela diz e o direito ind gena vale o preconizado no ECA Por que ent o garantir se os direitos ind genas Entendemos sim que dentro do ECA deveria haver um dispositivo legal que garantisse de fato o respeito s diferen as culturais de forma gen rica Mas para 205 mais do que isto no caso dos povos ind genas deveria tamb m existir um dispositivo legal que atentasse que os povos ind genas ainda s o mais de 200 culturas e todas diferentes entre si e da sociedade envolvente Contudo somente o escopo deste tema enseja um estudo e um debate muito mais aprofundado Fazemos aqui somente mais um registro exemplificando tudo o que discorrermos neste trabalho Outro avan o em rela o s pol ticas p blicas diferenciadas para os ind genas no Brasil vincula se implanta o de Centro de Refer ncia de Assist ncia Social CRAS especificamente aos ind genas e estes s o chamados de CRAS Ind genas O CRAS atua em conson ncia com o Sistema nico da Assist ncia Social SUAS com programas e pol ticas de assist ncia social e possui como prerrogativa o atendimento de fam lias em risco e vulnerabilidade social com o sentido de potencializar a prote o social das fam lias que residem no munic pio Em S o Leopoldo est o implantados cinco CRAS e at o momento nenhum deles direcionado comunidade Kaingang Desde 2005 o Minist rio do Desenvolvimento Social e Combate a Fome MDS atrav s da Secretaria Nacional de
317. re os ndios e garante s popula es ind genas todos os direitos fundamentais e sociais argumentou o Minist rio P blico na a o No entender do Procurador da Rep blica a decis o judicial favor vel pode romper com uma pr tica da administra o p blica de tratar de forma diferenciada ndios que residem nas cidades daqueles que vivem nas aldeias no interior do Estado Ele relata que enquanto ind genas que moravam em suas aldeias e comercializavam artesanato nas cidades conseguiam o benef cio no INSS havia casos de ndios que viviam da mesma atividade e n o obtiveram seu direito em fun o de ter moradia fixada fora da aldeia A situa o agravada se considerarmos a demora da FUNAI em cumprir com as demarca es de terras reivindicadas pelos povos ind genas do RS 61 Minist rio P blico Federal RS site http www2 pgr mpf gov br noticias noticias do site indios e minorias mpf rs indios 201curbanos201d tem direito a beneficio no inss Acesso 04 01 10 142 Finalizamos este item sem esgot lo Afirmamos que as cidades onde vivemos se originaram justamente a partir dos n cleos ind genas e n o o contr rio e desta forma estamos nos seus espa os a cidade nos espa os ind genas pois na medida em que os territ rios Kaingang eram colonizados reduziam se suas potencialidades em termos ecol gicos e econ micos os s tios de ca a pesca coleta e cultivo eram paulatinamente convertidos em col nias
318. reansacoereessanoo 252 ANEXO E INSTRU O NORMATIVA N 001 PRESI BRASILIA DATA 09 11 1995 cucosiiaiimasisosonarniaiarmisiashoos bsariraniiviniaiiios hos aanadiioib fa ioasa di uinaiiio ias eenininiaa a 253 ANEXO F OFICIO CEP 1446 08 COORDENADOR DO CEP PUCRS DATA 2 12 00 saem assar sedia ara onsibss fia doicandicisis aaa b asia E 257 ANEXO G OFICIO N 524 CGEP 08 FUNAI BRASILIA DATA 15 12 08 COORDENA O GERAL DE ESTUDOS E PESQUISAS 258 ANEXO H PARECER MS CNS CONEP N 201 2009 PROTOCOLO DE APROVA O DA PESQUISA JUNTO AO CONEP BRASILIA DATA 14 04 2009 coa E iate o Soros ita Diana LE So uai dar T cs ano ai Se noi den teia 259 ANEXO CARTA DA ORIENTADORA DA PESQUISA PARA A FUNAI DE PASSO FUNDO DATA 22 10 2008 2 2 ss ersssaseeeenssasceneeasaanos 262 ANEXO J CARTA DA COORDENA O DO PPGSS PUCRS PARA FUNAI DE PASSO FUNDO DATA 22 10 2008 sas rssssseseeessaacenenasaanos 263 ANEXO K NORMAS QUE DISCIPLINAM O INGRESSO EM TERRAS INDIGENAS COM FINALIDADE DE DESENVOLVER PESQUISA CIENTIFICA INSTRU O NORMATIVA N 01 95PRESI DATA 29 11 1995 264 qa eia mm Tm Foto 2 Taquareira Bairro Rio Branco Munic pio de S o Leopoldo RS Fonte Foto de Marinez Garlet 22 10 2009 APRESENTA O Nas trilhas da disserta o A disserta o aqui apresentada ainda que
319. reitos fundamentais reconhecidos por esta Lei e pela Constitui o Federal O que este texto legal est dizendo Em outras palavras ele afirma que se uma crian a Kaingang est vendendo seu artesanato em alguma sinaleira mesmo que isto seja de acordo com os usos e costumes do povo ind gena essa a o continuar incompat vel com os direitos fundamentados no ECA Mesmo que para o povo Kaingang essa atividade seja parte de sua cultura para o ECA isto ilegal Em nosso entendimento essa Lei in cua uma vez que a nossa Lei maior a Constitui o do Brasil assegura reconhece e garante os direitos ind genas N o poderia portanto o ECA vir contra os direitos dos povos ind genas Questionamos tamb m a altera o feita com a inclus o do inciso Il referido acima que afirma que a crian a ind gena em situa o de ado o poder ser colocada prioritariamente no seio de sua comunidade ou junto a membros da mesma etnia Ora dada as especificidades e direitos dos povos ind genas em nosso entendimento caso de fato haja necessidade de uma fam lia substituta a nica op o seria a sua coloca o obrigat ria em outra fam lia ind gena e da mesma etnia e n o prioritariamente o que enseja que poderia ser colocada numa fam lia que n o seja ind gena ou que seja de outro povo ind gena Portanto em nossa compreens o consideramos inconstitucional essas altera es Lei do ECA pois elas afirmam que na escolha ent
320. resid ncia da FUNAI poder suspender a qualquer tempo as autoriza es concedidas deacordo com as presentes no Ep ti rmas desde que Ee seja solicitada a sua interrup o por parte da comunidade ind gena em quest o H a pesquisa em desenvolvimento venha a gerar conflitos dentro da terra ind gena HI a ocorr ncia de situa es epid micas a das ou conflitos P graves envolvendo ndios e n o ndios Par grafo nico Fica automatic amente prorrogada a autoriza o pelo gena objeto do Projeto estiver int prazo que a terra ind erditada pelos motivos apontados no Art 10 inciso HI 255 emergem einen temem men meme nome ieena Pa Funda o Nacional do ndio MINIST RIO DA JUSTI A Art 11 Tod i OS OS pesquisadores estrangeiros ou n autoriza es concedidas para ingres acionais que tiverem So em terras ind genas obrigar se o I cumprir todos os preceitos legais vigentes notadamente Os previstos na Lei n 6 001 de 19 12 73 Ii remeter F UNAI relat rio dos Trabal hos de campo em Portugu s at 6 seis meses ap s o t HI remeter FUNAI 2 artigos teses e outras referidas pesquisas dois exemplares de publica es Produ es intelectuais oriundas das Art 12 Nos casos de solicita o de Prorroga o do prazo para continuidade do Projeto de pesquisa cient fica na mesma terra ind gena caber Coordena o E notificar junt
321. ress o popular nessa via punida enquanto prevalece a impunidade aos detentores do poder A luta de classes em confronto direto nesta via aparece como caso de pol cia A esfera p blica n o chega a se constituir como p blica ou seja de acesso a todos Ela mais definida pelas exig ncias do espa o privado faz se uso do p blico para fazer valer os interesses privados No Brasil as disputas pela posse da terra s o resolvidas pelas armas e assassinatos clandestinos Os negros s o considerados infantis ra a inferior e perigosos Um negro parado suspeito correndo culpado CHAUI 1986 p 56 Os ndios s o considerados em fase final de exterm nio s o considerados irrespons veis pregui osos b bados e semi capazes Os trabalhadores rurais e urbanos s o considerados ignorantes atrasados As mulheres que recorrem justi a por espancamento e estupro s o violentadas at mesmo nas delegacias Ocorre tortura nas pris es nas ruas contra homo afetivos profissionais do sexo e contra pessoas que cometem pequenos delitos Assim as classes ditas subalternas de fato s o e carregam os estigmas da suspeita e da incrimina o permanentes Ainda que no cotidiano a realidade se configura assim os ind genas s o legalmente considerados grupos especiais Mas por que os ind genas s o considerados grupos especiais e com direitos especiais Entende se que s o especiais por pertencerem a um grupo social diferenciado
322. ria est o pedindo dinheiro Cinza 2009 Est o altas horas da madrugada na Rua Grande N o est o vendendo est o pedindo Cinza 2009 At altas horas da madrugada na rua pedindo n o est o vendendo est o fazendo de conta que est o vendendo ent o te oferecem um colarzinho e oh tia tem um dinheirinho Cinza 2009 z A pr tica de esperar troquinho tamb m realizada pelas mulheres e crian as Mby Guarani no centro de Porto Alegre e denuncia as estrat gias de sobreviv ncia na cidade e est direcionada a m ltiplos fatores que determinam as condi es de vida dos Mby Guarani no RS A insufici ncia de terras ambientalmente adequadas e legalmente garantidas para permitir a manuten o do modo se ser tradicional nhand rek e assegurar condi es m nimas de sustentabilidade econ mica est na base desta problem tica FERREIRA 2008 p 37 Para os Kaingang Na rua eles j v o aprender negociar aprender a vender os artesanatos desse jeito ele j vai aprendendo Vento 2009 Na mesma sociedade que se produz processos de empobrecimento e exclus o social mant m a desigualdade Para Martins A exclus o moderna um problema social porque atinge a todos a uns porque os priva do b sico para viver com dignidade como cidad os a outros porque lhes imp e o terror da incerteza quanto ao pr prio destino e ao destino dos filhos 2002 p 21 199 Nesta situa
323. rian as ind genas Kaingang em idade escolar em meio urbano numa escola de ensino regular In ALTAFINI Magda org Ensinar na diversidade um desafio de todos os educadores Esta o Gr fica S o Leopoldo RS 2007 156 p CASTRO Eduardo Viveiros de No Brasil todo mundo ndio exceto quem n o ISA Instituto Socioambiental 2006 16 p http pib socioambiental org files file PIB institucional No Brasil todo mundo C3 A9 Y C3 ADndio pdf Acesso em 02 03 10 COHN Clarice A crian a o aprendizado e a socializa o na antropologia In Crian as Ind genas ensaios antropol gicos S o Paulo Global 2002 Cole o Antropologia e Educa o 280 p COUTO Berenice Rojas O direito social e a assist ncia social na sociedade brasileira uma equa o poss vel S o Paulo Cortez 2004 198 p CUNHA Manuela Carneiro da Antropologia do Brasil mito hist ria etnicidade S o Paulo Ed Brasiliense 1987 173 p org Hist ria dos ndios no Brasil FAPESP SMC Companhia das Letras S o Paulo 1992 Os direitos do ndio S o Paulo Ed Brasiliense 1987 230 p 218 CURT Nimendaj Sobre Mapa Etno Hist rico de Curt Nimuendaj Dispon vel em lt http e groups unb br ics dan juliomelatti notas n nimuen htm gt Acesso em 22 Nov 2009 CR PEAU Robert R Mito e ritual entre os ndios Kaingang do Brasil meridional In Horizontes Antropol gicos UFRGS IFCH Ano 1 N 1 1997 Porto
324. ricos A cita o abaixo retrata a rela o violenta aplicada s crian as ind genas Com o objetivo de batiz las e incorpor las ao trabalho as ordens religiosas jesu tas carmelitas franciscanos merced rios mascaravam isto com o apelo do cuidado que diziam ter por elas Desde seu descobrimento em 1500 at 1822 o Brasil foi uma col nia de Portugal dependendo econ mica pol tica e administrativamente do poder 153 instalado em Lisboa As leis e as ordens para as crian as tamb m vinham de Portugal e eram aplicadas atrav s da burocracia dos representantes da corte e da Igreja Cat lica A Igreja e o Estado andavam juntos unindo a conquista armada e a religi o O cuidado com as crian as ndias pelos padres jesu tas tinha por objetivo batiz las e incorpor las ao trabalho FALEIROS FALEIROS 2007 p 19 J com rela o s leis do Estado Mar s de Souza Filho conta uma hist ria exemplar para ilustrar o tratamento dado s crian as ind genas A ndia Helena m e do menor Ant nio Solim es estava presente na sess o do dia 25 de outubro de 1898 do Superior Tribunal de Justi a do Estado do Maranh o N o entendia seguramente as palavras proferidas pelos doutores togados mas sabia que estava em julgamento um habeas corpus impetrado a favor de seu filho N o tinha consci ncia dos direitos e dos detalhes jur dicos mas estava tensa porque um sinal de alerta dentro de si indicava que esta
325. rio acalentadas por ideais nacionalistas e fantasmas de internacionaliza o da Amaz nia e de outras riquezas do pa s Ainda pensamento quase geral que os ndios devem se integrar ao caldo cultural brasileiro e deixarem de ser ndios Contudo isto n o poss vel sua presen a incondicional em todo o pa s mesmo ap s 510 anos da chegada dos europeus prova disto N o h como n o lamentar essa hist ria e realidade de nosso pa s onde mormente n o se cumprem leis nem as mais elementares de prote o vida mas quando se trata de penalizar os grupos mais fragilizados menos favorecidos aplicado o rigorismo da lei Pa s onde notadamente o poder econ mico desde as origens envolve e define o poder pol tico e o restante da sociedade e seus poderes constitu dos Para Gomes A quest o ind gena se processa numa dimens o hist rica mais ampla do que aquela que define a hist ria brasileira Ela a reprodu o concreta de um cruzamento que infelizmente se d como embate entre dois tipos de civiliza o dois grandes complexos de possibilidades do ser humano GOMES 1988 p 19 Aos sistemas e costumes europeus chamou se de civilizados modernos e tratou se de condicionar tudo a eles como nica forma de progresso e sobreviv ncia Aos sistemas locais cnamou se de b rbaros primitivos e tratou se de apag los suprilos proibi los pois seriam a ant tese do progresso da civiliza o das possibili
326. rises Desta forma a classe trabalhadora fragmenta se nesse processo de transforma es que vem alterando a centralidade do trabalho Criou se de um lado em escala minorit ria o trabalhador polivalente e multifuncional da era informacional capaz de operar m quinas com controle num rico e de por vezes exercitar com mais intensidade sua dimens o mais intelectual E de outro lado h uma massa de trabalhadores precarizados sem qualifica o que hoje est presenciando as formas part time emprego tempor rio parcial precarizado ou mesmo vivenciando o desemprego estrutural ANTUNES 2005b p 32 Desta forma entendemos que a sociedade contempor nea encontra se infinitamente dividida nas mais diversas classes que acabam por confrontarem se 145 umas com as outras MARX 2006 Cada vez mais surgem alternativas informais e nesta perspectiva o trabalho se constitui em uma experi ncia social Deste modo as transforma es propagadas no mundo do trabalho nesse per odo recente acarretam mudan as socioecon micas e atingem diretamente o modo e condi o de vida das classes trabalhadoras O modo de vida compreende as caracter sticas subjetivas dos sujeitos Estas envolvem um conjunto de valores e normas estabelecidas envolvendo as formas de vida dos sujeitos como se relacionam quais suas experi ncias sociais e os significados que atribuem a isso Martinelli reflete que modo de vida
327. rit rio o que confirma que eles estavam neste local antes dos imigrantes alem es ocuparem estes mesmos espa os Agora depois de eles retornarem para c tiveram que reorganizar se para encontrar outras formas de se expressar e sobreviver que n o mais no sert o e sim na cidade porque a gente n o sabia vender ent o a gente melava e ca ava porque na terra que eu nasci naquela poca n o tinha desmatamento Era puro sert o Vento 2009 Visto desta forma as cidades avan aram para os espa os dos ind genas e se antes do processo de ocupa o por parte dos n o ndios que ocuparam expulsaram os afastaram da regi o onde coletavam agora continuam de certa forma margeando suas viv ncias dentro da sua tradi o cultural mas de outra 8 Site Prefeitura Municipal de S o Leopoldo httos www saoleopoldo rs gov br home show page asp user amp id CONTEUDO 38 amp codlD CAT 21 amp imgCAT amp id SERVICO amp categoria lt b gt Cidade lt b gt Acesso em 24 02 10 169 forma ressignificando seus h bitos culturais e modos de sobreviv ncia A antrop loga Kimiye Tommasino afirma que os Kaingang de hoje ca am e coletam nas cidades os recursos que obtinham no passado nas suas imensas florestas Isto da maior import ncia para compreendermos melhor a din mica cultural de uma sociedade no tempo que se refere preserva o de seu ethos cultural 2000b p 41
328. ropondo uma teoria interpretativa sobre ela evidenciando que cultura um contexto dentro do qual os processos podem ser inseridos em um sistema como uma esp cie de teias de significados GEERTZ 1989 p 4 justamente neste coletivo que os indiv duos podem se desenvolver de diferentes formas e nesta trama de significados o indiv duo de certa forma mant m se amarrado nas suas pr prias teias nas teias que ele pr prio teceu ao redor de si da mesma forma que as taquaras se entrela am no seu coletivo natural Os ind genas s o considerados atrasados pelo fato de manterem um jeito de viver diferente do nosso pela maneira de explicar e acreditar nos fen menos da natureza e tamb m por manterem uma forma diferente de relacionar se com ela Chau refor a que cultura pode ser compreendida como sendo o campo simb lico e material das atividades humanas e que para tal o termo estudado por diferentes reas do conhecimento como a etnografia etnologia e antropologia O Servi o Social uma das reas do conhecimento que inicia aproxima o com este tema com significados diversos a fim de compreender a complexidade dos sujeitos 92 inseridos na sociedade contempor nea e que t m espa o de express o nas pol ticas sociais Para Silva cultura a capacidade que os seres humanos e s eles tem de dar significados s coisas que fazem s realidades aos fatos da natureza ao seu relacionamento com a nature
329. rt 231 caput e 1 At o advento da CF de 1988 n o havia par metros para a demarca o das Tis Cada governante ou cada Presidente da FUNAI demarcava as terras de acordo com suas conveni ncias e interesses ou ainda ao sabor de setores que tinham interesses sobre essas terras notadamente empresas madeireiras mineradoras grandes grileiros de terras N o havia portanto indicadores t cnicos precisos ou fundamentados em fatos hist ricos e antropol gicos para se construir uma pol tica espec fica e eficaz de demarca o das Tis As demarca es eram resultado das lutas dos ind genas contra aqueles que queriam suas terras inclusive o pr prio governo O tamanho dessas terras era resultado dessa luta Com a nova Constitui o isto mudou Agora poss vel dizer com razo vel precis o o que e o que n o uma terra ind gena Criou se a teoria dos c rculos conc ntricos com base no 1 referido acima Assim uma terra ind gena o local onde os ind genas t m suas moradias primeiro c rculo interno circundada pelo local onde eles desenvolvem suas atividades produtivas ro ados locais de coleta de taquaras organiza o Depois vem o c rculo dos locais imprescind veis preserva o dos recursos naturais das terras Por ltimo o c rculo maior que definido pelos locais necess rios a sua reprodu o f sica e cultural locais sagrados locais de expans o da popula o Com base nisto a FUNAI tem
330. s Provocam pena raiva s o humilhados As contradi es e os preconceitos t m na ignor ncia e no desconhecimento sobre o mundo ind gena suas principais causas e origens e que precisam ser rapidamente superados Um mundo que se autodefine como moderno e civilizado n o pode aceitar conviver com essa aus ncia de democracia racial cultural e pol tica BANIWA 2006 p 35 De que preconceito estamos falando Racial Religioso Cultural Sexual Social H diversas formas de expressar sentir e definir preconceito Podemos dizer que as crian as nas escolas s o preconceituosas com seus colegas com quem usa culos com quem est fora de peso Sabemos que esta uma forma muito simples 184 de dizer que o preconceito faz parte da rotina dos seres humanos em qualquer cultura ou classe social Os Kaingang revelam a constante dificuldade de aceita o por parte da sociedade envolvente Os brancos dizem que os ndios s o sujos os ndios s o b bados ndios relaxado ndios n o sabe se limpar Vento 2009 O ndio e o negro discriminado e sempre foi assim Ar 2009 Na express o de Vento acentua se o que j refletimos ao longo deste estudo e que somente refor a que o preconceito faz parte da hist ria do Brasil necess rio lan ar luz nos pontos obscuros de nosso conhecimento sobre o passado e nas falhas de nossa consci ncia sobre o presente o que exige analisar preconceitos raciais tnicos e
331. s contr rios aos ind genas continuam tendo grande influ ncia nas esferas governamentais que necessitam levar adiante essa importante e imprescind vel pol tica Por outro lado e isto de se lamentar o rg o oficialmente encarregado dessa pol tica a FUNAI vem cada vez mais sendo diminu da como inst ncia pol tica e administrativa no governo federal quando deveria ser exatamente o contr rio Mesmo assim poss vel afirmar que os povos ind genas do Brasil ap s 5 s culos de massacre escravid o domina o e repress o cultural hoje respiram um ar menos repressivo o suficiente para que de norte a sul do pa s eles possam reiniciar e retomar seus projetos pol ticos sociais tnicos e identit rios como reflete o ind gena Culturas e tradi es est o sendo resgatadas revalorizadas e revividas Terras tradicionais est o sendo reivindicadas reapropriadas ou reocupadas pelos verdadeiros donos origin rios L nguas v m sendo reaprendidas e praticadas na aldeia na escola e nas cidades Rituais e cerim nias tradicionais h muito tempo n o praticados est o voltando a fazer parte da vida cotidiana dos povos ind genas nas aldeias ou nas grandes cidades brasileiras BANIWA 2006 p 39 Somos testemunhas de que todos os processos de vit rias que os ind genas v m obtendo nas ltimas d cadas em nosso pa s s o fruto em grande parte de sua 120 capacidade de articula o mobiliza o luta e resist ncia
332. s credos religi es exerc cio de varias ideologias eu acho que esta quest o da lei e da pr pria aplica o da constitui o ela tem que ser equalizada frente a essa realidade multicultural Verde 2009 A partir da CF 88 o direito de igualdade consolidou se e trouxe cap tulos espec ficos dedicados s crian as s mulheres aos negros aos ndios dentre outros ARAUJO 2006 p 18 O gestor p blico afirma que N s vamos ter que enfrentar essas quest es lidando com leis que a quest o que est posta de um pa s multicultural como o nosso Verde 2009 poss vel sim aplicar a Lei sem desconhecer aquilo que est explicito na Constitui o que o conv vio que tem que se possibilitar entre as v rias realidades existentes em nosso pa s que o pa s multicultural e plural Verde 2009 Em rela o s atividades produtivas das crian as h o reconhecimento da complexidade e das indefini es H outros direitos que na cidade v o entrar em conflito que v o se chocar em alguns momentos com esses direitos culturais e constitucionais dessas crian as quando elas forem desenvolver as atividades delas t picas da cultura Verde 2009 existem sim possibilidades mas acho que essas possibilidades est o em aberto ainda est o em constru o Verde 2009 190 O gestor p blico prev em sua fala que poss vel adequar os entraves existentes e considera que N s procuradores promo
333. s o que tamb m refletido por Baniwa Os pais e os av s s o os respons veis por transmitir aos seus filhos ou netos desde a mais tenra idade a sabedoria aprendida de seus ancestrais Assim as crian as desde cedo v o aprendendo a assumir desafios e responsabilidades que lhes permitam inserir se na vida social e o fazem principalmente por meio da observa o da experi ncia emp rica e da auto reflex o proporcionadas por mitos hist rias festas cerim nias e rituais realizados para tal fim 2006 p 130 As crian as v o experimentando o mundo a sua volta aprendem limites possuem responsabilidades s o fortalecidas e interagem entre si com brincadeiras comuns improvisadas e constru das por elas mesmas As explica es de como fazer as primeiras iniciativas de tramar o artesanato informada de forma cuidadosa criteriosa e sempre acompanhada por um adulto Ao afirmar que primeiro preparam os materiais para as crian as demonstram o cuidado com a aprendizagem e o respeito com a crian a Seguem a din mica cultural uma vez que para que os materiais estejam mais f ceis para o manuseio da crian a antes as m os de um adulto os preparou colheu raspou estalou tingiu e s ent o apresenta se em condi es de iniciar a parte pr tica com a crian a O trabalho de tramar as fibras da taquara ou cip segue sob orienta o da m e av ou outro adulto Depois eles sentam perto no ch o e a gente vai ensi
334. s as etnias N o h duas sociedades ind genas iguais RAMOS 1988 p 11 Pelo fato de que no Brasil ainda existem E Exemplos programa de ndio ndio sem especifica o de etnia bugre selvagem vis o folcl rica vivem em ocas uso de tanga andam nus com penas na cabe a 72 cerca de 230 povos ind genas precisamos assumir de vez que ainda temos pelo menos 230 sociedades ind genas diferenciadas umas das outras em seus aspectos pol ticos econ micos sociais culturais Mota e Assis refor am essas especificidades que mesmo ap s 500 anos de tentativas de abolir as popula es ind genas elas continuam existindo recriando pr ticas ancestrais e reivindicando sua sobreviv ncia como sociedades espec ficas MOTA ASSIS 2008 p 12 Estima se segundo vimos que na poca da chegada dos europeus eram mais de 700 povos somando entre 5 e 6 milh es de pessoas Atualmente a popula o est estimada em 600 mil indiv duos sendo que deste total cerca de 450 mil vivem em Terras Ind genas TIs e cerca de 150 mil encontram se residindo em diversas capitais e outros munic pios do pa s Os grupos numericamente menores seguramente est o em reas urbanas como o caso das fam lias Kaingang descritas na sequ ncia deste estudo Afirma se que a popula o ind gena no Brasil vem crescendo nos ltimos anos e muitos deles localizam se em reas fronteiri as fazendo divisa com pa ses vizinhos como Ven
335. s continentes A morte por epidemias foi uma das grandes causas de dizima o De acordo com Gomes Mais devastador foram as epidemias de doen as trazidas pelos europeus e africanos Var ola sarampo catapora as famigeradas bexigas tuberculose febre amarela e as gripes arrasaram aldeias inteiras povos inteiros Muitas vezes povos que nem contato com as fontes irradiadoras tinham mas que recebiam a doen a por transmiss o de outros ndios em contatos at fortuitos GOMES 1988 p 51 64 As epidemias e suas contamina es a escravid o ind gena ou uma servid o compuls ria eram mais a regra do que a exce o sobretudo nos tempos iniciais da coloniza o GOMES 1988 p 52 Al m desses fatos os europeus tinham como pr tica de coloniza o o roubo de crian as e mulheres ind genas Desde que os primeiros jesu tas chegaram a Salvador no ano de 1549 tiraram a for a meninos de 8 a 14 anos do seio de suas fam lias PREZIA 1989 p 73 sendo que uma das alega es dos padres jesu tas era a de que estariam oferecendo oportunidades de estudos mas Os padres queriam que os jovens obedecessem s suas ordens j que os mais velhos n o aceitavam a nova doutrina Outros padres mais tarde colocaram meninos nos col gios e internatos longe de suas fam lias dizendo que era para dar lhes catecismo Ali esses jovens aprendiam a desprezar a maneira de ser de sua na o e eram tratados como ignor
336. s crian as h o reconhecimento de que elas correm riscos diversos como atropelamentos acidentes etc Os gestores p blicos reconhecem a complexidade deste tema e a limita o das leis criadas pela sociedade envolvente que n o acolhe apesar dos esfor os expressos na Constitui o Federal 88 as singularidades da cultura ind gena Salienta se que ao Servi o Social necess rio adensar estudos quanto a quest o social e seus rebatimentos que se expressam atrav s do preconceito o desemprego legisla o diferenciada vulnerabilidade nas comunidades ind genas que sofrem com a exclus o social no contexto da cidade Deseja se que esta pesquisa possa contribuir com subs dios para implementar pol ticas p blicas voltadas para as comunidades ind genas Palavras chave Kaingang Crian a ind gena Atividades produtivas meio urbano Servi o Social ABSTRACT This work discusses the topic of productive activities carried out by Kaingang boys and girls in the town of S o Leopoldo RS and its aim is to investigate the meaning of such activities for the Kaingang community in order to contribute to the improvement of social protection of these children respecting their culture The research was conducted in the period between April and August 2009 and used a qualitative approach supported by the dialectical critical method Six Kaingang indians of the Por Fi settlement were interviewed as well as three public administrator
337. s de um artesanato precisam ser preparadas no coletivo Neste quadro por n s elaborado demonstramos os v rios aspectos institui es atores envolvidos na tem tica da crian a Kaingang S o v rios os limites e desafios contradi es que comp em o pensar e a elabora o de pol ticas p blicas que contemplem a realidade do povo Kaingang 208 O que pode fazer a diferen a na elabora o de pol ticas que incluam a crian a Kaingang a forma como as diferentes institui es p blicas federais municipais estaduais compreendem a realidade desse povo sua historicidade e o processo de transforma o que vem sofrendo a mais de 500 anos Assim as pol ticas sociais poder o garantir a organiza o social da e na aldeia A partir disso criar formas de prote o inf ncia Kaingang articulando as pol ticas de sa de educa o habita o assist ncia social sempre ouvindo os Kaingang Ver e ouvir o que os coletivos ind genas suas lideran as e pessoas t m a dizer sobre situa es que envolvem seus interesses mais do que uma medida tica e respeitosa uma determina o legal FREITAS 2008 p 13 Entendemos que a partir da comunidade que a efetividade das pol ticas p blicas pode ser dimensionada para os Kaingang em seu potencial de supera o e enfrentamento de situa es de vulnerabiliza o da comunidade ind gena e suas crian as Primeiro preciso conhec los saber suas hist rias sua
338. s eram diferentes O Estado usava m todos mais violentos e coercitivos A a o da igreja era mais insidiosa sutil mascarada pelos fundamentos da tica crist movida pelo desejo de salvar as almas adentrando as comunidades ind genas com a postura etnoc ntrica desrespeitosa onde com sua cultura europ ia visava incutir a no o de fam lia correta desrespeitando o modo de viver desses povos Os padres embora n o aceitassem os castigos violentos e a matan a de ndios pelos portugueses fundaram casas de recolhimento ou casas para meninos e meninas ndias nas quais ap s separ los de sua comunidade impunham lhes os costumes e normas do cristianismo tais como o casamento religioso e outros dogmas com o intuito de introduzi los na vis o crist do mundo FALEIROS FALEIROS 2007 p 19 Caminhando assim lado a lado Estado e Igreja sequer consideravam os costumes e direitos ind genas Queriam era traz los civiliza o europ ia e crist queriam moldar os ind genas de acordo com os padr es do Estado Portugu s e da Igreja Cat lica E nada melhor para atingir esses objetivos do que agir sobre as crian as desde a tenras idades Com a nsia de convert las as crian as foram presas f ceis atrav s do m todo do afastamento de seus pais da proibi o de viverem sua cultura do ensino de outra l ngua da leitura escrita fala canto e reza em latim O per odo colonial come a com a expedi o de Mar
339. s from different sectors the Federal Public Ministry the Conselho Tutelar tutelary council and the Social Service department Secretaria de Assist ncia Cidadania e Inclus o social of the town of S o Leopoldo The analyses of the interviews the observations and the field journal allied to the researcher s professional experience compose the product which is here presented The results pointed out that the children s productive activities are understood by the Kaingang community as part of their culture and that the elder are responsible for the education of the younger The Kaingang indians consider handicraft to be work They also acknowledge that the children selling products in the streets run the risk of suffering different types of accidents Public administrators recognize the complexity of this subject and the limitation of laws created by the surrounding society which does not welcome the singularities of the indigenous culture in spite of the efforts expressed in the Federal Constitution 88 We emphasize that it is necessary for the field of Social Service to intensify studies regarding the social question and its reflection expressed through prejudice unemployment differentiated legislation vulnerability in the indigenous communities that suffer with social exclusion in the urban context We hope this research may contribute with subsidies to implement public policies directed to the indigenous communities Key words Kaingang
340. s motiva es sua especificidade hist rico cultural Somente com o conhecimento do outro que poss vel a constru o de pol ticas sociais diferenciadas e efetivas O exerc cio do protagonismo de um povo que h 5 s culos vem sendo vilipendiado e tratado como incapaz um processo que n o precisar de 5 s culos para ser constru do como tamb m n o pode ser realizado em intervalos for a ou com imposi es Os que eram donos da terra hoje n o s o mais donos de seu quintal N o existe mais quintal Mas precisam encontrar neles a energia e vontade de participar nas transforma es de sua pr pria realidade fundamental que eles decidam que assumam os riscos para romper com a condi o de incapacidade que lhes foi imposta pelos colonizadores e perpetuada at os tempos atuais S o cada vez mais recorrentes os protagonismos de lideran as ind genas que se manifestam propositivamente assumem cargos pol ticos ingressam em universidades Em recente desabafo o ind gena e o coordenador do Conselho 209 Ind gena de Roraima CIR manisfestou se favor vel a que os ndios caminhem 72 com suas pr prias pernas e afirma que os ndios precisam tomar consci ncia de que n o podem mais ficar mendigando em gabinetes nem pedindo favores de quem quer que seja as fam lias precisam produzir e trabalhar para que n o fiquem dependentes de programas assistenciais O relato acima de
341. sa do tipo explorat ria desenvolvida com base na pesquisa qualitativa que que conforme Martinelli 1999 parte do reconhecimento da import ncia de se conhecer a exist ncia social do sujeito e n o apenas as suas circunst ncias de vida Pois as circunst ncias de vida configuram um tipo de fen meno outro o modo de vida O conhecimento da experi ncia social do sujeito envolve portanto seus sentimentos valores cren as costumes e pr ticas sociais cotidianas MARTINELLI 1999 p 22 23 A pesquisa qualitativa ent o possibilita o conhecimento atrav s de hist rias express es verbais falas dos sujeitos entrevistados bem como de suas experi ncias no cotidiano As viv ncias o modo de vida das fam lias Kaingang caracterizam se pelo argumento concreto de suas falas e sentimentos em rela o ao meio em que est o inseridos Assim este trabalho de investiga o levou em conta o espa o dos ind genas em sua aldeia na sua forma de viver e organizar se no coletivo e nas rela es internas entre os pertencentes ao grupo Da mesma forma que a exist ncia da taquareira que n o vive sozinha necessitando de um coletivo para imperar na mata tamb m as fam lias ind genas mant m se num espa o comunit rio que as fortalece como grupo que as mant m em suas singularidades e especificidades socioculturais sendo assim produtores de cultura 39 Assim seguindo a abordagem de Martinelli 1999 o conhecimento do
342. se ali n o houve propriamente um conflito entre a lei escrita e a cultura eu acho que ali deu pra se verificar bem uma coisa que talvez n o seja um conflito mas uma coisa que os Kaingang t m que quest o da tradi o da promessa da promessa e do dito oral a eles Verde 2009 Os gestores apontam que a garantia do territ rio para os Kaingang a uma quest o complexa e depende da burocracia existente entre as esferas pol ticas e isto se reflete na fala do Kaingang A gente est se virando fazendo o poss vel para a sobreviv ncia nossa por isso que o pedacinho de terras que n s temos aqui est ficando pequeno t apertado pr n s N s podia ter espa o pra plantar n s tinha que comprar um porquinho mas se o porquinho estiver aqui vai feder a rea inteira aqui A gente quer ter uma cria o mas precisa de um peda o e terra maior quer ter galinha ter um porco n comer melhor n Ar 2009 Dentro dessa ampla realidade entendemos que necess rio a combina o de a es concretas capazes de assegurar o desenvolvimento e a prote o dos Kaingang que residem na cidade mas de forma diferenciada O munic pio de S o Leopoldo oferece todos os servi os de que disponibiliza para toda a popula o da cidade as demais esferas de governo sobretudo FUNAI e o governo do Estado apresentam limita es ou falta de interesse para com esta popula o Cabe ao governo estadual o fornecimento de habita es e
343. se comporta de acordo com a viv ncia apreendida na sua aldeia e l facilmente entendida pelo coletivo que a cerca e protege O processo de transmiss o de h bitos e rotinas na aldeia nos leva a tomar a crian a como participante ativa do pr prio aprendizado Cohn 2002 p 233 uma vez que a socializa o n o pertence somente aos adultos z A forma de ensinar realizada atrav s de um processo met dico e metodol gico antigo e que est visceralmente impresso na cultura do ensinar e contempla pessoas respons veis pelo ensino e passos pedag gicos bem definidos assim descritos Quem ensina s o as m es ou as av s gua 2009 Quem ensina a fazer s o as m es ou as av s ou as tias que j est o trabalhando nisso Vento 2009 A gente primeiro prepara os materiais pra eles pr deixar mais f cil n Depois eles sentam perto no ch o e a gente vai ensinando Vai dizendo vai explicando assim pega esse um por baixo um por cima vai fazendo coloridinho vai tran ando vai trocando de cor Em dois dias a crian a j ta indo com um m s ela j aprendeu tudo Vento 2009 Nas m os que tramam o artesanato h t cnica adequada conforme percebemos atrav s do relato da participante Vento diz que a forma de ensinar possui um cuidado especial levando em conta a capacidade de compreens o da 174 crian a respeitando seus limites e possibilidades de captar a din mica dos tran ado
344. squisador est vinculado e no caso de estudantes de gradua o e p s gradua o carta de apresenta o do orientador respons vel II Projeto de pesquisa em portugu s detalhando a s terra s ind gena s na s qual is pretende ingressar e cronograma mhtml file EAMESTRADOW rojeto de Pesquis alprojeto 2008Modelos Anexos 9 12 2009 265 FUNAI ingresso em terras ind genas Page 2 of 3 II curriculum vitae do s pesquisador es redigido em portugu s IV c pia autenticada da Carteira de Identidade ou Passaporte quando se tratar de nacionalidade estrangeira V atestado individual de vacina contra mol stia end mica na rea VI atestado m dico de n o portador de mol stia contagiosa VII quando se tratar de pesquisador es de nacionalidade estrangeira exigir se para a efetiva o de seu ingresso na terra ind gena a obten o de seu respectivo visto tempor rio como prev o artigo 22 do decreto n 86 715 de 10 de dezembro de 1981 al m do cumprimento do disposto no decreto n 98 830 de 15 de janeiro de 1990 Art 6 O Pesquisador dever encaminhar diretamente ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cient fico e Tecnol gico CNPq o Projeto de Pesquisa e curriculum vitae Art 7 A solicita o do ingresso em terra ind gena por parte de pesquisadores nacionais ou estrangeiros ser objeto de an lise pela Coordenadoria Geral de Estudos e Pesquisas CGEP uma vez instru do o processo com o parec
345. sse aos sal rios dos ganhos de produtividade Os processos de trabalho neste modelo de gest o da m o de obra Taylorista fordista estavam fundados em uma fabrica o com ritmo controlado cronometrada homog nea em s rie e em linhas r gidas Garantia se assim uma 146 produ o em massa e consequentemente um barateamento nos pre os que contribu a para o aumento do consumo e incremento dos sal rios dos oper rios ANTUNES 2007 Como resultado das transforma es no mundo do trabalho grande massa de trabalhadores permaneceu no mercado em atividades prec rias mal remunerados e tendo seus direitos trabalhistas flexibilizados Podemos aqui entender que trabalho prec rio aquele que n o oferece seguran a e estabilidade e remunera o condizente ainda que n o tenha sido exclu do do mercado formal de trabalho Com a precariza o do trabalho a grande maioria das pessoas circula entre o local de trabalho e o local de moradia Esta trajet ria faz parte do cotidiano de milh es de brasileiros onde o voltar para casa noite depois de horas e horas de trabalho torna a casa o lugar mais prazeroso da cidade Neste espa o mais privado h o aconchego da fam lia das pessoas que integram o universo familiar As pessoas submetidas a essas formas de trabalho tornam se mais vulner veis socialmente porque seu ritmo de trabalho tende a ser mais intenso seu descanso menos regular e qualquer acontecimento que impe a a pesso
346. sse descrevendo um esporte que gostava de praticar e essa matan a n o era vista como crime como genoc dio O governador Mem de S invadiu um territ rio destruiu praticamente um povo inteiro e descreve isto ao seu rei como se estivesse descrevendo uma competi o esportiva N o h sinal de culpa vergonha e de reconhecimento de um povo ou de pessoas nas palavras do governador Os genoc dios praticados na hist ria da humanidade trazem na sua ess ncia essa mesma express o E os trouxeram terra e os puseram ao longo da praia em ordem de forma que tomavam os corpos alinhados perto de 1 l gua Fiz outras muitas sa das em que destru muitas aldeias fortes e pelejei com eles outras vezes em que foram muitos mortos e feridos e j ousavam estar sen o pelos montes e brenhas onde matavam c es e galos e constrangidos da necessidade vieram a pedir miseric rdia e lhes dei pazes com a condi o de que haviam de ser vassalos de Sua Alteza o Rei e pagar tributos e tornar a fazer os engenhos Tudo aceitaram e fizeram e ficou a terra pac fica em espa o de 30 dias Isto fiz minha custa dando mesada a toda pessoa honrada PREZIA 1989 p 75 Esse relato t o chocante quanto surpreendente Ele descreve a total submiss o dos ind genas como resultado da extrema brutalidade for a e ferocidade do governador Essa carta ilustra bem como se deram as a es de imposi o do 66 poder portugu s aos gentios e o resulta
347. ssim as florestas rios e campos ofereciam possibilidades de coleta de mat ria prima e outras facilidades alimentares No centro urbano com a propriedade privada e cercada os Kaingang ficam reduzidos em um pequeno peda o de terra e neste contexto precisam abastecer se de recursos naturais em terras particulares O sistema capitalista cujo um dos pilares a propriedade privada limita segrega impede a circula o natural dos Kaingang que agora precisam pedir licen a para os propriet rios de matas onde localizam taquaras cip s e ervas H vezes que s o expulsos desses limites de terras momentos em que os donos de terras s o atenciosos mesmo assim muitos cobram por taquara Os Kaingang pagam por cada haste H vezes em que s o corridos a tiros c es impedidos de se achegarem nas cercas dif cil para eles aceitarem essa realidade pois a mem ria dos tempos tradicionais da liberdade das matas ainda muito viva nesta no contexto da cidade Em S o Leopoldo a comunidade conseguiu um avan o uma vez que articularam com a Assessoria Comunit ria departamento vinculado Secretaria Municipal de Habita o SEMHAB o transporte de taquara coletado em diferentes bairros da cidade O coletivo Kaingang organizou da seguinte forma a parceria com a SEMHAB conforme relato de uma lideran a da comunidade A gente vai l se re ne e vamos juntos Vamos nuns quantos homens mulheres e crian as A gente recolhe as taquaras sepa
348. sujeito s poss vel a partir de seu pr prio contexto onde ele mant m se inserido evidenciando o pertencimento da sua cultura seus ritos mitos cren as valores que dizem respeito a um espa o mais profundo das suas rela es dos fen menos e dos processos Est o estabelecidos os v nculos de confiabilidade e contatos concretos entre n s e a comunidade ind gena pesquisada o que permitiu que tiv ssemos a aproxima o facilitada para investigar a rela o entre cultura e trabalho na comunidade da Aldeia Por Fi com nfase nas atividades produtivas desenvolvidas pelas crian as sem todavia invadir o espa o de privacidade dos ind genas cuidados pertinentes concep o de cultura A pesquisa qualitativa trabalha com o universo de significados cren as e valores e busca dar respostas aos aspectos sociais e culturais da realidade investigada Segundo Minayo 1994 as abordagens qualitativas consideram a subjetividade como parte integrante da singularidade do fen meno social A realidade para essas abordagens entendida como algo que vai al m dos fen menos percebidos pelos nossos sentidos e dessa forma trabalham com dados qualitativos Trazem para a an lise a objetividade e a subjetividade onde os atores sociais e o pr prio sistema de valores da pesquisadora os fatos e os significados a ordem e os conflitos vividos pelos Kaingang no momento em que se encontram na abordagem Nesta via entende se por metodo
349. ta dificuldade principalmente se m e solteira ou separada pois garantir a sobreviv ncia de seus filhos uma realidade bastante dif cil na cidade Mesmo com a situa o de dificuldade da m e o participante gua n o concorda em deixar as crian as na sinaleira e ficar esperando os recursos da venda realizada ou do pedir moedas aos f g Isso a n o pode de largar os filhos na sinaleira e ficar s esperando que a crian a traga um recurso Eu n o criei meus filhos assim mas ao mesmo tempo tem que sobreviver do jeito que d n Agua 2009 Ao dizer que n o criou os filhos assim o Kaingang frustra se com o mundo contempor neo pela aus ncia de possibilidades de sobreviv ncia e conclui afirmando que tem que sobreviver do jeito que d o que nos faz pensar que a m e solteira n o tem outra op o mesmo Agora tem muitas m es solteiras que passam dificuldade Ar 2009 Mudou as coisas pr n s Tem mulher separada m e solteira mo as com filhos s o sozinhas sem marido e tem que sustentar as crian as Sozinha E como ela vai fazer aqui na cidade sozinha Agua 2009 Tem m es que est o solteiras que o CT reclama ent o n o todos s o alguns que v o sozinhos l As vezes a crian a vai sozinha porque a m e 188 n o tem como ir junto precisa cuidar das outras crian as aqui na aldeia Ar 2009 Esta quest o considerada como responsabilidade das m es Ressaltamos
350. taquara tramam se entre si para resultar em um cesto tamb m aqui as categorias interligam uma s outras no momento de refletirmos sobre o que cada uma representa para as fam lias Kaingang que residem em meio urbano Desta forma descrevemos que a as falas dos sujeitos evidenciam no processo de constru o da an lise que o artesanato considerado o trabalho da comunidade Kaingang e que esse trabalho na cultura ind gena o processo de coleta prepara o manuseio e confec o do artesanato em taquara e cip tendo rela o com a aprendizagem das crian as ou seja a transmiss o de h bitos e costumes Tais categorias ser o apresentadas no item 6 1 Cultura nas m os que tramam a arte de ensinar O subitem 6 1 1 versar sobre o sistema de coleta troca contato dos Kaingang com a cidade e as transforma es do artesanato b a categoria final pol tica p blica destacada nas falas atrav s de cr ticas que apontam fragilidade das a es desempenhadas e a falta de garantia para os ind genas Ambos os grupos entendem que a legisla o vigente n o contempla a realidade dos Kaingang e garantem que o Estatuto da Crian a e do Adolescente ECA inadequado realidade Kaingang No item 6 2 apresentaremos a categoria pol ticas p blicas e seus reflexos para os Kaingang Problematizamos sobre a prote o trazendo suas falas e dos gestores p blicos entrevistados a fragilidade da lei em rela o s crian as
351. te o social a esses sujeitos respeitando a sua cultura sem desconsiderar o contexto em que est o inseridos Por isto nossa preocupa o em preservar em nossa produ o acad mica os aspectos culturais Para tanto os seguintes questionamentos permearam as trilhas do estudo que concep o de trabalho orienta a comunidade Kaingang quais s o as atividades produtivas realizadas pelas crian as ind genas e qual a compreens o deles a respeito disto Na busca por respostas optou se pela realiza o de uma pesquisa embasada no m todo dial tico cr tico e nas tr s caracter sticas que a norteiam historicidade totalidade e contradi o Partimos assim de fatos concretos vivenciados pelas crian as Kaingang e suas fam lias para ent o adensar nosso estudo Este estudo justifica se dada a relev ncia acad mica e social ao possibilitar o adensamento da tem tica condizente ao segmento ind gena prevendo a discuss o da diversidade cultural que envolve e tamb m proporciona uma reflex o acerca das viv ncias da comunidade Kaingang na periferia da cidade fen meno contempor neo que envolve a sociedade brasileira Conforme referenciado at aqui numa disserta o de mestrado trata se do di logo dos resultados de uma pesquisa e de constante reflex o te rico pr tica que aborda um tema delimitado e nico Diz respeito a um trabalho cient fico que tem por objetivo a demonstra o e o desenvolvimento de um racioc nio l
352. te procedimento de agir com viol ncia para mandar mensagens aos que intentassem resistir tamb m foi adotado pelos portugueses no Brasil com isto muitos povos que viviam no litoral onde tinham melhores condi es de sobreviv ncia pela fartura de alimentos e boas terras acabaram se embrenhando matas adentro fugindo ao furor dos colonizadores Berta Ribeiro 1987 salienta que desse movimento resultaram as atuais fronteiras do Brasil pela expans o dos povos ltor neos fugindo dos europeus J Darcy Ribeiro 1982 enfatiza que essa expans o tamb m constituiu um territ rio cultural que ainda hoje define nosso pa s Em fun o da ampla extens o territorial em que se implantou a tradi o cultural tupi guarani que aproximadamente corresponde ao tra ado do mapa do Brasil foi poss vel imprimir um perfil uniforme sociedade brasileira De ent o at nossos dias esse lastro abor gene da cultura brasileira sobretudo de base tupi guarani conserva se em grande parte no Brasil interiorano Isso pode ser observado pela facildade com que o sertanejo nordestino o cai ara paulista o caboclo amaz nico encontram elementos culturais que lhes s o familiares num contexto tribal RIBEIRO 1987 p 89 Las Casas apesar de ser extremamente duro propicia uma leitura daqueles tempos dif ceis para os povos ind genas Dessa maneira procediam comumente com os nobres e os senhores faziam certos gradis sobre garfos com um pequeno fogo po
353. tim Afonso de Souza em 1530 e vai at a Proclama o da Independ ncia por Dom Pedro em 7 de setembro de 1822 http www portalsaofrancisco com br alfa primeiro reinado periodo colonial php Acesso em 27 12 09 155 Tamb m as crian as filhas de escravos negros sofreram com o etnocentrismo colonizador O escravo era elemento importante para a economia da poca Era mais interessante financeiramente para os donos das terras importar um escravo que criar uma crian a pois com um ano de trabalho o escravo pagava seu pre o de compra As crian as escravas morriam com facilidade devido s condi es prec rias em que viviam seus pais e sobretudo porque suas m es eram alugadas como amas de leite e amamentavam v rias outras crian as RIZZINI PILOTTI 2009 p 18 Conforme Rizzini e Pilotti 2009 as crian as escravas continuavam nas m os dos senhores mesmo ap s a Lei do Ventre Livre em 1871 Os senhores tinham a op o de mant las at os 14 anos de idade quando ent o podiam ressarcir se de investimentos feitos seja mediante o trabalho gratuito at os 21 anos ou ainda sendo devolvidas ao Estado mediante pagamento de indeniza o Estas breves cita es e hist rias confirmam o descaso hist rico pelo qual a crian a foi tratada ao longo de centenas de anos em nosso pa s Com a crescente urbaniza o e industrializa o no final do S culo XIX houve mudan a no cen rio pol tico e econ mico do pa s onde
354. tiva nem europ ia Afirmamos que a miscigena o no Brasil passou a acontecer desde os primeiros momentos da invas o europ ia quando as mulheres eram roubadas e for adas a conceber for a e ficando confinadas para viver com os soldados portugueses enquanto os homens das aldeias morriam nas lutas e as mulheres eram presas e se tornavam m es de mesti os PREZIA 1989 p 74 A mesti agem no Brasil resultado desses epis dios de roubo de mulheres e da viol ncia sexual por parte inicialmente dos marinheiros e soldados do rei e na sequ ncia por parte de donat rios das capitanias heredit rias sesmeiros Quando se iniciou a ocupa o em territ rio brasileiro umas das medidas tomadas para a distribui o de terras foi a ado o do regime de sesmarias que perdurou por todo o per odo colonial As concess es de sesmarias eram feitas devendo os sesmeiros cumprir determinadas obriga es entre elas a de comprometer se a cultivar a terra Entretanto muitos sesmeiros n o cumpriram com esse acordo e esse precedente possibilitou o surgimento do posseiro que passou a ocupar e a 67 bandeirantes colonos saqueadores mineradores todos estes al ados categoria de desbravadores das terras brasileiras pela historiografia oficial S o os mitos dos her is que criaram o povo brasileiro Esses mitos encobertam os fatos que todos for aram uni es violentas que resultaram no nascimento de mesti os ind ge
355. tnico cultural particular s acontecer totalmente quando eles se tornarem independentes economicamente Sua auto determina o est diretamente ligada aos recursos naturais HAVERROTH 1998 p 44 45 Para Haverroth etnobot nico e etn logo o papel das plantas no universo dos Kaingang reflete uma cosmologia complexa de fundamental import ncia mant m significados simb licos e o seu processo de nomenclatura e classifica o tem origens diferenciadas dentro da hist ria de cada grupo HAVERROTH 1998 p 45 Tais sociedades produziram um sistema ideol gico de rela o pessoa natureza cheio de significados simb licos que inter relaciona pessoas plantas animais e fen menos naturais N o podemos falar em sociedades mais ou menos desenvolvidas Ambas produzem mecanismos suficientes e eficazes na supera o dos desafios de sobreviv ncia numa dada realidade Popula es ind genas de toda a Am rica Latina encontram se em novos territ rios agora nas cidades A manuten o dos territ rios nas novas condi es exigia que os Kaingang efetivamente pesquisassem e diversificassem seus espa os de ca a e coleta para incluir os novos ecossistemas forjados pela a o colonial principalmente os agro ecossistemas e ecossistemas urbanos FREITAS 2005 p 201 Esse movimento para um novo espa o que s o os urbanos n o lhes suprime sua identidade pois neste novo contexto n o deixaram de ser o que s o A vis
356. tores ju zes temos que nos aproximar dos CT Todos que lidam com este tema temos que nos aproximar uns dos outros e construir respostas para esta quest o Est longe de ser uma resposta que vai ser imposta pelos operadores do direito a essas crian as Acho que n s vamos ter que construir essas respostas em conjunto com todas essas outras pessoas que atuam na rea ind gena Verde 2009 Mas reconhece que a legisla o brasileira tamb m apresenta obst culos tem programas e leis bastante duros visando a erradica o do trabalho infantil e esses dois universos entraram em choque nesta quest o nesta quest o cultural Verde 2009 O povo Kaingang possui suas leis internas e o gestor reconhece e acentua conhecimento acerca desta especificidade Os Kaingang t m a lei deles a lei interna e isto uma quest o que diz respeito a eles N o h uma lei nossa que possa influenciar na escolha da lideran a deles por exemplo isto a n o uma quest o de aplica o da nossa lei Verde 2009 O Kaingang tamb m reconhece a diferen a entre as leis do branco e a de seu povo e exemplifica A lei do branco bem diferente da nossa na lei do branco tem que ter 18 anos e s da pode come ar a trabalhar Na nossa n o assim E tamb m tem uma diferen a que n s n o temos tem que ter documento pr tudo tem que ter documento Terra 2009 O participante Terra refere se a diferen a existente em sua cultura em
357. tos segmentos minorit rios negros ndios mulheres entre outros O tema da diferen a das minorias tnicas ainda um grande desafio para os organismos sociais entidades e institui es que atuam para a exist ncia de pol ticas p blicas que tenham como fundamento e objetivo a garantia de direitos sociais Neste aspecto cada vez mais necess ria a reflex o acerca do papel dos assistentes sociais na implementa o de pol ticas sociais que contemplem essa diversidade Isto imp e que esses profissionais para desempenhar eficazmente suas fun es tenham conhecimento acerca das realidades que comp em os diversos grupos culturais componentes de um pa s pluri tnico como o nosso Defendemos que os cursos de Servi o Social tenham ensinamentos antropol gicos b sicos que instrumentalzem esses profisionais para diagn sticos e atua es corretas e eficazes 81 Mas quem considerado ndio no Brasil Como dissemos acima ainda h uma tens o no conceito de ndio povos ind genas entre at mesmo os que atuam diretamente com eles Os textos legais nos ajudam a entender essa problem tica Poder amos afirmar de acordo com os textos legais que ndio todo indiv duo de origem e ascend ncia pr colombiana que se identifica e identificado como pertencente a um grupo tnico cujas caracter sticas culturais o distinguem da sociedade nacional Lei N 6001 73 Estatuto do ndio Artigo 3 inciso site FUNAI http
358. tre poderes ou entes federados Marrom 2009 A burocracia na execu o das pol ticas p blicas Marrom 2009 202 Uma das dificuldades em rela o ao atendimento diferenciado apontadas pelos gestores p blicos diz respeito falta de qualifica o dos que atendem as demandas ind genas temos que nos valer dos antrop logos daqueles que tem o conhecimento j mais consolidado das tradi es da hist ria dos Kaingang pra nos valer desses profissionais pra que possamos fazer um espa o interdisciplinar que nos assessore justamente nessa aplicabilidade da lei sobre as condutas que eles possam praticar Verde 2009 Temos que ter um olhar diferenciado para a abordagem do ndio principalmente um olhar diferente da cultura do ndio um olhar diferente de v los enxerg los um olhar diferenciado para a abordagem para eles como abordar os ind genas Como encaminhar O que fazer Para onde levar Precisa de capacita o Os conselheiros precisam ser capacitados para isso ningu m informado de nada Da trata tudo igual Cinza 2009 Nosso caso proteger a situa o da crian a e do adolescente naquele momento Da tu houve assim ah ele j tem 13 e pode estar a na rua Ent o tem que discutir isso novamente isso capacita o Cinza 2009 Os depoimentos dos gestores p blicos entrevistados apontam para a necessidade de assessoria espec fica aos setores que envolvem o atendimento diferenciado a
359. trizes Normas e Leis em Pesquisa em Sa de P gina de Abertura Bio tica mhtml file E MESTRADOV P r o j e t o de Pes q u i s alprojeto 2008Modelos AnexosiF 9 12 2009 HA Pontif cia Universidade Cat lica do Rio Grande do Sul Pr Reitoria de Pesquisa e P s Gradua o Av Ipiranga 6681 Pr dio 1 3 andar CEP 90619 900 Porto Alegre RS Brasil Fone 51 3320 3513 Fax 51 3320 3515 E mail prppgOpucrs br Site www pucrs br
360. turais a convite de escolas e institui es em geral Sempre que h convites para que grupo de dan a da aldeia fa a apresenta es culturais em institui es p blicas e privadas o ritual da pintura das marcas acontece de forma a distinguir os pertencentes em cada metade que evidencia o dualismo cultural dos Kaingang O grupo de dan a composto de 10 a 15 indiv duos p s descal os e com lan as nas m os caminham em c rculo cantando e falando no idioma Kaingang Depois da apresenta o o l der do grupo faz explica es em portugu s aos f g do que disseram ou cantaram afirmando os significados dos cantos apresentados como sendo de nossos antepassados A foto a seguir evidencia a pintura corporal dos Kam e dos Kanhru em apresenta o cultural durante as festividades em comemora o ao Dia do ndio munic pio de S o Leopoldo Percebe se a presen a de meninos inclu dos nestes momentos culturais onde as festas do Dia do ndio s o comemoradas intensamente Ver no ap ndice outras fotos de apresenta o cultural e as evid ncias das marcas culturais dos Kaingang em meio urbano Ver no Ap ndice E fotos de apresenta o do Grupo de Dan a 130 Foto 10 Apresenta o cultural Grupo de Dan a Kaingang da Aldeia Por Fi Evidenciam se pinturas corporais Kam e Kanhru 19 04 2008 Fonte Foto de Marinez Garlet Acervo ISAEC DAI PIDA As rela es com os parentes e amigos de outras
361. u ainda mais da comunidade Kaingang pois os entrevistados expressavam vontade de falar sobre o tema proposto neste estudo Para os Kaingang que residem em meio urbano este assunto lhes interessa uma vez que est o cotidianamente tendo que se confrontar com rg os p blicos e cidad os que n o compreendem suas din micas e especificidade cultural No cap tulo seguinte intitulado Das ra zes as folhas pelos caminhos da hist ria faremos uma contextualiza o sobre a hist ria dos povos ind genas no Brasil enfocando a viol ncia praticada pelos colonizadores e trazendo para esta pesquisa a diversidade cultural ind gena existente no Brasil bem como a import ncia que o coletivo representou e ainda representa para as comunidades ind genas 58 3 DAS RA ZES S FOLHAS PELOS CAMINHOS DA HIST RIA Gravura 1 Desenho de menina Kaingang 5 anos Fonte Menina Kaingang da Aldeia Por Fi 09 02 2010 A quest o ind gena nasceu com o descobrimento do Brasil da Am rica em geral e continuar a existir enquanto houver um ndio vivo GOMES 1988 p 18 Um trabalho acad mico tem por objetivo integrar o ensino te rico e pr tico onde a pesquisa ocupa um papel fundamental no processo de forma o profissional do assistente social Sendo o Servi o Social uma profiss o e como tal dotado de uma dimens o pr tico interventiva sup e uma bagagem te rico metodol gica como recurso a explica o da vi
362. ue foi criada em 1992 por ocasi o dos festejos dos 500 anos de descobrimento das Am ricas Essa cole o intitulada A Vis o dos Vencidos publicou v rios livros naquele per odo dos quais retiramos algumas cita es para esta disserta o Um desses livros talvez o mais pungente O Para so Destru do de Frei Bartolom de Las Casas 31 Frei Bartolom de Las Casas dedicou 50 anos de sua vida luta contra o genoc dio imposto pela conquista espanhola Foi chamado de Ap stolo dos Indios por ser defensor de todos os povos ind genas 70 metade ou quem mais habilmente ou mais destramente de um s golpe lhe cortaria a cabe a ou ainda sobre quem abriria melhor as entranhas de um homem de um s golpe Arrancavam os filhos dos seios da m e e lhes esfregavam a cabe a contra os rochedos enquanto que outros os lan avam gua dos c rregos rindo e ca oando e quando estavam na gua gritavam move te corpo tal Outros mais furiosos passavam m es e filhos a fio de espada Faziam certas forcas longas e baixas de modo que os p s tocavam quase a terra uma para cada treze em honra e rever ncia de Nosso Senhor e de seus doze Ap stolos como diziam e deitando lhes fogo queimavam vivos todos os que ali estavam presos Outros a quem quiseram deixar vivos cortaram lhes as duas m os e assim os deixavam diziam Ide com essas cartas levar as not cias aos que fugiram para as montanhas LAS CASAS 1985 p 32 33 Es
363. ue na cultura Kaingang a utiliza o das crian as no trabalho encarada de maneira natural Verde 2009 Ao mesmo tempo em que o gestor p blico reconhece que a utiliza o das crian as nas atividades produtivas encarada de maneira natural sua express o se antagoniza com a lei da sociedade envolvente pela nossa lei a nossa lei o Estatuto da Crian a e Adolescente tem toda a Lei de prote o do trabalho infantil Verde 2009 Acentua o aspecto cultural por m ao mesmo tempo expressa que a lei Estatuto da Crian a e do Adolescente ECA tem a fun o de prote o do trabalho infantil o que aponta a sua concep o de que as crian as s o exploradas O mesmo afirmado na fala da participante Cinza Pr nossa lei e pra comunidade local s o crian as exploradas Isto um trabalho infantil Cinza 2009 Em rela o a esta quest o os entrevistados ind genas reagem da seguinte forma Os f g acham que a gente est explorando as crian as mas n o A gente est ensinando eles agora de pequeno pra amanh ou depois eles n o andarem como os brancos estar roubando pr eles poder se virar Porque se eles come arem agora eles v o ter o sustento deles v o saber trabalhar Chuva 2009 171 A gente est ensinando eles para no futuro eles n o sofrer problema com a falta de emprego que a gente tem e eles v o dizer Ah n s temos o nosso artesanato nossa cultura
364. ue s o de culturas igualit rias e n o cumulativistas BANIWA 2006 p 36 o pr conceito de que os ind genas s o pregui osos Poucos se d o conta de que esses povos ao longo dos anos e com imensas dificuldades foram encontrando diferentes formas de conviver com a sociedade envolvente e com a Natureza Assim como os indiv duos tamb m as sociedades costumam ter preconceito contra tudo que n o conhecem e que difere dos padr es considerados normais Por isto a falta de conhecimento espec fico sobre a cultura ind gena e suas especificidades culturais faz com que ocorram atitudes discriminat rias ou coment rios depreciativos como j deixaram de ser ndios porque usam rel gio cal as jeans t m antenas parab licas carros at celular eles t m Ora por possu rem esses objetos isto n o os transforma em brancos porque cultura n o s a apar ncia tamb m mas muito mais o significado interno o modo de vida a forma de organiza o princ pios e valores internos claro que tamb m os aspectos externos carregam s mbolos e significados diversos Se a cultura carregada de s mbolos portanto se situa muito mais na esfera subjetiva do que objetiva n o s o os aspectos exteriores como roupas e objetos que principalmente constr em cultura mas muito mais os interiores pois um conjunto de elementos art sticos intelectuais e morais que constituem o ser humano no seu meio Se cada socie
365. um ind gena durante Assembl ia em Roraima demonstra que as lideran as ind genas no Brasil avan am para romper a condi o de depend ncia fortalecendo e assumindo autonomia Uma vez que as conquistas est o contidas na lei no papel ent o necess rio materializar essas conquistas a fim de atender suas especificidades num pa s pluricultural como o Brasil E ao afirmar que esse um pa s pluricultural afirma se tamb m que a responsabilidade sobre as diferentes culturas de todo esse pa s dos gestores dos profissionais do cidad o seja ele ind gena ou n o ind gena fundamental que a elabora o e execu o de pol ticas contemplem a cultura Kaingang adequando s a es e demandas do povo Kaingang a fim de que sejam diminu dos os desgastes provocados pelo impacto hist rico cultural que t m dizimado grupos etnicamente diferenciados Trilhamos coletamos tramamos tecemos Entendemos que chegada a hora de pararmos Da mesma forma como param os Kaingang em baixo de uma rvore fazem um balaio descansam refletem e planejam tamb m n s devemos agora metaforicamente sentar sob uma rvore e tecer considera es mas nosso objetivo n o concluir uma vez que entendemos que este tema n o se esgota aqui Na ltima etapa percorrida nas diferentes trilhas para a confec o desta pesquisa no item a seguir Para seguir e n o concluir faremos considera es sobre este tema tendo em vista a re
366. uma situa o de injusti a social injusti a econ mica e pol tica Os povos ind genas ainda presentes mostram esta chaga maior de nossa sociedade desmascarando com sua irredut vel resist ncia que est longe para eles um m nimo de sociedade justa e igualit ria e at mesmo um estado democr tico de direito O Estado e o Direito brasileiros se pretendem nicos por m dentro deste Estado existem cerca de 230 povos ind genas s o sociedades continuadoras daquelas que aqui estavam no ano de 1500 em sua maioria j ent o milenares 3 O Mapa Etno Hist rico de Curt Nimuendaj baseado na consulta a 973 obras distingue as sociedades ind genas segundo a classifica o ling stica situa a mesma sociedade em mais de um local conforme seu deslocamento ao longo do tempo anotando sob seu nome o ano em que ali estava http e groups unb br ics dan juliomelatti notas n nimuen htm Acesso em 22 11 09 74 Cada uma dessas comunidades possui seus sistemas pr prios de organiza o pol tica social econ mica cultural e jur dica totalmente diferentes do restante da sociedade brasileira e tamb m diferentes entre si Como diz a antrop loga Alcida Ramos N o h duas sociedades ind genas iguais Ramos 1988 p 11 Longas discuss es sobre soberania nacional unicidade do direito brasileiro e indivisibilidade da jurisdi o t m se desenvolvido j desde os primeiros momentos da chegada do Estado Portugu s a este territ
367. utura o e gera o de conflitos Os povos ind genas t m consci ncia disto e reafirmam a necessidade de dominar a escrita mas principalmente para suas rela es para fora das comunidades com a sociedade envolvente e no trato com os rg os p blicos Os povos ind genas s o classificados em troncos e fam lias lingu sticas em fun o das similaridades entre as l nguas e das origens mais ou menos comuns H tr s grandes troncos no Brasil o Tupi o Macro j e o Aruak cada um com v rias fam lias H ainda fam lias lingu sticas isoladas que n o se encaixam nesses troncos Karib Nambikwara Pano Yanomami Maku por exemplo H sociedades ind genas que por viverem em contato com a sociedade brasileira h muito tempo acabaram por perder sua l ngua original e por falar somente o portugu s De algumas dessas l nguas n o mais faladas Site www funai gov br As l nguas ind genas Acesso em 27 11 09 85 ficaram registros de grupos de voc bulos e informa es esparsas que nem sempre permitem aos ling istas suficiente conhecimento para classific las em alguma fam lia De algumas outras l nguas n o ficaram nem resqu cios site FUNAI http www funai gov br A hist ria do Brasil portanto como a conhecemos foi contada pelos colonizadores europeus ou seja foi escrita pelos dominadores e n o pelos pr prios ind genas Contudo isto n o significa que os povos ind genas n o tinham ou n o
368. uzar pontes linhas retas abrir novos caminhos curvas acentuadas trilhas estradas esburacadas lamacentas perigosas que comp em a parte emp rica do trabalho Na conviv ncia com os povos ind genas seguramente aprendi muito e nesse processo o respeito foi se consolidando A primeira trilha que segui na aproxima o com a tem tica ind gena aconteceu em janeiro de 1987 quando meu irm o mais velho Ivori Jos Garlet apaixonado pelo povo ind gena Mby Guarani convidou me para trabalhar como secret ria na Associa o Nacional de Apoio ao ndio ANAI na cidade de Porto Alegre onde atuava h seis anos Extinta em 1993 a ANAI era uma institui o n o governamental que teve fundamental import ncia em um trabalho considerado pioneiro no cen rio pol tico indigenista nacional Por anos a ANAI consistiu se como nica refer ncia em in meras ocasi es e situa es para os povos ind genas do Sul do Brasil tais como acesso sa de garantia de territ rios atendimentos aos direitos diferenciados etc Trabalhei por mais de tr s anos nessa institui o e naquele per odo a trilha seguida possibilitou aproxima o com os povos ind genas do RS os Kaingang e os Mby Guarani Ivori mostrou me que a tica e o respeito ao outro constituem se na primeira pedra num caminho margeado por desafios e in memoriam considero que ele foi um exemplo de empenho e respeito na compreens o do outro e ao modo de ser dos Mby Guarani
369. va em risco o seu amor de m e De fato Ant nio fora confiado pelo Juiz de Orf os aos cuidados de estranhos de cuja casa fugiu para a companhia da m e O Juiz determinou que o menor fosse retirado do poder da ndia Helena e devolvido ao estranho Condo do com a situa o Mateus de Souza Lopes impetrou um Habeas corpus para cessar o constrangimento A discuss o foi acirrada e dois fundamentos foram apresentados pelo Relator Reis Lisboa para denegar a ordem 1 a m e natural n o tem p trio poder segundo a ent o vigente legisla o 2 os ju zes de rf os t m atribui es especiais em rela o s pessoas e bens dos ndios e em consequ ncia se a m e n o pode gerir sua pr pria vida muito menos a de seu filho A ordem denegada apenas pelo segundo fundamento no primeiro o relator fica vencido FILHO 1998 p 295 6 Praticamente no limiar do S culo XX a legisla o colocava os ndios na condi o de rf os e como tais n o podiam ter o p trio poder sobre seus filhos N o podemos ent o dizer que s os portugueses agiam com viol ncia pois neste caso trata se de um tribunal superior de um Estado j em pleno per odo do Brasil republicano Mar s conclui assim sua hist ria Isto quer dizer que por ordem do Superior Tribunal de Justi a do Estado do Maranh o no dia 25 de outubro de 1898 o menino Ant nio foi retirado dos bra os de sua m e e entregue a um estranho porque a ndia Helena verdade
370. ve que havia mulheres jovens e mo as gentis de extrema beleza que encantaram toda a tripula o Ali andavam entre eles tr s ou quatro mo as muito novas e muito gentis com cabelos muito pretos e compridos ca do pelas esp duas e suas vergonhas t o altas e t o cerradinhas e t o limpas das cabeleiras que de as muito bem olharmos n o t nhamos nenhuma vergonha CASTRO 1987 p 81 de surpreender que na atualidade ainda ouvem se coment rios de que os ind genas perderam suas culturas porque seus rostos e cabelos j n o s o pardos seus narizes n o s o achatados V se nisto claramente uma vis o cristalizada que perpassa pelos livros did ticos Considerar que os ind genas deixam de ser ndios porque sofreram com a miscigena o imposta pela civiliza o ocidental demonstra o desconhecimento sobre o assunto e nega que muitos povos ind genas n o tiveram outra op o de preserva o de sua cultura A carta de Pero Vaz parece insinuar que as mo as estavam ali nuas se exibindo aos europeus H in meros relatos de que os portugueses abusavam das mulheres ndias e a n s parece que essa carta de Pero Vaz quer justificar esses abusos da mesma forma que ainda hoje muitos homens se defendem de acusa es de abuso sexual contra mulheres alegando que foram provocados seduzidos por elas Os europeus massacraram v rias etnias de forma brutal mas tamb m provocaram exterm nios com doen as vindas da Europa e outro
371. velhos s o nossos livros uma vez que s o detentores do saber Ver anexo Termos de Consentimento Livre e Esclarecido onde respeita se a identidade dos sujeitos envolvidos nesta pesquisa 41 A altera o dos nomes dos entrevistados ind genas e n o ind genas uma quest o vinculada tica no Servi o Social Esta uma forma de resguardar a confidencialidade dos sujeitos envolvidos no estudo apresentado aqui Num primeiro momento procuramos os quatro elementos da Natureza para nomenclatura aos ind genas Assim selecionamos Fogo Terra Ar e gua E como os sujeitos ind genas contemplados nesta pesquisa s o mais que quatro recorremos ent o a dois fen menos igualmente atribu dos Natureza Vento e Chuva evidentemente n o menos importantes Optamos por identific los com tais cognomes a fim de valorizar os Kaingang por conta da rela o de respeito mantida por eles com a Natureza Para os cognomes vinculados aos entrevistados do setor p blico optamos pelas cores Verde Marrom e Cinza Tais cores elementos e fen menos atribuem vida harmonia e coletividade Natureza e taquara mas tamb m revelam a destrui o do meio ambiente Por diversas vezes ouvimos coment rios dos Kaingang sobre as trag dias que v m ocorrendo em fun o do desmatamento queimadas uso descontrolado de agrot xicos rios polu dos terremotos tsunamis etc Em novembro de 2008 quando aconteceram os desmoronamentos dos
372. ves legais existem na sua rela o de trabalho com a quest o ind gena 9 A forma legal o ECA deve agir em quais casos para abordagem de crian as Kaingang nas ruas da cidade 10 Voc considera o ECA adequado para a realidade dos Kaingang 11 Algumas sugest es que poderiam melhorar a forma de atendimento dos Kaingang dentro do CT 12 Morar na cidade aqui o lugar deles Voc concorda que aqui o lugar deles 233 AP NDICE E FOTOS DA ALDEIA POR FI e Foto Marinez Garlet 09 09 Foto 2 Vista parcial Na sombra das rvores mulheres sentadas no ch o confeccionando artesanatos Foto Marinez Garlet 09 09 Foto 3 Sob atento olhar da crian a a mulher Kaingang prepara o mi p o assado na cinza Alimento preparado para as festividades do Dia do ndio 19 04 2008 Foto Marinez Garlet Acervo ISAEC DAI PIDA Foto 4 Emi p o assado na cinza 19 04 2008 Foto Marinez Garlet Acervo ISAEC DAI PIDA 234 235 Foto 5 Apresenta o cultural Dia do ndio na Aldeia Por Fi 19 04 2008 Evid ncia das marcas culturais atrav s da pintura corporal os Kam e os Kanhru Foto Marinez Garlet Acervo ISAEC DA PIDA ALDEIA POR FI Foto 6 Grupo de Dan a crian as e lideran as 19 04 2008 Foto Marinez Garlet Acervo ISAEC DA PIDA 236 Foto 7 Grupo
373. vi o Social da PUCRS A mestranda tem como tema da pesquisa de disserta o de mestrado as Viv ncias de crian as Kaingang num espa o urbano a ser desenvolvida junto comunidade Kaingang residente no munic pio de S o Leopoldo RS sob orienta o da Doutora Maria Isabel Barros Bellini professora do quadro de docentes permanentes deste Programa de P s Gradua o Dada a relev ncia do tema n o apenas para a produ o de conhecimentos no mbito do Servi o Social e reas afins como tamb m para subsidiar a qualifica o das pol ticas p blicas voltadas s popula es ind genas contamos com o acolhimento desta institui o do estudo ora proposto permanecendo disposi o para quaisquer esclarecimentos que se fa am necess rios Profa Dra Beatriz Gersh nsonVAguinsky Coordenadora do Programa de P s Gradua o em Servi o Social PUC RS FUNAI Passo Fundo RS Sr Jo o Alberto Ferrarezze e ou Sra Maria In s de Freitas M D Administrador Regional Rua Uruguay 2648 Bairro Boqueir o CEP 99 010 112 PASSO FUNDO RS Campus Central Av Ipiranga 6681 P 15 sala 330 CEP90619 900 PUC Porto Alegre RS Brasil Fone 51 3320 3539 Fax 51 3320 3606 E mail servico social pgOpucrs br WWw pucrs br fss pos 264 ANEXO K NORMAS QUE DISCIPLINAM O INGRESSO EM TERRAS IND GENAS COM FINALIDADE DE DESENVOLVER PESQUISA CIENTIFICA INSTRU O NORMATIVA N 01 95PRESI DATA 29 11 1995 FUNAI
374. vida Tornaram se agricultores de subsist ncia assalariados e passaram a vender seu artesanato nos distritos e nas cidades TOMMASINO 1998 p 68 Mesmo expulsos de suas terras TOMMASINO 2000 2000b 2004 os Kaingang que moram nas cidades continuam reproduzindo suas rela es enquanto grupo etnicamente diferenciado que mant m os la os familiares sendo que o cuidado com as crian as seu aprendizado suas rotinas s o orientados pela cultura A alternativa econ mica que desenvolveram foi a produ o de artesanato para a 137 comercializa o o que favorece a aquisi o da alimenta o e dos bens de consumo b sicos A migra o ind gena para as cidades n o se restringe especificamente aos centros urbanos regionais em munic pios pequenos mas tamb m se estende at centros urbanos maiores como RJ AM RO Na capital do Estado de S o Paulo por exemplo h grande concentra o de ind genas do povo Pankararu origin rios de Pernambuco e que residem em coletivo cerca de 1 500 pessoas em uma favela do bairro Morumbi Em Santa Catarina o professor bil ngue da etnia Xokleng expressa a realidade de seu povo que reside na cidade de Ibirama Hoje a maioria vivem e moram nas favelas da cidade at catando lixos pr poder sobreviver onde agora os ndios s o considerados pela sociedade n o ndia como predadores de lixo As mo as ndias saem para as cidades mendigar empregos GAKRAM 2000b p 13
375. vistador fa a as necess rias adapta es Parece nos claro que o tipo de entrevista mais adequado para o trabalho de pesquisa que se faz em ci ncia social aproxima se mais de esquemas livres menos estruturados LUDKE ANDRE 1986 p 34 O processo de constru o da prepara o das informa es um movimento gradativo e consiste em identificar amostras de informa es coletadas no campo An lise textual discursiva entendida como processo integrado de aprender comunicar e interferir em discursos e que provocam verdadeiros mergulhos na an lise dos dados Para Moraes e Galiazzi a an lise textual discursiva consiste em um processo auto organizado de constru o de compreens o em que novos entendimentos emergem a partir de uma sequ ncia recursiva de tr s componentes desconstru o dos textos do corpus a unitariza o O estabelecimento de rela es entre os elementos unit rios a categoriza o o captar o novo emergente em que a nova compreens o comunicada e validada Esse processo em seu todo pode ser comparado com uma tempestade de luz Consiste em criar as condi es de forma o dessa tempestade em que emergindo do meio ca tico e desordenado formam se flashes fugazes de raios de luz iluminando os fen menos investigados que possibilitam por meio de um esfor o de comunica o intenso expressar novas compreens es atingidas ao longo da an lise 2007 p 12 13 O mergulho em pro
376. vo N o bastassem tirar lhes seus espa os suas terras possibilidades de ca a coleta sua liberdade agora se rouba sua inf ncia Na migra o para as cidades enfrentam a discrimina o e o preconceito e se v em fragilizados na afirma o de sua identidade Meninos e meninas ind genas se submetem mendic ncia s o v timas da explora o sexual e de toda sorte de riscos sociais INESC 2008 p 1 198 Para os Kaingang as Leis dos f g se incidem sobre a presen a das crian as nas ruas e sinaleiras significa prote o dessas crian as mas tamb m significa a imposi o de limites e penalidades sem aceno de possibilidades de enfrentamento Bem eu a lei digo eu assim que eles t o cumprindo uma lei um direito da defesa das crian as est o cumprindo uma lei pra defender as crian as de riscos Terra 2009 O branco tem uma lei por exemplo fica mais na m o do Conselho Tutelar e outra lideran a que cuida com a irregularidade com as crian as As crian as t m uma lei garantida de prote o a eles e muitas vezes a lei pro be de transitar nas ruas vendas de coisas pelas crian as A gente sofre com isso Fogo 2009 Cinza Conselheira Tutelar revela a exposi o das crian as Kaingang e o dilema constante nas suas a es dentro do CT afirma que Eles est o na rua pedindo N o d pr negar isto Est o numa situa o de pedintes Cinza 2009 N o est o s vendendo a mercado
377. xtensa diversidade existente no Brasil e a reflex o ser especificamente sobre o Povo Kaingang da Aldeia Por Fi Propomos refletir expecificamente sobre a cultura e modos de vida desse povo especialmente fazendo um recorte para a situa o vivida pelas fam lias residentes na cidade com o esfor o de manter a cultura e o direito dessas fam lias em rela o aos espa os da cidade contempor nea Neste cap tulo tamb m ser tratado sobre as transforma es ocorridas no mundo do trabalho no decorrer dos s culos XX e XXI bem como seus impactos para as comunidades ind genas especialmente o povo Kaingang residente no entorno da cidade Al m disso ser o tratados aspectos relacionados s atividades produtivas desenvolvidas pelas crian as ind genas tendo em vista a cultura ind gena foco deste estudo E no sexto e ltimo cap tulo Fibras e cestos em meio urbano apresentamos os resultados de nossa pesquisa Trata se dos tran ados elaborados at o momento Como toda atividade artesanal pass vel de acabamento pode ser feito refeito melhorado Por fim e para n o concluir tecemos algumas considera es apontando a complexidade e a insufici ncia das pol ticas p blicas que envolvem as popula es ind genas Reiteramos a import ncia da continuidade de estudos como esse o envolvimento da sociedade com um todo e destacamos a import ncia da participa o do Servi o Social nesta quest o Ap s as Refer ncias Biblio
378. za o pelas ruas e cal adas Na produ o da mais valia os trabalhadores ficam em desvantagem em rela o l gica de explora o que vai desde a exig ncia da capacidade de produ o at a tentativa de prejudicar direitos conquistados Assim Holanda 1995 remete hist ria que foi tra ada no Brasil onde as heran as da coloniza o e das rela es da escravid o marcam nossa sociedade muito mais pela diversidade do que pela homogeneidade com diferentes culturas A m o de obra continua a ser explorada e exclu da do acesso aos direitos civis e pol ticos garantidos pelos segmentos sociais e refor a a situa o de exclus o vivida pelos Kaingang que produzem manualmente seus produtos para a comercializa o nas cidades No entanto mesmo frente esses cen rios a realidade dessas comunidades bem outra Quem por exemplo v de fora as sociedades ind genas sem o entendimento de sua cultura e modo de organiza o interna poder erronemente interpret los como inferiores em suas condi es econ micas e modo de vida diferentes da sociedade n o ind gena que possui um sistema de ac mulo de capital pois Povos que estiveram e alguns que ainda est o margem do sistema capitalista a exemplo de etnias ind genas n o conhecem a pobreza porque tamb m n o conhecem a riqueza O seu modo de vida faz com que tudo o que s o capazes de produzir seja consumido de modo bastante igualit rio STOTZ 2005 p
379. za animais outras pessoas outros grupos realidade constru da por eles SILVA 1988 p 5 Sendo assim evidente que todos os grupos sociais sem exce o produzem cultura entende se a partir disso que cultura um c digo de simbologias que s o constru das socialmente e visto assim os seres humanos produzem e as modificam com frequ ncia Etnocentrismo o ato ou fato de considerar a sua cultura melhor ou superior a do outro e esta tend ncia respons vel em seus casos extremos pela ocorr ncia de numerosos conflitos sociais LARAIA 2003 O comportamento etnoc ntrico tende a transformar o que considera diferente em anormal luz do olhar da sua pr pria cultura o que faz com que sua cultura seja superior s outras culturas evidenciando a discrimina o as diferen as s cio culturais existentes na sociedade Ao refletimos sobre etnocentrismo consideramos que a discrimina o vem acentuando formas de provocar a exclus o social A sociedade brasileira assim como fundamentado por Chau uma sociedade na qual as diferen as e assimetrias sociais e pessoais s o imediatamente transformadas em desigualdades A forma como a sociedade brasileira est organizada hierarquizada faz com que os povos ind genas sejam impedidos de desfrutar seus direitos b sicos de cidad os quanto mais os direitos que t m por serem socialmente diferenciados da sociedade permanecendo assim socialmente exclu dos na co

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