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“RESTAVEC – from Haitian Slave Child to Middle

1. Physical Training Treino F sico Seguindo para a ltima das solu es diretas apresentadas deparamo nos com a tradu o literal Tradu o Literal Solu o TP TC The truth of this A verdade desta story hist ria The circumstances of his birth As circunst ncias do seu nascimento Note to the Reader All of the stories told in this book are true but most of the names have been changed Nota para o Leitor Todas as hist rias neste livro s o verdadeiras mas a maioria dos nomes foi alterada CAP TULO III A TRADU O AN LISE DA TRADU O Motivo Esta solu o de tradu o ser a mais utilizada ao longo do livro pois existe em muitas ocasi es a possibilidade de fazer uma tradu o palavra a palavra Isto acontece porque ambas as l nguas obedecem estrutura fr sica SVO Sujeito Verbo e Objeto Voltemo nos agora para as solu es chamadas obl quas ou menos diretas tamb m classificadas por Vinay e Darbelnet 1995 36 42 Solu o TP TC As the bus began to Quando o autocarro move again the come ou a andar smell of food and novamente o diesel fumes caused cheiro a comida e me to be sick os fumos causaram me indisposi o Transposi o used violence utilizaram to overthrow the viol ncia para slave system derrubar o sistema
2. mul tresse Nanpoint There s No Sim Nanpoint femme femme p g 60 Woman Rigoise a whip made of Aparece tradu o Rigoise p g 15 cowhide do autor ap s o voc bulo Tit homme Little Man Sim Tit homme p g 60 Levantou se uma outra quest o relativamente s formas de tratamento apresentadas na obra Como definido anteriormente esta divide se em duas partes a parte haitiana e a parte americana Enquanto na parte haitiana o autor tenta integrar o leitor americano no ambiente haitiano na parte americana o leitor n o precisa de nenhuma contextualiza o por parte do autor pois trata se da sua cultura materna Ora uma das formas de o autor fazer sobressair a cultura precisamente com as formas de tratamento Cadet escreveu as propositadamente em franc s no TP para que o leitor americano sentisse a diferen a cultural Na segunda parte as formas de tratamento s o j as comuns da sociedade americana No TC para respeitar a tentativa do autor de dar a entender que s o retratadas duas culturas distintas as formas de tratamento mantiveram se inalteradas do TP para o TC sem que houvesse qualquer transposi o para as formas de tratamento portuguesas que pouco se enquadrariam neste caso No cap tulo V O filho de Florence Denis feita uma refer ncia ao nome haitiano Joseph que seria t o comum como os nomes americanos Jones e Smith Como o p blico alvo a quem se destina o livro te
3. Nessa manh particular antes do pequeno almo o ela reuniu todas as crian as junto casa Ela cobrira os meus dejetos com um monte de folhas Quero saber quem se al viou ao lado da casa esta manh disse ela extremamente direta Todos permaneceram silenciosos O meu cora o come ou a palpitar porque eu tinha a certeza de que a Avozinha cortaria um pau da rvore mais pr xima para chicotear o culpado 75 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Eu quero que quem fez isto pegue numa p recolha tudo e deite fora insistiu ela a apontar para o monte de folhas Quando se apercebeu de que o culpado n o tencionava admitir o seu ato ela baixou se para apanhar uma m o cheia de malaguetas do seu jardim e atirou as para o monte de folhas 17 A Eu vou queimar estas malaguetas com esta caca e dizer tr s palavras Quando o dono desta caca se tentar aliviar outra vez o intestino dele ir arder como se lhe tivessem ateado fogo e sair pelo seu derri re Depois disso saberei quem fez isto disse ela aborrecida Pensar que teria o meu intestino a sair me pelo derri re assustou me mais do que a possibilidade de ser chicoteado Quando ela estava prestes a acender o f sforo desatei a chorar Levantei a m o com medo e disse Avozinha fui eu quem fez isso Por favor n o o queimes A Avozinha deu um grande sorriso desdentado e disse Da pr xima vez que
4. Bobby vem j aqui gritou Florence Eu deixei Olivier e fui at ao quarto de Yvette Eu quero que te tornes til nesta casa e n o encorages Monsieur Olivier Lembra te p e te no teu lugar disse ela Yvette olhou para mim com asco Eu desci as escadas at ao quarto da empregada Um carro estacionou entrada Olivier correu l para fora Maman o Bobby pode ficar a dormir no meu quarto perguntou Olivier entusiasmado Pergunta ao teu Papa respondeu ela 60 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Anne Marie e Jacques olharam um para o outro por um momento e depois Jacques disse Sim relutantemente Olivier aproximou se de mim Est tudo bem o Papa disse que sim Eu peguei na minha caixinha de cart o e nos trapos do ch o Sophie olhou para mim com um olhar mau Monsieur Olivier n o teu irm o N o ajas como se fosse seu pequeno restavec disse ela enojada Uma vez no quarto de Olivier ele abriu a minha caixa e tirou a minha ta a o prato de alum nio amolgado alguns trapos velhos e dois cadernos Isto tudo o que tens perguntou ele parecendo confuso Eu acenei que sim Olivier olhou para o seu arm rio e tirou dois pares de cal as e duas camisas Experimenta disse ele Eu obedeci Eramos do mesmo tamanho s que eu tinha uma tez ligeiramente mais clara Olivier levou as roupas para o quarto da m e e pediu per
5. http www edtl com pt index php option com mtree amp link id 74 niveis de lingua amp task viewlink Parlamento Portugu s consultado pela ltima vez a 7 de setembro de 2014 http www parlamento pt Documents XIILEG Guia Acordoortografico pdf 58 ANEXOS ANEXOS Restavec from Haitian Slave Child to Middle Class American de Jean Robert Cadet Vers o original apresenta se em CD Rom anexado a este documento Restavec de Menino Escravo no Haiti a Americano de Classe M dia Uma Autobiografia de Jean Robert Cadet Vers o em portugu s do Brasil apresenta se em CD Rom anexado a este documento Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Proposta de tradu o em portugu s europeu da obra de Jean Robert Cadet 60 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia FICHA T CNICA T tulo original Restavec From Haitian Slave Child to Middle Class American Autor Jean Robert Cadet University of Texas Press Austin Copyright O 1998 by the University of Texas Press Reservados todos os direitos Impresso nos Estados Unidos da Am rica 1 Edi o 1998 Pedidos de permiss o para a reprodu o de material deste trabalho devem ser enviados para Permissions University of Texas Press Box 7819 Austin TX 78713 7819 oo O papel utilizado nesta publica o cumpre os requisitos m nimos de American National Standard for Informati
6. conseguiam voar especialmente meia noite Yvette come ou a desconfiar da minha amizade com Olivier Ela tinha reparado que sempre que eu n o estava presente Olivier tamb m n o Ela resistiu tenta o de nos 15 NT Carnaval 64 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia mandar seguir mas sempre que eu e Olivier cheg vamos juntos dizia sarcasticamente Os dois irm os regressaram Era dessa maneira que recordava a Florence que eu me tinha esquecido de me manter no meu lugar e tamb m lembrava a Olivier que estava a fazer algo que n o era socialmente aceite Numa tarde de s bado estando na varanda Yvette reparou em mim e em Olivier a brincar um com o outro atr s da casa O que que se passa aqui em baixo Bobby n o tens trabalho a fazer perguntou me em crioulo E Olivier n o tens trabalhos de casa perguntou lhe em franc s Separ mo nos rapidamente Eu agarrei num balde e fui buscar gua para encher os dep sitos das casas de banho e Olivier foi fazer os trabalhos de casa para dentro de casa Quando eu voltei com a gua Florence e Yvette estavam minha espera Depois de ter enchido os dep sitos Yvette entrou na casa de banho agarrou a parte de tr s do meu pesco o e obrigou me a p r me de joelhos Ela levantou a tampa da sanita e empurrou a minha cabe a para a sanita suja Isto melhor do que tu porque isto sabe o lugar que ocu
7. es e ra es C foram distribu das As tropas fizeram as malas Dobrei o meu poncho enquanto observava o soldado Williams despido da cinta para cima de p em frente ao seu cacifo com a cabe a e bra os l dentro Passado algum tempo ele colocou uma pequena caixa de cigarros na mochila e sentou se no beliche Tinha os olhos vermelhos Pequenas gotas de suor rolavam lhe das sobrancelhas at ao queixo como orvalho matinal num relvado alto Estavam todos prontos para combater Est bem vamos embora gritou o sargento O soldado Williams vestiu a camisa e pegou na arma Fomos de carrinha at ao aer dromo onde vestimos os nossos paraquedas e esper mos para embarcar num avi o C 141 Estavam a colocar jipes e tanques em grandes avi es chamados C 5 Finalmente embarc mos no avi o O salto correu bem N o houve baixas Os paraquedas foram deixados no campo relvado para serem recolhidos por pessoal especializado No campo de tiro foi nos ordenado que carreg ssemos as armas e as mantiv ssemos em seguran a Carreguei a minha M 16 O soldado Williams tomou a sua posi o e inseriu um cinto de muni es na sua arma M 60 Comecem a disparar gritou o sargento Mov amo nos e dispar vamos O soldado Williams parou A arma dele tinha encravado Ele virou a M 60 e deu um pontap no cabo de montar com a cabe a por cima do cano da arma Disparou A cabe a do soldado Williams explodiu enquanto o seu corpo ca a sem
8. explicou o sargento de pelot o N o me importo eles t m boa apar ncia disse Naquela manh liguei unidade dos Rangers e o primeiro sargento deles convidou me para uma entrevista Porque te queres tornar num Ranger perguntou me o primeiro sargento Sou um paraquedista de uma unidade de infantaria e sinto falta de saltar respondi Qual a tua nota no GT perguntou 122 respondi O primeiro sargento sorriu Tomas narc ticos ou drogas perguntou me Nunca respondi Parab ns bem vindo ao 75 Rangers disse ele apertando me a m o 38 NT Um dos testes de aptid o militar 177 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Os Rangers eram diferentes das outras unidades Eles apresentavam se com eleg ncia mostrando se altivos e orgulhosos deles pr prios Tratavam se uns aos outros com um tipo 39 de respeito que parecia fortalecer o seu esprit de corps e o comandante da companhia felicitava os sempre pela sua execu o para al m do expect vel O complexo e a caserna eram o reflexo do esp rito ranger Os acessos de pedra eram primorosamente delimitados por pedras imaculadamente brancas N o se avistava qualquer tipo de sujidade O ch o da caserna de t o brilhante poderia fazer de espelho Pairava sempre no ar um suave cheiro a cera No refeit rio os cozinheiros tratavam nos a todos como a clientes habituais Como era
9. frente de um pequeno edif cio de tijolos de um nico andar com uma placa onde se lia Voyage Chatelin Segui o Fiquei surpreendido pelo ar frio que surgiu mal a porta abriu Nunca tinha estado dentro de um edif cio com ar condicionado antes Pensei no frigor fico de Florence quando eu abria a porta L dentro estavam tr s lindas demoiselles mulatas com cabelo preto pelos ombros sentadas secret ria atr s de m quinas de escrever Estavam bem vestidas e tinham aquela pele suave qual muitas pessoas se referiam como peau aircondition e o que significava que eram peles que raramente se expunham f ria do sol Philippe fez me sinal para que me sentasse enquanto ele se aproximava do balc o Sentei me com os joelhos juntos observando o a falar em franc s com uma das mulheres mulatas num tom de voz baixo Depois acenou me para o seguir at uma pequena sala nas traseiras Ao entrar na sala vi um grande homem de pele escura de p atr s de um trip de uma m quina fotogr fica Na parede atr s dele estavam pendurados um blazer s riscas preto e branco e uma gravata preta Eu pus me em frente c mara enquanto Philippe permanecia porta Disse em crioulo ao homem a apontar para mim Ele precisa de uma fotografia para o passaporte 117 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia O homem pegou no casaco e ajudou me a vesti lo Olhei para baixo Ficava me abaixo dos joelhos e as min
10. intensidade das palavras utilizadas Muitas mais compara es poderiam ser feitas neste cap tulo especialmente a n vel de vocabul rio e constru o fr sica No entanto decidimos apresentar as seguintes a t tulos de exemplo VO VPB VPP The affluent disguise their evil deeds with the label restavec a French term that Os ricos disfar am sua maldade com esse nome restavec que em franc s Os influentes disfar am as suas inten es mal volas sob a express o restavec means staying with significa agregado da um termo franc s que fam lia significa ficar com You re going to scratch my Voc vai massagear os Vais massajar me os p s feet until I fall asleep if I have to kick your head off meus p s at eu dormir nem que eu tenha de chutar at lhe arrancar a cabe a at eu adormecer nem que tenha de te dar pontap s at te arrancar a cabe a I told him a dirty joke that I had heard from a vendor of leaves Eu lhe contei uma piada suja que tinha ouvido de um vendedor de folhas Contei lhe uma anedota picante que tinha ouvido de um vendedor de folhas You ll never be anything but a shoeshine boy Voc nunca vai ser nada al m de engraxate Nunca ser s mais do que um engraxadorzito de sapatos After I gave my Saint Joseph to a classmate who had
11. perguntou N o posso dormir em casa da Avozinha porque quando a Tia Gertrude se embebeda tenta me bater expliquei lhe Era f cil escapar a Gertrude mas manter me longe dos avan os de Simon todas as noites era mais dif cil do que lutar contra porcos e c es selvagens na vegeta o rasteira Eu n o queria acusar Simon de me molestar com medo de que ele pudesse vingar se Afinal de contas ele era um homem e eu apenas um rapaz Al m disso contar a Chelaine n o o travaria Esta casa n o minha Eu vou falar com Antoine e logo te conto o que ele diz disse Chelaine Eu vou escrever ao meu Papa em Port au Prince a pedir lhe para te mandar dinheiro para tomares conta de mim acrescentei Eu estava determinado a n o passar nem mais uma noite em casa da Avozinha De repente os olhos de Chelaine iluminaram se Nesse caso tenho a certeza de que Antoine vai aceitar disse ela Eu n o fazia ideia onde o meu pai vivia em Port au Prince Alguns minutos mais tarde Antoine chegou Bobby porque n o esperas l fora enquanto eu falo com Antoine sugeriu Chelaine Eu fui para as traseiras da casa e ouvi a conversa deles debaixo de uma janela aberta A princ pio Antoine recusou porque a casa era demasiado pequena Quando Chelaine lhe falou sobre a carta que eu mandaria a Blanc Philippe a pedir dinheiro ele aceitou desde que o dinheiro lhe fosse dado diretamente Mal a conversa terminou eu corri de volta pa
12. ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Eu ajudo te com o carro de manh Vejo te por volta das dez disse Jeff e foi embora Na manh seguinte Jeff apareceu Est s pronto Vamos tenho uma coisa para te mostrar disse me Entrei no seu Lincoln Continental preto Ele parou num concession rio da BMW e pediu para testar a condu o do modelo mais pequeno Porque n o conduzes tu sugeriu Vai comprar outro carro perguntei Sim preciso de outro carro um mais pequeno para conduzir na cidade disse ele Quando voltamos ao concession rio Jeff pediu para conduzir e disse ao vendedor que voltaria mais tarde H outra coisa que te quero mostrar disse Conduziu at um lindo complexo num condom nio fechado Eu vivo aqui disse Jeff enquanto estacionava Segui o at o interior e ele mostrou me todas as salas Gostarias de viver aqui comigo perguntou Jeff Claro o s tio mais bonito que j vi disse eu Jeff sentou se no sof e fez me sinal para me sentar a seu lado Podes mudar te hoje e eu deixo te levar o BMW para a escola disse ele Fiquei sem saber o que dizer e senti me desconfort vel Est tudo bem N o tens que te preocupar Eu tomo conta de ti tudo o que tens de fazer ser meu amigo Ao dizer isto Jeff colocou a m o dele na minha coxa tocando a minha pele debaixo dos cal es Levantei me 196 ANEXO Restavec de
13. ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Dessalines contra os brancos da mesma forma que as crian as americanas brincam aos ndios e aos Cowboys De certo modo est vamos a reencenar a revolu o haitiana que libertou os escravos e criou a primeira rep blica negra independente no Hemisf rio Ocidental Dormi todas as noites com o santinho da Virgem Maria por baixo da minha almofada feita com um velho vestido dobrado A sess o da manh iniciava s nove horas e terminava ao meio dia com um intervalo de meia hora que come ava s dez da manh Durante aquele tempo eu copiava as p ginas necess rias dos livros dos outros alunos Voltar a casa depois da escola era sempre uma experi ncia assustadora e de adrenalina para mim Sentia me sempre como um homem condenado a caminhar em dire o cadeira el ctrica Lembrava me de cada detalhe da manh procura de erros que poderia ter cometido e rezava a Deus para encontrar Florence de bom humor e para que esta se tivesse esquecido de inspecionar os meus trapos procura de sinais de molhado Antes de regressar para a sess o da tarde s duas horas limpava o p mob lia punha a mesa lavava os p s de Florence e enchia com gua as garrafas no frigor fico Eu gostava mais da sess o da tarde porque a minha disciplina preferida era a Matem tica Na escola os meus colegas admiravam me apesar da minha apar ncia restavec Assumiam que eu era
14. Deux coups tir s Il l ve la t te le canon d un revolver braqu sur lui jette dans la nuit une petite lueur Dois tiros disparados Ele levanta a cabe a o cano do rev lver apontado para ele atira para a noite uma luz fraca No final da ltima frase pus um ponto final e afastei me O homem leu o ditado outra vez levantando a voz por vezes para enfatizar certas palavras enquanto eu procurava os erros Ao aproximar se do quadro entreguei lhe o giz e olhei o nos olhos Quando come ou a sublinhar as palavras mal escritas senti o meu cora o a subir me pela goela Tiveste seis erros disse ele Eu relaxei Podes analisar gramaticalmente a primeira frase perguntou me Soltei um suspiro de al vio e identifiquei as partes do discurso O meu nome Ma tre Jean Charles Como te chamas perguntou me O meu nome Jean Robert Cadet respondi Vemo nos na segunda feira de manh s oito horas disse Ma tre Jean Charles Eu sa da pequena cabana de aulas observando dist ncia os porcos perto do anexo o cavalo e o po o de gua ali perto Mal cheguei rua e fiquei longe da vista do Ma tre Jean Charles saltei freneticamente com entusiasmo a dizer Fui aceite Fui aceite Mal podia esperar para partilhar a boa not cia com Chelaine Ao chegar a casa corri para ela Tia Chelaine Tia Chelaine Fui aceite na escola do Ma tre Jean Charles disse Hum hum disse el
15. Ele foi para o quarto sem dizer boa noite O que que eu fiz Mais valia n o ter dito nada pensei e fui para a cama no quarto que Madelaine costumava ocupar Na manh seguinte Philippe continuava irritado Eu disse lhe que estava de partida e ele murmurou algo Dei uma gorjeta s empregadas apanhei um t xi para o aeroporto e regressei a Tampa Certo dia de trabalho voltei do almo o e dei de caras com um enorme bolo de chocolate com uma vela na minha secret ria Numa pequena mesa a um canto estava um saco de papel castanho cheio de pratos guardanapos e garfos Lembrei me logo da data de nascimento que estava no meu passaporte Liguei para Andrea a secret ria de departamento e agradeci lhe n o me sentindo merecedor Levei o bolo e o saco para o meu carro e fui at casa Pus o bolo do frigor fico e voltei para o trabalho Por volta das duas horas Andrea entrou no meu escrit rio com o resto do pessoal do departamento O que que se passa perguntei surpreendido por toda a gente estar no meu gabinete Onde est o bolo perguntou Andrea Que bolo perguntei lhe 210 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia O bolo que pus na tua secret ria logo depois do almo o disse me Pensei que o bolo fosse para mim disse lhe Sim o teu bolo mas estamos aqui para celebrar o teu anivers rio com ele N o tem piada Onde est o bolo Estamos aqui para a sobrem
16. O marido 19 NT Guisado 78 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia colocou a placenta num buraco atr s da casa e plantou uma bananeira por cima para assegurar uma vida longa nova chegada As minhas recorda es foram interrompidas pouco depois Quem diabo s tu disse uma mulher com um vestido estampado um chap u de palha grande e sand lias de couro Era Gertrude Em quatro anos parecia ter envelhecido vinte Sou o Bobby Tia Gertrude Lembra se de mim perguntei N o conhe o nenhum Bobby Est s aqui para me roubar balbuciou O cheiro do seu h lito for ou me a dar dois passos atr s Ela era tr s tons mais clara do que Florence e muito mais magra Florence sempre tinha tido ci mes da sua tez clara e do seu longo cabelo Se eu tivesse a tua tez seria uma mulher muito rica tinha lhe dito Florence quatro anos antes Gertrude entrou para ver Avozinha Pouco tempo depois chegou Chelaine a filha adulta de Gertrude com um cesto na m o Trouxe duas ta as de lou a com comida cozinhada Ela reconheceu me imediatamente e p s me v rias quest es sem esperar pelas respostas Quando que chegaste aqui Vieste sozinho A Tia Florence foi tranger Foi para dentro e ligou o candeeiro a g s Segui a e esperei porta Gertrude tinha desfalecido numa pequena cama perto da da Avozinha Chelaine voltou a sair tirou gua do po o levou a para de
17. RESTAVEC from Haitian Slave Child to Middle Class American Tradu o e An lise da obra de Jean Robert Cadet Mariana Rodrigues Antunes Ara jo Trabalho de Projeto Mestrado em Tradu o e Interpreta o Especializadas Porto 2014 INSTITUTO SUPERIOR DE CONTABILIDADE E ADMINISTRA O DO PORTO INSTITUTO POLIT CNICO DO PORTO O ISCAP q RESTAVEC from Haitian Slave Child to Middle Class American Tradu o e An lise da obra de Jean Robert Cadet Mariana Rodrigues Antunes Ara jo Trabalho de Projeto apresentado ao Instituto de Contabilidade e Administra o do Porto para a obten o do grau de Mestre em Tradu o e Interpreta o Especializadas sob orienta o da Doutora Clara Sarmento Porto 2014 INSTITUTO SUPERIOR DE CONTABILIDADE E ADMINISTRA O DO PORTO INSTITUTO POLIT CNICO DO PORTO AGRADECIMENTOS V rias foram as pessoas que apoiaram e inspiraram a realiza o deste projeto Professora Doutora Clara Sarmento que aceitou acompanhar este projeto e cujas orienta es foram preciosas agrade o de forma especial Professora Doutora Eduarda Mota e Professora Joana Fernandes deixo o meu muito obrigado por partilharem com os alunos o vosso entusiasmo pelo saber Priscila Ferreira e ao Jos Santos Silva que me acompanharam fielmente nesta dif cil etapa manifesto a minha gratid o Merci infiniment a Jean Robert Cadet por ter tido a for a de partilhar a sua hist ria com o
18. agora Festejaste o teu anivers rio o anivers rio do teu filho o anivers rio da tua nora e o anivers rio dos teus netos mas todos os anos me dizias que o meu anivers rio tinha sido no m s anterior Tinhas mesmo de fechar a casa comigo c fora sempre que ias passar o dia fora com os teus amigos Podias me ter levado contigo eu era um bom rapaz No m s passado uma senhora no trabalho p s um bolo na minha secret ria para celebrar o meu anivers rio Sabes o que que eu fiz Levei o bolo para o meu apartamento sem ningu m ver porque eu n o sabia como reagir Quando estava no ex rcito sempre que um soldado se largava eu instintivamente dizia perd o Sabes Imaginei me v rias vezes a matar te Florence olhou para cima para os meus olhos Porque que n o me matas e acabas com isto agora mesmo exclamou Florence Eu devia estar aqui contigo para cuidar de ti para te levar a jantar fora e dizer orgulhosamente a todos os meus amigos Esta a minha m e Mas n o posso porque me magoaste imenso Levantei me ainda a choramingar Desapertei a mochila lentamente tirei o meu diploma de licenciatura e coloquei o frente dela N o sou um engraxador de sapatos disse lhe novamente Sa e fechei a porta atr s de mim sentindo me livre renovado e aprovado Ao aproximar me do carro respirei fundo e senti que respirava pela primeira vez 214 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de C
19. apsecsniresbanpeinenisninacio Ananias R una nas ani ava REEE AREE REEERE vii LEOD n OLS MTOE 1O MR RR RR E OR END PDR ED ORE GR E 1 Cap tulo I Jean Robert Cadet Vida e Obra sssessseesssesesseessseeesseessresseesseresseersseessresseessee 4 Biografia lern E E A E 5 Cap tulo II Contextualiza o Hist ricocultural ssseseseeeeeesseesseeesseessesssesesseeesseessresseessee 8 LApresenta o hist rica do Haiti linennet aa aaa 9 Apresenta o religiosa do Haiti sesssenessesssseessesssesssetssseesseessesseersseessseessseessessresset 11 Breve Apresenta o de Abolicionistas da Escravatura nos E U A I 14 Cap tulo III A Tradu o An lise e Compara o err 16 Ser Tradutor lpse RPE SRD NE DER CR ER O RR 17 Enquadramento te rico Las E O AS 21 lAn hsedatraduc asas ae iss Si Ed AATAS ARO ines 29 Breve Compara o entre tradu es auspas cssraiasade so gar as delas rabas ada so gas ns dar cdesand Als np lads ds 45 Conclusio cenena GG SGD 51 Refer ncias Bibliogr ficas sssini aaa iaia aeaa a ai 54 Bibliografia Prim ria lassige irssi aai ss Linea bad 55 Bibliografia Secund ria ecisssecssiniinsciisinisirneisissinsiii isisisi asise iaeiiai iosia 55 Eras as Referencia ssa scan atrasa id cida aenn iene a aE EEEN 56 S tios em linha Consulados aessasag asas ais tis fo TE S 57 ANOS R R E A A T 59 Restavec from Haitian Slave Child to Middle Class Ame
20. es extra para por exemplo criar NT para a contextualiza o do p blico alvo Nota se depois da compara o entre os produtos finais que o tradutor da vers o em portugu s do Brasil n o demonstra ter muitos conhecimentos da l ngua francesa qual o autor recorre v rias vezes ao longo da obra original para transmitir fielmente a atmosfera da poca Durante o relato da vida do autor este menciona v rias vezes o nome das escolas que frequentou no Haiti Ecole du Canada Ecole Simone Duvalier Ecole Jean Charles nunca no entanto grafando Ecole com acento no primeiro e segundo a norma francesa de n o colocar acentos em mai sculas Contudo o tradutor da vers o brasileira n o respeitou esta regra visto que todas as palavras Ecole apresentam o acento agudo no primeiro e Entende se que se o tradutor manteve o nome da escola em franc s deveria tamb m ter mantido a grafia escolhida pelo autor Apesar de a tradu o em portugu s ter aproximadamente o mesmo n mero 48 de NT que a tradu o em portugu s do Brasil 49 n o se poderia deixar de fazer uma refer ncia e breve compara o relativamente ao tamanho das NT dos dois trabalhos Comparativamente com as NT da vers o em portugu s do Brasil as NT da vers o na l ngua portuguesa s o bastante mais sucintas visto que a tradutora tentou despertar uma certa curiosidade ao leitor Uma vez que nos nossos dias a informa o bastante prolixa e a
21. espera do teu sinal explicou o detetive dando me o seu cart o Est bem eu tiro a boina quando tiver visto as drogas disse lhe Se concordarem em levar te liga me antes de sa res da caserna disse o detetive apertando me a m o 170 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Quando estava prestes a sair o detetive deu me mais dinheiro para comprar mais cerveja Eu voltei caserna com mais duas grades de cerveja Fingi estar b bado outra vez e distribu a cerveja No fim de semana antes do pagamento fui at Fayetteville com os rapazes Pedi cerveja num bar e despejei a pela sanita Na noite de receber o sal rio os rapazes estavam a preparar se para sair Onde que voc s v o perguntei Eles entreolharam se Com o Franci na boa meu disse o soldado negro Queres vir connosco perguntou o outro Sim respondi Veste te nigga N o vamos esperar disse o outro soldado negro Tudo bem Deixem me ir lavandaria disse ele Fui at ao telefone no andar de baixo e liguei ao detetive Est tudo pronto disse e desliguei Tirei as roupas da m quina de secar e voltei a subir Vesti me rapidamente e sa com os dois primeiros cabos negros e o cabo branco Achei estranho que os dois primeiros cabos negros se tratassem por nigga enquanto o amigo branco n o usava essa palavra Quando me tentei enquadrar tratando o cabo branco p
22. gua e fazendo o sinal da cruz na minha testa Depois do sacramento Florence olhou para mim e disse Eu sou a tua madrinha e o padre o teu padrinho Antes de sair o capel o do ex rcito deu me instru es para a minha Primeira Comunh o Vejo te amanh s 9 horas disse o capel o No domingo de manh vesti o meu uniforme verde e as botas pretas brilhantes Ao sair da 24 caserna o soldado Williams que agora me tratava por Franci gritou da janela do segundo andar Oh Franci onde raio que vais meu 160 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Olhei para ele com um grande sorriso e gritei lhe de volta Vou fazer a Primeira Comunh o Enquanto estava sentado na igreja espera da cerim nia revi me como um pequeno rapazinho restavec entusiasmado que outrora sonhara vestir uma camisa branca cal as brancas e um pequeno la o vermelho na sua Primeira Comunh o Mas agora a excita o que tinha sentido enquanto crian a depois da semana final de catequese n o regressara Em vez disso senti me vazio sozinho e frio interiormente pes E P 35 A E R Depois da Comunh o fui at ao PX comprei uma caixa de bolachas e voltei caserna Comi algumas e distribu o resto pelos tropas sem lhes dizer o que estava a celebrar Devido s drogas eu mantinha me o mais poss vel longe da caserna passando o meu tempo livre no gin sio ou na
23. lo Fiquei t o furiosa que lhe disse para dizer mam dela que eu tinha uma c a igualzinha dela e que tamb m a podia queimar Estou te a dizer aquela mi da branca correu o caminho todo at chegar a casa disse Mrs Jefferson a rir se at lhe virem l grimas aos olhos Ao contr rio de Florence que achava que os brancos n o faziam nada mal a atitude de Mrs Jefferson em rela o a brancos era t o amarga que eu n o poderia ter convidado um amigo branco para casa dela Era realmente amarga em rela o pol cia e sempre que via um carro patrulha a passar por casa dela dizia Olha para aqueles malucos S o incans veis Devem andar procura de niggers para espancar 200 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia No dia seguinte conduzi at Citrus International com um bloco de notas e uma caneta Dirigi me rece o do edif cio de dois andares e apresentei me rececionista branca Ela marcou um n mero e anunciou a minha chegada Pouco depois uma secret ria loira desceu os degraus e acompanhou me at ao gabinete de Mr White Ele apresentou se como o diretor geral e questionou me imediatamente acerca do meu conhecimento da l ngua francesa Eu sou do Haiti respondi sentindo me envergonhado por ter nascido num pa s que sin nimo de pobreza extrema e de instabilidade pol tica um pa s cujo governo tolera a escravid o infantil sob o r tulo de res
24. Eu compreendo disse eu vindo embora Liguei para v rias outras pessoas dos an ncios e acrescentei sempre Acontece que sou negro Vai ser um problema Respondiam me sempre Sim vai N o conseguia compreender por que raz o na vida civil nenhum branco queria ter um colega de casa negro enquanto no ex rcito nenhum dos trinta Rangers brancos com quem partilhara os louros tinha apresentado obje es na verdade todos me tratavam como um irm o No Sul a vida enquanto jovem negro foi muito dura O meu tom de pele era um obst culo para suprir as necessidades mais b sicas da vida Era ainda mais dif cil arranjar um trabalho part time do que uma casa decente Ao mesmo tempo que me sentia como um soldado que n o estava devidamente treinado para sobreviver em territ rio inimigo a maioria dos brancos parecia me tinham sido treinados durante a vida toda para me verem como est pido sujo desonesto diab lico e perigoso N o conseguia desprez los porque na minha terra natal e ambiente negro a minha consci ncia fora moldada para ver os brancos como inteligentes honestos atenciosos e semelhantes a deuses No entanto evitei ser condicionado pelo racismo e concentrei me em atingir o meu objetivo Uma vez entrei numa barbearia e sentei me numa cadeira para esperar pela minha vez ao lado de um senhor mais velho Peguei numa revista que estava numa mesinha e comecei a folhe la N o me apercebi de que era o nico n o b
25. Fiquei paralisado O professor sorriu Almajipe p s se de lado entregando o giz ao professor que corrigiu Almajipe e reescreveu os n meros que eu tinha escrito P e te de joelhos disse a Almajipe Ao regressar ao meu lugar o professor olhou para mim e disse Petit blanc a sorrir Chicoteou Almajipe com o rigoise Durante o intervalo da tarde todos os alunos no oitavo ano gozaram com Almajipe gritando que ele n o era mais o n mero um Furioso avan ou em dire o a mim e disse me acenando o punho Depois da escola eu mostro te quem o n mero um A campainha tocou s quatro horas Fomos dispensados da escola Todos os alunos sabiam da luta A um quarteir o da escola todos pararam e me rodearam juntamente com Almajipe Tremi de medo Um aluno do oitavo ano ansioso por assistir luta avan ou na minha direc o e ofereceu se para segurar nos meus livros Eu olhei para a multid o e reparei no finalista que me tinha dado os livros enviado pelo Ma tre Jean Charles Avancei na dire o dele Toma segura nos meus livros disse esperando que ele evitasse que a luta acontecesse O finalista pegou nos livros com cara de preocupa o 94 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Ei Almajipe Se lutares com Jean Robert eu vou dizer ao Ma tre Jean Charles e tu sabes o que ele acha sobre vagabundos que lutam na rua disse ele Almajipe olhou para o finalista e refle
26. Numa noite quando estava prestes a sair para o trabalho Denis deteve me para falarmos Os professores t m andado a ligar queixando se de que andas a dormir nas aulas N o est s a aprender nada Porque que n o desistes da escola e tentas arranjar um emprego na American Tack Company Eles est o sempre a contratar disse Denis Oui vou fazer isso repliquei enquanto sa a para o trabalho No restaurante disse ao meu patr o para procurar outra pessoa porque eu me iria demitir depois daquele turno 137 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Entretanto na escola chamaram me ao gabinete da psic loga Disseram me que o resultado do teste de QI demonstrava que eu tinha um n vel de intelig ncia baixo Ia ser colocado numa turma para deficientes mentais A psic loga sugeriu que eu fosse para mec nico ou trabalhasse como soldador em vez de estudar disciplinas acad micas Eu n o cedi e prometi que me ia esfor ar mais Um dia o professor de Matem tica que passou por acaso pela sala dos deficientes mentais reparou em mim e entrou O que que est s aqui a fazer perguntou psic loga p s me nesta turma respondi Os dois professores foram falar para o corredor Passado algum tempo o professor de Matem tica levou me ao gabinete da psic loga Porque que o p s na turma dos deficientes mentais perguntou De acordo com os resultados de Q I ond
27. Quando os adultos sa am durante longas horas noite trancavam as portas e davam nos a cada um um penny para comprarmos o nosso jantar Cada um de n s comprava cinco mangas a um vendedor de rua sentado debaixo de um candeeiro de rua Com amos as mangas no escuro para evitar ver minhocas na fruta Sempre que nos encontr vamos os dois sozinhos no quintal a face de Anita parecia menos mec nica e a express o sombria desaparecia dos seus olhos Apesar de n o saber nem ler nem escrever o seu pr prio nome era uma boa contadora de hist rias Uma vez contou me a hist ria de um casal O marido suspeitava que a mulher era um loup garou ou lobisomem Certas noites quando a lua estava cheia a mulher que era mesmo um loup garou removia a sua pele escondia a debaixo da cama e ia em busca de v timas para lhes sugar o sangue Regressava sempre antes de amanhecer Certa noite o marido que fingia estar a dormir decidiu pulverizar a pele com sal e pimenta assim que a sua mulher saiu de casa Quando regressou a sua pele ardia sempre que a tentava vestir novamente Assim que o sol nasceu o marido saltou para fora da cama e abriu todas as janelas Incapaz de tolerar a luz solar o loup garou gritava enquanto encolhia e morreu Cric disse Anita a sorrir como uma crian a doente 8 NT Jogo infantil de adivinhas equivalente ao qual a coisa qual ela 32 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroame
28. Quero viver aqui contigo respondi com o cora o a acelerar N o podes viver comigo O que que eu vou fazer contigo Entra no carro disse ele rapidamente Pus a minha caixa no assento de tr s e sentei me frente Tens fome perguntou Philippe fazendo marcha atr s Oui respondi Estivemos em sil ncio at Philippe estacionar em frente a um caf Vamos comer qualquer coisa disse ele 111 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia No interior Philippe sentou se num banco ao balc o e eu sentei me nervosamente perto dele olhando em frente para n o olhar para ele Duas sandu ches de frango dois sumos de graviola e um caf preto pediu Philippe O empregado afastou se O barulho do tr nsito n o conseguiu quebrar o sil ncio Levantei a cabe a e observei a lenta ventoinha no teto at nos porem a comida frente Olhei para Philippe pelo canto do olho espera que ele tocasse na comida dele antes de eu tocar na minha Com as m os a tremer dei uma pequena dentada e comecei a engolir em c mara lenta N o podes comer mais depressa Tenho pressa disse Philippe Sem olhar para ele dei dentadas maiores e engoli Depois deitei o sumo pela goela abaixo Philippe ainda comia Vamos disse ele sem acabar de comer Eu saltei da cadeira e apressei me para o carro Depois de conduzir durante alguns minutos disse Vou pedir a uma amiga minha par
29. bricas de armamento Cedo numa quinta feira de manh o telefone tocou Era o meu patr o da loja de pneus Quero ver te no meu escrit rio agora mesmo disse ele Calculei que ele quisesse que eu fizesse horas extraordin rias Apresentei me com a roupa de trabalho para come ar imediatamente N o te d s ao trabalho de picar o ponto N o vais trabalhar disse ele No escrit rio dele encontrava se espera um homem branco vestido com um fato azul que segurava uma mala de metal Onde estiveste tu ter a noite por volta das dez perguntou me o gerente O seu tom de voz p s me nervoso Estive em casa a ler na cama respondi Duas das nossas lojas foram assaltadas ontem noite Sabes alguma coisa sobre isso perguntou me N o Como disse estive em casa a ler na cama assegurei Se n o fizeste nada n o tens nada a temer Queremos que fa as um teste de pol grafo a pol tica da empresa disse me Eu n o roubei a sua loja e n o vou fazer o teste repliquei eu nervoso Est s despedido Faz te estrada rapaz gritou ele Fui esvaziar o meu cacifo e reparei no meu nome escrito numa carta colocada no painel de avisos Dizia Por favor reveja com os seus empregados as pol ticas sobre dep sitos em 216 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia anexo J foram assaltadas duas das nossas lojas e queremos que todos tenham em a
30. decidi escrever uma carta de amor Enderecei a a mim e escrevi o nome Josephine Benson como remetente Na chamada do dia seguinte o meu nome foi chamado Todos repararam que eu tinha uma carta Ao regressar caserna a minha depress o ia se atenuando enquanto lia a carta aos meus colegas Continuei a escrever quase todos os finais de tarde inventando uma m e e duas namoradas 149 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Durante o treino de combate corpo a corpo sempre que espetava uma baioneta no interior de um alvo de borracha a cara de Florence vinha me ideia No campo de tiro parecia que sempre que acertava numa silhueta via Florence a cair Por vezes era Lise outras Denis Depois de oito semanas de treino b sico foi me dada uma semana de licen a antes de me apresentar na Carolina do Sul para a FAI Forma o Avan ada de Infantaria Apanhei um autocarro para Nova Iorque para ir visitar Eddi Este n o estava no apartamento Apanhei outro autocarro para ir visitar a tia de Eddi uma senhora bondosa casada e com dois filhos Disse me que Eddi tinha ido no fim de semana para o Canad e convidou me a ficar at me apresentar no Fort Jackson na Carolina do Sul Na hora de dormir ela p s no ch o da sala um colch o coberto com len is brancos para mim Por volta das tr s da manh sonhei que estava a urinar contra uma rvore o mesmo sonho que tinha quando era um rapazinho restav
31. em pleno inverno N o precisas de lavar o carro Espera pelo ver o disse ele 124 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Oui disse eu sentindo me desconfort vel por estar dentro de casa porque no Haiti o meu lugar era sempre no exterior ou num canto da cozinha Vai vestir umas cal as e uma camisola de mangas compridas Deves estar gelado disse ele Fui at ao quarto e vesti o meu fato azul N o tinha mais roupas As crian as ficaram felizes por me ver Pegaram na minha m o e levaram me at ao quarto deles para me mostrarem os brinquedos Lise estava a fazer o pequeno almo o na cozinha Florence foi at ao quarto das crian as Quero que des as at cozinha e digas bonjour a Lise P e a mesa para o pequeno almo o e ajuda a no que ela precisar Lembra te esta casa dela disse Florence Fui at cozinha As crian as seguiram me Mam olha O Bobby est c disse Emilie em ingl s Que bom replicou Lise sem qualquer emo o Bonjour Madame Denis disse eu Bonjour disse Lise secamente O Bobby vai p r a mesa para o pequeno almo o Vamos ajud lo disse Emilie ao seu irm ozinho Marc Eu pus a mesa para cinco Emilie contou os pratos Um para a Mam outro para o Pap Oh falta um disse ela Eu como mais tarde disse eu sentindo me deslocado P e outro prato na mesa disse Lise Obede
32. inexist ncia deste jogo infantil haitiano na cultura portuguesa teve de se encontrar um jogo infantil portugu s equivalente quele que pudesse enquadrar se no ambiente proporcionado pelo autor Nos cap tulos VII O Natal estava a chegar e XI Uma noite j tarde h uma pequena refer ncia a um saco de p r ao ombro tipicamente haitiano denominado macoute Ao fazer a pesquisa necess ria sobre o vodu foi descoberta a associa o deste objeto ao culto afirmado que se trata de um saco de palha entran ada utilizado principalmente por camponeses No ritual o macoute utilizado para fazer as oferendas a um dos grandes loas Legba Colocou se ent o a quest o seguinte dever se ia explicar esta associa o na primeira ocorr ncia da palavra na qual o objeto tem apenas o sentido utilit rio ou na segunda ocorr ncia na qual o objeto poder adquirir uma conota o ligada ao ritual vodu Optou se pela segunda possibilidade por uma quest o pr tica para o leitor Este no caso de a explica o se dar no cap tulo VII provavelmente n o a recordaria quatro cap tulos depois Al m do mais n o se justifica criar uma NT com uma informa o qual o leitor n o atribuiria significado por n o se aplicar no primeiro caso Como referenciado por Christiane Nord e declarado na norma europeia EN 15038 2006 a um tradutor exige se que seja tamb m um investigador para que possa obter dados e processar a
33. mesada A partilha acontecia sempre longe de casa Durante a semana de Mardi Gras quando a fam lia ia ver os carros aleg ricos em frente ao Pal cio Nacional eu ficava com as empregadas porque os restavecs n o estavam autorizados a acompanhar a fam lia Eu deambulava pelas ruas e corria atr s de chaloskas homens com m scaras e fatos com cordas de caricas de garrafas de Coca Cola enrolados volta das pernas para o efeito sonoro Os seus chap us de tr s bicos faziam lembrar aquele usado pela est tua de Jean Jacques Dessalines no Park Champ de Mars Juntava me a outras crian as que gritavam em Crioulo Chaloska eu n o tenho medo de ti s um humano Outros homens mascarados e com fatos especiais chamados lamayottes andavam com caixas de cart o que continham desde cobras a bonecas brancas Eles cobravam a todos aqueles que curiosos estavam dispostos a pagar para ver o que estava l dentro Algumas mulheres disfar avam se carregando cabe a baldes de folhas para vender As folhas n o tinham nenhuma finalidade medicinal mas as pessoas que queriam ouvir linguagem sexualmente expl cita chamavam as vendedoras at os seus quintais Quanto mais os compradores pagavam mais ouviam Antes de regressar a casa vi algumas pequenas bandas musicais chamadas RaRas Enquanto homens tocavam tambores e tubos de bambu as mulheres cantavam Eu mantive me afastado porque algumas pessoas diziam que eles eram loups garou e que
34. o s descomunais ancas Ela nunca sa a da cadeira a n o ser que fosse estritamente necess rio e quando o fazia tinha sempre a ajuda de uma bengala Dava um passinho de cada vez e tinha sempre a perna esquerda envolta em gaze Uma vez ouvi Florence dizer amiga Claudette que a perna de Madame Duval nunca sararia porque um b ca ou um esp rito mau vivia naquela perna Madame Duval tinha um rapaz restavec que se chamava Jean Era t o magro como um esqueleto e tinha a cara cheia de cicatrizes Eu nunca tinha tido a oportunidade de falar com ele porque ele estava constantemente ao lado da sua dona N o podia falar a n o ser que falassem com ele assim como eu Um dia Paul era suposto vir almo ar a nossa casa mas n o veio Florence ficou aborrecida e deu me uma morada com a dire o de uma casa num outro bairro Vai at rua desta casa e v se o carro de Monsieur Paul est l estacionado Eu segui as instru es e encontrei a casa O carro de Paulo estava de facto estacionado na rua Eu regressei e dei as not cias a Florence O carro dele est l disse lhe eu 51 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Ela ficou enraivecida Mais tarde Paul apareceu e tentou abra ar uma Florence que n o reagia Sempre que ele tentava Florence afastava se Depois do jantar eles foram para o quarto Passado um bocado sa ram ambos sorrindo um para o outro Sempre que Paul
35. o de mosaico o que provocava dores no meu joelho direito que estava inchado e libertava um l quido malcheiroso Sempre que adormecia aos seus p s ela dava me um pontap na cara e gritava Vais massajar me os p s at eu adormecer nem que tenha de te dar pontap s at te 2 o po arrancar a cabe a seu extrait caca seu filho da m e Quando finalmente Florence adormeceu eu sa silenciosamente do quarto a pensar na caixa Kotex que tinha escondido Uma vez no exterior acocorei me e tirei do arbusto a caixa de tesouros S ent o reparei em v rios peda os de roupa que estavam no interior da caixa Desenrolei o primeiro e descobri uma grande mancha de sangue Confuso larguei aquilo e voltei ao quintal vizinho Observei disfar adamente a pele descoberta de todos os que ali estavam na esperan a de descobrir a origem do sangue Voltei para casa e deitei fora a caixa Sentei me sob a mangueira no quintal com o meu catecismo para tentar memorizar o m ximo que conseguisse para me preparar para a Primeira Comunh o Ao recitar passagens imaginei me vestido com longas cal as brancas uma camisa branca de mangas compridas um la o vermelho e sapatos pretos brilhantes a entrar na igreja juntamente com os meus colegas Eu seria o primeiro da fila segurando um brilhante ros rio preto Imediatamente antes de me dar a comunh o o padre diria O Corpo de Cristo 2 A pi x NT Ess ncia de caca em franc s A
36. o lingu stica realizada apenas com o conhecimento das duas l nguas e sem qualquer liga o s suas ra zes culturais A tradu o passou a ser encarada cientificamente pois adquiriu uma vis o te rica que p de ser testada e aplicada contribuindo de forma efectiva para a resolu o dos problemas que se colocaram Ficou claro que a tradu o envolve conjuntos de signos nicos pertencentes a duas l nguas distintas cujas formas e regras gramaticais s o exclusivas Ao tradutor cabe a sua interpreta o investiga o apreens o e posteriormente exposi o das ideias de acordo com a vis o e a inten o do autor do texto original Apesar de as teorias aqui apresentadas estarem sempre presentes no processo de tradu o este relat rio foi realizado posteriormente ao mesmo com a ajuda do di rio da tradu o onde foram registadas todas as quest es que se levantaram e as respetivas solu es Paralelamente foram investigadas todas as informa es relativas aos diversos temas do livro desde a origem do pa s a instabilidade pol tica a import ncia do vodu naquela comunidade incluindo os futuros projetos do autor Seguidamente o produto final foi analisado tr s vezes a primeira vez para corrigir falhas gramaticais e express es que merecessem mais aten o a segunda para nos certificarmos de que a pontua o do texto era adequada e a terceira decorreu aquando da elabora o do relat rio pois uma tradu o da per
37. o todos t o inteligentes que o professor nem precisa de um chicote Quando perceber que s o todos mais inteligentes que eu talvez traga um chicote s para mim pensei Rapazes e raparigas levantavam as m os e davam as respostas O professor parecia satisfeito acenando a cabe a em aprova o Tentei ler as palavras escritas no quadro verde mas n o consegui N o fazia ideia qual dos livros abrir nem qual era a mat ria discutida Parecia que o meu c rebro tinha sido removido Queria rebolar para debaixo da mesa e desaparecer Finalmente um som n o familiar assinalou o fim daquela aula A aula seguinte n o era intimidante Matem tica Desta vez senti que o meu c rebro estava a trabalhar e os meus ouvidos n o O professor e os alunos faziam sons que me eram completamente desconhecidos A dado momento o professor escreveu no quadro um problema matem tico do qual eu sabia a resposta Alguns alunos levantaram as m os mas eu mantive a minha na minha secret ria porque a minha boca n o conseguia reproduzir aqueles sons estranhos Depois de cada aula um dos rapazes encontrava se comigo porta e escoltava me silenciosamente aula seguinte De seguida veio a hora de almo o Pus me na fila para a comida como toda a gente Pensei numa das minhas escolas p blicas no Haiti Ecole du Canada onde os alunos faziam fila a segurar nos seus copos de lata para receber gratuitamente leite em p dilu do para o almo o Imitei um pe
38. pria A voz do homem mudou parecendo cada vez mais um urso a roncar numa caverna As palavras eram incompreens veis O meu cora o batia fortemente Fiquei petrificado Ent o lembrei me do catecismo que tinha memorizado quando me preparava para a minha Primeira Comunh o e comecei a recitar algumas p ginas incluindo o Pai Nosso Quando fiquei sem ora es tentei recordar passagens que tinha lido no livro de ora es de Florence quando ela ia casa vizinha Lembrei me de Je renonce au Satan et ses oeuvres Je m attache Jesus Christ pour toujours Eu renuncio a Santan s e as suas obras Eu uno me a Jesus Cristo para sempre e comecei a repetir vezes sem conta at a sess o terminar Algu m acendeu o candeeiro e o desconhecido foi embora Ap s uma breve conversa Louis apagou o candeeiro e tudo ficou calmo As sess es continuaram todas as noites seguintes durante quase duas semanas J n o queria continuar a viver com Louis mas tamb m n o queria voltar para casa nem de Chelaine nem da Avozinha Decidi confrontar Maude Tia Maude ontem noite ouvi muitos barulhos Se calhar sonhei Ouviste alguma coisa perguntei N o estavas a sonhar Bobby O barulho assustou te perguntou preocupada Sim O que era perguntei O homem que tem c vindo amigo de Louis Est a ajudar nos a descobrir porque que n o conseguimos ter filhos disse ela tristemente Ele disse vos porque que n o co
39. querido gastar dinheiro para me comprar roupas e sapatos As l grimas ca am lhe pelo rosto Quando o teu filho amea ou levar me esquadra da pol cia olhei para ti e tu nada disseste Se eu n o tivesse fugido a pol cia ter me ia matado Quase me mataste quando puseste o teu p no meu pesco o porque eu tinha perdido um d lar Sim eu perdi o d lar Tinha um furo no meu bolso Costumavas dar mais que isso ao teu amante Paul Onde est ele agora Florence chorava Pegou num guardanapo e secou os olhos Eu tamb m peguei num guardanapo e sequei os olhos mas as l grimas continuavam a correr Tive tanto medo quando me obrigaste a lavar os teus trapos ensanguentados N o fazia ideia de onde que o sangue sa a Pensei que estavas a morrer Quando nos mud mos para a casa dos Villards tratavas os filhos deles por queridinhos mas eu era um excremento extrait de caca um merdoso um paneleiro um engraxador de sapatos Costumavas dizer me que a minha verdadeira m e era uma cadela e eu acreditava em ti Para est s a magoar me interrompeu Florence a chorar 213 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Ainda n o acabei gritei lhe batendo na mesa com o meu punho enquanto as l grimas e gotas de suor me escorriam pelo queixo Ficaste de p e viste a tua amiga Yvette for ar me a p r de joelhos e a p r a minha cabe a na sanita suja Onde que ela est
40. secret ria da diretora Eu sentei me numa cadeira afastada da m e de Marcus Esta Mrs Booker m e de Marcus da tua turma do sexto ano Quer falar contigo sobre o filho disse me a diretora 226 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Marcus disse me que est a tornar lhe a vida miser vel e que fica sempre ao lado dele na aula e espreita por cima do ombro dele e que n o faz o mesmo com os meninos brancos da turma disse Mrs Booker Marcus precisa de aten o constante Para estar atento na aula precisa que eu fique ao lado dele expliquei lhe Marcus tamb m me contou que quando os alunos brancos se portam mal n o os repreende Parece me que favorece os alunos brancos em rela o aos alunos negros Eu ou o o e nem sequer parece um homem negro Voc parece negro mas n o negro disse Mrs Booker Olhei a e sorri nervosamente N o compreende as crian as negras pois n o Mr Cadet perguntou me a diretora Pelo contr rio eu compreendo os muito bem respondi N o me parece que os compreenda respondeu Mrs Booker Sempre que tentava falar sobre o comportamento de Marcus era interrompido e ouvia protestos sobre o meu tom de pele considerado insuficientemente escuro Depois da reuni o sa a pensar no meu pai branco que me rejeitava porque eu tinha nascido preto com cabelo carapinha Apesar de n o me sentir nem preto nem branco sou t o amer
41. sentei me sombrio no audit rio a pensar onde iria viver Durante a cerim nia de formatura sentei me sombrio no audit rio a pensar onde que iria viver p g 198 No relato da vida do autor s o feitas v rias refer ncias moeda haitiana o gourde e moeda americana o d lar Como o autor em dois casos teve o cuidado de converter o gourde para o d lar e manteve o d lar no TP pensando no p blico alvo americano optamos por apenas converter de gourde para euro nos dois referidos casos Esta decis o prende se com o facto de o valor das moedas ser vari vel e de o pr prio autor apenas pretender dar uma ideia vaga do valor do gourde inten o essa que a tradutora manteve em rela o ao p blico alvo portugu s Relativamente ao d lar visto que o seu valor de conhecimento mais geral optou se por n o fazer a convers o para euro O livro em an lise RESTAVEC from Haitian Slave Child to Middle Class American de Jean Robert Cadet tem como LP o ingl s No entanto ao longo de toda a obra utilizado vocabul rio de l ngua francesa e at mesmo crioulo Na maioria das passagens o autor mant m o voc bulo na l ngua original clarificando seguidamente o significado em ingl s entre par ntesis ou apresentando o termo estrangeiro com o significado entre v rgulas No decurso da tradu o levantou se uma pergunta l gica Se o livro est escrito em ingl s porque decidiu o autor deixar vocab
42. u parecia nu Fiquei debaixo da mangueira e reparei que as cadeiras de baloi o tinham sido postas no interior da casa Apoiei me contra a rvore a recitar o Pai Nosso como tinha aprendido na catequese durante a prepara o para a Primeira Comunh o Sempre que as luzes de um carro irrompiam pela escurid o espessa o meu cora o explodia Passado pouco tempo um carro chegou Fiquei gelado perante os far is de luz encandeante O carro parou mas as luzes continuaram ligadas o motor ainda a trabalhar Passado um bocado o motor ficou silencioso e os far is de luz desapareceram Eu fiquei desorientado e petrificado Denis e Florence sa ram do carro O som das chaves dele quebrou o sil ncio Bobby seu filho da m e tira a mala do carro disse Florence Sem dizer uma palavra apressei me at ao carro e retirei do assento de tr s uma grande mala com comida Segui os dois adultos at o interior e coloquei a mala na mesa da cozinha enquanto observava Denis e Florence pelo canto do olho Tens a teu jantar disse Florence a apontar para o prato de comida no fog o a lenha Quando me sentei no degrau para comer Florence saiu do quarto Quando acabares limpa os potes e p e nos nos quartos disse ela calmamente Oui disse eu a observar o meu prato com milho coberto de molho de feij o vermelho Deve ser uma armadilha Se calhar a pol cia j a vem para me vir buscar disse a mim mesmo Depois
43. vio Ela n o lhe contou disse a mim pr prio Olhei para Lise e ela mostrou me o mesmo sorriso sinistro Eu afastei me a pensar Estou livre Fui casa de banho para cal ar os sapatos Abri a minha caixa de cart o Faltava me um sapato Depois de o procurar freneticamente comecei a tremer Tiraste me um dos meus sapatos perguntei a Anita Non disse ela Sou um rapaz morto Ela vai me matar Anita ajudou me a procurar o sapato por toda a casa de banho Florence gritou por mim outra vez e eu calcei rapidamente um dos sapatos e corri l para fora Pus me frente de Florence a esconder o p descal o atr s do p cal ado Lise baixou a Paris Match Onde est o teu outro sapato perguntou ela Antes que lhe pudesse responder Florence olhou para os meus p s e perguntou com raiva nos olhos Onde est o outro sapato Eu n o consigo encontr lo respondi Ela mandou me ir procurar outra vez o sapato e eu procurei em todo o lado em v o NT Primeira revista de atualidades francesa 35 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Bobby gritou Florence Eu apressei me a sair outra vez e pus me em frente a Florence N o consigo encontrar o outro sapato disse lhe Os olhos de Lise permaneceram fixos na revista Florence agarrou me firmemente pelo gancho dos cal es Descal ou a sua sand lia e come ou a ba
44. Denis far tudo aquilo que ela quiser 123 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Oui acenei eu Anda Vou mostrar te as crian as disse Florence pegou no meu copo de lata e atirou o para o balde do lixo ao lado da banca Eu segui a pela escada acima em dire o a um pequeno quarto e observei as crian as adormecidas Ela voltou para baixo H um novo beb no quarto de Lise O nome dele Denis Jr disse Oui disse eu Levou me para um pequeno quarto que tinha sido um pequeno alpendre frontal A pequena cama preenchia todo o comprimento Vais dormir aqui Ainda molhas a cama perguntou ela Oui repliquei com o cora o a acelerar Pela primeira vez na minha vida eu tinha uma cama Ela foi at cozinha e voltou com dois sacos de pl stico grandes Toma espalha os por cima do colch o disse me Eu segui as instru es dela Bonne nuit disse ela Bonne nuit respondi lhe Era a primeira vez que Florence me desejava uma boa noite Na manh seguinte a minha cama estava seca Vesti um par de cal es velhos enchi um pequeno balde com gua e fui l para fora lavar o carro As janelas e os p ra brisas estavam brancos com a geada Mal conseguia segurar na esponja molhada Estava a tremer de frio A gua no balde ficou gelada Ouvi um barulho vindo da janela Era Denis acenando me para voltar para dentro Estamos em fevereiro Bobby
45. Ela anda naquele vestido como se fosse novo Aposto contigo que um Kennedy verdadeiro disse ela enquanto eu esperava pacientemente pela minha resposta Foi l tranger para o estrangeiro disse ela A l tranger normalmente significava ir para Nova Iorque a Paris ou a Montreal Suspirei de al vio porque Denis era o nico da casa que queria levar me at esquadra da pol cia para me espancarem Espero que fique l para sempre sussurrei para mim pr prio A meio de uma tarde enquanto limpava o quintal aprendi que Kennedy era na realidade uma pessoa em vez de mais um nome de artigos de roupa em segunda m o que vinham dos Estados Unidos Um vizinho saiu e disse Acabaram de anunciar na r dio que o Presidente Kennedy foi assassinado Depois todos continuaram o que estavam a fazer como se nada se tivesse passado Denis encontrou um emprego em Nova Iorque e estava a fazer preparativos para a fam lia se mudar O seu segundo filho um rapazinho estava prestes a nascer Os homens tinham come ado a vir outra vez para ver Florence Lise n o estava nada satisfeita com a situa o e notava se uma tens o crescente entre ambas Evitavam se o mais poss vel Lise levava as crian as para passar tempo com a m e dela at que acabou por sair de casa de Florence Voltei a frequentar a escola mas fiquei no quinto ano devido a excesso de faltas Florence tinha dois amantes um estudante de medicina cha
46. Mal ele foi casa de banho eu procurei o no bolso para comparar os valores Era quatro vezes mais do que eu recebia Fiquei t o perplexo que perdi a concentra o e n o consegui enviar um telex a um cliente em Paris Mais tarde nesse dia confrontei o contabilista da empresa com o meu cheque e disse lhe que tinha trabalhado cinquenta horas por semana e que merecia que me pagassem o tempo extra Es um funcion rio assalariado Ser te ia paga a mesma quantidade independentemente das horas que trabalhasses disse me Gostaria de ser pago hora repliquei Preciso da autoriza o de Mr White antes de fazer isso disse Quando voltei ao trabalho no dia seguinte o contabilista deu me um caderno Mr White quer que tomes nota das tuas horas extra No final de cada semana d a Jos a folha para ele assinar antes de a transformares numa folha de pagamento disse ele 202 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Era uma empresa de bons velhos amigos O nico funcion rio negro para al m de mim era o cont nuo Quando havia pouco trabalho os bons velhos amigos juntavam se para contarem anedotas de niggers As anedotas mais recentes eram por vezes contadas em primeiro lugar ao diretor geral que satisfeito exibia com um grande sorriso na cara A caminho da casa de banho dos homens ouvi um vendedor contar uma piada sobre um acidente de carro Este bom velho amigo ba
47. Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Quero voltar para casa Tenho de estudar para um exame disse eu Jeff notando o meu desconforto levou me de volta ao meu apartamento N o troc mos uma palavra no carro Se mudares de ideias liga me disse Jeff enquanto eu sa a do carro Despedi me do meu trabalho como empregado de mesa para ter mais tempo para estudar para os exames finais 197 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia XVIII Na minha ltima sess o com a psiquiatra expressei o meu medo de abandonar a seguran a de um campus universit rio para enfrentar o mercado de trabalho Eu tenho f em ti Vais sair te muito bem Mas penso que devias ir a Nova Iorque e confrontar Florence Mostrar lhe o quanto ela te magoou disse me ela Durante os tr s anos que frequentei o ex rcito sempre que segurava uma arma via Florence do outro lado Sempre que tocava numa baioneta via me a esfaque la E sempre que conduzi um tanque contra uma rvore via a deitada no ch o No entanto todos os anos depois de entrar no ex rcito comprei lhe postais de Natal e do Dia da M e Escolhi sempre os que mostravam os sentimentos mais queridos assinei os e pus lhes selos mas nunca tive coragem de os deixar num marco de correio disse eu Porque que os compravas perguntou me a psiquiatra Porque aquilo que suposto um filho fazer pela sua m e respo
48. Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Fiquei t o entusiasmado com a promo o que contei a hist ria ao meu professor de Ingl s na manh seguinte que me disse para a escrever como um trabalho Antes de sair para a escola todas as manh s eu via o meu colega de casa Eddi Numa segunda de manh fez me perguntas sobre um encontro que eu tinha tido na noite anterior O que que fizeram perguntou Eddi Fomos a um restaurante e depois ao cinema respondi O que que fizeram depois disso perguntou Eddi Levei a a casa e aqui estou eu repliquei Gastaste dinheiro com ela Sim paguei o jantar e o cinema Fizeram perguntou Eddi N o s nos beij mos Tomou te por um tolo e nunca mais te vai respeitar Quando uma mulher te deixa gastar dinheiro com ela quer dizer que ela quer fazer sexo contigo Muitas vezes ela n o vai oferecer nada porque n o quer parecer f cil Se tentares ser um tipo simp tico e lhe perguntares ela vai dizer n o Mas o n o delas quer dizer sim especialmente depois de gastares dinheiro com elas explicou Eddi Eu fiquei envergonhado e decidi n o sair com ela outra vez Numa tentativa de chamar a aten o espetei o meu carro contra um poste telef nico depois do trabalho numa noite de neve N o fiquei ferido com gravidade O param dico segurou o meu pesco o antes de me levar para o hospital Disse pol cia para ligar a D
49. Simone Duvalier n o fica muito longe observei Non n o podes ir disse ela Obrigava me a limpar todos os dias a sala de estar Estudei por mim mesmo com os livros do filho lendo e praticando as minhas aptid es matem ticas Um pequeno carro encostou estrada numa sexta feira ao final da tarde Antes do condutor sair Madame Laroche disse me Vem c r pido Eu segui a at sala de estar Este jovem vem visitar Mademoiselle Marie Claire Quero que fiques com eles at ele se ir embora disse ela O jovem era o namorado da filha Por vezes referiam se a ele com um grimeau por causa da pele clara Se o cabelo dele fosse liso e os tra os menos marcados seria considerado um mulato A fam lia dele estava muito bem financeiramente Madame Laroche tornou me o protetor da virgindade de Mademoiselle Marie Claire como se o futuro da fam lia assim como a sua reputa o dependessem disso Ela mandou me segui los durante os passeios de tarde assegurando me de que n o entravam em nenhuma casa Marie Claire tinha de relatar todos os minutos em que se ausentava de casa Num final de tarde o jovem cujo nome era J r me ofereceu me cinquenta c ntimos para me ausentar pelas traseiras permitindo lhe assim alguns minutos de privacidade com Marie Claire Eu aceitei e peguei no dinheiro Passado algum tempo pensei que seria uma 26 NT Filho de uma pessoa negra e de outra branca mulato 114 ANEXO Rest
50. a um movimento racista chamado KKK esta tradutora criou tamb m NT mais sucintas como a seguir se demonstra VPP VPB Um dos seriados de maior sucesso da hist ria da TV estreou na rede americana CBS em 1951 e trazia epis dios protagonizados pelo casal Ricky e Lucy Ricardo A s rie era estrelada por Lucile NT S rie norte americana de com dia Ball 1911 1989 e Desi Arnaz 1917 e familiar emitida entre 1951 e 1957 1986 que tamb m eram casados na vida p g 18 real p g 20 Ku Klux Klan KKK associa o de car ter segregacionista fundada em Nashiville estado do Tennessee no ano 46 CAP TULO III A TRADU O BREVE COMPARA O ENTRE TRADU ES de 1867 por aristocratas e latifundi rios reacion rios contr rios causa abolicionista Disseminou se com mais intensidade nos estados do sul dos EUA NT referente a Ku Klux Klan Seu ativismo racista constitu a no movimento racista e antissemita fundado deliberado intuito de perseguir causar 2 em 1866 nos Estados Unidos da Am rica dnos Pios FONES IE ili jol nci ra atingir E al que utiliza viol ncia extrema para ating patrimoniais e mesmo o exterm nio de jeti iscrimina o racial o seu objetivo disc a ao racat parcelas negras da sociedade americana supremacia dos brancos p g 220 Durante os anos 60 atrav s de atos de terrorismo e vanda
51. a aglutina o de palavras na denomina o de profiss es e o jogo de palavras da l ngua inglesa n o tem qualquer correspond ncia na l ngua portuguesa Assim a primeira decis o tomada foi omitir a palavra departamento para poder inserir a express o cadeira de Hist ria que permite que o jogo de palavras permane a ainda que ligeiramente alterado A segunda decis o tomada foi no sentido de refor ar a ideia de confus o provocada no narrador pela express o chairman Isso foi conseguido com a introdu o de uma ora o suplementar dando o seguinte resultado Apresentou se turma como Dr Mark T Orr respons vel pela cadeira de Hist ria o que me deixou confuso Se era respons vel por uma cadeira deveria ser marceneiro tal como o homem que entrega cartas o carteiro e o que pesca o pescador e por a fora Fiquei curioso porque ele n o parecia nada um marceneiro A ltima parte a ser traduzida acabou por ser o t tulo Este em ingl s um pouco longo mas transmite na sua totalidade a ideia de um percurso de vida de acordo com o conte do da obra Pretendia se que o mesmo acontecesse em l ngua portuguesa sem que fosse t o extenso Op es como Restavec O Menino Escravo Haitiano ou Restavec CAP TULO III A TRADU O AN LISE DA TRADU O Escravatura Infantil foram consideradas inicialmente Contudo eram t tulos amb guos que n o provocariam qualquer tip
52. a que o autor se refere n o sendo poss vel haver uma tradu o absolutamente fiel sem o empr stimo destas palavras Esta mesma raz o motivou nos inser o de NT explicativas na tradu o para esclarecer o leitor dando uma ligeira informa o sobre as palavras que sofreram um empr stimo Investigation Department Solu o TP TC EEOC Equal CIOE Comiss o Employment de Igualdade de Opportunity Oportunidades de Decalque Commission Emprego CID Criminal DIC Departamento de Investiga o Criminal Motivo Como anteriormente n o existem na cultura portuguesa entidades com as mesmas finalidades apresentadas no TP No entanto atrav s de um decalque poss vel fazer este empr stimo e traduzi lo literalmente pois o p blico alvo compreender o CAP TULO III A TRADU O AN LISE DA TRADU O significado final isto j poss vel deduzir a import ncia destas entidades no texto apresentado Pode tamb m ser aplicado neste caso um procedimento onde os dois significantes permutam entre si apesar de continuarem a fazer sentido em ambas as l nguas apresentado tamb m por Vinay e Darbelnet 1972 105 denominado chass crois Equal Employment Opportunity Commission Comiss o de Igualdade de Oportunidades de Emprego Criminal Investigation Department Departamento de Investiga o Criminal
53. antes permaneceu ao meu lado como padrinho Sentia me constrangido parecia que tinha acabado de sair de um buraco Ap s o casamento senti me muito desconfort vel quer como marido quer como padrasto Cindy tinha uma filha de quatro anos chamada Katrina Tinha a sensa o de que estava a participar numa pe a de teatro e que n o sabia nem as minhas frases nem a minha posi o em qualquer das cenas Por vezes durante as refei es fechava me num arm rio e recusava me a sair Outras vezes comia sozinho na cozinha onde me sentia mais vontade como se voltasse a ser uma crian a restavec 223 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Sabotava os anivers rios que Cindy me preparava cortando o bolo e saindo de casa antes da ocasi o Os pesadelos voltaram Quase todas as noites me debatia e gritava contra um monstro gigante o que fazia com que desse pontap s e murros a Cindy Acordava com o som da voz dela chamando me de onde estava sentada mesmo na ponta da cama Jean acorda querido Cindy insistiu que eu voltasse a ter aconselhamento ou outro tipo de acompanhamento Resisti a esta ideia porque n o queria ter de contar o horror da minha inf ncia a um novo psiquiatra No entanto a dor estampada na cara da minha esposa convenceu me Durante as sess es Cindy chorava mais que eu abanando a cabe a em descren a ouvindo atentamente o terror que constitui agora parte da v
54. ao palco recebi o meu diploma e voltei ao trabalho Enquanto os meus colegas haitianos tamb m conclu ram os estudos e entraram em faculdades para se tornarem m dicos engenheiros advogados e homens e mulheres de neg cios alguns dos meus colegas negros americanos desistiram do secund rio e seguiram o rumo dos desistentes Quanto a mim n o tinha planos para o futuro No meu entender trabalhar numa bomba de gasolina era muito melhor do que ser um engraxador de sapatos onde quer que fosse No dia seguinte enquanto caminhava pela rua principal reparei num grande cartaz numa janela de um escrit rio com um soldado a conduzir um tanque Havia um letreiro onde se lia Esta o de Recrutamento do Ex rcito dos Estados Unidos Entrei O que posso fazer por ti perguntou um sargento Eu gostava de conduzir aquele tanque respondi apontando para o cartaz Posso tratar disso disse o sargento apertando me a m o Chamo me Sargento Johnson Eu chamo me Bobby Cadet Tens algum diploma do secund rio Sim recebi o ontem respondi com orgulho 147 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia O sargento Johnson mostrou me um pequeno filme com soldados a treinar o que me impressionou tremendamente Est s pronto para come ar perguntou o sargento Sim estou pronto respondi Fez me uma s rie de perguntas J cometeste algum crime s viciado em drogas s homosse
55. apenas o som dos talheres nos pratos O meu est mago rosnou Se calhar pensam que eu sa do apartamento disse a mim mesmo 206 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Tossi tr s ou quatro vezes e esperei um convite Por fim sa do meu quarto passei a sala de jantar e fui para a cozinha Ningu m olhou para mim Tirei uma ma do frigor fico voltei e pus me perto da mesa Que peru com aspeto t o delicioso disse depois de dar uma dentada na ma Pois respondeu o pai com a boca cheia Voltei para o meu quarto e vi televis o A fam lia de Harry saiu pouco depois do jantar Olha Jean tenho muitas sobras Tens fome perguntou Harry Sim Harry tenho fome mas preferia passar fome a comer as sobras dos teus pais disse eu de sa da para o Morrison s Cafeteria Enquanto comia perguntei me se me teria comportado normalmente mesa com a fam lia de Harry Na semana seguinte apanhei um voo para o Haiti Quis impressionar o meu pai com a licenciatura e com o emprego de assistente do diretor de exporta es Viajei novamente com algumas prendas desejando comprar a minha entrada na vida dele Vesti o meu fato de neg cios Dessa vez n o fiquei nervoso n o senti que tinha de passar na inspe o Mas a minha miss o era a mesma que a anterior ser aceite e reconhecido no nome pelo meu pai Philippe Ap s passar a alf ndega apanhei um t xi
56. ar fresco O carro parou numa rua sem sa da e o condutor desligou as luzes Estava nervoso O que que estamos a fazer nesta rua escura perguntei lhe Estamos espera de uma pessoa respondeu o g meo que conduzia Pouco depois algu m apareceu no escuro aproximou se do carro entregou ao g meo condutor um saco de papel e desapareceu Tu drogas te n o drogas perguntou o g meo do lugar do passageiro s vezes respondi sentindo me desiludido Quando o carro avan ou pensei Se somos apanhados e presos a pol cia espanca me at morrer e deixa ir os meus irm os Eu estiquei me e bocejei alto no banco de tr s Estou muito cansado e sonolento Tive um longo voo N o quero ir festa hoje noite disse Ficou tudo silencioso Deixaram me ficar em casa de Philippe e despediram se 209 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Estraguei tudo disse a mim mesmo Entrei e encontrei Philippe na sala de estar a ler uma Paris Match Est s de volta t o cedo perguntou Tenho uma coisa para lhe contar disse lhe Philippe baixou a revista e olhou para mim O que perguntou me Os rapazes consomem drogas ilegais A caminho da festa eles pararam num s tio qualquer e fizeram uma compra disse Philippe ficou furioso e baixou a cabe a Eu n o consumo acrescentei esperando que ele gostasse mais de mim do que dos g meos
57. at Rua Bernard 18 Abriu a porta a mesma criada que me reconheceu N o est ningu m em casa disse ela Fui at casa de Madame Laroche Vivia l outra fam lia O vizinho da casa ao lado ficou surpreendido por me ver e disse me que a Madame Laroche tinha vendido a casa para mandar a Mademoiselle Marie Claire para a faculdade de medicina no M xico J r me tinha ido para a faculdade de direito em Paris e Monsieur Laroche tinha abandonado a mulher trocando a por uma mulher mais nova J r me apoiava a m e Voltei a casa de Philippe e cumprimentei o com um aperto de m o e Bonjour 207 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Ainda est s no ex rcito perguntou me N o Sa do ex rcito h cinco anos Licenciei me na University of South Florida e estou a trabalhar como assistente do Vice Presidente de uma empresa de exporta es disse Philippe acenou sim com a cabe a Parecia pouco vontade comigo Estou aqui porque gostaria de conhec lo Quero trabalhar consigo e viajar consigo disse eu N o tenho tempo Estou sempre ocupado e n o preciso de ajuda disse Philippe Senti me envergonhado e colado ao ch o Por breves momentos experienciei a sensa o de me afundar parecida com a queda livre num pesadelo Ouvi um carro Dois jovens mulatos que rondavam os vinte anos entraram na sala Eram os filhos g meos de Philippe Beijaram no em ambas as f
58. autorizados a v la dentro de casa Raramente nos v amos durante o dia pois Ren estava sempre ocupado a tomar conta das crian as e eu tinha de estar constantemente ao alcance da voz de Florence 5 NT S rie norte americana de com dia e familiar emitida entre 1951 e 1957 18 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Numa linda noite de luar o ar estava frio os grilos discutiam para tr s e para a frente e os mosquitos quase n o se sentiam As aventuras de Tarzan mal tinham come ado quando Ren chegou nervosamente com um cesto O que trazes a perguntei Ren tirou uma tigela com grillot porco frito e bananas duas garrafas de Cola Couronne e bolos frescos Sent mo nos no bloco de cimento e comemos em sil ncio da mesma tigela com as m os Eu queria perguntar lhe onde tinha arranjado o dinheiro para comprar comida mas na verdade n o queria saber a resposta No final do espect culo Ren afastou se sem dizer adeus Observei o a desaparecer na escurid o enquanto o meu cora o batia mais depressa do que o normal A meio da manh a not cia de que Ren tinha roubado dois d lares da caixa de dinheiro do Monsieur Beauchamp espalhou se rapidamente entre as criadas e os restavecs Ren tinha sido severamente espancado com um rigoise um chicote feito de couro Cada golpe tinha levantado a pele e formado uma bolha Monsieur Beauchamp queria saber se Ren tinha pa
59. branco me tratou por nigger e a palavra teve o mesmo efeito em mim como a palavra restavec quando eu era uma crian a Parecia que tinha levado um forte murro que me tirou o ar dos pulm es Na Citrus International esperei pela poca de maior az fama para pedir um aumento As minhas responsabilidades aumentaram e eu preciso de roupas novas disse eu ao meu patr o Mr White olhou para mim durante um minuto ou dois e depois respirou fundo Deixa me dizer te uma coisa jovenzinho Esta empresa tem oitenta anos e nunca teve um negro na tua posi o N o estiques a corda disse ele Eu sa do escrit rio dele sentindo me dormente Voltei ao meu escrit rio e esperei por uma Mrs Roy que tinha uma reuni o com o c nsul franc s Andrea a secret ria do departamento entrou e anunciou a chegada de Mrs Roy 204 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Por favor mande a entrar disse eu Mrs Roy entrou e eu levantei me para a cumprimentar Estou aqui para ver o c nsul franc s disse ela Eu sou o assistente do c nsul franc s Em que que a posso ajudar perguntei lhe N o pode ajudar me porque o meu documento est em franc s Apenas o c nsul franc s me pode ajudar Voc um homem de cor n o sabe franc s nenhum atirou me cara Ma am o c nsul franc s n o fala franc s Eu sou o assistente dele Eu trato de todos os assuntos dele diss
60. cabe a Olhei para os seus olhos e recuei Anita ajudava na cozinha e a p r a mesa para o jantar Depois dos adultos jantarem a cozinheira levava a farinha de milho especialmente preparada para restavecs Era cozinhada em gua salgada e uma colher de ch de banha Ela deu nos a mim e a Anita um prato cheio de sobras de molho da mesa Sentei me no pequeno degrau num canto da cozinha enquanto Anita se agachava noutro Comi com uma colher enquanto ela comia com os dedos e bebemos gua dos nossos copos respetivos Enquanto troc vamos olhares mal volos tal como os pugilistas em combate Denis estava de p na entrada a comer uma fatia que sobrara do bolo de casamento Ao olhar nos come ou a atirar nos peda os de cobertura dura para os nossos pratos Por vezes falhava mas quando acertava no prato sorria com prazer Eu e Anita comemos a cobertura temendo o que nos aconteceria caso n o com ssemos Depois de jantar executei as minhas tarefas normais lavei o carro e engraxei os sapatos de todos Anita lavou os pratos e continuou a tratar da roupa de Lise Eu tinha mais medo de Denis do que Florence Quando Denis estava por perto o meu cora o parecia bater muito mais depressa Nas tardes de domingo Lise preparava sobremesas especiais para Denis Quando fazia gelado era sempre meu dever rodar a manivela da m quina dos gelados sentado num 30 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M d
61. cinto como uma espada de p ao lado do port o aberto Fez me lembrar um capataz que eu tinha visto numa imagem sobre escravatura em Saint Domingue Todos os alunos o saudavam com Bonjour Ma tre Jean Charles ao que ele respondia com um simples Bonjour As oito menos cinco ele fez soar uma sineta enquanto os alunos se apressavam a entrar nas tr s cabanas de aulas Aguardei no exterior at Ma tre Jean Charles me levar a uma cabana de aula e dizer ao professor um homem alto com a pele cor de carv o Este Jean Robert Cadet Ele pertence ao oitavo ano Na cabana de aulas havia duas filas de secret rias e dois alunos em cada uma O oitavo ano ficava na fila direita do professor Mandaram me para a sexta secret ria atr s passando a ser o d cimo segundo aluno no oitavo ano A outra fila esquerda do professor era para os doze alunos do s timo ano Ao olhar pela janela conseguia ver a cabana de aulas pr xima da minha onde estavam o nono e d cimo anos Depois dessa estava a cabana dos d cimo primeiro e d cimo segundo anos Ma tre Jean Charles ensinava estes ltimos Havia duas raparigas na escola e eram as duas da turma do Ma tre Jean Charles preparando se para o exame nacional 91 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Cada professor tinha um chicote de couro para utilizar nos alunos que chegavam atrasados ou davam erros no quadro Um aluno mais velho entrou
62. constru o textual estruturado por um pref cio 19 cap tulos e um posf cio nos quais a narrativa se apresenta linearmente e Elementos n o verbais n o aplic vel CAP TULO III A TRADU O AN LISE DA TRADU O e L xico e sintaxe vocabul rio corrente com express es quer em crioulo quer em franc s frases bastante simples e com frequente ocorr ncia de di logos e Elementos suprassegmentais entoa o por vezes intimidat ria insinuante e ofensiva Tal como Tytler definiu todo o TC respeitou o estilo o registo e a inten o do autor Este optou por um registo coloquial registo utilizado no dia a dia espont neo o que pode estar relacionado com o facto de relatar a sua experi ncia de vida num tom familiar ntimo e confessional sem preocupa es de ordem estil stica Esse registo coloquial vis vel ao longo da obra nomeadamente em situa es de di logo onde o autor utiliza constantemente o verbo dizer para introduzir o discurso tal como faria numa conversa particular relatando uma situa o da sua vida Da mesma forma para manter coer ncia no registo durante toda a tradu o a express o que foi til quer em frases interrogativas diretas como frequente quer em frases interrogativas indiretas tal como muitas vezes usada num registo familiar No quadro seguinte podemos comparar os dois textos de chegada formal e coloquial Este ltimo registo com a utiliza
63. de comer uma por o de comida lavei os potes Bati porta de Denis Entra disse ele calmamente Sentia me desorientado pelo medo Girei a ma aneta devagar e entrei Denis estava na cama Os nossos olhos encontraram se N o me disse nada mas a sua cara estava cheia de f ria Eu coloquei o pote ao lado da cama dele sa e fechei a porta atr s de mim Depois bati porta de Florence 41 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Entra disse ela Entrei Tamb m estava na cama mas parecia relaxada Eu coloquei o pote ao lado da cama sa e fechei a porta atr s de mim Se calhar est o espera que eu adorme a para me baterem Olhei para o rel gio na sala de estar Eram dez e meia Arranjei os meus trapos de dormir no s tio do costume e deitei me Resisti ao sono tanto quanto pude a pensar que ia ser chicoteado com uma extens o el trica Acordei cedo na manh seguinte com os trapos molhados por baixo das minhas costas A cozinheira veio trabalhar Menino para onde foste perguntou me ela Eu olhei a dando lhe a entender que me deixasse sozinho e n o falasse comigo Antes de a semana terminar Lise voltou do hospital com uma menina pequenina Ouvi dizer que o seu nome era Emilie Ao longo do dia v rias pessoas vieram visit las trazendo lhes presentes Eu estava curioso em rela o beb No entanto a tarde j ia a meio e eu ainda estava
64. de metal da corda Prendam os ganchos ordenou o instrutor de saltos As tropas prenderam o mosquet o s cordas do paraquedas fazendo lembrar uma corda de roupa presa de uma ponta outra do avi o O instrutor de saltos abriu a porta deslizando a Uma poderosa rajada de vento frio abanou o avi o tornando dif cil a tarefa de ouvir as ordens do instrutor Acendeu se uma luz vermelha perto da porta Todos verificaram os paraquedas uns dos outros assegurando se de que todos estavam bem presos Aguarda porta gritou o instrutor de saltos Eu aproximei me da porta aberta e olhei em frente para as nuvens lentas mesmo minha frente Pus as palmas das m os na parte de fora do avi o os meus p s na soleira da porta A luz vermelha mudou para verde O meu est mago rugiu e comecei a ter suores frios Vai gritou o instrutor Congelei Olhei por cima do ombro e vi a bota brilhante do instrutor de saltos a entrar em contacto com o meu traseiro De repente as minhas m os deixaram de tocar na superf cie do avi o Estava a cair de pernas para o ar Ao tentar contar mil e um mile dois o vento entrou me pela boca dentro e for ou as palavras a voltarem para a minha garganta O paraquedas abriu puxando me violentamente para cima e fazendo me vomitar a dois mil p s de altura Passado um bocado aterrei com for a no ch o enquanto uma forte brisa puxou o paraquedas arrastando me alguns metros ao longo da erva alta e cas
65. de rua era amigo de crian as muito pobres e s vezes sentava se na companhia das empregadas quando os seus pais n o estavam em casa Uma manh eu fui devolver os sapatos de Olivier ao seu quarto depois de os ter engraxado Contei lhe uma anedota picante que tinha ouvido de um vendedor de folhas Ele rebentou a rir Olivier porque que te est s a rir assim gritou a sua m e da sala oposta O Bobby est a fazer me c cegas gritou ele Anne Marie chamou me at ao trio perto da casa de banho 66 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia P e te de joelhos disse ela Eu obedeci O meu cora o estava acelerado Depois foi buscar o cinto de couro do marido ao arm rio e come ou a bater me dizendo repetidamente Nunca mais deves fazer c cegas a Monsieur Olivier Eu implorei por miseric rdia a dizer que o Monsieur Olivier tinha mentido o que s a p s mais furiosa Olivier veio em meu socorro N o Maman o Bobby n o me estava a fazer c cegas Eu disse isso porque ele me contou uma piada Anne Marie n o acreditou nele e continuou a bater me Depois do meu castigo Florence saiu do quarto dela e disse me enojada Chien sang sale seu c o de sangue sujo Na primavera desse ano dizia se que Anne Marie estava gr vida h j quase dez meses Enquanto o seu m dico a aconselhava a ter paci ncia e dizia que ela entraria em trabalho de part
66. deixavam os cad veres vista da popula o haitiana para servir de exemplo 9 CAP TULO II CONTEXT UALIZA O HIST RICOCULTURAL APRESENTA O HISTORICA DO HAITI mesmo tipo de regime e em 1988 foi implantado o governo militar que se mant m at aos dias de hoje A 12 de Janeiro de 2010 o Haiti foi sacudido por um violento terramoto de magnitude 7 0 na escala de Richter cujo epicentro se localizou apenas a 25km da capital do pa s o que causou uma grande crise humanit ria Se por um lado este terr vel desastre natural provocou muita destrui o e morte por outro lado proporcionou tamb m uma abertura ao mundo que atrav s de in meras ONG s e meios de comunica o internacionais p de constatar os graves problemas pol ticos sociais e humanos daquela sociedade Lamentavelmente muitas crian as ficaram rf s o que fez aumentar drasticamente o n mero de restavecs 10 CAP TULO II CONTEXT UALIZA O HIST RICOCULTURAL APRESENTA O RELIGIOSA DO HAITI Apresenta o religiosa do Haiti Outro factor muito marcante da sociedade haitiana a religi o predominantemente praticado o Catolicismo Romano embora os habitantes pratiquem tamb m o culto do vodu mistura de cristianismo com cren as tradicionais africanas No Haiti o vodu trazido de frica pelos escravos que de l partiram na poca dos Descobrimentos hoje em dia considerado uma religi o pela maioria da popula o do pa s
67. disse Queres dizer que est s com caganeira perguntou o sargento Sim meu Sargento respondi Quando cheguei cl nica esta estava cheia de jovens soldados numa longa fila espera de serem atendidos Se est s aqui para o tratamento de gonorreia segue a fila amarela disse a enfermeira Eu confundi gonorreia por diarreia e segui a linha amarela Quando chegou por fim a minha vez entrei numa pequena sala onde me esperava uma enfermeira Quando foi o teu ltimo contacto sexual perguntou me O qu perguntei surpreendido a pensar que os problemas de est mago n o deveriam ter nada a ver com sexo Quando que foi a ltima vez que tiveste rela es sexuais repetiu 163 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Como tinha muita vergonha de dizer que tinha sido h mais de um ano disse lhe Na semana passada Est a pingar perguntou me Sim respondi pensando que se referia a movimentos do l quido nos intestinos Baixa as cal as ordenou a enfermeira ao mesmo tempo que ia buscar uma cotonete N o est a pingar agora N o h nada para ver repliquei perguntando me porque quereria ela uma amostra Quando foi a ltima vez que pingou perguntou a enfermeira Ontem noite e hoje de manh cedo respondi nervoso Naquele momento a enfermeira j estava a ficar irritada e impaciente Perguntou me
68. do dia segui as suas instru es e coloquei o saco na cama dela A partir da Florence entregou me todos os meses o pequeno saco branco de lona com detergente para roupa ordenando me que lavasse o seu conte do Vivia todos os dias em grande ansiedade perguntando me dentro de quanto tempo iria a minha nica guardi morrer de hemorragia Como eu tinha de lavar os trapos j tarde na ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia casa de banho presumi que Florence n o queria que ningu m soubesse da hemorragia Pensei que era um segredo que ela queria que eu guardasse Um dia enquanto entrava num quintal vizinho reparei numa pequena caixa de cart o azul claro com a palavra Kotex no cesto do lixo Eu dirigi me at caixa e parei Na minha cabe a eu estava prestes a roubar algo Eu queria a caixa para fazer um carro de brincar com tampas de garrafas de Coca Cola a fazerem de rodas e bot es a fazerem de far is Quando ningu m estava a olhar tirei rapidamente a caixa escondi a debaixo da camisa e fugi Escondi a atr s de um arbusto do lado da casa de Florence at quando tivesse algum tempo livre para fazer o brinquedo Depois do almo o Florence deitou se na sua cama para fazer a sesta e chamou me para a massagem aos p s Eu tinha ouvido uma vez que esta era uma atividade que as escravas faziam s suas madames Eu detestava esta rotina porque tinha de me ajoelhar ao fundo da cama no ch
69. e entregou me tr s livros Estes s o do Ma tre Jean Charles disse ele e voltou para a aula dele Havia um aluno que se sobressa a em todos os anos Esses normalmente eram chamados ao quadro para corrigirem os erros dos outros Os alunos raramente levantavam as m os Eram chamados para recitar a li o responder ou ir at o quadro Todos os alunos estavam sempre concentrados Almajipe Bello um rapaz alto do oitavo ano que tinha a pele mais escura do que eu era considerado o mais inteligente do ano por causa do tom de pele claro At o professor de pele escura parecia reconhecer isso visto que por vezes recompensava Almajipe com um sorriso dizendo petit blanc o maior elogio quanto intelig ncia Nessa manh pelo 24 menos cinco alunos foram chicoteados no quadro com um rigoise Durante o intervalo de trinta minutos todos os alunos do oitavo ano pareciam estar focados em mim perguntando me s inteligente s t o inteligente como Almajipe Bello Almajipe estava contrariado porque deixara de ser o centro das aten es Ele avan ou e olhou de cima para mim Fiquei preocupado Pensava que ele me ia bater Eu sou dez vezes mais inteligente que tu disse ele O professor estava a assistir e sorriu abertamente Cinco minutos antes do meio dia o professor escreveu um exerc cio de matem tica no quadro Preparem se para esta tarde disse ele em tom de desafio Almajipe virou a cabe a para mim e
70. e eu mando a ir ter contigo D lhe vinte e cinco d lares quando acabares disse ele Eu tenho namorada sargento Prometi lhe que n o estaria com mais ningu m disse lhe Um homem negro e alto saiu de um quarto D me dois n queis disse ele O sargento Johnson foi a um quarto saiu com dois saquinhos de pl stico de marijuana e entregou lhos ao sair De repente uma rapariga saiu de um dos quartos e foi sentar se na sala de estar Os dois primeiros cabos foram para as traseiras e foram logo seguidos por duas raparigas Tenho de ir agora meu Sargento A minha namorada est minha espera disse removendo a minha boina do cinto Vejo te segunda de manh disse o sargento Johnson A sa da pus a boina e sa Enquanto descia a rua reparei no detetive sentado atr s do volante de um Chevrolet branco Tirei a minha boina cor de vinho por uns segundos e voltei a p la cabe a Voltando rapidamente guarni o militar fui ver um filme para me distrair 172 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Depois do espet culo voltei caserna inquieto esperando que os soldados n o suspeitassem que era eu o bufo s 21 horas as luzes desligaram se N o conseguia dormir Temia pela minha vida s 5 horas os militares s foram acordados pelo som de tampas de caixotes do lixo a baterem umas contra as outras Procurei pelos tr s soldados N o estavam l dent
71. es caqui Enquanto dois alunos i avam lentamente a grande bandeira branca com uma folha de cer vermelha no centro todos prestavam lealdade ao Canad com a m o direita sob o peito Oh Canada terre de nos aieux terra dos nossos antepassados A bandeira era retirada todas as tardes com a mesma cerim nia Em raras ocasi es quando visitas brancas entravam nas salas de aula todos se levantavam e assim permaneciam com os olhos a brilhar As express es faciais dos alunos pareciam indicar que estes blancs que distribu am sempre santinhos religiosos antes de se irem embora n o pertenciam a este mundo Eu olhava os com admira o e pensava que eram como deuses Ser que usam a casa de banho como as pessoas normais perguntava me a mim mesmo A voz de Florence ecoava me na cabe a No que toca a pagar as minhas d vidas eu sou blanc s vezes dizia sobre o seu filho No que toca intelig ncia o meu filho blanc Durante o intervalo os alunos trocavam os santinhos Aqueles que por acaso recebessem imagens de santos negros abandonavam os seus cart es no p tio pois acreditavam que estes santos n o respondiam s ora es Uma vez recebi dois santinhos um com a Virgem Maria e outro com o S o Jos Depois de dar o meu S o Jos a um colega de turma que tinha deitado fora o seu santo negro brinc mos a Toussaint Louverture e Jean Jacques NT Hino Nacional do Canad em franc s 15
72. esclavagista She had a bad left Ela tinha um leg that caused her problema na perna to walk with a limp esquerda o que a obrigava a coxear Motivo No primeiro caso na LP temos o adjetivo sick doente que se alterou para o substantivo comum indisposi o para que a frase na LC fosse gramaticalmente correta Poderia tamb m ser traduzido por deixaram me mal disposto o que permitiria o uso do adjetivo na LP mas alteraria o verbo No segundo caso acontece precisamente o inverso do primeiro caso na LP utilizado um substantivo comum que passa a adjetivo na LC No caso de a limp substantivo comum na LP foi alterada a classe gramatical da palavra utilizando se o verbo coxear para que mais uma vez o segmento fr sico mantivesse o sentido na LC CAP TULO III A TRADU O AN LISE DA TRADU O Solu o TP TC Anita shook like a Anita tremia como E palsied old woman uma senhora idosa Modula o as she placed a pot of water on the coal ao colocar uma panela de gua no stove fogareiro Motivo Como o p blico alvo portugu s n o associaria naturalmente a tremura paralisia mas sim idade avan ada de algu m e como o autor menciona tamb m a velhice na frase assumiu se que o melhor seria mudar a perspetiva de paral tico para apenas idoso pois o sentido permanece
73. escola de artes marciais gerida por um sargento de boina verde Numa sexta feira tarde os militares tinham acabado de receber o sal rio Um dos sargentos veio caserna trazendo um saco de lona por baixo do bra o Destrancou a porta do quarto dele e entrou Tr s soldados dirigiram se imediatamente sala do sargento Passado um bocado um primeiro cabo saiu com uma fronha de almofada com uma proemin ncia e voltou ao seu beliche Depois abriu o cacifo e tirou de l uma caixa com saquinhos de pl stico Lockhart vai vigiar a porta disse ele a um amigo enquanto o via despejar um monte de folhas verdes secas na cama dele Esfregou as folhas nas m os e encheu os saquinhos de pl stico Ei Franci queres um saquinho de um n quel perguntou me N o obrigado respondi O soldado p s todos os saquinhos na fronha de almofada e saiu da caserna Segunda feira de manh s 4 horas os militares foram acordados pelo som de duas tampas de caixotes do lixo a baterem uma contra outra como c mbalos 35 NT Post Exchange loja na base militar que vende bens a pessoal militar e suas fam lias e a civis autorizados 161 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Acordem e levantem j esses rabos imundos gritou o sargento Durante uma semana os soldados iam participar num exerc cio de simula o de fogo fora da base Estava frio e escuro l fora Armas muni
74. espera de ser convidado para ver Emilie no quarto de Lise Mantive me longe da vista de todos o mais que pude ansiando que se esquecessem da minha escapadela Bobby gritou Florence Fiquei em suspenso O meu cora o parecia ter se esquecido de um batimento antes de saltar para a minha garganta Ela entregou me um saco de papel castanho Vai tomar um banho e veste isto disse ela Oui obrigado disse eu sem verificar o conte do do saco Eu sabia que eram roupas novas porque ela esperava sempre que a roupa que eu tinha vestida se transformasse em trapos antes de me dar roupas novas Levei o saco at casa de banho e tirei de l dois pares de cal es caqui e duas camisas Depois de ter tomado banho tirei da minha caixa uma velha saia que me tinha sido dada para usar como toalha Denis tinha insistido que as toalhas de banho antigas fossem para limpar o carro dele para evitar marcas de arranh es Eu vesti me e apareci em frente a Florence 42 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Estas roupas com que est s vestido n o s o tuas Estou a emprestar tas Sempre que te aproximares da beb tens de vestir roupas lavadas disse me ela Oui respondi Podes ir ver a beb Bate porta antes de entrares disse Florence Eu voltei para dentro A porta do quarto de Lise estava entreaberta Antes que eu tivesse batido Lise disse me para entr
75. estava atrasado Florence mandava me descobrir se o carro estava estacionado no mesmo local A maior parte das vezes estava Aquela grande pega quer tirar me o doutor dizia Florence com olhos flamejantes Paul tirou lhe o m ximo de dinheiro que conseguiu e foi para Paris acabar o curso de medicina N s vamos casar quando eu regressar disse lhe ele uma vez O sonho de Florence de casar com um m dico nunca se realizou Ela tornou se amarga e descarregava as suas frustra es em mim sempre que tinha oportunidade Florence vendeu a casa e alugou um apartamento num pr dio noutra cidade Come ou ent o os preparativos para emigrar para os Estados Unidos Eu ia escola ocasionalmente apenas durante o turno da manh Fui colocado novamente no quinto ano Durante as tardes ia buscar gua para abastecer dois reservat rios enormes cheios para as necessidades da casa porque neste novo bairro a gua n o chegava regularmente Andar com baldes de gua pesados na cabe a fez com que o meu cabelo ficasse mais fino no topo As outras crian as chamavam me restavec t te chauve restavec careca Numa sexta feira de manh Florence mandou me ir peixaria Fruits de Mer com um d lar para comprar percas Ela queria preparar uma refei o especial a Lise que j tinha viagem marcada Era a sua maneira de compor as coisas com Lise sabendo que em breve estaria a viver em Nova Iorque em casa de Lise Quando cheguei loja
76. eu visitava a em fins de semana prolongados e nas f rias da P scoa No final do ano letivo demiti me e mudei me para Cincinatti uma cidade muito conservadora do Ohio para me juntar a Cindy Ainda atualmente algumas pessoas em Cincinnati decoram o relvado da frente com um lawn jockey uma pequena est tua de um escravo africano com um casaco vermelho e umas cal as brancas a segurar um anel de metal apesar de Ohio nunca ter sido um estado onde existisse a escravatura Poder simbolizar um desejo inconsciente de ser dono de planta es ter riqueza suficiente para possuir um rapazinho de est bulos bem vestido para cumprimentar os convidados ao port o e tratar das suas carruagens Perguntei a um carteiro e a um funcion rio do g s negros o que sentiam quando se deslocavam diariamente at estas casas Ferve me o sangue replicou o carteiro com raiva na voz N o gosto E ofensivo acho mas tamb m n o posso fazer nada em rela o a isso replicou o outro Eu queria casar com Cindy e n o estava nada preocupado com o facto de ela ser branca Eu amava a muito porque ela acreditava em mim e me fazia sentir especial mesmo depois de lhe ter contado a minha vida como antiga crian a escrava vivendo numa pobreza absoluta no Haiti o pa s mais pobre do Hemisf rio Ocidental Preocupava me mais n o ter os meus pr prios parentes no nosso casamento do que ser a nica pessoa negra Um dos irm os de Cindy que conheci dois anos
77. f rias sozinho Quando as aulas recome aram evitei ao m ximo encarar o professor No fim de uma aula enquanto sa a ele travou me Quero ver te agora no meu escrit rio disse ele autorit rio Nervoso segui o at ao escrit rio dele e ele fechou a porta O que que se passou contigo em minha casa Envergonhaste me a mim e minha fam lia frente de todos os meus amigos disse ele aborrecido Desculpe Senhor respondi Desculpe desculpe tudo o que tens a dizer Tu esfor as te tanto na aula Impressionaste me Convidei te para ires a minha casa Envergonhaste me e minha fam lia e agora est s arrependido disse o professor esbracejando Eu n o sei o que fazer ou como me comportar quando estou numa sala com pessoas porque as pessoas que me criaram nunca me permitiram estar na sala a n o ser que limpasse o p ou o ch o Sinto me muito desconfort vel numa sala de estar com pessoas expliquei lhe Que tipo de pessoas eram essas Est s a brincar perguntou N o Senhor a verdade respondi Onde est o os teus pais perguntou o professor O meu pai que branco deu me a uma mulher porque eu nasci negro disse 188 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Onde est a tua m e minha m e morreu quando eu tinha cerca de um ano Era a cozinheira do meu pai contei lhe mulher que te criou era negra pergun
78. frente e o segu ssemos at o gabinete Todos entraram em p nico O ex rcito precisa de volunt rios para o treino das tropas paraquedistas e eu gosto de voc s T m oportunidade para serem promovidos e receberem 55 d lares extra por m s por saltarem de avi es em perfeitas condi es disse ele Os homens entreolharam se 151 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Est bem eu vou disse eu Os outros tamb m se voluntariaram A cerim nia de conclus o teve lugar num campo aberto As bancadas estavam cheias com civis e pessoal militar A banda preenchia o ar com m sicas patri ticas enquanto os finalistas desfilavam orgulhosamente nos seus uniformes caqui Uma bandeira grande com estrelas e riscas flutuava na brisa fresca juntamente com bandeiras de unidade azuis vermelhas e verdes atr s de um grande p dio s unidades foi dada voz de aten o O meu comandante p s se frente das tropas dele Em cada turma final h sempre um indiv duo que se destaca como o mais not vel na sua unidade disse ele Os oficiais e NCO s seleccionaram o Pfc Primeiro cabo Jean Robert Cadet como a melhor sentinela desta unidade Depois leu uma carta e disse Esta carta ser colocada no teu ficheiro militar e ser enviada uma c pia aos teus pais Senti me orgulhoso Enquanto lutava para reprimir as l grimas tinha arrepios pelo corpo todo Depois da conclus o do treino
79. igual e transporta a inten o inicial pretendida pelo autor Solu o TP TC Os poucos convidados de Claudette s few Claudette na sua guests mostly dark skinned black maioria homens de o pele escura Equival ncia men sat in chairs sentaram se em along the wall cadeiras ao longo wiping their sweaty da parede brows with red limpando com handkerchiefs len os vermelhos as suas testas suadas Motivo A express o limpar as sobrancelhas em portugu s europeu n o muito comum e apesar de intelig vel seria sentida como algo estranho Em contrapartida encarado como natural que se limpe o suor da testa Tendo em conta as circunst ncias da descri o do autor e as refer ncias culturais do p blico alvo portugu s a solu o encontrada para resolver este problema foi trocar as sobrancelhas do TP por testas no TC CAP TULO III A TRADU O AN LISE DA TRADU O Solu o TP TC Jogo infantil de Adapta o Cric crac adivinhas equivalente ao qual a coisa qual ela Motivo Apesar de n o ser uma adapta o total no TC por primeiramente se ter dado um empr stimo e posteriormente criado uma NT com a contextualiza o do significado de cric crac este um exemplo da finalidade desta solu o de tradu o Devido
80. inteligente porque tinha uma tez clara Havia alunos de todas as idades na minha turma Nunca discut amos sobre a idade que t nhamos n o nos parecia importante De facto eu n o sabia a minha idade porque Florence nunca ma disse Os professores davam me mais aten o na turma mandando me mais vezes ao quadro do que aos meus colegas Era sempre selecionado para fazer pequenas pe as e davam me poemas para decorar Quando estava mais ou menos no meu terceiro ano e o Dia da M e era dali a duas semanas um grupo de estudantes estava a preparar se para atuar em palco para assinalar a ocasi o Eu tinha sido selecionado para cantar um solo chamado Cora o da M e Eu Canto Para Ti Que Eu Amo Pelo princ pio de cada tarde os participantes enchiam ansiosos uma grande sala para o ensaio O coro deveria vestir se com cal es caqui e camisas brancas Para al m disso todos deveriam trazer um cravo vermelho na camisa Aqueles cujas m es tivessem falecido deviam levar um cravo branco Eu tinha os cal es caqui mas n o a camisa branca Eu sabia t o bem a m sica que podia cant la durante o meu sono 16 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Na manh do Dia da M e Florence foi igreja e voltou com um cravo vermelho na sua blusa Eu estava ansioso por saber se ela tinha comprado a camisa branca que lhe pedira Esperei at s tr s horas uma hora antes do espect culo Depois
81. lado da ravina muito mal conservada e inacabada S os mais pretos e os mais pobres a frequentavam N o havia administradores ou conselheiros As turmas estavam sempre sobrelotadas Os que chegavam atrasados encostavam se contra a parede preta usando os joelhos como suporte para as suas lousas Quando eu sabia que teria de ir buscar gua tarde depois da escola escondia as minhas roupas de escola e cadernos no balde Uma vez na ravina mudava me escondia as minhas roupas de trabalho atr s de uma rocha e carregava o balde para a aula como se fosse uma mala para os livros Depois da escola s quatro horas voltava at ravina vestia novamente as roupas de trabalho e escondia os materiais da escola para os vir buscar mais tarde antes de anoitecer Perdia as aulas de Ortografia Franc s e Moral que eram 63 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia ensinadas de manh Sempre que tinha alguns momentos para mim lia as bandas desenhadas de Olivier por baixo de um limoeiro atr s da casa Por vezes Olivier trazia os meus materiais da escola at ravina debaixo da sua camisa Chegado l trocava de roupa comigo e esperava pelo meu regresso Eu ria me de Olivier por ter trapos sujos e sapatos brilhantes e ele ria se de mim por me ver com roupa boa e lavada feita por um alfaiate mas sem sapatos Olivier partilhava comigo tudo o que tinha doces sobremesas e s vezes a pr pria
82. manter afastado da caserna A Sede recebeu not cias do Pent gono que informavam que todas as unidades de combate deveriam manter se em alerta A crise energ tica de 1973 tinha come ado e enfrent vamos a possibilidade de entrar em guerra com o M dio Oriente Aprendi que as na es ricas por causa do petr leo do Golfo P rsico tinham boicotado os Estados Unidos provocando uma enorme escassez de combust veis Pensei que ir amos invadir o Kuwait e a Ar bia Saudita para resolver a crise Dois funcion rios da Divis o da Sede vieram at companhia para 167 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia atualizar os ficheiros militares pessoais Colocaram a todos os soldados a mesma quest o Quem o teu benefici rio em caso de morreres em combate Quero que o ex rcito fique com o dinheiro do meu seguro caso n o regresse vivo disse eu A s rio tens de me dar o nome do teu benefici rio disse o funcion rio Estou a falar a s rio N o tenho ningu m e quero que o ex rcito utilize o dinheiro para comprar mais armas expliquei a pensar que visto que o ex rcito estava a tomar conta de mim eu deveria retribuir Est bem Vou p r o Ex rcito dos Estados Unidos como teu benefici rio disse o funcion rio Durante a forma o da tarde o comandante da companhia disse s tropas para estarem prontas a combater at novo aviso Dois soldados do meu pelot o ause
83. me contaria acerca do juiz que tinha sentenciado um amigo dela a cinco anos de pris o por um roubo que n o tinha cometido ou acerca do hospital que 201 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia tinha negado tratamento pr pria equipa negra do estabelecimento Depois falaria acerca da pol cia maluca que espancava negros Quando me apresentei para trabalhar na manh do dia seguinte apresentaram me a um senhor mais velho chamado Jos Fern ndez um imigrante cubano que j trabalhava na empresa h alguns anos Jos disse me muito orgulhoso que tinha sido um oficial na marinha cubana no tempo de Batista N o me impressionei porque n o me estava a contar sobre um dos departamentos do ex rcito dos E U A Grande coisa Eu j fui um Ranger no Ex rcito dos E U A disse a mim mesmo Esta empresa boa Eu comecei como assistente de exporta o tal como tu disse Jos Quis perguntar lhe qual foi o sal rio dele inicial mas era contra a pol tica interna dos funcion rios discutir sobre sal rios Aprendi t o bem os neg cios de exporta o juntamente com as pr ticas n o ticas que podia ter come ado a minha pr pria empresa comercial Trabalhava uma m dia de cinquenta horas por semana e o meu sal rio de duas semanas era menos de quatrocentos d lares Jos sorria sempre para o seu sal rio antes de o p r no seu casaco que pendurava no cabide num canto do escrit rio
84. mensagem de forma a levar at o leitor da l ngua de chegada LC uma realidade culturalmente mais compreens vel Segundo Dryden poeta cr tico liter rio e tradutor do XVII podem ser feitos tr s tipos de tradu o e a met frase metaphrase que consiste na tradu o literal ou seja palavra a palavra e a imita o imitation sendo esta uma aproxima o livre ao que o autor pretende transmitir ao leitor e a par frase paraphrase que apesar de manter o sentido original prev a sua express o de forma livre sem estar preso s palavras do texto original TO Dryden citado por Mota E 2003 4 CAP TULO III A TRADU O AN LISE ENQUADRAMENTO TE RICO Tytler citado por Hatim e Mason 1990 16 define em Essay on the Principles of Translation tr s leis para traduzir a tradu o deve facultar uma transcri o de ideias completa do trabalho original o estilo e a maneira de escrever devem ter as mesmas caracter sticas do original a tradu o deve ter a mesma ligeireza que a composi o original Na tradu o deste trabalho houve sempre a preocupa o de respeitar estas tr s leis procurou se realizar uma transcri o fiel ao relatado pelo autor da obra tendo sempre em conta o tom coloquial e a estrutura fr sica simples da sua escrita J no s culo XX Eugene Nida linguista americano pioneiro nesta rea completa a vis o de Tytler dando nfase s tr s leis de Tytler e fazendo notar algo
85. mim como traidor e um deles Decidi tornar me no Mr Rabinowitz de tr s alunos negros que me chamaram a aten o Considerei que tinham um grande potencial e seriam f ceis de educar Uma era uma menina cega de treze anos chamada Tamika que me fazia lembrar Anita a minha amiga de inf ncia restavec Ela tentava mostrar a sua independ ncia fechando se em si pr pria Decidi almo ar com ela todos os dias na cantina para a conhecer Depois de almo ar tr s vezes com ela contou m e que eu me estava a atirar a ela e que eu queria fazer sexo com ela De imediato me ordenaram que me mantivesse longe de Tamika O segundo aluno era Deandre um rapaz de catorze anos Liguei para casa dele num final de tarde porque j n o o via h duas semanas A m e dele disse me que tinha decidido mant lo em casa porque havia uma fuga de gua Uma vez trouxe me um recado da m e dele que dizia Deandre n o p de fazer os trabalhos de casa ontem noite porque a conduta de gua da zona tinha rebentado Depois havia Marcus um aluno do sexto ano de pele muito escura Era inteligente e din mico mas pregui oso Eu dava as aulas sempre ao lado dele a ver por cima do ombro dele se ele tirava apontamentos Um dia fui chamado ao gabinete da diretora para uma entrevista com a m e de Marcus A diretora uma mulher negra estava sentada atr s da sua secret ria como uma rainha no seu trono A m e de Marcus estava sentada em frente
86. mundo e por me confiar a tarefa da tradu o da sua obra Por ltimo gostaria de agradecer aos meus pais e irm os por todo o apoio e dedica o e minha madrinha que possibilitou o contacto com o autor iii O homem a sua linguagem porque a cultura se constitui como sistema de signos Mesmo quando acredita falar o homem falado pelas regras dos signos que usa Conhecer as regras destes signos conhecer a sociedade mas tamb m conhecer o sistema de determina es lingu sticas que se constitui como ess ncia Umberto Eco O Signo RESUMO O objeto final deste relat rio uma proposta de tradu o e respectiva an lise da obra de Jean Robert Cadet intitulada RESTAVEC from Haitian Slave Child to Middle Class American A tradu o desta obra foi realizada a pedido do autor que tem a esperan a de ver o seu trabalho publicado em Portugal como acontece noutros pa ses no mundo com vista ao cumprimento de uma miss o extremamente nobre o que s vem a comprovar que a tradu o imprescind vel nos mais variados mbitos nomeadamente no dos Direitos Humanos e do Voluntariado Assim nossa convic o que a proposta de tradu o deste forte testemunho de vida despertar o p blico alvo para um problema gritante do mundo o da escravatura infantil transportando o sem barreiras lingu sticas ou culturais para uma outra realidade lamentavelmente actual e pouco conhecida no nosso pa s Paralelamente e
87. noite Al m disso esse quarto trancava se por dentro Todas as manh s Sophie dava me um desinfectante para eliminar do quarto o odor a urina Eu estava morto por perguntar a Florence o que me iria acontecer mas sempre que me aproximava dela n o conseguia pronunciar as palavras Ent o pedi a Olivier para descobrir por mim O que que ela disse perguntei eu Ela disse que est a pensar numa solu o e depois eu perguntei Maman se pod amos ficar contigo e ela disse que n o respondeu Olivier Fiquei devastado Corri para a casa de banho N o tive apetite durante dias e passei noites sem dormir a congeminar qual seria o meu destino Na v spera da partida de Florence ao final da tarde um jipe castanho encostou em frente casa Um homem branco de estatura m dia saiu Olhou para mim e cumprimentou me com a cabe a Bonjour Monsieur disse eu nervosamente Era o meu pai sendo esta a terceira vez que o via Florence estava sua espera aparentemente para discutir o meu futuro Ela sentou se na sala de estar com ele durante uns bons dez minutos e depois Philippe saiu sem me dizer 70 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia adeus Os meus olhos encheram se de l grimas enquanto via o jipe desaparecer com a dist ncia Aquele era Philippe S bastien N o sabia que era amigo de Florence disse Olivier Eu sei o meu papa disse eu secand
88. novo afirma que uma tradu o precisa de e Fazer sentido e Manter o esp rito ess ncia e estrutura do original e Ter uma forma de express o flu da e natural e Provocar uma rea o semelhante Nida citado por Mota E 2003 5 Pela primeira vez na hist ria da tradu o surge uma preocupa o relativamente rea o do leitor que por sua vez um elemento din mico na tradu o devendo ser tido em conta visto que o principal interessado no resultado final Portanto o autor de um TP espera criar no leitor da LP uma determinada rea o que o tradutor procurar reproduzir no p blico da LC tendo consci ncia da dificuldade dessa tarefa Nida real a a import ncia do significado e n o do estilo de um texto Nida citado por Mota E 2003 5 Pela import ncia que o p blico alvo desta tradu o pode vir a tomar ap s a sua publica o proporcionou se uma leitura clara com vista a despertar o interesse pela causa humanit ria associada obra apesar de retratar uma realidade culturalmente distante Catford 1965 20 na sua simplicidade apresenta a tradu o como um simples processo de substitui o de uma l ngua de partida para uma l ngua de chegada No entanto existe todo um contexto cultural da l ngua de partida que n o deve ser desvalorizado para a l ngua de chegada Da o tradutor ser a ponte entre as duas diferentes realidades lingu sticas J Jackobson afirma que a tradu o envolve dua
89. o sargento Quando terminou a chamada metade da sala estava vazia Eu continuava no meu lugar a sorrir Os homens foram conduzidos para outra sala para o teste f sico A meio da tarde todos tinham sido aceites Orgulhoso sentia que pertencia oficialmente ao Ex rcito dos Estados Unidos O meu destino era o Fort Dix New Jersey onde faria o treino b sico Na caserna mal as luzes eram apagadas eu tirava o meu colch o do cacifo e dormia no ch o para evitar a possibilidade de molhar a cama Todas as manh s cada recruta tinha de se p r em frente ao seu cacifo para ser inspecionado por um sargento As camas eram verificadas para garantir que os cobertores estavam conforme as regras Todos os finais de tarde depois da chamada do correio os rapazes voltavam caserna onde liam em voz alta cartas de m es pais e namoradas e partilhavam o conte do de caixas cheias enviadas de casa Eu ficava esmagadoramente deprimido Sentia me vazio por dentro Ei Cadet cheira esta carta da minha mi da disse um colega de beliche acenando uma nota perfumada na minha cara Ei Cadet ouve isto disse outro Que simp tico Que bonito dizia eu com um sorriso amarelo Ei Cadet n o recebes cartas de casa meu perguntou um soldado pr ximo de mim Eu recebo cartas respondi bruscamente enquanto pensava em dar um tiro na cabe a Um final de tarde enquanto os rapazes escreviam cartas aos familiares e amigos
90. o dele o que acontece quando homens com t o bom car cter t m filhos com cadelas disse me Florence em crioulo teria eu sete ou oito anos Antes do meio dia um pequeno carro preto entrou pelo caminho de acesso casa e de l saiu um homem branco Quando estabelecemos contacto visual ele acenou me e entrou rapidamente pela porta da frente antes de eu ter oportunidade de dizer Bonjour monsieur Florence deixou o entrar na casa e eu desapareci para o quintal das traseiras Quase logo a seguir ouvi o a ir se embora Aos cinco anos comecei a detestar Florence Quem me dera que a tua maman fosse tamb m minha disse a Eric um vizinho da minha idade Um dia enquanto brinc vamos juntos a m e de Eric tirou um len o do seu soutien molhou o canto com a l ngua apoiou se num joelho e limpou uma mancha de sujidade da cara do filho Eric afastou a m o dela Ah Maman p ra com isso disse ele Eu olhei para ela com os olhos a brilhar Fa a me a mim em vez dele disse eu Ela olhou para a minha cara por um momento e respondeu com um sorriso carinhoso Mas a tua cara n o est suja N o importa Fa a me a mim de qualquer maneira Ela limpou gentilmente uma mancha da minha cara enquanto eu sorria de orelha a orelha A minha m e biol gica morreu antes que a sua imagem pudesse ficar gravada na minha mem ria N o me lembro da poca em que me trouxeram at Florence a mulher a
91. o do que foi o escolhido pela tradutora pelos motivos j acima mencionados TP TCF TCC During every trip back home I thought about the First Commandment and wondered why Florence worshipped several other gods immediately after she returned home from church p g 8 Sempre que voltava a casa pensava no primeiro mandamento e perguntava me porque venerava Florence outros deuses logo depois de regressar a casa vinda da igreja Sempre que voltava a casa pensava no primeiro mandamento e perguntava me porque que Florence venerava outros deuses logo depois de regressar a casa vinda da igreja p g 11 What did you break you son of a bitch p g 18 O que partiste seu filho da m e O que que tu partiste seu filho da m e p g 24 CAP TULO III A TRADU O AN LISE DA TRADU O The next morning I asked Maude why Louis had asked me to write the name Edward on a piece of paper p g 89 Na manh seguinte perguntei a Maude porque tinha Louis me pedido para escrever o nome Edward num peda o de papel Na manh seguinte perguntei a Maude porque que Louis me tinha pedido para escrever o nome Edward num peda o de papel p g 109 During graduation I sat somberly in the auditorium thinking about where I was going to live p g 149 Durante a cerim nia de formatura
92. o fez um corte profundo no canto do meu olho direito disseminando uma dor atrozmente agu ada em toda a minha cabe a Soltei um grito Florence s parou ao reparar no sangue que jorrava desse lado da cara p g 25 Vinay e Darbelnet 1995 31 apresentam ao tradutor m todos aos quais ter de recorrer conforme o trabalho a realizar Primeiramente o tradutor pode recorrer a duas hip teses ou produz uma tradu o direta tamb m conhecida por literal ou uma tradu o obl qua Entende se por direta quando it may be possible to transpose the source language message element by element into the target language because it is based on either i parallel categories in which case we can speak of structural parallelism or ii on parallel concepts which are the result of metalinguistic parallelisms But translators may also notice gaps or lacunae in the target language TL which must be filled by corresponding elements so that the overall impression is the same for the two messages Vinay e Darbelnet 1995 31 CAP TULO III A TRADU O AN LISE ENQUADRAMENTO TE RICO Numa tradu o obl qua ocorre precisamente o oposto e segundo os mesmos autores esta acontece quando because of structural or metalinguistic differences certain stylistic effects cannot be transposed into the TL without upsetting the syntactic order or even the lexis In this case it is understood that more com
93. pa s causada pelos Tontons Macoutes que espalhavam o terror m nima suspeita de revolta contra o poder presidencial O seu filho prosseguiu o Considerado um her i na Hist ria nacional haitiana era um escravo com conhecimentos de armas que lutou e saiu vitorioso contra a col nia francesa apesar de ter continuado a ter liga o Fran a onde acabaria por falecer numa pris o em 1803 um ano antes de ser declarada a independ ncia do seu pa s natal Grolier International Encyclopedia Deluxe Home Edition Danbury Connecticut Grolier Incorporated 1991 General ao servi o de Toussaint Louverture proclamou a independ ncia do Haiti a 1 de Janeiro de 1804 e foi o primeiro l der oficial do pa s Proclamou se Imperador Jacques I em 1805 Foi tra do e assassinado em 1806 por Henri Christophe e Alexandre P tion ambos lutadores pela independ ncia do Haiti Grolier International Encyclopedia Deluxe Home Edition Danbury Connecticut Grolier Incorporated 1991 2 Uniu se ao ex rcito de Jean Jacques Dessalines e participou na luta pela independ ncia do Haiti tornando se presidente em 1807 Autoproclamado rei em 1811 acabaria por se suicidar nove anos mais tarde Grolier International Encyclopedia Deluxe Home Edition Danbury Connecticut Grolier Incorporated 1991 For a de pol cia pessoal volunt ria do ditador Duvalier que tinha licen a para torturar e matar quem se opusesse a este regime Por vezes exibiam e
94. pai Eu olhei para Philippe na esperan a de que ele no m nimo me reconhecesse dizendo o seu pr prio nome Ele olhou para o funcion rio e disse Inconnu que quer dizer desconhecido O funcion rio olhou para Philippe e para mim por uns segundos como se soubesse que eu estava ao lado do meu pai Fui invadido pela sensa o de que me estava a afogar Senti me morto por dentro O meu cora o parecia ter sido atingido por uma pedra como uma manga madura de uma rvore que caiu numa po a de lama e estrume de vaca 118 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia O funcion rio entregou me um cart o e conduziu me a uma sala para a vacina o enquanto Philippe esperava na parte de fora De seguida fui atr s de Philippe at ao carro e ele levou me de volta a casa de Madame Laroche Entrei no quintal como um zombie e Madame Laroche relembrou me que Philipe era um santo e que eu tinha sorte em t lo como pai Pensei no que me disse e acordei para a vida apercebendo me que eu tinha mais sorte do que outros restavecs cujos adultos tinham ido l tranger e os tinham abandonado na pobreza absoluta nas ruas de Port au Prince Algumas semanas mais tarde Philippe veio e deu algumas notas a Madame Laroche em moeda haitiana Penso que o rapaz partir para Nova Iorque daqui a duas semanas disse Philippe Senti me envergonhado por ele n o me mencionar pelo nome Precisar de alg
95. para traduzir a aptid o lingu stica e textual em ambas as l nguas de partida e chegada as compet ncias de pesquisa aquisi o e tratamento de informa o e as compet ncias culturais e t cnicas Translating competence Translating competence comprises the ability to translate texts to the required level It includes the ability to assess the problems of text comprehension and text production as well as the ability to render the target text in accordance with the client TSP agreement and to justify the results Linguistic and textual competence in the source language and the target language Linguistic and textual competence includes the ability to understand the source language and mastery of the target language Textual competence requires knowledge of text type conventions for as wide a range of standard language and specialized texts as possible and includes the ability to apply this knowledge when producing texts Research competence information acquisition and processing Research competence includes the ability to efficiently acquire the additional linguistic and specialized knowledge necessary to understand the source text and to produce the target text Research competence also requires experience in the use of research tools and the ability to develop suitable strategies for the efficient use of information sources available Cultural competence cultural competence includes the ability to make use of i
96. pequeno almo o Sophie deu me um par de sapatos velhos de Olivier Aqui tens Se forem muito grandes enche os com papel Veste umas roupas lavadas e arruma a tua caixa disse ela Para onde que eu vou perguntei a tremer Vais viver para Petite Rivi re com a irm de Madame Cadet disse Sophie Experimentei os sapatos Eram muito grandes Enchi os com alguns trapos para me servirem e vesti roupas lavadas um par de cal es caqui e uma camisa velha de Olivier Vai te despedir disse Sophie Eu fui para dentro Anne Marie e Yvette estavam sentadas na varanda Eu pus me frente delas com a cabe a para baixo e com os bra os cruzados sobre o peito Vou me agora embora disse eu a tremer 72 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Adeus jovenzinho Toma conta de ti disse Anne Marie Est bem Bobby adeus disse Yvette com indiferen a As crian as n o estavam em casa Quando sa de casa um t xi estava espera para me levar at esta o de autocarros Sophie disse ao motorista para se assegurar de que eu entrava no autocarro certo para Petite Rivi re e deu me dinheiro Isto para o t xi e para o condutor do autocarro Eu sentei me no banco de tr s com a minha caixinha no colo Adeus Sophie disse eu sem olhar para ela Adeus Bobby Quando o t xi chegou esta o de autocarros o motorista disse me p
97. que n o recorreram viol ncia mas palavra como Soujourner Truth e Frederick Douglass e mais tarde j relativamente luta contra a discrimina o racial Martin Luther King Jr A pesquisa realizada tornou se um meio til na realiza o da tarefa de traduzir eficazmente tanto a ideia defendida pelo autor como os sentimentos inerentes mesma Assim na obra s o recuperados nomes de escravos propositadamente ignorados pela sociedade americana e os quais desempenharam um importante papel na luta contra a escravatura a saber e David Walker nascido a 1796 foi o autor afroamericano de Um Chamamento aos Cidad os de Cor do Mundo An Appeal to the Coloured Citizens of the World considerado um documento de influ ncia quer a n vel social quer a n vel pol tico onde lan ava um apelo luta contra a opress o e injusti a Morreu em 1830 um ano depois da sua publica o da sua obra e Nat Turner escravo afroamericano nasceu em 1800 e gra as aos seus dotes orat rios foi o impulsionador de uma rebeli o de escravos em 1831 da qual resultou a morte de 60 brancos e de cerca de 200 afroamericanos considerada por isso a mais grave da Hist ria americana Foi condenado morte em novembro do mesmo ano Na sequ ncia dessa rebeli o o estado de Virg nia executou 56 negros acusados de participar nela juntamente com Turner e mais de 200 escravos foram brutalmente espancados e mortos por mil cias e multid es Os legisla
98. que ou eu ou Florence n o acordasse mais Eu queria viver num mundo de sonhos onde s vezes eu voava como um passarinho e nadava como um peixe Mas nesse mundo de sonhos eu acabava sempre por me aliviar contra uma rvore acordando numa po a de urina quente Voltar ao mundo real era em si um pesadelo eu tentava sempre evitar Florence a mulher a quem chamava maman Eu desejei todos os dias que Florence morresse durante o sono at fazer uma descoberta muito mais assustadora Enquanto limpava a casa de banho num final de tarde reparei um pequeno saco de lona fechado debaixo do lavat rio Curioso abri o e encontrei v rios trapos ensanguentados De repente o meu cora o acelerou e convenci me de que Florence ia morrer Eu estava ansioso por lhe perguntar de onde viera aquele sangue mas n o podia S era autorizado a falar lhe quando me fazia alguma pergunta ou quando tinha de lhe entregar um recado de uma terceira pessoa O pensamento de que Florence ia morrer era real na minha cabe a Por vezes chorei a pedir a Deus para retirar o meu desejo da sua morte Comecei a observar Florence atentamente a visualizar todas as partes descobertas do seu corpo para tentar encontrar a ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia origem do sangue Eu espiei a atrav s dos buracos das fechaduras sempre que estava na casa de banho ou no quarto dela Numa tarde quente e insuportavelmente h mida depo
99. realidade Para isso foi necess ria toda uma abordagem inicial em termos de nomenclatura e procedimentos na l ngua portuguesa para que o verdadeiro conte do fosse absolutamente percet vel na l ngua estrangeira neste caso o ingl s TP Ideia inicial TC Barracks Camarata Caserna Personal file Ficheiro pessoal Ficheiro militar Post Exchange Manuten o PX Supply Cas o militar Dep sito de fardamento Troops despedida Tropas Camaradas Weaponscards Identifica o das armas Registos das armas Apenas ap s conseguir essa contextualiza o terminol gica e situacional na entrevista com os militares que foi poss vel a tradu o concreta do cap tulo XIV Est vamos em Junho de 1972 mais especificamente da descri o do primeiro salto que Jean Robert deu como paraquedista do Ex rcito dos Estados Unidos da Am rica 41 CAP TULO III A TRADU O AN LISE DA TRADU O As tropas prenderam o mosquet o s cordas do paraquedas fazendo lembrar uma corda de roupa presa de uma ponta outra do avi o O instrutor de saltos abriu a porta deslizando a Uma poderosa rajada de vento frio abanou o avi o tornando dif cil a tarefa de ouvir as ordens do instrutor Acendeu se uma luz vermelha perto da porta Todos verificaram os paraquedas uns dos outros assegurando se de que todos estavam bem presos Aguarda porta gritou o instrutor de sa
100. reparei que o meu bolso tinha um buraco e que o dinheiro desaparecera O dono da loja reconheceu me visto que eu costumava l ir todas as sextas feiras Senhor eu perdi o dinheiro Por favor d me o peixe implorei eu Sem dinheiro n o h peixe respondeu me Mas senhor se eu regressar sem o peixe v o matar me Tem de me dar o peixe implorei mais uma vez Sai da minha loja antes que eu te expulse Acho que gastaste o dinheiro em guloseimas respondeu o dono 52 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Eu comecei a chorar Ca de joelhos implorando ao dono Por favor d me o peixe pelo amor de Deus O dono deu a volta ao balc o agarrou me pela parte de tr s dos meus cal es e expulsou me como um gatinho indesejado A caminho de casa parei ao p de um muro onde homens paravam sempre para urinar Uma brisa calma trouxe o fedor intenso at minha cara Quatro homens aproximaram se do muro para se aliviarem Eu esperei que terminassem Implorei por dinheiro a cada um deles explicando que tinha um buraco no meu bolso e que o meu adulto me ia matar S il vous pla t por favor monsieur s il vous pla t choraminguei eu Eles ignoraram me e continuaram o seu caminho Eu caminhei para casa muito lentamente com o cora o palpitante desejando nunca l chegar Junto ao port o olhei para o alpendre da frente e vi Florence na s
101. restaurante e candidatei me a um posto Preciso de um lavador de pratos das dez da noite at s sete da manh Se quiseres eu dou te o emprego disse o patr o 136 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Eu quero disse eu Podes come ar esta noite perguntou o patr o Sim posso repliquei E muito simples Lavas os pratos limpas as mesas Quando o movimento estiver parado descascas batatas Tamb m podes comer tudo aquilo que quiseres disse o patr o Eu volto s dez disse eu e apanhei o autocarro de volta at casa de Lise Contei a Denis acerca do emprego das 22 s 7 horas disse eu Ent o e a escola Vais desistir perguntou Denis Non a escola come a s oito e h um autocarro que parte do restaurante e para a um quarteir o da escola expliquei Est bem eu digo Maman amanh de manh que j tens outro emprego disse Denis Peguei na minha mochila dos livros e sa para o trabalho No restaurante deram me um uniforme demasiado grande e um avental de pl stico Estudei durante uma hora antes de come ar a trabalhar s duas da manh quando n o havia clientes o patr o deixou me dormir numa cabina durante uma hora Depois os grandes cami es estacionaram no parque de estacionamento Eu limpei as mesas e lavei os pratos at s sete Comi o pequeno almo o e apanhei o autocarro que me deixou a dois quarteir es da escola
102. s 23 horas de segunda a sexta e 12 horas aos s bados Aprendi o mais que pude com os mec nicos da garagem Aos s bados instalava silenciadores e amortecedores por um pre o mais elevado Uma tarde os dois outros funcion rios estavam nos balne rios enquanto eu limpava o ch o Bobby vem aqui chamou o gerente do turno da noite um estudante universit rio Eu encostei a esfregona contra uma parede e entrei na sala das traseiras Ele estava sentado num banco com um pequeno ma o de cigarros em frente dele O antebra o estava amarrado com um bocado de borracha cuja ponta ele segurava com os dentes Na m o livre tinha uma seringa pronta a injetar no bra o atado O outro funcion rio estava a inspirar um p branco pr ximo dele O que que est o a fazer perguntei Anda c e injeta me isto por mim disse o gerente de turno Bobby queres uma fila perguntou o outro funcion rio Eu n o quero uma fila e n o te vou ajudar disse e afastei me Ao continuar a limpar com a esfregona o gerente principal entrou Onde est o os outros perguntou Est o nas traseiras respondi O gerente principal entrou no balne rio despediu os dois funcion rios e terminou o turno comigo Depois de desligar as bombas s onze horas disse me partir de amanh o novo gerente do turno s tu Eu encontrei os a drogarem se nas traseiras Arthur tinha uma agulha enfiada no bra o 144 ANEXO
103. te chamas perguntou em franc s numa voz suave embora fragilizada O meu nome Bobby disse eu em franc s N o me lembro de nenhum Bobby Os meus rapazes t m filhos que eu desconhe o Quem o teu pai Philippe Pierre ou Robert perguntou me 115 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Philippe respondi Est na hora do seu banho agora Grandme re disse a empregada Est bem Querido vem visitar me novamente ouviste disse ela Oui respondi Embora me tenha tratado por querido o que me fez sentir bem vindo n o senti que me desejassem e ser desejado era o que eu sempre quis Ao passar na sala de jantar reparei numa garrafa de rum aberta na mesa e numa ta a de a car Apesar de n o estar com sede senti uma enorme vontade de ir embora com algo que pertencesse ao meu pai Deitei algum rum num copo misturei com a car e bebi A sobrinha de Philippe Madelaine entrou e descobriu me b bado Quem este rapaz na casa gritou A empregada interveio O nome dele Bobby e filho do Monsieur Philippe O que que ele est aqui a fazer Est b bado Onde que ele vive disse ela N o sei onde vive Ele veio sozinho replicou a empregada enquanto eu vomitava no ch o Onde vives perguntou Madelaine Eu apontei na dire o da casa de Madame Laroche Um homem ajudou me a entrar num carro Eu levo te a
104. te o nome de Alfrenold Brutus A tua nova mama deve ter mudado o teu nome para Bobby explicou me Como que me reconheceu perguntei surpreendido s muito parecido com Blanc Phillipe e Louis contou me tudo acerca da tua m e respondeu N o fiquei impressionado com o nome Alfrenold mas gostava de ter podido manter o nome Brutus o nome de fam lia da minha m e Assim n o teria de suportar a amea a constante de Florence de me retirar o nome Cadet e alter lo para o comum Joseph Pouco depois Louis abriu o port o e entrou com uma bicicleta preta nova Era de estatura m dia com uma tez escura e nos quarentas este Alfrenold o rapaz de Blanc Philippe perguntou Antes que pudesse responder a mulher disse Sim mas o nome dele agora Bobby Vieste com a Madame Cadet perguntou Louis Mais uma vez ela interrompeu Olha para ele Olha s para ele t o parecido com o Blanc Eu estava chocado e surpreendido porque nunca ningu m tinha ficado t o excitado por me ver Non n o vim com a Madame Cadet Ela foi para l tranger respondi eu 97 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Ela vai mandar algu m buscar te perguntou me N o sei repliquei Como que me reconheceu acrescentei Depois da morte de Henrilia eu levei te ao Blanc Philippe e ele levou te at Madame Cadet Tinhas come ado a aprender a andar
105. trabalho N o te podes dar ao luxo de perd lo disse ele Quando voltei ao trabalho vi outro rapaz a trabalhar no meu lugar e dirigi me secretaria 132 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Contratou um novo arrumador de carrinhos perguntei secret ria Sim est s despedido Podes levantar o teu cheque na sexta feira disse ela Voltei para casa de Lise e disse a Denis que outro rapaz tinha sido contratado bom que encontres outro trabalho e depressa disse ele chateado 133 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia XIII Quando era adolescente uma nova fam lia haitiana mudou se para uma casa ao fundo do quarteir o Conheci o filho deles Nicolas na escola Convidou me para ir para casa dele para convivermos e falarmos Eu aceitei o convite porque ele me fazia lembrar um pobre rapaz haitiano A pele dele era muito escura e isso parecia envergonh lo quando estava na presen a de brancos Num domingo tarde visitei o como pretexto para sair de casa Havia uma festa de anivers rio para a irm zinha dele V rios adultos estavam sentados l fora a saborear o licor de coco caseiro cr masse Nicolas serviu me um pequeno copo Pelas nove horas Mr LaFontaine pai de Nicolas pediu a um amigo para me levar a casa O homem tocou campainha de casa de Lise e esperou Lise abriu a porta Este jovem bebeu um pequeno copo d
106. transa o teria igualado o meu sal rio anual de 1 600 00 d lares Limpei a minha secret ria e abandonei a empresa levando comigo o nome dos meus clientes Regressei ao meu apartamento de efici ncia que tinha sido alugado no nome de um amigo branco porque o senhorio n o alugava a negros Pus as malas no carro e rumei para oeste para a Calif rnia Queria viver a porque tinha ouvido dizer que os californianos eram liberais e sofisticados Uma vez em Los Angeles percebi que era imposs vel arranjar um emprego na rea da exporta o Parecia que os neg cios preferiam qualquer outra ra a a negros J desesperado entrei numa loja de pneus e fui imediatamente contratado para montar pneus NT Quarto nico com uma zona de dormir e uma pequena cozinha no mesmo espa o e uma casa de banho 215 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia por quatro d lares por hora O trabalho era exigente para as costas O gerente da loja media a efici ncia dos novos trabalhadores com um cron metro A rapidez era mais importante do que a seguran a dos clientes Eu trabalhava cinco dias por semana com folgas quinta e ao domingo Um jovem vendedor negro na loja que por acaso estava procura de colega de quarto alugou me um quarto Ao final da tarde comecei a frequentar uma escola t cnica onde estudava programa o de computadores contando conseguir um emprego melhor numa daquelas grandes f
107. uns de forma passiva e outros de forma ativa este culto acabou tamb m por influenciar e marcar determinados momentos da vida de Jean Robert que s o descritos na primeira parte da obra referindo nomeadamente pr ticas sacerdotes e loas Para conseguir compreender e produzir uma tradu o correta foi realizada uma intensa pesquisa sobre o vodu e suas entidades sagradas As invoca es mais mencionadas na obra e por coincid ncia tamb m as mais respeitadas e importantes na cren a vodu s o as seguintes CAP TULO II CONTEXT UALIZA O HIST RICOCULTURAL APRESENTA O RELIGIOSA DO HAITI Ayida Ouedo representa o poder dos c us mulher de Damballa e como ele protetora c smica e concede b n os Damballa pai de todos os loas considerado o loa da cria o uma divindade simbolizada por uma serpente e surge associada sabedoria paz pureza benevol ncia inoc ncia e vida E venerado em quase todos os ritos Erzulie grande loa proveniente da Guin considerada a V nus do vodu vista como uma mulher selvagem independente dura e vingativa deusa do ci me do amor e da paix o por m maternal protetora de crian as e de mulheres que foram abusadas ou ent o tra das por um amante Estas invoca es diferem consoante o ritual que feito Legba o loa mais importante de todos simbolizado pelo Sol sendo este o primeiro e ltimo a ser invocado em cada sess o o p
108. A M traux citado por Amar Hamdani em Ritos e Segredos do Vodu explica que a palavra vodu tem origem numa tribo africana e significa Deus Esp rito ou Sua Imagem Verifica se uma rela o muito acentuada entre este culto tribal e a religi o praticada no Haiti tal como o comprovam diversos estudos lingu sticos Existem no entanto diferen as pois a religi o haitiana ainda durante a poca da escravatura sofreu bastantes influ ncias quer do Cristianismo que chegou a ser imposto a estes escravos quer de outros cultos africanos trazidos e praticados por escravos oriundos de distintos locais de frica O vodu pode afirmar se um exemplo de sincretismo religioso em que est o patentes as tr s grandes influ ncias acima referidas Esta religi o acabou por ter um papel importante na pr pria luta pela independ ncia haitiana Pessoas marcantes neste movimento revolucion rio como Bukman Toussaint Louverture e Dessalines eram conhecedores das pr ticas de vodu No caso de Louverture este praticava a medicina tradicional podendo conjugando a com a magia embora n o seja identificado como sacerdote Dessalines por outro lado praticava abertamente esta religi o venerando as entidades sagradas envolvidas denominadas por loas Um loa um esp rito divindade ou mist rio considerada capaz de interferir no curso da vida das pessoas atrav s dos seus poderes quando invocados Tal como a muitas outras pessoas
109. A corda rasgou me a camisa e a pele Rapidamente fiquei todo ensanguentado Berrei o mais alto que consegui na esperan a de que Florence interviesse mas n o o fez Denis ficou t o transpirado que teve de tomar um banho antes de sair Fiquei com tantas bolhas que n o me conseguia sentar confortavelmente numa cadeira e dormir de costas era ainda mais insuport vel 36 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Denis s me chicoteou duas vezes A segunda vez foi quando me apanhou a lavar o carro do vizinho Eu queria obter dinheiro para comprar material que usaria para fazer um papagaio de papel Denis ficou furioso porque o carro dele ainda n o tinha sido lavado Como que te atreves a lavar o carro de outra pessoa enquanto o meu est cheio de lama perguntou ele Foi a casa buscar uma extens o el trica Como n o a conseguiu encontrar pediu emprestado um chicote a uma fam lia que tinha dois restavecs Vais levar vinte chicotadas Cada vez que levantares as m os come o de novo disse ele Eu permaneci firme com os bra os pressionados de cada lado Cerrei os dentes e fechei os olhos Fazia caretas medida que contava cada golpe que atingia as minhas costas Depois do ltimo golpe ca de joelhos Vai ajoelhar te atr s da cadeira ordenou Denis Levantei me N o verti nem uma l grima Ao ajoelhar me na barra mais baixa da cadeira encarei Flore
110. A47 NORD Christiane Textanalyse und bersetzen Heidelberg Julieus Gros Verlag 1991 TYTLER Alexander Essay on the Principles of Translation 1791 VINAY J P e DARBELNET J Comparative Stylistics of French and English Amsterdam Philadelphia John Benjamins Publishing Company 1995 Obras de Refer ncia BERGSTR M M REIS N Prontu rio Ortogr fico e Guia da L ngua Portuguesa Lisboa Editorial Not cias 1988 Ciberduvidas Setembro de 2014 www ciberduvidas com CUNHA C Cintra L F Lindley Breve Gram tica do Portugu s Contempor neo Lisboa Edi es Jo o S da Costa 18 ed 2006 Enciclop dia de Povos e Pa ses Am rica do Norte Coordenador de edi o Sue Grabham Everest Editora Lda Janeiro 2000 Grolier International Encyclopedia Deluxe Home Edition Danbury Connecticut Grolier Incorporated 1991 Infop dia Enciclop dia e Dicion rios Porto Editora Setembro de 2014 http www infopedia pt Linguee Outubro de 2014 http www linguee pt Priberam Outubro de 2014 www priberam pt The Free Dictionary Outubro de 2014 www thefreedictionary com 56 REFER NCIAS BIBLIOGR FICAS S tios em linha consultados Conversor de moeda consultado pela ltima vez em janeiro de 2014 http www xe com pt Norma EU consultado pela ltima vez em agosto de 2014 http www babelia pt media norma en 15038 pdf Extremism in America consult
111. ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Ap s ter me sentado num lugar janela analisei os meus documentos de viagem Li o meu passaporte que mostrava que a minha data de nascimento era 15 de fevereiro de 1955 A data do meu bilhete de avi o indicava ser 15 de fevereiro de 1969 N o me ocorreu que era o meu anivers rio porque nunca tinha tido um 121 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia XII Durante o voo fiquei enjoado Eu n o sabia que os avi es tinham casa de banho Olhei para o compartimento de revistas minha frente e vi um lindo saco de papel branco com um interior met lico brilhante Pensei que era muito valioso Pu lo novamente no s tio Estava cheio de suores frios Senti me doente O avi o teve uma mudan a de altitude repentina impelindo o conte do do meu est mago para fora Retirei depressa todas as revistas do compartimento enfiei a minha cabe a l dentro e vomitei O passageiro ao meu lado pediu para se sentar noutro lugar Uma hospedeira muito perturbada escoltou me at casa de banho Depois de eu ter lavado a cara a mesma hospedeira acompanhou me a outro lugar e demonstrou me o que eu deveria ter feito com o saco Nessa noite o avi o aterrou no Aeroporto Internacional JFK Conduziram me at um funcion rio aduaneiro que pareceu surpreendido quando viu na minha mala um copo e um prato de lata velhos e amassados Florence e Den
112. Ao ver Adam nos bra os da av tocando lhe na face sorridente sentia me como uma v tima silenciosa de viola o Depois apercebia me que o Adam era tamb m ele uma v tima v tima da escravatura restavec Tivesse o meu antigo pa s abolido todas as formas de escravatura o tratamento da Florence para comigo nunca teria sido socialmente tolerado Talvez me tivesse tratado como um filho o Denis considerado um irm o e o Adam apreciado a companhia de uma av e de um tio do meu lado da fam lia A escravatura restavec intoler vel o pior crime imagin vel porque as v timas s o incapazes de enfrentar os seus predadores adultos tamb m um crime contranatura pois todos os direitos de vida de uma crian a pertencer crescer sorrir amar sentir aprender e ser crian a simplesmente s o negados precisamente por aqueles cujos antepassados foram tamb m eles escravos gt gt 229
113. Bobo a atar os p s a um c o no ch o perto da cabana da cozinha Maude e Th odore assistiam sentados num grande bloco de cimento O c o petrificado tinha a cauda entre as pernas e notavam se as costelas atrav s do p lo castanho O que que se passa O que que vais fazer com o c o perguntei Pilhou o galinheiro e eu vou ensin lo a nunca mais roubar ovos respondeu Ti Bobo num sorriso mal fico De repente a voz de Denis ecoou na minha cabe a Vou levar te at esquadra Isso vai ensinar te a nunca mais roubares Um arrepio percorreu me a espinha e por breves momentos vi me a mim mesmo atado no ch o em vez do c o Um ovo estava a ser cozido no fog o de tr s pedras no ch o do meio da cabana da cozinha Ti Bobo retirou o ovo cozido a escaldar da panela com uma grande colher de madeira e colocou a em frente ao nariz preto e frio do c o Depois obrigou o a abrir a boca com um pau enfiou lhe o ovo a escaldar e manteve a boca do c o fechada Enquanto o animal se debatia para se libertar a chiadeira abafada e os olhos em l grimas fizeram me tremer Depois de Ti Bobo o libertar o ovo quente saiu da boca O c o fugiu do quintal latindo dolorosamente Numa manh cedo um som percorreu o quintal Louis precipitou se para fora da casa e reparou que um dos porcos que ele andava a engordar tinha desaparecido Saltou para o cavalo com um machete e mandou me segui lo de bicicleta Ao aproxim
114. Eu culpava o meu p nis pelo meu problema de molhar a cama Pensei em cort lo para ver se parava Tive uma faca nas minhas m os bastantes vezes mas nunca consegui arranjar a coragem para levar a cabo a tarefa Amarrei o com uma corda numa v spera de Natal mas acordei antes do sol nascer com dores de barriga muito fortes Depois comecei a medir a quantidade de gua que bebia durante o dia e a quantidade que era expelida Tinha duas ta as iguais Uma estava guardada na cozinha e outra escondida num arbusto ao lado da casa Bebia por uma e fazia xixi noutra Eu pensava que se urinasse a mesma quantidade que tinha bebido durante o dia n o molharia os meus trapos Nunca percebi porque que a minha experi ncia nunca funcionou e tinha demasiada vergonha para falar sobre ela com a cozinheira No primeiro dia do ano crian as pobres e vendedores de rua conhecidos vinham at ao quintal pedir por trenne um presente de Ano Novo Normalmente recebiam alguns c ntimos No dia de Natal e de Ano Novo eu e a cozinheira com amos arroz e feij es com molho que sobrava da mesa em vez da usual comida de milho e partilh vamos uma garrafa de Coca Cola H NT can o popular francesa relativa o Natal 45 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Antes do p r do sol desse agrad vel dia 1 de Janeiro quando Emilie era beb vesti as minhas roupas limpas e segui a cozinheira at um grande campo ao ar li
115. Florence me tratava como um filho em vez de um restavec Simon deve chegar em breve Vai ficar feliz por te ver disse ela Eu acenei afirmativamente Simon era o filho mais novo de Gertrude Tinha vinte e poucos anos Tinha visitado Florence uns anos antes em Port au Prince A visita durou quase duas semanas Deslocara se todas as noites at aos meus trapinhos puxara as cal as para baixo e esfregara os seus genitais contra o meu corpo Ele sabia que eu era tratado como um restavec e tamb m sabia que n o me era permitido falar com Florence a n o ser que me dirigissem a palavra N o se preocupou que eu pudesse contar a algu m Se contares a algu m digo a todos que foi ideia tua tinha me dito Eu considerava o nojento e n o estava nada ansioso por voltar a v lo Simon estava sempre a tentar matar um beija flor chamado wangan gresse que em crioulo que significa po o m gica para mulheres Ele queria secar ao sol o p ssaro morto tritur lo at ficar num p fino e atir lo a mulheres bonitas Sempre que via uma rapariga bonita dizia 21 NT Rum 80 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Se eu tivesse um pouco de p wangan gresse Porque que n o vives aqui para poderes tomar conta da Avozinha perguntei Eu costuro o dia todo para ganhar a vida Se n o trabalhar todos nesta casa passam fome Simon um aprendiz de sapateiro Tudo o que ganha gua
116. Hum em cada golpe Tentou n o chorar mas as l grimas come aram a cair Depois o pai agradeceu ao professor por lhe emprestar o chicote e mandou o filho para o lugar dele N o o voltar a fazer disse o pai do rapaz enquanto sa a O professor sorriu abertamente molhou os l bios e fez sinal aos alunos para que se sentassem Ele come ou com os do s timo ano enquanto os do oitavo faziam revis es Qualquer aluno que tivesse erros ajoelhava se no canto frente da turma Antes do professor trabalhar com os do oitavo ano os alunos ajoelhados encurvaram as costas e enfiaram os pesco os entre os ombros at parecerem tartarugas O professor chicoteou cada crian a nas costas Aqueles que se atreviam a levantar as m os eram tratados com mais severidade Jean Robert Cadet vai ao quadro com o teu livro disse o professor 93 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia O meu cora o acelerou Disse me para resolver o problema de matem tica de uma p gina espec fica Depois de terminar o professor perguntou H erros A sala ficou completamente silenciosa Parecia que ningu m respirava Nem uma m o foi levantada Almajipe Bello vai ao quadro e corrige mandou o professor Almajipe sorriu a olhar para mim enquanto se aproximava ao quadro Eu dei lhe o giz e pus me de lado O meu cora o estava a bater fortemente Almajipe apagou alguns n meros e escreveu outra coisa
117. Kelly a chamar por mim Ei Cadet onde est s Fingi n o o ouvir Ele gritou novamente e mais alto Aqui respondi finalmente O que que se passa contigo Est s um bocado estranho disse J estou bem respondi O primeiro cabo Kelly parecia desapontado minha m e guardou algum jantar para ti Porque n o vais comer sugeriu Fui at a sala de jantar e comi o mais depressa que consegui Enquanto os homens viam televis o na sala de estar as mulheres estavam reunidas na sala de fam lia a conversar e a preparar a sobremesa Quando acabei de comer voltei para o exterior O primeiro cabo Kelly chamou me para voltar para dentro pela terceira vez Porque n o ficas c dentro connosco perguntou 180 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia N o sei Gosto de estar l fora respondi Anda l vamos para dentro Vamos comer a sobremesa agora disse me Quando entrei na sala de fam lia a minha presen a parecia ter transformado uma festa num vel rio Mrs Kelly tentou quebrar o sil ncio mostrando os lbuns de fam lia Senti me nu sentado em frente a todas aquelas pessoas Tremia e o suor escorria pelas costas abaixo Algu m me passou um lbum e eu mantive o no meu colo sem o abrir Pensei nos lbuns de Denis e Florence onde nunca vira uma fotografia minha Pensei no mulato a tirar fotografias a Emilie com o seu c o Enquanto Mr Kelly tirava fotog
118. NEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Ao que eu responderia men abrindo a boca para receber o Esp rito Santo N o imaginei uma rece o com um grande jantar numa casa cheia de amigos e familiares que me dariam presentes e dinheiro mas tinha a certeza que teria a minha Primeira Comunh o porque a minha escola cole du Canada estava a preparar um grupo de alunos para o sacramento Nesta altura eu teria entre oito e dez anos Durante as aulas aos s bados tarde estavam todos ansiosos para responder a perguntas e demonstrar os conhecimentos que tinham sobre a B blia e o catecismo Todas as aulas come avam da mesma forma Professor O que um catecismo Alunos Um catecismo um livrinho de onde n s aprendemos a religi o cat lica Professor Onde est Deus Alunos Deus est no C u na Terra e em todo o lado Professor Recitem os Dez Mandamentos de Deus Alunos N o adorar s outros deuses para al m de mim N o N o Todos respondiam a todas as perguntas e mandamentos em un ssono e com entusiasmo No final da aula contavam uns aos outros com olhos brilhantes o que que os pais tinham planeado para o jantar do dia da Comunh o Parecia que os pais de todos tinham estado a engordar ou uma cabra ou um peru Alguns falavam da sua ida ao alfaiate ou ao sapateiro 10 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de C
119. Quando que vais pingar outra vez O meu est mago roncou Em breve respondi perguntando me porque que ela estava t o zangada Vai para a sala de espera Quando achares que vais pingar outra vez vem c avisar me disse a enfermeira Sa e esperei Passados alguns minutos voltei para dentro para informar a enfermeira mas ela estava a ver outro soldado Fui casa de banho e aliviei me Em vez de puxar o autoclismo pus a tampa para baixo e esperei porta Quando o paciente saiu eu entrei para v la Enfermeira j pingou disse Est bem Agora baixa as cal as e deixa me ver disse a enfermeira N o est na sanita disse eu A enfermeira seguiu me at casa de banho 164 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Tenho mesmo que ver isto disse ela Est ali dentro disse eu a apontar para a sanita Ela levantou a tampa e deixou a cair Merda tu n o tens gonorreia tens diarreia Quem que te deixou entrar no ex rcito atirou me a enfermeira Fui encaminhado para outra sec o e deram me medica o Quando voltei ao trabalho na sede encontrei uma carta escrita m o na minha secret ria para ser datilografada Lia se Caros Mr e Mrs Williams Z E com um enorme pesar que vos informamos da morte acidental do vosso amado filho soldado John D Williams O soldado Williams era um soldado excecional qu
120. a Eu cobri me atrapalhadamente com a minha m o boa Tens uma m o m disse ela Levantou me a cabe a e olhou para Florence novamente Ele bom rapaz disse novamente enquanto apertava firmemente o meu dedo mindinho na sua m o Eu estremeci a dor era insuport vel Passado um pouco ela abriu a m o J te podes vestir agora O teu dedo vai ficar bom disse ela Eu vesti as minhas roupas e sa Antes de a semana terminar a minha m o estava curada Nessa noite as guas de Anne Marie rebentaram Monsieur Villard levou a de carro para o hospital Pouco depois teve um beb de 4 5 kg 69 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia IX Florence tinha viagem marcada Comprou v rias malas e mandou fazer v rios vestidos Estava muito entusiasmada mas eu estava preocupado N o fazia ideia do que ia acontecer e n o queria ser abandonado nas ruas como outros restavecs que j n o eram desejados Dois dos meus amigos restavecs tinham sido abandonados nas ruas ficando entregues a eles pr prios Os donos tinham vendido a casa e partido tranger para Nova Iorque Fizeram no sem tentarem encontrar as fam lias das suas crian as escravas e sem sequer se despedirem Fiquei com diarreia e molhava a minha cama todas as noites Florence j n o me batia desde o incidente na varanda Teria sido muito inconveniente para ela descer at ao quarto da empregada a meio da
121. a a correr at Lise Podes ir para as traseiras para ver televis o com o Bobby ordenou ela Oh n o Eu n o vou partilhar o meu bloco com uma rapariga pensei eu Anita aproximou se de mim e tentou partilhar o meu bloco Eu empurrei a Vai procurar um bloco de cimento para ti sussurrei lhe De repente lembrei me do meu amigo Ren Eu estava determinado a n o partilhar aquele bloco com uma rapariga de quem n o gostava Anita voltou para a cozinha e sentou se 31 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia num canto a olhar para a parede vazia espera de que lhe dissessem quando e onde deveria colocar a sua cama As onze horas desligaram a televis o Eu executei as minhas ltimas tarefas e fiz a minha cama no ch o da cozinha como era habitual Disseram a Anita para dormir na sala de jantar Fez a sua cama debaixo da mesa vestiu a sua comprida camisa de noite e deitou se na posi o fetal Um vestido antigo enrolado numa bola servia de almofada De manh enquanto recolhia a sua cama reparei numa grande mancha molhada no colch o dela Depois de estender o colch o no monte de rochas para secar secou tamb m o ch o Parecia que todos os restavecs que eu conhecia molhavam a cama Eu via os colch es castanhos molhados a secar ao sol da manh sobre rochas cercas e pequenos arbustos quando ia fazer recados Depois de alguns dias comecei a gostar mais de Anita
122. a com indiferen a enquanto girava a manivela da sua m quina de costura 2 NT Ditado em franc s 89 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Escreveste ao teu Papa perguntou me Sim respondi abandonando a casa para dar uma volta pelas aldeias vizinhas para procurar mangas ca das abacates ou outros frutos para complementar a minha alimenta o Mais uma vez nada encontrei Tinha fome e o meu est mago parecia ter um n No regresso a casa de Chelaine reparei num pequeno grupo de pessoas num quintal sentados em c rculo a cantar Eu avancei e reparei que todos estavam a descascar um cesto cheio de espigas de milho secas Estavam todos descal os Bonjour messieurs dames disse eu Bonjour responderam em un ssono Todos me olhavam curiosos O cheiro de comida chegava vindo de uma cozinha numa pequena cabana perto do po o de gua Eu queria duas espigas com as quais podia fazer pipocas mas tinha demasiada vergonha para pedir Eu gosto de descascar milho Posso ajudar perguntei nervosamente Podes ajudar se quiseres disse uma mulher nos seus trintas Sentei me pr ximo de uma menina pequena com cerca de seis anos e comecei a descascar milho Pouco depois a mulher foi at cozinha e come ou a distribuir a comida Chamou a menina que rapidamente voltou com um prato de papas de milho vegetais fatias de abacate e uma colher Entregou o prat
123. a com um cora o gentil a quem todos chamavam Avozinha Alc e Ela tinha um problema na perna esquerda o que a obrigava a coxear Eu estava ansioso por v la novamente porque as duas semanas que ali tinha passado tinham sido as melhores de sempre Ela assegurava se de que ningu m me fazia mal mesmo quando molhava os meus trapinhos Por vezes quando os vizinhos deixavam l ficar os beb s para a Avozinha tomar conta punha as crian as ao peito onde se acalmavam com o mamilo dela Recordei a sua casa Era uma cabana de estuque com dois andares com o telhado de lat o ch o de cimento um alpendre enorme e duas portas de azul ndigo No s t o guardava 1 s E sacos de arroz paddy abacates verdes e mangas Nas traseiras havia uma pequena quinta A sua horta de vegetais particular no lado este da casa estava meticulosamente 16 NT Arroz com casca 74 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia tratada A cozinha uma pequena cabana de barro coberta com palha ficava a uma curta dist ncia do pequeno alpendre das traseiras Um po o de gua cimentado e coberto ficava do lado oeste da casa Ao centro do enorme quintal estava uma frondosa rvore verde pejada de doces uvas de casta tinta Coloridos beija flores dan avam em sil ncio por cima de densas flores vermelhas de hibiscos perto de uma superf cie coberta de pedrinhas brancas Dos ramos de duas rvores sem folhagem pendiam centenas
124. a cozinha Eu obedeci ordem e com os joelhos nus no degrau de cimento cruzei os bra os Enquanto as duas mulheres falavam e riam no quintal eu tive uma vis o de Ren e 24 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia perguntava me se a Florence me iria ou n o levar pol cia para me espancarem Os meus pensamentos foram interrompidos subitamente com o arrulhar dos pombos que estavam na borda do telhado Ao observ los desejei poder transformar me de alguma forma num pombo e voar para longe Um sonoro Vem c vindo de Florence surpreendeu me Mademoiselle Claudette tinha acabado de partir Pus me lentamente de p pois os m sculos das minhas pernas estavam tensos Florence estava impaciente mexendo a sua cadeira de baloi o para tr s e para a frente Eu dirigi me lentamente at ela antecipando ser agarrado pela pele da barriga e levar v rios estalos na cara Permaneci de p indefeso sua frente com os l bios tr mulos e olhos lacrimejantes Ela cerrou o maxilar e rangeu os dentes Florence agarrou me entre as minhas pernas e segurou me pelos test culos com o polegar e o dedo indicador para evitar que eu me afastasse Quando estava prestes a cair de joelhos ela descal ou o sapato e acertou me na cara A ponta do tac o fez um corte profundo no canto do meu olho direito disseminando uma dor atrozmente agu ada em toda a minha cabe a Soltei um grito Florence s parou
125. a e recebi o tratamento de sempre Mas sempre que olhava para Florence lembrava me daquela noite em que a vira na cama com aquele homem Perguntava me uma e outra vez por que motivo ela teria permitido que ele a magoasse O homem voltava normalmente aos s bados noite O seu carro preto ficava sempre estacionado na rua em frente casa Depois de alguns momentos na sala de estar ele seguia Florence at ao quarto dela Homens diferentes vinham visit la quase todas as noites Para estes homens chamados Roland Albert Roger e v rios outros nomes eu era t o significante como um animal da fam lia Estava convencido de que aqueles homens eram respons veis pelo sangue de Florence e desejava poder impedi los de vir at casa Imaginei me a alvej los como os cowboys alvejavam os ndios nos filmes Como n o 22 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia havia armas dispon veis em casa fazia aquilo que estava ao meu alcance esvaziava o ar dos pneus dos seus autom veis 23 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia IV Numa quente tarde de s bado um t xi chegou com a Florence e a sua melhor amiga Claudette Estim a quem eu era frequentemente emprestado Ela era uma negresse de linda pele escura com os seus trinta e poucos anos que me fazia lembrar uma garrafa de Coca Cola gigante Por vezes quando a seguia at casa reparava em como b
126. a eu sem ti As suas palavras aqueceram me o cora o e fizeram me sentir desejado pela primeira vez na minha vida Senti orgulho de mim mesmo Ela pegou na minha m o e segurou a contra a sua testa ao mesmo tempo que l grimas deslizavam pela sua cara castanha e sedosa Eu fiquei assustado Nunca a tinha visto a chorar Os meus l bios come aram a tremer de emo o enquanto l grimas se formavam e ca am pela minha cara abaixo Pensei que Florence estava a morrer e perguntei me Para onde vou eu Preparei os meus trapos no ch o ao lado da cama dela olhando por ela sempre que podia Na manh seguinte a sua condi o tinha piorado Eu senti lhe a testa Estava com muita febre e os olhos continuavam fechados Salteei uma pequena cebola verde e tomate em azeite e fiz sopa com p o seco Ela n o comia Eu estava preocupado Corri como um rel mpago at ao nosso bairro anterior e fui cl nica Entrei no consult rio e pedi ajuda minha Maman est muito doente Est a morrer gritei com l grimas nos olhos Um m dico reconheceu me Era um velho amigo que tinha ido ao casamento de Denis e ao batismo de Emilie Quem a tua Maman perguntou me ele Madame Cadet s o rapazinho que tem ficado com ela Oui Agora vivemos noutro bairro respondi com os nervos em franja Vamos disse ele pegando na sua mala de couro preta Fui no banco da frente do carro e dei lhe a morada O doutor
127. a minha casa agora mesmo gritou Lise Eu fiquei estupefacto Fui at ao meu quarto silenciosamente fiz a mala e fui para casa de Nicolas Bati gentilmente na janela de Nicolas Nicolas abre Sou eu Bobby Nicolas abriu a janela Qual o problema perguntou Lise expulsou me repliquei O que que fizeste perguntou Levantei a voz s crian as respondi Subi pela janela e passei a noite no ch o do quarto de Nicolas De manh Mrs LaFontaine pensou que eu tinha ido buscar Nicolas Ia para casa de Nicolas para jantar todos os dias depois da escola Eu comia com ele quer numa pequena mesa na cozinha quer no quarto dele A fam lia presumiu que eu estava de visita Depois do jantar eu ia para a lavandaria estudar at s onze horas e depois voltava para o quarto de Nicolas pela janela Sempre que ouvia algu m a entrar no quarto rebolava para debaixo da cama de Nicolas Tomei banho numa noite j tarde Quando sa dei de caras com Mr LaFontaine O que que est s aqui a fazer N o tens casa perguntou Eles expulsaram me repliquei 139 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Bem n o podes viver aqui respondeu Eu vou buscar as minhas coisas disse eu a pensar ir para a lavandaria passar a noite N o precisas de ir agora Encontra outro lugar amanh disse ele De manh ouvi a fam lia a discutir a minha situa o e
128. a o beb de pele escura adormecido Oops exclamou levando a crian a novamente Passados cinco minutos voltou de m os a abanar Posso ver algum tipo de identifica o perguntou me Entreguei lhe a minha carta de condu o que ela comparou com ficha de Katrina assegurando se de que eu estava de facto autorizado a ir busc la Fui contratado pelas Escolas P blicas de Cincinatti no ano letivo de 1988 1989 para lecionar Franc s e Estudos Sociais numa escola secund ria Estava ansioso por ser um Mr Rabinowitz na vida de algumas crian as negras A escola que me foi designada localizava se num bairro de negros degradado Quando entrei no edif cio fiquei espantado A ampla rece o tinha sido pintada de fresco e as paredes estavam decoradas com bandeiras de quase todas as na es do mundo Tive a sensa o de estar a entrar no edif cio das Na es Unidas em Nova Iorque apesar de nunca ter l estado Quando os autocarros da escola come aram a chegar reparei que quase todos os alunos que desciam dos mesmos eram negros Depois disso vi que uma grande parte de crian as brancas era trazida escola pelos pais de carro Tinha de ensinar Hist ria Mundial a quatro turmas do sexto ano e Estudos de Ohio a duas turmas do s timo ano Em duas das minhas turmas do sexto ano todas as crian as eram brancas excepto duas Os alunos brancos estavam bem preparados em todas as turmas Faziam regularmente os trabalhos de
129. a o jardim das traseiras e dei pontap s s cadeiras Aaron ligou para as Emerg ncias O meu colega de casa est a dar em doido no apartamento N o sei o que que se passa com ele disse Eu sa e dei uma grande caminhada antes de a ambul ncia chegar Quando voltei para o apartamento pedi desculpa a Aaron que manteve as suas suspeitas em rela o a mim pol cia esteve aqui Assustaste me p O que que se passou contigo perguntou me Estava chateado com a minha m e respondi pensando em Florence Nessa mesma noite comecei a ter pesadelos em c mara lenta revivendo as partes horr veis da minha inf ncia que eu tinha descrito psiquiatra e voltei a molhar a minha cama Debatia me e tremia enquanto dormia e sonhava que era um rapazinho restavec perseguido por uma Florence gigante que andava nua empunhando um p nis e uma 191 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia vassoura Ela apanhava me Quando ela estava prestes a colocar um p no meu pesco o era acordado pelo meu pr prio grito O meu cora o batia excessivamente estando eu ofegante Nessa manh a caminho das aulas parei no escrit rio ROTC Gostaria de me inscrever para a forma o profissional disse Deram me um papel de candidatura e disseram me para voltar no mesmo dia e hora da sess o com a psiquiatra N o consegui decidir naquele momento se deveria suspender os tratamentos ou n o fre
130. a pela goela O sangue ainda escorria da faca quando ela largou a ave moribunda Em vez de ficar pousado o frango p s se de p Quando Matilda se baixou para apanhar a ave esta correu para o quintal Matilde chamou me para a ajudar Com o olho fechado de t o inchado percorri todo o bairro perguntando s pessoas se tinham visto passar uma galinha com o pesco o ensanguentado Algumas diziam Non e riam se enquanto outras diziam arrogantemente Se a encontrar vou com la Passado um bocado volt mos de m os vazias para uma Florence furibunda que despediu imediatamente Matilda descontando lhe do sal rio o pre o da galinha Ao fim da tarde depois de lavar os p s de Florence esta mandou me at casa de Claudette para fazer algumas tarefas dom sticas Lavei os pratos limpei a casa de banho e o p do quarto Claudette tinha preparado uma grande variedade de pratos carne de cabra frango feij o vermelho com arroz inhames pudim de milho pipocas e amendoins torrados Estes foram metidos em pequenas ta as de caba a de diferentes formas e tamanhos e colocadas meticulosamente numa grande esteira no canto da sala de estar Velas cintilantes reflectidas no ch o de mosaicos multicolores tornavam a sala misteriosamente sombria Um fumo p lido e cinzento de pauzinhos de incenso serpenteava pregui osamente at ao teto O cheiro de tafi um licor forte feito a partir da cana de a car parecia ficar de guarda entrada En
131. a te acolher at eu te mandar ter com Florence em Nova Iorque Eu continuei a olhar para ele pelo canto do olho at ele encostar a alguns blocos de dist ncia de casa dele Espera no carro disse ele Encaminhou se para uma senhora roli a de tez castanha sentada no alpendre da frente e beijou a em ambas as faces Depois de conversar com ela cerca de cinco minutos ele acenou me para que me juntasse a eles Esta Madame Laroche Vais ficar com ela at eu te mandar para Nova Iorque disse Philippe tirando a carteira Deu lhe alguns d lares beijou a novamente para se despedir e disse 112 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Vejo te daqui a duas semanas Ali fiquei observando em sil ncio o carro do meu pai ir embora Como te chamas perguntou Madame Laroche Chamo me Bobby respondi sombriamente Bobby qu perguntou me Bobby Cadet repliquei Oh o teu pai n o te deu o nome dele pois n o Bobby Cadet s uma vergonha para ele n o s Vais ficar aqui at ires para Nova Iorque Philippe t o bom homem Tens muita sorte disse ela Era uma casa com uma estrutura de madeira de dois andares e com canaliza o interna Segui a para o segundo andar com a minha caixa e ela disse me para a colocar por baixo da pequena cama de ferro Este o quarto do meu filho vais dormir aqui Vou p r um colch o no ch o para ti J r
132. a tentar quebrar um c rculo de drogas na caserna e agora a minha vida corre perigo respondi Tens ordens para abandonar imediatamente o Fort Lewis em Washington disse o comandante Depois daquele encontro comprei outro carro com o dinheiro do seguro e conduzi at Tacoma Washington 174 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia XVI No Fort Lewis em Washington apresentei me numa unidade n o a rea ou unidade de infantaria Vejo que tens forma o de secretariado disse o primeiro sargento ao analisar o meu ficheiro militar pessoal Sim meu Primeiro sargento respondi O Quartel General do Batalh o precisa de um secret rio S 2 Apresenta te ao tenente MckKay disse me Dirigi me ao Quartel General Cabo Cadet apresenta se ao servi o meu Tenente disse saudando o tenente O tenente McKay devolveu a sauda o Pareces perspicaz Cabo disse Obrigado meu Tenente repliquei No gabinete S 2 havia duas secret rias e um grande cofre O tenente atribuiu me a secret ria mais pr xima do cofre abriu o e entregou me uma pilha de documentos carimbados com Secreto Eu digo te como abrir e fechar o cofre disse o tenente Ap s a primeira semana aprendi a rotina do escrit rio e tomei o comando sempre que o tenente estava ausente Um dia depois da refei o um coronel entrou no escrit rio para o inspecionar Algo chamou a minha at
133. a viga de madeira Quando estava prestes a descer Gertrude ordenou que se despisse E bom que tires as tuas roupas Eu n o as lavo quando voltares para cima disse Gertrude Simon desceu nu enquanto todos esperavam debaixo da rvore Passado um bocado Simon emergiu a fazer caretas segurando a cabra com uma m o e cobrindo as suas partes ntimas com a outra Quer ele quer a cabra estavam cobertos de fezes 82 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Vai lavar te na pocilga ordenou Gertrude Depois de Simon se limpar na gamela dos porcos foi nadar no Canal Artibonite enquanto Gertrude dava banho cabra Quando voltei para dentro encontrei Simon na cama de roupa interior e de sapatos cal ados Deitei me na posi o fetal de costas para ele Simon apagou o candeeiro Fiquei desorientado pela densidade da escurid o Passado um longo momento Simon perguntou me se estava acordado Eu n o respondi Eu sei que n o est s a dormir Lembraste do que costum vamos fazer quando eu fui visitar a Tia Florence em Port au Prince continuou Eu fingi estar a dormir Ouvi Simon sair do div e rastejar na minha dire o Fiquei morto de medo Senti as m os de Simon a puxar para baixo os meus cal es Berrei com todos os pulm es e dei pontap s Simon depressa encontrou o caminho de regresso cama dele Gargalhou sonoramente depois tudo ficou pac fico Fui acordado pelo ca
134. acerdote e sacerdotisa ap s uma aprendizagem secreta muito lenta no final da qual t m de prestar provas N o praticam magia negra ao contr rio de um boko feiticeiro que n o concluiu a sua inicia o no vodu Hamdani A Ritos e Segredos do Vodu Lisboa Amigos do Livro 1981 pp 309 e 312 CAP TULO II CONTEXT UALIZA O HIST RICOCULTURAL APRESENTA O RELIGIOSA DO HAITI contextualizar o p blico portugu s pois as alus es ao culto vodu n o s o determinantes para a compreens o do enredo da obra J a investiga o da tradutora foi fundamental para o processo de tradu o da obra contribuindo para escolhas lexicais capazes de transmitir com rigor e efic cia o ambiente religioso vivido pelo autor CAP TULO I CONTEXTUALIZA O HIST RICOCULTURAL BREVE APRESENTA O DE ABOLICIONISTAS DA ESCRAVATURA NOS E U A Breve Apresenta o de Abolicionistas da Escravatura nos E U A Da mesma forma que a tradutora investigou as divindades do vodu e a import ncia delas na cultura e hist ria haitiana pesquisou tamb m sobre os abolicionistas referidos no ltimo cap tulo da obra Regressei a Tampa Apesar de estes nomes n o terem grande destaque na narrativa s o mencionados para que o autor possa defender a ideia de que a hist ria da aboli o da escravatura nos Estados Unidos tem sido manipulada omitindo se o papel desempenhado pelos escravos envolvidos neste processo mencionando apenas personalidades
135. aces Bonjour Papa disseram e deram me um aperto de m o Os g meos tinham me conhecido na minha ltima viagem at ao Haiti Philippe tirou um rolo de notas do bolso e distribuiu as quase todas pelos g meos Merci Papa disseram Tinham desistido da escola e viviam com a m e deles em P tionville um sub rbio rico a norte de Port au Prince Vemo nos mais tarde Papa disseram Est bem disse Philippe Ei Bobby queres vir connosco esta noite convidou um dos g meos Sim eu gostaria disso respondi Venho buscar te por volta das oito disse me Fiquei satisfeito pelo convite do meu irm o Philippe foi at ao quarto e mudou de roupa Vemo nos quando voltares disse ele 208 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Os g meos apanharam me por volta das oito no seu carro Um deles ofereceu me um cigarro e eu recusei N o obrigado n o fumo Os g meos entreolharam se e acenderam os cigarros Essa noite estava h mida e quente O fumo do cigarro estava a p r me mal disposto Se eu e os meus irm os nos dermos bem talvez o meu pai ultrapasse o meu cabelo carapinha e me aceite na vida dele Talvez at me d o seu apelido Depois disso serei algu m disse a mim pr prio Vamos a uma festa Bobby J tenho uma rapariga tua espera disse o que conduzia Oui merci repliquei a tentar enfiar a minha cabe a na janela para apanhar
136. acontecer consistiria na melhor forma de alertar o p blico portugu s para um drama que afeta muitos milhares de crian as e simultaneamente prestar homenagem for a de vontade e coragem do escritor que a muito custo conseguiu partilhar com o mundo a sua hist ria de vida verdadeiramente dif cil e cruel mas tamb m inspiradora e com uma forte mensagem de esperan a 0 CAP TULO I JEAN ROBERT CADET VIDA E OBRA CAP TULO I JEAN ROBERT CADET VIDA E OBRA BIOGRAFIA Biografia Jean Robert Cadet um antigo escravo do sistema restavec praticado no Haiti que na atualidade se dedica insistente e incessantemente ao combate desta pr tica dando o seu testemunho de sobreviv ncia e ajudando todas as v timas deste flagelo que a ele recorrem Restavec em franc s significa aquele que fica com e refere se a crian as desde a mais tenra idade at atingirem a maioridade que por quest es de pobreza ou abandono da pr pria fam lia s o adquiridas por outras das grandes reas urbanas do Haiti e s o posteriormente escravizadas mal tratadas e privadas na maioria das vezes do sistema educativo No futuro estas crian as tornam se maioritariamente prostitutas pessoas sem abrigo ou engraxadores de sapatos nunca conseguindo chegar a criar fam lias est veis ou a ter qualquer poder econ mico Filho de um homem rico de ra a branca e de uma mulher pobre de ra a negra Cadet foi dado com apenas quatro anos a
137. ado algo mais profundo Como ia ser colocada em Ohio sugeriu ao diretor que eu a substitu sse Fui contratado para a substituir no ano seguinte Sentia me genuinamente bem vindo visto ser o nico membro negro dos funcion rios Os meus colegas fizeram tudo o que estava ao seu alcance para me fazer sentir integrado 221 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Todos os meus alunos eram brancos com a exce o de Udey um rapaz do d cimo primeiro ano de pele escura proveniente da ndia Na minha opini o ele era o aluno mais inteligente da escola O pai dele era o m dico da comunidade primeira vista Udey era aceite pelos seu colegas As raparigas gostavam muito dele mas consideravam no apenas amigo para sua pr pria prote o Uma manh perto da cantina quando passei por um grupo de rapazes ouvi gritarem Ol preto Quando me virei ficaram todos calados Ao continuar o meu percurso para a sala gritaram preto outra vez De repente lembrei me do epis dio que Alvina Jefferson me tinha contado sobre a pequena rapariga branca que a seguia e a observava Quis responder aos rapazes mas senti que os professores deveriam ser um modelo para todos os alunos independentemente da ra a destes Tamb m sabia que qualquer tipo de retalia o resultaria na minha demiss o imediata Ignorei os rapazes e continuei at ao meu destino mas fui invadido por um grande des nimo Tinha perdido a
138. ado pela ltima vez a 25 de agosto de 2014 http archive adl org learn ext us kkk default html LEARN Cat Extremism amp LEARN S ubCat Extremism in America amp xpicked 4 amp item kkk US Department of Veteran Affairs consultado em 18 07 2014 http www benefits va gov gibill apply asp MRE Info consultado em 18 07 2014 http www mreinfo com us older mcis html The Military Order of the Purple Heart consultado em 19 07 2014 http www purpleheart org HistoryOrder aspx Black Past Remembered and Reclaimed consultado a 26 08 2014 http www blackpast org gah tonton macoutes USGS Science for a Changing World consultado a 26 08 2014 http earthquake usgs gov earthquakes eginthenews 2010 us2010rja6 News consultado pela ltima vez a 12 de janeiro de 2014 http www cbsnews com news the lost children of haiti 19 03 2010 The Jean R Cadet Restavek Organization consultado pela ltima vez a 2 de novembro de 2014 http www jeanrcadet org aboutus aspx BBC News consultado pela ltima vez a 12 de dezembro de 2013 57 REFER NCIAS BIBLIOGR FICAS http news bbc co uk today hi today newsid 8390000 8390444 stm USA Today consultado pela ltima vez a 2 de novembro de 2014 http www usatoday com story news world 2013 09 08 haiti anti slavery foundation 2782649 E Dicion rios de Termos Liter rios consultado pela ltima vez a 7 de setembro de 2014
139. aduzida para Sou agora um verdadeiro homem afroamericano apesar do meu sotaque das Cara bas faria todo o sentido que se mantivesse a coer ncia com esta afirma o e que o t tulo sofresse a sua derradeira altera o Restavec De Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia 44 CAP TULO III A TRADU O BREVE COMPARA O ENTRE TRADU ES Breve compara o entre tradu es Na fase final deste trabalho apresentada uma compara o entre a tradu o em portugu s na variante do Brasil facultada pelo autor da obra e a tradu o por n s realizada que se encontra em anexo comummente aceite que n o poss vel a realiza o de duas tradu es iguais Um s tradutor pode conseguir fazer m ltiplas tradu es do mesmo trabalho O produto final pode at nunca estar verdadeiramente do agrado do tradutor que poder sempre querer melhor lo O processo din mico evolutivo e construtivo e enquanto estiver a ser tratado pode ser sempre sujeito a modifica o Efetivamente duas tradu es da mesma obra em duas l nguas diferentes ainda que com a mesma base lingu stica o portugu s ser o obviamente muito diferentes e refletir o para al m de todas as diferen as estruturais e vocabulares das duas variantes todo o trabalho e conhecimento do tradutor quer sobre o tema quer sobre o p blico alvo E tal necess rio para conseguir saber se o texto necessitar de informa
140. alan ava as suas grandes ancas de um lado para o outro para parar o tr nsito Sempre que lhe davam boleia at casa eu era sempre deixado para tr s tendo de continuar o percurso a p Tal como Florence ela era amante de v rios homens influentes As duas mulheres sentaram se sombra da mangueira no quintal Bobby chamou Florence Em segundos apareci sua frente descal o com os bra os ca dos ao longo do corpo a olh la olhos nos olhos Traz nos a mim e a Mademoiselle Claudette um jarro de gua com gelo Eu respondi com um simples Oui e dei meia volta para obedecer s suas ordens Ao ir buscar os copos na ltima prateleira do arm rio um copo caiu e partiu De repente o meu cora o acelerou e comecei a tremer Comecei a ter suores frios O meu est mago desatou a fazer barulhos O que que tu partiste seu filho da m e berrou Florence Eu pus dois copos e uma garrafa de gua gelada no tabuleiro e levei o para fora para servir as duas mulheres Florence olhou para mim com fogo nos olhos e repetiu a pergunta O que que partiste U um co copo gaguejei a chorar N o me quero chatear agora Trato de ti mais tarde disse ela calmamente Coloquei o tabuleiro numa mesinha de a o perto de Mademoiselle Claudette Quando comecei a deitar a gua Claudette esticou se e tirou a garrafa da minha m o tr mula Vai te ajoelhar perto da porta disse Florence apontando para a entrada d
141. and Voluntary Work Confirming what has been mentioned above the present translation of this dramatic life story will awaken readers to new world problems taking them to a different from our time reality and overcoming linguistic and cultural barriers At the same time an analysis of the final product will be made focusing on the translation difficulties which appeared along the work and their solution supported by the many studies and theories that exist about this subject After a brief biography of the author and a short historical and cultural context both from Haiti and the book itself some theories of translation we used in this work are explored These theories guided the translator in the arduous task of being both a receiver and a cultural communicator Finally attached to this report there is the final product of our work the translation of the book itself Keywords Restavek Child Labour Translation Translator vi LC L ngua de Chegada LP L ngua de Partida NT Nota de Tradutor TC Texto de Chegada TCC Texto de Chegada Coloquial TCF Texto de Chegada Formal TP Texto de Partida TO Texto Original VPB Vers o em Portugu s do Brasil VPP Vers o em Portugu s de Portugal LISTA DE ABREVIATURAS vii NDICE Agradecimentos cciana RN REDE E RARA RSRS ARC E A NERO CAD ER DER PCR RE iii RESUMO rnern aO a a a a E E Ea S v ABSAGE e E ERRAR DER DOOR OTROS DR ERC NR vi Lista de Abreviat r S
142. ao reparar no sangue que jorrava desse lado da cara Corri em dire o cozinha Matilda molhou imediatamente em gua fria o seu avental de lona branco e segurou o por cima do meu olho limpando a mistura de sangue e l grimas da minha cara enquanto Florence desaparecia para o seu quarto para venerar os seus loas Incr dula Matilda abanou a cabe a dizendo Jesus Maria Jos De t o inchado o meu olho direito fechou Durante v rios dias apenas consegui ver com o meu olho esquerdo Naquela tarde de s bado Florence n o me chamou para ir massajar os seus p s Eu desejei que ela morresse durante a sesta mesmo sabendo que se morresse eu n o teria s tio para onde ir Para meu espanto a palavra maman tornou se me muito dif cil de pronunciar e cedo desapareceu do meu vocabul rio Naquela tarde Matilda executou as minhas tarefas e serviu me um prato de sopa de feij o vermelho com farinha de milho e um peda o de carne de cabra Depois de Florence acordar da sua sesta olhou para a minha cara com uma express o vazia Virou se para Matilda e disse P e o frango a marinar para amanh antes de ires embora Oui Madame respondeu ela prontamente 25 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Matilda p s gua a ferver numa panela e reuniu p ginas de jornais velhos para depenar a ave depois de a matar Desamarrou as patas da galinha depenou a por baixo do pesco o e deslizou a l min
143. aproximei me de Florence tentando transmitir a minha ansiedade sem palavras Florence pareceu ler a minha mente como fazia frequentemente M rit pas mand disse me em crioulo o que significa Aqueles que merecem n o perguntam Eu baixei a cabe a e afastei me a pensar que n o merecia a camisa porque fazia xixi na cama Nessa tarde veio um carro buscar a Florence Ela trancou a casa e deixou me no quintal at escurecer Quando os professores se aperceberam de que eu n o iria aparecer para o espect culo deixaram de me escolher para fazer os pap is Eventualmente repararam que eu era um restavec a quem apenas era permitido ir escola As cozinheiras tamb m pareciam gostar de mim s vezes encobriam os meus erros ou levavam com as culpas por causa de tarefas em que eu falhara Uma cozinheira em particular Matilda gostava muito de mim Ela submergia os meus trapos ensopados de urina num enorme balde de gua antes de Florence ter a oportunidade de os inspecionar Madame o menino n o molhou a cama dele estou a lavar lhe os trapos dizia ela s vezes depois de Florence me bater severamente Matilda dizia me Porque n o foges e voltas para a tua fam lia Eu dou te o dinheiro do autocarro e embrulho te alguma comida Eu ficava sempre confuso com esta sugest o porque n o me conseguia lembrar de ter outros pais ou de ter estado noutro lugar Ela j te disse alguma vez quem s o os te
144. ar como se estivesse minha espera Entrei hesitante Lise cumprimentou me com um sorriso que parecia genu no A rec m nascida de pele escura estava a dormir pacificamente ao lado dela Vieste ver Emilie Aproxima te mais disse ela Eu inclinei me sobre a cama e sorri para a beb adormecida Dei me conta de que n o tinha uma prenda para ela ent o ausentei me durante um momento pedindo desculpa e regressei com o meu bem mais precioso um carrinho de brincar que fiz a partir de uma caixa vazia de sab o em p e coloquei o ao lado de Emilie Lise sorriu mais uma vez A maternidade obrigara a a ver me temporariamente como um ser humano Porque n o tomas conta do carrinho por ela Agora ainda muito pequenina para o poder apreciar Eu sa com o brinquedo e coloquei o de novo na minha caixa de cart o As minhas novas tarefas de ferver biber es de beb lavar fraldas alimentar e tomar conta da beb mantiveram me longe da escola A minha rela o com Emilie era simbi tica Eu era como uma segunda m e para ela enquanto ela me protegia a pele Desde que me mantivesse perto dela n o me aconteceria qualquer dano f sico Em breve a prepara o para o batismo de Emilie estava em curso Lise queria que o padrinho fosse algu m influente o que era a sua forma de assegurar desde cedo vantagens sociais no futuro da sua filha Denis escolheu a sua m e como madrinha Preparou se um peru e convidaram se v rias pesso
145. ara casa para os meus pais Eu gostaria que ficasses com ele disse Philippe entregando a Florence um envelope com dinheiro Compreendo disse ela aceitando o envelope Ele despediu se e foi embora deixando me para tr s O problema de Philippe estava resolvido A minha m e tinha trabalhado numa das f bricas de caf de Philippe no sop das Montanhas Cahos no vale Artibonite Tal como os grandes blancs do passado distante que sabiam que o seu sangue corria nas veias das suas crian as escravas emancipando as e cuidando delas Philippe seguia a tradi o Talvez pensasse que Florence me daria uma vida melhor Angella gritou Florence Sim Madame respondeu a cozinheira aproximando se de Florence Toma conta deste rapazinho sim Arranja lhe alguma coisa para comer ordenou Angella pegou em mim ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Qual o nome dele perguntou ela Florence pensou por um momento e disse Bobby Florence n o queria mais um filho mas o acordo financeiro que tinha com Philippe era demasiado atrativo para recusar At aos seis anos dormi todas as noites numa pilha de trapos num canto do quarto de Florence como um animal dom stico A partir dessa idade ela obrigou me a dormir debaixo da mesa da cozinha Florence n o tomava conta de mim Desde que eu entrara no pessoal da casa v rias cozinheiras atendiam s minhas n
146. ara sair e procurar um autocarro chamado Deus Grande Se n o souberes ler pergunta a algu m disse ele Eu sei ler respondi ao pagar lhe A esta o de autocarros era um enorme parque lamacento sem passeio Parecia haver pilhas de lixo fedorento infestadas de moscas por todo o lado Vendedores ambulantes vendiam tecidos p o j desembalado cana de a car potes e panelas vestidos coloridos camisas sand lias garrafas de sumo de frutas e Coca Cola Os autocarros eram carrinhas enormes de caixa aberta preenchidas com bancos e pintadas com cores vivas Os tejadilhos estavam excessivamente carregados com baldes enormes e malas Com a minha caixinha de cart o firmemente segura caminhei pela parte da frente dos autocarros estacionados observando por cima do p ra brisas de cada um procura do nome Deus E Grande Li nomes como Em Nome de Deus Jesus Maria Jos Deus Est Em Todo O Lado S o Tiago Santa Virgem Maria S o Jos Deus O Meu Co piloto Deus Bom Santo Ant nio S o Miguel Nossa Senhora do Cabo e Av Maria Quando detetei o Deus Grande entrei e sentei me silenciosamente ao fundo do banco a imaginar me a caminhar pelas ruas e a carregar a caixa de engraxar sapatos enquanto fazia melodias tocando numa 73 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia pequena campainha Ao meio dia em ponto o motorista recolheu o dinheiro dos passageiros e partiu
147. armo nos de um pequeno campo de milho ouvimos um homem a gritar continuamente Criador de porcos tirei a minha parte Vem buscar a tua 104 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Pendurado num dos ramos de uma pequena mangueira beira da estrada perto da quinta estava o porco que pertencia a Louis Faltavam as duas pernas dianteiras uma perna traseira e a cabe a Enojado Louis abanou a cabe a e disse Aposto que o meu porco nem sequer comeu assim tanto da colheira dele para ele o matar Louis cortou a corda deixando cair a carca a no ch o Depois atou a parte de tr s do cavalo e voltou a casa com alguns c es a seguirem lhe o rasto O resto do animal foi cortado e mandado para o mercado O agricultor podia ter mantido o animal para resgate mas como era grande e gordo ficou mais satisfeito com a carne Se algum dos animais dele alguma vez se soltar e vaguear pelo meu quintal mato o disse Louis furioso 105 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia XI Uma noite j tarde fui acordado pelo som da chuva pesada a cair no telhado de lata Th odore dormia profundamente Louis discutia com a sua mulher De repente ouvi o som de um estalo Maude gritou Outro estalo outro grito Puxei lentamente a cortina para o lado para observar O pequeno candeeiro estava aceso sobre a mesa Ela estava presa por um Louis nu Deu lhe out
148. arroz branco e molho de feij o vermelho Que parte do frango queres disse ela N o sei repliquei porque nunca ningu m me tinha colocado essa quest o antes Senti me pouco vontade Maude serviu me uma perna e uma coxa juntamente com arroz e molho Ela sentou se e comeu comigo Senti me importante embora desconfort vel Bobby n o estejas nervoso Esta casa tua Considera me como a tua Aunt Maude assegurou me ela Eu estava sem palavras Comecei a transpirar enquanto saboreava a refei o deliciosa Quando o jantar terminou Chelaine entrou pelo quintal Honra gritou ela uma sauda o que as visitas utilizavam para anunciar a sua presen a quando entravam no dom nio de algu m Respeito respondeu Maude Eu vim aqui buscar Bobby disse Chelaine Ele quer viver aqui agora e eu quero que ele fique disse Maude Louis chegou ao quintal montado a cavalo minha tia Florence Cadet mandou o vir viver comigo e eu quero o de volta exigiu Chelaine Bobby vai passar a viver aqui agora E o que ele quer disse Louis a segurar no port o aberto para indicar a sa da a Chelaine Seu rapazinho ingrato Olha para tudo o que j fiz por ti assim que me pagas de volta Eu alimentei te e lavei te as roupas gritou Chelaine enquanto sa a do quintal Louis levou me para a sala para conversarmos Olhei em redor Havia um pequeno div um trans stor a pilhas um rel gio numa pequena
149. as A presen a de Emilie alterou toda a atmosfera da casa Era a prioridade de toda a gente Lise insistiu que se falasse franc s correto em vez de crioulo na presen a de Emilie Corrigia a minha gram tica sempre que eu fazia um erro e encorajava me a cantar m sicas francesas sua princesinha 43 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Lise preparou uma grande festa com jantar A Coca Cola foi nos entregue antes do tempo O padrinho de Emilie um mulato alto e bem vestido chegou com a sua m quina fotogr fica Outra convidada uma mulher de pele escura entregou me um c ozinho castanho para Emilie D lhe um pouco de leite pode ser pediu ela Eu deitei algumas sobras das papas Similac de Emilie que estavam no biber o para um prato para o c o e guardei outras para mim Denis Lise e Florence pareciam prestar mais aten o ao mulato do que a qualquer outro convidado Era sempre o primeiro a ser servido e na sua presen a falava se sempre franc s em vez de crioulo Ele era o centro das aten es Quando o jantar terminou foi posta uma mesa grande no quintal com gelado bolo e cr masse um licor de coco caseiro Lise tirou me Emilie Vai comer e volta depressa c para fora disse ela A cozinheira deu me um prato de sobras e partilhou comigo a Coca Cola que sobrava das poucas garrafas abertas Depois de comer sentei me num colch o grande longe dos convidad
150. aul perguntou ela Eu n o lhe disse nada Ela segurou me pela braguilha e apertou o meu p nis com o dedo indicador e o polegar O que disseste a Monsieur Paul repetiu ela apertando com mais for a Ele perguntou me se outros homens vinham c s vezes e eu disse oui respondi com as l grimas a rolar pela cara abaixo Nunca mais lhe digas nada est s a ouvir gritou ela enquanto continuava a beliscar e a puxar Oui respondi 50 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Vai para o inferno seu excremento de caca seu paneleirote berrou ela enquanto me dava estalos por toda a cara com a outra m o Quando Paul voltou da vez seguinte fingi que n o o vi Bonjour Bobby disse ele a sorrir Como Florence estava a ouvir disse bonjour sem olhar para ele Foram os dois para o quarto O velho Roland parou de visitar Florence enquanto Paul aparecia para almo ar e jantar Depois de cada refei o eles esgueiravam se para o quarto Quando ele n o podia ir almo ar Florence preparava lhe um cesto de piquenique completo com sumo de frutas e mandava me entreg lo em casa da m e de Paul juntamente com um pequeno envelope castanho com dinheiro A m e de Paul Madame Duval era a senhora idosa mais gorda que eu alguma vez tinha visto Ela fazia lembrar me um pi o gigante A parte de cima era desproporcionalmente pequena em rela
151. avam a agitada cauda enrolada pensando que os seus esfor os fariam com que o animal parasse de se debater O sangue foi temperado transformado em salsichas e servido com ovos mexidos ao almo o Todos comiam sentados num banco corrido por baixo da rvore enquanto os c es lutavam por pequenos peda os de porco A maioria da carne foi enviada para o mercado mas algumas partes foram preservadas em sal num barril para consumo di rio Todos os dias antes da grande refei o da tarde a vizinha Madame mile que estava gr vida do seu terceiro filho enviava uma ta a de comida Eu gostava de uma refei o em especial que era beringela cozinhada com porco acompanhada de arroz branco e molho de feij o vermelho Depois de dividir a comida pelas crian as a Avozinha lavava a ta a e colocava a a secar num cesto para pratos num monte de pedras perto do po o Mais tarde a Avozinha retribu a com um gumbo de galinha e batatas doces na mesma ta a de lou a azul do c u cujo dono nunca conheci Quando a parteira estava a fazer o parto do beb de Madame mile Monsieur mile Dorsaintville esperava nervosamente debaixo da rvore com os dois filhos pequenos Tit homme Pequeno Homem e Demi femme Meia Mulher Estes nomes foram dados s crian as pois ambos tinham nascido anormalmente pequenos Depois do parto Madame mile chamou sua nova beb que tinha nascido ainda mais pequena que Demi femme Nanpoint femme N o Existe Mulher
152. avec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia boa forma de ganhar dinheiro Sempre que J r me pedia privacidade eu cobrava mais dinheiro J n o era um cinto de castidade ambulante mas sim um pequeno proxeneta com um cliente exclusivo Durante um passeio tarde J r me levou Mademoiselle Marie Claire para sua casa enquanto os pais estavam ausentes Esperei c fora perto de um port o de trabalhado Passada quase uma hora o jovem casal saiu para continuar o seu passeio Reparei que J r me parecia mais bem disposto do que o costume Sempre que tinha uma oportunidade ia observar a casa do meu pai ficando do outro lado da rua a observar as pessoas a entrar e a sair Num domingo tarde quando n o havia carros entrei no quintal N o s aquele jovem que eu vi a falar com Monsieur S bastien perguntou a criada Oui disse eu s filho dele perguntou me Oui respondi Vamos para dentro Vou levar te a conhecer a tua av disse ela Segui a governanta at um quarto onde estava uma senhora idosa branca p lida e fr gil sentada numa cadeira de baloi o O seu cabelo era branco como algod o Grandm re este jovem seu neto disse a empregada Onde est ele perguntou ela procurando com as m os enquanto os seus olhos de avel permaneciam fixos Segura lhe a m o cega disse a empregada Eu estendi a minha m o e ela agarrou a firmemente Quem s Como
153. bo Kelly enquanto a psiquiatra me ouvia atentamente Conta me algo sobre a tua inf ncia pediu me Quando eu era um restavec no Haiti nunca me deixavam estar na sala de estar a n o ser para limpar o p ou o ch o comecei Como ela n o sabia o significado da palavra restavec eu expliquei lhe como funcionava o sistema A medida que a sess o continuava a psiquiatra come ou a fazer mais perguntas O que mais te obrigava ela a fazer perguntou me 190 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Uma vez por m s ela trancava me na casa de banho e fazia me lavar os trapos que ela utilizava para o per odo continuei Nessa altura ela estava boquiaberta O que mais Eu n o sabia de onde vinha o sangue Pensei que ela ia morrer disse eu com as l grimas a enevoar a minha vis o A psiquiatra tirou um len o limpou os seus pr prios olhos e entregou me a caixa Quero que voltes daqui a tr s dias disse me e tomou nota da data da sess o seguinte Mudei me para uma moradia mais pr xima da USF Quando entrei em casa o meu colega de casa Aaron um aluno estrangeiro estava ao telefone Ouvi o a dizer Tamb m te amo M e Algo dentro de mim despertou subitamente Tirei a mochila dos ombros e atirei a com raiva contra a parede atirando um quadro ao ch o Qual o teu problema p gritou Aaron Fui para a cozinha a gritar Atirei tachos e panelas par
154. carejar dos galos Os meus p s estavam doridos As ratazanas tinham mordido os meus calcanhares Fiquei deitado at os raios de sol se infiltrarem pelas frinchas nas janelas fechadas de madeira A aus ncia do cheiro do caf da Avozinha era not ria Senti me esmagado com o peso da dece o Algu m abriu a porta das traseiras Era Gertrude Eu esfreguei a minha escova dos dentes em sab o e fui l fora com um copo de gua para lavar os dentes Simon n o tinha uma escova de dentes Mergulhou os dedos molhados em cinzas da cozinha esfregou os dentes e passou a boca por gua Bonjour Tia Gertrude disse Pareceu surpreendida por me ver Tinha um aspeto doentio e mal nutrido Faltavam lhe os dentes da frente e tinha os olhos raiados de sangue Verteu gua de um copo para a m o e lavou a cara Como est s perguntou com um sorriso que teria assustado uma crian a pequena Evitei a o mais poss vel porque ela estava sempre a falar alto consigo mesma Chelaine chegou com um cesto Trouxera sopa de p o com tomate e caf Alimentou a Avozinha e voltou para casa comigo Chelaine vivia numa casa de barro de uma s divis o com um teto de palha e um ch o sujo onde cabia a sua cama uma pequena mesa e duas 83 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia cadeiras A cozinha separada da casa era constitu da por quatro pilares com duas folhas de metal enferrujado como telhado N o tinha latr
155. casa Podes indicar me a dire o perguntou me Acenei afirmativamente e indiquei o caminho at casa de Madame Laroche Ele encostou e ajudou me a sair do carro Ele serviu se de algum rum e ficou b bado disse o motorista a Madame Laroche 116 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Est bem obrigada por traz lo de volta Vou cuidar dele disse ela enquanto o motorista se afastava Levou me at casa de banho pelas orelhas for ou me a entrar no chuveiro e ligou a gua Depois tirou me de l e p s me de joelhos Ela subiu rapidamente pelas escadas acima pegou num cinto de couro e chicoteou me sem miseric rdia O teu pai um homem t o bom Como te atreves a ir at casa dele e a envergonh lo a ele e fam lia dele dessa forma N o sabes a sorte que tens por teres um pai assim Philippe um santo disse ela Philippe veio buscar me num fim de manh quando o sol ainda n o estava muito quente num VW preto Vesti os meus cal es caqui limpos uma camisa axadrezada azul de manga curta meias brancas e o meu nico par de cal ado umas sapatilhas de lona branca Sentei me nervosamente a seu lado e de vez em quando olhava para ele pelo canto do olho Guiou at uma parte da cidade perto de uma est tua enorme representando um homem negro a soprar numa concha Nos bra os e tornozelos da est tua viam se penduradas correntes e algemas Philippe estacionou
156. casa e tudo o resto que era esperado Os alunos negros no entanto eram o oposto com exce o de uma meia d zia Lutavam nos corredores gritavam palavr es chamavam se nigga uns aos outros e passavam menos tempo nas salas de aulas do que os seus colegas brancos Iam constantemente casa de banho ou ao conselho executivo para serem repreendidos pelo assistente da diretora Depressa soube que o distrito escolar estava sob mandado judicial de desagrega o As decora es a mudan a do nome de Warner Middle School para Academia de L nguas Estrangeiras e a imers o total em programas de l ngua estrangeira tinham sido criados para atrair estudantes brancos da classe m dia Enquanto o edif cio era desagregado a maioria das salas de aula n o o era E enquanto v rios pais negros acreditavam mesmo que os seus 225 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia filhos teriam uma educa o melhor se se sentassem perto dos brancos alguns pais brancos pediam que os filhos fossem colocados preferencialmente em turmas com poucos ou at mesmo sem alunos negros Todas as sextas feiras tarde um grupo de professores brancos convidava me para me juntar a eles num restaurante local para uma happy hour Disseram me que eu era diferente dos outros negros Costum vamos discutir sobre a falta de lideran a da diretora e da sua recusa em disciplinar as crian as negras Os poucos professores negros referiam se a
157. casa vizinha As duas estavam sempre a falar sobre os Kennedy quando eram pagas ao final do m s N o vais acreditar no que se passou no tap tap pequeno autocarro enquanto regressava do mercado come ou ela Podes sentar te N o est ningu m em casa disse a cozinheira vizinha Enquanto as duas mulheres estavam sentadas no alpendre da frente eu pus me de c coras ao lado delas para ouvir o que tanto tinha assustado a minha cozinheira adulta O condutor do tap tap passou por cima de um buraco salpicando lama um carro preto com chapas de matr cula oficiais Quando se apercebeu do que fez parou para pedir desculpa Quando estava a limpar o carro com o seu len o o Tonton Macoute puxou do rev lver e deu lhe um tiro na cabe a Ele caiu como um saco de carv o Toda a gente saiu e fugiu temendo pelas suas vidas disse ela ainda a tremer Passado um longo bocado um t xi trouxe a senhora da casa e todos regressaram ao trabalho Um dia descobri que Denis n o tinha vindo para casa e que o carro n o estava l para ser lavado Lise e Florence estavam a jantar sem ele algo que nunca tinham feito antes 13 A NT A baixo Duvalier em franc s 47 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Onde est o Monsieur Denis interrompi a cozinheira que estava a falar com a empregada da casa ao lado sobre algu m conhecido que vestia um Kennedy
158. cess vel a tradutora assumiu a responsabilidade de definir quest es que n o seriam t o facilmente descobertas pelo leitor deixando lhe a liberdade de fazer as suas pr prias 45 CAP TULO III A TRADU O BREVE COMPARA O ENTRE TRADU ES pesquisas Para al m disso assume se que o p blico alvo detentor de um certo n vel de cultura geral que lhe permite compreender as realidades apresentadas sem a interven o quase paternalista do tradutor Voltemo nos para o cap tulo XIX Regressei a Tampa onde s o enumerados os nomes de v rios escravos que s o hoje em dia personalidades hist ricas que se opuseram e lutaram contra o sistema esclavagista O pr prio autor explica na sua obra quem foram essas pessoas e portanto a tradutora da vers o em l ngua portuguesa achou por bem n o retirar o foco do texto central para referir uma mini biografia de cada um deles ao contr rio do tradutor da vers o em portugu s do Brasil que optou por fazer uma apresenta o de cada uma das personalidades referidas em NT Esta tradutora considera que apesar de a inten o do colega tradutor ter sido boa a mancha gr fica com tanta informa o distrai o leitor e desvia o da mensagem principal visto que o pr prio autor n o d muita nfase a estas personalidades pois apenas menciona os nomes para concluir uma ideia desenvolvida anteriormente Nos dois casos seguintes um relativo a um programa televisivo da poca e outro
159. ci Emilie diz ao Pap e Vov que o pequeno almo o est pronto mandou Lise 125 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Sentaram se todos Em cima da mesa havia torradas ovos mexidos bacon caf sumo de laranja e leite Lise serviu as crian as e os adultos serviram se Senti os meus bra os demasiado pesados para os levantar e me servir Com licen a disse levantando me da mesa Fui casa de banho e sentei me na borda da banheira enquanto todos terminavam Depois levantei a mesa e comi o que sobrou de p em frente banca Lavei os pratos e guardei os Durante as refei es seguintes eu ficava no meu quarto at todos sa rem da mesa A minha velha rotina estava retomada Segunda feira de manh Denis e Lise sa ram para trabalhar Denis trabalhava num banco como respons vel pelos empr stimos e Lise trabalhava ali perto numa f brica de carimbos Florence trabalhava das quatro at a meia noite em Letchworth Village uma institui o para doentes mentais Alix o irm o mais novo de Lise que trabalhava na mesma ala que Florence veio visitar nos Trouxe me um saco de roupas de inverno em segunda m o e entregou mo Tinha me conhecido quando era um restavec no Haiti O Bobby tem de ir escola Neste pa s ilegal impedir um menor de frequentar a escola disse ele Podes lev lo por mim perguntou Florence Sim mas ele precisa do passap
160. cia estar a arder O sal do meu suor fazia com que as minhas feridas picassem como abelhas Antoine estava a ficar impaciente comigo J tinham passado quase tr s semanas desde que lhe tinha dito a ele e a Chelaine que tinha escrito ao meu pai a pedir dinheiro Porque n o escreves outra carta e a d s ao Louis Ele compra caf ao Blanc Philippe e vai a Port au Prince a cada duas semanas disse Chelaine Os meus olhos iluminaram se Onde que ele vive perguntei nervosamente Depois de Chelaine me dar a morada de Louis corri pelo quintal do vizinho at rua Depois de correr cerca de duas milhas encontrei a casa Abri o port o pintado de fresco e entrei Era um local muito mais agrad vel do que a casa da Avozinha S a cozinha era bem maior do que a cabana de Chelaine O po o estava tapado com cimento O roncar dos porcos o cacarejar das galinhas e o balir das cabras preenchiam as traseiras Um rapaz com cerca de oito anos saiu pela cozinha Aunt Maude est aqui algu m gritou 96 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Uma mulher de tez castanha com cerca de um metro e meio com um vestido novo e sand lias saiu para me cumprimentar Antes que eu pudesse emitir uma palavra ela exclamou Tu deves ser Alfrenold Non o meu nome Bobby respondi pensando que tinha ido parar casa errada Tu deves ser filho da falecida Henrilia Brutus a tua mama deu
161. cidido a tornar me um oficial do ex rcito Por esta altura os meus tr s anos no ex rcito aproximavam se do fim Fui chamado ao gabinete do primeiro sargento para uma conversa sobre realistamento Se te realistares por mais quatro anos o Tio Sam d te um b nus de dez mil d lares e promove te a sargento disse o primeiro sargento N o fazia ideia de quem era o Tio Sam mas tamb m n o queria saber Eu quero ir para a universidade para me tornar um oficial disse lhe Vais tentar os ROTC perguntou o primeiro sargento Sim respondi sem saber o que queria dizer ROTC Por vezes era gozado na caserna porque nunca tinha tirado qualquer licen a nem sequer nas f rias Ei Franci queres vir comigo passar o dia de A o de Gra as A minha m e uma excelente cozinheira Vais ter a oportunidade de conhecer a minha fam lia disse vaidoso o primeiro cabo Kelly Aceitei o convite e fomos at Oregon numa fresca tarde de quarta feira N o fiquei preocupado por ir para casa de algu m e passar l a noite visto que j n o molhava a cama h muito tempo Em casa dos Kelly dormi numa cama extra no quarto do primeiro cabo Kelly A fam lia dele era calorosa e amig vel Mrs Kelly tinha andado ocupada a cozinhar e a fazer bolos O aroma a tarte de ab bora e a alho enchia a casa A r dio transmitia m sica country Sempre que Mrs Kelly passava pelo filho havia um sempre contacto uma car cia na cabe a
162. cinema ou pintura Dos tr s tipos acima mencionados o que se enquadra melhor no contexto desta an lise a tradu o interlingual pois engloba precisamente a transposi o de uma LP para a LC atrav s de todo um processo de cria o e transforma o que o tradutor produz depois de se assumir como leitor e int rprete e apreender a verdadeira ess ncia do texto de partida N 0S CAP TULO III A TRADU O AN LISE ENQUADRAMENTO TE RICO Mais tarde este ltimo ponto refor ado por Mounin 1963 278 quando afirma que a experi ncia pessoal incomunic vel na sua unicidade O que quer dizer que por mais que algu m neste caso o tradutor queira transmitir as viv ncias do escritor ao leitor ningu m sentir o mesmo vivido pelo relator at porque duas pessoas nunca sentir o exactamente o mesmo em situa es id nticas pois h toda uma s rie de condicionantes em termos individuais psicol gicos e sociais que influencia cada qual a sentir se de determinada forma Contudo continua Mounin 1963 278 no tocante s situa es partilhadas pelo emissor e pelo receptor ou pelo autor e o tradutor a comunica o poss vel Nesta perspetiva defende se que poss vel haver uma tradu o onde se tenta expor uma situa o e suscitar no leitor uma sensa o semelhante sentida pelo escritor sabendo se partida que a rea o nunca ser absolutamente igual Neste projeto procuramos que exi
163. costado parede estava um arm rio de mogno de duas portas aberto Estava decorado por dentro com coloridas imagens religiosas de pessoas brancas A imagem que mais se destacava era o que parecia ser um elegante cavaleiro romano a lutar com uma espada contra uma serpente de muitas cabe as Os poucos convidados de Claudette na sua maioria homens de pele escura sentaram se em cadeiras ao longo da parede limpando com len os vermelhos as suas testas suadas No centro da sala estava Claudette a cantar uma can o sobre Saint Jacques Majeur ea dan ar como uma marioneta Depois caminhou pela sala cumprimentando cada convidado com um aperto de m o firme Pegou numa garrafa de rum da esteira e deitou v rias gotas em cada canto da sala enquanto murmurava os nomes dos seus loas 9 NT S o Tiago Ap stolo o Maior equivalente ao loa haitiano Ogou 26 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Depois do ritual olhou casualmente para o meu olho ferido e mandou me limpar o ch o Colocou algumas ta as de comida num saco de papel castanho caminho de casa p e estas ta as na encruzilhada onde a estrada n o tem pavimento disse ela Vim me embora com o saco O c u n o apresentava nuvens e as ruas desertas estavam iluminadas por uma lua cheia excessivamente brilhante Corri e andei um pouco at chegar ao cruzamento escolhido dist ncia o r tmico tam tam de um ta
164. dar um passeio procurando de rvores de fruto e observando agricultores que a cavalo regressavam do mercado s suas quintas Antes de a escurid o cair fui nadar para o Canal Artibonite e regressei ao quintal da Avozinha Sentei me na beira do po o com a cabe a para baixo a visualizar uma Avozinha Alc e saud vel A lua estava cheia o quintal vazio e o meu peito sentiu se oco por dentro Pensei na poca em que todos se sentavam c fora num c rculo antes da hora de dormir a comer milho torrado a contar adivinhas e hist rias tradicionais sobre loups garous e sobre dois amigos chamados Bouki e Malice Chelaine e Antoine eram plac um acordo socialmente aceite em que um homem sustenta uma mulher providenciando lhe uma casa e ela devolve lhe o favor comportando se 84 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia como se fosse sua mulher provavelmente um legado dos grandes blancs que costumavam ter escravas mulatas como concubinas A maioria dos homens casados tinha um acordo assim Homens solteiros com recursos eram por vezes plac com duas ou tr s mulheres A maioria das mulheres casadas aceitava este costume porque detinham algum controlo financeiro nos neg cios dos maridos 85 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia X Antes do final da semana perguntei a Chelaine se podia ir viver com ela em vez de dormir em casa da Avozinha Porqu
165. das as idades chegavam e esperavam na sala de estar Bobby traz uma esfregona disse Florence Uma crian a tinha entornado a sua bebida Ao entrar na sala de estar segurando a esfregona observei o rapaz de tez escura que provavelmente teria a minha idade e os nossos olhos encontraram se por breves momentos Admirei a sua camisa branca o fato azul e os sapatos pretos brilhantes A express o facial do menino indicava que o meu odor tinha acabado de ofender o seu nariz Senti me desconfort vel e deslocado A minha camisa estava suja e faltavam lhe bot es Os meus cal es caqui imundos tinham uma n doa desde o gancho at o cinto e as minhas n degas estavam expostas Fiz tr s incurs es at sala de estar para limpar derramamentos e de cada vez retirava me de costas a olhar para o ch o de forma a assegurar me de que ningu m tinha um vislumbre do meu derri re Depois retomava o meu lugar no canto da cozinha espera da pr xima chamada Os noivos entraram Eu levantei a cabe a e apercebi me pela primeira vez de que os convidados estavam aqui para celebrar um casamento 28 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Depois de todos se irem embora Florence guardou o resto do bolo e dos hors d oeuvres Eu voltei sala de estar por ordem de Florence e retirei os pratos de papel de cima da mesa Agarrei em restos de fatias de bolo e atirei os furtivamente para a minha boca o
166. de francesa mas n o utilizado como diminutivo Numa tradu o fiel Francesinho n o faria Justi a ao que o autor queria transmitir mas ao mesmo tempo deixando a palavra na LP tamb m n o teria o impacto necess rio no p blico alvo portugu s At que posteriormente o termo Franci surgiu numa conversa com uma professora de Portugu s Franc s o que se adequa perfeitamente neste caso cujo significado com sentido depreciativo pessoa de nacionalidade francesa Dicion rio Infopedia Porto Editora O tradutor da vers o em portugu s do Brasil optou por manter o termo como no TO Frenchy pois provavelmente n o existir um equivalente depreciativo reconhecido nessa l ngua para identificar algu m de nacionalidade francesa Existe uma outra diferen a no n vel de vocabul rio cal o utilizado entre as duas tradu es Na tradu o da vers o em portugu s do Brasil o tradutor optou pelo uso expl cito de cal o nos di logos insultuosos enquanto a tradutora da vers o em portugu s europeu substituiu as express es mais grosseiras por outras Tal justifica se devido intensidade diferente que express es com cal o t m em cada uma das culturas envolvidas 48 CAP TULO III A TRADU O BREVE COMPARA O ENTRE TRADU ES nesta obra Na vers o em portugu s europeu o cal o p de ser substitu do por outras palavras que apesar de significarem o mesmo acabam por ser mais neutras quanto
167. de Port au Prince Depois de um longo percurso a estrada come ou a ficar com buracos fazendo com que os passageiros se inclinassem de um lado para o outro e balan assem nos seus lugares Ao passar por v rias aldeiazinhas de pequenas cabanas de barro o motorista parava por vezes para deixar passageiros ou para evitar embater em vacas cabras ou burros Crian as nuas negras como carv o com nariz moncoso olhos brancos e ventres protuberantes acenavam ol e adeus em nuvens de poeira excitadas com o barulho do escape do autocarro Numa paragem alguns passageiros compraram aos vendedores ambulantes comida cozinhada e servida em folhas de bananeira verdes Alguns comiam com os dedos enquanto outros partilhavam uma colher abanando a ao pass la aos outros Bebiam de garrafas e de pequenas caba as e limpavam a boca com a parte de tr s da m o Eu n o comprei nada apesar do cheiro de cebolas verdes fritas me agu ar o apetite Quando o autocarro come ou a andar novamente o cheiro a comida e os fumos causaram me indisposi o Num suor frio eu pus a cabe a de fora para vomitar Ningu m me prestou aten o Pelas seis horas da tarde comecei a reconhecer algumas marcas familiares da terra A irm e m e de Florence viviam a uns minutos de dist ncia de uma enorme igreja de pedra na pra a da cidade de Petite Rivi re H quatro anos Florence tinha me trazido para passar duas semanas com a sua m e uma mulher j idos
168. de espigas de milho seco em aros de arame farpado Nas imedia es da latrina havia currais para porcos e cabras Dois burros e uma mula descansavam perto de um arbusto As galinhas andavam soltas procura de sementes para alimentar os pintainhos acabados de nascer Um enorme c o castanho estava pregui osamente deitado espera do cheiro a comida antes de se mexer Quando eu estivera de visita a Avozinha Alc e n o tinha nem frigor fico nem r dio nem sequer um rel gio Todas as refei es tinham sido cozinhadas em cima de madeira em chamas e ela tinha no o do tempo lendo as sombras no ch o Pensar na Avozinha fez me sorrir Lembrei me de que uma vez durante a minha ltima visita cedo numa manh antes de os galos come arem a cantar acordei com a urgente necessidade de utilizar a casinha exterior Estavam todos a dormir sonoramente Eu abri a fechadura da porta muito devagar e sa Estava escuro e eu assustado Sem conseguir ver a casinha dist ncia a que me encontrava agachei me ao lado da casa perto do jardim da Avozinha aliviei me e voltei para a cama Pouco depois fui acordado pelos barulhos familiares das atividades matinais e com o forte aroma do caf da Avozinha Permaneci deitado e preocupado a pensar no que tinha feito porque ela tinha um grande esmero em manter o jardim limpo Todas as manh s antes de varrer volta da cabana da cozinha ela tirava gua do po o e vaporizava o quintal para limpar o p
169. de me agradecerem a mim pelo meu servi o diziam sempre Diz Madame Cadet que eu agrade o Eu preferia estar na escola em vez de ser emprestado mas preferia ser CAP TULO III A TRADU O AN LISE ENQUADRAMENTO TE RICO was routinely punched in the gut slapped in the face tugged by the ears and pinched in the groin by Florence p g 11 emprestado a estar em casa onde era rotina Florence dar me murros bater me na cara puxar me as orelhas e beliscar me nas virilhas p g 14 I stood helplessly in front of her with quivering lips and watery eyes She locked her jaw and ground her teeth Florence reached between my legs and held me by the testicles with her thumb and index finger preventing me from pulling away As I was about to drop to my knees she removed her shoe and struck me across the face The spiked heel made a deep cut in the corner of my right eye sending a very sharp pain through my head I let out a scream Florence stopped as she noticed blood oozing from the side of my face p g 19 Permaneci de p indefeso sua frente com os l bios tr mulos e olhos lacrimejantes Ela cerrou o maxilar e rangeu os dentes Florence agarrou me entre as minhas pernas e segurou me pelos test culos com o polegar e o dedo indicador para evitar que eu me afastasse Quando estava prestes a cair de joelhos ela descal ou o sapato e acertou me na cara A ponta do tac
170. de mim quando eu corri atr s dos carros e passaram o resto da tarde a zombar de mim J n o sabes que o sangue mais espesso do que a gua disse uma das empregadas 71 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia N o interessa o tempo que estiveste com ela s um restavec Os netos v m sempre em primeiro lugar disse outra Eu ignorei as Preparei a minha cama e deitei me A noite j ia avan ada quando ouvi o carro de Monsieur Villard chegar entrada O meu cora o come ou a acelerar Espero que eles mudem de ideias e me deixem ficar sussurrei eu Ao nascer do dia acordei com um plano Pensei que se trabalhasse o mais que conseguisse Anne Marie me deixaria ficar Ent o lavei o carro o melhor que consegui varri o quintal e limpei com uma esfregona todo o primeiro andar De seguida fui para cima e limpei as casas de banho Depois de acabar as minhas tarefas fui ter com Sophie Sophie fala com Madame Villard por mim por favor Diz lhe o qu o til sou e que trabalharei no duro para ela disse eu Eles v o livrar se de ti porque n o sabes qual o teu lugar Est s sempre a brincar com Monsieur Olivier como se ele fosse teu irm o disse Sophie Por favor fala com ela por mim Eu n o volto a brincar com Monsieur Olivier supliquei eu num choro incontrol vel Eu tenho trabalho para fazer Deixa me disse Sophie afastando se Depois do
171. dela perguntou me ele Eu pensei na pergunta por um momento Non disse eu Paul tirou me a bola das m os Eu prometo que n o lhe digo nada se me disseres a verdade disse ele devolvendo me a bola Oui sussurrei Quantos perguntou ele Um Quando que ele esteve c perguntou me Domingo noite respondi Ele d lhe dinheiro Oui respondi mais uma vez 14 NT Mulher de um m dico 49 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Lindo menino disse ele dando me umas pancadinhas na cabe a Vem comigo disse ele levando me at ao quarto de Florence Paul despiu se totalmente e come ou a masturbar se Envergonhado virei a cara para evitar v lo Olha v isto Eu vou p r isto tudo dentro de Florence disse me ele De repente passei a n o gostar tanto dele Deixou de ser o meu her i Bobby gritou Florence no quintal Eu corri para fora do quarto com a bola antes que chamasse por mim uma segunda vez Onde est Monsieur Paul perguntou ela Est na cama Foi ele que te deu a bola Oui Florence foi para dentro para o ver Levou comida e uma garrafa de Coca Cola para o quarto dela Depois de Paul ter ido embora Florence chamou me ao quarto Estava sentada na cama com o seu quimono vestido e parecia perturbada O que disseste a Monsieur P
172. devido a mal entendidos derivados de perce es deficientes entre povos estranhos Tal trabalho por si s uma grande responsabilidade porque poder englobar naturalmente quest es sens veis n o s do foro profissional e cultural mas tamb m do foro pol tico Um mero lapso ortogr fico ou de significado impresso milhares de vezes pode por em causa uma publica o obrigando a uma nova para corrigir a falha pode levar o leitor a proceder erradamente baseando se numa informa o err nea s numa tradu o de um manual t cnico por exemplo imagine se as consequ ncias que uma m tradu o de documenta o oficial da Uni o Europeia provocaria Por este motivo um tradutor deve de certa forma saber um pouco de tudo ter conhecimentos nas mais variadas e potenciais reas de trabalho sem nunca esquecer que n o um profissional dessa rea concreta mas sim um mediador de informa o entre uma l ngua e outra conhecedor de ambas as estruturas gramaticais de vocabul rio e por ltimo mas n o menos importante de ferramentas de trabalho como mem rias de tradu o e bases de dados a utilizar para tornar o seu trabalho mais rent vel e de f cil aceso caso tenha a inten o de voltar a utilizar o que j foi feito Apesar de exercer uma profiss o que obriga a um certo isolamento especialmente se trabalhar como independente o tradutor n o est sozinho podendo influenciar a vida de v rias pessoas a partir de um s traba
173. di logo termina O tradutor desrespeita o ponto final que 47 CAP TULO III A TRADU O BREVE COMPARA O ENTRE TRADU ES coloca na fala quando o texto seguinte aparece com a letra inicial em min scula quando deveria come ar por mai scula como poss vel comprovar no exemplo abaixo indicado VPP VPB Est na casa de banho anunciou ela Entrou no banheiro denunciou ela Simon deve chegar em breve Vai ficar Simon deve chegar logo Ele vai ficar feliz por te ver disse ela feliz em ver voc disse ela Conclu da a an lise relativamente pontua o confirma se que o tradutor n o foi coerente com a sua escolha pois alterna a constantemente nos di logos existentes na obra A tradutora da vers o em portugu s europeu teve constante aten o a inconsist ncias a esse n vel pelo que o produto final foi sujeito a tr s revis es uma revis o lingu stica e de vocabul rio outra revis o apenas para a pontua o e a outra geral incluindo formata o e altera es de aperfei oamento Um outro ponto que valer a pena referir neste trabalho a tradu o da alcunha Frenchy nas duas vers es Quando foi feita a tradu o uma das quest es levantadas foi precisamente como se traduziria este termo se haveria ou n o um equivalente no portugu s europeu que pudesse ser aplicado nesta situa o Frenchy ser algu m de nacionalida
174. disse Louis Posso viver aqui convosco perguntei Sim esta casa tua Podes chamar me Aunt Maude respondeu a mulher Era a mulher de Louis Estou de volta s cinco horas disse eu enquanto corria de volta para casa de Chelaine Encontraste o perguntou Chelaine Sim encontrei e ele disse que concordava repliquei pegando nos livros para me apressar para a escola Uma vez na rua fartei me de saltar todo o caminho at escola s quatro horas apressei me para casa de Chelaine e disse nervosamente Vou viver com Louis a partir de hoje Chelaine parou de coser Parecia admirada com a not cia Ent o e o dinheiro Antoine quer o dinheiro dele disse ela Eu tirei a minha caixa de baixo da cama dela e sa a correr Quando cheguei a casa de Louis Maude estava minha espera A mesa estava posta no alpendre das traseiras com pratos de porcelana talheres de prata e copos O jantar est pronto Vem comer disse ela a sorrir Fiquei t o assoberbado pela hospitalidade dela que me senti desconfort vel Obrigado disse eu ao sentar me desconfortavelmente mesa Serve te Come o que quiseres tudo para ti disse ela 98 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Eu tremi nervosamente Nunca me tinha sentado mesa a comer com outras pessoas Maude tinha tr s ta as separadas de porcelana e cada uma tinha algo diferente frango com beringela
175. dores neste e noutros estados sulistas proibiram o acesso educa o a escravos e negros livres al m de imporem outras restri es e Denmark Vesey tamb m afroamericano ap s ter comprado a sua liberdade na Carolina do Sul planeou uma enorme rebeli o de escravos Todavia devida a uma fuga de informa o os l deres foram presos e executados pelas autoridades antes que a rebeli o se CAP TULO IH CONTEXTUALIZA O HIST RICOCULTURAL BREVE APRESENTA O DE ABOLICIONISTAS DA ESCRAVATURA NOS E U A pudesse concretizar No entanto Vesey hoje considerado por muitos um her i do seu tempo Em Charleston a sua casa foi nomeada um Marco de Hist ria Nacional em 1976 e Gabriel Prosser nasceu em 1776 e morreu em 1800 Era um ferreiro instru do que se encontrava aprisionado quando planeou uma grande rebeli o de escravos em Richmond no ver o do ano da sua morte Foi tamb m tra do por uma fuga de informa o o que inviabilizou a revolta e foi capturado e enforcado juntamente com 25 seguidores e Frederick Douglass nascido escravo em Maryland em 1817 teve a sua liberdade comprada por amigos brit nicos em 1847 Dois anos antes publicou uma autobiografia intitulada The Narrative of the Life of Frederick Douglass Conhecido por ser um grande orador foi respons vel por diversos discursos que envolviam desde evoca es do seu passado de escravo a den ncias da escravatura e a apelos sua r pida aboli o e Soujourn
176. dormeci N o molhei a cama Depois do pequeno almo o patrulhei a rea apanhei beatas de cigarros como tinha feito no treino b sico s 9 horas apresentei me ao sargento do dep sito de fardamento Bom dia meu Sargento disse Sur pre sa Sur pre sa Ent o tu deves ser o Gomer disse o sargento com um grande sorriso na cara Ent o Gomer vais fazer o invent rio esta manh Conta todas as pe as de equipamento e anota neste formul rio disse Quando o FAI come ou voltei a escrever cartas a mim mesmo para lutar contra a minha depress o na caserna Quando me perguntavam porque dormia no ch o respondia sempre Passei na inspe o hoje de manh e n o quero estragar o beliche Apercebi me cedo da falta de respeito geral por mulheres da parte de muitos homens alistados Quase todos os que eu conhecia se referiam s mulheres como cabras Um soldado a mostrar a fotografia da namorada ou noiva aos amigos gabava se Olhem me para esta cabra N o ptima E enquanto marchavam e cantavam a cad ncia nas ruas os sargentos do pelot o e l deres de esquadr o mudavam para letras sexualmente expl citas quando passavam mulheres No dia de conclus o de treinos os que tinham completado todas as partes do treino com sucesso receberam as suas ordens O comandante da companhia foi at a caserna Todos se levantaram voz de aten o Ele ordenou que eu e mais alguns homens d ssemos um passo em
177. e N o demores muito tempo Temos de ser r pidos Toma tens aqui o meu cart o Liga me amanh Quero apresentar te uma pessoa disse o sargento mor Ligo lhe amanh antes do meio dia disse saindo do gabinete DIC A caminho da caserna parei no PX e comprei uma grade de cerveja Ao aproximar me do local abri uma cerveja e fingi estar b bado Ol pessoal Algu m quer beber uma cerveja comigo perguntei Sim d me um raio de uma cerveja disse um soldado branco Pessoal olhem s para o Franci Est a beber cerveja Eu pensava que ele era um raio de um santo meu disse outro A cerveja foi rapidamente distribu da Enquanto os rapazes bebiam fui casa de banho e despejei a cerveja pelo urinol abaixo Quando voltei algu m me passou um charro Eu bebo mas n o fumo e estou muito b bado para fumar disse eu enquanto me atirava para a cama E na boa com o Franci meu Pensava que o nigga era um raio de um santo disse uma VOZ No dia seguinte liguei ao sargento mor da sede Marcamos um encontro s 19 horas Encontrei me com ele e com um detetive civil Contei lhes o epis dio da cerveja Acho que est o a come ar a confiar em mim disse O dia de receberem o sal rio daqui a duas semanas Tens de fazer com que eles te levem at casa do sargento Johnson Assim que vires as drogas inventa uma desculpa para vires embora Estaremos do outro lado da rua em qualquer ponto
178. e Madame Laroche em Port au Prince Haiti que pensava que Nova Iorque era uma esp cie de para so onde se encontrava dinheiro no ch o Depois da papelada preenchida deram me um cheque e dissera me para voltar ao final do m s para vir buscar os selos para comida Com os selos comprei jantares cachorros quentes e comida enlatada Sempre me senti desconfort vel ao pagar com selos enquanto os outros clientes pagavam com dinheiro Depressa me aborreci com tanto tempo livre Depois da escola dava longos passeios e sentava me no parque Quando o cheque seguinte chegou pelo correio eu enchi me de vergonha sabendo que o meu colega de casa tinha de trabalhar para obter o dinheiro que ganhava e eu n o trabalhava para o meu Troquei o cheque pelo dinheiro relutantemente paguei a renda e candidatei me imediatamente a um trabalho numa esta o de servi o Esso Durante a entrevista o gerente perguntou me se eu sabia dar trocos e eu respondi Sim senhor Alguns funcion rios da Esso t m cart es de desconto e 10 de desconto na gasolina Se algu m comprasse 7 50 de gasolina e te entregasse um cart o de desconto e uma nota de dez d lares quanto que terias de lhe devolver perguntou o gerente Dava lhe 2 50 mais 75 c ntimos O que d 3 25 respondi 143 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia O gerente sorriu e disse Est s contratado Trabalhava das 18
179. e O produtor do texto de partida Jean Robert Cadet e O emissor do texto de partida University of Texas Press e O texto de partida Restavec From Haitian Slave Child to Middle Class American e Orecetor do texto de partida o p blico alvo americano e O iniciador Jean Robert Cadet e O tradutor Mariana Ara jo e O texto de chegada Restavec De Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia e O recetor do texto de chegada o p blico alvo portugu s Como poss vel constatar atrav s dos dados fornecidos o produtor do texto de partida e o iniciador ou seja aquele que deseja uma publica o numa outra l ngua de chegada para um outro p blico alvo espec fico s o coincidentes Jean Robert Cadet pois o autor tem todo o interesse em divulgar ao m ximo de pessoas poss vel o seu passado que infelizmente ainda o presente para demasiadas crian as De seguida ainda sem ler a obra preenchemos o guia do tradutor de Nord relativamente aos fatores textuais externos do TP e Emissor ou quem envia o TP porque tem interesse em que o TP seja partilhado num outro TC Jean Robert Cadet CAP TULO III A TRADU O AN LISE DA TRADU O e Inten o do emissor ou qual o prop sito do envio o tradutor limita se a seguir a inten o do emissor iniciador publica o de uma obra autobiogr fica cujo tom intimista e confessional e Recetor ou para quem enviado o TP primeiramente o p blico alvo am
180. e a emancipa o dos escravos africanos no Haiti que lutaram contra o poderoso ex rcito franc s criando a primeira rep blica negra independente do Hemisf rio Ocidental No entanto senti me muito envergonhado para lhes contar que depois da independ ncia pretos e mulatos influentes reintroduziram a escravatura sob o r tulo de restavev Os alunos negros escutavam com os olhos a brilhar como se Toussaint Louverture e Jean Jacques Dessalines fossem os seus tios av s Tamb m lhes quis falar acerca da minha vida como restavec no Haiti e em Nova Iorque mas n o o fiz com medo de que me ridicularizassem com a palavra restavec na cantina durante o per odo de almo o Os seus livros de textos de Hist ria parecia me tinham sido escritos por brancos para o benef cio de alunos brancos Tinham lhes ensinado que donos de escravos como George Washington e Thomas Jefferson eram os seus her is Escravos que tinham planeado insurrei es e matado os seus donos para tentar libertar os seus companheiros n o eram mencionados Nunca tinham ouvido falar de escravos como Toussaint Louverture David Walker Nat Turner Denmark Vesey Gabriel Prosser e de outros que defenderam e utilizaram viol ncia para derrubar o sistema esclavagista apenas conheciam negros n o militares como Frederick Douglass Sojourner Truth e Martin Luther King Jr Depois da aula alguns dos alunos negros aproximaram se de mim para indagarem se eu ia voltar no dia segui
181. e ar fresco e fui at ao s tio onde costumava estar a rvore Pensei na Avozinha a fazer caf bolos de p o de milho batatas doces cozinhadas em leite de cabra e ovos mexidos para o pequeno almo o 77 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia A minha melhor recorda o do quintal da Avozinha foi a de um dia em que um dos seus porcos foi morto Uma semana antes tinha mandado chamar um talhante que v via numa vila distante Numa vibrante manh de s bado chegaram dois talhantes com sacos ao ombro montados numa grande mula castanha Um dos homens exibiu uma variedade de facas e punhais afiados e o outro uma caba a pequena cheia de alho finamente picado salsa pimenta e cebolas verdes Todos os c es da cidade pareciam ter sido previamente avisados da matan a do porco porque estavam todos presentes Crian as de todas as idades e tamanhos estavam ansiosas por assistir ao espet culo O porco grande e gordo pouco cooperante foi agarrado pelos a ougueiros e amarrado a uma mesa improvisada feita com uma porta suportada por duas cadeiras O animal foi lavado com a ajuda das crian as Foi colocado um balde no ch o debaixo do pesco o para apanhar todas as gotas de sangue Ali perto foi feita uma fogueira num po o para lhe queimar os p los Enquanto um talhante carregava para baixo a cabe a do porco que guinchava o outro espetou lhe uma longa e agu ada adaga no cacha o Todas as crian as segur
182. e cr masse em casa de Mr LaFontaine Acho que lhe subiu cabe a disse ele Est bem muito obrigada disse Lise educadamente Entrei e o homem foi embora Quem era querida perguntou Denis Denis despacha te Liga pol cia N o vamos tolerar mais isto gritou Lise Denis apressou se pelas escadas abaixo O que que se passa perguntou O Bobby est b bado Se calhar tamb m est drogado Despacha te liga pol cia Denis pegou no telefone e marcou o n mero da pol cia Eu sentei me nos degraus com a cabe a a latejar Num espa o de cinco minutos chegaram dois agentes Ligaram pol cia Qual o problema perguntou um agente Este rapaz est b bado e acho que tamb m est drogado Quero que o prendam e que o mandem de volta para o Haiti disse Lise Onde que ele vive perguntou o mesmo agente 134 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Vive aqui respondeu Denis O outro agente apontou uma lanterna para os meus olhos e analisou os meus bra os procura de marcas de agulhas o tutor dele perguntou o agente De certa forma somos mas ele n o nosso parente de maneira alguma O pai dele que por acaso amigo da minha m e mandou o vir viver connosco disse Denis Onde est a sua m e perguntou o agente De momento est a trabalhar replicou Denis N o acho que esteja drogado Talvez te
183. e de texto foi especialmente criado para a aprendizagem e treino do futuro tradutor pois aponta para as compet ncias gerais requeridas nesta profiss o O modelo composto por tr s fatores principais fatores textuais externos que s o definidos antes da leitura da obra e transmitem a situa o e fun o comunicativas da mesma fatores textuais internos que se relacionam com o texto na sua totalidade inclusivamente com elementos n o verbais e o efeito do TP que consiste na associa o dos dois tipos de fatores anteriores Como fatores textuais externos Nord apresenta nos o emissor a inten o do emissor o recetor o meio canal o local o tempo o motivo comunicativo e a fun o textual Como fatores textuais internos do ponto de vista do emissor s o enumerados a tem tica o conte do os pressupostos a estrutura e constru o textual os elementos n o verbais o l xico a sintaxe e os elementos suprassegmentais A criadora deste modelo afirma que este aplic vel a textos de partida em qualquer l ngua e tipo de texto e a tradu es de ou para quaisquer l nguas ou culturas 1992 47 CAP TULO III A TRADU O AN LISE ENQUADRAMENTO TE RICO Ap s clarificar que o processo tradutivo posto em marcha quando um implementador da tarefa ao qual eu chamo Iniciador Initiator se dirige a um tradutor Translator porque necessita de um determinado texto alvo para um determinado recetor nomeadamen
184. e ele deve estar replicou a psic loga O teste que lhe foi dado estava em franc s ou em ingl s perguntou Em ingl s claro N o os temos em franc s replicou a psic loga Sabia que ele est neste pa s h menos de dois anos perguntou o professor de Matem tica No dia seguinte j tinha um hor rio normal outra vez Eu candidatei me a um lugar na Company Tack American e indiquei que tinha dezoito anos Estava esperan ado em ficar no turno das tr s meia noite No secretariado disseram me que seria chamado quando houvesse alguma vaga Entretanto tinha dinheiro suficiente para dar a Lise para um m s de renda do quarto Entregaste a candidatura na American Tack perguntou Denis Sim eles disseram que quando tivessem alguma vaga que me ligariam repliquei Denis saiu de casa 138 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Mais tarde Lise deitou as crian as e foi para o seu quarto Eu estava a fazer os meus trabalhos de casa na mesa da cozinha Alguns minutos depois as crian as desceram a brincar e correr volta da mesa Parem com isso Voltem para cima Est o a abanar a mesa disse eu firmemente De repente Lise apareceu perturbada Como que te atreves Quem que pensas que s para falares com os meus filhos nesse tom de voz Esta a casa deles e a mesa deles N o devias falar com os meus filhos dessa forma Quero que saias d
185. e lhe N o estou assim t o desesperada Posso arranjar outra pessoa replicou saindo Eu respirei fundo e mantive a compostura Mr Smith o c nsul franc s era um bom velho amigo Como estava prestes a reformar se eu estava a contar que ele me recomendasse ao c nsul geral em Nova Orle es para lhe suceder Pensei que tal t tulo impressionaria definitivamente o meu pai conquistando assim um lugar no seu cora o Mas quando chegou a altura Mr Smith selecionou outro bom velho amigo para o substituir e manteve me como assistente do novo nomeado Na v spera do Dia de A o de Gra as o meu colega de casa Harry fez me um pedido Olha Jean tens planos para o Dia do Peru perguntou me N o n o tenho nada planeado respondi a pensar que ele estava prestes a convidar me para ir a casa dos pais dele para jantar Posso pedir te um favor perguntou Harry Que favor perguntei lhe Os meus pais v m c para a Ac o de Gra as e v o trazer comida Eles n o sabem que s negro e o meu pai n o partilha p o com negros Podes desaparecer por algumas horas Eu ato uma fita na ma aneta da porta para te avisar se eles ainda c estiverem disse Harry que horas queres que saia perguntei sentindo me um pequeno restavec novamente 205 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Eles v m ao meio dia Podes sair por volta das onze Por volta das onze horas Ha
186. e o capel o Apertei lhe a m o e senti me como se um grande peso me tivesse sa do de cima dos ombros 159 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Quando voltei no s bado seguinte o capel o batizou me Durante o batismo lembrei me que j tinha sido batizado Foi numa sexta feira de manh porque a cozinheira tinha acabado de regressar do mercado com peixe fresco Tinha cerca de sete anos de idade Nessa manh espec fica Florence veio da igreja com um padre alto de pele escura com uma veste branca Os dois sentaram se no alpendre da frente por alguns momentos e depois ela convidou o a entrar para tomar caf Ele retirou a veste colocou a nas costas de uma cadeira e seguiu Florence at ao quarto Passado algum tempo ele saiu e voltou a p r a veste Florence estava de p atr s dele Eu estava sentado nos degraus da frente a matar formigas com os meus dedos Ao sair o padre sorriu para mim Pode batiz lo por mim perguntou Florence Com certeza respondeu o padre e voltou para dentro Florence fez me sinal para ir para a sala de jantar O padre tirou do bolso o seu ros rio preto colocou o volta do pesco o e pediu um copo de gua a Florence Como te chamas perguntou o padre Bobby respondeu Florence antes que eu pudesse abrir a boca Bobby eu te batizo em nome do Pai do Filho e do Esp rito Santo disse o padre mergulhando o dedo no copo de
187. e pagamento e s o mantidas longe da escola Desde a emancipa o e independ ncia em 1804 negros e mulatos influentes reintroduziram a escravatura utilizando os filhos dos mais pobres como criados da casa s fam lias pobres de vilas long nquas que t m demasiadas bocas para alimentar eles prometem uma vida melhor para os seus filhos Estas crian as perdem ent o o contacto com as suas fam lias e como aos escravos do passado s o lhes dados nomes novos por conveni ncia Os influentes disfar am as suas inten es mal volas sob a express o restavec um termo franc s que significa ficar com Outras crian as gozam nos com o termo porque estes s o frequentemente vistos descal os e vestidos com trapos sujos a fazer recados nas ruas Os restavecs s o mais mal tratados do que escravos porque n o custam nada e o seu rendimento laboral parece inesgot vel Fazem os trabalhos que as criadas contratadas ou bonnes se recusam a fazer e podem ser obrigados a dormir em cart es quer debaixo da mesa da cozinha quer fora de casa no alpendre da casa S o chicoteadas m nima infrac o com um chicote de tiras de couro que ainda feito especialmente para esse prop sito E como os escravos africanos do passado cozinham habitualmente as suas refei es base de papas de milho e algumas cabe as de arenque seco Tratando se de raparigas normalmente ainda pior porque por vezes s o usadas como concubinas dos filhos adolesce
188. e serviam de reservat rios estivessem cheias No entanto parecia me que a press o s ficava forte em determinados dias Em dias em que a gua n o chegava de todo porque a press o era muito baixa eu ia buscar gua a uma ravina pr xima para manter cheios os dep sitos das casas de banho Os fins de semana eram particularmente cansativos para mim porque estavam todos em casa e parecia que estavam sempre a puxar o autoclismo Olivier estava proibido de brincar comigo visto que Yvette temia que tal fraterniza o poderia fazer com que ele perdesse prest gio e estatuto social aos olhos dos seus colegas No entanto quando a gua vinha durante o dia todo e em toda a for a eu conseguia brincar com Olivier no nosso esconderijo secreto perto da ravina Olivier detestava que o tratassem por Monsieur mas tolerava o para evitar que os seus pais e especialmente Yvette se chateassem com ele No esconderijo secreto ele encontrava se com outros colegas vizinhos para brincar aos berlindes ou jogos de guerra Depois de brincarmos n o pod amos ir juntos para casa Olivier assegurava se de que chegava a casa primeiro para que pudesse perguntar alto a Sophie Onde est o Bobby E eu aparecia mesmo a tempo de responder Estou aqui Monsieur Olivier As raparigas mantinham se muito distantes Para elas eu n o existia at que precisassem que lhes levasse algo A Ecole Simone Duvalier era a minha nova escola Era do outro
189. e serviu bem o seu pais O Ex rcito sentir a sua falta Datilografei a carta e coloquei a em cima da secret ria do tenente Walker para ser assinada pelo coronel perguntando me como que o soldado Williams teria servido bem o seu pa s Durante a forma o da tarde o comandante da companhia colocou riscas de cabo no colarinho da minha camisa Parab ns Soldado Passaste a Cabo Saudei o e senti me orgulhoso de mim mesmo Pensei em ligar a Florence e Denis que estavam no estado de Nova lorque para partilhar o meu entusiasmo com eles Fui cabine telef nica marquei o n mero e desliguei logo que uma pessoa disse Estou Entrei no gabinete do sargento e pedi uma licen a de aus ncia por cinco dias Para onde raio que vais Pensava que n o tinhas casa para onde ir disse o sargento Vou visitar o meu pai no Haiti disse a pensar que as minhas conquistas pessoais seriam suficientemente boas para merecer um lugar na vida do meu pai Queria estabelecer uma 165 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia liga o que preenchesse o vazio do meu peito Queria que Philippe olhasse para mim com olhos de pai A minha licen a foi aprovada em pouco tempo Fui ao banco levantei mil d lares das minhas poupan as e fui s compras no PX Comprei uma grande mala e enchi a com presentes de todas as cores e feitios Pedi a um vendedor para embrulhar uma m quina de barb
190. e ver Pensei que te tinhas esquecido de mim disse Respirei fundo Estava nervoso N o sou um engraxador de sapatos disse eu Florence pareceu envergonhada Manteve os olhos fixos na mesa Vim dizer te o quanto me magoaste mas n o sei por onde come ar continuei com os l bios a tremer NT Analg sico utilizado para al vio de dores 212 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Florence abriu a boca para falar Por favor n o digas nada a minha vez de falar Evitaste que eu expressasse as minhas vontades as minhas necessidades os meus sentimentos e as minhas opini es durante quinze anos Lembraste como costumavas puxar e beliscar o meu p nis e como costumavas bater me enquanto dormia por molhar os trapos que me serviam de cama Pensei que me detestavas por ter um p nis Tentei cort lo apenas para te agradar Atingiste me no olho com um tac o do teu sapato porque eu parti um copo Sangrei e n o conseguia ver do olho Olha para a cicatriz ainda a tenho disse apontando para o canto do meu olho direito Foi a cozinheira que me lavou a cara e me tratou Naquele momento os olhos de Florence encheram se de l grimas Emprestaste me aos teus amigos como se eu fosse uma esp cie de aspirador humano Lembraste quando era suposto eu ter tido a minha Primeira Comunh o Recebi o sacramento no ex rcito Tive vergonha de contar ao padre que a minha m e n o tinha
191. ear el ctrica e dois rel gios 2 Que pai que n o ficaria orgulhoso do filho que um cabo e um paraquedista do Ex rcito dos Estados Unidos Quando me vir de uniforme vai dar me as boas vindas de bra os abertos e vai adorar os meus presentes disse a mim mesmo As minhas botas brilhavam assim como as minhas asas do ex rcito e o meu fato estava bem engomado Estava pronto para a inspe o da minha vida Durante o voo para o Haiti sentei me muito direito como um robot para n o encorrilhar o meu uniforme Depois de aterrar fui at aos lavabos e vi me duas vezes ao espelho No aeroporto de Port au Prince parecia que todos me olhavam e apontavam como se tivesse chegado de outro planeta Senti me um visitante sem um pa s Eu era um soldado do ex rcito americano que apenas conhecia o hino nacional do Canad mas que nunca vivera no Canad A minha alma no entanto continuava haitiana Pedi a um taxista para me levar at a Rua Bernard 18 e sentei me no banco de tr s como um VIP Quando o motorista parou em frente da casa retirei um len o e limpei o p das minhas botas O meu cora o palpitava O motorista carregou a minha mala at a porta da frente Paguei lhe dez vezes mais do que o total O motorista tremeu de entusiasmo e correu para o carro a dizer Merci bon Dieu merci ternel Bati porta Uma empregada abriu a e perguntou em crioulo com os olhos a brilhar Quem queres Monsieur S bastien r
192. ec no Haiti Acordei com o colch o e os len is molhados Quando liguei a luz vi um rasto de urina a aproximar se do sof Incapaz de enfrentar a tia de Eddi de manh vesti me pus tudo no meu saco de lona e fui embora do apartamento Fui de t xi at o aeroporto e apanhei um voo at a Carolina do Sul Ao chegar minha unidade apresentei as minhas ordens militares ao sargento encarregado que as leu torcendo o nariz Vens seis dias mais cedo Soldado O que que se passa contigo N o tens uma casa ou uma fam lia com quem estar perguntou me Eu quis vir cedo meu Sargento disse eu a sorrir s um Gomer Pyle perguntou o sargento furioso N o meu Sargento respondi bom que n o N o queremos Gomers nesta unidade Compreendes Soldado gritou o sargento Sim meu Sargento respondi e segui o at caserna vazia 28 NT Personagem de uma s rie de com dia americana transmitida entre 1964 e 1969 cujas caracter sticas principais s o a ingenuidade e a bondade 150 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Escolhe um beliche e vai at ao Dep sito de Fardamento buscar len is e cobertores O refeit rio atr s de n s As refei es s o s 6h00 12h00 e 17h00 Amanh de manh s 9 horas apresenta te ao sargento do dep sito de fardamento seu Gomer Pyle de um raio Nessa noite pus o meu poncho por cima do colch o e a
193. ecessidades b sicas libertando assim Florence de qualquer situa o ligada a mim Nunca me aproximei muito de nenhuma das cozinheiras visto que nenhuma delas permanecia mais do que um ano Florence despedia as por queimarem uma refei o ou por lhe darem troco a menos do que deviam quando regressavam do mercado A medida que fui crescendo aprendi a prever que tipo de dia iria ter baseando me no humor de Florence e no seu tom de voz Quando estava bem disposta o chicote de quatro tiras de couro chamado martinet permaneceria pendurado no seu gancho na parede da cozinha Eu conhecia tr s grupos de crian as em Port au Prince os da elite os muito pobres e os restavecs ou crian as escravas As crian as pertencentes elite reconhecem se normalmente pela sua tez clara e pela boa qualidade das suas roupas S o encorajados pelos pais a falar franc s correto em vez de crioulo a l ngua das massas Vivem em casas confort veis com anexos para os criados e jardins tropicais As semanadas excedem em muito o sal rio mensal das suas criadas As criadas tratam nos por Monsieur ou Madame seguido dos primeiros nomes T m um motorista que os leva at s melhores escolas privadas e as pessoas tratam nos por ti petit bourgeois Os filhos dos pobres t m normalmente a pele muito escura Aparecem sujos e mal nutridos Nas suas casas de uma s divis o cobertas com uma folha de metal enferrujada n o existe saneamento b sico nem e
194. eda o gourde Foi descoberto em 1492 por Crist v o Colombo que lhe deu o nome de Hispan ola reclamando a para Espanha No entanto no fim do s culo XVI quase toda a popula o nativa da ilha havia sido eliminada pelos colonos sendo que em 1697 metade da ilha foi cedida Fran a que a batizou de S o Domingos Esta regi o tornou se a mais pr spera e rica das Cara bas durante o s culo XVIII devido exporta o de mat ria prima como caf a car cacau milho vegetais e frutas No entanto toda esta riqueza provinha da explora o desmesurada de escravos africanos Estes inspirados pela Revolu o Francesa de 1789 e sob a lideran a de Toussaint Louverture revoltaram se em 1791 No entanto o pa s s foi considerado independente em 1804 gra as a Jean Jacques Dessalines cujo apelido deu o nome ao hino nacional haitiano La Dessalinienne um s culo depois da proclama o da independ ncia e Henri Christophe tamb m eles her is nacionais que tiveram um papel determinante na vit ria contra os franceses e criando assim a na o haitiana Por m o pa s sempre foi marcado por uma enorme instabilidade pol tica sendo que quase todos os seus governantes foram assassinados ou acabaram por se suicidar Jean Robert Cadet nasceu na poca do terr vel ditador Fran ois Duvalier tamb m conhecido por Papa Doc Duvalier que se tornou presidente em 1957 No livro existem refer ncias instabilidade no
195. eformado O meu nome Jeff Bronston Como te chamas jovem perguntou me Chamo me Jean Cadet respondi Trabalhas todas as noites perguntou me N o Senhor Tenho folgas s segundas e ter as disse lhe Na quarta feira noite Mr Bronston voltou ao restaurante e pediu para se sentar na minha sec o Antes de sair deu me outra nota de dez d lares e o cart o de neg cios Gosto de ajudar jovens ambiciosos sempre que posso disse me Obrigado Senhor agradeci Ap s algumas semanas comecei a confiar em Jeff telefonando lhe para casa pelo menos uma vez por semana Jeff prometeu ajudar me gra as aos seus contactos profissionais a encontrar um bom trabalho logo que eu conclu sse os estudos Fiquei contente por ter encontrado uma figura paternal que parecia importar se comigo Se alguma vez precisares de explica es tudo o que tens a fazer pedir me ofereceu Jeff Fiquei radiante mas nunca tive coragem para pedir dinheiro a Jeff apesar de precisar de pneus e de uma bateria para o meu Dodge Dart de 16 anos A maioria das vezes recorria aos transportes p blicos para ir para o emprego Numa sexta feira noite Jeff foi jantar Pediu para se sentar na minha sec o como habitualmente Pode dar me uma boleia at casa depois do trabalho perguntei Claro O que aconteceu ao teu carro perguntou me N o pegava respondi Depois do trabalho Jeff levou me a casa 195
196. ei do outro lado da rua A casa precisava de repara es e o quintal 211 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia estava negligenciado Dirigi me porta da frente com a minha mala Bati porta Florence abriu a Oh meu filho s tu entra disse ela sorridente Ela nunca antes me tinha tratado como filho dela Faltavam lhe tr s dentes da frente e o lado esquerdo da sua cara estava mais escuro do que o outro Parte do seu cabelo cinzento carapinha estava vis vel atrav s da beira da sua peruca preta Segui a As costas estavam ligeiramente curvadas sob o seu roup o Cortinas vermelhas de veludo gastas com enormes manchas de gua estavam penduradas toa na sala de estar mal iluminada Teias de aranha balan avam do teto Numa mesinha de caf em vidro estava uma caneca com a forma de um cr nio com tr s rosas artificiais O cheiro a BenGay e a mofo contraiu o meu nariz Ela parou na cozinha O fog o estava manchado com res duos de comida e a banca estava cheia de panelas e tachos sujos Senta te meu filho disse ela sacudindo da mesa duas pequenas baratas com as costas da m o H baratas por todo o lado Parece que n o me consigo ver livre delas disse me Sentei me do outro lado dela e pus o saco minha frente Queres um pouco de caf perguntou me N o obrigado agradeci enquanto se come avam a formar l grimas nos meus olhos Estou contente por t
197. em volta procura de um pequeno degrau de madeira N o havia nenhum Ela deu me uma tijela de guisado de vaca e mandou me ir buscar uma colher gaveta Merci oui disse eu espera que me dissesse onde me podia sentar Florence vendo que n o estava vontade disse me que me sentasse mesa Puxou de uma cadeira e sentou me do outro lado Eu estava nervoso N o conseguia comer Era a primeira vez que Florence partilhava a mesa comigo N o fiques envergonhado Come disse ela Eu pus uma colherada de guisado na minha boca e engoli Onde est o as crian as perguntei para quebrar o gelo Era a primeira vez que lhe fazia uma pergunta Est o a dormir l em cima replicou Abri a minha mala tirei o meu velho copo de lata e enchi o com gua da torneira Ela ficou surpreendida por ver que eu ainda tinha o mesmo copo velho de lata N o tens de usar o teu pr prio copo e prato nesta casa e n o precisas mais de autoriza o para abrir o frigor fico disse ela Tamb m n o tratas ningu m da casa como Monsieur Madame ou Mademoiselle na presen a de visitas Oui respondi Ouve e escuta bem Madame Denis n o queria que tu viesses para este pa s Ela pensa que tu vais ser uma m influ ncia para os filhos dela Tens de provar que ela est errada Tens de ajudar o mais que puderes na casa mostrando lhe o qu o til podes ser Tenta fazer tudo para n o a aborreceres A casa dela e
198. en o vontade Cabo Mostre me o seu registo disse o coronel Posso ver o seu cart o de identifica o meu Coronel perguntei s muito perspicaz Cabo disse o coronel entregando me o seu cart o de identifica o Obrigado meu Coronel respondi sentindo me orgulhoso 175 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Estou a detetar um sotaque De onde s Cabo perguntou o coronel Sou do Haiti meu Coronel respondi sentindo me envergonhado Depreendo que sejas um cidad o naturalizado disse o coronel N o meu Coronel ainda n o sou mas pretendo ser respondi Est s a dizer me que n o s um cidad o americano e est s a tratar de segredos militares perguntou o coronel apreensivo Eu n o sabia que tinha de ser um cidad o americano para trabalhar no S 2 meu Coronel afirmei H quanto tempo que tratas de segredos militares Soldado perguntou o coronel H cerca de dois meses meu Coronel respondi Receio que n o possas trabalhar mais aqui disse o coronel cuja face estava a ficar cada vez mais vermelha Ele foi falar com o comandante do batalh o e eu voltei caserna Porque que n o me disseste que n o eras um cidad o dos E U A perguntou me o primeiro sargento N o me ocorreu respondi O coronel contou ao general que ligou Imigra o e a um juiz federal Creio que te tornar s um c
199. enino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia N o Ma am respondi com o entusiasmo a diminuir N o fiques com expectativas muito altas Malucos n o gostam de contratar negros S o M A U S disse ela Parecia a avaliar pela express o da sua cara que tinha testemunhado os dias de escravatura H algumas pessoas brancas boas Mrs Jefferson J conheci algumas assegurei lhe pensando em Mr Rabinowitz o meu professor de Hist ria em Spring Valley High School Mesmo que encontres alguma ela nunca te vai pagar o que tu vales realmente rapaz disse me Eu s quero apanhar me l dentro repliquei Quando lavava roupa para uma fam lia judia eu dobrava as toalhas e eles contavam nas minha frente Faziam me sentir como uma ladra disse me ela incomodada cuspindo sumo de tabaco para uma grande ta a de lata que estava ao lado da cadeira Depois riu se Qual a piada perguntei lhe Eu andava a trabalhar todo o dia a limpar a casa e a lavar as roupas de uma mulher judia Estava morta de cansa o digo te Apanhei o autocarro para casa e uma mi da branca entrou e p s se a observar me Deveria ter treze ou catorze anos Sa mos do autocarro juntas Ela continuava a observar me Ent o virei me para ela e perguntei lhe porque que n o parava de olhar para mim assim Ela disse me A minha m e tem um vestido igualzinho ao teu e quando chegar a casa vou dizer lhe e ela vai queim
200. enis Cadet na esperan a de que algum dos meus antigos donos viesse ver me Apesar de tudo sentia a falta deles porque eles eram a nica fam lia que eu alguma vez tinha conhecido Que tipo de pais tens tu mi do perguntou o agente Eles v m ver me perguntei envergonhado Eles disseram que j estavam na cama e que t m de trabalhar de manh disse o agente 145 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Depois telefonei a Eddi N o estava em casa No dia seguinte apanhei um t xi para o apartamento 146 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia XIV Est vamos em Junho de 1972 O dia da entrega do diploma do secund rio aproximava se Os alunos andavam a assinar os livros de ano e a contar os seus planos para o futuro A minha casa era a bomba de gasolina e os mec nicos tratavam me como um irm o mais novo No dia da entrega do diploma eu deveria trabalhar no turno das tr s s onze minha turma vai formar se hoje disse eu ao gerente Bem parab ns N o deves perder a tua formatura Vai buscar o teu diploma e depois volta ao trabalho disse me Apressei me para a escola e enfiei a minha t nica por cima do uniforme de trabalho Fiquei boquiaberto pelo n mero de pais que tinha vindo tirar fotografias aos seus filhos e filhas Enquanto a banda tocava debati me contra as l grimas Depois de chamaram pelo meu nome subi
201. entasse uma defini o clara acerca do termo visto ser completamente inacess vel A resposta foi a seguinte A grimeau is person born of a black and a caucasian parent Jean Robert Cadet 01 10 2014 CAP TULO III A TRADU O AN LISE DA TRADU O Depois deste esclarecimento foi facilmente encontrado um termo equivalente mulato que se inseriu em NT mantendo se no TC a express o inicialmente usada pelo autor No cap tulo XVI No Fort Lewis surgiu um impasse devido a um jogo de palavras associado designa o das profiss es em ingl s mas que n o se conseguiria manter em l ngua portuguesa Em ingl s muitas vezes a denomina o das profiss es faz se atrav s de palavras aglutinadas isto fireman mailman fishman o que n o ocorre na l ngua portuguesa em que s o usados sobretudo sufixos carteiro bombeiro carpinteiro Numa tradu o literal n o se colocaria qualquer problema pois substituir se ia o nome da profiss o na LC e a tradu o manter se ia v lida e percept vel No entanto na obra coloca se o seguinte problema He introduced himself to the class as Dr Mark T Orr chairman of the history department I thought that a chairman must work with chairs since a mailman delivers letters a fireman puts out fires a fisherman catches seafood etc etc I became curious because he didn t strike me at all as a chairman O conflito lingu stico surgiu porque na LC n o existe
202. epliquei Entra disse ela fitando me FNT Obrigado bom Deus eternamente obrigado em franc s 166 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Entrei e fiquei na sala de estar nervoso com a mala ao meu lado Passado pouco tempo Philippe apareceu Oh s tu Est s no ex rcito perguntou me Sim estou no Ex rcito dos Estados Unidos respondi Est s c por quanto tempo perguntou Philippe Sem responder quest o abri rapidamente a minha mala e tirei de l os presentes embrulhados e entreguei lhos Depois tirei tudo o resto e dispus tudo no sof tentando impression lo Vou estar fora da cidade por uns dias Podes ficar aqui disse Philippe Posso ir contigo perguntei Non respondeu Philippe Fiquei l tr s dias mas senti me mais como um convidado tolerado do que um parente A m e de Philippe tinha morrido dois anos antes Nunca conheci o seu pai Dei por mim sozinho a maior parte do tempo Quando Philippe voltou levou me at ao aeroporto e desta vez apertou me a m o e disse Adeus Embarquei no avi o sentindo me desapontado O vazio no meu peito parecia ter ficado maior e o meu cora o era uma pedra no meio de uma caverna fria e vazia Senti que n o tinha passado inspe o e que n o tinha completado a minha miss o Ao voltar para o Fort Bragg comprei um carro usado e aos fins de semana dava longos passeios para me
203. er Truth foi uma oradora americana abolicionista e feminista do s culo XIX Nasceu em 1797 como escrava e fugiu em 1827 quando o seu dono se recusou a aceitar o ato de emancipa o do estado de Nova Iorque Tornou se a primeira mulher oradora negra que lutou a favor da emancipa o dos negros e do acesso ao direito de voto por parte das mulheres Gra as pesquisa e reflex o que se lhe seguiu foi poss vel clarificar aquilo que o autor na sua qualidade de professor pretendeu demonstrar aos seus alunos e posteriormente sociedade americana ou seja que a comunidade negra deve assumir um papel mais ativo na transforma o da sociedade onde ainda hoje discriminada e que a comunidade branca da mesma forma deve reconhecer as suas falhas e n o menosprezar as personalidades que influenciaram o curso da sua Hist ria CAP TULO III A TRADU O AN LISE E COMPARA O CAP TULO III A TRADU O AN LISE SER TRADUTOR Ser Tradutor Os autores escrevem as suas respetivas literaturas nacionais mas a literatura mundial obra dos tradutores Jos Saramago in Di rio de Not cias 12 03 1997 O tradutor tem um papel absolutamente fundamental na intera o mundial pois ele que funciona como ponte ainda que psicol gica entre culturas ou seja favorece e ajuda a compreens o de costumes e atividades culturalmente distantes e muitas vezes desconhecidos evitando assim muitos conflitos que podem surgir
204. erary Translation Clevedon Multilingual Matters Ltd 1998 CATFORD J C A linguistic theory of translation An essay in applied linguistics Oxford Oxford University Press 1965 Escola de Tropas P ra quedistas 50 Anos 1956 2006 Coordenador Tenente Coronel Infantaria Para Jorge Prazeres Praia do Ribatejo Editora Escola de Tropas P ra quedistas 2006 HAMDANI Amar Ritos e Segredos do Vodu Edi o Reservada aos Amigos do Livro Lisboa Amigos do Livro Editores Lda 1981 JACKOBSON Roman On Linguistic Aspects of Translation in Venuti L ed The translation studies reader London New York Routledge 1959 MOTA E As Dimens es do Discurso e da Tradu o Aplica o de um Modelo Tradutivo de An lise Textual Disserta o de Provas P blicas para Professor Coordenador Porto ISCA IPP 2003 MOUNIN G Les Probl mes th oriques de la traduction Paris Gallimard 1963 MOUNIN G Introdu o Lingu stica Lisboa Iniciativas Editoriais 1968 55 REFER NCIAS BIBLIOGR FICAS NORD Christiane 1992 Text Analysis in Translator Training in DOLLERUP C e LODDEGAARD A ed Teaching Translation and Interpreting Training Talent and Experience Amsterdam Philadelphia John Publishing Company 1992 consultado a 15 de outubro de 2014 dispon vel em https play google com books reader id Sr90 Ag A AQB AJ amp printsec frontcover amp output reader amp hl pt PT amp pg GBS P
205. ericano de Classe M dia VI Lise estava gr vida h cerca de seis meses do seu primeiro filho Deixei de frequentar a escola por um tempo indeterminado Encarar Lise j n o me era t o desagrad vel e a mesma tinha deixado de escrutinar todos os meus passos Ao contr rio do seu marido que me chamava seu porquinho ela tratava me sempre pelo meu nome Tinha parado de fechar as cortinas na minha cara quando eu via televis o do quintal Sempre suspeitei que Lise tivera algo que ver com o desaparecimento do meu sapato Eu continuei a guardar o solit rio sapato na minha caixa na esperan a de que o outro aparecesse o que nunca aconteceu Florence e Lise n o gostavam uma da outra Toleravam se para agradar a Denis Era importante para ele que a sua mulher e a sua m e gostassem uma da outra Eu tinha tanto medo de Denis que fiz o esfor o consciente de me manter tanto quanto poss vel longe da sua vista Engraxava lhe os sapatos mesmo quando n o precisavam preparava lhe o banho todas as noites quando regressava a casa do trabalho e limpava o interior e o exterior do seu carro todos os dias Denis tinha encontrado uma solu o para me tornar um trabalhador mais eficiente e para corrigir o meu problema de molhar a cama ou para qualquer outro problema que ele achava que eu tinha Sempre que Florence me menosprezava ou batia Denis dizia Deixa me lev lo esquadra Uma boa sova da pol cia vai endireit lo de vez De cada ve
206. ericano ou do TP e posteriormente o p blico alvo portugu s ou do TC pois s o p blicos distintos quer linguisticamente quer culturalmente e Meio livro autobiogr fico publicado na LP e Local Haiti e Estados Unidos da Am rica e Tempo de 1955 a 1969 Haiti e de 1969 a 1991 Estados Unidos da Am rica e Motivo comunicativo ou seja o que leva o emissor a querer uma nova publica o numa outra l ngua divulgar um sistema esclavagista da atualidade do qual o pr prio autor foi v tima e Fun o textual testemunho de uma v tima da escravatura infantil com vista mudan a de mentalidades relativamente a esta pr tica esta fun o depende dos v rios recetores do texto pois cada um poder encontrar uma fun o diferente Ap s terem sido expostos todos os pontos a que um tradutor deve ter aten o antes de realizar qualquer tipo de trabalho deu se uma primeira leitura e abordagem da obra em quest o Pode verificar se em primeiro lugar que o livro divide se em duas grandes partes a fase de crescimento do autor no Haiti e a fase de adapta o ao novo pa s para onde emigra Dedicamo nos ent o a preencher a segunda lista de fatores textuais de Nord e Tem tica sistema restavec no Haiti e discrimina o racial nos Estados Unidos e Conte do o relato autobiogr fico de uma v tima deste sistema e Pressupostos a pr tica inadmiss vel nos dias de hoje e algo deve ser feito para elimin la e Estrutura e
207. ersit ria negra mas eles rejeitaram me logo ap s a primeira entrevista porque como justificaram N o falas como um irm o n o andas como um irm o n o s irm o Quando tentei entrar na fraternidade de brancos olharam para mim como se eu tivesse perdido a cabe a No entanto as estudantes brancas eram mais recetivas minha pessoa Ter me ia juntado irmandade delas aceitassem elas homens As tr s de quem me tinha tornado amigo disseram me que eu era diferente dos negros americanos Calculei que fosse por causa do meu sotaque das Cara bas Convidei uma de cabelo escuro que andava na minha turma de estudos internacionais para ir a minha casa discutir sobre a Resolu o 242 das Na es Unidas Ela chegou de bicicleta com os livros e apontamentos por volta das oito e meia Fiz frango com arroz para o jantar Por volta das onze houve uma enorme tempestade e eu convidei a para passar l a noite Ela olhou l para fora e aceitou relutantemente a minha oferta Quando chegou a ordem de dormir dei lhe uma escova de dentes nova e o meu nico pijama Mostrei lhe o meu quarto e pedi desculpa por n o ter uma cama Depois pus 193 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia len is frescos no colch o e mudei as fronhas enquanto ela se mudava na casa de banho Vesti um par de cal es e uma T shirt Ela voltou ao quarto e eu fui at o quarto de banho para lavar os dentes Quando voltei ao quar
208. esa disse ela procura atr s da minha secret ria Anda l Jean vamos cortar o bolo disse Jos Pus as m os frente dos olhos envergonhado Eu levei o bolo para casa disse lentamente Todos se entreolharam e sa ram Fui at zona de trabalho de Andrea Pe o imensa desculpa Andrea Eu n o sabia o que fazer porque nunca tinha festejado o anivers rio antes expliquei lhe N o me acredito Olha para ti Os teus pais deixaram te ir para a faculdade mas nunca celebraram um anivers rio teu Est s mesmo espera que eu acredite nisso perguntou me Andrea olhando me dos p s cabe a Voltei para o meu gabinete e sentei me secret ria pensativo Comecei a sentir me desconfort vel na presen a dos meus colegas e secret rias Pensei em assassinar Florence e suicidar me novamente Um m s mais tarde tirei uma semana de f rias e decidi guiar at Nova Iorque para confrontar Florence Fiz uma pequena mala e parti s tr s da manh Conduzi o dia todo parando apenas para comida gas leo e necessidades Ao final da tarde cheguei a Nova Iorque e passei a noite em casa do meu amigo do secund rio Nicolas Soube que Florence tinha sa do de casa de Lise porque a rela o entre elas se tinha deteriorado Florence tinha comprado uma pequena casa de dois quartos e vivia sozinha Na manh seguinte depois do pequeno almo o pus a minha mala no carro e fui at casa de Florence Estacion
209. esentou me turma como um aluno professor medida que as turmas iam passando reparei que n o havia alunos negros Durante o per odo de almo o caminhei pela cantina procura de alunos negros pois todos pareciam observar me como se estivesse perdido Reparei numa face africana que pertencia a uma senhora de meia idade que segurava uma esfregona N o havia alunos afroamericanos na escola Eu e Ms Nassano torn mo nos rapidamente amigos Ela achava que eu era eficiente e inteligente Por vezes eu trazia lhe donuts frescos para pequeno almo o demonstrando assim o meu apre o mas sem me aperceber de que ela estava a apaixonar se por mim uma antiga crian a restavec N o acredito que tenho de vir de t o longe para o meu est gio quando h tantas escolas em Hillsborough County disse lhe senhora que me ligou perguntou me se eu estava disposta a aceitar um estagi rio Disse me o teu nome e depois que eras negro Eu perguntei lhe E ent o que diferen a faz E ela respondeu me Pode fazer a diferen a para algumas pessoas Pode ter dito a todos os professores de franc s em Hillsborough County que eras negro explicou me Ms Nassano Comecei a perguntar me porque que os pais negros mandavam os seus filhos serem educados por professores racistas sem ter consci ncia de que eles n o tinham alternativa Quando terminei o meu est gio na Hudson High a minha amizade com Ms Nassano tinha se torn
210. esse o que est ao seu alcance para aliviar o sofrimento humano Foi precisamente atrav s de um pedido de ajuda do autor que a possibilidade de tradu o desta obra surgiu Jean Robert Cadet muito marcado por um passado revoltante que o persegue no presente deseja p r um ponto final na escravid o imposta s crian as da sua terra natal denunciando escala global esta pr tica vergonhosa Tem raz es para acreditar que a uni o faz a for a e que todos poder o dar o seu contributo no sentido de alertar consci ncias e moldar mentalidades for ando assim os governos nomeadamente o haitiano a rever as suas pol ticas no que diz respeito promo o e defesa dos direitos das crian as Contudo para al m da vontade de ajudar uma causa t o nobre quanto esta evidentemente imp e se uma s rie de quest es que t m de ser tidas em considera o Dessas quest es uma das mais prementes na perspetiva do tradutor o conhecimento dos elementos lingu sticos e socioculturais Na tradu o de um livro como RESTAVEC from Haitian Slave Child to Middle Class American de Jean Robert Cadet publicado pela primeira vez em 1998 nos Estados Unidos da Am rica um tradutor v se obrigado a avaliar a obra n o s sob a perspetiva lingu stica mas tamb m do ponto de vista hist rico sociocultural do pa s Isto tanto mais necess rio quanto mais afastada e desconhecida for a realidade retratada O tradutor numa N INTRODU O s
211. eu ele mesmo o nome perguntei Porque Louis n o sabe escrever disse ela De repente lembrei me do Quinto Mandamento N o matar s ecoou na minha cabe a E lembrei me da Avozinha Alc e dizer Quem apontar o dedo e disser Olha uma serpente o respons vel pela morte da serpente Tinha me contado esse prov rbio no dia da matan a do porco Eu tinha reparado numa pequena serpente verde a deslizar perto do po o e disse entusiasmado Simon olha uma serpente Simon pegou num machete cortou lhe a cabe a e atirou me o corpo A Avozinha muito zangada disse a Simon que a serpente poderia ser um myst re ou um loa A Avozinha apontou me o dedo e disse Quem apontar o dedo e disser Olha uma serpente o respons vel pela morte da serpente Fiquei petrificado e pensei que o myst re ia retaliar contra mim por ter causado a morte da serpente Do meu ponto de vista escrever o nome de Edward para Louis o p r na ta a de caba a era o mesmo que alertar Simon para a exist ncia da serpente 109 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Em vez de ir para a escola fui dar um longo passeio em dire o a Port au Prince at a fome me for ar a voltar para casa de Louis de noite j tarde Estava zangado e recusava me a conversar com algu m Deixei de ir ao armaz m do caf e aos domingos recusava me a ir s lutas de galos dele N o s o mesmo rapaz que veio viver connosc
212. examinou Florence e deu lhe uma vacina Depois de algumas visitas ela voltou a ir igreja Tudo parecia normal 56 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Depois Florence recebeu um aviso de despejo por n o pagar a renda O senhorio queria a fora de casa imediatamente Ela vendeu a mob lia pe a por pe a Estava convencida de que a sua doen a assim como os seus problemas financeiros eram obra de um wanga um tipo de feiti o de magia negra que o amante muito mais novo Paul lhe tinha lan ado Recome ou a louvar os seus esp ritos novamente mas a ideia de vingan a estava sempre presente Estava sempre a fazer misturas esquisitas a p las em sacos de papel castanho e a mandar me p los na entrada da casa da antiga amante de Paul durante as horas de escurid o Como eu tinha sempre medo de ser apanhado simplesmente atirava os sacos para a pilha de lixo mais pr xima que encontrava Fizeste o que te disse perguntava me sempre que chegava Oui respondia eu 57 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia VII Yvette uma velha amiga veio visitar nos e convidou Florence para ir viver com ela Morava numa casa de dois andares com varanda e aposentos separados para criados Os quartos e casas de banho da fam lia eram no segundo andar a sala de estar a sala de jantar e a cozinha ficavam no primeiro andar A princ pio a ideia agradou me poi
213. froamericano de Classe M dia roupa interior para absorver a urina em caso de acidente Acordei com a T shirt molhada O colch o estava seco Eu tomei o pequeno almo o com os Kelly num sil ncio constrangedor Durante a viagem de volta a Fort Lewis em Washington o roncar do motor era o nico som dentro do carro A minha amizade com o primeiro cabo Kelly extinguiu se lentamente 182 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia XVII Est vamos em junho de 1975 As minhas duas ltimas semanas no ex rcito tinham sido uma tortura emocional Andava preocupado por ir abandonar os Rangers o nico lar seguro que eu alguma vez tivera Voltei a molhar o meu beliche O meu desejo de obter uma licenciatura de quatro anos era mais forte do que a minha vontade de ficar no ex rcito como um homem alistado Despedi me dos meus camaradas e apanhei um autocarro at ao aeroporto com o meu saco de lona ao ombro Aproximei me da funcion ria da bilheteira e disse lhe que gostaria de ir para uma cidade quente que tivesse uma universidade Ela pareceu confusa Para onde pretende ir exatamente perguntou me Eu gostaria de ir para um s tio onde n o neve e onde exista uma universidade Sabe eu quero utilizar o meu GI Bill para conseguir uma licenciatura de quatro anos respondi lhe medida que me ia ouvindo arregalava mais os olhos Mas faz ideia para que estado ou cidade pretende i
214. guentada de Ren Quando toquei no puxador da porta de tr s do carro Denis levantou se Vou buscar as minhas chaves disse ele entrando em casa Eu fugi o mais depressa que pude correndo em dire o minha escola Ecole du Canada Estava a anoitecer O recreio estava vazio Caminhei freneticamente volta do edif cio de um nico andar tentando abrir todas as janelas at que encontrei uma aberta Rastejei para a sala fechei a janela e escondi me por baixo da secret ria do professor Quando n o vi mais luz a passar pelas frinchas das janelas fechadas trepei para cima da secret ria e adormeci em posi o fetal Acordei cedo na manh seguinte com as buzinas dos carros e cami es Passei todo esse dia no recreio da escola e na sala de aula a praticar divis es e multiplica es no quadro at que fome me convenceu a parar Antes que anoitecesse fui at um quintal vizinho e a empregada deu me um prato de comida que devorei com as minhas m os sentado num degrauzinho do alpendre Olhei para o outro lado da rua para ver se o carro de Denis estava frente da entrada O quintal parecia deserto 40 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Penso que a Madame Denis foi para o hospital para ter o beb disse a empregada do vizinho Enquanto caminhava at casa olhei para as persianas N o havia luz em s tio algum da casa Aquela noite estava escura e abafada e o c
215. gum suplicou ela Ele vai ser igual aos outros que conhe o que se foram embora do Haiti Mal passe por baixo da rvore a acu em frente do aeroporto vai esquecer se de todos n s disse Madame Laroche Talvez algu m deva cortar essa rvore disse uma voz no quintal Quando Philippe me veio buscar agradeceu a Madame Laroche pelo grande favor que lhe tinha feito Disse adeus a toda a gente peguei na minha mala e sentei me no carro Durante toda a viagem at ao aeroporto observei Philippe pelo canto do olho Tinha uma express o s ria na cara Ningu m disse uma palavra Depois de estacionar o carro retirei a mala do assento traseiro Ao segui lo reparei na rvore a acu e passei propositadamente por baixo dela Philippe apresentou a minha documenta o de viagem rececionista enquanto eu permaneci a seu lado Ele vai viajar sozinho perguntou a funcion ria Sim vai respondeu Philippe Um porteiro pegou na minha bagagem colocou a na mala de um pequeno cami o e conduziu at ao avi o espera Ele j pode embarcar senhor disse a rececionista devolvendo os meus documentos a Philippe que mos entregou Levantei a cabe a e olhei Philippe nos olhos querendo apertar lhe a m o mas com medo de tomar a iniciativa Bem do que que est s espera Vai entra no avi o disse Philippe fazendo o gesto que me fosse embora Caminhei para o avi o sem olhar para tr s 120
216. h fui acordado por Sophie que descobriu que os meus trapos estavam molhados Seu pequeno restavec mij o Querias dormir no quarto do Monsieur Olivier Como te atreves disse ela Sophie obrigou me a espalhar os trapos molhados num monte de pedras nas traseiras e entregou me uma barra de sab o Este o teu sab o e pasta de dentes e n o uses nada meu disse ela Eu peguei no sab o esfreguei nele a minha escova de dentes em segunda m o e escovei os dentes Lavei o carro limpei o alpendre e o jardim antes do pequeno almo o Depois Sophie mandou me encher as banheiras para os banhos das crian as porque a press o da gua era muito fraca para chegar ao andar de cima Eu passei a manh inteira a carregar cabe a baldes atr s de baldes de gua para o andar de cima para encher o dep sito sempre que algu m puxava o autoclismo Depois do pequeno almo o chegou um motorista para levar as crian as escola Para mim ir escola estava absolutamente fora de quest o Depois de ter comido limpei com uma esfregona o ch o da sala de jantar limpei as casas de banho e o p da mob lia 62 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Perguntei a Sophie se podia ir escola de tarde para as aulas de Hist ria e Matem tica Ela concordou desde que a press o da gua estivesse forte o suficiente para chegar s casas de banho do andar de cima e as tr s enormes baterias qu
217. hamada para o gabinete do FBI local Daqui o FBI Agente McCain ao telefone disse uma voz O meu nome Jean Robert Cadet Sou um veterano do ex rcito e um aluno na University of South Florida O meu colega de casa um comunista disse Como que sabe que ele comunista perguntou o agente 192 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Tem uma grande pilha de Soviet Life no quarto dele repliquei Que tipo de trabalho que ele faz perguntou o agente Ele disse me que era professor respondi Ele faz investiga o na universidade perguntou me N o ele professor no secund rio D me o nome completo dele Eu vou investigar disse o agente Eu contei ao agente do FBI tudo o que sabia sobre Ross A partir daquele dia ouvi todas as conversas de Ross ao telefone e via sempre se o correio dele tinha algum selo estrangeiro Eu tinha a certeza de que devido ao meu treino no ex rcito me seria dada a ordem para eliminar Ross Esperei ansioso mas a ordem nunca chegou Eventualmente Ross saiu de casa N o consegui compreender por que raz o se permitira que este inimigo escapasse at ter no fim do curso uma cadeira sobre o Governo dos Estados Unidos na qual aprendi que a Constitui o protege as prefer ncias pol ticas de todos Fazer amizades com jovens negros americanos da minha idade era uma tarefa desafiante Tentei entrar na fraternidade univ
218. has m os estavam perdidas dentro das mangas O fot grafo retirou alguns alfinetes do bolso e alterou as costas e os lados como um alfaiate experiente para ajustar o casaco N o te preocupes com as mangas N o v o aparecer na fotografia disse ele Depois alargou a gravata deslizou a pela minha cabe a como um n e ajustou o ao meu colarinho Tirou me uma fotografia quando eu tinha um ar s rio Foi a primeira vez que me tiraram uma fotografia Ap s o fot grafo me libertar do casaco Philippe fez me sinal para que o seguisse Uma vez l fora reparei que o sol estava a ficar forte Utilizei a minha m o como viseira e segui Philippe at ao carro Levou nos at um edif cio amarelo brilhante e estacionou Segui o novamente As portas abriram se e a maioria das pessoas de tez escura l dentro tinham sobrancelhas suadas Uma ventoinha preta rodava pregui osa no teto Philippe aproximou se do balc o alto Fiquei a tr s passos para tr s dele sua direita Ele disse em crioulo a um homem vestido com uma camisa branca de mangas curtas que eu estava ali para ser vacinado para uma viagem a Nova Iorque Como te chamas perguntou me o rececionista em franc s Chamo me Jean Robert Cadet respondi desejando ter o ltimo nome de Philippe Qual o nome da tua m e perguntou me De repente lembrei me do nome Henrilia Brutus Estava prestes a diz lo mas Philippe respondeu Florence Cadet Qual o nome do teu
219. ho de tez bege apenas pelos efeitos gen ticos ecoantes os genes de Blanc Philippe o pai do meu marido O meu marido diz me que o nosso filho a raz o pela qual escreveu isto a sua fonte de for a Eu sorrio Esta de facto uma hist ria de for a fonte de for a incr vel forjada no fogo Que possa ser uma inspira o para os pr prios dias e noites do leitor Cynthia Nassano Cadet Em 1994 os Estados Unidos enviaram tropas para restaurar a democracia no Haiti e para dar esperan a a um povo acostumado a viver sob o punho de ferro de ditadores No entanto existem mais de 250 000 restavecs no Haiti crian as escravas que n o t m a esperan a de alguma vez se tornarem participantes formados na democracia restaurada Tendo perdido a minha pr pria inf ncia na servid o restavec detesto saber que outras crian as perdem as delas da mesma maneira Que esta narrativa da minha vida inspire as na es a proteger todas as suas crian as J R C lt lt Nota para o Leitor Todas as hist rias neste livro s o verdadeiras mas a maioria dos nomes foi alterada gt gt ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia lt lt Um blanc pessoa branca vem visitar nos hoje o teu pai mas quando o vires n o o trates por papa Dizes Bonjour monsieur e desapareces Se os vizinhos te perguntarem quem ele diz lhes que n o sabes muito bom homem por isso temos de proteger a reputa
220. ho de um blanc Pensava que a minha tez castanha clara n o toleraria os raios de um sol furioso durante o dia inteiro O meu dever era ir buscar gua a uma nascente ali perto aos p s de uma rvore magn fica com grossas ra zes rastejantes e vozes de mil cigarras A sua enorme copa verde fazia de escudo contra os raios brilhantes do sol criando uma c mara fresca e escura por baixo Os l quenes balan avam dos ramos em todas as dire es como o cabelo indom vel de um monstro feminino num pesadelo A nascente era uma perfeita cratera em forma de cone constru da por bocadinhos de areia t o fina como a car mascavado A gua era sempre transparente doce e vibrava no fundo como se uma m o transparente procurasse o lugar perfeito para colocar um ou dois gr os de areia Com o cora o a bater costumava pressionar a grande caba a para o fundo afogando a na natureza Mantinha os meus olhos fixos na rvore porque as pessoas diziam que a residia a ma tre da nascente supostamente uma serpente enorme Eu carregava a gua de volta ao campo de arroz e enchia copos de lata com ela Era t o fria que os trabalhadores a bebiam cuidadosamente Depois do trabalho todos iam at uma lagoa perto da nascente para se lavarem Normalmente a gua estava muito quente superf cie mas muito fria por baixo Todos os domingos de manh Louis levava me a assistir a lutas de galos em pequenas aldeias na montanha Os pesco os e pernas dos ga
221. ho escura Ele parecia uns anos mais velho que eu Eu deveria ter cerca de onze anos Ren tinha sido adquirido pela fam lia Beauchamp que vivia a tr s casas de dist ncia Madame Beauchamp precisava de algu m que tomasse conta dos seus dois filhos permanentemente e Monsieur Beauchamp um alto e avarento mulato queria algu m para lavar a sua pequena frota de t xis todas as manh s Ren era magro com cara de quem tinha sempre fome Uma vez disse me que tinha sido adquirido numa pequena aldeia em J r mie e que a sua m e Dieudonne lhe tinha dado o nome de Prophet Ren acordava cada manh com o cacarejar do primeiro galo para lavar os carros antes dos condutores chegarem s oito horas da noite recolhia todas as chaves dos carros assim como o dinheiro apurado pelos taxistas Entre as oito e as nove horas da noite eu ouvia o sinal de Ren tr s longos assobios Se eu assobiasse de volta encontrar nos amos atr s da casa de Florence para vermos 1 Love Lucy atrav s da janela de p em cima de blocos de cimento no escuro enquanto os mosquitos se banqueteavam com nossos bra os e pernas expostos Quando Florence sa a e me deixava trancado da parte de fora noite eu e Ren encontr vamo nos ao lado da casa dos Beauchamps para comer cana de a car por baixo da amendoeira enquanto cont vamos os carros que passavam Na sala de estar dos Beauchamps a televis o estava posicionada por baixo da janela e os restavecs n o estavam
222. hos Tirou um len o vermelho e limpou a cara Sorri j n o estava nervoso Ent o e os livros Tens de ter livros disse ele Eu pe o aos alunos os livros emprestados e copio as p ginas respondi provocando lhe outro ataque de riso A voz de Florence ecoou na minha cabe a Pedes os livros emprestados e copias as p ginas Anda comigo ordenou me Eu segui o at primeira pequena cabana Ele empurrou a porta entrou e abriu as janelas No interior havia secret rias com tinteiros uma pequena mesa e um grande quadro preto bastante usado O cheiro da cabana de aulas era me familiar Vais fazer um ditado e se tiveres menos de dez erros aceito te disse ele Subitamente o meu cora o come ou a bater mais depressa Fiquei novamente nervoso Concordei com a cabe a e pus me em frente ao quadro preto O homem tirou um livro da 88 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia mesa e abriu o Senti pingas de suor a escorrerem me pelas costas abaixo Os meus dedos ficaram h midos A minha m o tremeu enquanto pegava num bocado de giz do quadro preto gasto Depois de escrever Dict e no topo ele leu alto o t tulo Le Braconnier O Ca ador Furtivo Respirei fundo levantei a cabe a e comecei a escrever Eu retinha as frases como se cada uma fosse uma palavra passe da qual a minha vida dependia enquanto a minha m o as transferia para o quadro preto para serem avaliadas
223. i o Transposition altera se a classe gramatical da palavra na LP para uma outra classe gramatical na LC 26 CAP TULO III A TRADU O AN LISE ENQUADRAMENTO TE RICO o Ex Childlabour Trabalho infantil Groping for s apalpadelas e Modula o Modulation adapta o da forma da mensagem consoante o ponto de vista por exemplo uma frase da LP est na afirmativa e na LC passada para a negativa o Ex Blankexpression Express o vazia e Equival ncia Equivalence express es com m todos estil sticos e estruturas diferentes utilizados com a mesma finalidade mas em culturas diferentes o Ex Don t rock theboat N o fazer ondas e Adapta o Adaptation utiliza se quando algo mencionado na LP n o culturalmente reconhecido na cultura da LC o Ex martinetou rigoise chicotes de materiais diferentes Por vezes estas solu es podem coexistir numa mesma frase ou express o Ao longo de todo este trabalho recorremos sempre aos pontos acima referidos para que o processo de tradu o tivesse sempre um enquadramento te rico Inspirada por Hans J Vermeer e Katharina Reiss dois funcionalistas que acreditam que o fator mais relevante da tradu o a sua fun o no TC apesar de reconhecerem a import ncia de equivalentes culturais e gramaticais entre duas l nguas Christiane Nord 1991 produziu um modelo tradutivo de an lise textual ou seja pr tradu o Este guia de passos a seguir na an lis
224. i chocado por ver tantas pessoas com roupas sujas espera em fila para serem atendidas Eu pensei que estavam ali para arranjarem trabalho Mostrei o documento rececionista que me conduziu imediatamente a uma pequena cabina Ela leu a carta para si mesma Est s a trabalhar perguntou Sim estou a trabalhar em part time numa loja A amp P em Spring Valley respondi num ingl s arranhado Se desistires do teu part time tens direito a todos os benef cios disse a funcion ria O que s o todos os benef cios perguntei Tens direito quantia total selos para comida e cuidados m dicos gr tis explicou me 27 BNN NT Loja de conveni ncia americana 142 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia O que s o selos para comida perguntei sentindo me confuso Este o Gabinete de A o Social N s damos dinheiro para pagar a renda e cup es que podes trocar por comida numa mercearia Tens de desistir do teu trabalho na A amp P explicou ela lentamente Voc s dar me dinheiro se eu n o trabalho perguntei sentindo me ainda mais confuso Sim correto respondeu Est bem eu n o trabalhar voc s dar dinheiro disse eu N o fazia ideia de que neste pa s existiam gabinetes onde entregavam dinheiro a pessoas por n o fazerem nada Ainda melhor do que encontrar dinheiro na rua disse para mim pr prio a pensar na empregada da casa d
225. i para o espelho da parede A minha cara estava desfigurada e vermelha A imagem de Ren veio me mente embora a cara dele tivesse estado pior Todos os movimentos todas as tosses e espirros eram dolorosos A mulher levou me pela m o e encaminhou me para o exterior Florence estava na sua cadeira de baloi o embalando se lentamente para frente e para tr s Nunca a tinha visto t o zangada N o tenham pena dele um pequeno ladr ozeco N o h muito tempo atr s roubou leite e tentou substitu lo por gua um vigarista que pode comprar te e vender te disse Florence Creio que j aprendeu a li o respondeu a mulher idosa um vendedor de leite vai faz lo outra vez disse Florence P e te de joelhos e pede perd o disse a senhora idosa Eu dobrei me lentamente e ca de joelhos Com os bra os cruzados e a cabe a pendendo disse Desculpe Nunca mais vou perder dinheiro Vai embora N o vais comer hoje disse Florence A cozinheira foi peixaria O jantar atrasou se e nada me deram para comer Mais tarde as portas foram trancadas Florence e Lise foram juntas num t xi Eu sentei me no quintal O vizinho chamou me at sua cozinha e deu me um prato de comida Depois aqueceu um leo escuro espesso e malcheiroso e massajou o meu peito e as minhas costas magoadas Nessa noite dormi no alpendre de tr s Passado algum tempo Lise partiu para se juntar a Denis e
226. ia pequeno degrau virado para os tr s adultos sentados confortavelmente nas suas cadeiras de baloi o por baixo da mangueira que dominava o p tio como um guarda chuva gigante medida que os meus bra os iam ficando cansados trocava de m o Uma vez Denis inclinou se para um lado e descuidou se sonoramente Enquanto se ria atirou me ao ch o com o p Seu porquinho n o sabes dizer desculpem me disse ele Florence e Lise riram s gargalhadas Sem levantar a cabe a para evitar contacto visual disse nervosamente pardon e continuei a rodar a manivela Estabeleceu se um precedente Sempre que um adulto se descuidava eu tinha a obriga o de dizer desculpem Quando o gelado estava pronto Lise servia o seu marido a sua sogra a si pr pria e colocava o resto no congelador N o nos dava nem a mim nem a Anita uma gota sequer Nem bolo nem gelado nem outro tipo de sobremesa era desperdi ado com restavecs nem a prop sito qualquer parte suculenta de galinha ou peru Mesmo assim eu provava o gelado lambia as ta as antes de as lavar Quando anoitecia marido mulher e sogra instalavam se na sala de estar a ver televis o Eu corria para as traseiras da casa e ficava de p em cima de um bloco de cimento a ver I Love Lucy atrav s das cortinas abertas Ainda que os epis dios fossem em Ingl s eu conseguia rir Anita chamou Lise Eu assustei me Plait il Madame respondeu el
227. ia p r a caixa e vestir as roupas de trabalho Lise deu lhe uma pilha de roupa interior para lavar Tinha sido restavec dela e agora vinha executar as suas antigas tarefas N o me foi apresentada nem cozinheira S recebia ordens de Lise Preparava o banho a Lise e assistia a na casa de banho Tal como eu s falava quando a palavra lhe era dirigida S soube o nome dela quando foi chamada para executar uma tarefa Anita chamou Lise Plait il faz favor Madame respondeu ela prontamente 7 NT Aperitivos em franc s 29 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Enquanto ela esfregava a roupa numa pilha de pedras eu fui casa de banho e procurei a caixa dela Tinha dois vestidos uma camisa de dormir duas ou tr s pe as de roupa interior um pente preto oleoso com alguns dentes em falta e uma pequena garrafa com leo castanho escuro para o seu cabelo Lise saiu com um saco de papel e entregou o a Anita Tinha uma escova de dentes antiga de Lise um sab o usado e algumas roupas antigas que eram muito grandes para Anita Obrigada sim disse ela ao receber o saco Ao observ la comecei a sentir ci mes de Anita porque ela tinha roupa interior e eu n o Assim que Lise ficou longe da vista belisquei a atr s do pesco o e corri Quando voltei para tornar a belisc la ela agarrou numa pedra e disse furiosa Rapazinho deixa me em paz ou racho te a
228. icano como um homem negro do Interior Sul com cicatrizes de guerra suficientemente Sae 48 emocionantes para ganhar uma d zia de Purple Hearts Conclu que era mais f cil ser um Mr Rabinowitz com alunos brancos do que com alunos negros porque os negros tendem a pensar que a educa o uma coisa de brancos No final do ano letivo fui transferido para outra escola Continuei a ensinar no secund rio enquanto trabalhava no meu mestrado na Universidade de Cincinatti Num dia de abril de 1990 vieram entregar me uma d zia de rosas e um cart o na escola onde eu dava aulas A minha primeira rea o foi de que a pessoa das entregas se devia ter enganado Tem a certeza que para mim perguntei O cart o era me endere ado Ao 48 NT Medalha dada a membros das For as Armadas dos Estados Unidos que foram feridos por um instrumento de guerra pelas m os de um inimigo E uma condecora o de m rito 221 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia abrir reconheci imediatamente a caligrafia de Cindy Era a sua maneira de me anunciar que estava gr vida Eu j a amava mas naquele momento comecei a sentir me a salvo com ela como se eu confiasse que me dobrasse o paraquedas enquanto eu dava uma espreitadela apenas com um olho Nessa semana espec fica dois dos meus professores sugeriram que eu trabalhasse para a minha gradua o No regresso a casa parecia me que pairava s
229. ida dela Ap s cada visita eu dormia num saco cama no roupeiro para evitar mago la e para me esconder dos monstros do meu passado As sess es proporcionavam me algum al vio mas n o eram uma cura Parece me que muitas pessoas ficam desconfiadas e constrangidas quando veem brancos e negros a caminharem unidos na sociedade americana Uma vez levei comigo a minha filha adotiva Katrina uma menina loira de quatro anos mercearia para comprar leite Chorou porque eu n o lhe comprei doces Quando a levei para o carro um cidad o preocupado tirou nota da minha matr cula chamou a pol cia e disse que uma crian a branca estava a ser raptada por um homem negro Antes de chegar a casa a pol cia j l tinha estado a interrogar a minha Cindy para se assegurarem de que a filha dela n o tinha de facto sido raptada Numa outra ocasi o fui buscar Katrina pr escola pela primeira vez Entrei numa grande sala na cave de uma igreja e uma jovem morena com cerca de vinte anos cumprimentou me Vim buscar a minha filha adotiva Katrina declarei s crian as est o a dormir a sesta agora Eu vou busc la disse me sorrindo ao mesmo tempo que desaparecia para outra sala Pouco depois voltou com a nica crian a negra ao seu cuidado e colocou ma nos meus bra os 224 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Esta n o a minha filha Katrina loira disse lhe olhando par
230. idad o dos E U A mais depressa do que pensas disse o primeiro sargento o que eu mais quero meu Sargento disse Entretanto apresenta te ao sargento do pelot o disse ele A vida na caserna em Fort Lewis n o era diferente da do Fort Bragg Todas as noites depois do trabalho e todos os fins de semana alguns soldados juntavam se para fumar marijuana Dei comigo a dizer interiormente N o v eu n o fumo Quando estava no PX numa sexta tarde reparei num soldado primorosamente vestido de branco com botas brilhantes A sua boina preta estava briosamente colocada na cabe a Aproximei me dele 176 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Desculpa est s destacado aqui perguntei Sim estou no 75 Rangers respondeu o cabo Posso juntar me tua unidade perguntei Liga ao primeiro sargento e diz lhe que queres tornar te um Ranger Talvez te chame para uma entrevista Se gostar de ti falar com o comandante e ter s ordens para te juntares a n s explicou o Ranger A primeira coisa que fiz na segunda feira de manh foi falar com o sargento do pelot o Meu sargento eu quero juntar me aos Rangers Queria pedir permiss o para falar com o primeiro sargento deles disse eu Certamente n o vais querer juntar te aos Rangers Eles passam mais tempo na floresta do que as malditas cobras Aqueles fulanos s o malucos Eles treinam em p ntanos
231. ina nem po o de gua Serviu me um prato com farinha de milho cozinhado com quiabo tomate e peda os de porco salgado Passado um bocado Simon chegou Foi diretamente at cozinha serviu se numa pequena tijela de caba a e comeu l fora encostado a uma parede Depois chegou Gertrude Depois de se servir comeu na cozinha improvisada sentada num tronco Chelaine tirou a m quina de costura de baixo da cama e come ou a trabalhar Simon e Gertrude foram se embora mal terminaram de comer Chelaine n o tinha r dio nem jornal nem revistas nem livros nem sequer um rel gio No centro de uma pequena mesa de madeira estava um candeeiro a g s Passei o dia com ela segurando o tecido quando precisava de o cortar Quando pensou que era meio dia parou de coser e come ou a cozinhar P s um pote de feij es secos em cima de tr s pedras deitou um bocado de gordura de porco e acendeu o fogo por baixo Uma mulher com um cesto de m o foi buscar um vestido de menina Entregou a Chelaine um pequeno saco com alimentos Quando o jantar estava pronto chegou um homem alto e de pele muito escura Chelaine apresentou me como filho do Blanc Philippe O seu nome era Antoine Ela serviu o mesa enquanto ela e eu comemos l fora na cozinha improvisada sentados em cima da lenha Depois Chelaine pediu me para ir embora Vejo te mais tarde quando for dar de comer Avozinha disse ela Eu ainda tinha fome Em vez de ir at a Avozinha fui
232. informa o o melhor poss vel especialmente se a rea em quest o n o lhe for familiar H sempre dados novos e fontes a explorar para que a interpreta o da leitura do tradutor seja clara e transparente de forma a poder por sua vez transmiti la ao p blico alvo 40 CAP TULO III A TRADU O AN LISE DA TRADU O Como a tradutora n o tinha qualquer experi ncia ou contato com a realidade militar portuguesa e existindo na obra cap tulos onde esse conhecimento seria importante para a tradu o sentiu a necessidade de procurar colmatar essa lacuna com vista ao aperfei oamento do TC e contextualiza o coerente com o vocabul rio express es e atitudes pr prias da vida militar Neste sentido para tentar apreender melhor tudo o que o autor viveu durante a sua fase militar de paraquedista no ex rcito americano a tradutora preparou uma entrevista a dois ex paraquedistas portugueses da Base de Escola de Tropas Paraquedistas B E T P o Sargento mor de Infantaria Paraquedista Ant nio Rosa Henriques e o Soldado Paraquedista Jos Rodrigues da Costa Foi assim poss vel entrar um pouco no mundo militar perceber quais as express es a utilizar o tipo de vocabul rio mais comum e finalmente compreender uma passagem espec fica do livro em que o autor descreve todo o procedimento do seu primeiro salto de um avi o da for a a rea e as emo es inerentes com o intuito de aproximar a descri o na LC o mais poss vel da
233. iquei Quanto que te cobram no motel perguntou Vinte d lares por dia respondi Podes ficar comigo por quarenta d lares por semana at encontrares uma casa e dou te jantar ofereceu Aceito respondi Depois de lhe mudar o pneu ela seguiu me at ao motel para eu ir buscar o meu saco de lona e depois segui a at casa Segunda feira de manh voltei faculdade e inscrevi me nas aulas utilizando a morada da mulher na minha candidatura Depois de viver em casa dela uma semana inteira comecei a procurar apartamentos Marquei um n mero Um jovem atendeu Encontrei o seu an ncio no campus Ainda continua procura de um colega de casa perguntei Sim continuo A renda duzentos por m s incluindo despesas respondeu a voz Deu me a morada do apartamento Quando toquei um jovem branco abriu a porta Estou aqui para ver o quarto disse N o me disseste que eras negro respondeu o jovem N o perguntaste repliquei confuso N o me interpretes mal a culpa n o minha Devias ter me dito logo que eras negro Eu n o perguntei porque nem sequer pareces um negro a falar N o penses que sou 185 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia preconceituoso n o sou Mas s o os meus pais que financiam o apartamento e eles v m visitar me pelo menos uma vez por semana N o acho que eles te aceitem como meu colega de casa explicou me
234. is da rea que poder o ser teis no desenvolvimento do trabalho e ao mesmo tempo ao j definido nas teorias da tradu o adaptando o ao seu caso o melhor poss vel Resumidamente deve ter boas capacidades de investiga o e meios para isso deve ser capaz de traduzir sobre qualquer tema e acima de tudo ser claro a transmitir as ideias apresentadas tendo sempre em aten o as necessidades e limita es do p blico alvo que deve receber a informa o com a m nima interfer ncia do tradutor Para al m destas caracter sticas deve ser dotado de uma autodisciplina inguebrant vel e demonstrar um alto respeito por prazos de entrega combinados primeiramente com o cliente para que a gest o do trabalho n o falhe e a execu o de tarefas seja realizada com tempo e com a poss vel coordena o de peritos na rea Na realidade apesar da sua import ncia a v rios n veis o tradutor assume uma posi o invis vel pois serve apenas como elo de liga o entre um autor que exp e ao mundo as suas ideias e um leitor que absorve essas mesmas ideias O escritor Jos Saramago em Cadernos de Lanzarote Di rio V publicado em 1998 reflete sobre a import ncia do que ser tradutor O trabalho de quem traduz consistir portanto em passar a outro idioma em princ pio o seu pr prio aquilo que na obra e no idioma originais j tinha sido tradu o isto uma determinada percep o pessoal duma realidade social his
235. is de me dar um belisc o na barriga porque me tinha esquecido de limpar o ch o da cozinha passou me para a m o um pequeno saco com detergente Fab para lavar roupa e uma garrafa de lix via Clorox Vai minha casa de banho e lava os trapos que est o no balde ordenou ela raivosa Eu destapei o balde de metal e vi uma pilha de nauseabundos trapos brancos de molho em gua ensanguentada Eu peguei e esfreguei todas as pe as at s manchas come arem a sair Vomitei e recomecei a minha nova tarefa Depois de uma pequena eternidade Florence abriu a porta O ar fresco inundou os meus pulm es A minha camisa gasta estava encharcada em suor Olhei para cima e apercebi me pela primeira vez de que Florence era a mulher mais alta que eu jamais conhecera Depois de inspecionar os trapos disse Agora p e nos de molho em lix via Amanh podes pass los por gua Enquanto seguia as ordens dadas olhei para os seus p s novamente procura da origem do sangue No dia seguinte sem que me mandassem lavei mais uma vez os trapos um a um e passei por gua limpa cada pe a Florence veio supervisionar enquanto eu estava a pendur los no estendal no quintal Depois de estarem secos dobra os e p e nos aqui dentro disse ela entregando me o pequeno saco branco de lona Eu peguei nele e analisei os seus bra os e pernas procura de cicatrizes mas sem sucesso Respondi Oui em vez do habitual Oui Maman Ao final
236. is estavam minha espera no terminal Vestido com um fato azul novo camisa branca gravata e sapatos pretos brilhantes aproximei me deles carregando a minha mala Como est s Como foi o voo perguntou Denis Bien merci repliquei Florence entregou me um casaco Bobby tiveste saudades minhas Toma veste isto Est frio l fora disse ela a sorrir Fui engolido pelo casaco Era um casaco velho de Denis Como est a minha Maman perguntou Est muito doente respondi a pensar que j n o via a Avozinha h muito tempo Uma vez fora do terminal fiquei espantado com tantas luzes e com os edif cios altos Enquanto seguia Denis e Florence at ao carro mantive os meus olhos no ch o procura do t o famoso dinheiro N o encontrei nada nem sequer um c ntimo vermelho A viagem para Nova lorque pareceu me longa Ningu m disse uma palavra O sil ncio n o foi muito perturbador porque eu estava preocupado observando os carros e os cami es Admirava me que n o tivessem buzinas e fossem t o silenciosos Eram quase onze horas 122 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia quando o carro encostou Tirei a mala do porta bagagens e segui os dois at uma pequena casa de tijolos de dois andares Denis disse boa noite e foi para o quarto dele Tens fome perguntou Florence Oui repliquei seguindo a at cozinha Pus a minha mala ao lado da mesa Olhei
237. itua o como esta tem de ser o elo ou a ponte entre o escritor e o leitor ou seja tem de conseguir ver a realidade do escritor com os pr prios olhos abstraindo se de toda a realidade que at aquele momento conheceu para conseguir compreender uma s rie de costumes tradi es e hist rias de um pa s desconhecido Assim ser capaz de transmitir fielmente ao leitor a experi ncia do autor A intensa investiga o feita sobre o pa s os costumes e tradi es proporcionou uma atmosfera de contextualiza o absolutamente indispens vel para a descodifica o da mensagem da obra acima referida Atrav s dela foi poss vel conseguir uma reprodu o do texto na l ngua de chegada que expusesse fielmente toda a viv ncia do autor e contribu sse para criar no p blico alvo portugu s a vontade de aderir ao movimento de altera o de mentalidades com o fim ltimo da liberta o das crian as haitianas no qual o autor se empenha arduamente Criar as mesmas sensa es por m discut vel como defende Mounin pois cada indiv duo como leitor tem uma perce o diferente da realidade mediante as suas pr prias experi ncias e viv ncias Mounin 1963 278 Desenvolveremos este ponto mais frente neste trabalho Depois da tradu o e an lise da obra foi realizada uma compara o com uma tradu o para o portugu s na variante do Brasil j dispon vel no mercado brasileiro Procura se finalmente a publica o deste livro que a
238. lasse M dia Todos tinham uma hist ria para contar at eu embora as minhas fossem todas inventadas Sempre que voltava a casa pensava no primeiro mandamento e perguntava me porque que Florence venerava outros deuses logo depois de regressar a casa vinda da igreja Ela devia saber sobre os Dez Mandamentos porque eu lia os no seu livro de rezas sempre que ela sa a para visitar vizinhos No s bado ao final da tarde uma semana antes da Confiss o os alunos estavam todos entusiasmados sabendo que o dia da sua Primeira Comunh o se aproximava Depois da aula todos contaram hist rias sobre como foram buscar os sapatos ou fatos ou estes tinham sido entregues Em casa procurei por roupas e sapatos novos no quarto de Florence mas n o descobri nada que fosse para mim Embora quisesse perguntar lhe se tinha comprado as roupas necess rias para mim n o podia visto que n o estava autorizado a fazer lhe perguntas Eu considerei e decidi perguntar lhe na mesma e correr o risco de levar um estalo Todavia n o conseguia vocalizar as palavras o medo que sentia dela era demasiado paralisante Na quinta feira tarde procurei novamente em todos os arm rios e tamb m debaixo da cama mas n o encontrei nada Comecei a ficar preocupado Talvez se tenha esquecido pensei eu Como lembrete coloquei o catecismo na mesa de jantar da sala Ela colocou o na mesa da cozinha Ela lembra se disse a mim mesmo com um sorriso Na se
239. lasse M dia XIX Regressei a Tampa terminei o segundo ano na Citrus International e demiti me Imediatamente a seguir consegui um novo emprego de exporta o numa pequena empresa em Nova Iorque O meu patr o chamava se Bill era um homem branco alto e esguio com um forte sotaque nova iorquino Tinha de localizar clientes estrangeiros e vender lhes g neros aliment cios Depressa contactei todos os meus antigos clientes europeus e localizei um cliente que queria fazer uma encomenda de mel O fornecedor que se encontrava na Carolina do Norte tinha concordado por telefone com as nossas condi es mas insistiu em ter acesso s contas da empresa Eu teria de me deslocar at a Carolina do Norte para uma reuni o com ele antes de concluir o neg cio Aproximei me de Bill e expus lhe o caso Os homens de neg cios brancos na Carolina do Norte n o gostam de negociar com negros Acho que melhor tratar eu mesmo deste assunto para n o corrermos riscos disse Bill Ent o e a minha comiss o perguntei O que tem Quem trata da transa o fica com a comiss o disse ele ousadamente Mais uma vez a voz de Alvina Jefferson ecoou na minha cabe a Os negros n o t m nada porque os brancos n o deixam Sa do escrit rio dele sentindo me agoniado e cada vez mais convencido da exist ncia de algum tipo de conspira o organizada pelos homens brancos para manter os negros em desvantagem financeira S a comiss o dessa
240. le O que que eu fiz de mal exatamente perguntei sentido o meu mundo a ruir novamente Somos uma empresa com uma pol tica conservadora e o teu comportamento n o compat vel com a nossa imagem Compreendes n o compreendes disse ele entregando me um papel para assinar Retirei me sem o assinar Cedo na manh seguinte fiz novamente as malas e voltei para a Florida Mal cheguei a Tampa parei no local onde me formei e senti uma enorme vontade de voltar para as aulas como um jovem caloiro novamente Entrei num dos edif cios e sentei me numa sala vazia O cheiro familiar parecia acalmar a minha alma haitiana ferida Quando voltei a casa de Mrs Jefferson ela acolheu me de bra os abertos Os seus tr s filhos v rios netos e alguns bisnetos estavam todos no alpendre frontal Todos estavam ansiosos por ouvir falar sobre Calif rnia Contei lhes o incidente na loja de pneus assim como o ocorrido na empresa dos servi os de inform tica George filho de Mrs Jefferson relembrou a brutalidade da pol cia as suas filhas falaram sobre os patr es racistas no trabalho os seus netos falaram sobre o ass dio policial e Mrs Jefferson resumiu tudo dizendo Eles s o maus estou vos a dizer o homem branco mau enquanto as mentes dos seus bisnetos gravavam tudo o que era dito para a pr xima gera o Quis fazer uma pausa e respirar fundo antes de voltar a aventurar me no mundo dos neg cios dos brancos Encon
241. letricidade As suas refei es de feij es vermelhos papas de milho e inhames s o cozinhadas sob nuvens de fumo expelidas por fornos feitos com tr s pedras do tamanho de cocos e acesos com madeira e raminhos secos Comem com as m os INT Pequeno burgu s em franc s ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia em gamelas de caba a e bebem por copos de lata com cantos afiados sentados em troncos de madeira sendo continuamente incomodados por moscas Para fazerem as suas necessidades agacham se nos arbustos rasteiros e limpam se com folhas ou pedras noite dormem em tapetes de palhinhas ou de cart o por cima de pavimentos sujos enquanto pulgas sugadoras de sangue se banqueteiam das suas carnes suadas Percorrem a p v rios quil metros para se deslocarem at escolas p blicas mal equipadas onde sobrevivem gra as a almo os de leite em p doados por pa ses estrangeiros que outrora dependeram do trabalho de escravos dos seus antepassados Depois da escola uns apressam se para chegar a casa e citar em voz alta a li o do dia de forma cadenciada antes que a luz do dia das Cara bas se desvane a Outros caminham alguns quil metros at ao Parque Champ de Mars e sentam se debaixo de candeeiros de rua a fazer os trabalhos de casa enquanto tra as ziguezagueiam por cima das suas cabe as Os restavecs s o crian as escravas que pertencem a fam lias pr speras N o recebem qualquer tipo d
242. lho especialmente se se tratar de uma tradu o do ponto de vista t cnico Numa tradu o liter ria a responsabilidade id ntica sem no entanto influenciar a vida das pessoas num contexto profissional mas sim em contextos de frui o art stica filos fica ideol gica epistemol gica entre outras Quer para um texto de dom nio t cnico e espec fico quer para um texto de dom nio liter rio e descritivo de tradu o mais livre o tradutor deve colocar algumas perguntas A quem se destina a tradu o Em que poca foi escrito o texto a traduzir Qual o CAP TULO III A TRADU O AN LISE SER TRADUTOR grau de dom nio da rea em quest o Qual a finalidade da tradu o Para al m disso na tradu o liter ria o procedimento de an lise textual do trabalho que ter a realizar torna se mais completo tendo o profissional de avaliar algumas considera es gerais como a inten o do texto ou do emissor o tipo de texto o local e a poca o p blico alvo ou receptor a linguagem n vel de formalidade tom o tipo de publica o prov vel inten o objetivo do autor ou o motivo comunicativo e o m todo a adotar pelo tradutor O tradutor dever posteriormente reunir toda a informa o que conseguir sobre o tema em quest o e fazer um levantamento terminol gico para conseguir ser coerente com o vocabul rio escolhido ao longo de todo o trabalho se necess rio recorrer a profissiona
243. ligue a Lise e que lhe pe a para te aceitar de novo perguntou me N o N o ligue Eu n o quero voltar disse Porque n o perguntou Mr Rabinowitz Tenho medo dela Sempre que cozinha ovos p e as cascas nos degraus das traseiras da casa enquanto murmura qualquer coisa Acho que vodu disse eu Eu tinha tanto medo das cerim nias de Lise que tinha comprado uma pequena cruz que usava volta do pesco o Pensei no filme do Dr cula em que usavam uma cruz para afastar um vampiro Amanh o Dia de A o de Gra as Hei de descobrir alguma solu o durante as f rias disse Mr Rabinowitz Denis quer que eu desista da escola e que trabalhe na American Tack a f brica de pregos disse eu Independentemente do que fa as n o desistas da escola Eu vou ver o que posso fazer por ti na segunda de manh assegurou me Nesse dia depois da escola voltei a casa de Nicolas Mr LaFontaine telefonou a Eddi um amigo dele solteiro que vivia num pequeno apartamento Quando Eddi chegou Mr LaFontaine apresentou nos Era haitiano Este jovem precisa de um s tio onde ficar Foi expulso de casa pelos pais disse Eu partilho o meu apartamento com ele por setenta e cinco d lares por m s disse Eddi Consegues arranjar o dinheiro perguntou Mr LaFontaine Sim eu arranjo um emprego disse eu Eddi levou me de carro at onde vivia e mostrou me um pequeno quarto sem janela num edif cio a
244. lismo o KKK buscou impedir o processo hist rico de integra o social dos negros americanos pelo exerc cio de Direitos Civis p g 193 Como se pode confirmar as NT na vers o em portugu s do Brasil s o consideravelmente extensas provavelmente para ir de encontro s prefer ncias do p blico brasileiro No caso da tradu o em portugu s europeu sentiu se que uma explica o t o pormenorizada seria desnecess ria e desviaria a aten o do leitor para aspetos secund rios Atrav s dos dados acima referidos ainda poss vel verificar que a numera o de p ginas difere acentuadamente tendo em conta que ambas as l nguas t m o portugu s como base lingu stica Esta diferen a t o grande poder ficar a dever se aos diferentes tamanhos das NT em ambas as tradu es Tamb m a n vel de pontua o da vers o em portugu s do Brasil constata se que o tradutor n o foi coerente relativamente aos di logos Inicialmente at o cap tulo VI o tradutor utiliza a pontua o seguinte travess o discurso travess o e final da frase Esta pontua o coincide com a escolhida nos di logos na vers o em portugu s europeu No entanto ap s os seis primeiros cap tulos da VPB no final de cada fala de di logo colocado um ponto final e um travess o seguido de texto em que a primeira letra aparece em min scula o que n o gramaticalmente correto pois a frase em si apenas termina quando o texto que segue o
245. los eram rapados e fortalecidos As longas garras curvas eram previamente afiadas para a luta numa arena semelhante a um po o rodeado por bancos de madeira Os participantes chegavam a cavalo com chap us de palha segurando os seus galos encapu ados contra o peito com um bra o como rec m nascidos Dos seus cintos pendiam longos machetes enfiadas em bainhas de couro castanhas Antes de cada luta eles borrifavam os lutadores frente e atr s com gua das suas bocas As suas mochilas de p r ao ombro continham pequenas garrafas com cascas de alho verbena e casca de canela embebidos em tafi Faziam as suas apostas com notas haitianas velhas gastas e por vezes rasgadas Durante as lutas sangrentas incitavam os 103 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia galos com gritos Mata o Apanha o e fura lhe os olhos Alguns riam e sorriam satisfeitos expondo os seus dentes escurecidos Louis disse me que a maioria dos participantes com camisas vermelhas e cal as de ganga azuis eram houngans ou seja feiticeiros Ali perto havia uma constru o coberta com palha onde se vendia comida cozinhada servida em pratos de folhas de bananeira feitos por mulheres Sempre que o galo de Louis vencia levava o animal derrotado para ser cozinhado pela mulher e deixava o vencedor com o treinador Numa segunda feira ao final da tarde ao voltar da escola para casa de Louis dei com o irm o de Maude Ti
246. ltos Eu aproximei me da porta aberta e olhei em frente para as nuvens lentas mesmo minha frente Pus as palmas das m os na parte de fora do avi o os meus p s na soleira da porta A luz vermelha mudou para verde O meu est mago rugiu e comecei a ter suores frios Vai gritou o instrutor Congelei Olhei por cima do ombro e vi a bota brilhante do instrutor de saltos a entrar em contacto com o meu traseiro De repente as minhas m os deixaram de tocar na superf cie do avi o Estava a cair de pernas para o ar Ao tentar contar mil e um mil e dois o vento entrou me pela boca dentro e for ou as palavras a voltarem para a minha garganta O paraquedas abriu puxando me violentamente para cima e fazendo me vomitar a dois mil p s de altura Passado um bocado aterrei com for a no ch o enquanto uma forte brisa puxou o paraquedas arrastando me alguns metros ao longo da erva alta e castanha Para al m da colabora o externa mencionada o pr prio autor sempre se mostrou absolutamente dispon vel para ajudar no que n o fosse compreendido e tal ajuda foi bem vinda no esclarecimento de um voc bulo absolutamente desconhecido quer na LC quer em dicion rios quer na Internet A palavra grimeau permaneceu pendente durante toda a tradu o pois por mais que se tentasse clarificar o seu significado atrav s de uma qualquer fonte tal n o foi poss vel Ent o foi pedido a Jean Robert Cadetque interviesse e apres
247. m Hillsborough County que o aceite Pode considerar ir para outro lado perguntou me Sim posso mas n o quero ter de ir para muito longe repliquei Ela prometeu telefonar me mal arranjasse uma vaga O telefone tocou numa sexta feira tarde Era a mulher do instituto de professores Disse me para me apresentar na Huson High School em Pasco Country apenas a uma hora de dist ncia de carro e que Ms Cynthia Nassano tinha concordado receber me como estagi rio N o fiquei muito entusiasmado por ir para um local onde as atividades Klan apareciam constantemente nas not cias mas n o tinha outra hip tese Telefonei imediatamente a Ms Nassano a confirmar a informa o Na segunda feira de manh apresentei me na Hudson High School e esperei ansiosamente no servi o de atendimento Ap s uns momentos fui cumprimentado com um aperto de 46 NT referente a Ku Klux Klan movimento racista e antissemita fundado em 1866 nos Estados Unidos da Am rica que utiliza viol ncia extrema para atingir o seu objectivo discrimina o racial e supremacia dos brancos 220 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia m o e um sorriso caloroso de uma jovem morena Segui a at a sala dos professores onde me apresentou a um grupo de professores brancos A campainha tocou e eu segui a novamente at uma sala de aula que depressa se encheu de alunos brancos Observaram me com curiosidade Ms Nassano apr
248. m Nova Iorque e deixou os filhos ao cuidado da m e Florence iria acompanh la at Nova Iorque assim que os pap is de viagem dela estivessem em ordem Denis mandava dinheiro sogra para tratar dos filhos mas nenhum sua pr pria m e Florence estava a ficar desesperada Perdia o dinheiro a 54 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Jogar na lotaria Despediu a cozinheira A cozinheira do vizinho ia ao mercado para ela e Florence fazia a sua pr pria comida provavelmente pela primeira vez Numa noite Florence decidiu fazer sopa de cabe a de cabra Eu passei lhe a concha da sopa que me tinha pedido e ela partiu a na minha cabe a porque estava suja Eu senti um l quido quente a escorrer pelo meu pesco o abaixo Pensei que era suor mas quando limpei e olhei para a minha m o vi sangue O mesmo vizinho que tinha cuidado de mim anteriormente parou a hemorragia esmagando algumas folhas verdes num pequeno almofariz e amarrando as minha ferida Max um antigo amigo de Florence veio visit la com um homem branco muito baixo num final de tarde Eles sentaram se no alpendre por algum bocado e Max foi embora deixando o seu companheiro para tr s Florence foi para a sala de estar com o estranho branco A cabe a dele estava um pouco abaixo do ombro dela A pensar que eles iam ver televis o para a sala fui para as traseiras Depois de subir para o bloco de cimento para olhar l para dentr
249. m Tampa Pelas dez da manh a temperatura estava na casa dos 30 C na pequena casa de estrutura de madeira Sentei me no alpendre da frente ao lado de Mrs Jefferson que se abanava e balan ava e queixava sobre o calor A ventoinha que ela segurava na sua m o envelhecida tinha uma imagem de Martin Luther King Jr A sombra de uma grande rvore no quintal da frente proporcionava algum al vio N o queria sair de casa naquela manh porque tinha enviado quase duas d zias de curr culos e n o queria perder uma resposta para uma entrevista de emprego Mrs Jefferson com os seus oitenta e dois anos demorava bastante tempo a sair da cadeira para atender o telefone Normalmente quando alcan ava a entrada da frente quem telefonava j tinha desligado Pelas onze horas o telefone tocou Corri para dentro e atendi Posso falar com Jean Cadet perguntou a voz de uma mulher o pr prio respondi ansiosamente Daqui Joyce Hughes da Citrus Internacional Mr White gostaria de saber se amanh pode vir a uma entrevista pelas dez horas disse me Depois de aceitar o convite escovei o meu nico fato azul e levei os sapatos para fora para os engraxar Pareces me muito feliz Conseguiste o emprego perguntou Mrs Jefferson N o Ma am ainda n o Para j s querem entrevistar me Eu vou conseguir o emprego disse lhe confiante Eles sabem que s um homem de cor perguntou me 199 ANEXO Restavec de M
250. mado Paul que parecia ser muito mais novo que Denis e um senhor mais velho Roland um oficial do governo que tinha idade suficiente para ser o pai de Denis O seu cabelo era escuro e caminhava como se carregasse um fardo pesado sobre os ombros O velho Roland pagava a Florence pelo seu tempo normalmente uma hora duas vezes por semana em dias espec ficos Paul alto e pesado recebia dinheiro de Florence pelo seu tempo Ela estava muito apaixonada por 48 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Paul esperando casar com ele para se tornar Madame Docteur Ela costumava preparar jantares especiais de cada vez que ele vinha e fazia a cama de lavado com len is de linho De todos os homens que visitavam Florence Paul era o nico que me reconhecia Chegava mesmo a dar me alguns c ntimos s vezes Eu admirava o por essa sua aten o e por me salvar de algumas tareias Num final de tarde Paul veio a nossa casa enquanto Florence estava na casa do vizinho Ele trouxe uma bola de futebol de pl stico e deu ma Nunca fiquei t o contente em toda a minha vida O meu primeiro presente importante Para mim Paul era ao mesmo tempo o Super Homem e o Batman os dois super her is que me faziam rir sempre que os via na televis o a partir do quintal da casa Eu gostava que me dissesses uma coisa disse Paul O que queres saber perguntei Florence leva outros homens para o quarto
251. mais depressa que pude Depois de terminar as minhas tarefas sentei me no pequeno degrau no canto da cozinha espera do sinal de Florence para espalhar os meus trapos e ir dormir Quando o casal regressou da sua lua de mel trouxe uma jovem rapariga com cerca de treze anos A sua pele que era pouco mais clara do que carv o parecia ter sido esfregada com um apagador de quadros sujo A julgar pela sua apar ncia eu soube imediatamente que era restavec A sua parca bagagem consistia numa caixa de cart o com a palavra cc ba dd JN a Carnation impressa a vermelho e uma esteira toda embrulhada presa firmemente com um pouco de corda O seu cabelo estava distribu do em quatro tran as curtas uma de cada lado uma no topo da cabe a e outra atr s Conseguia ver se o reflexo do sol numa parte do seu cabelo Os olhos eram grandes e sombrios as orelhas furadas e despidas o nariz era largo e liso a cara oval e esquel tica A sua express o era rob tica e parecia incapaz de sorrir A clav cula era vis vel atrav s do vestido cor de rosa e o seu peito era liso Os joelhos eram duros e secos Os p s empoeirados estavam dentro de umas sand lias de pl stico sujas Ela lan ou me um olhar que dizia mant m te afastado de mim Eu desprezava a Olh vamo nos de forma reprovadora sempre que os nossos olhos se encontravam A tens o crescia medida que as horas passavam Lise guiou a at a casa de banho e indicou lhe onde poder
252. maneira N o percebes que esta casa n o minha de Lise Quando o teu pai me ligou a contar que tinhas aparecido em casa dele e o qu o envergonhado estava eu prometi lhe que te aceitava de volta Tive de implorar a Denis e Lise para te deixarem vir e ficar na casa deles pensando que lhes ficarias muito grato Tinhas de te embebedar para agora eles pensarem que melhor voltares para o Haiti bom que arranjes outro emprego rapidamente e que mostres algum apre o por Lise por te deixar ficar em casa dela disse Florence e saiu porta fora Na manh seguinte na escola encontrei Nicolas Ol Bobby A pol cia foi a minha casa ontem noite fazer perguntas sobre o que tinhas bebido O meu pai ficou furioso Porque que os teus pais ligaram pol cia perguntou me Eles n o s o meus pais S o apenas pessoas com quem estou a viver disse lhe O que que queres dizer com isso perguntou Nicolas S o amigos do meu pai Ele mandou me vir viver com eles disse eu tentando n o revelar que era o restavec deles Estou a perceber disse Nicolas N o sabes onde que posso arranjar um trabalho part time perguntei Eu conhe o um restaurante Est sempre aberto Tamb m conhe o uma pessoa que trabalha l Ele disse que est o sempre a contratar pessoas disse Nicolas Onde perguntei Nicola deu me a morada Mais tarde depois de terminar as minhas tarefas apanhei o autocarro at o
253. mbor solit rio viajava pelo sil ncio da noite Estava assustado O meu cora o bateu com for a dentro do meu peito enquanto removia do saco as tr s ta as uma por uma Depois de as colocar no meio da estrada corri at casa de Florence a pensar na minha ltima tarefa colocar o seu penico por baixo da cama dela 27 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia V O filho de Florence Denis mudou se para casa da m e Os homens deixaram de a visitar Denis estava prestes a casar se com uma mulher alta e de tez clara chamada Lise A m e de Lise veio visitar nos Era uma sacerdotisa de vudu de tez escura a quem Florence se referia como mambo A avaliar pelo tom de pele da sua filha e dos dois filhos o marido devia ter pele clara Florence disse a amigos que a m e de Lise n o estava muito entusiasmada com aquela uni o devido ao tom escuro da pele de Denis e sua profiss o sem prest gio administrador de projetos de obras p blicas No dia do casamento passei toda a manh a limpar a casa e a varrer o quintal Ao princ pio da tarde houve pessoas que come aram a trazer a mob lia da noiva e roupas Um cami o da Coca Cola com uma imagem enorme do Tonton No l Pai Natal estacionou nas traseiras e entregou v rias caixas de Coca Cola Os bolos de casamento foram colocados na sala de estar Eu estava curioso e questionava me sobre oque se estaria a passar Convidados muito bem vestidos de to
254. me est na escola Chega a casa s cinco disse ela e abriu outra porta Este o quarto de Mademoiselle Marie Claire Ela tamb m est na escola Finalmente abriu um terceiro quarto Este o meu quarto Fechou rapidamente a porta evitando que eu olhasse bem para o orat rio de vodu Segui a pelas escadas abaixo e ela mostrou me a casa de banho a sala de jantar e a sala de estar Mais tarde quando as crian as chegaram ela falou lhes da minha estada tempor ria at eu ir para Nova Iorque J r me era um aluno do d cimo ano com a tez da m e e Marie Claire era finalista e tinha a pele clara do pai Ambos frequentavam o ensino privado A hora de dormir disse a J r me que s vezes molhava a cama e ele contou imediatamente m e que logo trocou o suposto colch o espanhol por uma esteira no ch o Se ainda molhas a cama deves andar doente disse Madame Laroche 113 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Como andava aborrecido por passar o dia em casa sem fazer nada perguntei a Madame Laroche se havia alguma escola que eu pudesse frequentar at ir para Nova Iorque escola custa dinheiro e n o me parece que Philippe gaste dinheiro nisso visto que daqui a pouco partes disse me ela Quando vou para Nova Iorque perguntei Philippe anda a tratar disso Conhecendo a reputa o dele ir s muito em breve replicou Ent o e uma escola p blica A Ecole
255. mesa verde uma mob lia de sala de Jantar duas cadeiras e um arm rio 99 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Eu vou a Port au Prince de duas em duas semanas durante a poca do caf para ver o teu papa Tenho trabalhado com ele comprando lhe caf para exportar desde a sua juventude Ele tinha uma f brica abaixo das montanhas de Cahos Foi onde ele conheceu a tua maman Henrilia Aquele Blanc Philippe digo te uma coisa n o a deixava em paz Ela era a cozinheira dele na f brica sabias disse Louis a sorrir e a abanar a cabe a O que aconteceu minha maman perguntei Envenenaram na Todas as mulheres em Cahos andavam atr s de Blanc Philippe Quando Henrilia te teve muitas mulheres tiveram ci mes dela por ter um filho com um blanc Ela era a mulher mais bonita da f brica preta como carv o com uns dentes muito brancos disse Louis Sabes quem a matou perguntei Non muitas mulheres n o queriam que a vida de Henrilia melhorasse Em Cahos as pessoas d o se melhor quando n o t m nada Blanc era bom para Henrilia Dava lhe dinheiro Fala me sobre ti A Madame Cadet mandou te de f rias Blanc sabe que est s aqui perguntou Louis que presumiu que Florence me tinha tratado como um filho Madame Cadet foi l tranger h cerca de um m s e n o sei se Blanc sabe que estou aqui repliquei Quando for para Port au Prince eu digo a Blanc que e
256. miss o para mas dar Ele regressou e disse A Maman disse que podias ficar com elas Merci disse eu Eu agora tinha quatro camisas e quatro pares de cal as uma quantidade que nunca tivera antes Do outro lado da parede Yvette Anne Marie e o seu marido Jacques estavam em reuni o Quando estava prestes a deitar me ouvi chamarem alto o meu nome Eu saltei pus me de p e apressei me para o quarto de Yvette Pediste ao Monsieur Oivier para partilhar o quarto contigo atirou me ela com fogo nos olhos Non respondi com o cora o a mil Jacques e Anne Marie foram at ao quarto de Olivier para falaram com ele 61 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Tu n o est s autorizado a dormir no quarto do Monsieur Olivier Entendeste perguntou Yvette Oui respondi Florence olhava para mim furiosa Seu filho da m e ingrato N o sabes qual o teu lugar N o sei porque te dei o meu nome Vou mud lo para Bobby Joseph mas Tira as tuas coisas do quarto do Monsieur Olivier e vai para onde pertences disse Florence Eu voltei ao quarto de Olivier a pensar que n o queria ter Joseph como ltimo nome Reuni as minhas coisas e voltei para o quarto da empregada Sophie olhou para mim repulsivamente Eu sabia que algu m te poria no teu lugar disse ela Eu preparei os meus trapos no ch o de cimento e adormeci As cinco horas da man
257. na um dos meus professores aproximou se e sentou se a meu lado De onde vens Gosto do teu sotaque disse ele Sou do Haiti repliquei Vais a casa passar o Natal perguntou me N o vou pass lo aqui respondi sentindo me envergonhado por n o ter uma casa na minha terra natal Eu vou ter uma festa de Natal em minha casa Consegues ir perguntou o professor Obrigado L estarei respondi O professor deu me a morada que anotei no meu caderno Em casa do professor ele abriu a porta e p s o bra o volta dos meus ombros Entra Jean Ainda bem que pudeste vir disse me Enquanto me apresentava aos convidados e fam lia entregou me um copo de eggnog Senta te fica vontade disse NT bebida tradicional consumida principalmente nos Estados Unidos e Canad durante a poca natal cia 187 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Nervoso sentei me no sof ao lado de uma senhora branca Os meus joelhos estavam juntos os cotovelos pousados no colo as costas curvadas e a cabe a virada para baixo Estava a tremer com o copo na m o De repente todos pararam de conversar e se voltaram para mim O que se passa Jean Est s bem perguntou o professor Eu levantei me pus a minha bebida na mesa e avancei para a porta Tenho de me ir embora gaguejei enquanto sa a Todos ficaram boquiabertos Fui para o meu apartamento e passei as
258. nce e depois baixei a cabe a Excremento caca filho da m e N o sabes quem que te alimenta Como que pudeste lavar o carro de outra pessoa em vez do dele Tenho vergonha de ti Dei te o meu nome e tu n o o respeitas Devia ter te chamado Bobby Joseph tudo menos Bobby Cadet disse Florence Joseph era um nome comum no Haiti equivalente a Smith ou Jones Depois de estar muito tempo ajoelhado contra a cadeira Denis mandou me engraxar os sapatos e lavar o carro Eu n o quero ver nem uma mancha de lama nele disse ele furioso Foi dif cil levantar me pois estava com as pernas dormentes Aproximei me de Denis Por favor desculpe Nunca mais vou lavar o carro do vizinho prometi a olhar para o ch o 37 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Fui buscar os meus sapatos Descobri debaixo da cama de Florence a extens o que Denis tinha procurado Perguntei me quem a teria escondido debaixo da cama Costumava estar na mesa perto da batedeira el ctrica Levei os sapatos l para fora juntamente com a caixa de sapatos que continha graxa trapos e escovas Depois de engraxar os sapatos levei os para dentro Ao p r os sapatos de Florence debaixo da cama reparei que a extens o j l n o estava Algu m a tinha colocado novamente no local habitual Suspeitei que fora cozinheira quem tentara salvar me a pele 38 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroam
259. ncio Parecia que toda a cidade estava a dormir excepto algumas pessoas montadas em cavalos ou em burros que voltavam da pra a do mercado da cidade Depois de andar alguns quarteir es reconheci as portas duplas azuis ao longo da rua despavimentada Como estavam fechadas dirigi me s traseiras Fiquei chocado O telhado da cozinha tinha um grande buraco a rvore tinha desaparecido e a beira cimentada do po o de gua estava visivelmente danificada N o se viam animais alguns e jardim e a horta tinham desaparecido tamb m De onde eu estava reparei que a porta das traseiras estava aberta e que havia moscas a entrar e a sair da casa Ao entrar um poderoso fedor a urina e excrementos humanos assaltou o meu nariz A Avozinha Alc e estava na sua cama de mogno a olhar para o teto Os olhos estavam profundos nas suas cavidades e a cara parecia uma passa gigante com um buraco no meio O seu cabelo branco agarrava se cabe a como musgo espanhol entran ado num ramo morto Fiquei devastado Sustive a respira o o mais que pude Avozinha Alc e chamei afastando com a m o as moscas volta da sua cara Chamei novamente Avozinha Alc e Ela rodou lentamente a cabe a na minha dire o Gertrude disse ela N o Avozinha sou o Bobby A Gertrude n o est aqui disse eu Aparentemente a Avozinha n o se lembrava de mim Gertrude era a sua filha mais velha irm de Florence Sa de casa enchi os meus pulm es d
260. ndi N o acredito que sejas capaz de matar algu m disse me N o sei respondi encolhendo os ombros Em junho de 1979 recebi o meu ltimo cheque do GI Bill A minha renda j n o estava em dia e tinha recebido uma notifica o de despejo Durante a cerim nia de formatura sentei me sombrio no audit rio a pensar onde que iria viver Olhei em volta e observei pais sorridentes com orgulho nos olhos Jean Robert Cadet chamou o diretor da minha universidade Dirigi me ao palco apertei a m o do diretor recebi o meu diploma e vim embora Fui de carro at o meu apartamento e pus todos os meus pertences na mala do meu carro Apareci no apartamento de uma amiga uma jovem mulher negra que trabalhava numa empresa de telefones Posso dormir no teu sof at me recompor perguntei lhe 198 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia N o tens emprego e queres dormir no meu sof e comer a minha comida N o n o aceito isso desculpa disse me Durante as duas semanas seguintes dormi no carro e comi em restaurantes fast food at arranjar outro emprego como empregado de quarto num hotel Atrav s de um conhecido encontrei uma senhora j velhinha chamada Alvina Jefferson que me acolheu por sessenta d lares por m s Senti me logo confort vel com ela porque me fazia muito lembrar a Avozinha Alc e m e de Florence Certo dia de agosto de 1979 fazia muito calor e
261. nformation on the locale behavioural standards and value systems that characterize the source and target cultures 19 CAP TULO III A TRADU O AN LISE SER TRADUTOR Technical competence technical competence comprises the abilities and skills required for the professional preparation and production of translations This includes the ability to operate technical resources Norma Europeia EN 15038 Janeiro 2006 A mesma norma estipula ainda que todas as compet ncias referidas devem ser adquiridas atrav s de um curso superior reconhecido na rea da tradu o e ou qualifica o equivalente em qualquer outra rea mais dois anos de experi ncia documentada em tradu o e ou cinco anos de experi ncia profissional documentada na rea da tradu o Em suma um tradutor um mediador entre l nguas e culturas algu m que se tiver a mesma linha de pensamento do autor do TP se se colocar na pele de quem escreve obter similaridade em termos de sentimentos e conceitos e ser mais f cil expor linguisticamente o pretendido na LC pois ter sempre conhecimentos para contrapor a CP ea CC algu m que exp e o trabalho de outrem numa cultura diferente da original e que consegue manter a ideia do autor e ao mesmo tempo dar o seu toque pessoal a n vel de vocabul rio e express es Da que uma tradu o feita por duas pessoas nunca poder ser igual pois um tradutor utiliza um conjunto de palavras e um outro utili
262. nha bebido alguma coisa O que que bebeste filho perguntou o agente Um bocadinho de licor respondi eu a tremer de medo e a pensar que os agentes estavam prestes a levar me at esquadra para me espancarem como a pol cia no Haiti espanca os restavecs O agente pediu me a morada do Mr LaFontaine N s vamos l verificar N o somos da Imigra o N o podemos envi lo de volta para o Haiti Boa noite disse o agente Sai me da frente Trato de ti amanh de manh disse Denis Fui para o meu quarto e deitei me sentindo me como se n o pertencesse casa ou a parte alguma Mais tarde nessa mesma noite quando Florence chegou do trabalho ouvi Denis dizer lhe o qu o chateada Lise ficara quando eu entrei b bado Eu e Lise n o toleramos este tipo de comportamentos N o s se despediu do emprego como anda a beber Talvez se ande a drogar Mais vale enviarmo lo de volta para o Haiti J te tinha dito antes que n o achava boa ideia traz lo para c disse Denis N o te chateies Por favor diz a Lise que lamento imenso que ela tenha tido que suportar tal comportamento Eu vou falar com ele disse Florence 135 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia N o acho que falar adiante muito Boa noite Maman disse Denis Florence abriu a porta do meu quarto e ligou a luz Eu sentei me a tremer de medo Como que te atreves a envergonhar me desta
263. nha forma o superior e comecei a ter a mesma atitude que os estudantes negros americanos em Spring Valley High School Na CIOE a empresa de pneus foi obrigada a readmitir me Embora me tivessem oferecido o meu emprego de volta como ainda me restava alguma dignidade em vez de aceitar abri um processo contra a empresa Ap s quase dois anos de negocia es extrajudiciais o meu advogado aceitou um acordo de trinta mil d lares dos quais reteve cerca de dezassete mil para ele Depois de terminar a escola t cnica consegui um emprego como programador de computador numa grande empresa de servi os de inform tica Tudo corria bem e eu tentava esquecer o passado Tal como na Citrus Internacional eu era o nico negro da empresa al m do cont nuo Uma bela jovem morena captou a minha aten o no departamento Vi a um dia no restaurante de fast food hora do almo o e pedi lhe para partilharmos a mesa Ela 217 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia concordou e come mos a almo ar juntos regularmente Encontr vamo nos todas as sextas feiras tarde num restaurante local para aperitivos e jantar A nossa amizade tornou se bvia para todos no local de trabalho Uma sexta feira tarde depois de me ser entregue o pagamento o meu patr o chamou me ao seu gabinete Quero que te demitas porque o teu comportamento n o favorece a imagem da empresa que queremos preservar disse e
264. nhava o autocarro todas as manh s e comia na escola um bagel com creme de queijo como pequeno almo o Quanto menos Lise me visse menos irritadi a andava Alguns meses mais tarde encontrei um novo emprego na Shopper s Paradise a recolher carrinhos de compras no parque de estacionamento Trabalhava das 18 s 22 horas de segunda a sexta feira e das 10 s 18 aos s bados Aos domingos depois de ter feito as minhas tarefas ia at lavandaria para lavar as minhas roupas e para estudar Ao princ pio da tarde de um s bado o gerente de produtos um homem branco de meia idade disse me Entra no carro Temos de ir buscar umas coisas ao armaz m Entrei e ele arrancou O que que vamos buscar perguntei Tenho observado o teu trabalho Trabalhas muito Vou propor um aumento para ti disse ele Muito obrigado senhor disse eu sentindo me orgulhoso de mim mesmo Ele levou me at uma rea arborizada perto de um parque e estacionou Eu gosto imenso de ti Quero ser o teu melhor amigo disse ele colocando a m o dele na minha perna De repente lembrei me de Simon e percebi o que que o gerente tinha em mente Quando colocou a m o no meu fecho eu gritei abri a porta e corri todo o caminho at casa de Lise Denis e Lise ficaram surpreendidos por me verem O que que est s aqui a fazer t o cedo perguntou Denis Eu expliquei o incidente Despediste te por causa disso bom que voltes para o
265. nseguem ter filhos perguntei Algu m arranjou uma cadeira a Louis disse me 107 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Ah O que que arranjar uma cadeira tem a ver com voc s n o conseguirem ter filhos perguntei Nunca podes dizer isto a ningu m Bobby o nosso segredo Algu m p s um p mau na cadeira de Louis e ele sentou se nela E por causa disso que ele n o funciona como homem para me engravidar Percebes Eu acenei que sim apesar de n o ter compreendido completamente Sabem quem fez isso perguntei Sabemos quem fez e Louis vai tratar dele disse ela chorosa Sabem porque que ele fez isso perguntei Pela mesma raz o que mataram a tua Maman Muitas pessoas querem fazer mal a Louis por ele ser um homem pr spero Tem terrenos e vacas e compra caf para Blanc Philippe N o querem que ele tenha filhos para herdarem qualquer coisa dele disse ela Mais tarde nesse dia o homem que executava as sess es voltou com uma mochila de p r 25 es g ao ombro chamada macout e e Louis levou o at sala de estar Pouco depois Louis chamou Maude para se juntar a ele e ao amigo Quando o visitante foi embora perguntei a Maude se ele ia voltar N o vem mais Bobby J acabou Ele disse nos o que fazer disse ela Th odore e eu estavamos a dormir quando Louis entrou no quarto nessa noite e me acordou Ei Bobby acorda di
266. nseguia ver a gua no quarto mal iluminado Sabia a peixe e a p ntano Vou levar o candeeiro at latrina disse lhe Est lua cheia e n o existe nenhuma latrina Foi destru da replicou Simon Eu preciso de ir casa de banho disse Vai aos arbustos das traseiras disse Simon Ao sair para me aliviar contra uma rvore no quintal das traseiras lembrei me de uma certa tarde de domingo cerca de quatro anos antes Simon vestia roupas lavadas e tinha pressa para ir ver um jogo de futebol de duas equipas locais De repente os insistentes gritos de um beb foram ouvidos muito al m no quintal das traseiras Todos se apressaram em dire o latrina A porta tinha sido deixada completamente aberta Os gritos vinham das profundezas do buraco escuro e malcheiroso Gertrude acendeu uma m o cheia de cascas de milho seco e segurou a tocha no buraco do banco procurando a origem dos gritos Jesus Maria Jos uma das minhas cabritas beb s Est enterrada em caca S consigo ver a cabe a de fora Simon deixaste a porta toda aberta Vai buscar a minha cabra ordenou Gertrude amea adoramente N o Maman por favor n o me obrigues a ir l abaixo choramingou Simon Posso vender aquela cabra por quatro gourdes Que eu morra aqui e a Virgem Maria me fure os olhos Tu vais l abaixo buscar a cabra gritou Gertrude Com a parte lisa de um martelo Simon retirou o banco e amarrou uma corda volta de um
267. ntaram se sem licen a s 5 horas milhares de tropas prontas a combater estavam no aer dromo com os seus paraquedas espera da luz verde do Pent gono Pelas 15 horas do mesmo dia o alerta foi retirado e as tropas foram levadas de volta caserna Fui dar uma volta de carro Numa estrada longa e deserta na base comecei a acelerar L grimas ca am me pela cara abaixo Qual o meu problema Porque que ningu m me quer Estou a viver pelo qu gritei Vi uma rvore enorme ao lado da estrada e fui contra ela de prop sito Perdi a consci ncia O carro cingia a rvore Fui acordado por um param dico e levado para o hospital militar Os meus raios X mostravam que n o tinha ossos partidos Estavas a tentar suicidar te perguntou um pol cia militar N o n o estava Perdi o controlo do carro repliquei Depois de uma curta estadia no hospital deram me alta com uma nota a sugerir que ficasse de cama durante cinco dias Na caserna estava constantemente a respirar fumo de marijuana Ignorei as recomenda es do m dico e voltei ao trabalho A minha cabe a andava preocupada com o problema das drogas Depois do trabalho fui ao gabinete DIC 168 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Divis o de Investiga o Criminal a vers o FBI do ex rcito Fui recebido por um sargento mor O que posso fazer por ti perguntou me Quero que seja feita alguma coisa relativame
268. nte ao s rio problema de drogas na caserna respondi J falaste sobre isto ao teu comandante perguntou me N o n o quero ir pela cadeia de comando porque o sargento do pelot o um dos distribuidores disse D me o nome dele e a unidade pediu o sargento mor Sargento Johnson Companhia C 1 Batalh o 325 Infantaria disse eu nervoso Onde que ele normalmente tem as drogas perguntou me s vezes distribui a partir do gabinete dele nos dias de receber o sal rio Outras vezes a partir de casa dele disse lhe J alguma vez estiveste em casa dele perguntou me N o mas a maioria dos soldados j esteve respondi Consegues fazer com que os rapazes te convidem para ires a casa dele perguntou Isso seria imposs vel Eles n o confiam em mim porque eu n o fumo repliquei Fuma um charro com eles para ganhares a confian a deles ou ent o finge que fumas Queremos apanh lo e aos fornecedores dele disse o sargento mor Refleti por alguns momentos roendo as unhas E contra o regulamento do ex rcito o uso de drogas ilegais disse lhe Por vezes necess rio violar a lei para a aplicar Trabalhar paisana mesmo isso Para ganhar a confian a de algu m tens de agir como essa pessoa e fazer tudo o que ela faz explicou o sargento mor 169 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Vou pensar sobre isso disse lh
269. nte para terminar a hist ria sobre Toussaint Louverture Estavam 219 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia ansiosos para aprender hist rias sobre pessoas semelhantes a eles em vez de hist rias sobre pessoas que costumavam ser donos dos seus antepassados Eu quis ensinar por tr s raz es Em primeiro lugar estaria a dar me a mim mesmo a oportunidade de ser um Mr Rabinowitz para alunos negros americanos Em segundo lugar porque a escola era o nico lugar onde alguma vez me sentira seguro E por ltimo equacionar o regresso ao mundo do lucro fazia me sentir como um nadador que est prestes a penetrar em guas turvas Fui at ao instituto de professores da Universidade do Sul da Florida onde um conselheiro analisou o registo das minhas notas e me apresentou uma lista de unidades curriculares que precisava obter para me tornar professor de Hist ria Ap s analisar v rios livros de textos de Hist ria decidi ensinar franc s uma das l nguas com as quais cresci Depois de completar todos os requisitos estava pronto para estagiar como aluno professor A senhora branca de meia idade que era respons vel por colocar estagi rios como professores do secund rio teve dificuldades em arranjar me uma vaga em Hillsborough County Ap s quase dois meses espera comecei a ficar impaciente Voltei ao instituto de professores e exigi um reembolso N o consigo arranjar uma escola secund ria e
270. ntes dos seus donos Se ficarem gr vidas s o expulsas para as ruas como lixo Com a maturidade os restavecs s o libertados para se fazerem vida como engraxadores de sapatos jardineiros ou prostitutas ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Eu tornei me um restavec Educar me deste modo era mais conveniente para Florence porque assim n o tinha de explicar a ningu m quem era eu ou de onde tinha vindo Como restavec eu n o podia interagir com Florence a n vel pessoal n o podia falar com ela acerca das minhas necessidades Ali s eu n o podia falar a n o ser que me fosse dirigida a palavra excepto para lhe dar mensagens de terceiros Tamb m n o me atrevia a sorrir ou a rir na sua presen a visto que tal seria considerado desrespeitoso Eu n o era filho dela mas sim o seu restavec O meu copo de lata o prato de alum nio e a colher eram guardados separadamente dos restantes utens lios dom sticos As minhas roupas eram trapos e as crian as da vizinhan a gritavam restavec sempre que me viam nas ruas Sempre me senti magoado e profundamente envergonhado porque para mim aquela palavra significava que eu n o tinha m e e que n o era desejado Quando vinham visitas e me viam no quintal perguntavam me sempre Ti gar on rapazinho onde est a tua m e ou o teu pai Todas as noites quando estava recolhido debaixo da mesa da cozinha nos meus trapinhos desejava
271. ntigo de dois andares na Main Street O dono do edif cio geria uma loja de artigos da Marinha no primeiro andar No mesmo dia fui contratado para um part time 141 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia 27 numa mercearia A amp P O que ganhava mal chegava para pagar a renda Comecei a trabalhar doze horas aos s bados para ganhar dinheiro extra para comida Fiz amizade com um rapaz negro americano da vizinhan a Fui a casa dele por volta da hora do jantar e a m e dele serviu me um prato de comida Eu agradeci lhe ao que ela respondeu Sempre s ordens Eu sorri com satisfa o a pensar que me ia alimentar todos os dias Depois da minha terceira visita ela e o filho passaram a ver me como um intruso Na minha quarta visita n o me deixaram entrar em casa deles Na segunda feira de manh chamaram me ao gabinete da psic loga Mr Rabinowitz estava minha espera Onde que est s a viver agora perguntou a psic loga Eu contei lhe do acordo que tinha com Eddi e do part time depois da escola A psic loga entregou me um documento e indica es para uma morada em New City Nova Iorque Eu presumi que me estava a mandar para um trabalho melhor Algu m do escrit rio estar a contar com a tua presen a amanh de manh disse ela Na manh seguinte apanhei um autocarro para New City em Nova Iorque e sa em frente a um pequeno edif cio Entrei e fique
272. ntro e deu um banho Avozinha Depois mudou os len is e alimentou a av como se fosse uma crian a de dois anos Deu me a por o de comida da m e O que aconteceu ao quintal aos animais e rvore perguntei L on foi preso e morto pelos gendarme h tr s anos atr s Tinha sido contratado para um assassinato pol tico por algu m que lhe tinha prometido um bom trabalho no governo Quando a Avozinha soube das not cias teve um ataque Depois a minha m e come ou a 2 NT Agentes policiais 79 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia beber Vendeu tudo at a mob lia para comprar tafia Tem estado b beda desde ent o explicou Chelaine com l grimas nos olhos L on era o filho mais velho de Gertrude Teria os seus vinte e muitos Gertrude tinha investido imenso na sua educa o na esperan a de que um dia ele satisfaria as suas necessidades financeiras mas eu recordo me dele como um ladr o que costumava roubar o pequeno porta moedas da Avozinha L on costumava pegar no pequeno porta moedas do soutien da Avozinha e fugir Quando que a Tia Florence foi l tranger perguntou me Partiu no s bado respondi Tamb m te vai levar perguntou N o sei Ela n o disse respondi O teu papa sabe que est s aqui perguntou N o sei disse lhe Chelaine sabia que o meu pai pagava a Florence para tomar conta de mim e assumiu que
273. o Ma tre a minha solu o igual dele N o h erros disse eu Almajipe sorriu e eu devolvi lhe o sorriso O professor concordou e elogiou me com petit blanc Numa tarde quente e abafada Chelaine n o tinha gua em casa para cozinhar Fizemos uma viagem at ao Canal Artibonite num burro emprestado no qual carregamos caba as cheias de gua Perdi a no o do tempo e cheguei tarde escola Quando entrei na sala o professor mandou me ajoelhar no canto 95 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia N o h desculpas para chegar atrasado disse ele Foi a primeira vez que fiquei no canto Antes de a aula terminar o professor atingiu me nas costas com o chicote Eu tentei proteger a cabe a levantando as m os Como que te atreves a levantar as m os disse ele numa raiva incontrol vel Cada golpe era como apagar um cigarro nas minhas costas A minha camisa estava coberta de sangue mas n o derramei nenhuma l grima Nessa mesma tarde quando cheguei a casa de Chelaine ela olhou para mim e perguntou Castigaram te n o foi Eu acenei que sim com a cabe a Antes do jantar eu decorei as p ginas designadas do livro de textos sobre a hist ria do Haiti e pratiquei tr s ditados num texto de gram tica francesa antes da escurid o se instalar Essa noite pareceu me muito longa Enquanto Chelaine e Antoine permaneciam nas suas atividades habituais a minha pele pare
274. o Williams aproximou se de mim Ei nigga que raio foste dizer ao sargento meu Eu s me estava a meter contigo disse me Como ainda continuava chateado ignorei o O soldado Williams afastou se e juntou se a mais dois soldados negros que depressa se come aram a rir e a olhar para mim Na caserna eu era exclu do pelas tropas negras e ignorado por quase todos os brancos e hisp nicos Sempre que as tropas estavam em guarni o eram me atribu dos os deveres de latrina pelo l der de esquadr o Uma manh depois da refei o o tenente Walker da Sede do Batalh o veio at a caserna Algu m ordenou s tropas que se pusessem em sentido E ds 34 Preciso de um volunt rio com um resultado de no m nimo 110 no GT para fazer secretariado na sede Quem for selecionado ser enviado para a escola de secretariado durante quatro semanas e ter dispensa de todas as tarefas da caserna E tamb m ser o motorista do coronel disse ele Cerca de dez de n s levant mos as m os O tenente olhou para cada soldado dos p s s cabe a Finalmente voltou se para mim Qual o teu resultado no GT soldado perguntou 122 meu Tenente disse Algu m bate 122 perguntou Olhei pelos cantos dos olhos para a esquerda e para a direita Ningu m levantou a m o Segue me disse o tenente Walker Eu segui o at o seu gabinete Ele tirou o meu ficheiro militar e leu a carta que me nomeava como a melho
275. o dizia me Louis enquanto eu olhava para ele enojado Num final de tarde de s bado fui a um concerto com um vizinho amigo que era muito mais velho que eu A lua estava t o brilhante que perdi a no o do tempo O concerto decorreu debaixo de uma rvore gigante no meio de um grande campo aberto Os m sicos tocaram trompetes tambores tubos de bambu maracas e c mbalos S voltei s tr s da manh Depois do pequeno almo o Louis cortou uma longa vara Foi para o lado do anexo da casa e convocou me Anda c rapazinho Vou ensinar te uma li o disse ele Nervoso peguei em duas pedras do tamanho de mangas Se me tocares parto te a cabe a em duas juro gritei Louis ficou perplexo De boca aberta Maude interveio tirando a vara ao marido O que que ele te fez perguntou me Louis pegou na bicicleta e saiu do quintal Nessa noite quando todos dormiam peguei no rel gio da sala de estar programei o para as tr s da manh e coloquei o por baixo da minha almofada O acelerar do meu cora o e o tique taque abafado do rel gio pareciam ter se juntado numa conspira o para n o me deixarem dormir Antes que o alarme pudesse acordar algu m desliguei o Calcei os meus sapatos peguei na minha caixa e devagar destravei o fecho da porta Sa e fechei a porta lentamente atr s de mim Enquanto abria o port o para sair do quintal olhei para cima procurando no c u escuro e sombrio loups garous que pudessem es
276. o nico Ranger negro na caserna n o voltei a ouvir a palavra nigga Na semana seguinte levaram me at um edif cio do governo em Seattle Washington onde um juiz federal estava minha espera Levanta a tua m o direita e repete depois de mim disse o juiz Eu obedeci ao seu pedido dele Parab ns Agora s um cidad o americano disse ele De repente apercebi me de que tinha atingido inadvertidamente metade dos requisitos para me tornar um oficial do Ex rcito dos Estados Unidos Fui biblioteca pela primeira vez para me informar sobre universidades Olhei para as mesas alinhadas e reparei que todas estavam ocupadas por oficiais A bibliotec ria olhou para mim com curiosidade Gostaria de saber o que que preciso fazer para ser aceite na universidade disse lhe J fizeste os TAE perguntou me N o conhe o O que s o perguntei S o os Testes de Aptid o Escolar disse ela lentamente como se eu fosse surdo ou burro Como posso estudar para eles perguntei A bibliotec ria entregou me algumas brochuras para ler Estas t m quest es modelo e informa es sobre os TAE disse ela NT Esp rito de equipa em franc s NT Scholastic Aptitude Test Testes de Aptid o Escolar 178 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Comecei a frequentar regularmente a biblioteca nos meus tempos livres para me preparar para os TAE Estava de
277. o vi o estranho sentado no sof enquanto Florence estava de joelhos com a cabe a enterrada no colo dele Os olhos dele estavam fechados e a boca aberta Ao pressentir que n o deveria estar a ver o que quer que estivesse a acontecer desci lentamente do bloco e fui para dentro pela porta das traseiras Sentei me na cozinha a tentar memorizar as p ginas que tinha copiado de um livro de um amigo da escola cedo naquele dia Bobby gritou Florence Plait il respondi eu apressando me antes que me chamasse a segunda vez Vai sala e limpa a mancha molhada do ch o disse ela Sim disse eu apressando me a pegar num trapo Porque que eles cuspiram para o ch o perguntei me a mim mesmo enquanto limpava o ch o O estranho e diminuto branco tinha acabado de ir embora Max visitou nos frequentemente com homens que nunca tinham vindo antes Cada visita era igual anterior Max nunca ficava mais de cinco minutos e deixava sempre os companheiros para tr s 55 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Florence ficou muito doente por esta altura e manteve me longe da escola Ela deixou de ir igreja de manh As vezes passava dias inteiros na cama Dava me instru es para cozinhar e fazer ch Eu ficava constantemente ao lado da cama dela aplicando lhe compressas na testa e limpando lhe a cara Um dia ela olhou para mim e disse gentilmente O que fari
278. o Mr LaFontaine decidiu que eu tinha de sair Como tinha duas filhas adolescentes n o ia deixar me dormir na casa dele Na escola Mr Rabinowitz aproximou se de mim no bar Desde que tinha come ado a trabalhar no restaurante tinha parado de ir ao gabinete dele durante o almo o para o apoio extra nos estudos sociais Porque que deixaste de ir ao meu gabinete perguntou me O cheiro a cigarro muito intenso para mim repliquei Bem tamb m j andava para deixar de fumar Fazemos um acordo voltas e eu paro de fumar disse Mr Rabinowitz com a sua m o no meu ombro Enquanto nos dirig amos ao gabinete dele l grimas desfocaram a minha vista e eu comecei a chorar Ent o est s a chorar O que se passa perguntou Mr Rabinowitz preocupado N o tenho onde viver Eles expulsaram me disse lhe Quem que te expulsou O que que fizeste perguntou Eu expliquei a Mr Rabinowitz que tinha levantado a voz aos filhos de Lise e que ela me tinha mandado embora Eu tinha muita vergonha de lhe dizer que enquanto restavec n o estava autorizado a levantar a minha voz s crian as Quando que isto se passou perguntou Mr Rabinowitz H cerca de uma semana atr s repliquei N o fizeste mais nada para al m disso perguntou ele incr dulo N o Senhor repliquei 140 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Queres que
279. o a face Os g meos dele andam na minha escola disse me Olivier N o os conhe o Eles t m carro e conduzem at escola acrescentou Olivier entusiasmado Mais tarde hora de dormir pensei que assim que Florence partisse Anne Marie me mandaria embora Fiquei acordado toda a noite a pensar sobre o meu futuro O dia da partida de Florence chegou O seu voo para Nova Iorque seria s quatro horas da tarde O meu cora o parecia debater se para se soltar do meu corpo As duas horas os filhos de Denis chegaram com a av Ficaram felizes por me verem Brinquei com eles at hora de partirem Estavam tr s carros espera para levar Florence at ao aeroporto Bobby pega nas malas e p e nas no carro disse Yvette A tremer de nervosismo coloquei a bagagem nas malas dos carros Florence sentou se no banco de tr s do carro de Monsieur Villard com as crian as Anne Marie sentou se ao lado do marido Os outros distribu ram se pelos outros dois carros Os meus l bios come aram a tremer e os meus olhos humedeceram Quando o carro arrancou Florence acenou me Eu corri atr s dos carros a gritar Maman Maman Por favor n o me deixes Ao caminhar para casa a voz dela ecoou me na mem ria Nunca ser s mais do que um engraxadorzito de sapatos De repente a percebi me de que nem dinheiro tinha para comprar o necess rio para engraxar sapatos quando Anne Marie me mandasse embora As empregadas riram se
280. o a qualquer altura ela procurou um mambo um praticante de vodu que lhe disse que um inimigo tinha prendido o beb dentro da barriga dela Toda a fam lia estava preocupada Sacerdotes de vodu estavam sempre a entrar e a sair de casa para praticar cerim nias Eles esfregavam a barriga de Anne Marie com movimentos concebidos para desatar o n o nascido Estes sacerdotes entravam em transe e falavam com vozes masculinas profundas s vezes apareciam tr s ou quatro personalidades diferentes dentro da mesma pessoa Identificavam se como sendo Dambala Papa Legba Ogun e Erzulie Yeux Rouges Por vezes Florence tamb m ficava possu da mas era sempre pelo mesmo loa Ogun O mambo sugeriu que o inimigo que tinha atado o n o nascido provavelmente seria a amante do marido de Anne Marie Um dia depois do pequeno almo o uma borboleta castanho escura enorme entrou pela casa dentro Uma das crian as gritou Vejam esta borboleta enorme 67 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Florence viu a e anunciou que era um esp rito mau enviado pelo inimigo Foi ordenado s criadas que a pusessem fora da sala Toda a gente entrou em p nico Enquanto as crian as foram mantidas no interior para sua pr pria prote o mandaram me ir buscar gua Eu fiquei paran ico a pensar que um loup garou me mataria ou sugaria o meu sangue a caminho da ravina Uma das empregadas come ou a cantar can es com le
281. o a um senhor mais idoso e regressou cozinha Depois de estarem todos servidos perguntou me se queria um pouco numa doce e inocente voz Oui repliquei envergonhado Ela voltou cozinha e disse m e que me enviou uma pequena por o sem abacate numa tijela de caba a N o h mais colheres disse a crian a Merci disse aceitando a comida 90 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Comi com os dedos e bebi de uma lata que estava perto do po o de gua Enquanto estavam todos ocupados a comer pus duas espigas de milho no bolso agradeci mulher e vim embora Na cozinha de Chelaine assei as duas espigas no forno de tr s pedras do tamanho de cocos comi e guardei o que sobrou para utilizar como papel higi nico quando fosse aos arbustos Ir a casa dos vizinhos sempre que me cheirava a comida tornou se num h bito Na segunda feira de manh cedo pus alguns bocados de tecido nos meus sapatos e vesti o meu ltimo conjunto de roupas lavadas A farinha de milho di ria n o estava pronta Vou para a escola agora disse eu Est bem eu guardo te a comida disse Chelaine Sa de casa levando os meus antigos cadernos de Port au Prince e um l pis Comprei dois bocados de bolo de milho a um vendedor de rua para o pequeno almo o gastando os meus dois ltimos pennies Ao chegar escola reparei no Ma tre Jean Charles com um longo chicote de couro preso no
282. o cacifo enrolou outro charro acendeu o e deu uma longa passa Expeliu lentamente o fumo fazendo o enrolar de volta s narinas e passou mo N o obrigado eu n o fumo disse Que tipo de nigga s tu meu disse ele Senti me deslocado Desculpa mas n o gosto de marijuana repliquei olhando para as cordas de fumo que subiam lentamente de um pauzinho de incenso aceso num cinzeiro Todos em sentido gritou o l der de esquadr o Todos vestiram rapidamente uma camisa e apressaram se a sair Companhia ATEN O comandou o primeiro sargento As tropas puseram se em sentido O comandante da companhia saiu do edif cio Todos presentes meu Comandante disse o primeiro sargento 155 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia vontade homens ordenou o comandante da companhia Amanh vamos fazer uma caminhada de vinte milhas com todo o equipamento de combate O toque de alvorada s 4 horas ATEN O gritou o primeiro sargento As tropas voltaram posi o de sentido e o comandante da companhia voltou para dentro Dispersar gritou o primeiro sargento As tropas foram comer Nesse final de tarde cada grupo encontrava se nas suas atividades normais fumar erva ouvir m sica e jogar domin Eu estava sentado no meu beliche a engraxar as minhas botas com cuspo e a polir as minhas asas e a medalha de atirador certeiro As 21 horas as l
283. o de curiosidade ao leitor nem expressariam a inten o do autor Antecipando a compara o entre as tradu es portuguesas existentes a ser apresentada no cap tulo seguinte consider mos o t tulo da vers o em portugu s do Brasil Restavec De Menino Escravo no Haiti a Americano de Classe M dia e tom mo lo como ponto de partida para a pondera o quanto ao t tulo a adotar na vers o em portugu s europeu A partir da ocorreu um processo evolutivo que culminou no seguinte t tulo Restavec De Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Esse processo evolutivo teve diversas etapas que passamos a descrever Como o autor foi escravo quer no Haiti quer nos Estados Unidos ainda sob a tutela da mesma fam lia de acolhimento haitiana alteramos o nome pr prio Haiti para o adjetivo haitiano ocorrendo assim uma transposi o Perante o poss vel t tulo Restavec De Menino Escravo Haitiano a Americano de Classe M dia que seria linguisticamente correto e respeitaria a inten o do autor consider mos que o voc bulo American al m de n o ter exactamente o mesmo valor do voc bulo Americano que designa tamb m as pessoas que habitam o continente americano n o faria total justi a ao afirmado por Jean Robert Cadet no cap tulo XIX Regressei a Tampa I am now a true American black man despite my Caribbean accent Como na presente vers o portuguesa a express o foi tr
284. o teste na manh seguinte tive um Suficiente Ao ver alguns testes de alunos brancos reparei que alguns tiveram Insuficiente e Mau Eu sorri e disse a mim mesmo N o verdade Blancs n o s o mais inteligentes que eu No final do ano letivo frequentei a escola de ver o e fui transferido para a Escola Secund ria Spring Valley em setembro Na Secund ria Spring Valley havia cerca de dez alunos haitianos Eu evitei os o mais que pude a pensar que n o ter amos mais nada em comum para al m do nosso sotaque das Cara bas e o tom de pele No Haiti eu teria sido restavec deles chamando lhes Monsieur e Mademoiselle Mr Rabinowitz o meu professor de Hist ria interessou se por mim Aquele homem branco e robusto de cabelo preto e branco e com uma barriga de Pai Natal levava me todos os dias para o gabinete dele para me dar explica es Contou me hist rias e obrigava me a ler um livro de Hist ria americana Eu gostava da aten o especial e 129 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia gostava particularmente de almo ar no gabinete dele porque a cantina era racialmente dividida alunos negros que pareciam zangados num lado e brancos no outro com poucos professores brancos a vigiar o centro para manter a paz Sempre presumi que o Mr Rabinowitz me ajudava porque eu n o sabia falar ingl s mas estava enganado Ele viu nos meus olhos um desejo de aprender e decidiu dar me aquilo
285. obre as nuvens e ao chegar pus Cindy a par da situa o Acho que deves ir em frente aconselhou cheia de confian a Quando as guas de Cindy rebentaram na manh de 6 de janeiro de 1991 levei a ao hospital e entrei com ela na sala de partos Durante o parto dei lhe a m o e acompanhei as t cnicas de respira o que t nhamos aprendido nas aulas de prepara o para o parto Durante o nascimento do beb o vazio que sempre tinha sentido no meu peito foi se preenchendo lentamente O meu cora o j n o era uma pedra no meio de uma caverna vazia e fria Depois do parto a enfermeira p s me um beb lindo nos bra os Olhei para ele e vi algo que me lembrou Blanc Philippe Dentro de mim houve uma explos o de felicidade que me fez vibrar at aos ossos Nessa primavera o meu diploma de mestrado chegou pelo correio quando eu brincava com o meu filho Adam 228 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Posf cio Ainda que o nascimento do Adam me tenha preenchido o vazio do cora o sofri de ang stia em muitas ocasi es especialmente em per odos de f rias e feriados quando todos aqueles que eu conhecia pareciam estar prestes a encontrar se com os membros das suas fam lias Quando os av s tia e tios do Adam nos visitavam sentia me como que obrigado a sair de um buraco porque n o conseguia obrigar me a fazer qualquer refer ncia minha fam lia s pessoas que me criaram
286. ocado perguntou Anita oferecendo me um bocado de entranhas enroladas de galinha Eu fiz uma careta N o obrigado disse eu Anita comeu as entranhas como se j estivesse acostumada a faz lo Naquele momento a minha avers o por Lise tornou se bvia at para ela que mal me olhava Depressa encontrei tamb m f ria na cara de Denis sempre que os nossos olhares se cruzavam Os olhos de Denis pareciam dizer me N o gosto de ti se n o gostares da minha mulher Costumava dar me pontap s e empurrar me para o lado sempre que os nossos caminhos se cruzavam Num s bado tarde roubei gelado do congelador Quando estava prestes a p r a colher boca senti uma presen a atr s de mim O meu cora o acelerou Virei a minha cabe a e era Lise Est s a gostar do meu gelado perguntou me com uns olhos gelados e um sorriso c nico 34 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Eu fiquei frente dela a tremer de medo Ela foi embora e juntou se a Florence l fora Eu continuava a segurar a colher cheia de gelado sem saber o que fazer com ela Bobby gritou Florence Eu abri rapidamente o congelador e coloquei l o gelado Plait il Madame respondi a correr l para fora antes que me chamasse uma segunda vez Pus me frente de Florence ainda abalado Vai cal ar os teus sapatos Vais ter de ir loja disse ela Eu suspirei de al
287. ollowed Sim meu Sargento respondi e segui o him to an empty barracks p g 114 at caserna vazia p g 150 All present and accounted for sir said Todos presentes meu Comandante the first sergeant p g 117 disse o primeiro sargento p g 155 Dando continuidade an lise as solu es de Vinay e Darbelnet 1995 31 35 apresentadas anteriormente podem enquadrar se na realiza o deste trabalho Algumas acabaram por ser utilizadas mais frequentemente do que outras No entanto tiveram um papel fundamental na qualidade do produto final Comecemos pelas tr s solu es diretas e Empr stimo e Decalque e Tradu o literal CAP TULO III A TRADU O AN LISE DA TRADU O Solu o TP TC GI BILL GI BILL gd GT GT Empr stimo PX PX Motivo Por n o existir nenhum tipo de apoio financeiro militar para veteranos que pretendam estudar e tirar um curso superior em Portugal n o seria poss vel fazer qualquer tipo de equival ncia ou adapta o na tradu o Por isso foi utilizado o empr stimo para preencher esta lacuna vocabular e cultural da LC Da mesma forma GT e PX s o siglas que em Portugal n o t m qualquer significado e se traduzirmos literalmente o seu significado General Technical e Post Exchange o p blico alvo portugu s continuaria sem conseguir apreender aquilo
288. ompat vel com o costume haitiano de tratar crian as como restavecs ou escravos Ela parecia ficar sempre desconfort vel quando tinha de explicar s visitas quem eu era A grande proximidade dos membros da fam lia for ada pelo tempo frio juntamente com o estatuto social que trouxera do Haiti punham os nimos ao rubro Quando andava no segundo ano de faculdade ela insistiu que eu contribu sse com dez d lares por semana para a comida Comes como um porco e n o trabalhas disse Denis Encontrei um part time numa empresa de limpezas para trabalhar depois das aulas entre as 18h e as 22h de segunda a sexta feira Andava cerca de duas milhas at Empresa Orange County Electric para limpar escrit rios e lavar e encerar o ch o Apesar de cumprir com a exig ncia dos dez d lares por semana Lise ainda n o estava satisfeita Daqui em diante n o quero que laves as tuas roupas na minha m quina de lavar Tens um emprego podes utilizar uma lavandaria disse ela Quando as crian as iam para a cama ela levava a televis o para o quarto dela para evitar que eu visse Depois do jantar Denis sa a para ir para casa da amante uma mulher haitiana de pele clara que era a melhor amiga da m e dele s 22 horas quando eu voltava do trabalho lavava 131 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia ainda o ch o da cozinha punha a mesa para o pequeno almo o e estudava antes de ir dormir Apa
289. on Sciences Permanence of Paper for Printed Library Materials ANSI Z39 48 1984 Library of Congress Cataloging in Publication Data Cadet Jean Robert 1955 Restavec from Haitian slave child to middle class American by Jean Robert Cadet 1 ed p cm ISBN 0 292 71202 2 alk paper ISBN 0 292 71203 0 pbk alk paper 1 Cadet Jean Robert 1955 2 Haitian Americans Biography 3 Children Haiti Social conditions 4 Haiti Social conditions 5 Cincinnati Ohio Biography I Title E184 H27C34 1998 973 049697294 dc21 B 97 4832 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Em mem ria Da minha m e Henrilia Brutus E minha melhor amiga E esposa Cindy Pref cio A verdade desta hist ria relatada pelo meu marido ecoa em mim dia e noite Eu n o testemunhei as circunst ncias do seu nascimento os horrores da sua inf ncia ou a assimila o surreal na sociedade americana que moldam a base da sua mem ria mas deito me a seu lado todas as noites enquanto dorme E quando esse sono inst vel quando ou o a sua respira o ofegante o seu choro abafado ou sinto os bra os dele a tremer e as pernas a debaterem se sei que a realidade de outrora se encontra novamente sobre n s As minhas manh s sa dam me com outra verdade o nosso filho Sei que a combina o da minha pele clara com a pele castanha do meu marido poderia ter criado o nosso amoroso fil
290. or nigga este pareceu n o gostar Apanh mos um autocarro at baixa e caminh mos quatro quarteir es at o parque de caravanas O cabo bateu porta e o sargento Johnson abriu a Estava a suar imenso e pareceu surpreendido ao ver me A caravana estava sumptuosamente decorada A carpete felpuda dourada parecia almofadas sob os meus p s O ar condicionado zumbia suavemente na janela da sala de estar Quatro raparigas negras vestidas como prostitutas estavam sentadas no sof a ver Lawrence Welk Show Eu estava nervoso O sargento 171 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Johnson trouxe duas cadeiras da cozinha para a sala Todos se sentaram em frente televis o Onde a casa de banho sargento perguntei nervoso Segunda porta direita disse ele a apontar para o corredor estreito Em vez de ir casa de banho tentei abrir outras duas portas Estavam trancadas por dentro O meu cora o estava acelerado Voltei para a sala de estar e sentei me ao lado de uma rapariga com uma saia estampada de pele de leopardo colada ao corpo A sua peruca loura e comprida contrastava com a sua tez de mogno Ela sorriu para mim e lambeu lentamente o l bio superior Eu devolvi o sorriso e foquei a minha aten o na televis o De repente o sargento Johnson fez me sinal com a cabe a para o seguir at cozinha Ela gosta de ti meu Deseja te mesmo Vai para o quarto na parte de tr s
291. orizado lutava para se soltar Anita largou a sua arma e controlou o seu oponente ajoelhando se em cima das suas asas Recuperou a faca ao mesmo tempo que segurava para tr s o pesco o da ave com a m o esquerda e atingiu lhe a cabe a depois de v rios golpes O sangue esguichou das veias do animal e manchou a blusa dela Enquanto a ave moribunda se debatia violentamente no ch o Anita p s se em p descal a e a tremer com a faca ensanguentada na m o Fez se sil ncio Anita levou a ave sem vida para a cozinha e colocou a dentro da gua a ferver para lhe arrancar as penas Depenou o p ssaro 33 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia manteve o sobre jornais a arder e dissecou o segundo as indica es de Lise Depois do frango estar marinado colocou a no frigor fico para o jantar de domingo Lise deu a Anita algumas gotas de azeite num copo Limpa as v sceras e come as ao jantar disse ela Eu que estava suficientemente perto para ouvir mas sem ser visto por Lise mal podia acreditar no que presenciara Eu nunca ouvira falar de algu m que cozinhasse e comesse as entranhas de uma galinha Sim Madame respondeu Anita Usa uma panela antiga ou uma ta a N o uses as panelas normais acrescentou Lise Sim Madame respondeu Anita Ela virou as entranhas ao contr rio lavou as e salteou as no azeite enquanto eu observava sem querer acreditar Queres um b
292. ornado uma ocorr ncia sistem tica e as agress es uma rotina di ria Em cada pancada Florence dizia a ranger os dentes O meu filho nunca molhou a cama Tu molhas a tua cama desde que te acolhi por causa disso que nunca ter s um colch o Nos dias em que estava demasiado ocupada para me bater esperava at eu estar a dormir Depois do primeiro golpe me acordar eu enfiava o meu queixo no peito enrolava o meu corpo numa bola e protegia a cara com os meus ombros As vezes ela s parava quando o cabo da vassoura lascava 20 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia HI Fiquei doente Nada disse a Florence como sempre Ela tinha de descobrir por si pr pria a minha condi o ou ent o a cozinheira diria Madame Cadet o Bobby tem febre Florence ficava sempre zangada quando eu ficava doente porque as minhas tarefas ficavam por fazer Ela tinha de esvaziar o seu pote lav lo e p lo novamente no quarto Um rapazinho engraxador de sapatos que trazia consigo uma pequena caixa de madeira e tocava m sicas com uma pequena campainha era chamado para lhe engraxar os sapatos Mantinha me longe da sua vista deixando me ficar a descansar no canto do seu quarto numa pilha de trapos que faziam de cama at eu recuperar Passava a ser da responsabilidade da cozinheira o que era timo pois podia transmitir lhe as minhas necessidades Este arranjo era bom para mim porque podia comunicar a
293. orte disse Alix Bobby vai buscar o teu passaporte Alix vai levar te escola disse Florence Tirei o passaporte da minha mala e segui o at ao carro Ele levou me at Kakiat Junior High School em Spring Valley Nova Iorque Fiquei admirado A escola era absolutamente bonita Eu conseguia ver o meu reflexo no ch o brilhante Enquanto caminhava pelo longo corredor at secretaria os meus olhos fixavam as luzes do teto O cheiro era me completamente desconhecido diferente de qualquer outra escola na qual tinha estado Na secretaria Alix entregou o meu passaporte a uma senhora muito branca e disse qualquer coisa em ingl s Ela parecia escrever tudo o que Alix dizia sobre mim Depois de Alix sair dois estudantes brancos vieram ao gabinete e escoltaram me at uma sala onde me deram 126 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia quatro livros Depois conduziram me a uma sala onde um professor branco alto e barbudo me disse para me sentar ao lado de um rapaz ruivo com sardas Ele pareceu me extremamente estranho Todos os alunos se viraram para me verem Eu era o nico mi do negro na turma Estes blancs devem ser os alunos mais inteligentes do mundo inteiro Como que eu posso competir com eles S o t o p lidos disse a mim mesmo pensando no meu professor na Ecole Jean Charles Olhei para todos os cantos da sala procura de um chicote N o havia nenhum Oh meu Deus s
294. orteiro e guardi o do outro mundo aquele que permite a intera o entre os humanos e os restantes loas Os seus s mbolos s o o bast o de peregrino o falo e a cor branca Ogun associado a um dos ap stolos de Jesus Cristo S o Tiago Ap stolo o Maior considerado um deus de guerra e proporciona for a e coragem em momentos de afli o louvado para ajudar a travar e vencer batalhas domina o fogo o ferro a pol tica a guerra e a ca a considerado tamb m o pai da tecnologia dos dias de hoje HAMDANI 1981 302 313 Como estes loas e respetivas invoca es foram mencionados ao longo da obra foi importante fazer uma pesquisa para que a tradutora se contextualizasse Tal pesquisa permitiu interpretar e transpor os mesmos sentidos e sentimentos associados aos rituais vodu seus intervenientes hungan e mambo c nticos atitudes cren as e supersti es descritos Possibilitou ainda uma an lise mais profunda das personagens e dos seus conflitos internos Na descri o de rituais c nticos entoados sinais aparentemente enviados por loas apresentam se tamb m atitudes das personagens que n o s o familiares popula o portuguesa mas que ser o facilmente justific veis e percet veis Da esta tradutora apenas ter feito uma investiga o para si mesma e optado por n o inserir NT no TC para Hungan sexo masculino e mambo sexo feminino t m a mais alta inicia o no vodu que os torna s
295. os a alimentar a beb O c ozinho estava ao meu lado O padrinho aproximou se do colch o com a sua m quina fotogr fica Quando estava prestes a tirar algumas fotografias Denis disse N o desperdice rolo com ele tirando a sua filha dos meus bra os e afastando me Depois de o mulato ter tirado algumas fotografias a Emilie nos bra os de Denis com o c o em plano secund rio Denis devolveu me a beb e eu retomei o meu papel maternal 10 NT Marca de comida de beb 44 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia VII O Natal estava a chegar A m sica Petit Papa No l ouvia se por todo o lado atrav s da r dio O ar estava adocicado com o aroma de compotas caseiras os perus cirandavam nos quintais dos ricos enquanto n o eram sacrificados para as ceias de Natal e de Ano Novo as vendedoras de rua com roupas coloridas pareciam apregoar as suas mercadorias mais alto do que o normal balan ando nas suas cabe as os cestos enormes Eu tinha deixado de desejar aquelas botas de cowboy que sempre quis porque Florence me dizia o mesmo todos os anos O Tonton No l nunca traz prendas a pessoas que fazem xixi na cama Todavia com seis anos eu j sabia que o Tonton No l n o gostava de restavecs Na manh de Natal v rios presentes esperavam por Emilie na sala de estar Como que ela recebe estes presentes todos Molha as fraldas constantemente pensei eu
296. pa e tu n o sabes o teu disse ela a puxar o autoclismo V s Est a ir para onde pertence agora fica tu tamb m no teu lugar acrescentou ela A minha cara estava molhada Ao levantar a cabe a soprei a gua suja dos meus l bios e sequei a cara com a fralda da camisa Olhei para os olhos de Florence inquirindo como consentia que a amiga me fizesse aquilo Florence estava furiosa Ao sair da casa de banho ela encaminhou me para a varanda a puxar me a orelha Olhou para todos os lados procura de alguma coisa com que me bater finalmente agarrou uma cadeira de crian a e atirou a contra a minha cabe a Eu protegia a minha cara com as m os O meu dedo mindinho foi atingido e senti uma dor muito aguda Florence avan ava loucamente na minha dire o Quando estava prestes a ser encostado prote o saltei da varanda e aterrei em cima do limoeiro que amorteceu a minha queda Olivier precipitou se para o exterior e encontrou me encostado rvore a segurar a dorida m o direita Est s bem disse ele com simpatia 65 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Acho que o meu dedo est partido disse eu envergonhado Olivier foi para dentro para evitar ser visto comigo Antes do anoitecer a minha m o tinha duas vezes o seu tamanho por causa do incha o e o dedo estava ligeiramente verde Apesar da lancinante e constante dor Sophie assegurou se de que eu fazia a
297. pancar Os dois agentes brancos um homem alto e uma mulher aproximaram se do meu carro A mulher apontou uma lanterna para a minha cara do lado do passageiro O agente do sexo masculino ficou ao lado da minha porta a olhar para os assentos de tr s Ei rapaz tens o h bito de passar vermelhos perguntou me dando nfase ao rapaz 203 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Ao tentar mover a cabe a para ter contacto visual com ele um objeto duro tocou me num lado da cara N o te mexas rapaz Ainda n o respondeste minha pergunta Pensei que ainda estava amarelo quando passei repliquei t o assustado como um gato encurralado N o sabes as cores pois n o R A P A Z9 perguntou Sim senhor eu sei senhor repliquei Carta de condu o e registo exigiu ele Dei lhe os documentos e voltaram os dois para o carro Ap s um longo momento eles voltaram at ao meu carro e o foco da lanterna foi apontado novamente minha cara Assinei a cita o de tr nsito e liguei a igni o Ao fazer marcha atr s o pol cia p s se atr s do meu carro de repente como que se estivesse a desafiar me a bater lhe Eu pressionei rapidamente o trav o parando a mil metros de dist ncia Qual a pressa nigger gritou oferecendo me a ltima oportunidade de realizar o sonho dele mas eu estava determinado a n o ser espancado Foi a primeira vez que um homem
298. para o colch o no ch o e disse Este para Th odore Th odore era o rapazinho que tinha anunciado a minha presen a horas mais cedo Non n o preciso Eu durmo no colch o disse eu Non eu quero que tu fiques com a cama Eu quero dormir no ch o disse Th odore na entrada Th odore n o se importa Ele gosta de dormir no ch o disse ela Agora tenho de estudar e fazer os trabalhos de casa para amanh disse eu 101 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Estava a ficar escuro Maude acendeu um candeeiro de querosene na sala de estar Louis foi alimentar os porcos Sentei me mesa e comecei a memorizar a li o do dia seguinte Porque vais escola perguntou Th odore na porta Eu virei me para ele e disse Eu gosto da escola Tu n o vais Non eu n o vou escola porque n o sei ler respondeu me Th odore Ao chegar a hora de deitar Maude colocou um pote no ch o entre a cama e o colch o e desejou nos uma boa noite Boa noite minha tia dissemos ambos em un ssono Convenci Th odore a aceitar a cama de volta e dormi no colch o utilizando uma almofada por baixo da cabe a pela primeira vez na minha vida Cedo na manh seguinte Th odore descobriu que eu tinha molhado o colch o Tia Maude Bobby molhou o colch o disse ele J chega Th odore Bobby teve um acidente replicou Senti me envergonhado mas ainda as
299. penas um pequeno beliche Depus os meus haveres no ch o Vou acordar te s cinco e meia todas as manh s O teu trabalho lavar o carro do Monsieur Villard antes de ele ir trabalhar lavar o alpendre limpar o quintal encher as banheiras para as crian as e verificar se os dep sitos da casa de banho est o cheios porque a press o da gua s vezes demasiado fraca para chegar ao andar de cima explicou Sophie 58 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Onde est o jardineiro perguntei eu Contigo aqui j n o precisamos dele O que que pensavas perguntou Sophie minha escola come a s nove horas disse eu Esquece a escola Vais deixar de ir E p e te no teu lugar Usa Monsieur ou Mademoiselle antes dos nomes das crian as e n o comas na sala de jantar disse Sophie Senti me desencorajado pela not cia de n o poder ir mais escola e sabia que seria in til pedir a interven o de Florence Olivier tinha acabado os trabalhos de casa Ele queria mostrar me as suas cole es de banda desenhada selos e berlindes O meu nome Olivier Como que te chamas perguntou ele Antes que eu pudesse responder Sophie interrompeu Para ti o nome Monsieur Olivier s um restavec P e te no teu lugar N o te preocupes com Sophie N o deixes que ela te assuste disse Olivier O meu nome Bobby disse lhe Vamo
300. plex methods have to be used which at first may look unusual but which nevertheless can permit translators a strict control over the reliability of their work Vinay e Darbelnet 1995 31 Existem ent o tr s m todos diretos apresentados pelos mesmos linguistas e Empr stimo Borrowing acontece quando uma palavra express o n o existe numa determinada LC e absorvida ou transferida da LP para preencher essa falha o Ex d j vu restavec eggnog e Decalque Calque quando h um empr stimo especial onde uma l ngua empresta a outra uma forma de express o mas depois traduzida literalmente o Ex MilitaryPolice Pol cia Militar Energy crisis Crise de energia e Tradu o Literal Literal Translation pode acontecer quando se d uma transfer ncia direta palavra por palavra da LP para a LC o Ex Esprit de corps Esp rito de equipa Absent without leave Ausente sem licen a Consequentemente Vinay e Darbelnet definem os casos em que uma tradu o direta deixa de ser aceit vel e D outro significado e N o faz sentido n o tem significado e estruturalmente imposs vel e N o tem uma express o correspondente na experi ncia metalingu stica no TC e Tem uma express o correspondente mas n o no mesmo registo De acordo com os mesmos autores chegando invalidade das solu es da tradu o direta na LC o tradutor pode ainda optar pelos m todos obl quos seguintes e Transpos
301. por dois dias e deixei l ficar o meu saco de lona Depois dirigi me faculdade e preenchi a minha candidatura deixando a morada em branco Precisa de uma morada disse a funcion ria Estou hospedado num hotel Ainda n o tenho uma morada respondi candidatura n o ser v lida sem uma morada explicou me Onde que posso alugar um apartamento perguntei A funcion ria mandou me ir at ao painel de avisos onde encontrei v rios an ncios procura de colegas de casa Eu apontei v rios an ncios e abandonei o campus De volta ao motel parei num concession rio de autom veis e comprei um antigo Dodge Dart de 1963 por 250 d lares Eu precisava de uma morada rapidamente porque as candidaturas come avam dentro de poucos dias Domingo de manh cedo quando fui tomar o pequeno almo o ao McDonald s reparei numa mulher negra de cabelo cinzento de p no passeio ao lado do carro Encostei atr s do dela Est com algum problema no carro Ma am perguntei Sim jovem tenho um furo no pneu Eu sabia que Jesus ia enviar algu m para me ajudar disse ela 184 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Vive longe daqui perguntei a levantar o carro com o macaco N o vivo perto da faculdade Onde que vives perguntou me Estou num motel at encontrar casa Estou a tentar entrar na faculdade mas n o aceitam a minha candidatura sem uma morada expl
302. que eu s porque tens uma pele mais clara que a minha Ela dizia sempre que uma mulher mulata pobre era equivalente a uma mulher de pele escura rica e uma mulher mulata rica estava acima de qualquer outra pessoa Florence tamb m acreditava que as mulheres mulatas em Port au Prince eram mais procuradas Como amantes eram lindamente recompensadas e como esposas pareciam ter os maridos mais ricos Florence venerava a Ma tresse Erzulie um esp rito vodu ou loa de tez clara que fazia lembrar a Virgem Maria Florence acreditava que Erzulie lhe traria uma grande riqueza Acreditava tamb m noutros loas chamados Ayida Ouedo Damballa e S o Tiago Ap stolo o Maior Ela venerava as imagens dos loas no centro de um arm rio de mogno feito medida Todas as manh s depois de regressar a casa da igreja acendia pavios de algod o em ta as de porcelana brancas colocava as em frente do santu rio e entoava c nticos vodu at parecer possu da Mandava me ir comprar rosas uma vez por semana e s vezes uma garrafa de rum para colocar no seu precioso orat rio A nica vantagem que eu tinha relativamente a outros restavecs era que Florence me permitia andar numa escola p blica depois das minhas tarefas estarem feitas Na escola os professores dirigiam se a mim como Jean Robert Cadet e em casa Florence tratava me por Bob ou Bobby Enquanto pais pobres faziam sacrif cios financeiros para comprar os materiais escolares necess rios para os se
303. que pensava que eu precisava Para ele a minha atitude era mais importante do que a cor da minha pele Ele tinha o mesmo objetivo que eu para mim mesmo Na minha aula de Ingl s Terry uma linda rapariga grande com um cabelo longo preto e uma cara redonda pediu me ajuda com os trabalhos de casa de Franc s Eu concordei em ajud la na sala de estudo O seu f sico arredondado fez me pensar que a fam lia dela era rica porque no Haiti volume sugeria que a pessoa tinha dinheiro suficiente para comer muito bem E os homens achavam atrativas as mulheres grandes Terry sorria para mim frequentemente levando me a pensar que ela queria ser minha namorada Eu gostava muito dela mas o estatuto social inferior que eu carregara do Haiti e a pouca capacidade de falar em ingl s impediram me de expressar os meus sentimentos Um dia ela faltou sala de estudo e levou me at casa dela que ficava perto da escola Tal como suspeitava os pais dela eram mesmo muito ricos A casa era grande e prodigamente decorada Perto da lareira na sala de estar estava uma pe a de mobili rio branca enorme e fora do vulgar Eu apontei e perguntei o que era num ingl s defeituoso E um piano de cauda disse ela a sorrir Ela levou me at l de m os dadas comigo e sent mo nos ambos no banco De seguida pegou nos meus dedos castanhos com a sua m o branca macia e colocou as nas teclas gentilmente enquanto o seu longo sedoso e perfumado cabelo p
304. quem chamava Maman Era uma negresse linda de tez escura e presen a majestosa N o tinha ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia emprego mas obtinha pequenos rendimentos de inquilinos que alugavam parcelas da quinta que herdara Tamb m entretinha altas patentes do governo como forma de complementar os seus rendimentos O seu filho adolescente Denis vivia com a av paterna e frequentava uma escola privada Florence afirmava que o seu marido morrera quando o filho tinha dez anos de idade mas eu nunca vi fotografias do casamento dela Entrei na vida de Florence quando Philippe o seu antigo amante branco lhe fez uma visita surpresa Ele era um exportador bem sucedido de caf e chocolate quer para a Europa quer para os Estados Unidos Philippe vivia em Port au Prince Haiti com os pais dois irm os e uma sobrinha Chegou no seu Jeep casa de dois andares de estilo franc s que pertencia a Florence e se localizava na zona da classe alta da cidade Um beb mulato com olhos brilhantes bochechas rechonchudas e de tez clara encontrava se no banco de tr s Philippe estacionou o carro alcan ou o banco de tr s e tirou o beb Ele pousou o no ch o e o beb tentou caminhar Esse beb era eu Philippe saudou Florence com um beijo em cada bochecha enquanto ela olhava para o beb De quem perguntou sabendo de antem o a resposta m e dele morreu e eu n o posso lev lo p
305. queno blanc minha frente pondo no meu pr prio tabuleiro tudo o que ele punha no dele No fim da fila estava uma senhora branca obesa com um uniforme branco sentada atr s da caixa registadora Quando chegou a minha vez ela contou os itens do meu tabuleiro e disse algo n o familiar aos meus ouvidos Como n o tinha nada no meu bolso fiquei muito quieto Ela repetiu o 127 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia som confundindo me ainda mais O pequeno blanc atr s de mim gritou qualquer coisa Olhei para ele e reparei que todos os outros estavam inquietos Finalmente deixei o tabuleiro e corri para fora sendo empurrado de volta por um vento gelado que soprava gelo em p para a minha cara Alguns alunos riram se e apontavam me com o dedo Passei o dia sem almo ar Na aula seguinte fiquei mais sossegado ao ver dois rapazes negros apesar do cabelo deles me fazer lembrar um peru preto a exibir as penas Quando a aula terminou aproximei me dos dois rapazes negros e disse bonjour esperando que eles me compreendessem Eles olharam para mim franzindo as sobrancelhas e afastaram se No final do dia uma mulher branca acompanhou me at ao autocarro da escola apontou para o n mero 569 e foi embora Eu subi para o autocarro e sentei me perto de uma rapariga branca com um cabelo que me fazia lembrar a cauda de um cavalo branco O autocarro da escola deixou me na esquina da rua Johnson e eu pe
306. quentar a ROTC Esperei at ao ltimo momento e rasguei a candidatura enquanto esperava no gabinete da psiquiatra As sess es esgotavam me emocionalmente chorava sempre em cada uma delas Os pesadelos tornaram se rotina Por esta altura o meu senhorio alugou o terceiro quarto da moradia que dividia com Aaron O nosso novo colega de casa era um homem barbudo e de altura m dia chamado Ross que devia andar entre os 50 e os 55 anos Num final de tarde reparei que Ross estava a ler uma revista chamada Soviet Life mesa da cozinha De repente lembrei me que o Ex rcito me tinha treinado para encarar todas as na es comunistas como pa ses inimigos Depois lembrei me da conversa com a cozinheira de Florence no Haiti sobre os Kamokins mortos que eram deixados perto do aeroporto como um aviso a quem quer que fosse simpatizante de comunistas A partir daquele momento tomei Ross como inimigo nacional dos Estados Unidos o pa s que eu amava Ecoou na minha mente o juramento que tinha feito no dia em que embarquei para Fort Dix para a forma o b sica Apoiarei e defenderei a Constitui o dos Estados Unidos contra todos os inimigos estrangeiros e nacionais De manh logo que Ross saiu para o trabalho revistei o quarto dele e encontrei uma grande pilha de revistas da Soviet Life na mesinha de cabeceira Isso convenceu me que ele era de facto um inimigo nacional Peguei no telefone marquei 0 e pedi ao operador para me passar a c
307. r de alguma maneira contacto com a cultura americana e saber que s o comuns a tradutora optou por n o substituir os nomes americanos por nomes portugueses tamb m comuns como Silva e Ferreira Acresce a isto que o pr prio autor j menciona na pr pria frase que esses nomes s o todos igualmente comuns Joseph era um nome comum no Haiti equivalente a Smith ou Jones p g 37 CAP TULO III A TRADU O AN LISE DA TRADU O Posteriormente j numa segunda fase do livro onde o autor relata a sua experi ncia no ex rcito dos Estados Unidos surge uma nova quest o como grafar as patentes militares que no texto de partida s o utilizadas com min scula excepto quando seguidas de um nome pr prio No Prontu rio de L ngua Portuguesa aconselha se o uso de mai sculas em nomes adjetivos pronomes e express es que representem tratamento cort s ou de rever ncia sem referir as patentes militares No entanto como no ex rcito se exige especial defer ncia relativamente aos superiores que na LP manifestada pela express o sir foi decidido que na LC em texto corrido a nomea o das patentes militares seria feita em min scula e em di logo como forma de tratamento reverencial seria em mai scula TP TC What can I do for you asked a sergeant O que posso fazer por ti perguntou p g 111 um sargento p g 147 Yes sergeant I answered and f
308. r perguntou me Pensei por um momento Eu sei que n o quero ir para Nova Iorque E muito frio Mas se tiver um voo que v para um s tio quente e que tenha uma universidade pode p r me l disse lhe A funcion ria verificou o ecr sua frente Tenho um voo a partir para Tampa Florida um s tio quente Quer perguntou me H uma universidade em Tampa perguntei Sim a University of South Florida fica l assim como outras faculdades explicou me Eu aceito disse Depois de pagar o bilhete fui abordado por dois seguran as 42 NT Programa que d benef cios na rea da educa o a veteranos 183 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Desculpe jovem posso ver a sua identifica o perguntou um seguran a Sim senhor respondi procurando a minha carteira Entreguei lhes a minha identifica o Acabou de sair do ex rcito perguntou me um deles Sim senhor e vou a caminho da universidade disse eu sorridente Boa sorte filho disse o seguran a devolvendo me a identifica o O avi o aterrou tarde no Aeroporto Internacional de Tampa Aluguei um quarto de hotel no aeroporto e passei l a noite De manh cedo procurei algumas faculdades na lista telef nica e apontei algumas moradas Apanhei um t xi e disse ao motorista para me levar para um hotel barato nas redondezas de Hillsborough Community College Aluguei um quarto
309. r sentinela Parab ns parece me que fiz a escolha certa disse me 34 NT Referente a General Technical teste do ex rcito dos Estado Unidos onde se colocam quest es de conhecimentos de l ngua matem tica e cultura geral 157 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Depois de completar o treino de secretariado fui enviado para um gabinete na Sede do Batalh o para trabalhar das nove s cinco J n o era renegado nem ignorado pelos meus colegas N o te metas com ele E o motorista do coronel diziam os militares sempre que eu voltava caserna do trabalho Eu gostava de trabalhar com oficiais e desejava tornar me um oficial Um dia entrei no gabinete do tenente Walker Meu Tenente o que posso fazer para me tornar oficial perguntei Porque te queres tornar oficial perguntou o tenente Porque os oficiais s o respeitados n o usam linguagem grosseira e n o se drogam E gosto de estar no ex rcito disse Precisas de ter uma licenciatura de quatro anos de ser admitido numa escola de candidatos a oficiais e tens de ser cidad o dos Estados Unidos disse o tenente Obrigado meu Tenente disse eu voltando ao meu gabinete pensando que estes requisitos nunca estariam ao meu alcance 158 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia XV Domingo de manh vesti o meu uniforme verde e fui a uma igreja ca
310. ra a parte da frente da casa Quando vais escrever a Blanc Philippe perguntou Antoine sorridente 86 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Amanh de manh respondi eu sem saber nem como nem atrav s de quem que mandaria a carta para Port au Prince Al m disso eu nunca tinha escrito uma carta antes Podes ficar disse me Eu corri at casa da Avozinha e recolhi a minha caixa e a esteira Quando chegou a hora de dormir Chelaine transformou um len ol numa cortina para separar a cama dela da minha esteira Os sons das suas pr ticas sexuais mantiveram me acordado at Antoine ir para casa de volta para a sua mulher De manh quando Simon veio tomar o pequeno almo o perguntei lhe se havia uma escola na cidade para onde eu pudesse ir Sim mas n o gratuita respondeu Simon Podes levar me l Quero v la disse eu Onde que vais arranjar dinheiro para pagar a escola Est s a perder o teu tempo disse me Eu vou escrever a Blanc Philippe e ele vai mandar me o dinheiro repliquei Depois do pequeno almo o segui Simon at cidade Ele apontou para a escola e eu continuei pelo caminho por ele indicado Parei em frente ao port o e li Ecole Jean Charles escrito numa tabuleta de madeira Observei o p tio e avistei ao longe um grande cavalo castanho atado a um poste perto de um anexo Ali perto algumas galinhas raspavam o ch o procu
311. ra de sementes Como era s bado n o estava espera de ver alunos Havia tr s pequenas casas de barro com telhados de palha e janelas anormalmente grandes lado a lado Pr ximo do port o havia uma casa maior com janelas abertas e um grande alpendre frontal Abri o grande port o de madeira apenas o suficiente para entrar Estava nervoso Um enorme c o amarelo que abanava amistosamente a cauda estava a olhar para mim Da casa saiu um homem negro alto e robusto A sua camisa vermelha berrante estava cuidadosamente metida por dentro das suas cal as azuis escuras meticulosamente passadas No seu amplo e brilhante cinto preto estava pendurado um coldre com um rev lver ligeiramente enferrujado O reflexo do sol era vis vel nas suas botas de cano alto pretas 87 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia O que posso fazer por ti perguntou com uma voz de bar tono Eu quero andar na escola respondi Onde que andaste na escola antes Ecole Simone Duvalier em Port au Prince respondi clareando a voz Em que ano No oitavo respondi sabendo que nunca tinha passado do quinto por excesso de faltas S o tr s gourdes cinquenta c ntimos de euro por m s O primeiro m s tem de ser pago em avan o e n o aceito cr tins idiotas explicou me Eu n o tenho dinheiro mas posso trabalhar para si depois das aulas disse eu Ah ah ah Riu at ter l grimas nos ol
312. rafias ao seu filho filha e mulher entre os convidados eu fui casa de banho para que n o me tirasse fotografias Mais tarde quando Betty deixou cair acidentalmente uma fatia de tarte no ch o saltei como um gato e apanhei a Depois limpei a n doa na carpete com um guardanapo Vi me por breves momentos como o pequeno restavec que fora outrora mantendo o ch o limpo sempre que havia uma festa Todos ficaram surpreendidos Obrigada disse Betty Enquanto levava o guardanapo sujo para fora da sala soltei um suspiro de al vio Tentei ficar na cozinha o m ximo de tempo poss vel mas Mrs Kelly convenceu me a juntar me a eles novamente na sala de fam lia Bem cabo vai fazer carreira no ex rcito perguntou Mr Kelly a tentar dar vida sala Quero tornar me um oficial respondi acabrunhado uma boa decis o respondeu Mr Kelly Eu acenei que sim Mr Kelly saiu da sala e algumas pessoas viraram a sua aten o para a televis o J era tarde quando os convidados se despediram Antes de adormecer o primeiro cabo Kelly sugeriu que part ssemos na manh seguinte depois do pequeno almo o Mr e Mrs Kelly vieram at porta do quarto e desejaram nos boa noite Todos pareciam incomodados Mrs Kelly fechou lentamente a porta O primeiro cabo Kelly deitou se na cama virado para a parede Tirei uma T shirt da minha mala e meti a dentro da minha 181 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a A
313. ranco da sala De repente o ru do das tesouras e m quinas de cortar cessou totalmente instalando se um sil ncio arrepiante na loja Senti uma presen a minha frente Baixei a revista e levantei a cabe a Um dos barbeiros dirigiu se a mim Posso ajud lo perguntou me diretamente Estou aqui para cortar o cabelo respondi a pensar Que outro motivo poderia haver N o cortamos o cabelo tua gente melhor pores te a andar rapidamente disse o barbeiro num tom belicoso empunhando firmemente a tesoura seguras 186 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Todos os pares de olhos caucasianos da sala eram penetrantes Levantei me desajeitadamente Mal comecei a caminhar senti que as pernas pesavam e os meus ombros ardiam A porta da frente parecia estar a um quil metro de dist ncia Aluguei um apartamento com um nico quarto por 350 d lares por m s e senti que me cobravam a mais por causa da minha ra a Trabalhei como lavador de pratos ao final da tarde para complementar o meu GI Bill e passei muitas horas a estudar com a ajuda de um dicion rio franc s ingl s Tirava Suficientes e ocasionalmente Bons A maioria dos professores n o tinha elevadas expectativas em rela o a mim por causa da minha ra a contrariamente ao meu professor da Ecole Jean Charles no Haiti que tinha grandes expectativas por causa da minha tez clara Um dia enquanto almo ava na canti
314. rcorri o resto do caminho at casa de Lise Encontrei Florence vestida com um uniforme branco espera da boleia para Letchworth Village As crian as j tinham vindo da escola Florence entregou me um prato de comida Fiquei surpreendido por ver que era parte da refei o que ela tinha preparado para a fam lia dela Na verdade deu me uma parte de frango com carne em vez dos p s ou da cabe a como me deixava sempre reservados no Haiti Depressa aprendi que neste pa s os frangos eram vendidos mortos sem p s cabe as nem penas Come agora antes que Lise chegue a casa Ela costuma entrar s cinco e meia todos os dias e Denis s seis Quando acabares p e a mesa Fica no teu quarto enquanto eles estiverem a comer Lava os pratos quando eles acabaram e passa a esfregona no ch o da cozinha Isso far Lise feliz Lembra te esta a casa dela disse Florence ao sair para o trabalho Eu segui as suas instru es que se tornaram uma rotina di ria Comi a minha refei o de p em frente banca da cozinha No dia seguinte na escola uma senhora branca extremamente bonita que ensinava Franc s levou me at ao seu gabinete para me dar explica es Era alta com cabelo de sereia preto e longo at ao fundo das costas A mini saia e as botas cativaram o meu olhar Sentei me 128 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia ao lado dela numa mesa A fragr ncia do seu perfume a vi
315. rda para ele pr prio Quando n o ganha nada eu alimento o explicou Chelaine De repente pensei em tornar me um engraxador de sapatos a profiss o que Florence escolhera para mim A voz de Florence ecoou novamente na minha mente Nunca ser s mais do que um engraxadorzito de sapatos Petite Rivi re era um mau s tio para ser engraxador A maioria das pessoas andava descal a ou de sand lias A porta abriu Era Simon Quem este perguntou o Bobby respondeu Chelaine Simon avan ou na minha dire o e deu me uma palmadinha na cabe a Ent o Bobby como est s Quando que chegaste perguntou Bem Esta manh respondi abruptamente lan ando lhe um olhar frio Chelaine apercebeu se da minha rea o com Simon Pareceu confusa Tenho de voltar ao trabalho agora Vejo te amanh disse ela saindo O que est na caixa perguntou Simon As minhas roupas repliquei Simon abriu a caixa e revistou a Tens algum dinheiro perguntou Non respondi pensando nos dois gourdes que tinha no bolso Sophie dera me dinheiro extra para o almo o Dormes na esteira O div meu disse Simon 81 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Eu estendi a esteira de palhinha no ch o de cimento e sentei me Ainda tinha fome A um canto estavam dois cruches ou c ntaros de barro com gua Tirei o meu copo de lata da caixa e servi me Mal co
316. recebi ordens para me apresentar no treino de paraquedistas no Fort Benning na Ge rgia Uma vez mais apresentei me mais cedo e fui recebido com uma cara parecida por um sargento que tamb m me batizou de Gomer Pyle O treino de paraquedistas era muito exigente As tropas corriam para todo o lado a que iam e exercitavam tr s vezes por dia Alguns soldados desistiram e a outros foi dada a possibilidade de desistir Aqueles que sofriam de enjoos como eu foi fornecido s 30 Dramamine Chegou a altura do primeiro salto Todos estavam sentados no ch o de um avi o C 130 vazio com dois paraquedas um nas costas e um em miniatura frente O instrutor de saltos entrou NT Private First Class equivalente ao grau OR 3 da NATO que por sua vez equivalente a Primeiro cabo do Ex rcito Portugu s 30 NT Medicamento para tratar v mitos e tonturas provocados por enjoos 152 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Se algu m quiser desistir agora a altura certa Uma vez no ar todos t m de saltar Quem mudar de ideias ser atirado Est o prontos gritou Sim meu Instrutor gritaram os recrutas O avi o descolou e depressa ganhou altitude O meu cora o estava acelerado Eu era o cabe a da fila e o primeiro o saltar Instrutor de saltos prepare se disse o piloto atrav s do r dio De p gritou o instrutor de saltos Todos se levantaram a segurar o gancho
317. rente j empreendeu uma viagem ao Haiti com o autor CAP TULO I JEAN ROBERT CADET VIDA E OBRA BIOGRAFIA com o objetivo de testemunhar a intera o entre libertador e escravos e assim poder transp la mais fielmente para o grande ecr He has this intense need to keep going back to Haiti just to save one more child He is such a sweet guy What s really remarkable is that he has maintained so much humanity afirma o realizador Michael Corrente sobre Cadet numa entrevista de Mark Curnutte para o The Cincinnati Enquirer citada no jornal USA Today a 8 de Setembro de 2013 Conta ainda com diversas publica es em seu nome e j foi por diversas vezes premiado uma das quais pelo Presidente Bill Clinton com o pr mio President Clinton Global Initiative Commitment Award em 2009 Sublinha se que a Global Initiative do presidente Bill Clinton apoia a funda o criada por Cadet CAP TULO II CONTEXTUALIZA O HIST RICOCULTURAL CAP TULO II CONTEXT UALIZA O HIST RICOCULTURAL APRESENTA O HISTORICA DO HAITI Apresenta o hist rica do Haiti O Haiti que significa terra alta na l ngua dos Aravaques os primeiros habitantes da zona o pa s mais montanhoso das Cara bas pertence ao arquip lago das Grandes Antilhas juntamente com a Rep blica Dominicana e um dos mais pobres do mundo apesar da sua aclamad ssima beleza natural As suas l nguas oficiais s o o franc s e o crioulo e a mo
318. reto ro ava a minha face como uma brisa tropical quente num final de tarde Enquanto toc vamos desajeitadamente Fr re Jacques os meus dedos pareciam carac is a deixar um rasto de suor nas teclas de marfim Eu tinha a certeza de que apenas o som da m sica a impedia de ouvir o meu cora o bater no meu peito De repente uma mulher bem vestida e de cabelo cinzento apareceu nossa frente 130 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Oh ol Av disse Terry Houve sil ncio A express o no rosto da mulher parecia indicar que eu permanecia um restavec apesar da minha roupa lavada Ela chamou Terry at cozinha com um tom de voz severo Depois de alguns minutos Terry voltou sala de estar parecendo perturbada Pediu me para me ir embora Os meus sentimentos n o ficaram feridos porque eu j tinha aprendido lidar com o facto de ter um estatuto social inferior Apesar de Terry nunca mais ter falado comigo sorria sempre que os nossos olhos se cruzavam nos corredores Eu passei muitos dias a pensar como que a av dela tinha descoberto que eu era um restavec Durante os meses seguintes descobri que n o tinha sido o meu estatuto social inferior que a tinha ofendido mas sim o sangue africano que me corre nas veias e escurece a minha pele A atitude de Lise em rela o a mim foi piorando gradualmente apesar de eu ser til em casa A sociedade americana pelo que parecia n o era c
319. rican 1 60 Restavec de Menino Escravo no Haiti a Americano de Classe M dia Uma Autobiografia de Jean Robert Cadet sis spapesaisespasasijass sas d Rasa StIad nas SIS and aRt a ocadauintes ada 60 Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia 60 viii INTRODU O INTRODU O Nos dias de hoje os meios de comunica o social debitam constantemente todo o tipo de not cias que se repetem dia ap s dia frequentemente com o objetivo de provocar o alarme e o esc ndalo No entanto n o s o suficientemente veementes na den ncia de problem ticas mundiais como a pobreza extrema a subnutri o a escravid o a desigualdade sexual a imigra o em massa que embora presentes no subconsciente de todos n s n o s o encaradas seriamente nas suas m ltiplas facetas excepto pelos que vivenciam diariamente estes problemas Vivemos a nossa rotina individualista absorvidos pelo que temos de fazer e com toda a legitimidade para isso mas permanecemos alheados de realidades extremamente preocupantes cuja resolu o da responsabilidade de todos enquanto comunidade global absolutamente chocante que no s culo XXI tais acontecimentos ou discrimina es como se quiser chamar sejam tolerados ou que os pedidos de ajuda sejam ignorados ou que haja sofrimento conta de injusti a e maldade Num mundo tecnol gica e cientificamente t o avan ado seria de esperar que cada cidad o fiz
320. ricano de Classe M dia Crac respondi eu prontamente Eu vou por este caminho tu vais por outro e vamos encontrar nos continuou ela com m sica na sua voz Um cinto respondi tendo ouvido aquela adivinha no m nimo mil vezes Cric disse ela imediatamente Crac respondi novamente Uma bola num buraco disse ela tua cabe a num chap u respondi Continu mos com o jogo at sermos interrompidos por dois brilhantes far is e o som familiar do carro de Denis Encontrei um tronco de rvore de onde Anita podia ver televis o quando esta estava ligada na sala de estar A sua sa de era fr gil Ficava frequentemente com febre e dependia sempre da generosidade da cozinheira no que dizia respeito medicina caseira Lise assegurou se de que Anita ajudava o mais poss vel na cozinha para que pudesse eventualmente substituir a cozinheira Numa tarde de s bado Lise decidiu testar Anita Ordenou fr gil crian a que matasse e pusesse a marinar uma galinha para o jantar de domingo O medo apoderou se totalmente de Anita ao saber que todos os seus passos estavam a ser observados Os gestos que correspondiam menina pequena que era tinham desaparecido Anita tremia como uma senhora idosa ao colocar uma panela de gua no fogareiro Armada com uma faca agarrou desajeitadamente o n o cooperativo p ssaro e cortou a corda fina que tinha atada perna Enquanto o animal aterr
321. rnar se num agente transformador da sociedade em que nasceu Tal processo gerou dois efeitos paralelos por um lado permitiu que o autor se libertasse das consequ ncias psicol gicas perversas dos abusos de que foi alvo por outro lado passou a ser visto como um sinal de esperan a para muitos milhares de crian as Para mudar as mentalidades haitianas relativamente ao fen meno da escravatura infantil o autor tem recorrido a m ltiplos meios de comunica o social no sentido de criar um movimento global de consciencializa o desta problem tica Recentemente contou com a colabora o da compositora haitiana Marie Carmel Berrou t P rodin na cria o da can o Lambi Konnen O b zio soa gravada em CD s e DVD s distribu dos em pa ses como os Estados Unidos a Gr Bretanha a Fran a e a Noruega A can o j considerada j um hino nas escolas haitianas e constitui uma prova tang vel de que a determina o e persist ncia do autor est o a obter repercuss es pol ticas e sociais positivas Durante este seu combate as viagens t m sido uma constante quer ao territ rio haitiano quer a muitos pontos do globo aonde se desloca para realizar palestras e confer ncias No contacto com o autor este manifesta a mesma disponibilidade para apresentar pessoalmente a sua obra caso esta venha a ser publicada em Portugal Paralelamente foram tamb m adquiridos os direitos de adapta o das suas obras ao cinema O realizador Michael Cor
322. ro Durante a forma o o l der do pelot o deu pela falta de quatro soldados Depois do exerc cio fomos comer Apresentei me ao trabalho na sede As 17 horas voltei caserna Os tr s soldados estavam minha espera Filho da m e foste tu que nos tramaste n o foste disse o cabo acenando a m o em dire o minha cara Estava rodeado Os tr s soldados estavam a encurralar me Nigga pensei que fosses nosso irm o disse um primeiro cabo negro s um dos homens do DIC perguntou o outro Eu estava aterrorizado Se algum de voc s me tocar eu digo ao coronel e ser o julgados no tribunal militar disse eu um maldito DIC a trabalhar paisana como motorista do coronel disse o cabo De repente o l der do pelot o entrou Fui ao meu cacifo e descobri que o cadeado tinha sido cortado Faltava me a minha cole o dos Beatles e o meu sistema de som Um dos primeiros cabos apontou o dedo indicador para mim como uma arma Sa da caserna e liguei ao detetive Eles sabem disse eu Sai da e vai para o gabinete do DIC disse o detetive Peguei no meu saco de lona e abandonei a caserna Um sargento mor enviou me para outra unidade do outro lado da base para passar a noite Na manh seguinte o meu comandante chamou me sede O que que se est a passar perguntou me 173 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Meu Comandante eu estava
323. ro epis dio relatado na obra s o referidos animais borboleta p ssaro aos quais tamb m est o associadas supersti es que embora n o correspondam s da cultura portuguesa podem ser compreendidas luz de outras existentes nesta cultura como por exemplo a mosca varejeira que anuncia uma visita inesperada ou o uivo dos c es que anuncia uma morte pr xima Jackobson em On Linguistic Aspects of Translation 1959 explica que a tradu o pode ser dividida em tr s tipos Distingue ent o as tradu es intralingual ou reformula o interlingual e intersemi tica A tradu o intralingual definida como uma interpreta o de signos verbais por meio de outros signos verbais dentro da mesma l ngua enquanto uma tradu o interlingual a dita tradu o como hoje mundialmente conhecida a interpreta o de signos verbais por meio de outra l ngua Susan Bassnett afirma tamb m que um tradutor nunca consegue reproduzir um texto equivalente id ntico numa outra l ngua o que acontece que os signos do envolvimento do tradutor no processo de transfer ncia interlingual estar o sempre presentes e podem ser descodificados por qualquer leitor que examine o processo tradutivo Bassnett 1998 26 Por ltimo a tradu o intersemi tica ou transmuta o determinada como sendo a interpreta o de signos verbais por meio de signos do sistema n o verbal como por exemplo passar de arte verbal para m sica dan a
324. ro estalo Ela gritou mais alto Saltei para as costas de Louis e gritei Deixa a minha tia em paz Louis arrastou me de volta para o outro quarto bateu me in meras vezes no traseiro e foi dormir para a sala de estar Na manh seguinte a face de Maude estava gravemente inchada Obrigada por vires em meu aux lio ontem noite disse ela Porque te estava a bater perguntei N o conseguimos ter filhos respondeu me Eu fiquei confuso com aquela resposta Ele estava a bater te porque n o conseguem ter filhos perguntei Louis nem homem nem mulher disse ela Ah Eu j tinha ido nadar com ele no canal num domingo depois de uma luta de galos J tinha visto o seu p nis um homem disse eu sentindo me ainda mais confuso Ele n o consegue faz lo disse ela N o consegue fazer o qu perguntei N o te posso explicar isso mas um dia vais perceber disse ela 106 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Na noite seguinte um homem vestido com uma camisa vermelha estava na sala a conversar com Louis e Maude Quando assumiram que eu e Th odore est vamos a dormir foram para o quarto e sentaram se mesa Algu m apagou o candeeiro A escurid o era densa O homem come ou a entoar algo Eu estava a ouvir Th odore dormia profundamente De repente a mesa come ou a tremer e a saltitar contra o ch o de cimento como se tivesse vida pr
325. rry saiu para comprar gelo Estava prestes a sair para a Morrison s Cafeteria onde comia a refei o de A o de Gra as todos os anos quando a campainha tocou Abri a porta Seis pessoas estavam do lado de fora Antes que eu pudesse dizer o que quer que fosse um homem mais velho disse Desculpe engan mo nos na porta enquanto tocava no apartamento ao lado Eu fechei a porta e voltei para dentro Passado um bocadinho a campainha tocou novamente Abri a vizinha disse nos que o nosso Harry vive neste apartamento Quem s tu perguntou o pai de Harry O meu nome Jean Eu vivo aqui e Harry o meu colega de casa disse eu Onde que ele est perguntou me Foi at mercearia Deve chegar a qualquer momento disse Todos entraram com cestos e sacos de comida A m e de Harry rearranjou a mob lia e p s a mesa Eu estava prestes a sair mas o cheiro da comida convenceu me a ficar Harry entrou e olhou para mim surpreendido Eles chegaram quando eu estava para sair sussurei encolhendo os ombros Fui para o meu quarto e sentei me na cama Deixei a porta propositadamente aberta para ouvir a conversa na sala Nunca me disseste que tinhas um homem de cor como colega de casa disse o pai Desculpa Pai Mas n s n o convivemos Ele trabalha de dia e eu trabalho de noite explicou Harry Est bem Venham todos A mesa est posta disse a m e Todos se mantinham em sil ncio ouvindo se
326. rtilhado o dinheiro com outros restavecs mas ele n o me denunciou Foi obrigado a ajoelhar se numa cama de pedras quentes utilizada pelas criadas para branquear roupas debaixo do duro sol tropical enquanto segurava duas pedras do tamanho de mangas em cada m o bem acima da cabe a Depois de Ren desmaiar Monsieur Beauchamp atirou o para o banco de tr s do seu carro e levou o at esquadra da pol cia Nessa mesma tarde a pol cia trouxe Ren de volta O nariz dele sangrava os olhos fechados de t o inchados e os l bios faziam lembrar dois peda os de f gado de vaca crus A cara inchada estava distorcida para um lado e a sua camisa rota colada ao corpo partido Nessa noite ouvi os assobios de Ren sabendo que seria a ltima vez que os ouviria Embora nunca mais tenha visto Ren eu escutava todas as noites entre as oito e as nove horas e esperava o sinal que apenas conseguia ouvir atrav s da minha imagina o O desaparecimento de Ren fez me viver com medo Eu tinha sempre saltado e tremido com o som furioso da voz de Florence mas agora o medo fazia com que tivesse diarreia Antes de ele partir eu costumava molhar a minha cama de trapos velhos tr s a quatro vezes por semana pelo que era castigado ou com o cabo de uma vassoura ou com o martinet um chicote com tiras de couro e um cabo de madeira Depois disso molhar a 19 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia cama tinha se t
327. s o das suas pernas a proximidade dos seus seios e o contacto acidental dos nossos corpos conspiraram para quebrar a minha concentra o Todos os dias era o mesmo O meu corpo ficava com formigueiros e transpirava Nunca me tinha sentido assim antes Era como se eu olhasse para mulheres com novos olhos e o meu corpo respondesse de formas que me surpreendiam Era um tipo de tortura inofensiva Ao soar a campainha eu sa a do gabinete dela com os livros frente das cal as Depois de dois meses de explica es ela mandou me de volta para Ingl s Naquele dia a professora tinha uma lista de palavras no quadro Fiquei feliz por reconhec las quase todas por causa das suas ra zes francesas Os alunos levantavam as m os dando defini es Do nada os meus ouvidos come aram a reconhecer e apanhar determinadas palavras Na manh seguinte houve um teste de vocabul rio Enquanto a professora ia distribuindo as folhas ignorou me propositadamente pensando que o meu ingl s n o era suficiente Sem conseguir expressar verbalmente o que queria levantei a m o e apontei para os testes na mesa dela Ela entregou me educadamente um teste Era de correspond ncia A primeira palavra na coluna A era invenc vel que eu tinha aprendido nos livros de banda desenhada de Olivier Ao verificar as defini es na coluna B reparei na palavra Super homem Em todas as defini es eu reconheci pelo menos uma ou duas palavras Quando ela devolveu
328. s at morte Enquanto esper vamos perto do parque que a multid o dispersasse a cozinheira perguntou Viste os Kamokins mortos na berma da estrada perto do aeroporto N o n o os fui ver respondi eu Estava a referir se a cinco pessoas suspeitas de serem comunistas Foram mortos a tiro pelos Tontons Macoutes pol cia secreta e os corpos foram deixados perto do aeroporto para que todos os vissem Devias t los visto Eles incharam sorrindo ao sol como c es mortos disse ela 12 NT Rebeldes 46 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Lembrei me de um c o preto que tinha sido atropelado por um carro e deixado morto no meio da rua Os corpos ainda l est o perguntei eu a pensar numa mulher morta que tinha visto enforcada numa rvore atr s da Ecole du Canada cujo corpo os alunos descobriram durante o recreio da tarde N o J foram retirados porque o cheiro era insuport vel Menino nunca digas a ningu m que n o gostas do Duvalier disse ela enquanto caminh vamos para casa Eu j sabia que a forma mais eficaz de cometer suic dio era ir para o meio da rua e gritar A sazi bas Duvalier Enquanto continuava a seguir a cozinheira recordei aquela vez em que ela regressou do mercado a tremer como se tivesse visto um fantasma Fez para si pr pria um pouco de ch salgado para acalmar os nervos e foi visitar a cozinheira da
329. s e deitaram na na gua da bacia Anne Marie despiu se e saltou l para dentro Yvette massajou lhe a barriga com as folhas presumivelmente para desatar o n o nascido e afastar os esp ritos maus Depois chamaram as crian as uma por uma para serem lavadas H uma outra crian a que precisa de ser lavada disse o loa na cabe a de Florence Onde est Bobby gritou Yvette Eu que estava de p atr s da porta apareci rapidamente 68 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Aqui estou eu disse a olhar para os olhos raiados de sangue de Florence Ela estava a murmurar e a balan ar a cabe a lentamente de um lado para o outro Gotas de suor deslizavam por baixo da sua peruca preta at a sua face castanha conflu am at ao queixo e escorriam para a sua blusa vermelha Yvette observou me como se a minha presen a a ofendesse Despe as tuas roupas e p e te dentro da bacia disse Yvette Eu despi me lentamente cobri as minhas partes ntimas com a m o magoada e entrei no verde frio e malcheiroso l quido Ent o N o fiques a parado Lava te comandou Yvette Com a minha m o boa cheguei ao l quido peguei numa m o cheia de folhas molhadas e esfreguei me at estar completamente molhado Em breve todo o meu corpo ficou coberto de arrepios A mambo que falava com uma profunda voz anasalada caminhou em dire o a mim baixou se e pegou na minha m o magoad
330. s havia sempre comida em abund ncia Yvette tinha duas filhas Jeanne tinha quinze anos e Anne Marie trinta e seis Esta era casada e tinha tr s filhas e um filho da minha idade Nessa altura estava gr vida do quinto filho O seu marido Jacques Villard um mulato alto trabalhava para o governo haitiano A filha mais velha de Anne Marie Catrine de dezasseis anos partilhava o quarto com a sua tia Jeanne V ronique de seis anos partilhava o quarto com a sua irm de nove anos C cile e Olivier de catorze anos tinha um quarto s para si Florence partilhava o quarto com Yvette Eram t o compat veis como g meas Veneravam os mesmos loas partilhavam as roupas que tinham e apreciavam o mesmo tipo de comidas Yvette era alta e majestosa como Florence mas tinha uma tez mais escura Vestiam roupas justas e pareciam balan ar intencionalmente as suas ancas quando caminhavam Sophie a governanta da casa fazia a supervis o da lavadeira e da cozinheira Controlava todas as atividades da casa e era uma segunda m e para as crian as mas sem ter o poder de as disciplinar Na mesma noite em que Florence se mudou Yvette disse me que me apresentasse a Sophie para que esta me indicasse as minhas fun es Eu apresentei me com a minha caixa de cart o e os meus trapos Tu vais dormir nesta sala disse me ela a apontar para o quarto da empregada Era um compartimento pequeno e sem janelas com ch o de cimento onde cabia a
331. s mensagens equivalentes em dois c digos diferentes 1971 65 Isto como duas l nguas s o dois c digos pr prios e singulares cujos signos t m significados espec ficos a tradu o limita se a descobrir quais os c digos equivalentes em ambas as l nguas para criar a mensagem que ser comum ou CAP TULO III A TRADU O AN LISE ENQUADRAMENTO TE RICO seja o elo de liga o para que o conte do seja mutuamente percet vel Por muito diferentes que ambas as culturas ou l nguas sejam existem sempre sentimentos ou atitudes que n s como seres humanos temos e que n o s o absolutamente desconhecidos No entanto como cada povo nico porque re ne caracter sticas espec ficas o tradutor ter de conhecer ambas as culturas para evitar conflitos ou mal entendidos fruto de realidades culturalmente estranhas ou de c digos pr prios Esta situa o verificou se no decurso da tradu o nomeadamente nas passagens referentes a supersti es locais Por exemplo na primeira ocorr ncia da express o loup garou tendo em conta o contexto este poderia ser facilmente confundido com um vampiro conhecido por sugar o sangue das suas v timas No entanto p de concluir se que a express o portuguesa equivalente na realidade lobisomem que n o est associada ideia de sugar o sangue Ambas as express es designam uma entidade m tica tem vel em que um ser humano sofre uma metamorfose transformando se em lobo Num out
332. s minhas necessidades A cozinheira cuidou de mim com tr s tipos de ch s verbena com a car mascavado de manh pele de alho com sal grosso ao meio dia e umas folhas amargas com sal grosso que me provocavam arrepios ao final da tarde Fazia caretas e deixava a saliva escapar pelo meu l bio inferior Depois de me servir sopa de tomate com p o ao pequeno almo o fervia folhas de laranjeira lim o e graviola numa grande panela e deixava as ao sol Em seguida levava me at o exterior e despejava a minha pr pria urina quente pela cabe a abaixo antes de me dar banho com as folhas cozidas Depois disso ajudava me a voltar para os meus trapos e cobria me com dois vestidos velhos de Florence Para elevar a minha cabe a colocava uma pequena cadeira de madeira virada ao contr rio sendo as costas da mesma a minha almofada Na cama de Florence havia duas almofadas com lindas fronhas bordadas mas a cozinheira n o se atrevia a colocar me uma por baixo da minha cabe a pois sabia que eu era um restavec e n o um familiar de sangue de Florence Sabendo que eu fazia xixi na cama acordava me do meu sono tr s ou quatro vezes por noite para se assegurar de que ia casa de banho Se os meus trapos estivessem molhados sentava me numa cadeira at que tivessem secado ao sol Apesar de haver uma cl nica m dica a um quarteir o da casa Florence n o me levava ao m dico Era socialmente inaceit vel que um membro de uma fam lia influente fosse vi
333. s minhas tarefas O carro tinha de ser lavado duas vezes em alguns dias consoante o percurso de Monsieur Villard Observar as crian as a fazer os trabalhos de casa e ouvir Florence a trat las por meus queridos era me mais doloroso do que o dedo magoado Aos s bados ao final da tarde todos se sentavam no alpendre da frente Quando se ouviam as campainhas do carrinho dos gelados era meu dever correr para a rua para chamar o vendedor para o quintal As crian as reuniam se volta do carrinho a gritar Eu quero de chocolate Eu quero de baunilha Eu quero de coco Depois eu obedecia s ordens dos adultos e dava dinheiro ao vendedor Depois de ter servido todos eu entregava o troco a Monsieur Villard e ia sorrateiramente para as traseiras da casa onde Olivier esperava por mim para partilhar o seu doce comigo Ele segurava no cone de chocolate em frente minha boca esperando que eu trincasse Eu hesitava sempre sentindo me como se estivesse prestes a infringir a lei medida que d vamos lambidelas vez no gelado eu sentia me igual a ele Depois de tais momentos sempre que lhe preparava o banho descarregava o autoclismo ou limpava os seus sapatos sentia me mais como um pai a cuidar do seu filho do que como uma crian a restavec escrava por comida e abrigo Eu gostava muito de Olivier Ele era diferente dos outros rapazes ricos infringindo todas as conven es da sua classe social Ele comprava comida feita a vendedores
334. s para o meu quarto disse Olivier com entusiasmo Eu olhei para Sophie e segui Olivier pelas escadas acima at ao seu quarto Eu quero que tu durmas no meu quarto disse Olivier Eu sorri descrente N o posso suposto dormir no quarto da empregada disse Eu trato disso disse Olivier com confian a Como Segue me disse ele Eu assim fiz e esperei por ele atr s da porta quando ele entrou no quarto da av Florence chamou Olivier 59 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Querido respondeu ela em franc s A palavra querido acertou me como uma faca Senti me a afogar no meu pr prio sangue Como que ela o trata por querido e me chama extrait caca Ele nunca fez nada por ela disse a mim mesmo Eu queria partilhar o meu quarto com Bobby pediu Olivier Florence ficou em sil ncio espera que Yvette interviesse N o sabes quem s perguntou Yvette Oui sou Olivier respondeu ele inocentemente J olhaste para ele e para ti perguntou Yvette firmemente Oui j olhei para ele Mas porque que n o posso partilhar o meu quarto com ele perguntou Olivier Pergunta tua m e quando ela chegar a casa disse Yvette de forma autorit ria Est bem respondeu Olivier saindo Eu segui o de volta ao seu quarto Maman vai dizer que sim vais ver disse Olivier a olhar para mim
335. separaram se por iniciativa pr pria Os negros ocuparam um dos E o DO lados da rea tratando se por nigga e ouvindo Marvin Gaye e James Brown Os brancos ocuparam o outro lado tratando se pelos apelidos e ouvindo m sica country e rock Alguns hisp nicos ocuparam a rea central e jogavam domin Todos os grupos tinham uma coisa em comum fumavam marijuana e disfar avam o cheiro com incenso Foi me dado um beliche no lado negro da rea Era um dia quente e h mido Tirei a minha camisa e sentei me no meu beliche em frente ao soldado Williams que segurava uma beata de charro com uma pin a Ele colocou a nos l bios e sugou num instante I NT Acr nimo de absent without leave em ingl s 32 NT Treino f sico 3 E Gui ro A 3 NT Express o pejorativa equivalente a nigger sin nimo de negro em ingl s 154 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Ei como te chamas nigga perguntou Chamo me Bobby Cadet respondi Tens uma pron ncia esquisita mano D onde raio s tu perguntou ele sugando novamente ao ponto de quase queimar os l bios Venho do Haiti repliquei Onde raio isso perguntou ele confuso um pequeno pa s nas Cara bas respondi Porque raio que falas assim meu Soas branco e parece esquisito disse ele a forma como falo Tenho pron ncia disse lhe O soldado Williams abriu
336. sim seguro O irm o de Maude trouxe para o quintal uma das vacas do campo de arroz e come ou a ordenh la O caf estava pronto foi entregue p o fresco Depois do pequeno almo o Louis disse me para levar a bicicleta para a escola mas eu n o sabia andar nela Aprendi sozinho utilizando uma parede da casa para manter o equil brio Depois de alguns dias comecei a ir para a escola de bicicleta Todos come aram a ter ci mes Ma tre Jean Charles costumava perguntar me Jean Robert Cadet encontraste algum pote de outro no fim do arco ris Eu trabalhava com Louis aos s bados no armaz m de caf a pesar e a verificar a hidrata o dos graus de caf Tamb m o ajudava a verificar todas as transa es importantes Sempre que eu descobria um erro Louis sorria e dizia Tu s mesmo filho de um blanc 102 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Durante a poca de planta o do arroz Louis levou me aos seus combites onde homens de tronco nu mulheres e crian as trabalhavam o dia inteiro enfiando novas plantas de arroz germinado em campos alagados em troca de duas refei es Ao meio dia eram servidos inhames com leite e ao final do dia papas de milho amarelo com molho de feij o vermelho ambos em tijelas de caba a As mulheres comandavam os homens com can es de vodu que pareciam ajudar a suportar a f ria do sol Louis n o me queria a plantar arroz porque eu era fil
337. sorriu J na rua Almajipe gritou por mim Ei Jean Robert Vais apanhar esta tarde 23 NT Pequeno branco em franc s 4 NT Chicote de couro 92 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Em casa de Chelaine comi e inspecionei os tr s livros usados O nome Bach Jean Charles estava escrito na parte de dentro de todas as capas Era o filho de Ma tre Jean Charles que se preparava para os exames nacionais em Port au Prince Fiz os exerc cios e revi c lculos matem ticos nos meus cadernos antigos uma e meia voltei escola e esperei pelo come o da sess o s duas horas Almajipe estava no recreio a provocar me Vais apanhar esta tarde continuava a dizer Cinco minutos antes das duas todos estavam nos seus lugares Estava um dia quente e h mido O odor de corpos transpirados tinha absorvido o cheiro dos tinteiros novamente enchidos nas secret rias dos alunos Depois do toque da campainha o professor entrou e todos se levantaram Ele fez um sinal com a m o e todos se sentaram silenciosamente Antes do professor dar instru es o pai de um rapaz do oitavo ano entrou como se fosse esperado Todos se levantaram e assim permaneceram O professor chamou o rapaz frente da turma e entregou o rigoise ao pai Sem que fosse preciso dizer lho o rapaz ajoelhou se em frente do quadro e o pai chicoteou o nas costas pelo menos vinte vezes O rapaz soltou um pequeno e abafado
338. spetiva do tradutor algo din mico que pode ser sempre alterado ou melhorado e que nunca ser perfeito por mais aperfei oado que seja Todo este projeto faz parte de algo maior pretende contribuir para uma mudan a de mentalidades para lan ar um alerta a este pa s para atender a um pedido de ajuda internacional para fazer o que est certo Foi com um grande prazer que acedemos ao pedido de Jean Robert Cadet e que entramos tamb m n s na luta contra esta realidade absolutamente chocante e inaceit vel Como cidad os globais nosso dever ser solid rio e interventivo pois todos temos um lugar e uma miss o a desempenhar Un N CONCLUS O Esperamos que este modesto projeto possa constituir um incentivo tamb m para outros e que proporcione a quem o estudar um momento de reflex o tanto te rico pr tico como c vico tn 95 REFER NCIAS BIBLIOGR FICAS REFER NCIAS BIBLIOGR FICAS Bibliografia Prim ria CADET Jean Robert Restavec From Haitian Slave Child to Middle Class American Austin University of Texas Press 1998 CADET Jean Robert Restavec De Menino Escravo no Haiti a Americano de Classe M dia Uma Autobiografia de Jean Robert Cadet 2002 Edi o do autor Bibliografia Secund ria BASSNETT Susan Translation Studies London Routledge 1980 BASSNETT Susan When is a Translation Not a Translation in Bassnett S e Lefevere A Constructing Cultures Essays on Lit
339. sse Louis abanando me Estava a segurar num pequeno candeeiro de querosene Oui Louis disse eu sentando me no colch o Toma quero que me escrevas o nome Edward neste peda o de papel pediu me Sem fazer quaisquer perguntas escrevi o nome no papel e devolvi o a Louis 25 NT Voc bulo j anteriormente mencionado mas que neste contexto adquire uma conota o distinta pois trata se de um objeto utilizado em rituais vodu para apresentar oferendas 108 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Merci disse Louis e saiu do quarto Eu voltei a deitar me mas antes de adormecer ouvi o som de um cavalo a sair do quintal Na manh seguinte perguntei a Maude porque que Louis me tinha pedido para escrever o nome Edward num peda o de papel Ele precisava do nome para p r na ta a de caba a disse ela Porqu O que que isso vai fazer perguntei O homem que nos ajudou mandou Louis ir ao rio Artibonite ontem noite Ele arranjou nos uma ta a de caba a e disse a Louis para acender uma vela preta no meio da ta a p r o nome nela e deix la flutuar pelo rio abaixo explicou ela O que vai acontecer depois perguntei nervosamente Quando a ta a afundar Edward morrer Talvez eu e Louis j consigamos ter filhos disse ela Senti me tra do Fiquei assombrado pela culpa e senti me respons vel pela morte de Edward Porque que n o escrev
340. st s comigo Se precisares de alguma coisa diz me disse Louis Maude entrou Bobby est na escola Louis Olha para os livros dele disse ela mostrando os livros a Louis Em que escola andas perguntou me Louis Na Ecole Ma tre Jean Charles respondi J lhe pagaste perguntou me Non respondi 100 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Quanto que ele cobra perguntou Tr s gourdes por m s repliquei Louis abriu um pequeno arm rio e tirou uma caixa de metal cheia de dinheiro haitiano sujo e empilhado organizadamente Deu me seis gourdes Precisas de mais alguma coisa perguntou me Oui preciso de tr s cadernos respondi lhe Ele deu me mais tr s gourdes e disse Compra tamb m alguns l pis Vem ter comigo quando acabares de conversar com Louis Quero mostrar te o teu quarto disse Maude Eu segui a Ela abriu a cortina na entrada que separava a sala de estar do quarto dela Este o meu quarto disse ela Em frente da cama estava uma mesa com duas cadeiras Estavam dois cruches ou c ntaros de barro cheios de gua num canto Aos p s da cama estava um arm rio alto Ela abriu outra cortina que revelou um quarto mais pequeno Esta a tua cama disse ela apontando para uma pequena cama com len is e almofada bordados brancos Eu olhei para a cama e pensei no meu problema de molhar a cama Ela apontou
341. stisse uma liga o forte de sentimentos entre o autor da obra e o leitor evitando se o mais poss vel a interfer ncia do tradutor na narrativa mas ao mesmo tempo mantendo a preocupa o de suscitar todos os sentimentos de revolta e ang stia enquadrando o leitor na cultura haitiana t o diferente da do p blico alvo desta tradu o Esta preocupa o not ria logo nos primeiros cap tulos da obra onde o autor descreve a sua rotina di ria enquanto restavec tal como se exemplifica no quadro seguinte TP TC While poor parents made financial sacrifices to purchase the necessary school materials for their children Florence always told me to borrow books from other children and copy the pages into a notebook Some days I didn t go to school at all because two of Florence s girlfriends would come to borrow me to clean their houses Instead of thanking me for my services they always said Tell Madame Cadet I said thank you I preferred being at school to being borrowed but preferred being borrowed to being at home where I Enquanto pais pobres faziam sacrif cios financeiros para comprar os materiais escolares necess rios para os seus filhos Florence sempre me disse para pedir emprestados os livros das outras crian as e copiar as p ginas para o meu caderno Por vezes n o ia escola porque duas amigas de Florence me pediam emprestado para limpar as suas casas Em vez
342. sto numa cl nica gratuita com um restavec Florence nunca recorria medicina caseira ou urina para curar o filho Denis quando ele estava doente Consultava m dicos que lhe passavam receitas 21 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Quando estava doente fui acordado tarde numa noite Os meus trapos estavam molhados O quarto estava escuro e a cama da Florence tremia Assustei me com os gemidos da Florence e de um homem Fui para o lado da cama e disse Est s a magoar a Maman Est s a magoar a Maman De repente ouvi a voz da Florence gritar Cala te e sai daqui Eu corri para a porta procura da ma aneta Fui para a cozinha escura e agachei me no canto a chorar convulsivamente Passado um bocado a Florence chegou e puxou a corda da luz Levantei a cabe a e os meus olhos encontraram os dela Abriu a porta e um homem que me era familiar saiu da casa Vai dormir ordenou me num tom duro Segui Florence at ao seu quarto e separei os trapos secos dos molhados Ela esvaziou um cesto cheio de roupa suja minha frente e disse Dorme nestes Depois de eu arranjar os trapos ela apagou a luz Nem uma palavra foi proferida Ao deitar a minha cabe a nas costas da cadeira que me servia de almofada questionei me por que raz o a Maman tinha permitido que aquele homem a magoasse Quando melhorei da minha doen a recomecei com a rotina de dormir no ch o da cozinh
343. sua fun o Tenho uma reuni o de departamento depois desta aula Porque n o vens comigo e v s por ti sugeriu com aquele seu sorriso espont neo 189 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Depois da aula enquanto seguia o Dr Orr pelos longos corredores imaginei uma oficina de madeira onde as cadeiras eram feitas Para minha surpresa ele entrou numa sala onde se encontravam v rios professores espera numa comprida mesa oval O Dr Orr apresentou me aos professores como se eu fosse um convidado de honra e fez me sinal para me sentar ao lado dele Senti me simultaneamente importante e desconfort vel Ap s a reuni o ele acompanhou me at a sa da e disse Isto o que eu fa o enquanto diretor A atitude dele estimulou ainda mais a minha vontade de aprender Fui at ao centro de sa de de estudantes e marquei uma consulta para a psiquiatra Quando voltei ao centro de sa de sentei me na entrada espera que me chamassem Finalmente apareceu uma bela mulher hisp nica Jean Cadet chamou Sim respondi seguindo a at ao seu gabinete Como te posso ajudar perguntou me O meu professor da universidade disse que eu precisava de ajuda porque n o sei como me comportar quando estou numa sala de estar repliquei Porque que ele te disse que precisavas de ajuda perguntou me Expliquei o incidente na festa de Natal assim como aquele em casa do primeiro ca
344. t lica na base militar Assisti Primeira Comunh o de v rias crian as Comecei a recordar o tempo em que ia catequese em mi do A voz de Florence ecoou na minha mente Pensas que vou gastar o meu dinheiro num rapaz que faz xixi na cama para poderes fazer a Comunh o Imaginei me novamente a mat la com o meu rev lver M 16 de calibre 45 De repente comecei a choramingar Por favor Deus perdoa me por pensar numa coisa t o terr vel sussurrei No fim da missa esperei l fora pelo capel o Desculpe senhor Padre Gostaria de trocar algumas palavras consigo disse lhe O capel o sorriu e apertou me a m o O que posso fazer por ti perguntou me Gostaria de fazer a Primeira Comunh o O que que devo fazer perguntei com vergonha Oh queres tornar te cat lico perguntou o capel o N o senhor Padre eu j sou cat lico Eu ia catequese quando era pequeno e vivia no Haiti No dia em que eu deveria ter ido igreja para receber o meu sacramento a minha m e disse me que eu n o podia ir porque ela n o tinha dinheiro para me comprar roupas expliquei lhe sentindo me desconfort vel Ah compreendo disse o capel o Eu sei o catecismo de cor Pode testar me se desejar acrescentei Segui o capel o at ao seu gabinete Ele deu me alguns panfletos para ler e perguntou me qual era o nome da minha unidade Se a tua unidade n o sair vem ver me no s bado s 16 horas diss
345. t rica ideol gica e cultural que obviamente n o era a do tradutor substanciada essa percep o num entramado lingu stico e sem ntico que igualmente n o o seu O di logo entre o autor e o tradutor na rela o entre o texto que e o texto a ser n o apenas um di logo entre duas entidades individuais que h o de completar se sobretudo um encontro entre duas culturas colectivas que devem reconhecer se Jos Saramago CAP TULO III A TRADU O AN LISE SER TRADUTOR Cadernos de Lanzarote Di rio V 1998 pp 52 3 Christiane Nord uma investigadora alem contempor nea da rea da tradu o especializada em pedagogia que tem explorado as teorias e criado e aprofundado metodologias de trabalho criou um modelo que abordaremos mais adiante de an lise com o objetivo de orientar o tradutor nas v rias compet ncias que lhe s o exigidas compet ncias na rece o do TP e respetiva an lise compet ncias de investiga o compet ncias de transfer ncia compet ncias de produ o escrita compet ncias em avaliar a qualidade da tradu o e compet ncias lingu sticas e culturais quer na LP quer na LC que o principal pr requisito para traduzir 1992 47 As mesmas compet ncias inserem se na norma europeia aprovada em 2006 EN 15038 2006 relativa qualidade em servi os de tradu o que vai mais al m e especifica todos os aspetos a ter em conta nomeadamente a compet ncia
346. tanha 153 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Levantei me atordoado e desorientado Tinha saliva a escorrer pelo l bio inferior Um instrutor de saltos acorreu rapidamente e fez me frente Porque raio que congelaste Queres desistir soldado Queres ir para um raio de uma unidade de infantaria gritou ele a plenos pulm es Olhei o olhos nos olhos N o meu Instrutor N o sou um desistente repliquei Depois de mais tr s saltos recebi as minhas asas e ordens para me juntar 82 Divis o A rea em Fort Bragg na Carolina do Norte N o demorei a juntar me minha unidade Companhia C 1 Batalh o 325 Infantaria Era a minha nova casa uma unidade pronta a combater constantemente em movimento a praticar exerc cios de combate Durante a primeira forma o o primeiro sargento explicou as regras e penaliza es As Nr z l 31 duas regras mais importantes eram n o se ausentar sem licen a AWOL e seguir sempre a cadeia de comando Depois o comandante da companhia apresentou se e enfatizou o que tinha sido dito anteriormente Quaisquer problemas que venham a ter n s ajudaremos a resolv los Mas n o incorram em AWOL sob qualquer circunst ncia disse ele e voltou para o seu gabinete O toque de alvorada s 5 horas o TF s5e 30 a refei o s 7 horas disse o primeiro sargento e dispensou as tropas Na caserna as tropas
347. tar a voar para casa antes do nascer do sol Rezei para n o ser raptado por um bando de RaRa m sicos que se 110 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia pensava serem loups garous Corri at chegar pra a da cidade onde o autocarro Deus E Grande estava a fazer tempo para partir para Port au Prince Disse ao condutor ofegantemente Louis mandou me ir a Port au Prince para fazer um recado e disse me para te pagar na vinda Est bem sobe disse o condutor Dormi no autocarro e acordei em Port au Prince por volta das nove horas daquela manh Pensei em ir at casa dos Villard mas mudei de ideias pensando que Yvette nunca me deixaria ficar l Lembrei me de Louis dizer que Blanc Philippe vivia na Rua Bernard 18 e decidi ir at l Perguntei a desconhecidos nas ruas o caminho para a Rua Bernard at a encontrar e nela uma grande casa amarela com o n mero 18 Fiquei do outro lado da rua a observar nervosamente as atividades no quintal Estavam dois carros estacionados Observei um homem branco a entrar num deles um carocha preto VW Atravessei a rua e avancei em dire o ao carro medida que ele fazia marcha atr s para sair O condutor reparou em mim e parou Saiu do carro e perguntou me rispidamente O que est s aqui a fazer N o quis viver mais com Louis respondi tremendo com a minha caixa nas m os Onde queres viver perguntou Philippe severamente
348. tavec Ao longo da entrevista senti o cora o a acelerar N o conseguia acreditar que eu um antigo restavec estava num gabinete corporativo a ser entrevistado para a posi o de assistente do vice presidente de exporta o Mr White ofereceu me dez mil d lares por ano para trabalhar como assistente de exporta o e assistente do c nsul honor rio franc s Fiquei t o impressionado com as designa es das fun es atribu das que aceitei a oferta dele Apert mos as m os mas eu sa do gabinete dele sentindo me desencorajado Apercebi me que tinha aceitado uma posi o com a mentalidade de um escravo Deveria ter negociado com ele disse em voz alta no carro enquanto conduzia para casa Fazia mais dinheiro a trabalhar seis horas por dia como empregado de mesa Ao chegar a casa de Mrs Jefferson estacionei o carro por baixo da rvore Ela abanava se balan ava se e mastigava tabaco Cuspiu para a ta a de lata Conseguiste o emprego perguntou me Sim ma am respondi sombrio N o parece que tenhas sido aceite no emprego acrescentou Oh o calor Mrs Jefferson o calor repliquei a refletir sobre as suas convic es de que um branco nunca paga a um negro por aquilo que ele vale N o quis incendiar mais a f ria dela contra o homem branco ao contar lhe a raz o da minha m cara pois come aria a atacar mais uma vez todas as institui es em Tampa Eu sabia que em primeiro lugar
349. te porque quer rececionar na l ngua alvo um texto publicado por um produtor textual numa l ngua de origem e sob determinadas condi es culturais de origem Nord 1991 enumera por ordem de a o os participantes no referido processo sendo eles O produtor do texto de partida O emissor do texto de partida O texto de partida O recetor do texto de partida O iniciador O tradutor O texto de chegada O recetor do texto de chegada Estas abordagens que se complementam entre si permitiram enquadrar a reflex o acerca da complexidade do processo de tradu o e simultaneamente apontaram caminhos para a resolu o dos problemas encontrados no decurso do mesmo CAP TULO III A TRADU O AN LISE DA TRADU O An lise da tradu o Neste cap tulo ser apresentado todo o processo de tradu o elaborado desde os dilemas que surgiram ao longo da tradu o at s respetivas solu es e escolhas tendo em conta n o s as teorias de tradu o anteriormente mencionadas mas tamb m o apoio de algumas pessoas que cooperaram para que o produto final fosse o mais fiel poss vel ao TO sem perder o tom de escrita e o sentido da mensagem no es estas que foram sempre tidas como essenciais Iniciando a primeira abordagem recorremos ent o aos j referidos par metros apresentados por Nord Assim tendo estes em considera o enumeramos os participantes ativos neste processo de tradu o S o eles
350. te todos os passos da sua vida e exp e os traumas da recorrentes e com os quais ainda lida CAP TULO I JEAN ROBERT CADET VIDA E OBRA BIOGRAFIA Atualmente Jean Robert pai marido escritor mestre em Literatura Francesa pela Universidade de Cincinnati e membro do Grupo de Trabalho em Formas Contempor neas de Escravatura das Na es Unidas onde foi convidado a testemunhar a sua experi ncia e onde denunciou a exist ncia deste cruel sistema que afeta entre 300 000 a 400 000 crian as segundo estimativa recente da UNICEF Participou entre 2000 e 2010 em v rios document rios sobre o mesmo tema e recorreu a entidades mundialmente conhecidas como The Oprah Winfrey Show 60 Minutos e CNN com o objetivo de divulgar este terror incompreens vel nos nossos dias o fundador da organiza o n o governamental The Jean R Cadet Restavek Organization na qual se faz porta voz destas crian as sem nome sem idade sem direitos criando as condi es para que deixem de ser escravas ou quando tal n o poss vel inserindo as em programas educativos adaptados s suas necessidades para que no m nimo as mesmas crian as possam ter a oportunidade que outrora tamb m lhe foi dada Escreveu em 2001 o seu segundo livro intitulado My Stone of Hope From Haitian Slave Child to Abolitionist para o qual ainda n o existe tradu o em portugu s Nesta segunda obra o autor relata uma nova fase da sua vida depois de ter decidido to
351. ten o os procedimentos relativos a dinheiro cheques e registos de cart o de cr dito que devem ser guardados nas caixas registadoras Se tiver alguma d vida relacionada com estes procedimentos contacte por favor o departamento de contabilidade A descri o do suspeito a seguinte Sexo masculino negro entre os 25 e os 30 anos 1 75 m de altura 75 kg sozinho e armado Poder ser Jean ou Frank Vigie os de perto Eu tinha 1 73 m e pesava 61 kg Frank era mais baixo que eu Eu peguei na carta e sa com ela no bolso Depois de alguns dias fiz v rias c pias e fui at Comiss o para a Igualdade de Oportunidades de Emprego onde preenchi uma queixa contra a loja alegando rescis o abusiva Trinta dias depois recebi uma resposta a convocar me para uma audi ncia Entretanto o meu carro foi confiscado o meu cr dito destru do e fui despejado do meu quarto alugado Dei por mim a dormir entre os sem abrigo em Venice Beach e a comer refei es de caridade no complexo de Hare Krishna todas as tardes Estava zangado e queria recurso Sentia me enganado e abusado N o me podia queixar nem pol cia nem aos tribunais nem sequer C mara Casa Branca nem ao Congresso Alvina Jefferson estava t o longe N o tinha mulher nem filhos com quem desabafar Queria que o mundo conhecesse as minhas frustra es Queria explodir mas o motim em Watts tinha acontecido h vinte anos J n o estava agradecido Am rica branca pela mi
352. ter me na cabe a e na cara enquanto Lise mantinha os olhos na revista Florence parou quando o seu bra o pareceu cansado e depois disso fiz os recados e fui para a escola descal o Pouco tempo depois Anita ficou doente Tossia constantemente A cozinheira estava a ajud la a ficar melhor dando lhe uma variedade de ch salgado e lavando lhe a cabe a com folhas de laranjeira cozinhas e urina quente da Anita A cl nica era a um quarteir o de dist ncia no entanto ningu m a levou a uma consulta no m dico Numa tarde cheguei a casa da escola e descobri que a caixa de cart o de Anita e o colch o tinham desaparecido Eu esperei pela manh para perguntar cozinheira o que tinha acontecido a Anita Ela n o estava a melhorar A Madame Denis mandou a para casa para a m e respondeu ela Puseram Anita num t xi e nunca mais a vi Eu decidi nunca mais olhar para Lise Apesar de ela nunca me castigar fisicamente tinha mais medo dela do que de Denis e de Florence Num s bado tarde eu estava sentado no p ra choques traseiro do carro a brincar com f sforos e com um bocado de vela que Florence tinha deitado fora do seu arm rio de vudu Est s a tentar incendiar me o carro gritou Denis furioso Non respondi enquanto o medo me revirava o est mago Denis atirou me ao ch o com um estalo na cara Voltou para dentro e saiu com uma extens o el trica Depois do primeiro golpe fiz xixi por mim abaixo
353. teu na parte de tr s de um carro num sinal vermelho Quando o pol cia chegou ao local do acidente falou primeiro com o seu bom velho amigo Disse ele A que velocidade ia aquele nigger quando se cruzou contigo Eles partiam se todos a rir at terem l grimas nos olhos Eu ria me com eles porque naquela altura n o tinha o esp rito de um americano negro para sentir o peso da palavra nigger quando proferida por brancos Aos poucos a minha alma negra haitiana foi sendo americanizada Aconteceu gradualmente atrav s de experi ncias que nunca procurei e pelo processo de adapta o da mesma maneira que os animais mudam a apar ncia para se adaptarem e sobreviverem em ambiente hostis Tudo come ou a acontecer s nove horas de uma noite quente e h mida na Hillsborough Avenue Tinha acabado de mudar me de casa de Mrs Jefferson para um apartamento de dois quartos que partilhei com um jovem branco que tinha respondido ao meu an ncio Tentei evitar um sinal vermelho numa zona escura da cidade enquanto conduzia para casa Um carro patrulha estava a uma boa dist ncia atr s de mim Entrei em p nico e fiz uma curva apertada para a esquerda para um parque de estacionamento escuro para me tentar esconder da pol cia Desliguei as luzes do carro e esperei O carro patrulha estacionou mesmo atr s de mim com as luzes a piscar Eu tremia de medo A voz de Mrs Jefferson ecoou na minha cabe a Devem andar procura de niggers para es
354. thrown away his black saint we played Toussaint Louverture and Jean Jacques Dessalines against the blancs the same way Depois de dar o meu S o Jos para um colega que tinha jogado fora o seu santo negro n s brincamos de Toussaint Louverture e Dessaline Jean Jacques contra os blancs tal como Depois de dar o meu S o Jos a um colega de turma que tinha deitado fora o seu santo negro brinc mos a Toussaint Louverture e Jean Jacques Dessalines contra os brancos da 49 CAP TULO III A TRADU O BREVE COMPARA O ENTRE TRADU ES American children played Cowboys and Indians os meninos americanos brincam de caub is e ndios forma mesma que as crian as americanas brincam aos ndios e aos Cowboys 50 CONCLUS O CONCLUS O O culminar de cinco anos de aprendizagem na rea de tradu o a realiza o deste relat rio A oportunidade que surgiu para a elabora o da proposta de tradu o desta autobiografia anexada foi um achado pois n o s permitiu que se tomasse conhecimento do mundo editorial e liter rio como tamb m alertou para um problema maioritariamente desconhecido no nosso pa s Atrav s desta experi ncia comprovaram se as teorias estudadas e apreendidas no curso destes anos devido sua aplica o pr tica ao longo deste projeto Tornou se por de mais evidente que a tradu o n o de forma alguma uma mera convers
355. tiu por um momento Depois pegou nos livros dele que estavam com outro rapaz e abandonou o c rculo sem dizer uma palavra Eu suspirei de al vio A multid o dispersou Durante o intervalo do oitavo ano costumava observar Ma tre Jean Charles com o seu rigoise atr s de um aluno no quadro Por cada erro que o aluno cometesse Ma tre Jean Charles atingia o nas costas e gritava Cr tin Cochon marron Idiota Porco selvagem Um aluno que chegasse atrasado aula recebia vinte chicotadas nas palmas das m os Ao ser chicoteado o aluno alternava as m os e contava em voz alta os golpes a ranger os dentes No final de cada semestre Ma tre Jean Charles convocava uma assembleia no recreio da escola para distribuir cart es escolares com as notas Todos ficavam em sil ncio enquanto ele chamava pela classifica o nome e m dia de cada aluno come ando pelos finalistas A m dia era baseada numa escala de 10 0 Quando chegava aos nomes cujas m dias eram abaixo de 6 0 chamava lhes Cr tin Na minha turma eu fui sempre o primeiro com uma m dia de 9 5 ou mais Almajipe era o segundo e Raoul Bonhomme era o terceiro Para muitos alunos o objetivo n o era aprender mas sim evitar ser brutalmente chicoteado e insultado publicamente de cr tin por Ma tre Jean Charles Na tarde seguinte fui mandado ao quadro para corrigir Almajipe Antes de sair do meu lugar comparei a solu o de Almajipe com a que eu tinha escrito no meu cadern
356. tiveres de ir no escuro acorda um adulto ou usa o pote ao lado da minha cama A Avozinha encaixou afetuosamente a minha cara nas suas m os e disse me N o chores e nunca me mintas Eu tenho os meus m todos para descobrir a verdade A Avozinha acreditava no poder dos loas apesar de n o ter nenhum orat rio de vodu Acreditava tamb m que cada corpo de gua desde rios a nascentes e po os de gua tinha um esp rito ou um ma tre Ela costumava beber gua numa caneca de barro chamada canarie num canto da casa Atr s da canarie estava uma grande garrafa que continha longas e espessas sanguessugas vermelhas como o barro que se moviam no l quido Por vezes a Avozinha sentava se na sua cadeira de baloi o debaixo da rvore k n pe e apoiava a sua inchada perna esquerda numa outra cadeira Depois colocava em s tios espec ficos algumas sanguessugas na perna inchada Quando uma sanguessuga atingia o tamanho de um pequeno pepino 17 NA Excremento 18 NT Pequeno fruto local haitiano que faz as del cias s crian as 76 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia retirava a da perna e fazia a rolar gentilmente entre as suas m os para lhe espremer o sangue escuro sugado Quando o motorista parou eu saltei para fora com a minha caixa Olhei em todas as dire es e apercebi me repentinamente de que o autocarro era o nico ve culo a motor na cidade Tudo estava em sil
357. to dobrei o meu antigo casaco do ex rcito e utilizei o como almofada Deitei me virei me de costas para ela e apaguei a luz Boa noite disse Boa noite respondeu Houve sil ncio que foi ocasionalmente interrompido por um raio e respetivo trov o Depois ouvi a soltar um longo suspiro de al vio De manha fiz lhe o pequeno almo o e sumo de laranja fresco Enquanto com amos ela olhou para mim sorridente Decididamente n o s um negro disse ela O que queres dizer com isso perguntei Bem n o tentaste nada e foste t o simp tico para mim Achas que eu sou bonita S honesto Es muito bonita Es minha amiga e eu respeito te disse lhe E como te disse n o s um negroporque nunca conheci um que n o se atirasse a mim Passei finalmente a empregado de mesa no restaurante onde trabalhava Um dia um cliente deu me uma nota de dez d lares como gorjeta Era um homem negro alto com cerca de 1 83 bem constitu do que rondaria os cinquenta anos Ele distinguia se pela sua apar ncia de homem de neg cios e pelo seu cabelo grisalho O servi o foi soberbo disse me Obrigado Senhor Espero que nos visite em breve novamente repliquei Era quase meia noite e o restaurante estava prestes a fechar s estudante universit rio perguntou me Sim Senhor sou finalista respondi com orgulho 194 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Eu sou r
358. tou o professor Sim respondi Como vieste para os Estados Unidos Quando a mulher que me criou veio para este pa s abandonou me no Haiti E o meu pai que n o sabia o que fazer comigo mandou me vir viver com ela em Nova Iorque respondi Tu precisas de ajuda e muita J alguma vez foste a um psiquiatra perguntou me N o senhor repliquei sem saber o que era um psiquiatra Devias pedir transfer ncia para a University of South Florida Eles t m pessoas que te podem ajudar sugeriu me No final do semestre fui transferido para a University of South Florida e tirei a licenciatura em Rela es Internacionais e Franc s Na minha primeira aula de estudos internacionais um professor alto e bem parecido de cabelo branco vestido com um fato cinzento claro entrou na sala O seu la o vermelho trouxe me mem rias dolorosas do dia em que deveria ter feito a minha Primeira Comunh o A cara furiosa de Florence surgiu momentaneamente na minha mente Rapidamente encontrei algum conforto no sorriso f cil e esp rito acolhedor do professor Apresentou se turma como Dr Mark T Orr respons vel pela cadeira de Hist ria o que me deixou confuso Se era respons vel por uma cadeira deveria ser marceneiro tal como o homem que entrega cartas o carteiro e o que pesca o pescador e por a fora Fiquei curioso porque ele n o parecia nada um marceneiro Levantei a m o e perguntei Pode dizer me qual
359. tras incompreens veis Yvette que queria saber se o loa da empregada a tinha avisado de algo guiou a pelas escadas acima at ao seu quarto A empregada come ou a dan ar como se todas as partes do seu corpo estivessem possu das por um ser vivo diferente A sua rea o borboleta convenceu toda a gente da casa de que algu m queria realmente magoar o beb n o nascido de Anne Marie Explicaram s crian as o perigo de apanhar objetos do ch o A casa era como um forte sitiado Numa outra ocasi o um pequeno p ssaro entrou em casa Toda a gente entrou em p nico novamente Desta vez Florence ordenou s empregadas que o apanhassem vivo Fecharam todas as janelas e perseguiram o p ssaro com vassouras e almofadas pela casa at que o capturaram Florence invocou o seu loa e come ou a falar com uma voz profunda Uma hora depois a mambo visitou nos Ela decidiria o destino do p ssaro Seguiu se uma longa cerim nia de vodu no quarto de Yvette Velas vermelhas e pretas feitas manualmente foram acesas em frente de um arm rio aberto decorado com imagens religiosas num canto do quarto A empregada que tinha estado a cantar invocou outro loa e come ou a dan ar como uma cobra rastejando de barriga para baixo enquanto os seus bra os permaneciam colados ao corpo A mambo e o loa de Florence deram instru es a Yvette para que trouxesse uma bacia de gua para dentro do quarto Fizeram uma mistura com diferentes folhas e outros ingrediente
360. trei uma pessoa conhecida que me disse que estava a trabalhar como professora de substitui o e pensei que seria bom tentar tamb m por uns tempos Candidatei me na Dire o da Escola Hillsborough County em Tampa e depressa me chamaram para a Escola Secund ria King Fui para uma turma de Hist ria do nono ano e apaixonei me logo pelo ensino O cheiro da sala de aula transportou me de volta para as aulas de Hist ria do Mr Rabinowitz e por breves momentos senti que era ele Era uma 218 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia turma integrada tinha maioritariamente alunos negros Mal comecei a falar uma rapariga de pele escura que n o estava familiarizada com o meu sotaque das Cara bas levantou a m o E negro perguntou me Fiquei ligeiramente ofendido pela sua pergunta tendo em conta o que tinha passado devido ao tom da minha pele Claro que sou Tu e eu podemos ser parentes respondi lhe De repente todos ficaram muito atentos Nos tempos da escravatura quando os navios negreiros depositavam aqui escravos vindos de Africa por vezes continuavam at s Cara bas onde deixavam mais escravos E poss vel que os nossos antepassados tenham estado num desses navios acrescentei De repente os seus olhos e sorrisos iluminaram a sala Todos tinham uma pergunta sobre os escravos das Cara bas Como o professor habitual da turma n o tinha deixado um plano de aula eu falei lhes sobr
361. ua cadeira de baloi o os olhos cheios de f ria Porque que demoraste tanto tempo e onde est o peixe perguntou ela Eu perdi o dinheiro respondi eu a chorar e a tremer Florence agarrou me pela orelha e levou me at s traseiras do alpendre P e te de joelhos gritou ela pegando no cabo da vassoura Ela deu me pontap s at eu estar no ch o Manteve o p na minha garganta enquanto me espancava Eu n o conseguia respirar Parecia que algu m estava a desligar a luz do dia lentamente e tudo o que fazia barulho Lise observava Florence a bater me O meu corpo ficou adormecido e deixei de sentir qualquer dor Um vizinho apareceu Ao aperceber se que eu n o me mexia apressou se e empurrou Florence Est s a mat lo gritou ele Ele roubou o meu d lar esse ladr ozeco gritou ela Por alguns momentos flutuei no ar vendo o homem a levantar me lentamente pelo bocado de corda que servia de cinto e insulou ar nos meus pulm es Pouco depois sentei me Ele levou me para o seu apartamento e fez me descansar no sof A m e dele deu me a beber uma ta a de gua salgada 53 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Pobre crian a onde est a tua Maman perguntou a mulher de cabelo acinzentado cuidando dos meus ferimentos com um trapo frio Eu n o tenho maman respondi a fazer uma careta A subst ncia no trapo ardia me Olhe
362. uarto dela para tentar descobrir o conte do do saco e vi um par de sapatos que ela tencionava levar para a Primeira Comunh o do afilhado Sentia me esmagado 12 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia mas ao mesmo tempo conformei me pensando que talvez apenas crian as com m es e pais verdadeiros que fizessem a Primeira Comunh o recebessem presentes do Pai Natal e celebrassem os anivers rios 13 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia HI Todos os s bados de manh Florence sentava se na sua cadeira de baloi o por baixo da enorme rvore no nosso quintal da frente espera dos habituais vendedores de carne de cabra e porco A maioria das vezes comprava a cr dito e prometia pagar na semana seguinte Tu conheces me no que toca a pagar as minhas d vidas Eu sou blanc costumava ela dizer em crioulo aos vendedores que respondiam sempre com um Oui Madame eu confio em si Blanc era uma palavra m gica que parecia hipnotizar em submiss o vendedores e credores Embora Florence desprezasse as mulheres de pele clara desejava ser ela mesma mulatr sse Lavava a sua cara tr s vezes por dia com gua gelada pensando que abrandaria o envelhecimento e clarearia a sua tez Ocasionalmente esfregava a cara com um cubo de gelo como se tentasse apagar a sua negrura s vezes enquanto me espancava dizia me N o penses que s melhor do
363. ue ela me daria um estalo para me afastar Ela entrou sem dizer uma palavra Fui para dentro e fui buscar lhe os chinelos Ela trocou de vestido e come ou a supervisionar a cozinheira que estava a preparar o jantar Cedo na tarde seguinte depois de terminar as minhas tarefas aproximei me de Florence com uma bacia de gua e uma toalha e comecei a lavar lhe os p s Ela estava sentada na sua cadeira de baloi o a beber caf preto quente e doce Com o cora o a mil falei A Confiss o s seis horas e amanh s nove horas da manh tenho a Comunh o Ela olhou para mim durante um longo momento enquanto rangia os dentes A cara dela ficou possessa Sua cabe a de esterco mijona seu idiota seu engraxador de sapatos Se achas que vou gastar do meu dinheiro para a tua Primeira Comunh o est s louco gritou ela A tremer de medo sequei lhe os p s calcei lhe os chinelos e levantei me a segurar a bacia e a toalha Sentia os p s e as pernas demasiado pesados para me mexer Fiquei estarrecido com as suas palavras Sai me da frente gritou ela Fui para a cozinha e sentei me silenciosamente no meu canto habitual sem deitar uma nica l grima Amelia chamou Florence sonoramente Oui Madame Cadet respondeu a cozinheira N o precisas de preparar a galinha para amanh vou passar o dia com a minha sobrinha O filho dela vai fazer a Primeira Comunh o amanh disse ela Eu fui para o q
364. ul rio noutra l ngua Concluiu se que esta decis o do autor ter sido tomada para sublinharas suas ra zes haitianas primeiramente junto do p blico alvo americano fazendo as suas pr prias tradu es para ingl s e em segundo lugar junto de um p blico alvo mais generalizado visto que o seu livro j foi traduzido para outras l nguas De forma a respeitar este desejo 0 N CAP TULO III A TRADU O AN LISE DA TRADU O do autor todos os estrangeirismos utlizados no TP foram mantidos no TC tal como a seguir se exemplifica TP Ingl s Tradu o Autor TC P tranger Abroad Sim l tranger p g 36 Blanc p g 3 Whiteperson Sim Blanc Demi femme Half Woman Sim Demi femme p g 60 Ecole p g 8 School Aparece antes do Ecole voc bulo franc s Loa p g 11 Voodoospirit Aparece antes do Loa voc bulo franc s Loups garous Werewolves N o Loups garous p g 49 Ma tresse Mistress teacher N o Ma tresse p g 11 madam Martinet a whip with Aparece tradu o Martinet p g 15 leather strips and a do autor ap s o wooden handle voc bulo Mul tresse Light skinned Aparece antes Mul tresse p g 11 woman aparece embora n o antes embora n o directamente directamente While Florence despised light skinned women she wished that she were a CAP TULO III A TRADU O AN LISE DA TRADU O
365. um toque nos ombros um abra o ou um sorriso luminoso que transparecia Amo te Bem vindo de volta meu filho Mr Kelly por seu lado andava ocupado a mostrar ao filho o trabalho que tinha feito na casa e a mant lo informado dos pr ximos eventos locais Betty a irm mais nova do primeiro cabo Kelly saltou para as cavalitas do irm o Testemunhar tanta afei o fez me sentir desconfort vel acentuando o vazio do meu peito Se houvesse uma arma dispon vel teria disparado na minha cabe a sentado na sala de 1 NT Reserve Officers Training Corps Corpo de Treinos de Oficiais de Reserva 179 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia fam lia Sempre que estava longe de pessoas desaparecia para o quintal e sentava me num tronco de rvore atr s de uma barraca de ferramentas Quando o jantar estava quase pronto a casa ficou cheia de familiares O primeiro cabo Kelly chamou me para me juntar aos seus amigos e fam lia A mesa de jantar as minhas m os come aram a tremer Mantive a cabe a baixa Est s bem algu m perguntou Tenho dores de cabe a respondi Queres ir deitar te perguntou Mrs Kelly Sim por favor respondi pedindo licen a para me levantar da mesa Todos pareciam preocupados Fui at ao quarto do Kelly e depois escapei pela porta das traseiras Voltei para tr s da barraca de ferramentas onde me sentia mais vontade Ouvi o primeiro cabo
366. uma das amantes Florence do seu pai Blanc Philippe ap s a morte da sua m e que teria sido assassinada por ci mes por ter chamado a aten o de um homem branco influente Durante a sua inf ncia para al m de ter sido sujeito a todo o tipo de abusos f sicos verbais emocionais entre outros Jean Robert foi obrigado a desempenhar todas as tarefas dom sticas recados compras n o s em sua casa mas tamb m em casas de familiares e ou amigos de Florence sua guardi a troco de quantias generosas sendo sempre exclu do de todas outras atividades familiares chegando a permanecer no quintal at a chegada dos donos que n o o deixavam ficar sozinho no interior da casa Ap s toda a sua chocante experi ncia de vida no Haiti emigrou aos quinze anos com a fam lia de Florence para os Estados Unidos onde devido ao forte racismo existente naquela poca continuou a ser v tima de discrimina o racial e social Apesar de todas as dificuldades e traumas enfrentados licenciou se em Estudos Internacionais pela Universidade de Florida do Sul tendo anteriormente passado uns anos no ex rcito americano Depois de confrontado pelo filho que o questionava sobre a inexist ncia de av s e familiares paternos decidiu partilhar a sua hist ria atrav s da obra autobiogr fica Restavec From Haitian Slave Child to Middle Class American 1998 Restavec De Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia onde descreve pormenorizadamen
367. umas roupas de viagem Ele n o tem muita coisa disse ela Tenho pressa Levo o s compras para a semana disse Philippe indo embora Na semana seguinte Philippe veio e levou me s compras Novamente ningu m falou durante toda a viagem Observei o pelo canto do olho Senti me desconfort vel sabendo que era uma vergonha para ele Estacionou frente de uma loja e eu segui o at ao interior Comprou me uma camisa branca uma gravata e um par de sapatos pretos Noutra loja comprou me uma mala de tamanho m dio e depois fomos a um alfaiate onde me mediram para um fato azul No caminho de volta par mos no Voyage Chatelin e deu me ordens para esperar no carro Partes para Nova Iorque no pr ximo s bado Est pronto para sa res s duas horas da tarde disse Philippe no regresso Oui Monsieur repliquei Na casa de Madame Laroche tranferi o conte do da minha caixa de cart o para a minha nova mala Sa com a caixa vazia para perguntar a Madame Laroche onde deveria p la mas antes de eu abrir a boca a empregada perguntou me Posso ficar com essa caixa 119 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Eu entreguei lha a sorrir Todos falavam de Nova Iorque como se fosse um para so onde se encontrava dinheiro no ch o A cozinheira n o se poupou a esfor os para me tratar gentilmente N o te esque as de mim Se encontrares dinheiro no ch o por favor envia me al
368. us filhos Florence sempre me disse para pedir emprestados os livros das outras crian as e copiar as p ginas para o meu caderno Por SNT Mulata em franc s 14 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia vezes n o ia escola porque duas amigas de Florence me pediam emprestado para limpar as suas casas Em vez de me agradecerem a mim pelo meu servi o diziam sempre Diz Madame Cadet que eu agrade o Eu preferia estar na escola em vez de ser emprestado mas preferia ser emprestado a estar em casa onde era rotina Florence dar me murros bater me na cara puxar me as orelhas e beliscar me nas virilhas Eu tinha um par de sapatilhas dois cal es caqui duas camisas e n o tinha roupa interior s cinco e trinta da manh arrumava os meus trapos do ch o da cozinha enchia a banheira ia buscar o penico de Florence punha a mesa e ia at padaria Enquanto Florence tomava o pequeno almo o eu esvaziava o penico regava as plantas e varria o quintal Depois do pequeno almo o levantava a mesa e comia o que quer que sobrasse sentado num pequeno degrau num dos cantos da cozinha Lavava tamb m os pratos antes de ir para a Ecole du Canada que ficava a dois quarteir es de dist ncia Todas as manh s os alunos permaneciam em frente ao mastro da bandeira na entrada Os seus copos de lata trazidos para receberem leite em p gratuito balan avam por estarem presos por um fio aos cal
369. us pais perguntava a cozinheira Eu repetia o que Florence me dizia frequentemente enquanto me batia A tua m e era uma cadela e uma prostituta Por isso que o teu pai n o te quer Es uma vergonha para ele Matilda abanava a cabe a e dizia Jesus Maria Jos Ela n o me podia salvar sempre que me batiam porque tinha poucas oportunidades e o desejo de Florence de infligir dor era 17 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia implac vel Al m disso trabalhava apenas das oito s cinco e podia ser despedida a qualquer altura Todas as noites s dez horas eu recolhia o penico da casa de banho e colocava o ao lado da cama de Florence Sempre que ela detetava cheiro a urina punha o penico na minha cabe a e abanava o como se estivesse a tocar uma campainha O penico tinha de ser lavado com folhas de menta do jardim e colocado de volta no quarto Eu sentava me no canto da cozinha espera que ela fosse dormir antes de espalhar os trapos no frio ch o de mosaico Deitava me cobria o meu corpo com um vestido antigo e ouvia o som mon tono do frigor fico antes de adormecer Acordava cedo na manh seguinte com palpita es no cora o e numa piscina de urina Por vezes os restavecs conseguiam fazer amizades com outros restavecs e brincar juntos quando os amos se encontravam fora por horas prolongadas Eu conheci Ren um rapaz com cerca de catorze anos e uma tez castan
370. uzes apagaram se e todos foram para a cama Adormeci a observar a lua pelas janelas de vidro sem cortinas O soldado Williams acendeu um charro ajoelhou se frente da minha cara e soprou o fumo para o meu nariz Acordei a tossir incontrolavelmente O soldado Williams riu se e saltou de volta para o seu beliche N o queres fumar eu fa o te fumar nigga disse me Puxei o meu beliche para mais perto da zona branca e voltei a adormecer As 4 horas o sargento do pelot o acendeu as luzes Levaaaantem se e limpem esses rabos sujos gritou ele Todos se levantaram fizeram a cama e se lavaram Depois do pequeno almo o as tropas alinharam se em frente sala de armas com os seus registos de armas Foi me atribu da uma M 16 com um lan ador de granadas montado Antes da caminhada marchei at ao escrit rio do sargento de pelot o Meu Sargento o soldado Williams soprou fumo de marijuana para o meu nariz ontem noite enquanto dormia expliquei lhe O sargento de pelot o olhou para o l der de esquadr o e escangalharam se os dois a rir Fiquei estupefacto Terei dito alguma piada pensei Estava s a meter se contigo meu E a sua forma de ser disse o sargento 156 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Esperava que a minha queixa passasse pela cadeia de comando e que dessem deveres extra ao soldado Williams mas n o lhe aconteceu nada Durante a caminhada o soldad
371. vida no ch o Cessar fogo M dico gritou o l der do esquadr o Alguns soldados vomitaram outros viraram a cara O m dico apressou se a ir buscar um poncho sua mochila com o qual tapou o corpo 36 NT Comida pr cozinhada enlatada individual 162 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Mais tarde nesse dia o capel o celebrou uma pequena missa Uma espingarda M 16 montada com uma baioneta foi colocada no solo com um par de botas pretas brilhantes ao lado O corneteiro tocou e no fim da cerim nia foram todos dispensados para a respetiva unidade Ao regressar caserna no s bado noite limp mos as nossas armas e entreg mo las No chuveiro todos tinham um sab o numa corda porque ningu m se queria dobrar nu para apanhar o sab o Ei Franci queres ir at Fayetteville perguntou um soldado Est bem eu vou contigo respondi Uma vez na baixa todos seguiram o seu caminho Eu fui a um restaurante chin s para comer rolos de ovos e ovos foo yong e depois vi um filme de Kung Fu meia noite estava de volta ao meu beliche A caserna estava vazia Na segunda feira de manh um n mero elevado de tropas meteu baixa Parecia que todos tinham a mesma doen a gonorreia Eu tamb m pedi permiss o para ir cl nica O que que se passa contigo Franci perguntou o sargento Nunca meteste baixa Tenho algumas dores de est mago meu Sargento
372. vontade de dar aula s minhas duas ltimas turmas do dia Um dia enquanto corrigia uma pilha de trabalhos reparei que alguns rapazes escreviam na primeira linha em letras mai sculas as iniciais KKK Dei lhes uma aula sobre a cobardia dos KKK Para minha surpresa pararam de escrever as iniciais exceto um rapaz que me disse que eu estava a ir contra a sua liberdade de express o Eu escrevi no trabalho dele Eu tenho o direito de n o ser insultado e parei de corrigir os trabalhos dele Quando se deu conta disso desistiu daquele comportamento Antes de a escola terminar passei pelo mesmo grupo de rapazes perto da cantina Virei me subitamente quando chegou a altura em que normalmente ouvia a palavra preto e vi a palavra a sair da boca do culpado Descobri o nome dele e levei o at ao conselho executivo O pai dele que tinha sido convocado para uma reuni o jurou que n o sabia onde o filho tinha aprendido a usar aquela palavra Mesmo assim foi lhe dada uma suspens o de cinco dias As minhas experi ncias com os alunos brancos na Hudson High completaram a americaniza o da minha alma negra haitiana Sou agora um verdadeiro homem afroamericano apesar do meu sotaque das Cara bas 41 NT Referente a Ku Klux Klan 222 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Eu e Cindy continuamos a nossa rela o apesar da dist ncia que nos separava Escrev amo nos frequentemente e
373. vre perto do parque Champ de Mars para ver a subida ao gorduroso poste de telefone masuiff As pessoas diziam que a pol cia do Estado colocava cem gourdes 1 78 euros e uma salsicha mesmo no topo do poste Milhares de espectadores reuniam se volta do poste para testemunhar este importante evento V rias pessoas que subiam levavam consigo pequenos sacos de p r ao ombro chamados macoutes cheios de sujidade para atirar para o poste de modo a reduzir a textura escorregadia e criar tra o Um homem correu at ao poste e subiu o mais depressa que conseguiu enquanto outro servia de suporte ao anterior com a sua cabe a Enquanto cobriam o poste com sujidade seguiram mais dois homens Quando os quatro chegaram a metade da dist ncia envolveram o poste com os bra os e pernas sentando se na cabe a uns dos outros para recuperar o f lego Quando o primeiro homem retomou a subida perdeu a tra o e escorregou para cima dos seus companheiros provocando um riso incontrol vel no p blico O processo repetia se transformando o poste num totem vivo at que um homem atingisse o cobi ado pr mio Terminado o evento o presidente vital cio Fran ois Duvalier aparecia num carro preto comprido e atirava ao ar m os cheias de moedas novas que continham a sua imagem pondo a multid o num frenesim As pessoas apanhavam o dinheiro e corriam atr s do ve culo a gritar Vive Duvalier Vive Duvalier deixando para tr s os que eram espezinhado
374. xecu o da tradu o surge o di rio da tradu o com base no qual feita a an lise do produto final Ap s uma breve biografia do autor e uma contextualiza o hist ricocultural quer do Haiti quer da obra em si segue se ent o um enquadramento deste trabalho nas v rias teorias de tradu o a que recorremos as quais orientam necessariamente o tradutor na rdua tarefa de ser simultaneamente recetor e comunicador cultural Na an lise s o detalhadas as dificuldades mais relevantes que se colocaram durante o processo de tradu o e as respetivas solu es apoiadas nos referidos estudos e teorias Este trabalho contempla ainda um breve estudo comparativo relativamente tradu o da mesma obra para o portugu s na variante do Brasil Por fim apresentada em anexo a tradu o integral da obra cujo t tulo Restavec De Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Palavras chave Restavec Trabalho Infantil Tradu o Tradutor ABSTRACT The aim of this report is to propose and analyse a translation of Mr Jean Robert Cadet s work entitled RESTAVEC from Haitian Slave Child to Middle Class American The translation was asked by the author himself who hopes to have his work published in Portugal as it happened in several countries around the world This mission embraced by the author has a very noble purpose which proves that translation is required in many areas including also Human Rights
375. xta feira tarde na v spera da Confiss o ouviu se uma vendedora de rua a anunciar os seus produtos Bobby chama a vendedora gritou Florence Eu corri para o passeio e chamei a vendedora que tinha pele escura como carv o e estava a balan ar um cesto amarelo gigante no topo da cabe a V rias galinhas de penas coloridas pendiam de pernas para o ar do seu antebra o esquerdo J no quintal e debaixo da rvore ela dobrou se e colocou uma pilha de aves de capoeira no ch o A cozinheira de Florence ajudou a a libertar a sua cabe a do cesto pesado Depois de v rios minutos de discuss o de pre os Florence comprou duas galinhas Eu senti me t o feliz pensando que estava a ser planeado um grande jantar para celebrar a minha Primeira Comunh o No entanto no fundo do meu cora o surgiu uma pequena d vida No s bado de manh na v spera da minha Primeira Comunh o Florence saiu num t xi Eu nunca me sentira t o feliz 11 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia A Maman foi comprar me as roupas para a Primeira Comunh o disse eu cozinheira a sorrir a dan ar e a cantar Ela n o me prestou aten o mas a express o da sua cara refreou o meu humor festivo Por volta do meio dia um t xi parou em frente a casa Eu corri para ver Era Florence e carregava um grande saco de papel castanho O meu cora o dan ou enquanto eu reprimia a vontade de a abra ar sabendo q
376. xual Tens algum tipo de registo criminal Depois de eu responder n o a todas as perguntas ele tirou um formul rio m dico da secret ria Depois de v rias outras quest es s quais respondi negativamente ele perguntou Tens algum problema em molhar a cama O meu cora o quase parou Hesitei por um segundo N o respondi Vamos confirmar os antecedentes Se estiver tudo bem fazes um teste escrito Se passares fazes um teste f sico e s depois que te levamos para o ex rcito explicou me Passadas duas semanas o recrutador levou me a Nova Iorque para fazer o teste escrito A sala estava cheia com cerca de cinquenta candidatos Comecei a roer as unhas Os testes foram dados por tr s soldados extremamente bem apresentados Um distribuiu l pis enquanto os outros dois os livros de testes e folhas de resposta N o abram o vosso livro at vos ser dito para o fazerem disse um dos soldados O meu cora o estava acelerado Abram os livros e comecem ordenou um soldado Depois de quase duas horas outra voz disse Parem Depois dos materiais serem recolhidos os futuros candidatos foram encaminhados para uma cafeteria do outro lado da rua onde o almo o seria servido Depois do almo o os homens voltaram para a sala do teste 148 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia Se o vosso nome for chamado saiam pela direita Significa que n o passaram disse
377. z que ele fazia esta amea a a imagem de um Ren severamente espancado vinha me mem ria Finalmente a ocasi o pela qual Denis tanto esperava apresentou se Fui apanhado pela cozinheira a deitar gua para o recipiente do leite para substituir a quantidade que eu tinha roubado A cozinheira ficou furiosa e n o queria ficar com as culpas do leite dilu do Eu implorei lhe para n o contar a ningu m mas ela contou a Florence quando estavam os tr s sentados no quintal a beber Coca Cola Madame Bobby roubou algum leite e queria substitu lo por gua disse lhe ela Onde est o porquinho perguntou Denis Est na cozinha a chorar respondeu a cozinheira Tr lo c ordenou Denis 39 ANEXO Restavec de Menino Escravo Haitiano a Afroamericano de Classe M dia A cozinheira foi at cozinha Monsieur Denis quer ver te disse me ela Os meus intestinos revoltaram se e corri para a casa de banho Onde est o porquinho gritou Denis mais uma vez A cozinheira correu at l fora Est na casa de banho anunciou ela Eu sa e fiquei cabisbaixo perante o trio J para o carro Vou levar te at esquadra Isso vai ensinar te a nunca mais roubares Olhei para os olhos de Florence a tentar dizer lhe silenciosamente salva me por favor Eu n o te alimento seu ladr ozeco gritou Florence furiosa Caminhei na dire o do carro a imaginar a face ensan
378. za necessariamente outro conjunto resultante das experi ncias intr nseca e extr nseca que acabam por influenciar a utiliza o lingu stica de cada um 20 CAP TULO III A TRADU O AN LISE ENQUADRAMENTO TE RICO Enquadramento te rico Tra du o substantivo feminino 1 ato de traduzir 2 oque se traduz 3 obra traduzida 4 figurado significa o interpreta o explica o Dicion rio Priberam da L ngua Portuguesa N o existe uma defini o clara e absolutamente objetiva sobre o que uma tradu o o que pode ser confirmado num dicion rio de L ngua Portuguesa S o apresentadas quatro defini es a atividade o texto traduz vel o produto final e numa interpreta o mais livre o que se deduz de algo Ao longo dos tempos v rios especialistas em Teoria da Tradu o t m se pronunciado sobre o assunto e cada um tentou clarificar conforme os seus estudos e conhecimentos o que significa traduzir algo e o que que tal implica Em primeiro lugar h que distinguir dois tipos de tradu o ambos absolutamente v lidos e poss veis conforme o tipo de texto a traduzir Pode ent o ocorrer uma situa o onde pedida uma tradu o absolutamente fiel ao texto de partida TP ou seja uma tradu o feita palavra a palavra ou por outro lado uma tradu o dita livre na qual o tradutor se permite afastar se das palavras utilizadas no TP valorizando o significado da

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