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SABERES TRADICIONAIS e EDUCAÇÃO AMBIENTAL

1. Com a migra o maci a de oper rios Mesquita tamb m passa a dispor de um mercado para a compra de produ o excedente Foi bom porque l pra n s n s tinha muita manga muita laranja muitas dessas frutas sabe E n o tinha pra quem vender Ent o com a constru o com esta gente que veio foi rapadura foi muito bom Eles trazia era caminh o de gado Enchiam um caminh o um pau de arara l de manga dentro de uma semana sumia tudo ALC Relato ao INCRA 3l Iniciado no primeiro semestre DE 1957 o aproveitamento hidrel trico do Ribeir o Saia Velha com a constru o da Usina Piloto Saia Velha localizada quase na pr pria linha divis ria do novo Distrito Federal com o munic pio de Luzi nia Em 1958 foi conclu da e inaugurada em 16 de maio 188 Com os novos meios de escoamento da produ o e a crescente demanda dos novos mercados associado ao baixo pre o das terras em Goi s os empreendedores que eram atra dos chegavam com uma cultura diferenciada Compras cercas grilagens A popula o rural goiana era submetida a novas regras e diferentes c digos de conduta A comunidade de Mesquita interagia com o novo segundo o seu conhecimento tradicional que era diferenciado das regras que chegavam o entendimento do novo processo n o se dava em sua totalidade pois eram diferentes percep oes do mundo Mudan as estavam s come ando maso que viria pela frente era uma mudan a inimagin vel A
2. McCALL Michael K Political Economy ans Ruaral Transport a Reappraisal or transportations Impacts Antipode n 1 1977 MEIRELES J D Do Arraial de Santa Luzia Luzi nia de Hoje In Hist ria do Planalto Colet nea Luzi nia Academia de Letras amp Artes do Planalto 1996 MENASCHE Renata org A agricultura familiar mesa saberes e pr ticas da alimenta o no Vale do Taquari Porto Alegre Ed UFRGS 2009 MINAYO M Cec lia de S Org Pesquisa Social Teoria M todos e Criatividade Petr polis Vozes MINAYO Maria Cec lia de Souza Ci ncia T cnica e Arte O Desafio da Pesquisa Social In DESLANDES Suely Ferreira Pesquisa social teoria m todo e criatividade Suely Ferreira Deslandes Otavio Cruz Neto Romeu Gomes Maria Cec lia de Souza Minayo organizadora Petr polis RJ Vozes 1994 p 9 29 275 MINTZ Sidney Comida e antropologia uma breve revis o Revista Brasileira de Ci ncias Sociais v 16 n 47 p 31 41 2002 MORAES M Ce FAZENDA Ivani C Org O que Interdisciplinaridade Ed Cortez 2008 MOREIRA Rafael A arte da rua o e a cidade luso brasileira s c XVI XVIII V Semin rio da cidade e do urbanismo S o Paulo PUCCAMP out 1998 p 4 MORIN Edgar Meus Dem nios Rio de Janeiro RJ Bertrand Brasil 1997 NASCIMENTO Abdias O Brasil na mira do Pan Africanismo Salvador EDUFBA CEAO 2002 NOVICKI Victor SOUZA Donaldo Bello de Pol ticas p
3. es novas impostas a sociedade Assumem a forma de refer ncia a situa es anteriores por meio da repeti o quase que obrigat ria de pr ticas s mbolos cren as entre outros Assim afirmo aqui que o conceito de tradi o usado nessa tese n o representa uma categoria hist rica ligada antiguidade mas um recorte visando compreender as experi ncias vividas pelo grupo estudado e que dessa maneira pode estar presente em muitos acontecimentos da atualidade Rodrigues 2010 p 49 acredita ser necess rio compreender a tradi o relacionando a com a percep o de modernidade pois ambas designam representa es do mundo que encontramos em qualquer poca hist rica s o maneiras diferentes de entender a experi ncia da sociedade por meio da rela o entre elas O pensamento tradicional resulta portanto das rela es que o homem estabelece entre por um lado a totalidade dos fen menos que integram a experi ncia humana e por outro lado as narrativas m ticas que as celebra es rituais se encarregam de rememorar de transmitir e de actualizar RODRIGUES 2010 p 55 essa natureza din mica da mem ria que confere revigora o e atualidade tradi o que a desprende do passado e a torna presente Pelo facto de a mem ria desempenhar a tradi o uma fun o din mica a rememora o m tica permite n o s a transmiss o dos inventos do passado mas tamb m a integra o num todo coerente das inova
4. lt q p UNIVERSIDADE DE BRAS LIA UNB FACULDADE DE EDUCA O FE PROGRAMA DE P S GRADUA O EM EDUCA O PPGE SABERES TRADICIONAIS e EDUCA O AMBIENTAL ENCONTROS E DESENCONTROS NO QUILOMBO DE MESQUITA GOI S Antonia da Silva Samir Ribeiro Bras lia 2014 UNIVERSIDADE DE BRAS LIA UNB FACULDADE DE EDUCA O FE PROGRAMA DE P S GRADUA O EM EDUCA O PPGE ANTONIA DA SILVA SAMIR RIBEIRO SABERES TRADICIONAIS e EDUCA O AMBIENTAL ENCONTROS E DESENCONTROS NO QUILOMBO DE MESQUITA GOI S Tese de Doutorado submetida ao Programa de P s gradua o da Faculdade de Educa o da Universidade de Bras lia como requisito parcial para a obten o do t tulo de doutora em Educa o rea de concentra o Ecologia Humana e Educa o Ambiental Orientadora Dr Vera Margarida Lessa Catal o Bras lia 2014 p UNIVERSIDADE DE BRAS LIA FACULDADE DE EDUCA O SABERES TRADICIONAIS e EDUCA O AMBIENTAL ENCONTROS E DESENCONTROS NO QUILOMBO DE MESQUITA GOI S Antonia da Silva Samir Ribeiro Tese apresentada ao Programa de P s gradua o em Educa o da Faculdade de Educa o da Universidade de Bras lia rea de concentra o ecologia humana e educa o ambiental como requisito parcial para a obten o do t tulo de doutora em Educa o Aprovada em 10 de Julho de 2014 Dr Vera Margarida Lessa Catal o Orientadora Universidade de Bras lia Faculdade de Educa
5. o branco a com os pretos n Aqui era tudo preto Depois que foi entrando Agora t preto e branco C P B RTDI 2011 Antigamente aqui s era negro refor ado N o se via miudinho Era neg o forte nega sei da Quando se via um branco era passageiro B A P B para o Correio Na pr tica enquanto comunidade tnica em Mesquita era comum a manuten o do trabalho em n cleos familiares e cada um sabia de sua rea de trabalho Os filhos se estabeleciam perto dos ro ados dos pais ou dos sogros Esta pr tica de trabalho e moradia j refletia uma territorializa o dom stica dentro do territ rio comum Assim de algum modo j acontecia uma determina o entre locais de moradia e produ o mas isto n o significava uma divis o de propriedades A terra em si n o era de ningu m Apenas o trabalho deveria ser direcionado dentro de certos limites para que se mantivesse o equil brio familiar Por m como a fam lia crescera e em consequ ncia tamb m a for a produtiva mudou as rela es entre os indiv duos Se antes como dizem era um bolo s uma vez que a regra de ocupa o da terra era ordenada pelo canal de gua constru do pelos escravos em que bastava puxar um veio para se morar onde quisesse com o crescimento familiar e as novas gera es se iniciou um desenho no espa o da comunidade mostrando a l gica da territoriaza o na produ o e no trabalho em grupos familiares A
6. o da comunidade Tais pr ticas se materializam especialmente nos mutir es nas terras de dom nio quilombola e tamb m nas festas tradicionais Folia de Nossa Senhora D Abadia Folia de Reis Folia do Divino Esp rito Santo e Festa do Marmelo que simbolicamente instituem rela es e redes sociais que andam por todo o territ rio quilombola e at mesmo o ultrapassa presenciei durante a festa do Marmelo em Janeiro de 2014 a presen a de membros da sociedade urbana de Luzi nia tais como Gerente do Banco dono do cart rio m dico todos de fam lias hist ricas a que durante a inf ncia participaram com os pais e av s das festividades no Quilombo Estas rela es se d o a partir do contato frequente ou espor dicos dessas pessoas que buscam participar das festividades religiosas e das festas tradicionaism muitas delas possuidoras de terras nas reas circundantes ao Quilombo h v rias gera es Esta situa o contribui para se gerar um processo de constru o do sujeito quilombola construindo assim sua identidade a partir do outro agregando valores ideol gicos percebidos a partir da corporeidade dos visitantes nesse caso o visitante urbano Tive oportunidade de ouvir v rias hist rias sobre a regi o inclusive pude estar presente numa conversa durante a festa do Marmelo de 2014 onde antigos moradores de Luzi nia condenavam a pretens o dos quilombolas de ter acesso totalidade da terra por eles pleiteada Por isso o territ rio
7. o de um contexto mais amplo de rupturas transforma es sociais e mudan as culturais Afirma o autor que a mem ria est ligada a processos hist ricos mais amplos e a observa o desses processos comprova que o momento hist rico de in cio e t rmino de cada ciclo est ligado din mica territorial circundante e vinculado aos sistemas de objetos e a es pr prios de cada poca A respeito da necessidade de periodiza o para compreens o da constitui o espacial Santos e Silveira 2003 p 20 afirmaram que uma periodiza o necess ria pois os usos s o diferentes nos diversos momentos hist ricos Cada periodiza o se caracteriza por extens es diversas de formas de uso marcadas por manifesta es particulares interligadas que evoluem juntas e obedecem a 10 Catal o Vera Depoimento Pessoal Aula UNB 2013 39 princ pios gerais como a hist ria particular e a hist ria global o comportamento do Estado e da na o ou na es e certamente as fei es regionais Queiroz 2007 pag 30 analisa que o processo de transforma o do espa o ao longo do tempo o verdadeiro testemunho da hist ria de uma localidade e de uma regi o Assim pode se afirmar que o processo de mudan a no espa o n o particular ou seja n o atinge somente a economia mas igualmente a todos os aspectos sociais culturais e ambientais Diz ainda que as transforma es do espa o geogr fico e o tempo hist rico
8. a condu o que tinha aqui era carro a A a gente vinha num mutir o aqui na Marinha Num mutir o agradei com uma n s comemos bebemos dan amos a radiola era pilha nesse tempo era pilha A arrumei uma namorada Otac lio Brasil Relato ao INCRA Em Mesquita poucos se aventuraram a trabalhar na constru o dos pr dios de Bras lia Al m de n o possu rem documentos de identidade necess rios ao servi o diziam ter medo das condi es de trabalho 103 Muitas mortes aconteciam por falta de seguran a na constru o principalmente por quedas de grandes alturas A responsabilidade da constru o era das construtoras e da jurisdi o da rea Planaltina ou Luzi nia distantes naquela poca em que as rotas eram dificultosas Como a maioria dos trabalhadores era migrante de outros Estados e desconheciam a regi o com a dificuldade de transporte os empregados ficavam merc da empregadora Ribeiro 1999 E deu muito emprego Mas o neg cio que n o tinha documento Quem tinha documento vinha Mas naquela poca ningu m tinha documento Nem registro de nascimento aqui n o tinha Porque naquela poca deu muito servi o pra fazer tubul o Tubul o era fazer estes pr dios daqui fazer buraco de seis oito dez metros de profundidade Morreu muita gente O povo l tinha muito medo tinha n o tem ALC Relato ao INCRA Muita pouca gente trabalhou na constru o de Bras lia O povo de
9. b assegurar amplo acesso s informa es relevantes sobre o uso dos recursos ambientais e a destina o de rejeitos e localiza o de fontes de riscos ambientais bem como processos democr ticos e participativos na defini o de pol ticas planos programas e projetos que lhes dizem respeito A comunidade do Quilombo Mesquita reivindica que sua voz seja considerada na defini o de qualquer a o que venha a ser feita no seu territ rio que qualquer empreendimento s se realize ap s o realiza o dos acordos estabelecidos do reconhecimento de sua identidade quilombola e redu o da 157 desigualdade ambiental e prioriza o de suas necessidades sobre a explora o dos recursos ambientais da regi o Concluo essa an lise afirmando que justi a ambiental pressup e que as pol ticas p blicas sejam baseadas no respeito m tuo e na justi a para todos livres de qualquer forma de discrimina o ou tratamento diferenciado configura direito a um meio ambiente seguro sadio produtivo e sustent vel para todos onde o meio ambiente considerado em suas dimens es ecol gicas f sicas constru das sociais pol ticas e econ micas Apesar de nos discursos acad micos ainda haver certa rejei o a categoria Justi a Ambiental por m no cotidiano da Quilombo Mesquita verifica se como s o presentes atitudes que ferem os diretos ambientais do grupo A situa o de injusti a se estabelece n o pela vontade dos moradore
10. buscava a vaca do fazendeiro chegava l matava a vaca e ia comer na turma deles Porque ele o fazendeiro n o podia brigar com eles os negros Porque eles que era o povo deles brigar e a ficava sozinho n A os cara os fazendeiros n o podia brigar Via mas n o podia falar nada SLC RTDI 2011 Muitas comunidades negras ou grupos recorridos aos quilombos incutidos do catolicismo popular e acostumados a determinado trato do trabalho reproduziram em seu modo de vida as mesmas pr ticas culturais antes vistas nos engenhos fazendas ou minas n o valorizando a distin o por oposi o cultural s pr ticas produtivas apenas inspirando liberdade Outros ao contr rio expressaram uma forma radicalmente diferenciada do seu viver comunit rio cultivando tra os mais africanos como afirma o da 76 identidade Em ambas as situa es ao longo do tempo esses grupos foram construindo uma cultura pr pria a partir das peculiares circunst ncias que a vida impunha Mesquita uma comunidade que mais se aproxima primeira situa o Os negros de Mesquita reproduzem em seu modo de vida muitos dos tra os culturais predominantes da regi o O calend rio cat lico por exemplo organiza o ano e as festividades tradicionais desde sempre Mesmo que as configura es das festas tenham mudado ao longo da hist ria foi o catolicismo popular a base comum A Festa do Divino Esp rito Santo que ocorre entre os dias 15 e 30 de ma
11. de fora sentem se enganados e expropriados mesmo que tenham eles mesmos feito a negocia o O Relat rio do INCRA cita que na estrutura l gica da comunidade a terra n o se poderia ser negociada mas o trabalho sim Com o suceder dos anos os de fora ali estabelecidos negociam estas terras com outros alheios Em pouco tempo a comunidade ser atropelada pela perda de seu territ rio sem entender o mecanismo das transa es realizadas Creio que o pensamento abissal traz uma resposta convincente a esta quest o Uma vez que o que existe est circunscrito ao espa o da regula o emancipa o os quilombos aos milhares estavam mergulhados na invisibilidade Quando o Artigo 68 abriu a possibilidade de inser o deste gigantesco grupo no contrato social o que era espectro ganhou corpo e concretude E o pa s espanta se com a dimens o do universo que era incapaz de ver Hoje vive se ali a dicotomia interna entre reivindicar o pleno exerc cio dos direitos culturais art 215 CF como comunidade negra rural onde o territ rio fundamental ou vivenciar a press o urbana e a l gica da propriedade privada da terra As mudan as nas formas de apropria o e uso do espa o no Quilombo Mesquita vem de um processo imposto tanto pelas press es externas quanto pela proximidade do seu territ rio com o meio urbano hoje em interface entre esses dois contextos rural urbano al m da comunidade estar numa inseguran a ju
12. es quer se trate da integra o de novos membros na comunidade dos homens atrav s dos processos de inicia o quer se trate de integrar a inven o de novos instrumentos e utens lios t cnicos destinando lhes de antem o um lugar e uma fun o RODRIGUES 2010 p 55 A rela o estabelecida entre modernidade e tradi o portanto apesar de ser uma rela o de tens o n o elimina as possibilidades de intera o entre elas E cada vez mais recorrente as formas culturais em que ambas convivem mutuamente apesar de se mostrar mais evidente nas artes por exemplo tamb m est presente na organiza o cotidiana da vida nos comportamentos nos gostos bem como nas formas de processar e transmitir informa o 193 5 1 A Re inven o das Tradi es no Locus da Pesquisa Os moradores do Quilombo Mesquita em grande parte s o parentes entre si e t m todos um tronco comum e uma mem ria que os remete hist ria dessas tr s fam lias negras tradicionais j citadas Antigamente eram conhecidos como crioulos do Mesquita de forma pejorativa para distingui los dos outros moradores de Santa Luzia e exclu los dos espa os de sociabilidade Atualmente a comunidade busca resignificar a origem tnica positivamente como forma de assumir uma identidade pr pria e discutir sobre as rela es raciais agora nos encontros que acontecem na comunidade discute se sobre o que ser negro O Quilombo Mesquita
13. ferramentas de Educa o Ambiental A crian a ao aprender e perceber valores com um idoso adquire respeito por essa sabedoria come ando ent o a prestar a aten o e a admirar o outro de forma humilde e interessada valorizando a tradi o e desejando para si esta experi ncia de vida enriquecida pelos anos O anci o ou pessoa inspiradora por sua vez ao ensinar renova seu conhecimento ao perceb lo atrav s dos olhos do outro revive as boas lembran as consolida sua auto estima e faz valer toda a sua trajet ria repleta de ensinamentos a oferecer No contato entre velhos e jovens verifica se um enriquecimento m tuo pois assim os mais velhos melhoram a aten o melhoram tamb m a mem ria ajudando na sa de e no humor e os jovens v o ganhar em paci ncia em humildade e enriquecer a sua cultura A situa o que se espera alcan ar ter um apanhado de hist rias causos e saberes e diferentes experi ncias de vida que os mais velhos trazem da hist ria do Povoado Mesquita atrav s da revisita o dessa pr pria hist ria Objetivos Espec ficos Promover uma Ponte entre Gera es aproximando os jovens e os anci os do Povoado Mesquita Promover a valoriza o do mais vivido pelo jovem por meio de sua hist ria de vida sabedoria e experi ncia reinterpretada pelo olhar do mais novo Gerar conhecimentos a partir das hist rias ouvidas e contadas por meio dessa oficina tese livros v deo exposi
14. la cumprir com seus fins sociais Questiono aqui enquanto pesquisadora essa alega o uma vez que a l gica de uso do territ rio para uma comunidade tnica n o a mesma que os de fora a l gica dos diferentes Os povos ditos diferentes encontram muitas dificuldades no reconhecimento na valoriza o de sua identidade cultural peculiar e imensamente importante para a concretiza o dos ideais de prote o do meio ambiente e para a sobreviv ncia f sica desses povos Essa multiplicidade tnica e cultural por vezes ignorada pelo Estado que se mostra ineficiente no desenvolvimento de pol ticas p blicas em prol desses grupos Em nome de liberdade e igualdade de todos os indiv duos o que ocorre a cegueira do Estado diante da diferen a dos direitos coletivos de grupos que merecem aten o e respeito Sparemberger Kretzmann 2008 251 A situa o dos herdeiros do Mesquita que vivem na rea quilombola localizada no que hoje Santa Maria DF lutam para proteger as terras da a o de grileiros e especuladores e assim n o perderem ainda mais territ rio em rea j reconhecida Em 2010 foi assinado um Termo de Ajustamento de Conduta TAC entre GDF Terracap e os herdeiros A partir desse acordo o Condom nio Porto Rico tornou se rea p blica pass vel de regulariza o Em contrapartida ao inv s de indenizar os quilombolas o governo optou por apresentar uma proposta pela qual a Codhab s
15. Esta comunidade pretende tamb m servir de suporte e espa o para discuss es e trocas de pontos de vista duma forma colaborativa Durante este evento tornou se claro que apesar de separados por grandes dist ncias e de estarem em est gios diferentes de desenvolvimento estes produtores partilham valores e t m prop sitos similares Muitas comunidades criaram la os comerciais e trocas t cnicas A Terra Madre teve deste modo um grande impacto nos seus participantes Muitos dos pequenos produtores nunca tinham sa do das suas pequenas aldeias e agora v em se no centro de um evento mundial um exemplo o participante que representou o Quilombo Mesquita Hoje a marmelada Santa Luzia est na Arca do Gosto do Slow Food mas ainda inspira cuidados para que n o se transforme apenas em mem ria o que significaria uma perda irrepar vel ao card pio popular do Brasil Segundo o coordenador da comunidade de produtores de Marmelada e chefe da Divis o de Agricultura e Pecu ria da prefeitura de Cidade Ocidental Jo o Antonino de Ara jo os contatos feitos com a Embrapa Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecu ria poder o ajudar na implanta o de tecnologias que possam estimular a comunidade a retomar a produ o Se n o agirmos agora essa tradi o pode se acabar 216 Hoje um dos filhos de Aleixo Pereira Braga nascido na Fazenda Saia Velha de propriedade do seu pai dentro do Quilombo Mesquita faz uma das mais delicios
16. N o quem t hoje Manuel Junqueira Di logo entre t cnico do INCRA e R RTDI 2011 Sabe ali nas terras de seu Dito ent o desmataram tudo Eles quem Os que t o l agora Di logo entre t cnico do INCRA e J A P As necessidades individuais e a disposi o individual sobre a gest o do territ rio inaugurada no evento da divis o territorial interna fez com que a comunidade fosse imersa em um efeito domin sem fim previsto Em e em pouco tempo ocorreu o desmembramento de todo o territ rio sem que fosse percebido priori Por isto os mais velhos declaram hoje que a divis o de terra acabou por ser um divisor de guas na hist ria da comunidade A que tudo mudou dizem Mesquita caracterizada h s culos pelo uso comum da terra e da produ o possuindo o dom nio dos c digos que norteavam a vida coletiva nestes termos por isto coesa encontrou nas consegii ncias futuras deste evento uma bifurca o na trajet ria social cujo caminho tra ava se sob c digos que ainda n o se tinha dom nio Se antes a alteridade apresentada na pr pria organiza o social e acesso a terra que denunciava o equil brio entre o ordenamento interno e externo na ocupa o do territ rio um tratado para dentro outro para fora era a mantenedora de uma estrutura social diferenciada da estrutura hegem nica percebe se neste momento a penetra o de c digos hegem nicos que entrar o em conflito com a harmonia i
17. Pereira Lisboa teve conhecimento de que um ca ador ao abater um veado encontrou palhetas de ouro no bucho do animal numa regi o ao norte de Santa Luzia Ele tratou ent o de pesquisar melhor o local Tanto ouro foi encontrado que o ribeir o passou a ser denominado Descoberto e o lugar do arranchamento do capit o Lisboa recebeu o nome de Montes Claros A regi o do antigo arraial dos Montes Claros est hoje no territ rio do munic pio de Santo Ant nio do Descoberto Em abril de 1758 para explorar melhores as minas denominadas Cruzeiro foi iniciada a constru o do famoso rego Saia Velha de 42 Km de Extens o que se tornou legend rio na mem ria do povo luziano Cavado por milhares de escravos sua constru o durou dois anos ininterruptos e por ocasi o de sua inaugura o terminou acontecendo grande motim no arraial que relato alguns paragrafos a frente Em 06 de dezembro de 1758 Santa Luzia foi elevado categoria de freguesia colada isto sede par quia sendo nomeado vig rio o padre Domingos Ramos Continuava a chegar gente de todas as partes aumentando a popula o e produzindo a ocupa o de todos os vales rios ribeir es e c rregos A riqueza extra da do solo da regi o de Santa Luzia era em grande parte transferida para Portugal atrav s de pesados tributos e vigil ncia militar Por outro lado a parte que cabia aos exploradores era transferida para as cidades do litoral para pagamento de bens e serv
18. culo XX Segundo relato do Sr Jo o Antonio Pereira que consta no trabalho de Neiva 5 2007 Tem guia que chega na casa de um pobrezinho e faz uma cantoria singela Mas na casa de um Bar o de um Fazendeir o a vai saudar todo mundo e todos os santos A perde o ponto da meada A corrida do marmelo que um evento importante dentro da Festa do Marmelo que era disputada na comunidade de Mesquita atualmente realizada na Cidade Ocidental distanciando a sua raz o da sua origem A festa que sucede a ltima novena no ltimo pouso Capela da Nossa Srl D Abadia representa mais uma dimens o da dicotomia urbano rural que se instaurou em Mesquita e dos novos e mais abrangentes circuitos que os quilombolas come aram a interagir A festa acontece nos moldes das 227 modernas festas de pe o patrocinada pela Prefeitura de Cidade Ocidental e outras parcerias com direito a imensos palcos e famosos grupos e duplas sertanejas A festa atrai centenas sen o mais de mil pessoas dos arredores para Mesquita nesta ltima festa o n mero de n o quilombolas bem maior do que de quilombolas consistindo assim em um grande evento social da regi o Mesquita um dos poucos locais no entorno de Bras lia onde ainda sobrevivem aspectos culturais que n o sofreram totalmente o desaparecimento das tradi es pelos padr es hegem nicos ocidentais Goi s viu a extin o de v rias culturas por todo o seu territ rio em prol do indiscri
19. das mais diferentes regi es do Brasil e os moradores do Povoado tiveram o seu modo de vida bastante modificado e viveram situa es bastante conflituosas medida que essa presen a foi transformando o contexto cultural daquela comunidade tradicional At hoje com esses conflitos que os moradores tem que dialogar Nesse di logo no conflito tamb m reconhecido por parte da comunidades que a mudan a da capital tamb m trouxe benef cios para elas mas apesar de reconhecer esses di logos o conflito existe e est muito presente na press o sofrida permanentemente pela comunidade O que me levou a pensar inicialmente esse estudo foi a busca pela hist ria esquecida e ignorada pelos moradores de Bras lia sobre o povo que j vivia nessa regi o quando do surgimento de Bras lia esse anseio era para compreender os saberes tradicionais dos moradores do Quilombo Mesquita que no seu territ rio receberam a capital Bras lia a nova capital que constru da para o ser o futuro considerada patrim nio da humanidade e visitado por pessoas do mundo todo n o reconhecia a vida aqui presente que era traduzida como aus ncia e atraso As perguntas que me moveram foram que lugares ocupam essa tradi o dos saberes do cerrado na forma o ecol gica dos jovens do Mesquita S o hoje apenas lembran as Como resgatar esse conhecimento silenciado pelo concreto e imediatismo da capital Bras lia Que influ ncias a constru o de Bras lia exerc
20. influ ncias e intera es de ordem f sica qu mica e biol gica que permite abriga e rege a vida em todas as suas formas BRASIL 1981 consideram os autores ser essa vis o reducionista pois n o menciona suas dimens es social pol tica cultural e econ mica Refor am ainda esses autores a contradi o que se expressa pela tens o entre uma EA que poderia ser considerada potencialmente cr tica pautada na participa o social e uma concep o de meio ambiente restrita aos seus aspectos eminentemente naturais caracter stica central da educa o conservacionista ambas atinentes a um mesmo discurso Em 1989 criado o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renov veis IBAMA que surgiu da jun o da Secretaria Especial de Meio Ambiente SEMA do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal IBDF da Superintend ncia do Desenvolvimento da Pesca SUDEPE e da Superintend ncia do Desenvolvimento da Borracha SUDEHVEA Foi criado dentro desse novo rg o uma Divis o de Educa o Ambiental que condiciona a emiss o de licen as ambientais ao cumprimento de condicionantes para que esses empreendimentos obtenham as licen as A Pol tica Nacional de Educa o Ambiental BRASIL 1999 implementada nacionalmente atrav s do Programa Nacional de Educa o Ambiental PRONEA BRASIL 2005 relativo tanto ao Minist rio do Meio Ambiente MMA quanto ao Minist rio da Educa o MEC e tamb m por
21. n mero de escravos em todo o s culo XIX A liberta o dos cativos em Goi s esteve mais ligada ao empobrecimento produtivo da Prov ncia do que a interesses humanit rios Funes 1986 O antigo morador nos d a not cia de que em um primeiro momento uma rea muito extensa era ocupada pelos negros fugitivos abandonados ou alforriados Os quilombos abrangiam pontos localizados desde o rural de Luzi nia at Santa Maria Alagado e Formosa com fluxos e trocas entre si Eram ilegais luz da legisla o em vigor A o pessoal foi vivendo produzindo e enchendo de gente aqui por que era muito escravo J foi dez acampamentos de escravos de Mesquita at Santa Maria quem era aqui de Mesquita ia l JPB RTDI 2011 Bertran 1988 se refere a que anos mais tarde com o decl nio econ mico e o xodo dos senhores todos os negros se tomariam libertos primeiramente com as fugas e posteriormente em 1888 com a aboli o da escravid o Por m a maioria da popula o negra j fixada no rural goiano com o agravo para aqueles que tinham fugido ainda vivia sombra desta liberta o proveniente da aboli o Os negros n o eram mais ca ados mas tamb m n o existiam legalmente Muitos dos negros libertos se agregaram aos grupos invisibilizados encontrando nos antigos quilombos um local em que a vida pudesse se desenvolver melhor entre pares do que inseridos em uma ordem societ ria para a qual era sempre considerad
22. o Dr Leila Chalub Martins Faculdade de Educa o Universidade de Bras lia Dr Jos Vicente Freitas Examinador Externo Funda o Universidade Federal do Rio Grande RS Dr a Teresa Cristina Siqueira Cerqueira Universidade de Bras lia Faculdade de Educa o Prof a Dr Erlando da Silva R ses membro suplente Universidade de Bras lia Faculdade de Educa o Ribeiro Antonia Samir Saberes Tradicionais E Educa o Ambiental Encontros E Desencontros No Quilombo De Mesquita Goi s Antonia Samir Ribeiro 2014 282 f Orientador Prof Vera Catal o Tese de Doutorado Universidade de Bras lia Faculdade de Educa o 2014Goi s Capitania l1 Educa o Ambiental 2 Quilombo Mesquita 3 Saberes Tradicionais I Universidade de Bras lia II Faculdade de Educa o II T tulo Dedico esse trabalho a minha m e E a minha orientadora Vera Catal o sem ela nada seria poss vel pois ela acreditou em mim mais do que eu mesma Agrade o a Deus SUM RIO INTRODU O Daqui Partinoss sas ide op ca a aa erens 16 Caracteriza o peral do Lema sssauus asia enrii ava fadada SAR UTOS SANS aaa a E E rag na as ana 17 Quest es de PESQUISA es suapavise Longas trvonosesisanas a Tua india ad siso AREE d a ad O LS A COR gL adiada aba a dane 34 Olola o PRA RR DR PRN OR ERR REED DR E E SEND SER R EDER Ape RE SE ED ERR 35 UBjetivo Ee aa 1 AI EEEE E AE E T EN A EEEE A EE T 35 ODj ti vos Espe
23. o Paulo 1980 Espa o e Lugar a perspectiva da experi ncia Trad de L via de Oliveira S o Paulo DIFEL 1983 UEMA E E Controle social saber perito e participa o In LOUREIRO C F B Org Educa o ambiental no contexto de medidas mitigadoras e compensat rias de impactos ambientais a perspectiva do licenciamento Salvador IMA 2009 S rie Educa o Ambiental 5 UNESCO Educa o Ambiental As grandes orienta es da Conferencia de Tbilisi 1997 VANSINA Jan A tradi o oral e sua metodologia In UNESCO Hist ria Geral da frica Vol I S o Paulo Africa UNESCO 1982 Dispon vel http www casadasafricas org br acesso em 04 abril2014 VELHO Gilberto Mem ria cultura e sociedade In LEIBING Annette Sibylle Orgs Devorando o tempo Brasil o pa s sem mem ria S o Paulo Mandarim 2001 p 11 279 VESENTINI J W O novo papel da escola e do ensino da geografia na poca da terceira revolu o industrial In Terra Livre Geografia Pol tica e Cidadania n 11 2 S o Paulo AGB 1993 VITORASSIL S CASALE V amp ALBERTON L Programa de Educa o Ambiental da Itaipu Binacional em Busca da Sustentabilidade In Anais do VI Congresso Iberoamericano de Educaci n Ambiental San Clemente del Tuy Argentina 2009 Vozes 2008 XIMENES Cristina Pereira Lyrio Bahia e Angola Redes Comerciais e o Tr fico de Escravos 1750 1808 Universidade Federal Fluminense Tese de
24. o entre tradi o e modernidade e qual lugar ocupam os povos de vidas tradicionais N o se espera que as comunidades tradicionais fiquem paradas no tempo nem se deseja folclorizar o grupo estudado mas como ressalta Carlos Rodrigues Brand o 1986 valores como a solidariedade a afetividade e a cumplicidade s o t picos dos povos tradicionais e esses s o valores humanos que merecem ser preservados compartilhados com a sociedade Este cap tulo fundamenta se na an lise dos saberes observados durante as conversas e visitas de campo comunidade do Quilombo Mesquita al m de informa es obtidas na bibliografia sobre a regi o e sobre o grupo estudado a an lise fundamenta se na etnografia o cap tulo pretende apontar em que medida as pr ticas sociais e os saberes locais existentes na comunidade do Quilombo Mesquita s o valorizados se ocorre a interlocu o entre as diversas formas de conhecimento saberes locais com os saberes cient ficos bem como seus impactos tanto para os mais jovens como para toda a comunidade do quilombo O objetivo tentar apreender o sentido do di logo intercultural entre o conhecimento cient fico e o conhecimento tradicional ou seja apreender a interrela o entre a educa o ambiental e saberes 122 tradicionais e como est o conectadas estas duas concep es na comunidade quilombola Quilombo Mesquita Um dos objetivos desta pesquisa o de analisar o papel dos saberes tradiciona
25. o n s tivemos que pegar ela d a ela gua ALC Relato ao INCRA A popula o de Mesquita s compreendeu o que ocorria naquela rea anos depois Hoje contam estas hist rias com certo deboche de si o que denuncia as coisas mudaram um ato simb lico que traz um significado desta emerg ncia Em 1943 a cidade de Santa Luzia teve seu nome alterado e passa a ser denominada de Luzi nia conforme o desejo de muitos de seus filhos ilustres Pimentel 1994 65 1 5 AS INFLU NCIAS DE BRAS LIA SOBRE A COMUNIDADE DE MESQUITA Em maio de 1892 uma Comiss o Exploradora do Planalto Central veio explorar e demarcar no Planalto Central Brasileiro o local onde seria a futura capital Em 9 de junho de 1892 ap s a nomea o da comiss o Lu s Cruls diretor do Observat rio Astron mico do Rio de Janeiro e outros 21 membros entre cientistas t cnicos e militares partiram do Rio de Janeiro at Piren polis Santa Luzia Luzi nia 92 e Formosa ap s isso retornaram ao Rio de Janeiro onde em 1894 Cruls recebeu do governo Floriano Peixoto a incumb ncia de realizar uma segunda miss o onde deveria instalar uma esta o meteorol gica no local providenciar liga o telegr fica rede mais pr xima proceder ao reconhecimento da liga o f rrea ou f rreo fluvial escolher o local da cidade dentro do quadril tero e aprofundar levantamentos sobre o clima abastecimento de gua topografia e natureza do terreno Correio Braziliens
26. s da cria o de animais dom sticos do cultivo de hortas e produ o de frutas Matos 2007 Dessa forma os quintais rurais funcionam como verdadeiras despensas naturais onde as mulheres podem recorrer durante o preparo das refei es di rias Oklay 2004 Esses quintais al m de proporcionarem seguran a e qualidade alimentar para os agricultores do munic pio tamb m desempenham diversas fun es socioambientais uma vez em quase todas as casas existem agregadas s outras plantas rvores t picas do cerrado algumas com fun o aliment cia outras farmacol gicas e outras simplesmente pela beleza A produ o diversificada de alimentos garante a soberania alimentar da comunidade em cada poca do ano frutas verduras e legumes diversos cultivados na pr pria terra comp em a mesa dos moradores Dessa maneira al m de uma garantia nutricional traz economia para as fam lias Na Quilombo Mesquita observei que nos quintais s o preservadas algumas rvores do Cerrado de valor aliment cio que s o muito respeitadas pela comunidade que s o o jatob o pequi baru guariroba 230 gueroba e o buriti Plantam tamb m mandioca milho ab bora cana feij o todos os quintais que visitei cultivam frutas como tangerina Ponkan abacate laranja goiaba banana manga lim o e mam o O pequi se morder enche a boca de espinho tem que roer porque ele tem espinho entra na l ngua ELC 13anos Eu ajudo minha v a
27. tua dentro de um sistema social como no caso do Quilombo Mesquita n o leva ao seu desaparecimento por mudan a ou acultura o Barth 1998 afirma que as diferen as culturais podem permanecer apesar do contato inter tnico e da interdepend ncia dos grupos Assim um grupo tnico social que se auto identifica como tal n o precisa recorrer a inst ncias alheias aos seus pr prios membros para assim obter o reconhecimento social Neste sentido no Brasil o auto reconhecimento enquanto comunidade dos remanescentes dos quilombos assegurado pelo Decreto 4887 2003 a no o de grupo tnico foi fundamental para uma adequada apreens o do fen meno de auto identifica o de grupos rurais negros como remanescentes de quilombos As comunidades quilombolas constituem grupos mobilizados em tomo de um objetivo em geral a conquista da terra e definidos com base em designa o etn nimo que expressa uma identidade coletiva reivindicada com base em fatores pretensamente primordiais tais como uma origem ou ancestrais em comum h bitos rituais ou religiosidade compartilhados v nculo territorial centen rio parentesco social generalizado homogeneidade racial entre outros Nenhuma destas caracter sticas por m est presente em todas as situa es assim como n o h nenhum tra o substantivo capaz de traduzir uma unidade entre experi ncias e configura es sociais t o distintas Lan ando m o do ac mulo realiza
28. um espa o onde ocorre a reprodu o cultural social religiosa ancestral e econ mica dos moradores do Povoado numa refer ncia a um passado hist rico como foi mostrado nos cap tulos anteriores dessa tese mas frente a uma realidade em permanente mudan a preciso escolher entre uma certeza do passado e uma nova realidade em constante muta o Em consequ ncia e de acordo com Habermas o car ter reflexivo da modernidade est nesse processo de escolha entre as certezas herdadas do passado e as novas formas sociais o qual leva reflex o ou at mesmo reformula o das pr ticas sociais provocando a racionaliza o e a re inven o de diversos aspectos da vida em sociedade uma forma de se relacionar com a modernidade e a globaliza o dessa forma que as tradi es permanecem de forma diferente de antes hoje as tradi es entram em contato com elementos modernos e com outras tradi es passando por esse processo de racionaliza o Giddens 1997 2002 Isso significa dizer que os conceitos e categorias relacionados tradi o s o produzidos pelos atores sociais com o objetivo de atender s expectativas de suas pr prias a es e necessidade de rela es significativas em suas vidas assim a comunidade do Quilombo Mesquita tem a sua forma de cuidar desses conhecimentos que fazem parte do seu patrim nio e s o preservados e transmitidos atrav s das gera es Assim poss vel criar inventar reinventar
29. Doutorado em Hist ria 2012 ZHOURI Andr a amp LASCHEFSKI Klemens In Desenvolvimento e Conflitos Ambientais um novo campo de investiga o Belo Horizonte Editora UFMG 2010 p 11 31 280 ANEXOS Anexo 1 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO EU declaro ter concordado em participar livre e espontaneamente como sujeito entrevistado na pesquisa intitulada Os Saberes quilombolas como ferramentas de educa o ambiental na Comunidade de Mesquita GO sob a responsabilidade de Antonia da Silva Samir Ribeiro Discente de Doutorado em Educa o da Universidade de Bras lia 2010 Declaro ter conhecimento dos objetivos e dos procedimentos metodol gicos da pesquisa e ci ncia de que eles n o atentam contra a minha pr pria integridade f sica ou moral nem contra a de qualquer outra pessoa Sei igualmente da possibilidade de interromper a minha participa o em qualquer momento no decorrer da pesquisa assim como da possibilidade de requerer reparos legais no caso de me sentir prejudicado com a divulga o n o autorizada por mim de algum dado a meu respeito Tenho clareza de que as informa es que darei orais e ou escritas poder o ser usadas pelo pesquisador nesta pesquisa e de que a minha identidade n o ser divulgada a menos que eu expresse por escrito a prefer ncia pela divulga o Declaro que fui consultado se gostaria de acrescentar algo ao presente termo e que foi finalizado com a minha anu ncia de que c
30. PELO QUILOMBO DOS PALMARES TEMOS QUE REAGIR CONTRA ESSES INDIV DUOS TEMOS QUE TER FOR A BATE NO PEITO E DIZER QUE SOMOS QUILOMBOLAS E QUE NOS MANDAMOS AQUI QUEM E CONTRA O QUILOMBO TEMOS QUE BOTAR ELES PRA CORRER DAQUI PORQUE TEM GENTE QUE N O E QUILOMBOLA E QUER DE QUALQUER JEITO VIRAR UM QUILOMBOLA SENTEM ORGULHO E ALGUNS QUE S O FICA FALANDO FALANDO QUE E PORRA DE QUILOMBOLA NENHUMISENTEM VERGONHA TEMOS QUE LUTAR CONTRA ESSES I INOS N O TEMOS QUE TOLERAR MAIS ESSE TIPO DE GENTE FOR A QUILOMBOLAS FOR A QUILOMBO MESQUITA FOR A QUEM ACREDITA NO QUILOMBO CURT O ESA CAUSA Figura 37 P gina de Rede Social do Quilombo Mesquita denunciando a invas o do Galp o Comunit rio 02 de Agosto de 2012 Fonte Facebook Assim esse cap tulo buscou ao explicitar os conflitos ali existentes referendar as agress es ambientais sofridas e o processo de descaracteriza o do Territ rio tnico do Quilombo Mesquita Assim entende se que esse processo um gerador de conflitos territoriais visto que o que est em jogo s o diferentes l gicas de uso e apropria o do espa o No entanto da mesma forma como os que tentam expropriar o territ rio quilombola no Mesquita se munem da articula o dos poderes financeiros e da omiss o do Estado acredito que a comunidade tamb m articula suas formas de resist ncia a partir da identidade quilombola e das formas de re produ o dos saberes tradicionai
31. SIEG TM5 Figura 3 Casa Tradicional na Quilombo Mesquita Foto Antonia Samir Figura 4 Press o sobre as Terras Quilombolas Fonte Google Earth Figura 5 Entrada de Condom nio em rea quilombola Foto Antonia Samir Figura 6 Casar o Hist rico no Quilombo Mesquita Foto Antonia Samir Figura 7 Casar o representativo da hist ria do Quilombo Mesquita Foto Antonia Samir Figura 8 Os Arraiaes da Capitania de Goi s Fonte Goi s em Documentos Col nia Goi nia UFG 1995 p 44 Figura 9 Mapa dos Julgados Fonte Bertran 2000 Figura 10 Uso da Terra Cidade Ocidental 1989 Figura 11 Uso da Terra cidade ocidental 2011 Figura 12 Mapa geral do Ret ngulo com localiza o dos limites das reas indicadas pela Miss o Cruls e pelo relat rio Belcher Fonte CODEPLAN Figura 13 Campanha em Defesa da Posse de JK 1954 Figura 14 Caixa da Marmelada Santa Luzia Figura 15 Festa do Marmelo Momento de socializa o Foto Antonia Samir Figura 16 Localiza o de Aterro de res duos de sa de do DF rea Quilombola Figura 17 V Antonia Quilombola falecida em 2012 Figura 18 Tina e V Antonia Guardi s de Saberes na Comunidade Foto Antonia Samir Figura 19 Cozimento do Marmelo Foto Antonia Samir Figura 20 Marmeleiro Foto Antonia Samir Figura 21 Caixetas com Marmelada Foto site Slow Food Figura 22 Fotografias feitas por jovens quilombolas para a Revista Descolados INESC Figura 23 Antiga Igrejinha Nossa Senhora D Abadia Foto Antonia Samir Fi
32. a o nesse processo de modo a contribuir para a participa o social na esfera p blica adquiram os conhecimentos os valores os comportamentos e as habilidades pr ticas para participar respons vel e eficazmente da preven o e solu o dos problemas ambientais Tbilisi possibilitou na Recomenda o n 1 a reflex o em torno da compreens o e transforma o da realidade socioambiental de um lado apontando a necessidade de se superar a aliena o do homem em rela o natureza e sociedade atrav s da consci ncia de que somos naturalmente humanos e humanamente naturais Marx 2004 ou seja por interm dio da consci ncia de nossa dupla e inalien vel determina o natural e social e de outro lado ressaltando a import ncia da participa o da sociedade civil no processo decis rio de formula o e implementa o de pol ticas p blicas e pr ticas sociais que visem ao pleno exerc cio da cidadania O processo educativo deveria ser orientado para a resolu o dos problemas concretos do meio ambiente atrav s de enfoques interdisciplinares e de participa o ativa e respons vel de cada indiv duo e da coletividade O Brasil n o enviou representantes a Tbilisi pois na poca n o tinha rela es diplom ticas com o extinto bloco da Uni o Sovi tica do qual a Ge rgia fazia parte Mesmo assim encontra se hoje muitas das caracter sticas da Educa o Ambiental de Tbilisi na nossa Pol tica Naciona
33. a ambiental com aquela Comunidade Quilombola a exposi o a riscos causados pelos res duos de servi os de sa de oriundos do Distrito Federal que s o depositados a menos de tr s quilometros do Povoado esse caso hoje pouco conhecido e divulgado mas a tendencia se tornar mais um problema sem solu para aquela comunidade Quilombola Acrescente se tamb m que diante do leque de quest es a serem solucionadas pelo grupo expropria o do territ rio titula o das terras organiza o comunit ria etc a exposi o desigual aos riscos vindos do dep sito de lixo fica aparentemente escondida e dissimulada pela enorme carga de problemas a serem resolvidos Assima a quest o da titula o das terras e a defesa do territ rio ocultam e tornam secund rios as outras demandas e a quest o dos dejetos do Distrito Federal uma delas e configura uma situa o de injusti a socioambiental no Quilombo 4 1 1 1 Racismo Ambiental As injusti as sociais e ambientais muitas vezes recaem de forma desproporcional sobre etnias vulnerabilizadas e se configura tanto por meio de a es com impacto racial quanto por um tipo de desigualdade e de injusti a ambiental que os expulsam de seus territ rios e desorganizam suas culturas seja impelindo os para as favelas das periferias urbanas seja for ando os a habitar nas zonas de sacrif cio pr ximas s ind strias poluentes e aos lugares de despejos residuais perigosos como acontece no entorno
34. a l gica do povoado Os produtores migrantes chegavam s redondezas de Mesquita com novas ferramentas e ofertas de sal rios que a realidade local n o poderia cobrir Al m dos defensivos agr colas e os conhecimentos relacionados a toda uma nova escala produtiva j causavam impactos suficientes havia o agravo de que o assalariado n o podia ser sustentado no modelo tradicional de produ o antes o trabalho da fam lia era composto por mutir es trocas e alimentos O marmelo foi de uma for a aqui Mas que em Luzi nia eles n o ajudavam Eles s queriam a Marmelada pra levar para Goi nia e fazer propaganda com a marmelada 99 deles aqui referindo se falta de incentivo que antes n o fazia diferen a n o existir SLC RTDI 2011 Relato ao INCRA A situa o financeira que pouca N o tinha for a do nada Pouco dinheiro e a pessoa n o tinha como Porque hoje a sola do dinheiro n E com dinheiro mesmo que voc organiza a coisa R RTDI 2011 Relato ao INCRA Antes arrumava pe o baratinho pra trabalhar Hoje voc vai ca ar um pe o ele n o faz nada e quer ganhar muito n A n o contesta a ro a foi ficando assim CBP RTDI 2011 Relato ao INCRA Para uma comunidade que vivia em condi es de quase isolamento em sua terra a disponibilidade dos recursos naturais ao mesmo tempo em que determinava as rela es que ali se estabeleceram tamb m era determinada pelo uso racional da for a de t
35. a social S o Paulo Editora Casa Amarela e Editora Paz e Terra 2004 BRASIL Constitui o 1988 Constitui o da Rep blica Federativa do Brasil Di rio Oficial da Rep blica Federativa do Brasil Bras lia DF 5 out 1988 Decreto n 4 281 de 25 de junho de 2002 Regulamenta a Lei n 9 795 de 27 de abril de 1999 que institui a Pol tica Nacional de Educa o Ambiental e d outras provid ncias Di rio Oficial da Uni o Bras lia DF 26 jun 2002 271 Lei n 6 938 de 31 de outubro de 1981 Disp e sobre a Pol tica Nacional do Meio Ambiente seus fins e mecanismos de formula o e aplica o e d outras provid ncias Di rio Oficial da Rep blica Federativa do Brasil Bras lia DF 2 set 1981 Lei n 9 795 de 27 de abril de 1999 Disp e sobre a educa o ambiental institui a Pol tica Nacional de Educa o Ambiental e d outras provid ncias Di rio Oficial da Rep blica Federativa do Brasil Bras lia 28 abr 1999 BULLARD R Palestra proferida no III Semin rio de Justi a Ambiental Igualdade Racial e Educa o na UERJ FFP S o Gon alo em 21 08 2013 CASTRO Edna Territ rio biodiversidade e saberes de popula es tradicionais In DIEGUES Ant nio Carlos org Etnoconserva o novos rumos para a prote o da natureza nos tr picos S P Hucitec 2000 CATAL O V Ecopedagogia Na Conflu ncia da Bacia Hidrogr fica com a Bacia Pedag gica Terceiro Inclu do NUPEAT IESA U
36. abissal entre os favorecidos e os desfavorecidos A l gica do capital entra na economia de grupos que vivem da subsist ncia por oferecer em curto prazo uma r pida e imediata recompensa mas de vida curta Ao contr rio do trabalho no ro ado em que se espera o ciclo se completar do plantio colheita Assim h uma invers o do tempo do trabalho Tamb m se pode constatar que h uma mudan a na ordem dos desejos A comunidade passa a lidar com novas refer ncias do que se considera necessidades b sicas Assim se instaura na mentalidade de seus indiv duos uma busca incessante por um novo padr o de vida mesmo que a estrutura econ mica vigente o exclua deste padr o de refer ncia Isto gera um processo de retro alimenta o do sistema capitalista que se instala a manuten o do antigo padr o de subsist ncia dos grupos menos favorecidos abalada pois o que se considera b sico ou desej vel amplia se de forma que se estabelece uma depend ncia dos servi os e acessos disponibilizados pelo mundo urbano que passam a ser considerados de vital import ncia A m o de obra necessita ent o do capital para mediar s novas trocas desej veis sendo absorvida e consequentemente inserindo se na polaridade menos favorecida da rela o assim trica intr nseca ao desenvolvimento capitalista 101 Os mecanismos invis veis de entrada do capital se d o nessa aptid o de se infiltrar no ordenamento interno da comunidade com o p
37. blicas de educa o ambiental e a atua o dos conselhos de meio ambiente no Brasil perspectivas e desafios Ensaio aval pol p bl Educ Rio de Janeiro v 18 n 69 Dec 2010 Available from lt http www scielo br scielo php script sci arttext amp pid S0104 40362010000400004 amp lIng en amp nrm iso gt access on 20 May 2014 OKLAY E Quintais dom sticos uma responsabilidade cultural Agriculturas Rio de Janeiro v 1 n 1 p 37 39 nov 2004 OLIVEIRA Hamilton Afonso de A constru o da Riqueza no Sul de Goi s 1835 1910 Tese de doutorado em Hist ria Franca Universidade Estadual Paulista Unesp 2006 OLIVEIRA J P 1998 Uma Etnologia dos ndios Misturados situa o colonial territorializa o e fluxos culturais Man 4 1 p 47 77 OLIVEIRA W Quilombo Mesquita Cultura Educa o e Organiza o Sociopol tica na constru o do pesquisador coletivo Monografia FE UNB 2012 PALAC N L AUGUSTA M 1995 Hist ria de Goi s 6 ed Editora UCG Goi nia Luis et al Hist ria de Goi s em documentos I Col nia Goi nia Ed UFG 2001 Luis Os Tr s Grandes Povoamentos de Goi s Revista do InstitutoHist rico e Geogr fico de Goi s Goi nia n 08 81 95 2002 Paulista 1991 PELICIONI A 2002 Educa o ambiental limites e possibilidades de uma a o transformadora Tese de doutorado em Sa de Publica Universidade de S o Paulo PHILIPPI J PELICIONI A FOCESIM C
38. chamada Revolu o T cnico Cient fica Informacional Vesentini 1993 e ao processo de globaliza o que se agigantava fizeram repercutir as suas reivindica es pol ticas culturais ambientais tnicas religiosas sexuais educacionais entre outras que combatiam o modo de vida apregoado por esse processo hegem nico gerador de muitos preconceitos e exclus o Milton Santos em seu trabalho intitulado Pensando o Espa o do Homem afirmava que das z m ltiplas denomina es aplicadas ao nosso tempo nenhuma mais expressiva que a de per odo 3 tecnol gico Dizia o autor que a t cnica um meio que vincula a natureza e o homem desde os tempos mais remotos e inocentes da Hist ria Mas ao transformar se num objeto de elabora o cient fica sofisticada acabou por alterar as rela es do homem com o meio valorizando a t cnica em detrimento do natural acrescento eu A literatura pesquisada mostrou que em meio a esses movimentos sociais surgidos na d cada de 1960 estavam reivindica es ligadas ao escravismo e tamb m aos primeiros movimentos ambientalistas motivados pela contamina o das guas e do ar nos pa ses industrializados No Jap o aconteceu a 109 contamina o com merc rio da ba a de Minamata derivado de uma ind stria qu mica Expandia se a consci ncia de que res duos dispostos de maneira incorreta podem entranhar se na cadeia alimentar e ocasionar mortes e deforma es f sicas
39. coletiva ordena a percep o de si e de seu mundo constr i e instaura o sentimento de perten a ao lugar e coletividade e informa o c digo simb lico de refer ncia do espa o social e f sico E assim espa o de encontro e reencontro componente essencial de registro das marcas de um tempo que comp e o real vivido e estabelece a comunica o entre momentos diversos e cont nuos Gusm o 1995 p 119 A autora 2002 continua afirmando que a manipula o do que se valoriza se lembra ou se esquece projeta do presente para o futuro a identidade do grupo N o incomum um grupo quilombola esquecer ou n o pronunciar nada a respeito sobre o tempo de cativeiro ancestral com a finalidade de aniquilamento de um estigma na mem ria Assim os mitos de origem de muitas destas comunidades remetem se ao momento em que o acesso terra adquirido em consequ ncia atribu do aos ancestrais desta poca um car ter her ico A descend ncia da fam lia por sua vez enfatiza a liga o a estes her is fundadores sem refer ncias aos seus antecessores nem ao passado anterior aquisi o de um territ rio Tal fato e tais personagens s o associados liberdade e dignidade elementos fundamentais para estas comunidades na atualidade O contr rio tamb m ocorre reativam se determinados esquecimentos frente a novas situa es que valorizem determinado fato antes rejeitado comum a muitas comunidades q
40. da rea que o envolve Mas bom lembrar que o Alphaville uma forma de condom nio diferente dos demais este foi projetado referente ao mesmo constru do em S o Paulo e de mesmo nome no intuito de os moradores s precisarem de sair para trabalhar pois no mesmo encontram se restaurantes escolas faculdades clubes entre outros empreendimentos facilitando assim a vida dos oradores Este condom nio pode ter refer ncia de uma mini cidade Portanto os demais condom nios em estudo s o apenas para moradias permanentes sem uma infra estrutura como a do Alphaville o que implica em um maior impacto para o territ rio Quilombola pois necessitar de uma maior quantidade de equipamentos e servi os para existir 5 3 5 Diverg ncias quanto titula o das terras como remanescente de quilombo Tradicionalmente a posse da terra era transmitida por heran a entre as tr s fam lias que fundaram o Quilombo Mesquita e que ainda reconhecem uma ancestralidade comum Os Pereira Braga os Lisboa da Costa e os Teixeira Magalh es Com o avan o da especula o imobili ria na regi o muitos moradores se desfizeram das suas terras Hoje depara se com duas posturas antag nicas na comunidade de um lado a Associa o Renovadora dos Moradores e Amigos do Mesquita AREME do outro alguns poucos moradores liderados por especuladores externos que tamb m se organizam em uma associa ao a APROMAQ Associa o dos Produtores do Mesquita
41. da comunidade s o o mesmo das tr s fam lias originarias do Quilombo Pereira Braga Lisboa da Costa e Teixeira Magalh es que se unem por parentescos A minha hip tese refor a a tese de que a forma o do quilombo Mesquita na rea rural do arraial de Santa Luzia se deu em fun o da decad ncia econ mica de Goi s referendo essa minha tese na descri o que o Saint Hilaire naturalista frances fez quando visitou s tios e fazendas no Arraial de Santa Luzia o primeiro lugar que visitou quando entrou em Goi s pela Estrada Real das Minas o pesquisador observou que os habitantes se achavam em extrema pobreza e os negros tanto livres quanto escravos vivem na indig ncia O franc s afirma que ap s o decl nio da minera o com exce o de um pequeno n mero de artes os e mercadores todos os habitantes de Santa Luzia dedicam se ao cultivo da terra Afastados do arraial nos dias da semana dedicando se ao cultivo nas ro as os habitantes da localidade produziam plantas de origem europ ia tais como o trigo e o marmeleiro 64 Apesar de os moradores empenharem se no cultivo de alimentos de acordo com o franc s seria in til que os colonos plantassem milho feij o e arroz em maior quantidade do que a necess ria para alimentar suas fam lias pois exce o feita das pocas de escassez o que ocorreu quando eu passei por l esses produtos n o encontram comprador Saint Hilaire
42. da etnicidade e territorialidade de Mesquita que se apresentaram alguns dados fundamentais tais como as formas de ocupa o desses espa os em conflito por hegemonia que n o seriam captados em uma abordagem isolada Como diz Muniz Sodr O territ rio expressa o momento inelut vel do presente com o aqui e agora da exist ncia tanto quanto expressa o passado sua tradi o e sua mem ria assim para ocaso dos grupos negros uma terra de parentes terra de preto tanto quanto pode ser terra de heran a terra de mulheres etc cada qual guardando uma especificidade complementar outra de modo a revelara polissemia dos pr prios conceitos sua realidade n o fechada e comunicativa Uma ou outra dessa dimens o conceitual aflora em contextos situacionais posto que a melhor se adapta ou melhor responde aos enfrentamentos Gusm o 1995 131 132 O territ rio soma de partes das realiza es presentes e passadas a base do trabalho da resid ncia das trocas materiais e espirituais da vida Santos 2000 p 96 No mundo globalizado por m ao n vel do territ rio apresentam se verticalidades e horizontalidades As verticalidades s o for as manejadas pelas corpora es transnacionais que controlam o sistema mundializado impondo normas e padr es estranhos ao lugar fragmentando e desfigurando o territ rio As horizontalidades representam as singularidades produzidas no e pelo territ rio que resistem s verticalid
43. de cingiienta arraiais e quatro aldeamentos erguidos s margens da estrada de S o Paulo Fig 8 em um territ rio que desde os primeiros momentos do s culo XVIII foi controlado por regimentos levantamentos cartogr ficos cria o de caminhos institui o da Prelazia da Capitania funda o da capital Vila Boa defini o de procedimentos jur dico administrativos instala o de intend ncias forma o de aldeamentos casas de fundi o e postos alfandeg rios Com o interesse da metropole portuguesa na expansao territorial Bartolomeu Bueno da Silva Jo o Leite da Silva Ortiz e Domingos Rodrigues do Prado paulistas da Vila de Santana de Parna ba 43 em 1720 escreveram ao rei de Portugal oferecendo se para serem esses agentes p blicos na organiza o de uma bandeira ao sert o da capitania destinada ao descobrimento de minas pedindo em troca o imposto das passagens dos rios que necessitassem de canoa por tr s gera es e outras vantagens que o rei costumava conceder nestes casos Palacin 1994 A Coroa ent o aceita e logo de inicio Bartolomeu Bueno funda o primeiro arraial de Sant Anna hoje Cidade de Goi s situado entre as margens do rio Vermelho Em 1731 o companheiro de Bartolomeu Bueno Manuel Rodrigues Tom s descobriu as ricas jazidas da Serra dos Pireneus e junto ao rio das Almas surge o arraial de Meia Ponte hoje Piren polis Palacin 2001 Ap s quinze anos de minera o abriram se caminho
44. de m sica ora es e trocas de bens entre foli es e moradores n o mais do que a aglutina o de gestos e atos corriqueiros que a situa o ritual soleniza e oferta a todos os presentes como uma cerim nia marcante e fortemente carregada de afetos de s mbolos e de intertrocas de bens de servi os e de sentidos Todos os do lugar compartilham cren as e conhecimentos comuns Pouca coisa pode ser improvisada e porque desigualmente se sabe o que vai acontecer e desigualmente se sabe como proceder que o rito recria o conhecido e assim renova a tradi o aquilo que se deve repetir todos os anos como 225 conhecimento para consagrar como valor comum Renova um saber cuja for a ser o mesmo para ser aceito Repetir se at vir a ser mais do que apenas um saber sobre o sagrado um saber socialmente consagrado Brand o 2008 Figura 25 Cantoria em pouso de Folia Foto Sandra Pereira A solidariedade no preparo e na organiza o dos pousos que uma tarefa de responsabilidade do morador este recebe ajuda e doa es de outros quilombolas as redes s o fortalecidas e a coes o interna refor ada atrav s do ato simb lico de comerem juntos orarem juntos e dan arem juntos As comidas s o parte important ssima de todo pouso pois o seu preparo sua doa o e degusta o revelam a generosidade e fartura da fam lia que oferta o pouso representando momento de compartilhamento da alegria e gratid o pela b n o r
45. de nascimento em si era privil gio de poucos apenas os negros com situa o legal o que inclu a a carta de alforria podiam faz lo E na realidade mesmo para aqueles aptos ao requerimento em sua maior parte n o se entendia o real funcionamento do registro de terra tratava se de uma comunidade etnicamente diferenciada Comum ainda hoje em Mesquita oriunda de uma cultura agr fica um indiv duo apresentar certo papelucho sem valor ou que diga respeito a outro assunto dizendo este o documento da terra e para aqueles que sabem ler apresentarem outro tipo de documento acreditando ser o t tulo da terra Estado De Goi s Procuradoria Geral Ger ncia de Defesa do Patrim nio P blico e do Meio Ambiente CERTID O N 028 2011 2 ViaFreguesia de Santa Luzia Prov ncia de Goi s Em cumprimento ao Oficio n 882 2011 INCRA SR 28 G DATADO DE 07 07 20U dirigido ao Sr Dr Ronald Christian Alves Bicca Procurador Geral do Estado pelo Superintendente Regional Substituto SR 28 DFE Sr Jos Ribeiro de Andrade c pia anexo localizado na SIA Trecho 1 lote 1730 1760 Bloco D e E Bras lia DF Fone 061 3462 3947 Fax 3462 3990 constante na inicial do processo n 201100003006243 no qual solicita as certid es dos registros paroquiais da Fazenda Mesquita n 126 e 144 da Vila de Santa Luzia visando Estudo e conclus o do Relat rio de identifica o e Delimita o TRID do Territ rio Quilombola de Mesquita solicitado pela
46. de posturas id ias e pr ticas que referendam as rela es bastante fortes entre a es educativas condi es sociais espec ficas e transforma o da realidade vida sujeitos sociedade ideologias etc MMA 2005 A Educa o Ambiental na Comunidade Quilombola do Quilombo Mesquita relaciona se tamb m com o conceito de Justi a Ambiental Acserald 2002 pois est intimamente relacionada com os direitos desse grupo a um meio ambiente saud vel livre de press es e dos impactos que o grupo vem sofrendo Se a Educa o Ambiental apoia se em Educa o e Ambiental importante metodologicamente um caminhar por entre os tr s conjuntos de significa es que foram apresentados a partir da escolha de acontecimentos que se autodenominam de ambientais e ou que sejam interessantes ao grupo de trabalho A Educa o Ambiental aqui nesse estudo usa os espa os familiares e coletivos do Quilombo para existir este potencial n o um vantagem uma particularidade desse grupo apenas sim um campo de cria o em que os sujeitos podem agir e come ando experimentos criar algo novo As comunidades que reconhecem a sua cultura e preservam os seus costumes como uma riqueza de seu povo sabem usar os seus saberes a favor de todos Saberes esses que aqui ser o identificados e estudados atrav s dos h bitos di rios e costumes da comunidade do Quilombo Mesquita O saber ambiental excede as ci ncias ambientais constitu das como
47. definida em antropologia como o esfor o coletivo de um grupo social para ocupar usar controlar e se identificar com uma parcela espec fica de seu ambiente biof sico convertendo a assim em seu territ rio Little 2002 3 O territ rio seria nesse sentido um produto hist rico de processos sociais e pol ticos ibidem Esse o conceito adotado nessa tese quando me refiro a territorialidade O territ rio uma constru o hist rica vinculada aos costumes dos grupos que nele vivem ou coabitam e tamb m aos fatores pol ticos e econ micos aos quais esses grupos est o subordinados um processo din mico pois as pr ticas sociais s o dependentes das transforma es ocorridas nesses lugares assim como tamb m o territ rio sofre altera es com as pr ticas sociais que nele acontecem As altera es territoriais que a rea do Brasil passou nos ltimos s culos est o imbricadas com os constantes processos de expans o de fronteiras No Brasil desde a expans o territorial do colonizador que entrou em choque com as territorialidades dos grupos ind genas que viviam aqui um exemplo de hist ria territorial Aqui observa se o que Oliveira 1998 chama de processos de territorializa o que aparecem em contextos intersociet rios de conflito Nessas situa es quando as terras de um grupo est o sendo invadidas a defesa do territ rio torna se um componente unificador do grupo Sobre a Fazenda
48. denunciava que a terra era de Mesquita comum mas a gest o de cada parte era terrritorializada pelos humanos que ali imprimiam seu trabalho e sua vida Assim o sentido de apropria o da terra passou a ser associado n o s ao trabalho mas tamb m ao n cleo familiar que a ocupava Com o tempo previs vel que novas implica es em rela o a este modelo espec fico de propriedade privada que se inaugurava em Mesquita entrasse em choque com a ordem econ mica global da sociedade envolvente Mesquita como veremos receber abordagens de eventos externos que implicar no desmembramento de sua for a produtiva e posteriormente de sua terra Pode se antecipar que nas tr s d cadas seguintes haver um desequil brio entre as no es de terra comum e propriedade privada Com a gest o territorial fragmentada abordando se individualmente cada n cleo ser facilmente impressa a l gica da terra como um bem de troca Os n cleos familiares agindo dentro de seu pr prio c digo permitiram que pessoas de fora por meio de pequenas trocas a eles necess rias se fixassem em seu territ rio Para a comunidade isto n o implicava em uma perda de terras mas em uma permiss o de uso na maioria das vezes em terras que n o estavam sendo trabalhadas naquele exato momento Uma esp cie de arrendamento A l gica de propriedade privada ainda n o se dava em sua totalidade para a comunidade de Mesquita Por m para os de fora a terra em si est
49. der execu o ao disposto no artigo seguinte Art 3 Fica pertencendo Uni o no planalto central da Rep blica uma zona de 14 400 quil metros quadrados que ser oportunamente demarcada para nela estabelecer se a futura Capital federal Depois j em 1892 Floriano Peixoto nomeou uma Comiss o Exploradora para o Planalto Central do Brasil com o objetivo de iniciar os estudos para a demarca o de uma rea onde se instalaria a nova capital do pa s A expedi o que ficou conhecida como Miss o Cruls mapeou aspectos clim ticos e topogr ficos estudou a fauna a flora e os cursos d gua do trajeto o modo de vida dos habitantes os aspectos urbanos e arquitet nicos das cidades pelo caminho al m de fazer levantamento de doen as poss veis naquelas reas A comiss o delimitou um quadril tero indicando o local mais prop cio sede da nova capital Em 1894 uma segunda miss o foi realizada para estudos mais detalhados Com a sa da de Floriano Peixoto da presid ncia o projeto de transfer ncia da capital foi paralisado Embora a comunidade convivesse com viola es de seu territ rio estabelecendo se a normalidade cotidiana o que inclu a a lida com os agentes de poder externo n o havia d vidas sobre os benef cios e impactos que a rodovia e a Estrada de Ferro faziam chegar Mesquita pois justamente este o per odo que marca o pico de abund ncia do marmelo e do feitio da marmelada Os negros vendiam g
50. do Quilombo Mesquita Em junho de 2009 foi aprovada pela C mara Legislativa do Distrito Federal a Lei 4 352 2009 Lei Transfer ncia de Dejetos no Distrito Federal que estipulava o prazo de 90 dias para que hospitais cl nicas e outros estabelecimentos privados geradores de res duos de servi os de sa de assumissem a responsabilidade e o custeio integral decorrentes da coleta transporte disposi o final e tratamento de seu lixo A lei baseada em Resolu o do Conselho Nacional do Meio Ambiente Conama sobre o assunto mas inovou quando beneficiou empresas com sede e tecnologia na capital do pa s ao estabelecer no Artigo 9 que os res duos dos servi os de sa de e classificados como perigosos gerados no territ rio do Distrito 155 Federal ter o autoriza o de transporte para outros estados da Federa o quando n o houver tecnologia dispon vel no Distrito Federal para tratar ou dar destino adequado A empresa que ganhou a explora o do servi o apresentou justificativa para os hospitais e as cl nicas n o utilizarem tecnologia dispon vel no DF e a justificativa foi aceita pelo Executivo Essa autoriza o dependia do apoio t cnico do Instituto de Meio Ambiente do DF IBRAM e da prefeitura e c mara de vereadores dos munic pios receptores do lixo produzido no DF e do Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renov veis Ibama como prev a lei Foi exatamente isso que aconteceu e a empresa Quebec
51. e as novas facilidades propiciam a entrada e o consumo de produtos modernos no campo Santos 2003 190 192 Figura 33 Estrada Vicinal dentro do Quilombo Foto Internet 2012 No tempo que compreendeu o per odo desta pesquisa de 2010 a 2013 a prefeitura da Cidade Ocidental pavimentou as ruas internas do Povoado usando uma esp cie de asfalto substituindo as antigas vias de acesso como a estrada que se iniciava desde o tempo da funda o do povoado junto Igreja Cat lica e seguia rumo s propriedades sendo que o 246 trabalho foi realizado sem consulta pr via comunidade sobre o tipo de material mais adequado s caracter sticas do Povoado N o estamos contra as melhorias mas acredito que a Prefeitura poderia ter perguntado ou pelo menos comunicado o que ia ser feito nada Quando vimos os homens e as m quinas estavam aqui o pior que agora temos outros problemas que vieram com esse asfalt sem antes ter feito servi o de drenagem das guas da chuva SPB l der quilombola Apesar disso no Plano Diretor da Cidade Ocidental est estipulado no T tulo II Do Desenvolvimento Sustent vel do Munic pio Cap tulo I Das Diretrizes do Desenvolvimento XIII preserva o recupera o e valoriza o do Patrim nio Cultural no mbito da pol tica de desenvolvimento municipal e da Pol tica Urbana em conson ncia com o disposto no inciso XII do Artigo 2 do Estatuto da Cidade respeitando e reconhecen
52. e Delimita o Bras lia junho de 201 1 INCRA 46 per odo entre setembro e dezembro deste mesmo ano tomando se por assaltos constantes dos ind genas da regi o Partiu ent o rumo a sudoeste e fixou se no local que correspondia sua expectativa aur fera lvares 1979 Bueno resolveu se a fundar uma fazenda de lavoura que no presente lhe desse os meios de subsist ncia nos trabalhos de minera o que ia encetar e no futuro prestasse recuos aos viajantes da estrada que o governador da capitania de Minas Gerais pretendia abrir para Goi s Alvares 1979 12 Assim fundou se Santa Luzia 1 2 A Di spora Rumo ao Planalto Central Neste cap tulo busco retratar e desenvolver a quest o que me moveu no in cio da pesquisa buscando minha ref rencia ancestral Quais grupos africanos compunham a escravaria de Goi s De onde Pie TEN 15 foram trazidos Quais suas trajet rias atl nticas e continentais para chegar ao Sert o dos Guayazes Assim neste trabalho para compreender e analisar luz do pensamento abissal linha de pensamento que uso nesta tese como elemento comum no di logo entre os diferentes autores e autoras que recorro como referenciais te ricos a hist ria da regi o remota do Distrito Federal e os processos hist ricos da realidade invisibilizada da Comunidade do Quilombo Mesquita Para esse estudo indispens vel iniciar fazendo refer ncia as v rias expedi es explorat rias que sa ra
53. e e io i otiosis 228 5 2 Sistema de Sade sirine a a a a a E Ea EEE can 235 5 2 6 Conhecimento do cielo de VIdA ga so a E a 237 SS CONFLITOS NO QUILOMBO MESQUITA paia Rca ppa epa nica dA dela Ss i cada 241 3 371 O impacto das estradas ass e s E SS ap 245 5 3 2 Extra o ilegal de madeira e InC NMIOS ss snanesiasansaisiaaa a nagastisa dias ca nasaati ais asas asa iren tn aasdad o 247 5 3 3 reas de Lazer nos Ribeir es de sgudosasias aged O Rena UG TOA SDS 248 53 4 Condom nios Sad do a ld E A AE ca a dad AEI dad dad e 249 5 3 5 Diverg ncias quanto titula o das terras como remanescente de quilombo 256 Dor Uso Da Menna sopas td da madura adm Co a fu Tc a RA 258 Capitulo Vs eua o dans aa cos e ideal aids SS apa Saab ED aa ES Rd Da deb OS a 263 6 C ncluindo Aqui Chegamos csmasisiatassssai mronaieaio presa el dada Ma E RS Sata atada Tao sad apud ea da pisa mM sias 263 REFER NCIAS BIBLIOGR FICAS ja itatoagafian faia pedira Dada sentet ti nnnnsesan 269 ANEXOS aa al aid Rea DS CD EaD Ga OS GR DAS T cao 281 ANEXO scan EE E E a CS E a aa apa 281 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ea 281 Anexo DE Doado DE Sitios Soc a ae TS ada SO Rd Da a A aaa GUS a ad A a a a o 282 ENTREVISTAS iine RS aa pr AR A RR AT TRT nao 282 Lista de Figuras Figura 1 Placa indicativa do Quilombo Mesquita Foto Antonia Samir 2010 Figura 2 Localiza o da Comunidade do Quilombo Mesquita Fonte
54. e nacional bem como objetos que n o remetem ao tempo da escravid o como tachos de cobre facas e arreios decorados 4 3 Territorializa o Uma das refer ncias mais importantes no processo de identifica o tnica no Brasil a do territ rio entendido como dimens o lugar onde se projetam experi ncias coletivas de re inven o de etnicidade Do espa o decorrem as classifica es tnicas que inscrevem os territ rios conformando uma no o de limite que atualizada e resignificada no tempo Para abordar territorializa o e a ocupa o do espa o a orienta o te rica de Milton Santos 2003 ajudar a entender os argumentos que sustentam a demanda ao territ rio quilombola estabelecida pela comunidade do Quilombo Mesquita O espa o como categoria de an lise social o que nos aproximar da 167 realidade pois considera a diversidade de elementos nele presentes as intera es entre eles e as mudan as de valor desses elementos no movimento da hist ria Milton Santos 1998 define territ rio como o espa o usado onde desenvolvem se rela es humanas de identidade vizinhan a solidariedade O territ rio abriga o lugar unidade de maior proximidade social No contexto da globaliza o o entendimento do territ rio contrap e se imposi o da aliena o da perda de identidade individual e coletiva da ren ncia ao futuro A categoria territorialidade surge em todo o processo dessa pesquisa ela
55. em uma extens o para al m dos pontos de fixa o destas comunidades negras Na cosmografia do grupo Mesquita possu a reas destinadas ocupa o e fixa o ou seja terra ocupada por assentamento humano trabalho e produ o Utilizava se um extenso territ rio em que a 72 paisagem se diferenciava em muito da atual As terras n o eram cercadas tendo a comunidade livre acesso na regi o A no o de apropria o do espa o era espec fica do grupo na realidade a apreens o do sentido de propriedade se diferia muito do que viria ser ao longo do tempo A terra n o era de ningu m por diversas vezes a exclama o repetida entre os mais velhos Na hist ria de Mesquita o crivo da no o de propriedade como dada hoje pelo Estado Brasileiro algo recente Os anci os da comunidade viveram este processo de mudan as Iniciaram suas vidas tendo a terra valores e sentidos diferenciados dos padr es atuais N o Nada A terra tinha Era em comum N o tinha neg cio de registro essas coisas n o Voc podia ficar em um lugar a terra n o era sua n o Morava al Agora hoje n o hoje t tudo cheio de dono que t usando essas coisas CBP RTDI 2011 A terra n o era considerada propriedade neste momento da hist ria de Mesquita O territ rio utilizado extrapolava os limites entre propriedades de outros senhores N o haviam cercas O gado era criado solto O c digo de conduta a moral do grupo s
56. em 2012 inclusive esse grupo passou a gerenciar o espa o da Associa o o galp o que fica no terreno cont guo Igreja e onde acontecem as festividades Galpao Comunit rio Aleixo P Braga a APROMAQ reivindicava o galp o 256 alegando que havia sido constru do pr eles mais uma vez a situa o est espera de decis o judicial Os moradores do Quilombo Mesquita se reconhecem como membros de um mesmo grupo n o excluindo sua caracter stica tnica Por m existem posicoes contr rias titula o de suas pr prias terras no debate que envolve o reconhecimento dos direitos conferidos aos remanescentes de quilombo nota se uma situa o de conflito acirrado por diferentes interesses econ micos O territ rio do Quilombo est localizado em uma rea muito ambicionada pelos empreiteiros sobretudo imobili rios Est a menos de cinquenta quil metros da Capital Federal e ha vinte quilometros do bairro mais valorizado de Bras lia o Lago Sul isso faz do lugar onde vivem os quilombolas um dos lugares mais valorizados do entorno do Distrito Federal Diante desta situa o a comunidade vivencia esse conflito dividida uma parte dos moradores liderados pela Associa o Renovadora dos Moradores e Amigos do Mesquita respons vel pelo requerimento para a a o de reconhecimento e titula o de seu territ rio e consequentemente ansiosos pela titula o Outra parte dos habitantes da comunidade sob o controle de diss
57. em comunidades inteiras por da bioacumula o A descontamina o do rio Tamisa em 1961 e a melhoria do ar ambiente em Londres s o exemplos dessa fase precursora dos cuidados com o meio ambiente que poder a se denominar de d cada da conscientiza o Constatei no meu estudo que um dos marcos te ricos que contribuiu para a conscientiza o ambiental foi o livro da bi loga Rachel Carson Silent Spring Primavera Silenciosa escrito em 1962 ela alerta sobre o uso indiscriminado de pesticidas que al m de destruir insetos como se desejava envenenavam os p ssaros o livro abre com as palavras de Albert Schweitzer para quem tamb m dedicado Man h s lost the capacity to foresee and to forestall He will end by destroying the earth O homem perdeu a capacidade de antever e de previnir Ele terminar por destruir a Terra Logo depois em 1964 criado o Tratado Ant rtico que surge embalado pelas id ias conservacionistas da d cada o documento prega que o continente ant rtico s poder ser usado para fins pac ficos em 1991 esse tratado foi aditado pelo Protocolo sobre a Prote o Ambiental reafirmando a Ant rtica como uma reserva natural da humanidade com rigorosos princ pios ambientais regulando as atividades humanas no continente A Educa o Ambiental ainda n o era bem compreendida nessa d cada e era muitas vezes confundida com educa o conservacionista aulas de ecologia ou atividades propostas por pr
58. envolvente que se quer desfeito a l gica da escravid o agride a identidade do grupo hoje com a origem constru da na dignidade do acesso terra firmado na conquista de um territ rio Outro elemento que a descri o da Guerra das Caba as feita por Alvares deixa transparecer a rela o entre escravos e senhores Devido disparidade entre brancos e negros ao longo do tempo as rela es que iam se estabelecendo no povoado de Santa Luzia se ajustaram por uma infind vel gama de tipologias que envolviam reciprocidades sobretudo ap s o decl nio da minera o O resultado disto pode ser apreendido nas rela es caracterizadas por serventia subordina o mas tamb m lealdade Na divis o s cio pol tica entre as elites era comum os negros tomarem partido de seu propriet rio em casos necess rios num imbricamento pseudo familiar que impunha certa ordem Da mesma forma em contrapartida e apontando em igual sentido Alvares 1979 d a not cia que nos cart rios de Luzi nia h registros de que no testamento de alguns senhores era concedida a liberdade aos seus escravos e doa o de 55 terras a eles Ao mesmo tempo por m em que n o se eximia as perversidades praticadas no sistema de escravid o O fato que o cen rio constitu do pelas rela es sociais em Santa Luzia era complexo e heterog neo A hist ria de Santa Luzia permeada pela valoriza o da moral crist na vida comunit ria Segundo lvares em 17
59. era grande Ent o o pessoal acabava trabalhando como agregado para os outros Nem era por dinheiro Era por comida por um agasalho usado No fim continuou todo mundo escravo Rosa 2004 afirma que nem todos os quilombos s o frutos da mobiliza o de negros contra a subalterniza o escravista muitos existem sem que tenha havido um hist rico de confronto A minha hip tese para a funda o do Quilombo Mesquita que com o decl nio da produ o do ouro com base na explora o da m o de obra escrava e a decad ncia da regi o mineira em Goi s a economia ficou centrada somente na economia de subsist ncia Assim perdeu o sentido econ mico para os senhores mas haviam terras cedidas para que os negros cultivassem seu sustento e com o abandono da propriedade pelo sargento mor Jos Correia Mesquita permaneceram apenas os ex escravos e seus descendentes As escravas que cuidavam da casa do senhor passaram a serem as donas existe a constata o documental da fixa o do sargento mor Mesquita em Meya Ponte atual Piren polis esse fato pode ser referenciado tamb m por Bertran 1988 Para os tr s primeiros anos de Santa Luzia Mello lvares relaciona mais de cem nomes de fundadores metade de portugueses natos alguns vindos com toda a fam lia e outro tanto de proced ncia brasileira mormente paulistas A maior parte desses nomes n o se repetem na hist ria futura de Santa Luzia ou porque desapareceram seus sucessores leg
60. era uma larga vaiada ou seja o fechamento de uma cabeceira a outra cabeceira por uma trincheira de um metro de profundidade por dois de largura que o gado n o se atrevia a pular e cujo acesso s era poss vel pela cancela de madeira larga Bertran 2000 158 As terras do rural de Santa Luzia eram recortadas sob o nome das ilustres figuras que compunham sua mais alta sociedade e quando povoadas eram por escravos destes senhores trazidos nos primeiros momentos de minera o Estas reas eram dedicadas produ o de subsist ncia e cria o de gado atividades secund rias em poca onde todos os esfor os conflu am para o enriquecimento com a extra o de ouro Desta forma n o se atribu a terra em si um grande valor de bem ou mercado A terra em si valia muito pouco Valia sim sua produ o Em tempos recentes lia se nos jornais de Goi nia um an ncio jocoso vende se uma cerca de aroeira com uma fazenda dentro Ou em um jornal de Bras lia vende se um po o artesiano com uma ch cara em volta S o os rebates modem ssimos da velha no o de cascos Bertran 2000 89 Do ponto de vista do senhor no ciclo da minera o a terra possu a um valor secund rio Por m do ponto de vista dos negros escravos significava que o trabalho rural era mais ameno em compara o aos garimpos e do ponto de vista dos negros livres e dos fugidos a terra significava possibilidade de trabalho para a
61. fassa ado lap dass ada assi E aa pitacos Sp ada a 146 Capitulo IV Secr n Cala a O a R an a 149 4 O TE RICO DIALOGANDO COM O EMP RICO ee eeeememeemeereemeereeeeeeeme eee 149 4 1 JUSTI A AMBIENTAL Direito a uma vida digna em um ambiente saud vel 150 4 1 1 A JUSTI A AMBIENTAL NO QUILOMBO MESQUITA 152 4 2 Topofilia e Mem ria no Quilombo Mesquita ir ereer erre ceereeaeeraceeracaneaa 158 42 V Mem i DURE o DER SR DRE RN PDR RNA ce E RN ERR EEN RETRO SD RD RED 160 A LEMON IZA O ca asi eo Ra GRA AS ISS RONAN E EE 167 Ad lAs Perdas Territorials sesinin a RA GU O UE Dol io doa E ra don 173 4 3 2 O Reconhecimento da Territorialidade Quilombola ccci ii ieerrerrereeereeeeeereres 183 Capitulo Va ni aa a CR O RT GR Ra A ar aai 192 gt Dialogo entre tradi o e Modernidade ss a SOU PAO A i 192 5 1 A Re inven o das Tradi es no Locus da Pesquisa crer ererarencananas 194 5 2 Os Saberes Observados na Comunidade rr ereeeereeraeeraa cer aeenacanceraana 196 5 2 1 Tradi o Oral ainra e a a apatia A E SEGA MN DR aguas Pain aaa pasa ado OTE AASA 199 5 2 2 O maior dos Saberes A Marmelada do Quilombo Mesquita uma forma de resist ncia 201 92 9 Histon POPA R E O a 217 5 2 4 Calend rio Festivo ranan aa o coa a e Ea EA EE O a 222 5 2 5 Q t ireiro de casa lugar d Saberes qugasasespglantgatipsn pa qua
62. fechou neg cio milion rio tanto com o Governo do Distrito Federal quanto com os maiores hospitais da capital do pa s assim para atender a demanda por um local para a destina o dos res duos s lidos foi implantado em 01 de abril de 2008 o Aterro Sanit rio da Cidade Ocidental Unidade de Incinera o de res duos perigosos Alvar de Funcionamento n 20080145 Localizado na Regi o Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno RIDE DF A injusti a ambiental resulta da l gica perversa de um sistema de produ o de ocupa o do solo de destrui o de ecossistemas de aloca o espacial de processos poluentes que penaliza as condi es de sa de da popula o trabalhadora moradora de bairros pobres e exclu da pelos grandes projetos de desenvolvimento Uma l gica que mant m grandes parcelas da popula o s margens das cidades e da cidadania sem gua pot vel coleta adequada de lixo e tratamento de esgoto Uma l gica que permite que grandes empresas lucrem com a imposi o de riscos ambientais e sanit rios aos grupos que embora majorit rios por serem pobres t m menos poder de se fazer ouvir na sociedade e sobretudo nas esferas do poder Herculano 2008 O Aterro Sanit rio possui suas instala es na Fazenda Santa Filomena rea Quinh o Gleba 1C Zona de Expans o Urbana na Cidade Ocidental ha tr s quilometros do Mesquita gerenciado pela Quebec Constru es e Tecnologia Ambiental Ltda
63. grande a fazia a penit ncia ia com lata d gua na cabe a outro com caba a d gua na cabe a despejava l tudinho rezava l tudinho eles tinha f e chovia O tempo foi mudando o povo parece que vai n o acreditando mais nem rezar eles gostam mais MT M Relato ao INCRA Este lugar da Cruz de Sime o Fica fora fica no fim de Mesquita da terra ocupada atualmente E que o Mesquita antigamente era do Saia Velha pra c a depois foi retalhando tudo e s ficou esse miolinho MT M Relato ao INCRA 220 Foi tamb m depois da perda substancial de suas terras que a comunidade desenvolveu outro tipo de rela o com os ritos funer rios e a salvaguarda de sua mem ria foi abalada Expressam dor neste tipo de situa o O cara l da Toca do Le o mandou a gente exumar os corpos porque ia passar trator em tudo A deu tr s dias pra gente ir l tirar os ossos A gente fez Cavou tirou os osso do meu av todinho pro trator n o passar em cima SLC RTDI 2011 Relato ao INCRA Antes o local de enterro de seus mortos era na fazenda do n cleo familiar junto aos mais antigos negros Basta uma leve passeada no territ rio de Mesquita para ver alguns pontos com cruz edificada Quando morria enterrava nas fazendas junto com os antigos S depois que o povo come ou com cemit rio Luzi nia Hoje enterra na Cidade Ocidental mas antes era aqui mesmo cada um no seu lugar Tudo era diferente CBP
64. incluindo a instaura o do Estado Novo 1937 1945 com uma meta de cunho desenvolvimentista emergiu na era Vargas a ideologia conhecida como Marcha para o Oeste A cria o de col nias agr colas desenvolvimento da Estrada de Ferro a constru o de rodovias est mulo agropecu ria que se firmava como o novo pilar da economia de Goi s incentivavam a migra o para o Estado Com a movimenta o da economia ampliaram se os fluxos de com rcio e assim a conseqiiente emerg ncia de centros urbanos a partir de ent o se destaca o nascimento de cidades com planejamento pr vio Neste contexto em 1933 assentou se a pedra fundamental da cidade de Goi nia constru da de forma planejada para transferir a capital do Estado at ent o sediada na Cidade de Goi s Arraial de Sant Ana O objetivo era definir a capital em uma localiza o mais estrat gica privilegiando o acesso e com isso o desenvolvimento local Pode se dizer tamb m que houve um importante significado na transfer ncia a impon ncia da antiga capital era associada ao per odo ureo de minera o e posteriormente em consegii ncia tamb m imagem da decad ncia citadina Uma nova cidade criada sob as demandas do progresso dissociada do passado let rgico do decl nio da minera o imputava um marco simb lico para o Estado Apesar da inaugura o oficial de Goi nia ter ocorrido em 1942 em 1937 a cidade j era reconhecida como a nova capital de
65. l os de l mas era dos mesmos como dizem Eram grupos distintos de uma mesma fam lia O povo que foi para Santa Maria era duas turmas Uma foi pra aqui outra pra acul SLC RTDI 2011 Entre esses grupos existia um mesmo pertencimento tnico Eis a tomada de consci ncia da etnicidade embora o termo tnico n o seja de uso comum para a comunidade de Mesquita Nesta passagem hist rica o entendimento do que somos n s em contraposi o ao que s o os outros representa uma fronteira As rela es entre estes grupos de parentesco eram constru das e permeadas de toda uma vida social que fazia esta fam lia negra diferente dos outros grupos humanos ali existentes Os assentamentos das turmas se davam em pontos distintos mas um extenso territ rio ambientava a vida comunit ria Entre estes pontos estabelecia se uma rede de reciprocidades dos humanos que os habitavam Quando tinha festa a gente ia em Santa Maria Tinha casamento com os de l Um bocado de Pereira Braga Era tudo aberto Ningu m fechava propriedades cercadas Andava tudo isto a Ta de c vinha de l Era assim SLC RTDI 2011 Casamentos trabalhos mutir es A configura o espacial tamb m refletia esta estrutura social de trocas envolvendo o uso comum das reas Caminhos extra o de madeira extrativismo vegetal O uso dos espa os e fluxos que ambientavam e sustentavam a vida o territ rio propriamente dito se dava
66. l sempre foi mais acomodado Tinha muito medo J A P Relato ao INCRA Com certo orgulho dos processos de desenvolvimento vividos os mesquitenses se referem impon ncia da presen a de Juscelino Kubitschek no seu territ rio Era muito pe o l nas obras O Juscelino era t o custoso que ele andava assim com aquele chapel o assim no meio dos pe o assim voc n o sabia quem era pe o e quem era Juscelino Kubitschek Sempre sempre andava assim no meio das obras abra ando os goianos chamava l de Goi nia que tinha a capital que vinha pra c pro centro de Goi s n Porque tudo aqui era Goi s sabe n Ent o ele vinha de l abra ando os goianos o pessoal mais velho Com aquela simplicidade Nem parecia ser um dono dessas terras J A P Relato ao INCRA Bras lia levanta se em apenas cinco anos sendo inaugurada em 21 de abril de 1960 A transfer ncia da capital transformou toda a vida e hist ria da regi o que ficou invisibilizada diante da grandeza deste novo evento hist rico Como a m o de obra que passou habitar a regi o dos candangos aos servidores p blicos era basicamente migrante as necessidades em Bras lia n o tinham v nculos com a realidade local anterior Mas sim com a id ia de desenvolvimento que simplesmente por avan o tecnol gico e progresso econ mico superava o passado Toda a hist ria anterior foi ultrapassada pela modernidade As minas a 104 escravid o o isolamento Tudo
67. lugares hagiografia Tem uma origem an nima Calend rio Festivo Express es cronogramadas anualmente rituais que comp em as dan as e dan as festas religiosas e pag s can es e m sica instrumenta o e criatividade Ci ncia tradicional e tecnologia Costuma se chamar de saber ecol gico tradicional conhecimento que popula es locais t m de cada detalhe do seu entorno do ciclo anual calend rio agr cola das esp cies animais e vegetais dos solos ci ncia popular em rela o ecologi etc 198 Sistema de Sa de Como express o de equil brio entre homem e natureza homem homem e homens deuses A medicina tradicional integrando os processos de etiologia diagn stico e terapia plantas rochas rios e montanhas que curam Especialistas em cura classifica o e inicia o e ritos de consagra o Herb rio e Etnobot nica Artesanato Express o material de acordo com os recursos materiais Cer micas t xteis couro culin ria M todos e meios de produ o Instrumentos tecnologia e produ o e comercializa o ou troca Conhecimento do ciclo de vida Saberes dos diferentes diversos ritos de passagem usados na comunidade nascimento casamento e morte Formas de socializa o da concep o ao nascimento Formas intera o entre social e afirma o de perten a grupos de g nero Vis o hier rquica de n veis familiares e n veis comunit rios de reciprocidade Ritos de passagem desde o nascime
68. m e sendo a detentora de um saber adquirido colabora para o fortalecimento e a reconstitui o da tradi o oral a partir do momento que incentiva nos filhos durante a lida cotidiana a fazer do jeito certo o manejo com as plantas e os animais do quintal Na prepara o da horta a mulher faz uso de ciscos que varrem do quintal e esterco de gado para fertilizar a terra com adubos naturais desse modo que a maioria das mulheres mesquitenses acaba sendo guardi de saberes locais em rela o ao ambiente Junto porta da cozinha comum no Quilombo Mesquita as mulheres cultivarem ervas para rem dios tais como losna sabugueiro alecrim arruda etc usados em casos de precis o para a pr pria fam lia ou para mesmo para a comunidade Antes as fam lias no Quilombo usavam as panelas de ferro fortes e apropriadas para o fog o de lenha hoje a maioria usa panelas de alum nio e observa se a presen a de fog es a g s o que indica assimila o de meios da modernidade ainda que muitas fam lias cozinhem no fog o de lenha Figura 31 Fog o t pico em casa quilombola Foto Antonia Samir 2012 A lenha para o fog o fica guardada no canto da cozinha E sempre tem perto ou no rabo do fog o bancos para a fam lia se sentar nas conversas ao p do borralho como disse no in cio desse meu trabalho as m es av s os mais velhos transmitem conhecimentos aos filhos e netos em forma de causos e est rias S
69. momento hist rico um r tulo de decl nio no entanto do ponto de vista das comunidades negras rurais inverte se a l gica sua micro hist ria denuncia o per odo de ascens o Antes de prosseguir importante ponderar que observa se sim um contexto de ascens o para as comunidades negras mas h de se ter em mente suas limita es A id ia de ascens o e decad ncia sempre relacionai Os negros ascenderam da vida cativa para a vida liberta As rela es de servid o de liberdade condicional e a condi o hier rquica no poder permaneceram O mundo rural no Brasil sempre foi marcado pelo coronelismo Esta estrutura fact vel pode ainda ser apreendida na atualidade A estrat gia de sobreviv ncia de muitos dos grupos menos favorecidos que representavam a imensa maioria do contingente populacional ao inv s de enfrentar a estrutura hegem nica impondo guerrilha ou liberdade for a utilizou se de um universo de trocas veladas reciprocidades impl citas com um m nimo retomo imediato cumprindo seu papel de subordina o e fortalecendo as bases do coronelismo Para os negros que antes s possu am nus em todo o sistema posto rela es de apadrinhamentos que ainda operavam sob a l gica pseudo familiar entre escravos e senhores desenhou um universo mais imediatista de pequenas conquistas O acesso liberdade para quem s possuia a refer ncia do cativeiro j era grande ganho O que houve foi uma adapta o s necessidades l
70. na qual os comportamentos a serem observados n o s o predeterminados eles s o observados e relatados da forma como ocorrem visando descrever e compreender o que est ocorrendo numa dada situa o Alves Mazzotti Gewandsznajder 2001 p 166 Dencker 1998 p 127 observa que uma grande vantagem das t cnicas de observa o permitir o registro do comportamento no instante em que este ocorre Dessa forma as observa es foram anotadas nem sempre muito organizadas em um di rio de campo algumas entrevistas foram ravadas e sempre que eu visitava o Quilombo fazia registro fotogr fico da ida ao campo Anexo 3 Al m dessa observa o in meras outras vezes provoquei conversas descompromissadas nas casas das pessoas ou no Centro Comunit rios durante o leil o na Festa do Marmelo nas reuni es da Associa o em caminhadas pela comunidade al m de outras ocasi es onde procurei entender um pouco mais com meus informantes como vivem como pensam suas vidas e a si mesmos A ideia foi procurar fazer com que eles pr prios relatassem a compreens o a respeito de suas vidas das mudan as ocorridas na comunidade e em seu universo particular A principal fonte usada para obter as hist rias de vida e os relatos no Quilombo e que foram utilizados nessa tese foram as entrevistas realizadas por t cnicos do INCRA e as conversa es estabelecidas pela pesquisadora com esses t cnicos e com a comunidade Entendo que produ o de 2
71. o O cara l da Toca do Le o mandou a gente exumar os corpos porque ia passar trator em tudo A deu tr s dias pra gente ir l tirar os ossos A gente fez Cavou tirou os osso do meu av todinho pro trator n o passar em cima S L C Antes o local de enterro de seus mortos era na fazenda do n cleo familiar junto aos mais antigos negros Basta uma leve passeada no territ rio de Mesquita para ver alguns pontos com cruz edificada Quando morria enterrava nas fazendas junto com os antigos S depois que o povo come ou com cemit rio Luzi nia Hoje enterra na Cidade Ocidental mas antes era aqui mesmo cada um no seu lugar Tudo era diferente C P B 240 Hoje est o inseridos em um novo contexto e n o lhes permitido enterrar seus mortos no quintal de casa e nem expressam este desejo Mas expressam um sentimento de injusti a e se sentem ofendidos quando algum local em que est o enterrados seus antepassados desrespeitado Figura 32 CEmit rio da Fam lia Pereira Braga Foto Antonia Samir 2013 Muitos destes locais n o se encontram mais sob posse da comunidade Isto gerou uma perda de mem ria significante pois as atuais gera es de Mesquita tiveram que romper com o culto e o conhecimento de seus ancestrais Quando s o perguntados sobre as localidades em que est o enterrados seus mortos referem se a muitos mas sentem se capazes de localizar apenas alguns dos pontos em geral os mais pr xim
72. o os saberes e experi ncias de vida repassados 238 de gera o a gera o Nesse caso tem se o cruzamento entre identidade tnica saberes modos de fazer e produ o e reprodu o da biodiversidade conforme apontado por v rios autores para reas ind genas e camponesas Emperaire 2005 A rela o entre cultura e diversidade biol gica no caso do Quilombo Mesquita muito presente A territorializa o realizada pelas fam lias ap s a chegada de Bras lia e a press o sobre as terras implicou uma rela o de explora o muito mais racional e consciente dos agora pouco recursos do Cerrado dispon veis e ao mesmo tempo de produ o de t cnicas e conhecimentos voltados para a escassez das mat rias primas natuarais antes utilizadas O aprendizado do uso dos recursos do Cerrado fruto de pr tica que acontece ao longo de gera es resultado do aprimoramento dos saberes diante das l gicas que se apresentavam para o grupo O saber local como procedimento daquela comunidade que tem permitido que aconte a ainda alguma explora o dos recursos dispon veis no Cerrado para fins de consumo h gera es Depois de duzentos anos da funda o da comunidade as fam lias do Quilombo Mesquita permanecem a explorar e a consumir frutos ra zes e folhas do Cerrado porque esse conhecimento foi incorporado ao seus saberes e ele tem garantido a sustentabilidade dos recursos naturais naquela regi o Lugares S o considera
73. o se concretiza sem reconhecer a sua realidade hist rica e dos sujeitos que nela vivem compreendendo seus processos culturais sua socializa o e as rela es de trabalho vividas por esses sujeitos em suas pr ticas di rias Nesse sentido esse estudo sobre Educa o Ambiental busca identificar e validar a identidade quilombola no Quilombo Mesquita e avaliar os diferentes saberes e fazeres j constru dos a partir de suas hist rias de vida O presente trabalho busca compreender como a Educa o Ambiental vem acontecendo entre essa comunidade quilombola Para uma melhor percep o do cotidiano da cultura e das tradi es da popula o quilombola do Quilombo Mesquita foi necess rio alcan ar um relacionamento com alguns informantes no grupo para poder ter acesso s hist rias de vida deste povo e s suas experi ncias no dia a dia O Objetivo era analisar como os saberes e fazeres dos remanescentes quilombolas vem dialogando com a Educa o Ambiental a partir das Hist rias de vida foram os objetivos aqui propostos No Quilombo Mesquita ainda se consegue observar a riqueza dos conhecimentos sendo utilizados na pr tica da Educa o Ambiental ainda que n o seja uma a o explicitada de transmiss o de saberes ela acontece em viv ncias sociais e familiares cotidianas muito al m da verdade hegem nica das ci ncias al m da gan ncia dos expropriadores daquele territ rio muito al m da exclus o social pretende se co
74. outro ele n o aceitava a come ava a briga A divide jica cada um no seu e pronto SLC RTDI 2011 Para os fins deste estudo as teorias de Boaventura de Souza Santos em especial a ecologia dos saberes foi a base para a apreens o e interpreta o dos fatos hist ricos relevantes ao entendimento da 189 situa o atual do Quilombo Mesquita Al m da recupera o hist rica importa para esse trabalho as quest es identit rias que mant m a estrutura social do grupo naquele territ rio As pesquisas de campo n o abarcaram a totalidade dos eventos passados mas os aqui citados serviram para entender a rela o destes com o presente O fatos acontecidos importam mas a interpreta o e a escolha de tais fatos narrados que diz o que importa sobre o estudo em quest o N o importa neste Estudo sobre o Quilombo Mesquita questionar a verdade hist rica por exemplo de um mito de origem mas entender o que este fato indica na mem ria comunit ria e analis lo enquanto dado A interpreta o deste dado certamente revelar quest es identit rias mais importantes ao objetivo do estudo Na pr tica das hist rias de vida ou dos relatos de dom nio coletivo n o observei apenas o que de fato aconteceu no passado mas tamb m com a mesma import ncia as formas pelas quais o presente se relaciona com o passado Revel 1988 p 37 38 Adicionada a esta perspectiva foi por meio da abordagem hist rica
75. passadas Berger Filho Sparemberger 2008 p 13 No texto Sobre a Tradicionalidade Rural que h em n s Brand o 2004 fala que a tica dos campesinos est baseada em tr s princ pios a honra a reciprocidade e a hierarquia A honra um princ pio b sico na Comunidade do Mesquita a reciprocidade uma comum no seu dia a dia e o sentimento de hierarquia ordenadora do mundo da pr pria fabrica o do cosmo da cria o natural do mundo natural da reprodu o do mundo social Essa quest o n o tem a ver tanto com a geografia da vida rural tradicional mas sim de uma difus o da teoriza o em n s de uma campesinidade que n o seria apenas caracterizada pela sua tica e pela sua identidade mas por sua cumplicidade e afetividade Brand o 2004 No Brasil conforme j relatei no cap tulo II dessa tese no regime de trabalho escravo os negros foram utilizados como m o de obra nas planta es de cana de a car nos trabalhos dom sticos na minera o etc De acordo com Brand o 2009 p 23 Brancos e negros de Goi s compartem a experi ncia de viver juntos 250 anos reproduzindo vidas e produzindo ouro gado e cereais entre o labor e o trabalho 128 Observei durante a Festa do Marmelo de 2014 a grande afluencia de moradores e fazendeiros de Luzi nia e em conversas que tive com alguns deles observei o sentimento de compadrio entre os Mesquitenses e os fazendeiros do entorno o sentimento de valoriza o
76. pela ansiedade com a situa o cr tica de quest es cujas respostas n o se encaixavam nesses saberes Uma dessas quest es era a press o fundi ria que a Comunidade come ou a sofrer a partir da constru o de Bras lia algumas reas desapropriadas eram terras quilombolas 159 Ainda segundo Tuan 1980 a familiaridade e a afei o protegem o ser humano das perplexidades do mundo exterior Assim o Quilombo Mesquita apresenta se como um lugar da mem ria e identidade H a manuten o da mem ria e sentimento de identidade cultural al m da busca pela valoriza o do ambiente pela conserva o das paisagens A preserva o das lembran as do passado est o contempladas na vida local do Quilombo Mesquita e nela os indiv duos se identificam com a hist ria local o cotidiano e as simbologias e suas institui es est o ligadas hist ria do lugar A comunidade n o separa da hist ria do Quilombo o estabelecimento de ensino Escola Aleixo Pereira Braga um dos quilombolas hist ricos de Mesquita as festas a associa ao a igreja e seus seguimentos Distingue se no Mesquita o velho e o novo diferenciando a desenvolvimento dolugar com o uso desses termos Considerando que o Quilombo Mesquita luta pela permanecia e manuten o das suas terras pude perceber que os espa os sociais est o diminuindo hoje se resumindo a igreja a associa o AREME ao grupo que organiza as festas e folias Estes grupos tem o sentimento de viv nc
77. pesquisa bibliogr fica mostrou que em Mesquita a produ o do Marmelo crescia substancialmente a fam lia e os casamentos tamb m A poca de Aleixo foi um marco de mudan as na produ o e na vida comunit ria E ap s o estabelecimento deste per odo de ascens o entre as d cadas de 1930 e 1940 que ocorre um dos eventos mais significativos nesta nova etapa da hist ria de Mesquita por motivos de conflitos internos e assimila o parcial de novos c digos houve a primeira divis o da terra entre dois troncos familiares de Mesquita Ant nio Grilo era da fam lia Pereira Braga e Modesto era da fam lia Teixeira S o dois troncos familiares descendentes das escravas herdeiras Os mais velhos n o sabem precisar o ano exato desta divis o Come ou por uma divis o que constru ram aqui neste terreno aqui J Ant nio Grilo e Modesto tudo parente A chamou a reparti o Eles andaram brigando por conta disso porque ficava tudo embolado a um tinha mais outro tinha menos Eles queriam mandar no deles Cada um queria a parte deles Na divis o que eles queria porque aqui era em comum ent o eles queria tirar a parte deles e cada um ter o seu n A tirou dividiu uns cens alqueires pra um uns cens alqueires para outro A parou a briga Acabou na divis o C P B RTDI 2011 Dividiu pra mode n o ter arengue O neg cio foi isso Porque um j fazia servi o derrubando madeira na porta do
78. pois esses acontecimentos de uma forma mais direta ou indiretamente tiveram alguma vincula o com a hist ria de Goi s e do povoado Mesquita O decl nio do ouro e a emerg ncia do s culo XIX foi logo seguido pelo estabelecimento da fam lia real no Brasil em 1808 culminando na inve o metropolitana e propiciando a abertura dos portos o que intensificou a comercializa o sobretudo na faixa litor nea Dissolvido o papel do Governador Geral com o estabelecimento da Coroa na col nia todas as terras eram de propriedade do rei que podia do las conforme interesse pr prio Por m em contraposi o neste per odo se prolifera a apropria o da terra atrav s da posse n o s em Goi s como em toda a col nia indiv duos e comunidades instalavam se em terras menores que as conhecidas sesmarias com a finalidade de garantir sua subsist ncia Nenhuma lei foi feita para regulamentar este tipo de situa o n o balizada no regime de doa o real Bertran 2000 Em 1822 proclamou se a Independ ncia do Brasil e estabeleceu se o Primeiro Reinado que durou at 1831 quando D Pedro I abdicou o trono De Capitania Prov ncia Goi s pouco se modificava No aspecto pol tico as transforma es foram pequenas Os presidentes nomeados pelo poder central sem v nculos com a terra ainda continuavam sendo de nacionalidade portuguesa Os goianos os identificavam como os detest veis Capit es Generais de um passado pr ximo que n o se apag
79. posicionamento para se lidar com o caso Por m a l gica tradicional e os mais velhos se impuseram com for a n o admitindo negocia o a import ncia desta terra o significado de sua perda e os impactos sofridos tornou esta por o territorial para comunidade imprescind vel do ponto de vista material e simb lico As lideran as de Mesquita atualmente conduzem o processo de reivindica o territorial com uma articula o interna comunidade definindo coletivamente a melhor estrat gia para aquisi o das terras pois acreditam sim que sua luta poss vel mas de imagin vel dificuldade Ponderam entre seus direitos e a viabilidade de conseguir titular seu territ rio Sabemos que se colocarmos tudo seria muito dif cil Esta terra que a gente pede o m nimo O que n o d pra abrir m o mesmo SPB 2 No relat rio do INCRA no territ rio demarcado que s uma parte da terra ancestral foram identificados mais de 500 ocupantes n o quilombolas esse fato traz grandes dificuldades no processo de regulariza o do quilombo Os membros da comunidade de Mesquita vivendo hoje entre o universo rural e urbano afirmam ser a rea solicitada a menor parte que podem aceitar e ser reivindicado de suas terras menos que isso n o aceitam 176 A Hist ria do Quilombo de Mesquita sofreu grande impacto com a constru o de um novo n cleo habitacional a Cidade Ocidental foi criada e localizada dentro do munic pio de Luzi ni
80. problema era que as transforma es acontecidas ao longo do tempo no grupo vem provocando mudan as no saber tradicional Partindo do princ pio de que desde a Constitui o de 1988 os remanescentes quilombolas sujeitos da pesquisa foram reconhecidos como popula es tradicionais e v m historicamente lutando pela preserva o de sua cultura e garantia de seus direitos buscou se compreender dentro de um territ rio espec fico no caso a comunidade Remanescente Quilombo Mesquita munic pio de Cidade Ocidental GO os modos de vida e express es culturais de seus moradores A pesquisa teve como como pontos centrais os processos usados por essa comunidade tradicional para a manuten o da sua identidade a transmiss o dos seus conhecimentos e tradi es e tamb m as a es em defesa do direito terra Especialmente a urg ncia da titula o do quilombo diante da intensa press o e grilagem de suas terras intensificado a partir da d cada de 1960 devido valoriza o das terras no entorno de Bras lia Assim ao idealizar a pesquisa alguns quest es nos mobilizaram sendo que a quest o central que orientou a investiga o indagava sobre que pr ticas ligadas ao meio ambiente e a educa o ambiental s o utilizadas no Quilombo Mesquita e que contribui es os saberes tradicionais desta comunidade trazem para a educa o ambiental A pesquisa de campo demonstrou que os espa os coletivos da Comunidade do Quilom
81. processo de investiga o analisei o Quilombo Mesquita com esse olhar de Educadora Ambiental busquei interligar as dimens es sociais pol ticas e naturais O quilombo lida h anos com invas es tanto de fazendeiros quanto de loteamentos e condom nios que acarretaram perda de territ rio desmatamento polui o dos c rregos e riachos perda cultural O riacho que d nome ao quilombo n o serve mais para o abastecimento dom stico devido ao assoreamento e extrema polui o causados pelas v rias a es no seu leito Junto com essa destrui o ambiental existe tamb m a falta de pol ticas p blicas para melhorar a qualidade de vida na comunidade A desigualdade ambiental uma das express es da desigualdade social que marca a hist ria do nosso pa s Acselrad 2005 p 43 Os princ pios da Confer ncia Intergovernamental sobre Educa o Ambiental realizada em Tsibilisi EUA em 1977 ajudou a referendar A necessidade de um olhar moldado por uma nova consci ncia sobre o valor da natureza que reoriente a produ o de conhecimento baseada na interdisciplinaridade e na complexidade a constru o desse di logo de saberes historicamente vivenciada internamente pela Comunidade Remanescente de Quilombo Mesquita se abre aberta importantes de Educa o Ambiental A tradi o no Quilombo Mesquita tem tido um papel importante para os moradores da comunidade e tamb m na comportamento delas com rela o ao Cerrado circundante j
82. que a tradi o mant m essa popula o no seu territ rio atrav s do conhecimento repassado sobre o meio ambiente e seus recursos bem como o modo de tratar com eles 266 A finalidade dessa pesquisa n o era simplesmente analisar esta Comunidade mas valorizar os saberes dos moradores locais como uma maneira para a conserva o dos recursos naturais ali existentes o desafio proposto nessa pesquisa em Educa o o di logo com seus saberes dando visibilidade a este grupo reconhecendo suas especificidades baseadas na educa o e no respeito rec proco s diferen as Os mitos e os costumes observados no Quilombo Mesquita s o b sicos para a riqueza da diversidade e tamb m abre um caminho para a descoberta de novos estudos que possam formar uma base documenral para o grupo A Educa o Ambiental busca dialogar com estes mitos e os costumes saberes produzido um di logo de saberes todos aprendemos e humanamente crescemos como seres respeitadores da diversidade e de todas as formas de vida existe no meio ambiente Assim o foco sobre os saberes tradicionais no uso dos recursos naturais desta comunidade buscou identificar as maneiras usadas cotidianamente por eles enquanto grupo tnico e apontou que essas formas de uso da natureza s o recursos para uma Educa o Ambiental A forma de uso e conserva o dos recursos naturais sociais e das tradi es na comunidade do Quilombo Mesquita est ligada Educa o Am
83. que ainda resta de cobertura de Cerrado no Quilombo Mesquita De fato o cerrado e a comunidade do Povoado consequentemente sofrem os impactos da extra o de madeira da press o fundi ria dos casos de inc ndios isolando esses remanescentes de outros de Cerrado que s o na maioria das vezes ambientes muito alterados e pouco representativos do bioma original O Cerrado um dos biomas com maior biodiversidade do planeta Borges 2009 afirma que ele ostenta um elevado n vel de endemismo para plantas sendo que 4 400 esp cies das 10 000 conhecidas s o end micas representando 1 5 da flora de todo planeta A autora ainda enfatiza as 1 268 esp cies das animais 1177 s o end micas Por m Machado et al 2004 afirmam que a situa o do Cerrado cr tica e que se com essa forma de ocupa o ele poder ser totalmente destru do at 2030 5 3 3 reas de Lazer nos Ribeir es A mercantiliza o das reas de lazer como ribeiroes e c rregos no quilombo mais um fator de altera o das praticas dos moradores demonstrando assim a inser o de uma l gica 248 com rcial privada para os recursos ambientais Isso cria tamb m diversas formas de acessibilidade para os de fora que resultam na transforma o paisag stica dos ribeiroes e c rregos do Quilombo ao mesmo tempo d outros sentidos de uso para eles nesse caso n o serve apenas como espa o de lazer mas tamb m como espa o econ mico Os balne ri
84. que fazem dos recursos naturais Estas comunidades conseguem na natureza uma variedade desses recursos que vai desde seres vivos at coisas inertes que s o usados como alimentos como rem dios e como mat ria prima essencial para sua vida naquele lugar No Quilombo Mesquita hoje confeccionam artesanalmente farinha de mandioca rapadura pinga de alambique marmelada doce de goiaba artesanato com madeira produtos de hortas pequenas cria es de animais Utilizam se da mat ria prima que encontram dentro da pr pria comunidade e nas proximidades A agricultura de subsist ncia acontece em pequenas reas totalmente de forma artesanal na maioria das vezes o manejo e preparo da terra feito por toda fam lia utilizando instrumentos simples como enxada foice machado entre outros bastante rudimentares mas que atendem as necessidades Do cerrado usam o Pequi fruto do pequizeiro Caryocar brasiliense rvore t pica do cerrado brasileiro com um alto grau de aproveitamento pelos seus frutos o chamado pequi que em l ngua ind gena significa casca espinhenta muito usado na culin ria goiana o famoso arroz com pequi licor de pequi conserva de pequi com pimenta castanha de pequi a goiaba Psidium guajava as mangas Mangifera indica e muitos outros frutos largamente utilizados na confec o de doces caseiros Mas esses saberes ser o devidamente explorados em outro cap tulo desse trabalho 3 1 PROCEDIMENTOS METODOL GIC
85. que o pesquisador faz em termos de espa o pois no campo de pesquisa que se encontram as manifesta es intersubjetivas e intera es entre o pesquisador e os sujeitos estudados A autora frisa que cada vez que o cientista social retorna s fontes vivas de seu saber quilo que nele opera como meio de compreender as forma es culturais mais afastadas de si faz filosofia espontaneamente L vi Strauss 1975 p 222 apud Minayo 2004 p 106 Estive diversas vezes no Quilombo Mesquita em pesquisa para an lises socioambientais sobre a Bacia do Rio S o Bartolomeu onde coordenei a equipe que fez as inser es junto s comunidades ribeirinhas Durante seis meses um grupo multidisciplinar de profissionais elaborou um detalhado diagn stico sobre a regi o da Bacia do Rio S o Bartolomeu Foram avaliados aspectos ambientais hist ricos culturais tur sticos econ micos e sociais e a partir desse resultado chegou se s fragilidades e potencialidades dessa regi o O Diagn stico Socioecon mico e Ambiental da Bacia do Rio S o Bartolomeu foi publicado em dezembro de 2008 135 Figura 15 Festa do Marmelo Momento de socializa o Foto Antonia Samir O Diagn stico revelou um territ rio marcado por profundas transforma es em seu ambiente natural influenciadas por diferentes aspectos todos relacionados aos variados modelos de desenvolvimento adotados no pa s ao longo de sua exist ncia mas nada comparado velocidade d
86. que se encontra em toda parte e cuja fun o a de exprimir uma experi ncia total do mundo que transborda os limites do pensamento racional Sua linguagem o s mbolo e sua origem a imagina o Afirma ainda Catal o 2011 que a fun o simb lica ainda que ancorada na realidade material permite dar um sentido ao que n o est imediatamente presente Atrav s dos mitos cita Mircea Eliade 1999 que diz que as comunidades contam sua verdadeira hist ria recuperando pela repeti o da narrativa o sentido dado desde a primeira ocorr ncia de um fato O mito conta uma hist ria sagrada relata um evento acontecido em um tempo primordial o tempo fabuloso das origens assim gra as fa anha de seres sobrenaturais uma realidade ganha exist ncia O mito sempre uma narrativa da cria o Entre o c u e a terra entre o s lido e o et reo encontra se a gua assim como entre a mat ria e o esp rito encontra se o mito Entre dois mundos situa se a terra encantada dos mitos diz Joseph Campbell 2005 Nessa conflu ncia dos espa os interior e exterior s o engendrados os s mbolos na cavidade uterina da morada da alma como percebia Novalis Os mitos revelam que as leis que regulam o espa o exterior est o inscritas dentro de n s Os ciclos das esta es tamb m regulam nosso corpo mesmo quando pretendemos desconhec los Como percebia Teilhard de Chardin em sua obra O fen meno humano nossos olhos s o com
87. que se vive expondo a identidade de um povo Essa Educa o Ambiental informal mostra que resgatar tradi es e fortalecer a cultura pode auxiliar com reflex es que leve esta comunidade a problematizar sua pr pria experi ncia suas pr ticas culturais sociais e ambientais unindo os com o debate de direito ao territ rio historicamente ocupado Este esfor o de agregar o novo para preservar o tradicional no Quilombo Mesquita busca o di logo entre diferentes Di logo entre o moderno e o tradicional di logo entre os diferentes atores e sujeitos desta quest o e di logo entre as diferentes reas de conhecimento e atua o humanas 265 A educa o ambiental n o se refere exclusivamente s rela es vistas como naturais ou ecol gicas como se as sociais fossem a nega o direta destas recaindo no dualismo mas sim a todas as rela es que nos situam no planeta e que se d em sociedade dimens o inerente nossa condi o como esp cie Loureiro 2004 779 Mesmo assim no Quilombo Mesquita resistindo a tudo aprenderam com as hist rias dos seus pais que compartilharam seus valores suas cren as costumes e mitos a religiosidade a cultura e procuram nos dias atuais repassar para os seus filhos netos bisnetos preservando e cultuando assim as tradi es que ainda resistem dos seus antepassados Mesmo sofrendo forte press o fundi ria e cultural a oralidade ainda valorizada pelos seus membros Durante o
88. rea duas vezes e meia a atual rea do Distrito Federal Aos capit es mores das conquistas feitas aos ndios os governadores recompensavam com sesmarias enormes aos custos das expedi es de desinfeta o que n o eram de pouca monta Bertran 2000 p 89 Toda a administra o da regi o era submetida capitania de S o Paulo Em 1744 foi criada a capitania Geral de Goi s mas sua administra o de fato ainda fora submetida S o Paulo at 1749 Quando D Luiz de Mascarenhas ficou oito anos no governo 1739 1748 Bertran 2000 88 que doou imensas por es de terra que extrapolavam os ditames legais e pouco valor era dado terra nua devida a estas condi es Pode ser por vias transversas que nesta poca os pagamentos dos d zimos acabasse constituindo se como suced neo do requerimento de sesmaria Algo do g nero quem paga imposto ao governo dono pois o Estado n o refuga seu contributo e portanto aceita implicitamente a propriedade da terra que gerou o imposto Isso explicaria com certa facilidade a interrup o em Goi s do Sistema Sesmarial nos longos dos anos que v o de 1780 a 1822 at a Lei de Terras de 1850 A escritura da propriedade passou a ser o recibo do imposto do d zimo At hoje em remotos rinc es do Planalto amarrotados recibos de impostos do INCRA s o orgulhosamente apresentados como provas de propriedade do solo Bertran 2000 190 O autor se refere ainda n o coer ncia no tamanh
89. reas intenso uso de insumos qu micos e ou maquinas de irriga o e tratores de ltimo tipo como a Divitex Pericum Empreendimentos Imobili rios Taquari Empreendimentos e outras grandes propriedades a maioria em reas sobrepostas ao terreno dos quilombolas 260 Figura 39 DEsvio do C rrego Mesquita feito por n o quilombola prejudicando os moradores a jusante Fonte RTDI 2011 Entre os moradores n o quilombolas alguns fazem a cria o de cavalos da ra a Crioulo e Manga Larga e acontece tamb m em algumas dessas grandes propriedades reas que s o usadas para cria o de peixes com tanques de til pia piracutinga tambaqui e surubim isso tudo usando os recursos da rea sem apresentarem licen a ambiental para essas atividades de acordo com a legisla o ambiental vigente Com o descaso do poder p blico essa popula o n o quilombola na rea de reivindica o dos descendentes quilombolas j est o h um certo tempo no local alguns h mais tempo que outros Os quilombolas contam que a presen a de alguns propriet rios causa um impacto negativo na qualidade de vida do grupo entre as principais quest es est a da gua O uso intenso por parte dos n o quilombolas e a perfura o indiscriminada de po os artesianos traz escassez de gua dificultando o acesso da popula o tradicional ao recurso antes abundante A legisla o diz que na incerteza dos impactos ambientais gerados pela perfura o de po o
90. reivindicado avaliado como a menor parcela digna sobreviv ncia manuten o da mem ria assegurando o car ter cosmol gico e as manifesta es culturais pr prias e manuten o da identidade em Mesquita contestado a reprodu o f sica e cultural em Mesquita s no espa o que ocupam hoje com suas moradias e onde precariamente eles desenvolvem suas atividades culturais e de cultivo 222 Figura 23 Antiga Igrejinha Nossa Senhora D Abadia Foto Antonia Samir As festas se iniciam em Janeiro com a tradicional Festa do Marmelo festa que se iniciou em 2002 para trazer visitantes para o Povoado e tamb m para celebrar o doce caracter stico da regi o o evento realizado no espa o da Igreja onde ap s uma missa acontece o almo o e um tradicional leil o de prendas doadas pelos moradores e fazendeiros vizinhos A festa do marmelo um momento onde os antigos moradores de Luziania moradores de cidade ocidental e outras cidades da regi o e os moradores do Mesquita se encontram observei em conversas com os grupos que existe um profundo conhecimento entre os grupos que na verdade formado por fazendeiros e seus filhos das propriedades das reas circundantes ao Quilombo como eles se referiam Nois se conhece desde moleque A festa termina com uma cavalgada pela manh e noite um baile com a escolha da rainha do marmelo 223 Figura 24 Participante Quilombola da Folia de Reis Foto Daiane Souza Flickr 2
91. reportagem que n o se tratava de um ataque apenas imagem da l der quilombola mas ao grupo tnico ao qual ela pertence A titula o requerida e pr xima do Quilombo pelo INCRA levou os interessados nas terras do Quilombo a usar de um ve culo de comunica o para manipular a opini o p blica O grupo resiste nessa rea cobi ada h cinco gera es e aguardam a indeniza o j estipulada pela Justi a referente s terras invadidas pelo Distrito Federal quando da constru o da cidade Sat lite de Santa Maria de direito dos herdeiros quilombolas e n o apenas da l der da Associa o Sabemos que se colocarmos tudo seria muito dif cil Esta terra que a gente pede o m nimo O que n o d pra abrir m o mesmo S P B Os ruralistas instalados no territ rio do Quilombo Mesquita fazem amea as a essa popula o fazem manipula es e se aproveitando da simplicidade das fam lias e de um n o quilombola interessado nas terras usa alguns moradores dissidentes e tentam desmobilizar e instigar o medo sobre o processo de titula o afirmando que com as escrituras das terras elas ser o perdidas definitivamente por que passar a 154 ser de ningu m por ser terra comunal al m de enviarem cartas s fam lias e at fazerem uso de amea as de morte com o uso de armas de fogo aos moradores da comunidade que lutam pela titula o do territ rio Outro fato que corrobora para a afirma o de haver injusti
92. se os anos de carestia como aquele em que eu viajava esses g neros n o poderiam encontrar compradores Saint Hilaire 1819 Foi com a transi o do sistema econ mico centrado na minera o para o da agropecu ria como ocorreu em Santa Luzia que vieram as mudan as em v rias inst ncias por exemplo parte da popula o migrou para outras regi es muitos foram para o arraial de Couros inclusive o antigo propriet rio da Fazenda Mesquita que mudou para o Arraial de Meya Ponte assim as minas foram sendo deixadas de lado e surgiram as fazendas com outras l gicas sociais e econ micas ou seja implantou se outro modo de produ o Se nas minas a explora o do ouro pontual territorialmente na produ o agropecu ria o montante de terras utilizadas enorme A devasta o do cerrado tornou se comum a partir por exemplo da forma o de pastos Bertran 2000 A origem hist rica do Quilombo se reporta a essa poca e narra que todos os moradores s o descendentes de tr s escravas as tr s senhoras trabalhavam para o Sargento mor portugu s Jos Correia de Mesquita e habitavam a fazenda Mesquita durante o ciclo do ouro com o exaurimento do ouro nas minas do sert o dos Goyases o fazendeiro abandonou sua propriedade no caso da Fazenda Mesquita conta se que com a partida do propriet rio ela foi doada as tr s escravas que ali trabalharam Oliveira 2012 faz referencia ao fato frisando que o n mero de matriarcas fundadoras
93. ser o convidados a contar hist rias sobre distintos assuntos do passado na sua vida os menores ficar o ouvindo ap s isso ir o receber material de desenho e escrita para recontar o que ouviram Os jovens reunidos ir o selecionar algumas hist rias de vida para encenarem Todo o processo ser gravado e filmado Antonia Samir Ribeiro 289 OBS Sujeito a altera o no conte do e nas datas 290
94. seu ligar mudou Me conta como foi essa mudan a 11 Me fala tr s ensinamentos que voc lembra que seus pais lhe passaram sobre cuidar do Cerrado para preserva lo 12 Voc ensina essas coisas que voc aprendeu para os mais novos Como voc faz isso 13 Voc acredita que hoje est o cuidando desse Cerrado como no seu tempo de jovem Por que voc acha isso 14 Me fala sobre os animais que existiam aqui Por que eles sumiram Eles eram usados para que 15 Quais os animais que voc ainda v por aqui Por que esses animais ainda est o aqui 284 16 Voc usava mato do cerrado para fazer os banhos de ervas rem dio unguento benzer menino Me conta que mato era esse Ainda tem muito dele por aqui 17 Ouvi dizer que existia aqui assombra o de um morador antigo que morreu Voc conhece essa hist ria Me conta por favor 18 Me contaram de outras hist rias de entidades espirituais me conta A senhora j viu alguma coisa Sabe de quem viu Me conta 19 A V Antonia olhava para o c u e sabia se ia chover ou se n o naquela semana Como isso Voc sabe compreender as fei es da natureza Como acontece isso Me explica por favor 20 O senhor muito procurado para dar parpite nos assuntos dos mais novos Por que o senhor acha que isso acontece Em conversa informal fiquei sabendo sobre conselhos dos mais velhos muitos procuram esses senhores para pedir parpite 21 Me conte um pouquinho s
95. sua autonomia econ mica e social O uso da terra e dos recursos ambientais existentes na comunidade do Quilombo refletem essas rela es de parentesco e sociais fundadas ao longo do tempo Assim sendo o territ rio est imbricado com a organiza o social de Mesquita os tra os diacr ticos eleitos pela comunidade s o as rela es de parentesco a fabrica o da Marmelada de Santa Luzia e as festas de Nossa Senhora D Abadia e do Divino Esp rito Santo e a Festa do Marmelo de acordo Em Mesquita segundo Oliveira 2013 as fam lias 69 originarias do Quilombo Pereira Braga Lisboa da Costa e Teixeira Magalh es coincide com o n mero das escravas fundadoras da comunidade 1 4 Historicidade Negra no Quilombo Mesquita O Ato Fundante da Vida Local O evento fundador o que importa para a constitui o da identidade do grupo Mesquita nasce em Mesquita RTDI Seu mito de origem pode ser considerado o real origin rio sem qualquer nus para sua afirma o tnica mesmo que se busque um rompimento com o s mbolo do cativeiro da escravid o A partir da doa o da terra a tr s ex escravas surge todo o grupo Embora as fontes documentais a respeito sejam escassas n o o mais importante para este trabalho acad mico colocar em quest o tal fato posto que apesar do conhecimento sobre o contexto de seu nascimento e a prov vel variedade das quest es que a originam esta a mem ria que organiza a comunidade hoje Em
96. subsist ncia local com diferentes segmentos sociais dos coron is aos posseiros para os quais h pouco eram ilegais Muitos quilombos se ainda ocupam suas terras ou parte delas foi devido resist ncia s v rias formas de viol ncia por meio destas rela es estabelecidas Analisando melhor as quest es relacionadas agropecu ria do s culo XIX o que se percebe uma lenta transforma o nas rela es de trabalho e produ o Mesmo coexistindo a escravid o o tipo de trabalho tendeu a sofrer modifica es com a expans o da cria o de gado por todo o territ rio goiano em extensas fazendas Estas se tomaram espa os de sociabilidade e agrega o humana O crescimento foi lento e ocorreu pela forma extensiva de ocupa o territorial por que passou a popula o goiana no processo de adapta o economia de subsist ncia ou de abastan a no Centro Oeste como j havia descrito Palacin e Bertran Souza Filho 2002 30 31 Esta transforma o da for a de trabalho tamb m exigia certo equil brio na manuten o da ordem Embora a rela o de poder sempre fosse assim trica existia uma co depend ncia dos estratos sociais que por si exigia tratos mais amenos com o trabalhador O fazendeiro mesmo imbu do de um poderio reinante era consciente de que estaria sozinho sem o contingente negro Coisa que eles os escravos mais antigos de Mesquita ajudava l pro fazendeiro l sem ganhar nada em troca eles ia l
97. tempo dos her is fundadores o tempo do Aleixo e o tempo atual s o relegadas como coadjuvantes habitando um limbo estrutural E interessante ressaltar outro aspecto da mem ria coletiva dos mesquitenses nos relatos dos mais antigos a poca da escravid o omitida ou vagamente citada sabem que s o descendentes de escravos ou ex escravos por m tratam do assunto de forma velada Nesta constru o da mem ria ocorre o mesmo mecanismo seletivo inerente mem ria geneal gica ou do parentesco ou seja converte se ou reconstr i se o passado nos termos dos valores e necessidades ideol gicas do presente O que se tem como passado deve ser apresentado em p blico de forma adequada se algo n o interessa ser lembrado deve permanecer oculto no passado O per odo da escravid o remete a uma poca de total sujei o e depend ncia dos contingentes negros e por consegii ncia dos antepassados da comunidade de Mesquita e dessa forma e de acordo com os princ pios ideol gicos dos mesquitenses que obviamente n o valorizam tal tipo de situa o colonial n o representa uma poca confort vel de ser lembrada Assim o discurso dos anci os valoriza e real a a liberdade e autonomia do povoado de Mesquita em oposi o ao subjugo do per odo escravocrata Em oposi o ao esquecimento da poca da escravid o os mesquitenses exibem com orgulho seus s mbolos de nobreza tais como fotos com personagens importantes na pol tica local
98. timos ou porque voltaram a migrar passada a febre aur fera dos primeiros anos o caso do sargento mor Jos Correa de Mesquita que deixou seu nome ao ribeir o fazenda e ao arraial do Mesquita que encontraremos posteriormente em Piren polis BERTRAN 1998 Em outro momento j no Anexo ao Cap tulo XIV Extrato das Sesmarias de Piren polis Jaragu e Corumb de Goi s com requerimentos existentes no AHEG Arquivo Hist rico do Estado de Goi s Bertran aponta que o fazendeiro Jos Correa de Mesquita requereu uma sesmaria na pr spera Meya Ponte 1779 Ant nio Pereyra da Cunha no ribeir o padre Souza confrontando com Jo o Rodrigues Santiago Nascente Izidoro Rodrigues Poente Ant nio Leite Sul com a serra Norte Meia l gua de terras 1779 Francisco Soares de Abreu crioulo forro morador no distrito de Meia Ponte para sustenta o de seu pai que se acha cego de sua m e e irm os um s tio no c rrego do Mato Grosso onde confronta pelo Sul com Ign cio Jos pelo Norte com Jos Pires e com o tenente Roque da Silva lvares do Oeste com a tapera do defunto Ant nio Rodrigues Frota Meia l gua de terras 66 Sesmarias citadas no ndice Geral de 1913 IG cuja documenta o est hoje desaparecida 1750 Sargento mor Jos Correia de Mesquita sesmaria no Distrito de Meia Ponte em especifica o de situa o 3 l guas em quadra 1751 Sargento mor Ant ni
99. tradicional da divis o social do trabalho Come ou a ser fregiiente a ocorr ncia de casamentos exog micos com pessoas brancas que chegaram para a constru o de Bras lia Esta realidade vai se complicando ao longo dos anos As novas gera es de Mesquita j nascem neste novo contexto h brido entre modelo tradicional e l gica capitalista A migra o pendular ocorre diariamente com os Mesquitenses se deslocando como a maioria dos trabalhadores urbanos para seus locais de trabalho em Bras lia visto que a ocupa o de suas terras por loteamentos lhes restringiu a possibilidade de viverem da agricultura As reas adquiridas pelos de fora em alguns anos foram revendidas e novas implica es se estabeleceram A terra de Mesquita se em um primeiro momento pass vel de trocas por servi os posteriormente representar um investimento para o capital especulativo A pessoalidade de quem antes ocupava as reas trocadas se perder nos agenciamentos de revendas A impessoalidade dos novos ocupantes totalmente desconhecidos para a comunidade gerou o descontrole do raio de atua o destes atores Novos propriet rios passam a impactar diretamente as reas ainda sobre o dom nio do povoado Disponibilidade de gua acesso a lugares antes visitados terras de cemit rios Elementos territoriais da mais alta signific ncia para a coes o social se perderam em um processo iniciado na d cada de 1950 com impactos at a atuali
100. um contexto de abandono da Fazenda Mesquita que resultou na doa o de terras s senhoras por seu propriet rio abrigar a partir de ent o uma comunidade negra rural que assimila seu nome e que a origem de um enraizamento ao lugar e a g nese de um grupo no interior do qual se constr i uma mem ria e tradi o que se comunicam e comunicam aos indiv duos de cada gera o a pr pria hist ria formando o povoado de Mesquita objeto de estudo desta tese O estudo afirma ainda que com a emigra o de senhores brancos que constitu a uma minoria populacional os negros tendiam a ocupar a terra e desenvolver sua liberdade e sua cultura pr pria A escravid o em si passou a ser economicamente impratic vel ap s a decad ncia da minera o em Santa Luzia Assim ao mesmo tempo em que ocorria o processo de ruraliza o em Goi s o contigente de escravos diminu am substancialmente Por isto no relato do morador mais idoso do Quilombo expressado eles foram libertados Alforrias emancipa es abandonos mortes fugas etc A manuten o e o trato exigia gastos incompat veis com a realidade local Palac n 2001 A liberta o dos escravos em Goi s ocorreu mais por interesse particular daqueles senhores que n o conseguiram sustentar a m o de obra escrava na sua propriedade sendo a decad ncia econ mica maior motivo para as cartas de alforrias Da a Prov ncia de Goi s ter passado por uma crescente diminui o do 70
101. vida ainda encontrado no Povoado apesar da j falada press o urbana sobre as terras rurais da comunidade ali ainda convivem com o misticismo e com o imagin rio presentes nos saberes e nos processos de socializa o do grupo Esses sistemas tradicionais de manejo n o s o somente formas de explora o econ mica dos recursos naturais mas revelam a exist ncia de um complexo conhecimento adquirido pela tradi o herdada 196 dos mais velhos de mitos e s mbolos que levam manuten o e ao uso sustentado dos ecossistemas naturais Diegues 1996 Para os quilombolas este trabalho acad mico tem v nculo e se relaciona com o processo da luta pelos direitos territoriais e a prote o do Quilombo frente amea a da press o fundi ria sobre o territ rio tradicionalmente ocupado por eles Conhecer e divulgar os saberes do Povoado sinaliza caminhos para dar suporte a esta luta Como o objetivo desta pesquisa dialogar e reconhecer a legitimidade dos saberes desse grupo social e analisar as rela es dial gicas entre os saberes tradicionais e os processos de educa o ambiental no Quilombo esse cap tulo pretende reportar algumas das ideias percep es e sentimentos que fazem parte desses di logos e em seguida aborda o saber local como um processo de investiga o e recria o e as contextualiza es em torno do conhecimento natural como agente de preserva o O conhecimento tradicional das popula es sobr
102. 012 A folia de Nossa Senhora D Abadia ocorre no m s de agosto mais precisamente entre os dias 6 e 15 que o dia de Nossa Senhora D Abadia em Goi s e Minas Gerais A folia consiste em fazer um percurso entremeado por pousos em resid ncias que podem ser de quilombolas como de n o quilombolas fazendeiros inclusive para agradecer e louvar a padroeira do povoado O contexto das festas no Quilombo nos revelou uma comunidade que realiza um movimento consciente e planejado de conserva o das tradi es como importante heran a sendo que alguns festas s o reconhecidas em outras regi es como patrim nio imaterial A festa do Marmelo realizada anualmente no Quilombo al m de um momento de confraterniza o comunit ria promove tamb m a educa o ambiental quando defende a preserva o das reas dos Marmelais e a manuten o cultural e forma o identit ria para valoriza o da tradi o 224 Ainda cabe dizer que o sentido de fam lia chama grande aten o na comunidade os familiares mant m um pacto de solidariedade no qual auxiliam uns aos outros nas diversas fun es comunit rias As festas em S o Pedro por exemplo s o famosas pelos utir es nos quais os homens constroem a estrutura para os eventos e as mulheres se responsabilizam pela comida O Relat rio do INCRA relata que a festa acontece com os foli es sendo conduzidos por um guia que atrav s de versos faz as sauda es ao morador do pouso tamb m ch
103. 1 apud Anjos afirma que o silenciamento atravessou o oceano os negros e negras que chegaram ao Brasil mergulhados no territ rio da n o exist ncia continuaram invisibilizados e mesmo em termos estat sticos era dif cil identificar quem e quantos eram A autora afirma ainda que assim como houve o esfor o por apagar a hist ria dos africanos no seu continente de origem tamb m no chamado Novo Mundo perdeu se em grande parte o fio condutor capaz de levar proveni ncia dos v rios povos arrastados pela escravid o Constituem o territ rio brasileiro seres humanos do tipo minas congos angolas anjicos lundas quetos hauss s fulas ijex s jalofos mandingas anag s fons pardas entre muitos outros e outras que deram origem aos afro brasileiros brasileiros de matriz africana ou popula o de ascend ncia africana Estas denomina es escondem a riqueza tipol gica ainda n o devidamente estudada nem quantificada Anjos e Cypriano 2006 37 guas 2011 cita que os escravizados foram comercializadas como pe as e estiveram inteiramente margem do contrato social sem qualquer direito e submetidas s vontades dos seus donos Silva 1998 aborda as duas vers es para explicar a proced ncia hist rica do escravo negro para o Brasil Central uma delas afirma que vieram sob guarda ou fortemente vigiados e feitorizados ele explica tamb m que o refluxo do n mero de escravos em algumas pocas aconteceu com a o
104. 1 A JUSTI A AMBIENTAL NO QUILOMBO MESQUITA A quest o ambiental e aqui estou me referindo Justi a Ambiental tem um v nculo profundo com os movimentos sociais e em especial com a popula o negra remanescente de Quilombos que podem ser identificados como na busca por Justi a Ambiental quando reivindica garantias para a regulariza o da posse da terra A educa o ambiental no ponto de vista desse trabalho se prop e ao di logo de saberes da territorialidade da Comunidade Quilombola de Mesquita e a abordar alguns aspectos relevantes quanto resist ncia quilombola e justi a ambiental O conceito de justi a ambiental torna se fundamental para se trabalhar com quilombolas j que a luta pela posse da terra e tamb m os impactos ambientais ir o atingir de forma mais acentuada os menos favorecidos economicamente Assim refor a se o conceito de justi a ambiental E o caso do Povoado do Quilombo Mesquita objeto deste estudo o conceito de Justi a Ambiental prop e a articula o das popula es vulner veis s mazelas da globaliza o que favorece a especula o fundi ria inclusive em Terras de Comunidades Tradicionais O desprezo pelo espa o comum e pelo meio ambiente se confunde com o desprezo pelas pessoas e comunidades Os vazamentos e acidentes na industria petrol fera e qu mica a morte de rios lagos e ba as as doen as e mortes causadas pelo uso de agrot xicos e outros poluentes a expuls o da
105. 14 a grande aflu ncia de moradores e fazendeiros de Luzi nia e em conversas que tive com alguns deles observei o sentimento de compadrio entre os Mesquitenses e os fazendeiros do entorno o sentimento de valoriza o do grupo rtnico e do lugar que fez parte dos seus passeios de inf ncia e ouvi diversas vezes a frase Conhe o desde menino ou me conhece desde eu menino Tamb m observei em uma conversa a preocupa o com a destina o e titula o das terras para os Quilombolas do Mesquita A comida um identificador de quem somos das nossas origens e o que representamos As maneiras dos grupos se alimentarem e as mem rias comuns em torno da comida refor am as rela es de identidade Desse modo a mem ria ligada s impress es corporais evocando percep es f sicas trazem o sentimento de perten a sentir o cheiro da marmelada me faz lembrar da minha hist ria da minha comunidade do meu grupo Os h bitos de uma regi o s o a melhor via para se conhecer a heran a hist rico cultural de um povo A marmelada e o seu ritual de preparo possuem grande relev ncia social uma vez que est o vinculados forma o social e hist rica do Quilombo Mesquita trazendo mem rias de pertencimento aconchego e especialmente a mem ria das origens Apesar da rusticidade de seu preparo um doce que expressa um conjunto de pr ticas e de rela es hist rico sociais assim como saberes coletivos necess rios de
106. 67 foi inaugurada a Igreja Matriz nem homens pardos nem os negros podiam freq ent la mesmo com os registros de batismos dos africanos trazidos como m o de obra escrava os propriet rios batizavam os escravos para cumprir um dever divino n o por que o batismo fazia ele ver o escravo de forma diferenciada Em 1769 iniciou se a constru o da Igreja do Ros rio iniciativa da comunidade de pardos e negros que n o podiam frequentar a Igreja Matriz O vig rio e os homens da sociedade aprovaram a id ia dos pretos era uma ideia que manifestava o esp rito religioso de uma ra a t o degradada mas na verdade diminuiria a possibilidade de uma insurrei o que podia acontecer a qualquer momento com grande perigo para aqueles que estavam sempre em minoria determinou se que se promovesse imediatamente a licen a necess ria ao poder competente Alvares 1979 81 O maior n mero de negros que Santa Luzia tinha eram mais de quarenta oficiais e milhares de pretos pardos forros e escravos isso levava a uma rela o de precau o com batizados e tratamento mais af veis no trato com escravos apadrinhamentos trocas materiais permiss o de produ o para subsist ncia entre outras descreviam um quadro de um certo equil brio Assim em 1763 Promoveu se o grande trabalho do censo geral o qual demonstrou que o distrito continha uma popula o de dezesseis mil quinhentas e vinte e nove pessoas sendo doze mil novec
107. 8 2 A t cnica Fly on the Wall consiste no pesquisador agir como se fosse uma mosca na parede ele apenas observa e registra o comportamento do usu rio na execu o da atividade sem interferir em suas a es 143 conhecimento acontece de modo interativo a pesquisa um processo de comunica o um processo dial gico Gonz lez Rey 2005 p 13 e a conversa o com os sujeitos de pesquisa acontece em uma din mica coloquial que n o estabelece perguntas a priori pois importante seu envolvimento em um sistema conversacional que lhe permita sua express o o famoso deixar o papo rolar A pessoa envolve se em um processo de di logo por sentir se implicada no processo da pesquisa atrav s da produ o de diferentes sentidos subjetivos que se constitu ram na rela o com o pesquisador e seu tema A comunica o onde se constr i conhecimento a pessoa se expressa se envolve na pesquisa permitindo a revela o de diversos processos de sentido subjetivo que caracterizam a express o desse sujeito claro que esses sentidos subjetivos implicados na produ o da pessoa n o ser o de todo revelados mas que eles ir o entrar por vias indiretas durante o processo dial gico Gonz lez Rey 2005 p 13 Usando como fonte diversas bibliografias relativas forma o socioecon mica e hist rica da regi o Estado de Goi s munic pio de Luzi nia Bras lia Distrito Federal e munic pio de Cidade Ocidental especi
108. 9 Hist ria de Santa Luzia Atas do Simp sio Sobre Pol tica do Meio Ambiente e Patrim nio Cultural 1996 UCG Goi nia ALVES Miriam Estrelas no Dedo S o Paulo S ed 1985 269 ALVES MAZZOTTI A J GEWANDSZNAJDER F O m todo nas ci ncias naturais e sociais pesquisa quantitativa e qualitativa 2 ed S o Paulo 2001 AMORIM A Educa o In FERRARO Jr Luiz Antonio organizador Encontros e caminhos forma o de educadoras es ambientais e coletivos educadores Bras lia MMA Diretoria de duca o Ambiental 2005 p 143 147 AMOROZO M C M A abordagem etnobot nica na Pesquisa de Plantas medicinais Em Di Stasi LC Org Plantas medicinais arte e ci ncia um guia de estudo interdisciplinar EDUSP S o Paulo 1996 Anjos Jose Carlos Gomes dos 2006 No territorio da linha cruzada a cosmopol tica afro brasileira Porto Alegre Editora da UFRGS Funda o Cultural Palmares ANJOS Rafael S A CYPRIANO Andr 2006 Quilombolas Tradi es e cultura da resist ncia S o Paulo Aori ANJOS Rafael Sanzio Ara jo dos O Brasil Africano Di spora Quilombos Territ rio Popula o Filme Document rio ISBN 978 85 87763 13 6 Projeto Geografia Afro Brasileira CIGA UNESCO Mpas Editora amp Consultoria UnB Petrobr s e Studio 57 Brasil 30 2011 ARENDT Hannah A condi o humana 10 ed Tradu o Roberto Raposo Rio de Janeiro Forense Universit ria 2003 352p ARRUTI Jos Maur
109. CNPJ 26 921 551 0002 62 por meio de contrato de concess o p blica O funcionamento foi autorizado pelo Projeto de Lei Municipal s n de 15 de fevereiro de 2008 e Licen as GCP n 331 2008 e n 490 2008 para receber e tratar res duos de outros munic pios e do Distrito Federal 156 max w 4 Doc xe CR Hoc e E EA EMOCE EATA ET EM E Novaguis D Mawel G D Manwel 2 4 Maxwell yy 800 Programas utilit PTY gt C f D wikimapiaorg E Aplicativos 7 Sites Sugeridos e wikimapia Figura 16 Localiza o de Aterro de res duos de sa de do DF rea Quilombola O lixo hospitalar levado para a Cidade Ocidental onde a Quebec tamb m a concession ria dos servi os de coleta e tratamento de lixo hospitalar A proximidade do aterro sanit rio do lixo hospitalar mais uma das agress es ambientais ao Cerrado no entorno do Quilombo Mesquita constatei que n o houve consulta p blica pr via instala o do aterro Essa a o de grande retorno econ mico para a empresa Quebec e para os Governos do Distrito Federal e a Prefeitura Municipal fere dois dos princ pios b sicos da categoria Justi a Ambiental a assegurar que nenhum grupo social seja ele tnico racial ou de classe suporte uma parcela desproporcional das consequ ncias ambientais negativas de opera es econ micas de decis es pol ticas e de programas federais estaduais locais assim como da aus ncia ou omiss o de tais pol ticas
110. Ed Educa o ambiental e sustentabilidade Barueri SP Manole 2005 878 p Cole o ambiental ISBN 85 204 2207 1 276 PIDNER Flora Di logos entre Ci ncia e Saberes Locais dificuldades e perspectivas Disserta o Mestrado em Geografia Programa de P s Gradua o em Geografia do Instituto de Geoci ncias Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 2010 PIMENTEL A 1994 Pela Vila de Santa Luzia ou fragmentos de um passado Luzi nia Gr fica e Editora Independ ncias PINTO J lio Pimentel Todos os passados criados pela mem ria In LEIBING Annette Org Devorando o tempo Brasil o pa s sem mem ria S o Paulo Mandarim 2001 p 293 300 POLLAK M Mem ria e identidade social In Estudos Hist ricos S o Paulo PUC 1995 POTT POTT Sobrinho Plantas teis sobreviv ncia no Pantanal In IV Simp sio sobre recursos naturais e socioecon micos do Pantanal SIMPAN 2004 ustentabilidade Regional Resumos Corumb MS Brasil Nov 2004 16 p Dispon vel em lt http www cpap embrapa br agencia simpan sumario palestras ArnildoPott PDF gt Acesso em 04abril 2014 PRANDIR Herdeiras do Ax Sociologia das Religi es Afro brasileiras REVISTA USP S o Paulo n 46 p 52 65 junho agosto 2000 QUEIROZ E P A forma o hist rica da regi o do Distrito Federal e entorno dos munic pios g nese apresente configura o territorial Eduardo Pessoa de Queiroz Bras lia Ins
111. FG Goi nia V 1 N 1 Jan Jun 2011 P 35 43 Artigo 4 P gina 38 CHAU Marilena Pol tica Cultural Cultura Pol tica e Patrim nio Hist rico In O Direito Mem ria Patrim nio Hist rico e Cidadania S o Paulo Secretaria Municipal de Cultura do Munic pio de S o Paulo Departamento do Patrim nio Hist rico DPH 1992 CHAUL Nars Fayad Caminhos de Goi s da constru o da decad ncia aos limites da modernidade CU LLAR J P Nossa diversidade criadora Bras lia UNESCO MEC PAPIRUS 1997 DENCKER A de F M Pesquisa em Turismo planejamento m todos e t cnicas 9 ed rev e ampl S o Paulo Futura 1998 DERRIDA Jacques A escritura e a diferen a S o Paulo Perspectiva 1971 DIEGUES Ant nio Carlos S O mito moderno da natureza intocada S o Paulo Brasil Hucitec 1996 169 EMPERAIRE L A biodiversidade agr cola na Amaz nia brasileira recurso e patrim nio Revista do Patrim nio MUNIZ Lenir Moraes Ecologia Pol tica O campo de estudo dos conflitos s cio ambientais Revista P s Ci ncias Sociais V 6 n 12 2009 Hist rico e Art stico Nacional Rio de Janeiro n 32 p 31 43 2005 FAZENDA Ivani C A SEVERINO Antonio J Org O que Interdisciplinaridade Ed Cortez 2008 272 FERREIRA Marieta de Moraes Mem rias da hist ria Nossa Hist ria Ano 1 n 8 S o Paulo Vera Cruz Biblioteca Nacional jun 2004 p 98 FREIRE P Educa o como pr tica da liberdade R
112. Goi s Em 1934 a nova Constitui o estabeleceu o voto secreto o voto feminino o ensino prim rio obrigat rio e diversas leis trabalhistas O voto secreto significou um obst culo ao voto de cabresto preponderante na Rep blica Velha Os direitos trabalhistas e o acesso escolaridade eram tentativas de minar o poderio da velhas oligarquias e uma tentativa de comunh o nacional balizada por um Estado Brasileiro Em Goi s embora a Constitui o sinalizasse a compreens o de determinadas demandas havia se o hist rico de um Governo ausente n o possuindo um aparelho de Estado que se fizesse cumpridor das 87 leis sobretudo para aqueles que ainda n o entendiam a nova l gica impressa e eram oriundos de um mundo agr fico e muito distante na pr tica do novo modelo Estatal Em Mesquita sempre houve a refer ncia ao ator de poder o coronel ou quarteir o O Governo nesta poca era Goi nia Goi s Velho e Luzi nia Mas era assim nas fazendas tinha o quarteir o L no Mesquita l no Garapa Ent o cada Igual Mesquita ali tinha um senhor que se chamava senhor de um jeito que era Quarteir o Ent o ele que mandava na rea J A P Importante tamb m ponderar que com as novas investidas rumo ao interior os h bitos e tra os culturais em Goi s caracterizados por muitos autores como embrutecidos passam a refletir em forma e graus diferentes para cada estrato social pequenas mudan as As eli
113. Mesquita que na realidade era s uma parte de terra ocupada da imensa rea de dispers o territorial em que se situavam os quilombolas h uma requisi o datada de 1854 feita por Delfino Pereira Braga e outros no Registro Paroquial da regi o leste de Goi s A comunidade n o tem conhecimento do fato e nem possui uma liga o hist rica a este personagem H a hip tese de que Delfino 168 Pereira Braga seria um negro dos antigos que possivelmente teria rela es mais pr ximas com brancos Assim por algum motivo ainda misterioso teve seu nome marcado junto a estes na certid o Tamb m de longa data a mem ria da perda de outra parte importante de seu territ rio O Maria Pereira que foi ocupado por um agente poderoso da regi o Ant nio de Melo que era para usar uma categoria nativa o Quarteir o do Mesquita uma esp cie de coronel E como pr prio do universo coronelista Ant nio de Melo dava emprego e suporte para a comunidade pois possu a uma farm cia Como que ia reclamar da grilagem se ele que era o chefao era o dono Todo mundo ficava era com medo Tinha que entregar tudo Ele tinha uma farm cia todo mundo precisava tudo quanto era doen a que tinha a ia l nele e ele passava rem dio ent o todo mundo ele tinha aqui na palma da m o ALC De algum modo os mesquitenses sempre foram mansos ao que ditavam os agentes poderosos no campo Porque briga de terra voc sab
114. OS DA PESQUISA 138 O planejamento de uma pesquisa com base em Gil 1999 p 65 tem como principal embasamento a coleta de dados por meio das fontes de papel atrav s da pesquisa bibliogr fica iniciando a pesquisa a partir de estudos j realizados e tamb m usando livros artigos e trabalhos acad micos que tenham pertin ncia com o tema abordado A pesquisa bibliogr fica e documental inicial aconteceu junto com a observa o n o estruturada assistem tica essa observa o ocorreu de uma forma simples espont nea informal e foi combinada com entrevistas onde eu era a principal ferramenta de observa o e intera o com a realidade estudada Dessa maneira para essa tese foram realizados os seguintes tipos de pesquisa Pesquisa Bibliogr fica A execu o dos objetivos da pesquisa foi constitu da basicamente na busca leitura diagn stico e interpreta o do material dispon vel sobre a tem tica em s tios eletr nicos revistas especializadas livros jornais Universidades e institui es diversas documentos impressos ou fotocopiados mapas imagens manuscritos etc Todo esse material passou por uma sele o a partir da foi poss vel estabelecer um plano de leitura e an lise das informa es coletadas para um aprofundamento dos meus pontos de vista te ricos Pesquisa explorat ria Aconteceu na primeira etapa de pesquisas documentais visitas ao Quilombo para observa es e intera es ini
115. RAL PALMARES Criada pela Lei n 7 668 de 22 de agosto de 1988 Diretoria de Prote o ao Patrim nio Afro Brasileiro CERTID O DE AUTO RECONHECIMENTO O Presidente da Funda o Cultural Palmares no uso de suas atribui es legais conferidas pelo art 10 da Lei n 7 668 de 22 de Agosto de 1988 art 2 1 e 2 art 3 8 4 do Decreto n 4 387 de 20 Ge novembro de 2603 que regulamenta o procedimento para identifica o reconhecimento delimita o demarca o e titula o das terras ccupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos de que trata o art 68 do Ato das Disposi es Constitucionais Transit rias e artigo 216 I a V 10 e 5 da Constitui o Federal de 1988 CERTIFICA que a Comunidade de Mesquita localizada no munic pio da Cidade Ocidental Estado de Goi s registrada no Livro de Cadastro Geral n 06 Registro n 581 fi 91 nos termos do Decreto supramencionado e da Portaria Interna da FCP n 06 de 01 de mar o de 2004 puhlicada no Di rio Oficial da Uni o n 43 de 04 de mar o de 2004 Se o 1 f 07 REMANESCENTE DAS COMUNIDADES DOS QUILO EOS Deciarante s Presidente Jo o Ant nio Pereira Associa o Renovadora dos Moradores e Amigos do Mesquita AREME CNPJ MF n 05 889 879 0001 98 Eu Maria Bernadete Lopes da Silva Ass possosescccese AITWA cocn cones Diretora da Diretoria de Prote o do Patrim nio Afro Brasileiro a lavrei e Brasilia DF 19 de mai
116. RTDI 2011 Relato ao INCRA Hoje est o inseridos em um novo contexto e n o lhes permitido enterrar seus mortos no quintal de casa e nem expressam este desejo Mas expressam um sentimento de injusti a e se sentem ofendidos quando algum local em que est o enterrados seus antepassados desrespeitado Muitos destes locais n o se encontram mais sob posse da comunidade Isto gerou uma perda de mem ria significante pois as atuais gera es de Mesquita tiveram que romper com o culto e o conhecimento de seus ancestrais Quando s o perguntados sobre as localidades em que est o enterrados seus mortos referem se a muitos mas sentem se capazes de localizar apenas alguns dos pontos em geral os mais pr ximos da rea de circula o habitual Ih Tinha muito porque cada um era num lugar mas muito do povo j n o sabe mais onde Perdeu tudo n A fica dif cil de lembrar S mais velho lembra e lembra daqueles Tem gente que vai saber falar Mas de todos dif cil Que era pra todo canto R RTDI 2011 Relato ao INCRA Os eventos futuros chegaram com for a suficiente para invisibilizar boa parte da hist ria da regi o e reduzi la ao m nimo A impon ncia da transfer ncia da Capital provocar uma grande reconfigura o de toda a l gica local 221 5 2 4 Calend rio Festivo Mesmo com o territ rio comprometido pelas invas es os quilombolas t m costumes e pr ticas culturais importantes para a socializa
117. a tica essencialmente rural em Mesquita tal l gica est inserida neste contexto urbano rural ou moderno arcaico que permeia as rela es em Mesquita e em diversas outras comunidades ditas tradicionais que atualmente est o inseridas em um cen rio moderno marcado pela globaliza o moderniza o e consumo 5 2 2 1 A Marmelada no Movimento Internacional Slow Food A Slow Food uma organiza o eco gastron mica internacional sem fins lucrativos apoiada pelos seus membros Foi fundada em 1989 para combater o estilo de vida Fast Food e o ritmo de vida acelerado Hoje em dia a Slow Food tem mais de 100 000 membros em 132 pa ses 214 Esta organiza o internacional tenta impedir o desaparecimento das tradi es alimentares locais contrariar o desinteresse dos indiv duos pela alimenta o alertar para a origem dos produtos assim como alertar para o impacto que as escolhas alimentares t m no resto do mundo A Slow Food baseia se no princ pio da qualidade alimentar e do paladar bem como da sustentabilidade ambiental e de justi a social na sua ess ncia baseada num sistema alimentar bom limpo e justo Esta organiza o procura catalisar uma mudan a cultural ampla que fuja dos efeitos destrutivos do sistema alimentar industrial e do ritmo de vida demasiado acelerado que conduzem a uma degenera o cultural social e econ mica Deste modo a Slow Food defende um sistema alimentar sustent vel preservando as t
118. a por m se desenvolve e em 1989 passa categoria de Distrito de Luzi nia para em 1990 se emancipa como munic pio Luzi nia outra vez teve um territ rio emancipado e desligado administrativamente Mesquita passa a pertencer Cidade Ocidental Essa mudan a historicamente traum tica para todos os moradores especificamente para os mais idosos pois Luzi nia compartilhava as ra zes hist ricas e Mesquita agora estava ligado a uma cidade planejada que ignorava a hist ria da forma o do quilombo sua hist ria passa a ser mais uma vez invisibilizada Pra n s fez mais atrasar Porque tudo o que n s temos Porque a Cidade Ocidental depende de n s l do Mesquita Claro N s dependemos mais pouco de Cidade Ocidental que Cidade Ocidental de n s Porque n s produzimos e fazemos a feira Luzi nia conhecia e respeitava a hist ria nossa E Cidade Ocidental al m de estar dentro do nosso Munic pio Porque n s n o somos munic pio de Cidade Ocidental Cidade Ocidental que est dentro do munic pio de Mesquita E n o respeita nosso direito Luzi nia nosso ber o de ouro onde n s nascemos onde nossos umbigos foi enterrado l com nossos av s nossos bisav s Tudo sepultado l em Luzi nia E toda nossa produ o de Marmelo nossa Marmelada ela despachada em Luzi nia Vende em Bras lia Goi nia em v rios lugares Mas Luzi nia o cart o postal da Marmelada de Santa Luzia Ent o tu
119. a Marmelada de Santa Luzia ser retomada como s mbolo da identidade do quilombo Posto que a comunidade a considera como prova de uma ancestral idade aos negros escravos e remonta os tempos do Brasil Col nia Ser ent o o estandarte simb lico da luta por seu territ rio e sua identidade negra Santos 2007 De volta hist ria de Goi s e observando a com um olhar mais atento pode se afirmar que foi justamente a configura o do desenvolvimento interno de sua economia de subsist ncia que representou o fator caracter stico de sua resist ncia 78 Devido ao seu isolamento por um s culo os eventos de cunho nacional pouco afetaram a vida em Goi s que a n o ser por uma insignificante minoria era alheia a eles E assim ocorreu at os novos fen menos hist ricos que marcaram outras frentes migrat rias ao interior do pa s j no in cio do s culo XX A resist ncia se mostrou no isolamento da popula o que se espalhou pelo imenso territ rio O mundo externo aos seus limites constitu a uma realidade para uma pequena parte da sociedade Para a grande maioria da sociedade goiana o progresso tecnol gico e as id ias modernas que portavam no litoral eram not cias de um mundo distante e desconhecido Souza Filho 2002 30 31 Alguns acontecimentos nacionais ser o mencionados com a finalidade de contextualizar a expans o rumo Mesquita N o o foco desse estudo as passagens da hist ria do pa s elas ser o abordadas
120. a ch caras nesta rea eles est o concentrados por enquanto na Cidade Ocidental e ao longo das vias que se ligam ao Quilombo mas a tend ncia estenderem se por toda a faixa marginal s vias de acesso ao Mesquita BR 040 Avenida Perimetral Sul DF 140 Rodovia GO 521 onde est o atualmente dispersos Este cen rio traz novas maneiras de desestrutura o da comunidade na atualidade o que configura a tese do ge grafo Milton Santos 2003 de que a prolifera o do modelo econ mico em vigor uma via que desarticula as economias tradicionais 178 No s culo XX a busca por terras mais baratas para a agricultura fez a migra o crescer muito em Goi s outra a o que desvirtuou a propriedade da terra no Mesquita foi essa abertura de estradas vicinais No relat rio do INCRA citado McCal 1977 afirmando que Os transportes na economia capitalista mundial por meios sutis promovem a penetra o em reas rurais Continua afirmando o autor que a penetra o n o meramente a introdu o de novas maneiras de produzir mas tamb m implica a destrui o daquilo que j existia anteriormente no local e na introdu o ou no desenvolvimento de termos punitivos de troca que reorientam o com rcio rural para uma rede mundial Assim toda a economia dos lugarejos rurais for ada a mudar volta e meia atrav s da adapta o de uma forma de economia realizada h muito tempo e mais adequadas s necessidades do loc
121. a de representantes locais revezavam nas fam lias favorecidas e a vida pol tica se resumia em perdas e ganhos de privil gios por parte destas em detrimento de melhorias das condi es da Prov ncia Em Goi s anteriormente exist ncia de partidos organizados aos goianos impunha se a subordina o generalizada dos grupos pol ticos locais aos presidentes desconhecidos Essa realidade provocou muita instabilidade nos rumos pol ticos ocasionando trocas e perdas de privil gios por parte de grupos opostos Todas as vezes que se chegava um novo Presidente os representantes locais se dividiam a partir de interesses familiares expressos na pr tica do clientelismo pol tico e aceitavam passivamente as interfer ncias de fora Souza Filho 2002 61 A organiza o pol tica e busca por melhorias em Goi s eram minadas por este clientelismo conservador Os primeiros eventos liberais que a Prov ncia de Goi s experimentou fora tardiamente em 1870 Surgiram as primeiras organiza es clubistas de fam lias goianas que almejavam progresso ascens o econ mica e maior autonomia pol tica Comum a partir de ent o que as fam lias mais abastadas enviassem filhos para estudar fora e para retomar com novos conhecimentos Uma rea o ao isolamento Assim iniciava se na cultura local uma pr tica que refletir a possibilidade de acesso ao mundo 82 pol tico e acabar por distinguir intelectualmente as classes acirrando as diferen as tnic
122. a e alguma riqueza O impacto das diretrizes nacionais rumo a Goi s haviam trazido melhorias Importante citar que em 1922 nas proximidades do quilombo houve uma nova investida na id ia de interioriza o da capital que mais valeu por seu ato simb lico o ent o Presidente da Rep blica Epit cio Pessoa determinou o assentamento da Pedra Fundamental nas proximidades de Planaltina Os acontecimentos p trios passavam a afetar estas longitudes com mais signific ncia Em 1926 a Coluna Prestes alcan ou Santa Luzia e aportou em Mesquita causando horror e p nico eram os ventos que anunciavam as mudan as pol ticas do pa s que se seguia rumo a esta comunidade que n o poderia ter id ia da dimens o dos subsegiientes acontecimentos Em Mesquita fala se da passagem dos revoltosos como evento traum tico para a popula o local Os revoltoso quando passavam aqui eles sa a assim na carreira nos cavalo a chegava em fazenda a o fazendeiro era obrigado a correr Se n o pegava junto e botava pra montar no cavalo tamb m n A sa a daquela casa pegava porco no chiqueiro matava repartia dava pros outros Da levou uns dois daqui do Mesquita Tr s Tr s aqui 86 do Mesquita A soltaram eles l pra frente e eles voltaram l pra tr s Tem um que nunca voltou C P B RTDI 2011 A d cada de 1930 foi marcada pela queda da conservadora Rep blica Velha por meio da Revolu o de 30 A era Vargas duraria 15 anos
123. a fora Este equil brio externava a pr pria alteridade do grupo e o fortalecia Esta capacidade de organiza o de dois ordenamentos distintos um interno e em externo com duas no es diferenciadas de legitima o da ocupa o demonstra certa estrat gia de sobreviv ncia comunit ria e denuncia intrinsecamente um car ter identit rio O resultado desta estrat gia que de fato a ocupa o dos negros na fazenda Mesquita foi legitimada e perdurou s culos mesmo no contexto de xodo urbano que reconfigurava o rural Goiano Este momento hist rico de Goi s se observado pela perspectiva do colonizador retratado como retrocesso s ciocultural propiciado pela decad ncia econ mica do sistema aur fero Esta evidente decad ncia trouxe para Goi s uma defasagem s cio cultural costumes e h bitos da civiliza o branca foram esquecidos em decorr ncia do isolamento no qual os goianos passaram a viver ocorreu a ruaraliza o da sociedade e desumaniza o do homem Palacin 1986 46 74 Por m por rota o de perspectiva se enunciada uma decad ncia da elite por outro pode ser considerada a emancipa o por parte do maior contingente populacional local Posto que esta profunda decad ncia para os investidores que abandonaram seu empreito deixando suas terras e alguma escravatura contempor nea ao mito de origem de muitas comunidades quilombolas Se em um cen rio econ mico mais amplo atribui se a este
124. acesso terra que podem ajudar o Quilombo de Mesquita a ser conhecido e ter sua causa conhecida em outras esferas Alguns quilombolas de Mesquita se candidataram ao cargo de vereador de C Ocidental nas ltimas elei es 2012 as esferas governamentais federais e a sociedade civil organizada os primeiros pela obriga o de garantir os direitos dos quilombolas e os segundos pelo interesse pelo tema e pelas quest es que o cercam gerando conhecimento e informa o sobre a comunidade e proporcionando organiza o pol tica e melhora da sua auto estima RTDI 2011 Atualmente a principal lideran a do Quilombo de Mesquita a vice presidente da AREME quem personifica a luta pelo processo de articula o e territorializa o pelo qual a comunidade de Mesquita passa neste momento Certamente o processo uma constru o social com v rios atores envolvidos outros mesquitenses quilombolas de diversas gera es acad micos jornalistas membros da sociedade envolvente entre outros por m a vice presidente da AREME a personagem central na sua concep o e motiva o pelos direitos dos quilombolas de Mesquita Como Boaventura destaca a terra est ligada ao tempo largo da escravid o ao passo que na primeira coloniza o e na ltima atualmente o de concentra o fundi ria Na fase da observa o participante no Quilombo Mesquita o meu olhar de pesquisadora analisando a subjetividade impl cita na realidad
125. ade de ocupa o dessa comunidade no lugar onde se encontra Assim a defesa territorial a resist ncia expropria o do seu territ rio pela comunidade do Quilombo Mesquita n o apenas uma rea o contra a gan ncia constante e crescente do neg cio de terras no entorno de Bras lia Essa quest o apenas aponta que a terra deve ser entendida al m de um meio e lugar de produ o como um lugar identit rio relacional e hist rico constru do nas lutas e demandas sociais da comunidades que a vive e se reproduz A conviv ncia na comunidade durante a pesquisa de campo mostrou que os moradores criam estrat gias de resist ncia e que n o existe um confronto direto contra os expropriadores para combater o processo de mercantiliza o das terras da comunidade Apesar da expropria o do territ rio a resist ncia do grupo se d com o uso do territ rio manifestado na agricultura org nica comercializada coletivamente nas din micas comunit rias festas reuni es cumpadrio mutir es assim que a comunidade resiste Essa ideia de resist ncia da qual falo n o se refere apenas a defesa do territ rio mas a defesa das formas de sobreviv ncia do modo de vida comunit ria na qual procuram evidenciar a identidade quilombola 264 O que importa real ar que o caminho percorrido pelos quilombolas do Mesquita e suas conquistas hist ricas expressam a identidade social e pol tica que num processo de articula o com o
126. ades Estabelece se uma rela o 190 dial tica entre verticalidades vindas do exterior e horizontalidades geradas no territ rio e no lugar entre a imposi o de regras manejadas dist ncia e a resist ncia das singularidades pr prias da sociabilidade produzida na contiguidade e na proximidade entre enfim competitividade e solidariedade Santos 2000 1996 No contexto da disputa entre verticalidades e horizontalidades longe de desaparecer o Estado gil suporte para viabiliza o do dom nio pelas corpora es transnacionais Omite se em rela o s reivindica es sociais das classes desestabilizadas pela globaliza o mas flex vel aos interesses do capital e curva se diante das corpora es rendendo se aos alegados aportes sociais de modernidade e emprego Santos 2000 Como Thompson 2008 afirma a tradi o se desritualizou E isso n o pressup e o fim das tradi es mas indica novas ancoragens poss veis para elas Numa vis o cr tica em rela o descri o de Lerner sobre o impacto dos meios de comunica o no ambiente rural do L bano Thompson afirma que Na vis o de Lerner a persist ncia das maneiras tradicionais de viver e a ado o de estilos modernos de vida eram op es mutuamente excludentes e a passagem da primeira para os ltimos era mais ou menos inevit vel Entretanto Para muitas pessoas a op o de manter formas tradicionais de viver n o exclui a ado o d
127. ado e produ o agr cola A capitania de Minas Gerais e de Goi s juntas absorveram mais de 70 de todo o contingente dos africanos rec m desembarcados Note se que neste momento a explora o de metais e pedras preciosas j se encontrava em queda pelo menos nas Minas Gerais Entretanto em plena atividade nas minas de Goi s e Mato Grosso Ximenes 2012 As condi es que o processo de escravid o imp s fazia se propositadamente de forma a desarticular ao m ximo todos os indiv duos N o s a viol ncia f sica mas as investidas para o esquecimento da l ngua p tria da religi o e demais aspectos culturais faziam se presentes na viol ncia moral e psicol gica como paliativos s rebeli es Ximenes 2012 O povoamento inicial do Brasil Central pelo escravo negro se deu atrav s da principal rota de entrada de africanos em Goi s que foi o Caminho do Sert o O Brasil colonial se estruturou pelas cidades portu rias Anjos 2012 Com o uso da guia de despacho dos escravos de Jo o Francisco Salgado e tamb m amparada pela solicita o de isen o da cobran a de imposto encontrada no arquivo do Museu Bandeirante a pesquisadora Maria Lemke Loiola cruzou essas informa es com os dados encontrados nos despachos de Salvador e 49 concluiu que a Capitania de Goi s desempenhou papel relevante enquanto mercado receptor dos africanos novos que desembarcavam em Salvador na segunda metade do setecentos Esse porto segundo Loi
128. al O relat rio continua afirmando que a modifica o das formas de organiza o do espa o e das formas mais humanizadas de economia inseriu um novo ritmo nas trocas introduzindo um outro ritmo nos v rios est gios da produ o Isso acontece no Quilombo troca cada vez feita com base no dinheiro provocando a movimenta o mais r pida tanto da mercadoria como do dinheiro A necessidade de financiamento cresce e a necessidade de dinheiro vivo rapidamente se toma fren tica Al m da monetariza o e as novas facilidades trazerem a entrada e o consumo de produtos modernos no campo Santos 2003 190 192 Na hist ria de Mesquita esses fatos levaram a desarticula o de sua economia tradicional constatado por meio das narrativas sobre as mudan as que aconteceram no interior da comunidade e tamb m no seu territ rio O agroneg cio e a press o do crescimento urbano s o elementos citados nos relatos orais em lembran as ou peda os de lembran as que formam como uma grande colcha de retalhos de mem rias Foi diminuindo diminuindo e ficou s esse ovinho aqui Olha s por exemplo meus filhos v o crescendo meus netos v o crescendo tataraneto vai crescendo e aonde eles vai fazer casa tem que ir embora e deixar para os outros MT M Isto aqui muito grande ia l pras lajes pegava o Dom Bosco tamb m descia l pra baixo pegava o Maria Pereira S LC 179 A comunidade atribui as perdas de suas terras aos
129. almente Bertran esta pesquisa busca contextualizar o cen rio externo onde surge a comunidade de Mesquita bem como os impactos sofridos por suas cont nuas evolu es Nesse processo subjetivo de constru o da pesquisa atrav s da conversa o foi e ser poss vel aos poucos reconstituir o trajeto hist rico da comunidade bem como dar voz e inteligibilidade a aspectos mais subjetivos da cultura Fontes documentais confirmam o que falado nos discursos ora mostram a contradi o entre o conhecimento do grupo e o que est registrado pela sociedade principalmente ao que se refere cultura gr fica situa o comprovada atrav s de pesquisa bibliogr fica e documental Observa se que diversos momentos de organiza o pol tica foram acompanhados pelos t cnicos do INCRA e relatados no RTDI fonte que usei como pesquisa para essa tese O material produzido por outros pesquisadores que estiveram em Mesquita foi de grande import ncia para o presente relat rio e ser para o processo anal tico interpretativo da pesquisa A observa o participante que antecede e sustenta todo processo desta pesquisa proporcionou me a vis o sobre a atualidade a cont nua decomposi o da comunidade por conflitos territoriais espec ficos e o ass dio de suas terras A observa o registrada no di rio de campo se constitui em um procedimento fundamental para todo trabalho investigativo 144 Alguns procedimentos de pesquisa foram utilizado
130. amado de barraqueiro aos Santos e Nossa Senhora O guia o respons vel pela liturgia da folia por toda a cantoria aos santos Na comitiva tamb m seguem os cantadores Nos pousos a comida e bebida disponibilizada pelo morador tamb m nos pousos onde a catira dan a da regi o tem o seu momento de acontecer ap s a novena depois da catira come a o forr que vai at a madrugada A Figura do Cruzeiro de madeira conduzido a frente da folia juntamente com o retrato da santa e a fogueira do ltimo dia de folia s o centrais na liturgia do ritual O ltimo pouso a Capela de Nossa Senhora D Abadia situado no centro do territ rio onde acontece a novena e depois uma grande festa A Folia de Reis e a do Divino Esp rito Santo segue o mesmo padr o por m a primeira acontece em janeiro tendo como personagens centrais os Reis Magos e a segunda em maio Nas folias muitos foli es e cantadores s o de fora do povoado formando uma rede de folias e interc mbio de informa es experi ncias e t cnicas Um antigo morador conta que viu guias de folia mulheres e dan arinas de catira dan a ent o reservada aos homens em outras folias de Minas Gerais e Goi s As folias tamb m reafirmam as redes internas e a solidariedade entre as fam lias do pr prio quilombo de Mesquita Como afirma Brand o 2008 O que acontece durante cada situa o do ritual popular de uma Folia de Santos Reis t o afetivamente envolvida
131. ana A observa o acontece no observar observar o que n s observadores fazemos ao distinguir na linguagem os diferentes tipos de entidades que trazemos m o como objetos de nossas descri es explica es e reflex es no curso de nossa participa o nas diferentes conversa es em que estamos envolvidos no decorrer de nossas vidas cotidianas independentemente do dom nio operacional em que acontecem MATURANA 2001 p 126 Tuan 1980 1983 nos seus trabalhos sobre percep o humana e a constru o de valores ambientais afirma que esses valores s o constru dos em tr s n veis no n vel das esp cies no n vel dos grupos e no n vel dos indiv duos Esse mesmo autor 1980 enfatiza que os valores e atitudes se relacionam com as necessidades biol gicas cultura e com os valores pessoais estabelecidos na intera o com a sociedade Op cit 126 Isso sugere afirmar que a rela o humana com o meio ambiente deve ser vista por meio de uma perspectiva n o somente social mas tamb m ecol gica e temporal E o que se pretende ao analisar a transmiss o dos conhecimentos adquiridos ao longo da vida pelos idosos para os mais jovens na comunidade do Quilombo Mesquita Tuan 1980 p 53 fala que para analisar como ocorre a transmiss o de conhecimentos em n vel de grupo deve se conhecer a hist ria cultural e a experi ncia desse grupo e sua conjuntura Assim defendo a tese do autor que a atribui o de significa
132. ara Com a abdica o de D Pedro I rebentou em Goi s um movimento de car ter nacionalista que alcan ou vit ria pelas condi es da pol tica geral do Brasil Palac n 1986 54 55 Santos 2006 45 fala que este movimento de car ter nacionalista durou pouco Com a abdica o do Imperador em 1831 os ideais liberalistas ganharam certa visibilidade Goianos neste parco espa o de 19 tempo assumiram o governo da Prov ncia Foi introduzida a imprensa e com isso a tentativa de mobiliza o popular Ocorre que em poucos anos com a corrente dos liberais regressistas aliados aos conservadores em busca de sanidade ao quadro inst vel na administra o do Brasil estabeleceu se o Segundo Reinado em 1840 pelo golpe da maior idade Em Goi s das pequenas mudan as ao retrocesso velha ordem presidentes de fora assumiam a Prov ncia com todas as problem ticas postas e pouco eficazes se faziam Na d cada de 1850 a cria o do Registro Paroquial como instrumento prec rio de cadastramento rural levava a corrida aos chamados cart rios eclesi sticos A subdivis o das propriedades decorria de efeitos demogr ficos do suceder de gera es das migra es dos pequenos posseiros e sobretudo da convers o agropecu ria consegii ncia do processo de ruraliza o de Goi s Bertran 1988 48 Com o Registro Paroquial algumas por es de terras seriam requeridas pelos negros como propriedade mas como o registro
133. ara apreens o da l gica tnica percept vel no cotidiano Do universo tnico para o l cus da minha pesquisa o Quilombo Mesquita procurei observar nas conversas nas dan as nas rezas nos ch s nas benze es nas festas nas receitas da culin ria nas letras de can es mais do que resqu cio de costumes a cultura material prenhe de sentidos As 28 entrevistas constitu ram fonte especial para o estudo e an lise das pr ticas cotidianas nas quais se imbricam valores tnicos e religiosos 3 2 Meu campo da pesquisa O Povoado do Mesquita localiza se no munic pio da Cidade Ocidental a 24 quil metros da cidade de Luzi nia no estado de Goi s entorno sul do Distrito Federal possuindo pouco mais 146 de 2 dois mil habitantes Formado h mais de 150 anos por uma popula o quase que totalmente negra o Arraial do Mesquita comporta descendentes dos escravos trazidos na poca da minera o para a antiga cidade de Santa Luzia hoje Luzi nia A Comunidade Remanescente de Quilombo do Quilombo Mesquita marcada pela inseguran a social econ mica e pol tica isso acontece em fun o da sua invisibilidade para a sociedade da regi o do entorno Cidade Ocidental como tamb m para a popula o do Distrito Federal Com a cria o de Bras lia muitas mudan as significativas aconteceram na regi o do Entorno onde est localizado o Quilombo Mesquita Na poca da constru o da nova capital vieram para o local pessoas
134. ara ele n o se trata de um nico relato ou hist ria mas uma composi o de discursos e representa es das sociedades complexas com vers es que expressam a heterogeneidade dos atores Por isto nesta rela o entre a rede de significados e a dimens o da a o dos atores sociais que deve ser caracterizada a import ncia das mem rias VELHO 2001 p 11 A mem ria oral como condi o promotora de pertencimento e ainda como possibilidade de reelabora o de culturas que se sentem amea adas pela sobreposi o de outras A busca pelo reconhecimento das tradi es locais de grupos minorit rios passa pela necessidade de encontrarem refer ncias de identidade local que possam dar suporte sabedoria extra da de suas viv ncias Pollak 1995 E ainda a possibilidade de amplia o dos canais de comunica o entre os participantes mais antigos com os mais jovens moradores pode significar uma estrat gia de integra o e de constru o de cidadania A cidadania aqui assumida como algo que se constr i permanentemente constituindo se ao dar significado ao pertencimento do indiv duo a uma sociedade em cada fase hist rica Loureiro et al 2005 Figura 17 V Antonia Quilombola falecida em 2012 No Quilombo Mesquita vive se a expectativa e a luta cidad pelo territ rio essa luta ocorre pela sobreviv ncia dos v nculos familiares e hist ricos a mem ria da comunidade se divide entre o que era e o que es
135. arechal Pessoa foi o respons vel pela pergunta feita por um morador de Jata sobre a transfer ncia da capital a Juscelino Kubitschek no primeiro com cio da campanha 95 Estava pois nas ruas na consci ncia do povo a necessidade da mudan a O marechal Pessoa havia participado atrav s de sua palavra desse necess rio preparo psicol gico agora era o pr prio povo que exigia a transfer ncia da capital Ernesto Silva 1999 Em maio o engenheiro agr nomo Bernardo Say o vice governador de Goi s foi incumbido de abrir a primeira pista de pouso do futuro DF na Fazenda do Gama com 800 metros de extens o e iniciar o campo de pouso ent o considerado definitivo de 2 700 metros onde hoje existe a Esta o Rodoferrovi ria Ainda em maio foi armada a cruz de madeira na atual pra a do Cruzeiro Eixo Monumental o ponto mais alto do Plano Piloto de Bras lia S em 1 de setembro 4 meses depois o Di rio Oficial da Uni o publicou despacho de Caf Filho em processo interno da Presid ncia da Rep blica n 19 685 55 aprovando e homologando a escolha do s tio e os limites do futuro Distrito Federal Com a vit ria de JK a 3 de outubro j comprometido com a localiza o da nova capital no planalto foi destinado recursos pelo Congresso para a transfer ncia Empossado em 31 de janeiro de 1956 criou a Novacap e o Di rio Oficial da Uni o publicou o edital do Concurso Nacional do Plano Piloto de Bras lia cujo res
136. ares situada na Fazenda Mesquita registrada no Io Cart rio de Registro de Im veis de Luzi nia sob a matr cula n 146 397 O terreno foi parceladoinicialmente em 30 glebas de no m nimo dois hectares hoje por m essas mesmas glebas foram redivididas em campo observa se que existem reas ocupadas de dez a cinco mil metros quadrados Condom nio Rural Ch caras Bem te vi O Condom nio Rural Ch caras Bem te vi foi implantado por meio da 3A Empreendimentos Imobili rios LTDA CNPJ 04 683 233 0001 97 com sede na SQ 12 Quadra 12 proje o 07 sala 101 Centro CEP 72 880 000 Cidade Ocidental GO Pelos documentos dos ocupantes da rea observa se que um im vel adquirido por meio de Escritura P blica de Compra e Venda p gina 001 Livro 0367 Folha 063 no Io Cart rio de Registro de Im veis de Luzi nia A rea de 40 alqueires objeto do Registro n 51 da matr cula n 60 925 do livro 2 IT folhas 211 v do Io Cart rio de Registro de Im veis de Luzi nia Possui alguns lotes vazios eos propriet rios dos lotes 254 5 3 4 3 Condom nios Alphaville Dhama O apelo ambientalista usado atualmente pelo mercado para influenciar o consumo atrav s do chamado marketing verde a estrategia usada para a comercializa o dos empreendimentos sofisticados nos terr t rios identificados e pleiteados como terras quilombolas O marketing feito ressaltando os benef cios de se aproximar da natureza a fim de obter maior qualidade d
137. as marmeladas de toda a regi o e confeccionar artesanalmente as embalagens de madeira uma a uma tamb m inventa outras modas para agradar o paladar dos visitantes Ele criou tamb m a receita do licor de marmelo que feito a partir da gua do primeiro cozimento do marmelo ao ser preparado para fazer o doce tradicional Ele colhe o marmelo limpa a fruta tira a semente e p e para cozinhar servi o para um dia inteiro diz ele A fruta cozida na gua d calda e essa a base da bebida onde se mistura o a car e a aguardente de cana O cozimento lenha em fogo brando O repouso da bebida j fervida se d em ton is que ele abre exclusivamente para nos apresentar Com uma caba a ele retira o l quido que de pronto perfuma o ambiente O sabor lev ssimo Tem a do ura do seu criador e o gosto da tradi o Slow food site Desta forma a Slow Food defende uma nova atitude chamada por eles de eco gastron mica Este conceito um conceito cient fico que reconhece a liga o entre o prato e o planeta A eco gastronomia considera o consumidor como um co produtor e n o como um simples consumidor pois ao ser informado de como os alimentos s o produzidos e ao apoiar activamente aqueles que os produzem o consumidor passa a fazer parte do mesmo processo de produ o 5 2 3 Hist ria Popular Quando se referem ao passado do Quilombo os moradores costumam enfatizar a exist ncia de dois per odos esses per odos s
138. as e a rela es de poder Souza Filho 2002 Entre as reivindica es aspiradas pelos liberalistas as lutas abolicionistas foram incorporadas significando neste micro cen rio mais a luta por mudan as do poder pol tico local e nacional do que uma contesta o ao trabalho compuls rio em si Ou seja operava mais simbolicamente do que em sentido literal posto que a escravid o n o era a extrema realidade de Goi s As regras consuetudin rias estabelecidas em diveas rela es de trabalho como por exemplo a liberdade condicional dos negros eram resultados de mecanismos sutis de troca que explicitavam as rela es de poder o que na l gica atual de um Estado democr tico de direito podem ser comparadas escravid o mas para a poca representavam verdadeiro avan o na quest o Souza Filho 2002 A economia goiana h d cadas j prescindira do trabalho compuls rio portanto a escravid o na prov ncia estava mais associada aos status dos fazendeiros e propriet rios de escravos Geralmente eram eles os que resistiam a mudan as radicais e compactuavam com a pol tica conservadora Portanto os abolicionistas procuram demonstrar a import ncia da associa o entre o fim da escravid o e as mudan as no cen rio do poder pol tico local Souza Filho 2002 99 Assim a aboli o em 1888 representou para Goi s antes de tudo a ascens o dos ideais liberalistas e a possibilidade de representa es goianas confirmados pela subs
139. as transforma es produzidas nas ltimas d cadas sobretudo as que se consolidaram a partir da d cada de 70 Parece dif cil acreditar que at o in cio dessa d cada o Rio S o Bartolomeu ainda era um rio naveg vel com suas matas ciliares em bom estado de conserva o Especificamente para este trabalho acad mico a minha primeira viagem ao campo aconteceu em outubro de 2010 e a ltima em dezembro de 2013 Durante esse tempo todas as minhas observa es foram anotadas no meu caderninho verde Di rio de campo que foi uma ferramenta utilizada na pesquisa desde o in cio e os registros que fiz me guiaram na constru o da tese e nos caminhos metodol gicos O meu di rio de campo foi uma ferramenta importante durante as visitas Comunidadede pois como registra Hess 2006 p 93 se o di rio de campo capta o dia a dia as percep es os eventos vividos as entrevistas mas tamb m os flashes de compreens o que emergem com um pouco de recuo a 2 Dispon vel para consulta em http www fbb org br tecnologiasocial 136 re leitura do di rio um modo de reflex o sobre a pr tica O meu di rio de campo teve grande proveito no resgate cronol gico das visitas No caso do vivido pelo pesquisador seu di rio de campo um documento valioso de pesquisa Ele descreve a implica o do pesquisador cont m detalhes sobre a evolu o dele ao longo de seus estudos sobre seus fracassos e permite que nos situemos melh
140. ases do ensino formal envolvendo ainda a fam lia e a coletividade A efic cia vir na medida em que sua abrang ncia vai atingindo a totalidade dos grupos sociais e Globalizadora a Educa o Ambiental deve considerar o ambiente em seus m ltiplos aspectos e atuar com vis o ampla de alcance local regional e global e Permanente a Educa o Ambiental tem um car ter permanente pois a evolu o do senso cr tico e a compreens o da complexidade dos aspectos que envolvem as quest es ambientais se d o de modo crescente e continuado n o se justificando sua interrup o Despertada a consci ncia ganha se um aliado para a melhoria das condi es de vida no planeta e Contextualizadora a Educa o Ambiental deve atuar diretamente na realidade da comunidade sem perder de vista a sua dimens o planet ria Tbilisi foi um grande marco da Educa o Ambiental pois em agosto de 1987 isto dez anos ap s ter ocorrido a confer ncia aconteceu a Confer ncia Internacional sobre Educa o e Forma o Ambiental em Moscou Foi um encontro onde centenas de especialistas de 94 pa ses debateram os progressos e 114 dificuldades encontrados pelas na es na rea de Educa o Ambiental e propuseram a Estrat gia Internacional de A o em Mat ria de Educa o e Forma o Ambiental para o Dec nio de 90 Quanto ao progresso das na es a avalia o n o foi nada otimista Em compensa o no que se refere s estrat gias a r
141. ativos em comunidades tradicionais utilizam em sua grande maioria o n vel de educa o informal para as trocas de conhecimentos sobre o meio ambiente no caso da comunidade do Quilombo Mesquita estes conhecimentos s o passados de forma vertical no n vel informal O n vel informal de educa o aqui defino como referente ao n vel das rela es comunit rias e familiares cotidianas 119 Atualmente um dos grandes impeditivos para essa transmiss o de saberes na comunidade s o os conflitos vividos pelo grupo e a luta pela terra 2 2 Educa o Ambiental em um dial go de Saberes e fazeres na Quilombo Mesquita A forma o s cio territorial do Brasil se diversificou etnicamente a partir da invas o do territ rio brasileiro pelos portugueses e se intensificou no processo de coloniza o com a implanta o das Capitanias Heredit rias aconteceram conflitos sociais e a luta pela terra no Brasil caracterizados por problemas ambientais fato originado efetivamente pela expans o do capitalismo europeu no s culo XVI e se perpetuam at os dias de hoje com a press o sobre os pa ses detentores de grande biodiversidade Oliveira 2006 p 15 A crise socioambiental vivida hoje no mundo consegii ncia desse modelo de consumo adotado principalmente pelas sociedades n o tradicionais que acabaram trazendo preju zos qualidade ambiental Nesse contexto mudan as profundas nos modos de produ o e consumo bem como nos valores
142. ava sendo negociada Assim havia uma alteridade impl cita estabelecida nesta rela o de mercado O que ocorre que uma parte da comunidade expulsa para as periferias urbanas e as fam lias que permanecem no local continuam algumas a trabalhar para fazendeiros Com a expuls o os 172 quilombolas voltaram a ser empurrados para o espa o da apropria o viol ncia do qual pareciam terem sa do quando do surgimento do Quilombo Mesquita 4 3 1 As Perdas Territoriais Assim com a imigra o para o Centro Oeste a terra de Mesquita passou a ser alvo de interessante para imigrantes e os mesquitenses como n o usavam a moeda tradicional e n o tinham esse tipo de capital para as trocas necess rias a moeda passou a ser a pr pria terra Era exatamente a terra o que interessava para os de fora e era esse o recurso que a comunidade dispunha As primeiras transa es de terra pela narrativa dos mesquitenses foi um acontecimento n o entendido por parte da comunidade Na l gica tradicional e tnica do Mesquita eles estavam negociando era uma permiss o de uso j que essa pr tica era comum entre os moradores acreditavam que n o perderiam dom nio sobre o territ rio Por m para os de fora a negocia o era sobre a compra da terra nua Isto significou um problema substancial para a comunidade INCRA 2011 Essas permiss es que inicialmente eram apenas de posses consentidas se transformaram em propriedades descaract
143. biental observa se isso vendo os conhecimentos repassados durante as experi ncias di rias vividas na comunidade Ao concluir esse trabalho e rever todo o processo de conversas entrevistas observa es e pesquisas bibliogr ficas confirmo que a Comunidades do Quilombo Mesquita mesmo com a forte influ ncia externa n o perdeu suas origens e at hoje conserva a lavoura de subsist ncia a coleta de frutos e ervas que encontram no Cerrado a produ o da Marmelada da farinha e de outros alimentos pe as e utens lios tanto para o trabalho como para o lazer e tamb m para completar a renda da fam lia O conjunto de saberes sobre o mundo natural e sobrenatural que transmitido oralmente de gera o em gera o um elo entre o mundo natural o sobrenatural e a 267 organiza o social essa forma de viver as tradi es que permanecem no Quilombo s o indicadores de sustentabilidade e Educa o Ambiental A modernidade presente na rela o fronteiri a com a Capital Federal os movimentos organizados a academia trouxe o di logo entre os saberes tradicionais e os conhecimentos cient ficos al m disso observei que a an lise dos conflitos observados no Quilombo Mesquita s o informa es importantes para referendar novas pr ticas cient ficas e pol ticas de conserva o e abre possdibilidades para novos estudos O di logo aqui proposto e analisado um desafio e uma necessidade para a educa o ambiental p
144. biente natural e do meio ambiente criado pelo homem resultante da integra o de seus aspectos biol gicos f sicos sociais econ micos e culturais Aqui mais uma vez se distingue da educa o conservacionista que prioriza os aspectos biol gicos do meio ambiente natureza vis o cartesiana com foco nas solu es t cnicas a vis o de meio ambiente sugerida por Tbilisi UNESCO 1997 compreende a tens o existente entre os recursos naturais do planeta e os valores criados historicamente pela a o do homem esgotamento e polui o dos recursos naturais meio ambiente 112 A compreens o dial gica da rela o sociedade meio ambiente mostra a necessidade da atitude interdisciplinar unindo as diferentes dimens es da quest o ambiental ci ncias naturais e humanas tanto na resolu o dos problemas ambientais quanto na conex o educacional e ambiental como a Educa o Ambiental Permite ainda questionar as a es humanas muitas de car ter predat rio buscando encontrar meios para minimizar os impactos negativos das rela es sociais de produ o vigentes intervindo em processos que levam ao esgotamento polui o do meio ambiente natureza Assim Tbilisi UNESCO 1997 indica em terceiro lugar que os conte dos conceituais procedimentais e atitudes envolvidos na concep o de Educa o Ambiental busquem a resolu o de problemas ambientais locais apontando para a import ncia da rela o teoria pr tica ou reflex o
145. bo Mesquita al m das pr ticas tradicionais aliam a es pedag gicas de transmiss o de 263 conhecimentos As ro as o processo de produ o da marmelada e da farinha s o espa os onde tamb m s o trabalhadas formas de apropria o e uso dos recursos naturais Esses espa os carregam em si potencial de constru o reconstru o das pr ticas processos e saberes das comunidades tradicionais No Quilombo Mesquita s o essas reconstru es de saberes que orientam suas pr ticas sociais e seus processos de trabalho demarcando a diversidade da cultura quilombola A terra compreendida n o s como espa o de trabalho mas de moradia sobreviv ncia de conviv ncia comunit ria e de educa o Mesquita luta para n o ceder a o desagregadora do seu territ rio aos impactos ambientais da press o fundi ria sobre suas terras sobre sua cultura um povo que luta para sobreviver ao paradigma da modernidade ocidental numa luta pela sobreviv ncia digna no seu jeito pr prio de construir a cidadania local de preservar a natureza o cerrado com o cultivo de sua terra Assim sua cultura local repassada na experi ncia di ria tendo a produ o da marmelada a mais forte tradi o do Quilombo de fundamental import ncia nesse processo de preserva o da identidade e a autonomia da comunidade Articulando a historia desse territ rio os processos e din micas territoriais pesquisados poss vel afirmar a ancestralid
146. brando as caba as com porretes Com o susto pelo barulho das guas da can o dos negros escravos e as cacetadas nas caba as o major saiu pr rua com a arma em punho para repelir a agress o feita a ele quando o juiz ordin rio Jos Rodrigues Costa toma o partido do genro de Guimar es nessa hora chegou os seguidores dele seus escravos e os seus feitores e seu filho indignado Lisboa com a reprova o do juiz joga fora a arma de fogo e com a espada atinge o juiz Lisboa recebe voz de pris o mas o povo fica do lado dele e passa a dar vivas a Lisboa e morras ao juiz Lisboa vendo tudo perdido pediu ao povo para que aprovasse sua pris o nico meio que ele tinha segundo a sua express o de manifestar a sua inoc ncia e depois de muito custo obt m o consentimento deles e desce para a cadeia debaixo das ova es de mais de mil pessoas Alvares 1979 93 97 Essa lembran a ancestral mostra continuidade hist rica j que a mem ria que se refere a escravid o no passado sufocada por tabus erguidos ao longo da hist ria da comunidade afastando de si o tempo do cativeiro A lembran a deste epis dio faz um ponte no silenciamento imposto pela representa um lapso na ruptura entre dois tempos distintos e nos possibilita por meio da an lise infer ncias de elementos n o permitidos expressamente E compreens vel a ruptura com c digos que os revivam o passado cativo al m de um estigma projetado nas rela es sociais com a sociedade
147. briga entre Modesto e Ant nio Grilo entre os Teixeira Magalh es e Pereira Braga pelo uso territorial exigiu um limite mais expl cito desta forma de ocupa o do territ rio Com a divis o da terra a briga acabou Por m este processo culminava com a passagem de um est gio a outro da pr pria hist ria deMesquita Ao longo dos anos a terra foi sendo mais e mais dividida Os que n o tinha partido foi repartindo tudo C P B RTDI 2011 A foi dividindo cada um com sua quantidade SLC RTDI 2011 Depois da divis o pra c e que o povo foi trabalhando sozinho aqui era em comum Mesquita n o tinha dono C P B RTDI 2011 Resumindo com o passar dos anos a pr tica de ocupa o mais livre um bolo s passou a ser a de ocupa o com demarca es mais acertadas entre linhagens familiares passando se logo para familias nuclerares pai m e e filhos Isto era um reflexo das mudan as trazidas pela cultura ex gena que surgia na regi o 170 Os mais antigos de Mesquita falam que depois da divis o da terra tudo mudou porque surgia uma nova regra social De fato a divis o de terras traz a l gica da propriedade privada dentro do territ rio de uso comum de Mesquita Esta divis o entre propriedade privada e terra comum for as antag nicas se equilibrariam ainda por algum tempo mas em seguida apresentariam as contradi es inconcili veis entre a tradi o da comunidade tnica e os valor
148. buscando utilizar os recursos agora reduzidos de uma maneira mais eficiente 229 Aqui era s cerrado e tinha muitos animais Hoje eu ando e s vejo casas Tudo se desenvolveu muito mas tamb m aumentou a viol ncia e isso tamb m afeta o Mesquita O P B 76 anos Para Amorozo 2006 cultivar e cuidar das plantas envolve muito de afetividade Em comunidades agr colas tradicionais as crian as aprendem desde quando acompanham os adultos s ro as e tomam parte nas atividades cotidianas e quem apende a plantar n o abandona o h bito t o facilmente mesmo quando se muda para ambientes mais urbanizados Se as antigas ro as est o sendo substitu das por monoculturas altamente mecanizadas resta ainda o quintal o jardim o pomar a horta que retratam a conserva o desse modo tradicional de vida Amorozo 2006 E inicialmente neste contexto de lugar que desenvolveremos nossa pesquisa visto ser os terreiros de casa o lugar onde as fam lias se socializam e vivem a sua cotidianidade categoria cunhada por Tuan 1983 para se referir a experi ncia com o lugar de uma pessoa ou grupo a familiaridade com aquele espa o criando ali rela es e intimidade Observei durante minha pesquisa de campo que al m dos quintais estarem substituindo as reas usurpadas da comunidade hoje o local tamb m onde s o repassados os saberes tradicionais arquivados por aquela fam lia Constitui um importante meio de repasse de saberes atrav
149. ca o Ambiental Tbilisi em 1977 o II Congresso Internacional sobre Educa o e Forma o Ambientais Moscou em 1987 o F rum das Organiza es N o Governamentais e Movimentos Sociais Rio de Janeiro em 1992 em paralelo Eco92 a III Confer ncia Internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade Educa o e Consci ncia P blica para a Sustentabilidade Thessaloniki em 1997 e por fim a IV Confer ncia Internacional de Educa o Ambiental Ahmedabad em 2007 Nessa tese vou destacar as recomenda es surgidas na Confer ncia de Tbilisi Ge rgia em 1977 UNESCO 1997 que foi a primeira confer ncia que tratou especificamente do tema educa o ambiental e talvez a mais importante delas por ter posto para o debate internacional a import ncia da educa o ambiental na resolu o dos problemas ambientais e por ter formulado ao mesmo tempo um conjunto de princ pios e diretrizes objetivos fun es estrat gias caracter sticas princ pios e recomenda es que continuam v lidos at hoje para o desenvolvimento de programas e a es de educa o ambiental 111 O objetivo fundamental da educa o ambiental conseguir que os indiv duos e a coletividade compreendam a natureza complexa do meio ambiente natural e do meio ambiente criado pelo homem resultante da integra o de seus aspectos biol gicos f sicos sociais econ micos e culturais e adquiram os conhecimentos os valores os comportamentos e as hab
150. causas Dessa maneira essa tese sobre a Comunidade de Mesquita debru ou se nas an lises sobre as rela es da comunidade com o territ rio e atrav s das categorias te ricas apresenta explica es muitas vezes n o percebidas nem pelos pr prios moradores oferecendo uma compreens o sobre as rela es ecologicas em outra escala centrada em uma abordagem multidisciplinar A perspectiva hist rica base desta tese possibilitou o entendimento do processo em que a comunidade se encontra hoje Compreendendo suas mudan as em contexto foi poss vel situ la em uma ordem maior de acontecimentos Se o territ rio que os grupos de parentescos negros utilizavam extrapolava significativamente a fazenda Mesquita as conting ncias hist ricas e a principal delas foi em decorr ncia da constru o de Bras lia levaram centraliza o dos negros em poucas reas a eles permitidas Os escravos que n o morreu ficaram por aqui em Mesquita Agora os outros de l que a gente n o sabe porque ficava longe n L pro Alforriei e Santa Maria tinha mais duas turmas l e c SLC RTDI 2011 Relato ao INCRA Outro dia foi um menino foi l no Alagado e Alforriei e algu m falou eu tamb m sou do Mesquita S que mudou daquela turma dos escravos que veio vindo pra c Eles dividiram em tr s parte uma foi pra um lugar e outra foi pra outro Voc encontra por a uns Pereira Braga R RTDI 2011 Relato ao INCRA O g
151. causas ao mesmo tempo da degrada o ambiental e das desigualdades sociais apontando a aliena o e a falta de participa o como desafios da Educa o Ambiental trazendo o debate para as sociedades sustent veis As causas prim rias de problemas como o aumento da pobreza da degrada o humana e ambiental e da viol ncia podem ser identificadas no modelo de civiliza o dominante que se baseia em superprodu o e superconsumo para uns e em subconsumo e falta de condi es para produzir por parte da grande maioria TEASS 1992 p 1 1 TEASS Tratado de Educa o Ambiental para Sociedades Sustent veis e Responsabilidade Global Rio de Janeiro 1992 115 O Tratado avalia que a educa o incide em um direito de todos e que deve ter como base o pensamento cr tico e inovador em qualquer tempo ou lugar em seus modos formal n o formal e informal promovendo a transforma o e a constru o da sociedade considera tamb m que a Educa o Ambiental n o neutra mas ideol gica por isso mesmo corresponde a um ato pol tico devendo portanto tratar as quest es globais cr ticas suas causas e interrela es em uma perspectiva sist mica em seu contexto social e hist rico O TEASS destaca com isto que a EA para as sociedades sustent veis deve estimular e potencializar o poder das diversas popula es enfatizando os problemas locais em suas atividades e as devidas conex es com a realidade planet
152. ciais com os moradores Nessa fase de rascunhar a pesquisa tamb m fiz entrevistas informais com gestores p blicos da Funda o Cultural Palmares do INCRA da SEPPIR quando al m de reunir as informa es e documentos para o in cio da reda o do trabalho pude apresentar o meu projeto de pesquisa e ouvir as manifesta es sobre a sua realiza o e pertin ncia Pesquisa de campo foi feita com moradores do quilombo e nos c rculos de relacionamento e na comunidade circundante ao povoado As entrevistas procuraram adequar uma forma interativa de contato com esses moradores e colher informa es inseridas no conjunto da conversa De um modo geral as entrevistas qualitativas s o muito pouco estruturadas sem um fraseamento e uma ordem rigidamente estabelecidos para as perguntas assemelhando se muito a uma conversa Tipicamente o investigador est interessado em compreender o significado atribu do pelos sujeitos a eventos situa es processos ou personagens que fazem parte de sua vida cotidiana Alves Mazzotti Gewandsznajder 2001 p 168 139 Durante as entrevistas n o estruturadas que acontecia a abordagem mais aprofundada do assunto acontece quando o entrevistador coloca o tema e o entrevistado tem a liberdade de falar sobre a quest o Matos Pess a 2009 p 288 Esse foi o tipo de entrevista que usei em diferentes fases da minha pesquisa especiamente na pesquisa explorat ria quando eu n o tinha defini o com
153. cifiCOS e tien E E E E a A E E E E 35 Plajo de Capit lo Srini enee e a e END a a fe aa a ae tada eS a Sela 35 Capitulo D aese a a RR a E EN E EA O E E E EE 38 1 A Hist ria de Goi s do cerrado e dos negros desse lugar Os caminhos da mem ria da identidade e da GimCidade mossis in E E gar a a tu in e Ge E A E 38 CLA Ocupa o da Capitania D GOol Siscsnsscsiynrotinanec ae os ei beean 41 1 2 A Di spora Rumo ao Planalto Central eeseeeeseeesseesseesseeessetesstesseessesseresseeesseesseesseesseeessseesseesseesset 47 1 3 Hist rico da Cidade Luzi nia Uma cidade de escravos eeeseeeeeeeseeseesetsresresseesrerrrsstesserererressessees 50 1 4 Historicidade Negra no Quilombo Mesquita O Ato Fundante da Vida Local 70 1 5 AS INFLU NCIAS DE BRAS LIA SOBRE A COMUNIDADE DE MESQUITA 92 Capitulo IL acieirar erpin e EE A T RE TE AEA GUN AS ANA EEE E gs SORA Rad Ca pane 108 2 A Educa o Ambiental de Tbilisi Uma Ecologia de Saberes eras 108 2 1 A Educa o Ambiental nas Pol ticas P blicas Brasileiras arena 116 2 2 Educa o Ambiental em um dial go de Saberes e fazeres na Quilombo Mesquita 120 Capitulo Ads Faso sba rage Fira e e a a e ST pa Sra a E Do aa aci a GRAU Esq 130 DS AMESDAGIODTA sc sqngnt ias raia US E a a a O ET Ca Da 131 3 1 PROCEDIMENTOS METODOL GICOS DA PESQUISA iemememeemeeemeeeees 138 Si Meucampo da pesquisa sospenisoos
154. cio Mocambo Antropologia e Hist ria do processo de forma o quilombola Bauru Edusc 2010 BACHELARD G A Forma o do Esp rito Cient fico Rio de Janeiro Contraponto 1996 BAIOCCHI Mari de Nasar Kalunga Povo da Terra Bras lia Minist rio da Justi a Secretaria de Estado dos Direitos Humanos 1999 BARBIER Ren 2004 A pesquisa a o Bras lia L ber Livro Editora BARBOSA Altair TEIXEIRA NETO Ant nio GOMES Horieste Geografia Goi s Tocantins Goi nia UFG 2004 p 55 BARTH Fredrik Grupos tnicos e suas fronteiras in Teorias da etnicidade Philippe Poutignat Jocelyne Streiff Fenart S o Paulo Funda o Editora da UNESP 1998 BELASCO A 2008 Qualidade de vida Princ pios focos de estudo e interven es In Diniz D e Schor N Ed Qualidade de vida 1 Edi o Brasil Editora Manole 1 10 BENNINGHOFF LUHL Sibylle Orgs Devorando o tempo Brasil o pa s sem mem ria S o Paulo Mandarim 2001 p 293 300 270 BERGER FILHO A G Sparemberger R F L Os Direitos Das Popula es Tradicionais Na Ordem Constitucional Brasileira E Sua Rela o Com O Acesso Aos Recursos Gen ticos https www revistas unijui edu br index php revistadireitoemdebate article viewFile 657 377 Acesso em 02jan 2013 BERGREEN Laurence Al m do fim do mundo a aterradora circunavega o de Fern o de Magalh es Rio de Janeiro Objetiva 2004 BERTRAN Paulo Uma Introdu o Hist ria Econ mica
155. classe oper ria Aqui se est diante da origem da contradi o entre Plano Piloto Cidades Sat lites O operariado mantido na periferia enquanto os funcion rios da administra o federal tinham assegurado seu dom nio sobre a cidade mais moderna do mundo Ribeiro 1999 84 Na origem de Bras lia a marca da l gica capitalista foi impressa sem censura no espa o O central e o perif rico o local de ac mulo de renda e concentra o da m o de obra Elementos de distin o social foram externalizados sem reservas Os candangos m o de obra migrante para a constru o em busca de entretenimento frequentavam os festejos tradicionais da regi o Os mesquitenses n o gostavam mas aos poucos rela es com estes chegantes foram se estabelecendo A comunidade que at ent o s permitia casamentos endog micos passa a aceitar as rela es matrimoniais com pessoas de fora da comunidade O pai da gente n o deixava a gente sair tinha muito medo de candango ALC Relato ao INCRA Fazia festa ia mulherada toda cismadinha a ia as pe ozada do Rio de Janeiro de outras mas s que os pais falava cuidado com os candangos Mas muito casou duas tias minhas casou foi candango que casou Mas tinha medo dos candangos Que aqui era terra sem lei J A P Relato ao INCRA Cheguei em 63 Quando solteiro a gente cassava festa os amigo que trabalhava Aqui n o tinha luz n o tinha nada at
156. co econ mico e social do Quilombo de Mesquita quando atrav s da agricultura cria o de gado e produ o de produtos tradicionais a comunidade de Mesquita tornou se aut noma em seu mais auto grau capitalizando para si principalmente na figura do patriarca Aleixo Pereira Braga melhorias estruturais como a vinda para a comunidade de professores de fora e constru o de escolas e at mesmo possuindo certa influ ncia pol tica frente as inst ncias decis rias e jurisdicionais da regi o O terceiro per odo hist rico relevante para os mesquitenses diz respeito aos dias atuais que s o resultado da decad ncia advinda depois do tempo do Aleixo e principalmente p s constru o de Bras lia Este tempo representa a fraqueza econ mica a baixa auto estima e a desagrega o social da comunidade causadas pela invisibilidade e marginalidade as quais o grupo foi submetido atrav s das novas regras posturas e c digos impostos pela chegada dos novos atores sociais na regi o e o estabelecimento das rela es capitalistas na produ o e no pr prio modo de viver dos mesquitenses Lembrando que a hist ria dos tempos atuais possui desdobramento no sentido em que a comunidade vem se organizando para reverter a atual situa o de decad ncia e depend ncia e ressurgir para os novos direitos adquiridos Figura 18 Tina e V Antonia Guardi s de Saberes na Comunidade Foto Antonia Samir 166 As gera es intermedi rias entre o
157. como o Jardim Edite os loteamentos Bem ti vi e Nova Cana entre outros foram feitos sem nenhum estudo dos poss veis impactos sobre o ambiente assim a perfura o de po os para abastecimento de gua na comunidade impactam a disponibilidade deste recurso para o Quilombo a ausencia da coleta de lixo dom stico e de capta o do esgoto das resid ncias tamb m trazem grandes problemas comunidade quilombola propriet ria hist rica daquelas reas A ausencia de capta o de esgoto coleta de lixo e a perfura o indiscriminada de po os ce cisternas traz grandes problemas sanit rios pois trar a propaga o de animais e microrganismos causadores de doen as para os seres humanos Figura 38 reas de Preserva o Permanente desmatadas em propriedades n o quilombolas dentro do Territ rio tnico Fonte RTDI 2011 259 Os loteamentos Jardim Edite Bem Te Vi e Nova Cana se localizam em terrenos de remanescentes de quilombos os quais segundo a legisla o tem prioridade na reivindica o de posse conforme o Decreto n 4887 2001 Art 10 Quando as terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos incidirem em terrenos de marinha marginais de rios ilhas e lagos o INCRA e a Secretaria do Patrim nio da Uni o tomar o as medidas cab veis para a expedi o do t tulo Art 11 Quando as terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos estiverem sobrepostas s unidades de cons
158. compra que o senador Sarney fez em 1980 de uma rea desapropriada irregularmente e que pertencia ao Quilombo Mesquita chama se Maria Pereira por causa do Ribeir o do mesmo nome que corta essas terras ele Sarney j era propriet rio da Fazenda Pericum cont gua comunidade e que unia parte da fazenda gua Quente lugar que tamb m h muito fora tirada do povoado O Sarney quando foi presidente Antes ele tinha um s tio a fazenda Pericum ao lado da fazenda que ele comprou que se chama gua Quente E nisso depois que ele passou a ser presidente ele comprou uma rea de terra do Seu Ant nio de Melo que foi umas terras tamb m tomada do pessoal do Mesquita Tomada por Seu Ant nio de Melo Seu Ant nio de Melo comprava por exemplo cinco alqueires e fechava dez Se comprava dez fechava vinte trinta alqueires Nisto o Sarney quando entrou na presid ncia ele passou a comprar esse terreno O Ant nio de Melo j tava muito doente e se ofereceu a vender a sede dele Porque a sede pr pria do Ant nio de Melo o Maria Pereira Fazia cacha a serrava muita madeira pro pessoal E essa Maria Pereira ent o ele ofereceu pro presidente Sarney S que o presidente Sarney porque n o comprava em nome dele Ele comprava pra outras pessoas outras pessoas JAP Relato ao INCRA O que representa para eles os de fora o meio ambiente A terra apenas um mero sustent culo s suas atividades econ micas a tal pont
159. corr ncias das fugas persegui es individuais ou coletivas resultando na uni o em torno de quilombos O escravo negro foi trazido for a para o Brasil Central J vinha da frica desestruturado de sua tribo A bem dizer destribalizado Partia portanto dos portos de 48 S o Paul da Bahia do Rio de Janeiro deBel m assim como de Minas Gerais mutilado e violentado cristianizado pela igreja e s vezes at marcado a ferro e ainda sujeito a sofrer outras viol ncias especialmente f sicas durante as longas e temer rias viagens for ado a acompanhar bandeiras tanger tropas a p sfugir sorrateiro para os matos ou enfrentar as perigosas Silva apud Moura 1989 No caso do negro do Planalto goiano os documentos hist ricos Ximenes apud Lemke 2012 refere se aos registros de chegadas entre 1759 e 1772 e afirma que foram emitidos 3 039 passaportes a comerciantes interessados em transportar escravos da cidade da Bahia para as diversas regi es dentro e fora da col nia Esses passaportes registraram a transfer ncia de 19 917 escravos que foram comboiados para fora de Salvador Apesar das lacunas encontradas nestes registros para os meses iniciais de 1759 e os finais de 1772 acredita se que 88 5 desses cativos eram africanos novos origin rios das rotas do com rcio atl ntico de escravos As localidades que mais absorveram africanos novos foram as regi es voltadas para as atividades mineradoras de cria o de g
160. creto passando para o governador de Goi s a miss o O marechal Pessoa respons vel pelo processo a poca foi em um avi o da FAB para Goi nia e ap s conversar com o governador Jos Juca Ludovico explicou a situa o e pediu a decreta o da utilidade p blica das terras do futuro DF para fins de desapropria o O governador segundo Ernesto Silva em uma longa reuni o fez o decreto estadual que foi assinado em 1 de maio com data da v spera O decreto estadual foi lido noite no Pal cio das Esmeraldas diante da sociedade de Goi nia ainda segundo relato de Ernesto Silva todo o Brasil tomou conhecimento dos limites definitivos do novo Distrito Federal Claro est que o an ncio do decreto estadual n o tinha esse poder de estabelecer os limites definitivos do novo Distrito Federal Na pr tica por m al m de instrumento legal contra especula o imobili ria foi um golpe de m ltiplos efeitos divulgou em primeira m o o s tio escolhido e os limites tra ados pela Comiss o de Localiza o incluiu o governo e a elite de Goi s como atores leg timos do processo de mudan a deixou para tr s a equipe de Juscelino e o governo de seu advers rio pol tico Caf Filho colocou o marechal Pessoa na pauta da imprensa para novas entrevistas Ernesto Silva 1999 Ernesto Silva afirma ter tido nessa poca uma intensa atividade de marketing para a mudan a da capital a quest o foi popularizada e o M
161. criv o dos Registros que escrevi nesta Villa deSanta Luzia aos 23 de julho de 1 858 Nada mais certificar dos aludidos assentamentos nos reportamos em vista do que foi requerido Eu 5 que digitei gt TEOR expedida pelo Servi o de dato e subscrevo a presente certid o de inteirc teor Certid o com os Registros Paroquiais em nome de Delfino Pereira Braga A promulga o da lei n 601 1850 a Lei de Terras visava operar uma regula o da estrutura fundi ria no Brasil por m ela segundo Costa 1983 era a nica maneira de garantir o trabalho livre nas fazendas Dificultando o acesso a terra aos ex escravos dedicados em sua grande maioria ao trabalho rural nem inclu dos como assalariados foram eles permaneceriam assim submetidos a grande propriedade e afastados da participa o da economia A Lei de Terras incidiu na reorganiza o espacial dos diversos grupos sociais e refletiu na composi o da malha fundi ria local Alguns escravos ex escravos ou j seus descendentes conseguiram se fixar em reas por m a maior parte ainda n o regularizada nos dias de hoje ficando esses grupos vulner veis Outros se apossaram ou mesmo receberam doa es de terras daqueles senhores que desistindo do empreito largavam todo o resto Muitos grupos foram e ainda ser o futuras v timas de despejos com a chegada dos donos da terra que ocupam sejam reais de direito ou grileiros Outros continuaram e continuar o trabalhando em
162. dade Sabe aquela rea onde o Jardim Edite hoje Pois aquilo era nosso Foi que aqui dentro teve uma briga de parente Assim teve morte E como aqui passou a ter estes neg cios de pol cia o tio foi preso A pra tirar ele da pris o teve que ter advogado E a n o tem dinheiro n Pagou o advogado com aquele peda o de terra aquilo tudo A 175 parece que o advogado vendeu e veio outro e outro At que teve um que come ou a vender estes peda os pequenininhos pra um monte de gente e come ou a encher isto a BLC O Jardim Edite trouxe muito roubo Ningu m mais pode deixar as coisas por a Tem que fechar a casa Tirou nossa paz CBP RTDI 2011 Relato ao INCRA Muita viol ncia morte E drogas L tem muitas drogas Como que ficam nossos jovens Tamb m est em cima de um manancial de gua que nosso T poluindo tudo Tem muito parente que mora l mesmo assim dif cil SPB O Jardim Edite foi o loteamento dentro do per metro do territ rio quilombola mais problem tico do ponto de vista da comunidade O acusam como respons vel por diversas mazelas vividas um loteamento de baixa renda que implica todas as dificuldades impressas na cultura urbana de periferia que se contrasta substancialmente com a l gica camponesa Foram cadastradas nesta localidade do Jardim Edite cerca de 500 ocupantes n o quilombolas vivendo em lotes pequenos Houve muita discuss o na comunidade sobre o melhor
163. dade 15 Voc conhece alguma hist ria lenda conto contado na escola ou pelos teus pais a respeito da hist ria quilombola de Mesquita Se afirmativo voc pode contar 16 Voc percebe caracter sticas marcantes da cultura quilombola nos jovens de Mesquita Quais 17 O fato de ser denominada comunidade quilombola faz diferen a na sua vida pessoal e social 18 Como deveria ser a Escola na comunidade quilombola ROTEIRO ENTREVISTA MORADORES QUILOMBOLAS Entrevista feita na semana de 16 a 22 de setembro de 2013 pela pesquisadora Dados de identifica o 283 1 Voc foi adequadamente informado sobre essa nossa conversa 2 Voc nasceu onde Qual a origem do lugar onde voc vive Me conta essa hist ria 3 Quem foram os primeiros moradores a povoar a rea da comunidade de remanescentes quilombolas de Mesquita Como adquiriam as propriedades 4 Qual era a base econ mica da popula o E atualmente essa base econ mica sofreu transforma es Explique 5 Em que trabalhavam o povo de Mesquita antes e atualmente 6 Quais eram os aspectos culturais do povo dos remanescentes dos quilombolas de Mesquita E atualmente 7 Voc aprendeu a lidar com o cerrado de que forma 8 Como era essa regi o de cerrado quando voc era menina 0 Me fala o que mudou 9 Os seus pais e av s viveram aqui em Mesquita Eles te ensinaram a lidar com as coisas de cerrado Me conta algumas dessas li es 10 Depois de Bras lia esse
164. dar in cio a e no futuro desse recursos aos viajantes da estrada que o governador da capitania de Minas Gerais pretendia abrir para Goi s lvares 1979 12 Ant nio Bueno de Azevedo seguiu viagem rumo ao oeste fixando seu arranchamento no local que denominou Arraial de Santa Luzia em 13 de dezembro de 1746 Conta tradi o que tendo mandado levar um pouco de areia do riacho tamanha quantidade de ouro encontrado que ele e seus companheiros n o conseguiam acreditar no que viam Mandou repetir a opera o de lavagem e a bateia trouxe mais granitos e palhetas de ouro Ajoelhando se agradeceu a Deus e invocou Santa Luzia dedicando a povoa o que iria se formar sob os ausp cios de seu nome Pimentel 1994 p 20 Assim surgiu Santa Luzia e para dar suporte minera o crescente no Arraial milhares de africanos foram levados a Goi s diretamente dos portos de Santos Salvador e Rio de Janeiro O fato de o arraial de Santa Luzia passar a depender da agropecu ria de subsist ncia contr rio ao que acontecia no per odo da minera o quando a Coroa proibia qualquer atividade agropecu ria na localidade inclusive o plantio de determinados g neros como a cana de a car visando n o diminui o do ouro coletado e a concorr ncia com a produ o das minas A agricultura naquele per odo era uma atividade de suporte em locais pr ximos s minas J a pecu ria teve maior destaque e obteve um mercado maior principalmen
165. das ficam distantes demais dos mercadores que poderiam compr los A indol ncia contribuiu bastante para levar os fazendeiros da regi o a essa situa o de pen ria Mas a mis ria que os embrutece e desanima deve necessariamente por sua vez aumentar sua apatia E esta chegou a tal ponto em muitos deles que dispondo praticamente de toda terra que lhes conv m eles n o chegam a cultivar o suficiente nem mesmo para seu pr prio sustento Saint Hilaire 1975 27 A r pida escassez do ouro projetou um quadro de estagna o e a consequ ncia vis vel de que seu apogeu fora substancialmente marcado pelo r pido enriquecimento de poucos homens em detrimento de todo o complexo de pessoas que passaram a viver de subsist ncia Enfatiza se que muitos nomes que compunham a elite de Santa Luzia simplesmente se apagaram no transcurso da hist ria Senhores de fortuna iniciada a decad ncia citadina emigraram deixando todo o resto Muitas de suas terras as irregulares sesmarias passam a abrigar os menos afortunados que acompanharam todo o ciclo de decl nio econ mico vivendo suas mazelas Bertran 2000 At o ano de 1850 Santa Luzia pertenceu comarca de Vila Boa atualmente Cidade de Goi s Em 5 de outubro de 1867 a vila passou a categoria de cidade atrav s do Decreto Lei Estadual n 8 305 de 31 de Dezembro de 1943 passando a se denominar Luzi nia RTDI 2011 Outra atividade com menor proje o comercial do que a planta o d
166. de Portugal e recebiam a incumb ncia de colonizar e explorar o territ rio Na hist ria fundi ria colonial do Brasil a institui o de dar dividir terras terras para os s ditos camponeses chegou junto com as caravelas e com algumas adapta es Foram as sesmarias Se em Portugal eram elas mensuradas em palmos de extens o por aqui implantou se por l guas de terras absolutamente inconceb veis no limitado espa o portugu s O donat rio era o respons vel pelas sesmarias e promoviam a ocupa o e produ o de renda engenhos povoamentos lucrando com todas as atividades ali exercidas Tamb m gozavam de isen o de taxas recebimento de rendas devidas Coroa e direitos de exporta o de escravos ind genas Nas d cadas seguintes 1548 at 1808 a Coroa instituiu o Governo Geral que perdurou at a vinda da fam lia real para o Brasil com o objetivo de centralizar e submeter os poder dos donat rios e ter um maior controle sobre a Col nia A partir de 1720 os governadores gerais j recebiam o t tulo de vice rei tamanho o poder do papel desempenhado Nos primeiros anos o Brasil possu a seu territ rio dividido em 58 quinze Capitanias e ao longo das novas explora es outras foram surgindo As primeiras investidas rumo s terras hoje conhecida com Goi s se deram um s culo ap s a chegada dos portugueses Em 1726 foram dadas as merc s das sesmarias ao Anhanguera e seus s cios na descoberta de Goi s uma
167. de onde emergem novas estrat gias conceituais Isso prop e a revaloriza o de um conjunto de saberes sem pretens o de cientificidade Leff 2007 p 168 Como nos ensina Maria C ndida Moraes 2003 p 151 7 estamos todos interconectados interligados por uma rede invis vel da qual cada um de n s apenas um de seus elos Interagimos influenciando um ao outro Na realidade participamos de um mesmo c ntico universal Cada um interage a seu modo e se liga re liga com todo o universo de determinada maneira seja pelo ar que respira pelo pensamento viajante pelo imagin rio do poeta pelos fluxos energ ticos que interagem e superam as barreiras f sicas que impedem que desocultemos a teia de rela es e de intera es que existem no micromundo das part culas at micas Santos 2008 afirma que os grupos sociais tradicionais t m seu dinamismo e tempos pr prios observa o oralidade experi ncia ntima e m tica com o espa o vivido e rela es de trabalho s o vivenciadas em c rculos familiares e de amizade A hip tese inicial dessa tese a de que os saberes ecol gicos s o repassados intergeracionalmente e s o usados como ferramentas de Educa o Ambiental pelas novas gera es do quilombo para tanto se acredita a capacidade de aprender com a pr pria viv ncia vem de experi ncias vividas do e no espa o do quilombo A observa o n o apenas ver mais que isso como afirma Matur
168. deol gico do Quilombo Mesquita que foi repassado um saber que vai al m da quest o de cor ou ra a da comunidade e de suas especificidades locais esse saber do quilombo vem de um longo processo de acumula o de saberes pr ticas e experi ncias de vida de v rias gera es ancestrais Al m de promover o intercambio a solidariedade e a integra o entre os quilombolas e os outros a Marmelada tem um car ter pol tico e a transmiss o desse saber geracionalmente talvez seja a mais importante forma de resist ncia A exclus o do negro no Arraial de Santa Luzia no per odo colonial e a sua invisibilidade hoje diante da globaliza o aqui representada pelos grileiros e fazendeiros do entorno do Quilombo Mesquita que tenta invalidar os valores do grupo tnico para assim melhor dominar a partir das diversas formas de invas o de ocupa o e incorpora o de reas nesse territ rio do fracionamento em pequenos loteamentos fazem da Marmelada um instrumento de re constru o identit ria para esse grupo dessa forma que defendo que a Marmelada um marco identid rio tnico re jelaborado pelos afro brasileiros que formaram e ainda hoje formam a Comunidade Quilombola de Mesquita A hist ria da marmelada produzida no Quilombo Mesquita inicia com o plantio do marmelo as pr ticas de conserva o e de armazenagem e o modo de preparar o doce E um produto imbricado e impregnado de valor social e cultural A
169. do pela cultura hegem nica que estabelece contato com outras culturas mas reafirma o padr o do contato colonial no silenciamento e desprezo que demonstra com outros saberes A oculta o e o descr dito destas pr ticas constitui um desperd cio de experi ncia social quer da experi ncia social que j se encontra dispon vel quer da experi ncia social que n o estando ainda dispon vel contudo realisticamente poss vel Boaventura 2006 A conversa que entabulei entre a hist ria e a pesquisa etnogr fica esperava recuperar acontecimentos invisibilizados ou perdidos em documentos no tempo mas que n o foram esquecidos pela comunidade Essa confabula o entre o Quilombo Mesquita de hoje a mem ria e a hist ria n o tinha como 137 finalidade comprovar as hist rias orais com a que encontra se documentada segundo Arruti 2010 N o lemos a mem ria como texto mas como perspectiva a partir da qual poss vel destextualizar os documentos escritos tomando os como falas pass veis da an lise antropol gica o objetivo era na verdade observar a imbrica o das lembran as trazidas por esse grupo sobre o espa o sobre o lugar onde eles vivem e relaciona las s press es fundi rias sobre aquele territ rio e ao objetivo geral do meu trabalho Os povos tradicionais como os da comunidade do Quilombo Mesquita aqui em estudo t m conhecimentos valiosos sobre o meio ambiente em que vivem tendo em vista o uso
170. do Centro Oeste do Brasil Bras lia Codeplan Editora UCG 1988 Hist ria da terra e do homem no Planalto Central Eco Hist ria do Planalto Central do ind gena ao colonizador Bras lia Verano 2000 BIESKI I G C Conhecimento bot nico tradicional hist ria de vida de uma raizeira do Quilombo Mata Cavalo Nossa Senhora do Livramento MT Monografia Especializa o IB UFMT Cuiab 2008 BOAVENTURA D Urbaniza o em Goi s no S culo XVIII Tese apresentada ao programa de p s gradua o em Arquitetura e urbanismo da FAU USP 2007 p 25 BOSI E Mem ria e sociedade lembran as de velhos Capa Companhia das Letras 01 01 1994 p gl9 BOSI E Cultura e desenraizamento In Cultura Brasileira temas e situa es S o Paulo tica 1994 cap 2 p 16 41 BOTREL R T RODRIGUES L A GOMES L A CARVALHO D C amp FONTES M A L Uso da vegeta o nativa pela popula o local no munic pio de Inga MG Brasil Acta Bot nica Bras lica V 20 n 1 p 143 171 156 2006 BOURDIEU P O poder simb lico rio de Janeiro bertrand brasil 2002 BRAND O Carlos Rodrigues Identidade e etnia constru o da pessoa e resist ncia cultural S o Paulo Brasiliense 1986 BRAND O Carlos Rodrigues Sobre a tradicionalidade rural que existe entre n s In OLIVEIRA Ariovaldo Umbelino de MARQUES Marta Inez Medeiros orgs O Campo no S culo XXI territ rio de vida de luta e de constru o da justi
171. do grupo rtnico e do lugar que fez parte dos seus passeios de inf ncia e ouvi diversas vezes a frase Conhe o desde menino ou me conhece desde eu menino Tamb m observei em uma conversa a preocupa o com a destina o e titula o das terras para os Quilombolas do Mesquita Aquela fazenda l era do meu av N o era terra de preto n o Visitante em depoimento informal pesquisadora durante a festa do Marmelo 2014 e feios m Mar mela Geta de Cidade O qe nto E is de 150 Anos ea pereira E adi o Jo o Adao a Ra e 1 Pan Mesquita Aa Pe unia Figura 14 Caixa da Marmelada Santa Luzia O laborat rio de um etn grafo representa ele mesmo e as rela es que ele mant mcom algumas pessoas em particular com seu pr prio jeito simples e astuto assitua es inesperadas nas quais ele encontra a si pr prio o papel que ele tem no jogo algumas vezes sem inten o em locais estrat gicos a amizade que ele pode ter com a principal fonte da pesquisa suas rea es de entusiasmo raiva e nojo umcomplexo mosaico de 129 sentimentos qualidades e ocasi es que d o a esse m todo deinvestigar uma caracter stica muito espec fica DESCOLA 1997 444 Cap tulo II 130 3 Metodologia Este trabalho tece sua base te rica e metod logica fundamentada na rela o entre as etnoci ncias e a ecologia humana apesar de que durante o processo de feitura desse trabalho surgiram outr
172. do os valores culturais e os territ rios tradicionais em especial o quilombola de Mesquita al m de outros elementos que comp em o Patrim nio Cultural de Cidade Ocidental 5 3 2 Extra o ilegal de madeira e inc ndios Pr ximo ao Quilombo ainda sobrevivem remanescentes de Cerrado s o reas pequenas menos que 20 ha e rodeados principalmente por casas balne rios fazendas de soja e sofrendo intensa press o por grileiros e empreiteiras que buscam terras para a venda para fins urbanos Associado a esse cen rio vive a comunidade do Quilombo Mesquita grande parte em condi es econ micas dif ceis e sem documento que formaliza o direito a terra natural que nessas condi es os remanescentes de Cerrado sejam defendidos pelos quilombolas pois onde se pode conseguir gua onde se pode extrair a lenha onde se pode coletar plantas medicinais frutas e muito raramente ainda encontrar animais que ainda resistem ao ambiente antropizado 247 Figura 34 Cerrado Envolvente Comunidade Foto Antonia SAmir 2011 A press o antr pica refletida com a proximidade de tanta moradia leva o Cerrado a ser periodicamente queimado por diferentes motivos o fogo colocado em lixo coivaras e mesmo pontas de cigarro jogadas no mato seco assim muitas vezes o fogo pode atingir tamb m as beiradas do Quilombo e faz com que as poucas reras naturais se tornem cada vez menores e mais degradas Nesse panorama reduz se cada dia mais o
173. do pela etnologia brasileira a interpreta o antropol gica do fen meno quilombola enfatizou ent o o car ter organizacional desses grupos sua auto atribui o e a forma pela qual eles constituem seus pr prios limites sociais com rela o a outros grupos independente de um ou uma lista de tra os de natureza racial ou cultural originada da interpreta o historiogr fica sobre os quilombos da col nia ou do Imp rio Ao inv s disso as fronteiras e os mecanismos de cri las e mant las isto os limites que emergem da diferencia o estrutural de grupos em intera o do seu modo de construir oposi es e classificar pessoas BARTH 1969 foi o que se considerou analiticamente relevante Arruti 2006 38 39 185 A organiza o como grupo remanescente de quilombo o sentimento de perten a a esta realidade hist rica de que decorre sua auto identifica o os impactos territoriais vividos decorrentes dos contatos inter tnicos e seus limites sociais s o elementos contrastivos em rela o sociedade envolvente A expans o de fronteiras sobre esses territ rios utiliza de variadas formas nem sempre acontece de forma expl cita luz do dia e de forma a ser percebida pelos moradores envolvidos apesar de atingir a toda a comunidade A comunidade teria que fazer um esfor o para interpretar os mecanismos diversos usados para a expropria o do seu territ rio Eles sentem os sintomas mas n o se sabem identificar as
174. do que a gente faz l em Mesquita querem levar para Cidade Ocidental Infelizmente desmembrou n s de Mesquita de Luzi nia para Cidade Ocidental porque os especuladores os p ra quedistas que vieram de fora os pol ticos de fora que achou e que sabe que o Mesquita cart o postal Ent o t o tirando os oprimidos de Mesquita pra poder ser os maior do mundo J A P Relato ao INCRA Quando se analisa o crescimento ao longo da BR 040 a partir da fronteira do Distrito Federal com Goi s percebe se o crescimento do tecido urbano ao longo de toda a rodovia a partir de Valpara so Configura se esse o cen rio onde estas nuclea es e povoados funcionam como os bairros de uma cidade de mbito metropolitano com poucos espa os vazios entre eles os poucos terrenos que ainda existem est o esperando a valoriza o imobili ria para se conurbarem como ocorre atualmente tamb m na Cidade Ocidental munic pio lim trofe e abriram se tamb m novas estradas para lig la Bras lia passando pelo quilombo Mesquita Foram surgindo outras aglomera es e pequenos loteamentos ao longo dessa rodovia 177 o antigo Barreiro rea onde antes vivia um grande n mero de descendentes de escravos se transformou em agrupamento de casas e o Jardim ABC se expandiu com a venda de lotes por imobili rias O territ rio de Mesquita sofre hoje com duas grandes press es por terrenos com car ter urbano O crescimento dos condom nios de alto padr o pa
175. dos que n o consigo listar A feitura da marmelada o cumprimento aos mais velhos a alus o aos mitos e a religiosidade que aparecem em suas falas e atitudes s o elementos que fazem parte do patrim nio cultural e tornam se vis veis atrav s da mem ria na continua o de uma tradi o impregnada de sentidos para a sobreviv ncia do grupo Nos olhos atentos das novas gera es que seguem os adultos enquanto conversam ou trabalham na lida di ria que os jovens e as crian as se familiarizam com as atividades absorvendo as e repetindo as nas brincadeiras As conversas entre os membros da fam lia desempenham a fun o de completar os vazios deixados pela observa o Para Amorozo o di logo entre as gera es de fundamental import ncia para conservar essas pr ticas tradicionais Em sociedades tradicionais a transmiss o oral o principal modo pelo qual o conhecimento perpetuado O conhecimento transmitido em situa es o que faz que a transmiss o entre gera es requeira contato prolongado dos membros mais velhos com os mais novos AMOROZO 1996 p 11 Ainda assim durante as conversas muitas vezes os entrevistados falaram que os momentos de conversas mais demoradas est o cada dia mais dif ceis j que os mais jovens mant m uma rela o de trabalho di ria com as reas urbanas vizinhas perdem o interesse no trabalho rural que segundo eles muito duro al m dos novos desejos de consumo que atrae
176. dos e valores aos elementos do meio ambiente se deve a tr s condi es cultura s caracter sticas biol gicas humanas e s experi ncias pessoais Neste trabalho sobre Mesquita j na introdu o partimos do pressuposto de que para se discutir a proposta da tese era importante considerar essas dimens es por isso nos cap tulos iniciais foi feita uma abordagem da etnog nese da comunidade relacionando a com os acontecimentos hist ricos no Brasil Central Mesmo apresentando as dimens es estudadas sobre a comunidade do Quilombo Mesquita em diferentes cap tulos nesse trabalho enfatizo que elas est o encadeadas e estritamente relacionadas fugindo assim da cl ssica tend ncia fragmentadora presente nas ci ncias modernas O trabalho aqui apresentado considera essa vis o transdisciplinar e multitemporal pois s se pode entender o significado de cada uma compreendendo se as rela es que existem entre elas Na proposta de di logo entre os saberes deve se pensar que o conhecimento n o se reduz ao conhecimento cient fico e com isso n o desqualificar outros saberes simplesmente porque n o s o cient ficos O f sico Marcelo Gleiser 1997 diz que s 10 da mat ria conhecida por n s e que h para al m do conhecimento cient fico um vasto conhecimento acerca da natureza desenvolvido por popula es que os criaram atrav s de culturas tecidas numa rela o ntima com a natureza e n o contra a natureza com
177. dos saberes aqui nessa tese pois descrevem os bens culturais associados ao territ rio onde se encontra o quilombo importantes para a mem ria hist rica da comunidade para as atividades cotidianas e de gera o de renda e para a imagina o art stica e l dica S o bens identificados como rios cachoeiras reas de plantio antigas e atuais morros caminhos hist ricos e atuais cemit rios grutas e pedras Este conjunto constitui refer ncias espaciais que tornam o territ rio um campo repleto de significado Existe um lugar em Mesquita considerado sagrado para a comunidade se refere a um fato que ocorreu em um dos caminhos que chegavam Santa Luzia conhecido como a Hist ria da Cruz de Sime o Um mesquitense fez um trato com outro assim se eu adoecer primeiro que voc voc vai me levar pra Luzi nia doente o outro foi e adoeceu e chegou no caminho ainda ia de bangiie voc sabe n A rede A chegou ali na Saia Velha nas Lages voc v uma cruz l antigamente A o que ia levando o outro doente o sadio foi que morreu naquele lugar A foi naquele 239 lugar enterrou l e fizeram a cruz chama cruz de Sime o A o outro seguiu pra Luzi nia doente e sarou ainda Deve fazer uns 70 ou 80 anos Quem me contou foi o finado Ageu Eu lembro que quando n s ia de p pra Luzi nia a gente passava por essa Cruz de Sime o A cruz n o existe mais porque o povo arou tudo tomou tudo era cheio de ar
178. du o para aquele ano amonta 3 mil quilos no valor de 9608000 2 3 quilos de ouro express o de toda a riqueza a que se resumia agora Santa Luzia 1 por cento do ouro extra do em 1764 de se observar que os dois nicos g neros de exporta o da capitania provinham do Planalto Bertran 2000 185 N o ser de todo exagero afirmarmos que esse produto exerceu singular influ ncia na economia luziana de igual forma ou em maior escala com o ocorrido com a pecu ria pois se muitos viveram com a atividade comercial bovina outros viveram e convivem com a industrializa o desse doce Pimentel 1994 45 77 Segundo o mesmo autor o doce era exportado ao litoral pois um fazendeiro do arraial comprava o excedente dos mesquitenses e o atravessava Conta se na regi o ressaltando se orgulhosamente a proje o nacional deste produto que o imperador Dom Pedro I degustava a Marmelada de Santa Luzia No per odo de ruraliza o de Goi s o status simb lico da marmelada rompe com a id ia de isolamento e abandono Por m ao que concerne legalidade de sua comercializa o rendia infimamente aos seus produtores que eram praticamente extorquidos pelas cobran as Reais Em 1804 era cobrado no julgado de Santa Luzia quase pelo mesmo valor que rendia ainda em boa fase a Contagem de S o Jo o 8678000 valor equivalente a toda marmelada exportada por Santa Luzia Bertran 2000 186 Se por um lado a Coroa n o assistia Goi s por out
179. e pequenas reas urbanas para a expans o de reas de povoa o essencialmente ligadas cultura rural economicamente significou mudan as nas rela es de produ o e com rcio Mesmo ainda existindo reas de minera o coexistiu em processo crescente a instala o de fazendas agr colas e de pecu ria Apesar do crescimento dessas reas seu impacto comercial foi insignificante restrito a pequenos com rcios da pr pria Capitania No que diz respeito ao aspecto pol tico administrativo Goi s continuou como rea de interesse da Coroa no entanto relegada a posi o de regi o distante bastante ausente dos eventos importantes presentes no longo eixo de interesses pol ticos e econ micos das reas litor neas da Am rica Portuguesa Souza Filho 2002 26 Se por um lado h a decad ncia da minera o o processo de ruraliza o promoveu a ocupa o territorial e nova defini o espacial No per odo aproximadamente de um s culo os diversos grupos goianos foram se organizando e desenhando seus espa os fluxos e rela es sociais internas devido ao dif cil acesso Aos poucos Goi s envolveu entre grupos que trabalharam somente para subsist ncia desenvolvendo a agricultura novas fazendas de gado que ser o os futuros pilares econ micos Mesmo que em todo do territ rio passasse a prevalecer a realidade agro pastoril configuraram se diferen as nas predomin ncias regionais em conseqii ncia das formas de povoament
180. e 2010 Em 21 de agosto de 1948 o presidente Eurico Gaspar Dutra nomeou uma Comiss o de Estudo para a localiza o da Nova Capital sob a presid ncia do general Djalma Polli Coelho Vinte meses depois o general entregou o relat rio final no qual endossou a proposta da Miss o Cruls mas ampliou a rea sugerida estendendo a em dire o a alguns rios que deveriam funcionar como limites naturais A nova rea 6 be 1 de 52 mil Km conhecida como Ret ngulo do Congresso e a mensagem encaminhada ao Congresso foi assinada em Corumb Mato Grosso Pela sua import ncia ficou conhecida como Mensagem de Corumb Em mensagem encaminhada pelo presidente Eurico Gaspar Dutra com rela o s conclus es a que chegou a Miss o Polli Coelho o Congresso Nacional ap s cinco anos aprovou a Lei No 1 803 de 05 de janeiro de 1953 que autoriza a realizar estudos definitivos para a escolha no Planalto Central de um s tio para a nova Capital Brasileira Com a san o da Lei coube ao presidente Get lio Vargas em junho de 1953 designar a realiza o desses estudos definitivos atrav s de uma Comiss o de Localiza o da Nova Capital presidida pelo General Aguinaldo Caiado de Castro O estudo deveria selecionar os cinco s tios que apresentassem a melhor solu o de compromisso entre os condicionantes A escolha do local em que se situaria a futura cidade sairia da avalia o desses cinco s tios e da defini o de qual deles s
181. e cana de a car e a cria o de gado bovino e que tem grande vincula o hist rica com o Quilombo Mesquita foi a produ o do marmelo e 62 a fabrica o da famosa marmelada de Luzi nia um dos seus patrim nios imateriais A cidade ainda hoje conserva a identifica o com o produto produzido no quilombo que apesar de estar hoje vinculado administrativamente ao munic pio de Cidade Ocidental permanece como tradi o e marca da cidade de Luzi nia Sobre a produ o de marmelada Meireles p 36 37 afirma que Das pequenas ind strias artesanais a fabrica o de marmelada tornou se tradicional e famosa desde o in cio e foi se impondo no mercado malgrado osobst culos consegiientes da escassez de transporte Ainda hoje s mbolo que identifica Santa Luzia em quase todo o Pais T 7 CAPITANIA DE GOYAZ 1809 ss DIVIS O EM JULGADOS demo Ee SF 4 Figura 9 Mapa dos Julgados Fonte Bertran 2000 O autor continua afirmando que a marmelada de Luzi nia foi talvez durante o s culo XIX e parte do XX o maior exemplo da limita o de atividades econ micas de grande magnitude no arraial as condi es eram pouco favor veis ou com escassas alternativas para a explora o de outras culturas que oferecessem resultados econ micos satisfat rios A estagna o econ mica foi inevit vel com o fim do ciclo do ouro A regi o e suas localidades ficaram merc de atitudes do Estado quase sempre inefic
182. e comprometia a elaborar projeto urban stico para a rea que atualmente n o est habitada para efeito de compensa o de valores Assim os herdeiros entraram na Justi a para ter o direito ao recebimento de indeniza o pela desapropria o das terras localizadas dentro do Condom nio Porto Rico e tamb m esperam o plano urban stico para que possam construir na rea ainda n o habitada Parte da cidade de Santa Maria foi constru da em territ rio quilombolas e o governo acordou com seus herdeiros o pagamento de indeniza o Figura 35 Placa colocado por Herdeiros do Quinh o 23 em Santa Maria DF Em reuni o com a AGEFIS os herdeiros comprovaram que a rea em quest o alvo de grilagem atrav s de fotografias Estamos sendo obrigados a proteger as nossas terras pois j temos inclusive constru o de igrejas e outras edifica es novas em rea que alegam ser do Pr DF quando na verdade nos pertence alertou um dos representantes do quilombo 252 A Associa o dos Herdeiros de Anast cio e Jo o Pereira Braga Quinh o 23 em 1960 por senten a foi feita a partilha geod sica da Fazenda Santa Maria cabendo aos autores o Quinh o 23 busca o pagamento da indeniza o devida pelo governo pela desapropria o das terras pertencentes ao grupo quilombola e destinada para o condom nio Porto Rico O Governo do Distrito Federal no entanto emitiu os termos de posse TCUs aos moradores atuais sem ter pago a
183. e culturas hegem nicas s o urgentes Vitorassi et al 2009 p 1 No Brasil a amea a a biodiversidade acontece em raz o do desenvolvimento desordenado e das atividades produtivas sem estudos pr vios esses danos est o presentes em todos os biomas a deteriora o do solo a contamina o dos corpos d gua o desmatamento s o alguns dos efeitos prejudiciais que podem ser observados Junta se a isso os efeitos da exclus o social e o elevado n vel de pobreza de parte da popula o no pa s Nesse estudo com o Quilombo Mesquita apesar de tamb m sofrerem com a exclus o social representada pela n o titula o das suas terras constatei que o grupo ainda abriga apesar dessas press es contr rias e do intenso processo de degrada o e apropria o das suas terras procedimentos culturais muito t picos de comunidades negras rurais 120 A Educa o Ambiental possui uma multiplicidade de dimens es conectadas entre si No plano epistemol gico est o as as reflex es os conceitos as teorias sobre s rela es entre sociedade e natureza No plano pr tico acontecem as a es em Educa o Ambiental atrav s de interven es em diferentes n veis nesse estudo essas a es se d o na comunidade do Quilombo Mesquita analisadas atrav s de uma pesquisa dos s mbolos pessoais e culturais atrav s de hist rias de vida de hist rias locais de lendas e de mitos A Educa o Ambiental nas comunidades tradicionais n
184. e de outro dono cada uma com sua forma coletiva e peculiar de apropria o Isto ampliava o raio em que se estabeleciam servindo de refugio a toda condi o diferenciada de negros inclusive 57 aqueles que mesmo ap s a concess o de liberdade se entendiam melhor entre pares do que inseridos em um sistema escravagista O processo de territorializa o destes grupos impunha regras pr prias de ocupa o da terra e rela es espec ficas com o meio em que viviam Formavam uma micro sociedade dentro de um universo mais amplo que abrangia todo Goi s Por outro lado os demais grupos sociais que tamb m faziam parte deste universo Goi s compartilhavam outras regras pr prias na lida com a terra No real sentido independentemente do grupo social eram pr ticas consuetudin rias que norteavam toda a ocupa o territorial em Goi s Pode se distinguir o processo de territorializa o das comunidades negras como uma forma peculiar abrangida por uma forma hegem nica goiana da lida com a terra Por m esta forma hegem nica tamb m pode ser distinguida da forma exigida pela Coroa a forma oficial Nos primeiros tempos do Brasil Col nia a administra o territorial se deu pelo sistema de Capitanias Heredit rias perdurando at 1821 antes da declara o da independ ncia Este sistema consistia na delega o de grandes por es de terras a particulares que recebiam o t tulo de donat rio Os donat rios no Brasil compunham a nobreza
185. e do grupo e o que estava vis vel nessas representa es observei que a hist ria atual da comunidade mostra uma complexa rede de atores e situa es de uso do territ rio contextos pol ticos e culturais divergentes fam lias remanescentes dos escravos tendo como n cleos principais a fam lia Pereira Braga Teixeira de Magalh es e os Lisboa da Costa reconhecidos como remanescentes de quilombos por m n o titulados falarei disso mais tarde os fazendeiros e seus sucessores que at hoje ocupam terras pleiteadas historicamente pela Comunidade chacareiros que compraram as terras de antigos moradores ou herdeiros impulsionados pelo pre o sobretudo por n o Associa o Renovadora dos Moradores e Amigos do Mesquita Areme 181 terem titula o definitiva muitos venderam enganados por grileiros que usaram de m f para a compra especuladores grileiros e empresas imobili rias com suas faixas amarelas oferecendo terrenos e lotes em reas quilombolas pesquisadores dos mais variados naipes e teorias que no af de responderem s suas quest es acad micas acabam por interferir nas rela es comunit rias entre outros O contato entre esses sujeitos no Quilombo Mesquita hoje apesar de aparentar ser harmonioso j se deu de forma conflituosa tanto pelas brigas territoriais ou por desacordos internos na condu o do processo de reconhecimento do grupo como remanescente quilombola esses fatos marcaram a hist r
186. e empoderamento dos grupos sociais Na esfera do PRONEA que resultou de uma ampla consulta p blica defendido que a participa o da sociedade civil deve ocorrer em especial nos tr mites decis rios sobre o acesso aos recursos ambientais e seu uso assim como no fortalecimento das ditas pr ticas comunit rias sustent veis pois aponta a necessidade de a EA superar de um lado as assimetrias nos planos cognitivos e organizativos j que a desigualdade e a injusti a social ainda s o caracter sticas da sociedade e de outro as pr ticas restritas disponibiliza o de informa es BRASIL 2005 p 34 Os problemas emergentes ocasionados por essa crise socioambiental levam a sociedade a indicar a educa o ambiental como uma pr tica social que poder ajudar na resolu o de tais problemas GUIMAR ES et al 2001 Assim uma articula o com a produ o de sentidos sobre a educa o ambiental combinado com o engajamento dos diversos sistemas de conhecimento capacita o de profissionais e comunidades inseridos numa perspectiva interdisciplinar A produ o do conhecimento deve envolver as inter rela es entre o meio natural e social com o desafio de constituir uma educa o ambiental que seja cr tica e inovadora nos tr s n veis formal n o formal e informal observando a constitui o de um novo perfil de desenvolvimento com nfase na sustentabilidade socioambiental JACOBI 2003 Os processos educ
187. e familiar Santos 2009 8 Esta poca marca um tempo de abund ncia de desenvolvimento e coes o social Aleixo Pereira Braga foi o lend rio l der comunit rio que estruturou Mesquita e trouxe avan o das conquistas materiais por possuir um olhar empreendedor que fortalecia a fam lia Aleixo filho de Jos Pereira Braga e de Maria do Nascimento que por sua vez segundo o mito de origem a descendente direta de uma das tr s ex escravas que herdaram a terra Ou seja Aleixo neto de uma das hero nas fundadoras Aleixo nasceu em 1881 na pr pria Fazenda Mesquita Deu in cio maior planta o de marmelo que houve naquelas terras pois possu a um s tio com mais de 86 alqueires Por conta disso empregava em seus marmelais outros mesquitenses todos parentes pois segundo afirmam at os dias atuais o trabalho com parente melhor porque n o correm o risco de colocarem pessoas estranhas dentro de casa Aleixo no entanto n o pagava seus empregados com dinheiro muitas vezes dava um capado porco como forma de pagamento ao servi o prestado Desta forma este tipo de rela o n o constitu a um mutir o pois era um trabalho permanente ainda que realizado por familiares e tamb m n o tinham um car ter essencialmente capitalista j que n o visava a subordina o pelo trabalho Santos 2009 9 A vida comunit ria era organizada pelo trabalho O modelo tradicional de produ o era baseado em trocas intra fami
188. e modernos estilos de vida Pelo contr rio elas s o capazes de organizar a pr pria vida de tal maneira que integre elementos da tradi o com novas e modernas maneiras de viver THOMPSON 2008 p 169 191 Cap tulo V 5 Dialogo entre tradi o e Modernidade N o importa que esses guerreiros sejam na verdade v timas de um conflito integralmente moderno que vistam roupas civis e marchem cantando can es crist s na imagina o popular eles s o signos plenos do primitivo libis para um evolucionismo que os coloca do outro lado de um abismo intranspon vel que os separa de n s Comaroff J amp Comaroff J Etnografia e imagina o hist rica Diante de uma realidade em permanente mudan a preciso escolher entre uma certeza do passado e uma nova realidade em constante muta o Para Giddens a modernidade reflexiva se refere ao processo de escolha entre as certezas herdadas do passado e as novas formas sociais o que leva reflex o ou at mesmo altera o das pr ticas sociais provocando a racionaliza o e a rejinven o de diversos aspectos da vida em sociedade A tradi o passa por esse processo de racionaliza o Giddens 1997 Isso significa dizer que os conceitos e categorias relacionados tradi o s o produzidos pelos atores sociais com o objetivo de atender s expectativas de suas pr prias a es e necessidade de rela es significativas em suas vidas Giddens 1991 conti
189. e os elementos naturais hoje desprezado por muitos al m muitas vezes de serem julgados ignorantes por fazer uso de rem dios caseiros ch s ou carrafadas e n o escolherem produtos da ind stria farmac utica Esses fatos reafirmam a import ncia de estudos que busquem compreender e registrar o conhecimento emp rico trazido secularmente por essa popula o A Educa o est presente no cotidiano do Quilombo Mesquita de v rias maneiras a rela o da Educa o ambiental encontra se na comunidade tanto no modo formal quanto no informal podem ser percebidas em diferentes ambientes As rotinas das fam lias na comunidade apresentam se cheias de simbologias que auxiliam na conserva o dos seus fazeres A riqueza no Mesquita constru da coletivamente falam sobre as formas de vida os ciclos naturais o clima a vegeta o entre outros elementos parte da vida das pessoas que ali vivem e conhecem sobre o cerrado que circunda a comunidade essa riqueza de saberes que age no uso e manuten o da biodiversidade do Cerrado Esses saberes s o tamb m os caminhos para a praxis de Educa o Ambiental na comunidade tendo estes conhecimentos como ferramentas pedag gicas para o di logo de saberes 197 Guarim Neto 2008 afirma que lan ar um olhar etnoecol gico sobre o ambiente e as rela es que dele emanam antes de tudo desvendar os valores escondidos em mensagens que nem sempre s o percebidas e que a
190. e qualquer militariza o do continente reservando o exclusivamente a atividades pac ficas 110 determinadas disciplinas que ora privilegiavam o estudo compartimentalizado dos recursos naturais e as solu es t cnicas para os problemas ambientais locais ora visavam despertar nos jovens um senso de maravilhamento em rela o natureza Pelicioni 2002 Muitos autores apontam 1965 e a Keele Conference Education and Countryside que ocorreu na Universidade de Keele Inglaterra como o marco para o in cio do uso do termo Environmental Education educa o ambiental que j era usado em meios espec ficos e a partir da conferencia alcan ou divulga o Pelicioni 2002 Pouco tempo depois em 1968 na Gr Bretanha implantou se o conselho para Educa o Ambiental voltado para a coordena o de organiza es envolvidas com os temas educa o e meio ambiente Pelicioni 2005 A d cada de 1970 marca o in cio da regulamenta o e do controle ambiental e tamb m das confer ncias internacionais com o debate sobre a rela o meio ambiente desenvolvimento assim a partir desse per odo aconteceram grandes eventos internacionais que trataram de Educa o Ambiental Em 1972 a Confer ncia de Estocolmo Confer ncia da ONU sobre o Ambiente Humano em 1975 em Belgrado Iugosl via a UNESCO promove o Encontro Internacional em Educa o Ambiental com 65 pa ses e em Outubro de 1977 a I Confer ncia Intergovernamental sobre Edu
191. e que d morte n Ent o o pessoal sempre preferiu deixar queto R RTDI 2011 Esse documento paroquial aponta para a ancestralidade da ocupa o da regi o pelos negros Este documento material se soma aos registros que se mantiveram na oralidade dos povos na arqueologia social e no desenho das pr ticas culturais sobre o espa o os mais marcantes elementos tnicos que solidificaram a identidade do grupo e a express o de sua concomitante territorial Sabe se que os negros ilegais antes do decl nio do ouro e tamb m da aboli o se juntavam aos grupos de negros legais ou alforriados num arranjo de invisibilidade em Mesquita A rea do Mesquita era considerada uma conquista da coletividade negra local ent o muitos negros que tinham sido obrigados a deixar suas terras ao redor devido ao xodo urbano se ajuntaram ali na terra a eles permitida Isto denunciava uma fronteira tnica captada no discursos dos de fora Ali era tudo preto como ainda hoje se pronuncia em Luzi nia a atual denomina o da cidade de Santa Luzia Este grupo social aos olhos dos de fora era uma unidade homog nea Mas as uni es se davam por trabalho casamento trocas e outras tantas forma de inser o comunit ria esse dado hist rico que em Mesquita s se aceitava negros at a segunda metade do s culo XX representando tamb m uma forma de manuten o da terra entre este segmento tnico 169 N o podia entrar outra Na
192. e referem tamb m prosperidade que existia no lugar o tempo bom era o tempo de Aleixo Santos 2009 afirma que o tempo do Aleixo era a poca em que a planta o do marmelo existia na maioria das casas dos moradores daquele povoado relembrado pelos mesquitenses como sendo o per odo em que as pessoas sobreviviam custa da terra onde era poss vel retirar boa parte de seu pr prio sustento atrav s da comercializa o da marmelada da farinha de mandioca bem como da planta o de ro ados como feij o arroz milho e outros produtos destinados ao sustento daquela unidade familiar O Relat rio do INCRA fala que um vasto plantio e a prepara o do doce eram orquestrados por Aleixo Pereira Braga que frente da fam lia liderava a comunidade Sua import ncia t o elevada para a mem ria do povoado que da mesma forma que opera o mito de origem conectando todos os indiv duos de Mesquita s ex escravas herdeiras as hero nas fundadoras todos tamb m descendem da for a organizadora e produtiva do marmelo personificada em outro her i Aleixo Pereira Braga 217 Este um per odo que sinaliza um tempo de abund ncia de desenvolvimento e uni o social Aleixo Pereira Braga foi o lend rio l der comunit rio que com o seu olhar empreendedor deu uma organicidade a Mesquita Catal o 201 l afirma que entre o macrocosmo e o microcosmo inscrevem se as mitologias buscando reatar natureza e cultura tal como um centro virtual
193. e vida Tais empreendimentos caracterizam se como as novas formas de habitar e obter lazer por meio dos condom nios horizontais e loteamentos fechados e tamb m do turismo gastron mico rural e ecoturismo Dessa forma as reas naturais pertencentes ao Quilombo Mesquita s o urbanizadas devido ao reencantamento que algumas pessoas t m pela natureza mitificada o que as motivam a abandonar o dia a dia urbano e procurar tranquilidade pr ximo s reas verdes Figura 36 reas dos Condom nios Dhama e Alphaville em reas requeridas como Territ rio Quilombola Fonte Google Earth 2013 255 Portanto temos a apropria o das reas verdes como mercadoria e por isso acess vel apenas queles que podem pagar Uma vez que abrigam uma forma de morar com acesso restrito a segrega o socioespacial consolida se Um dos condom nios mais recentes e de grande apelo comercial e que est na rea quilombola o do grupo Alphaville Urbanismo S A um dos v rios grupos imobili rios existentes no Brasil vinculados produ o desses condom nios foi criado h apenas 15 anos e atualmente possui empreendimentos distribu dos em todas as regi es do pa s totalizando 16 estados Segundo Teixeira 2002 configura se hoje como um grande alavancador de empreendimentos ao longo da BR 040 O ritmo de constru es continua aqu m do esperado pelos administradores do condom nio mas a tend ncia a m dio prazo uma certa polariza o
194. ecebida Nestes espa os de sociabilidade v rias rela es se estabelecem planejam se uni es e indagam sobre casamentos Tal como s o criadas nas folias rela es entre foli es de diversos povoados do interior mineiro e goiano tecem se tamb m la os apadrinhamentos e rela es de poder e trabalho entre os mesquitenses e fazendeiros que participam destes eventos A Festa do Marmelo realizada anualmente na comunidade a organiza o fica a cargo de fazendeiros e quilombolas n o uma festa s da comunidade Na verdade a festa feita pelos fazendeiros que possuem o papel principal na festa eles promovem discursos e leil es de reses de sua propriedade 226 para ajudar na constru o da igreja matriz os quilombolas s o expectadores e tem pouca atua o nessa festividade Ainda que os fazendeiros exaltem o marmelo e o seu doce produzido artesanalmente por algumas fam lias quilombolas s o eles que realizam a es concretas em descr dito da tradi o por meio da ocupa o do solo com planta es de milho e soja al m da especula o para a constru o de condom nios esses atos inviabilizam a continua o da tradi o e a composi o social que lhe pr pria Figura 26 Sede da Associa o Fonte Facebook Quilombo Mesquita At mesmo nas Folias quando o protagonismo dos quilombolas evidente ocorrem situa es que refletem as rela es sociais estabelecidas em Mesquita desde meados do s
195. efetiva descoberta do ouro em Minas Gerais Mato Grosso e Goi s e com a firme inten o da Coroa de expandir seus dom nios a oeste de Tordesilhas e o estabelecimento de algumas povoa es e aldeamentos fizeram parte dessa nova pol tica de explora o econ mica ocupa o e legitima o territorial 42 XTENDA o doa n z TA e ad x CAPITANIA DE GOYAZ A z Vila Arraiais do ouro cominhos hi i E i 8 ty a s q z E BE vos entosico comes oa a mst sesan comico ce igas B areis eposu imcontenta O irem coas secvese desai Vaes Amosis sere r Sinopa comisdos eerie m Li dm Ci endid por Vero ds Ms rosto PS e e NOS RUI So Coredo ds Goda a deter aver irem PeRNAMuUCO N danien meringis ds Cacique no Sopar b Batata or GERAES i 4 MINAS inin 4 O rematada Caron ga 3 Gapan Parles 3 Ui der q h EMPITANI ss a oo E vois E E ct r P pE me e AS uane e Figura 8 Os Arraiaes da Capitania de Goi s Fonte Goi s em Documentos Col nia Goi nia UFG 1995 p 44 A autora Boaventura 2007 prossegue relatando que durante o processo de busca pelo ouro nas Minas dos Goyazes ao final da primeira metade do s culo XVIII essas reorienta es do governo portugu s de que s os agentes pol ticos iam se responsabilizar pelo processo de constru o do territ rio Esse fato fez surgir uma vila mais
196. egavam coincide com a narrativa do decl nio da produ o de Marmelo O impacto nas rela es sociais insidia diretamente nas rela es produtivas A produ o do marmelo ficou cara A doen a do marmelo foi um pouquinho depois de Bras lia O rem dio que vinha batia mas n o combatia doen a nada E mesmo da terra Isso aqui era marmelada pra quem n o desse conta de fazer Deu uma doen a e matou Doen a da terra E broca foi invadindo Com o espa o de tempo Melhorava um pouco tornava a morrer SLC RTDI 2011 Relato ao INCRA Os p s de marmelo foi acabando Deu broca foi adoecendo a foi acabando O povo foi largando de plantar tamb m juntou com a doen a JTinha que ser uma ro a que desse conta de voc mesmo tocar P e a dez vinte pe o pra trabalhar Hoje voc n o p e nenhum CBP RTDI 2011 Relato ao INCRA A doen a foi essa O povo parou de plantar e parou de zelar Quando n o zela a coisa a morre Acaba tudo R RTDI 2011 Relato ao INCRA Assim embora o enfraquecimento do cultivo do marmelo seja relacionado a problemas pr prios da agricultura doen a da terra e tamb m falta de est mulo produ o na realidade a chegada da l gica capitalista na produ o no campo colaborou com esse decl nio lentamente essa l gica do capital que patrocinou a constru o de Bras lia e estendeu os seus mercados agroindustriais e em seguida estabeleceu se sobre
197. egue pessoas ilustres entre as quais ocupavam distinto lugar as seguintes cujos nomes declinamos para que a gera o presente e futuras bem conhe am os fundadores do munic pio e rendam o devido preito e homenagem mem ria deles Ant nio Bueno de Azevedo Sargento mor Jos Correia de Mesquita portugu s 1979 24 52 A regi o de Santa Luzia foi a mais rica em produ o de ouro no territ rio de Goi s e teve o auge de sua minera o entre os anos de 1747 a 1775 e as suas minas conforme vest gios em suas lavras ainda existentes em todo o munic pio eram em n meros expressivos e com uma produ o em alta escala Al m do contingente populacional que aqui aportou com contribui o valiosa n o s para o pr prio local mas para toda Prov ncia de Goi s Pimentel 1994 23 Todo o entorno das atuais cidades de Luzi nia e Santo Ant nio do Descoberto transformara se numa imensa mina T o grande o afluxo de pessoas e a demanda por novas minerais que houve se por bem em 1757 dividir a guardamoria sobrecarregada destes servi os de reparti o nos dois distritos do Palmital e do Arraial Bertran 2000 111 No ano de 1757 t o intenso era o trabalho de guarda mor que o pr prio capitao general D Luiz Mascarenhas decidiu dividir as minas de Santa Luzia em dois distritos passando a nomear o segundo de Palmital e designando como guarda mor o capit o Manoel Ribeiro da Silva No mesmo ano o capit o Jos
198. ens Por meio do programa os participantes trazem dados sobre o investimento na educa o quilombola e mostram os costumes cultura tradi es e realidade do quilombo D DR Jo CEEE TED FR a CUTE CUTE e COLT GUETO a em OS C fi D wwwinescorg br not c E D Mawel G D Maxwell 2 P Maxwell xiy 800 Programas utilit Galeria do Web Slice EE HotMail gratuito A Constru o do Pr I Antonia Groovesh C Outros favoritos EE Aplicativos 3 Sites Sugeridos Nova guia E artigo Jadely Santos pdt H IkaLeite 32 A 2 As m T Instituto de Estudos Socioecon micos Inesc uma organiza o n o governamental sem fins lucrativos n o partid ria e com finalidade p blica Tem por miss o Contribuir para o aprimoramento dos processos democr ticos visando garantia dos direitos humanos mediante a articula o e o fortalecimento da sociedade civil para influenciar os espa os de governan a nacional e internacional 219 Figura 22 Fotografias feitas por jovens quilombolas para a Revista Descolados INESC Um evento que ocorreu em Mesquita entre os caminhos de acessos Santa Luzia foi a Hist ria da Cruz de Sime o E v lida enquanto destaque pois o trajeto em que se desenrolou seu enredo tomou se sagrado para a comunidade Um mesquitense fez um trato com outro assim se eu adoecer primeiro que voc voc vai me levar pra Luzi nia doente o outro foi e adoeceu e chegou no caminho a
199. entos e oitenta e quatro cativos mais de quatro partes da popula o livre que trabalhava e trabalhava muito para matar a sagrada fome do ouro que devorou a metr pole Alvares 1979 74 Os historiadores de Santa Luzia referem se ocorr ncia de muitos batizados de escravos Bantos que eram os mais caros e desej veis na minera o e que existiam em um grande n mero no Arraial Isso me leva a lan ar a pergunta Seriam os negros do Quilombo Mesquita origin rios de escravos Bantos 56 Segundo o professor Reginaldo Prandi USP 2000 os bantos povos da frica Meridional est o representados por povos que falam entre 700 e duas mil l nguas e dialetos aparentados estendendo se para o sul logo abaixo dos limites sudaneses compreendendo as terras que v o do Atl ntico ao ndico at o cabo da Boa Esperan a O termo banto foi criado em 1862 pelo fil logo alem o Willelm Bleek e significa o povo n o existindo propriamente uma unidade banto na Africa O grosso da atividade agr cola e mineradora implantada havia mais tempo e espalhada por todo o interior rural foi garantida por escravos de origem banto enguanto as atividades urbanas mais recentes e concentradas nas grandes capitais da costa estariam mais estreitamente relacionadas aos sudaneses devido basicamente s mudan as de fluxo da origem do tr fico na frica nos diferentes momentos hist ricos que marcam esta ou aquela atividade econ mica no Bras
200. equente Proclama o da Rep blica em 1889 Novos olhares e perspectiva j se anunciavam rumo ao Centro Oeste O negro ainda imerso em um cen rio excludente Mesmo ap s a extin o do sistema escravista em 1888 pela Lei urea Goi s n o garantiu o acesso das popula es negras terra Aquelas que ocupavam as imensas reas vagas irregularmente ficavam at que algum advento hist rico que impusesse sa da ou luta por perman ncia Tamb m n o houve qualquer esp cie de pol tica p blica de repara o ou agrega o dos ex escravos Ao contr rio no processo de transforma o nas rela es de produ o para o trabalho assalariado houve pol ticas declaradamente racistas de migra o europ ia para o Brasil com o objetivo do embranquecimento da ra a permitindo a livre entrada de migrantes nos portos brasileiros exceto os ndigenas da sia e da Africa Com a instaura o da Rep blica em 1889 Goi s de Prov ncia passou a Estado Com a reforma pol tica uma medida que supria os anseios da elite goiana foi a defesa da id ia de interioriza o da capital 83 A Constitui o Federal de 1891 estabeleceu em seu artigo 3 a rea de 14 400 quil metros no planalto central a ser demarcada para transfer ncia da futura capital federal Art 2 Cada uma das antigas Prov ncias formar um Estado e o antigo Munic pio Neutro constituir o Distrito Federal continuando a ser a Capital da Uni o enquanto n o se
201. era irregular houve algumas perdas para a popula o local que n o poderia ser sequer indenizada pela terra De uma forma geral o pr prio empreendimento da constru o e a chegada maci a de pessoas provenientes de um universo cultural ainda distante assustavam os ocupantes Estes deixavam certo peda o de terra mais pr xima ao empreendimento migrando para outra localidade Mudan as locais e o encontro de realidades distintas iniciavam o per odo desenvolvimentista e a introdu o capitalista Aos poucos a chegada do dinheiro em esp cie provocou transforma o da rela o de trabalho em Mesquita o que por sua vez refletia se em mudan a com o meio ambiente e a forma de produ o tradicional Em Goi s a situa o de privil gio agropecu rio continuaria mas a partir das d cadas de 1960 e 1970 grandes investimentos v o incluir de novo a minera o entre as atividades econ micas relevantes do Estado Desde ent o a agricultura come a a se modernizar novas tecnologias de plantio surgem para o cerrado e agroind stria inicia uma fase de expans o Com a constru o de Bras lia chegavam al m de novos mercados tamb m investidores e fazendeiros na vizinhan a oferta de trabalhos mediados por dinheiro t cnicas e formas de produ o inovadoras diferentes meios de escoamento As pr ticas tradicionais aos poucos foram consumidas pelo mercado que se estabelecia na redondeza Mesquita n o podia competir com as nova
202. erem utilit rias para refor ar a identidade dos povos respeitando a fun o hol stica e pedag gica que tanto transmite os saberes quanto os renova para manterem se vivos ajudando assim na salvaguarda de toda essa sabedoria fundamental na preserva o da biodiversidade A press o fundi ria que sofre Mesquita a supress o da vegeta o levando ao desaparecimento de outros recursos naturais s o empecilhos na transmiss o dos saberes tradicionais ressignificados aos mais jovens pois esse conhecimento transmitido no dia a dia na viv ncia do cotidiano Como relata Edna Castro 2000 p 171 a natureza para as comunidades tradicionais o lugar de constante observa o e pesquisa sobre tudo o que faz parte do territ rio e principalmente o local onde s o produzidos e reproduzidos os saberes tradicionais Assim a falta no dia a dia dessas popula es das matas e demais recursos naturais se traduz tamb m na falta de condi es de aprendizagem do conhecimento tradicional 195 5 2 Os Saberes Observados na Comunidade Um dos objetivos nesse cap tulo conhecer as alternativas que a comunidade do Quilombo Mesquita usa para transmitir os saberes tradicionais intergeracionalmente e entender como esses saberes s o ressignificados e percebidos como pr ticas de reconstru o identit ria pelos jovens da comunidade al m tamb m da necessidade de ampliar o conhecimento sobre a cultura quilombola e valoriz la no conj
203. eria melhor ao estabelecimento da Capital Federal para isso seria necess rio sigilo envolvendo o processo pois com a escolha do s tio poderia acontecer uma corrida especulativa para compra das terras da regi o colocando em risco e tamb m empecilhos jur dicos o processo de desapropria o indispens vel constru o da cidade Dos s tios identificados apenas por cores a escolha caiu sobre o chamado S tio Castanho ne Ret ngulo do Congresso 52 000 quil metros quadrados ou 52 mil Km escolhidos pelo Congresso Nacional 93 Quanto minha opini o formada desde j com a mais solida e franca convic o que vos declaro que perfeita a salubridade desta vasta plan cie que n o conhe o no Brazil Central logar algum que lhe possa comparar em bondade A esta qualidade primordial do Planalto convem acrescentar a abundancia dosmananciaes d agua pura dos rios caudalosos cujas aguas podem chegar facilmente s extensas collinas quenas proximidades se v o elevando com declives suavissimos Luiz Cruls Relat rio Cruls 1892 S em 1955 no governo do presidente Caf Filho foi solicitada a delimita o do Distrito Federal em torno do s to castanho para que o presidente oficializasse a escolha e a decreta o da utilidade p blica das terras para fins de desapropria o Esta ltima teria de ser feita em sigilo para evitar a especula o imobili ria teriam que desapropriar as terras sem noticiar qual o s tio teria sido o
204. erizando o uso comunal que a terra tinha para a Comunidade Al m dessa licen a informal de uso aconteciam tamb m as vendas de partes das terras trazendo para o conv vio da comunidade muitos fazendeiros com outras l gicas de viver no territ rio da comunidade ocupando reas al m daquelas compradas criando conflitos com os moradores tradicionais Nas falas dos moradores constata se que muitas dessas vendas eram trocas e essas trocas eram desproporcionais e feitas por necessidades atendidas m dico dentistas etc e isso acarretava para a comunidade o desmembramento do territ rio e logo a desestrutura o da comunidade O pessoal ia comprando uns pedacinho de terra Por interesse deles porque l o cart o postal Cingiienta quil metros de Bras lia um lugar que tem gua uma terra f rtil uma terra muito maravilhosa Um lugar assim do povo humilde povo hospitaleiro Ent o todo mundo quer morar neste lugar na verdade J A P Relato ao INCRA 173 Como houve o evento da divis o interna da terra comum o que como descrito anteriormente alterou a gest o do territ rio foi mais f cil a abordagem dos n cleos familiares pelos interessados na terra Por isso que os mais velhos da comunidade associam a divis o interna entre Modesto e Ant nio Grilo s mudan as mais severas Dizem que o problema n o foi a divis o mas as vendas que passaram a ocorrer depois que cada um j tinha o seu peda o E
205. erva o constitu das s reas de seguran a nacional faixa dejronteira e s terras ind genas o INCRA o IBAMA a Secretaria Executiva do Conselho de Defesa Nacional a FUNAI e a Funda o Cultural Palmares tomar o as medidas cab veis visando garantir a sustentabilidade destas comunidades conciliando o interesse do Estado Art 12 Em sendo constatado que as terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos incidem sobre terras de propriedade dos Estados do Distrito Federal ou dos Munic pios o INCRA encaminhar os autos para os entes respons veis pela titula o uArt 13 Incidindo nos territ rios ocupados por remanescentes das comunidades dos quilombos t tulo de dom nio particular n o invalidado por nulidade prescri o ou com sso e nem tornado ineficaz por outros fundamentos ser realizada vistoria e avalia o do im vel objetivando a ado o dos atos necess rios sua desapropria o quando couber Dessa forma o org o municipal no caso a Prefeitura da Cidade Ocidental n o poderia ter autorizado os empreendimentos j que para se fazer um empreendimento dessa natureza deveriam ter a concord ncia jur dica Al m disso a comunidade tradicional tamb m deveria ser previamente consultada pois as mudan as significam transtornos ao cotidiano do grupo tnico A maioria dos quilombolas cultivam em pequenas reas sem manejo mas outros propriet rios ostentam em grandes
206. es da sociedade global Mesquita continuava sendo uma s mas a gest o do espa o passou a ser de cada n cleo familiar Fragmentada numa nova l gica a gest o do espa o agora respeitava o limite de cada fam lia A divis o de terras significou a mudan a de gest o do espa o de um lado o territ rio comum Mesquita De outro uma certa no o de propriedade privada minha terra no Mesquita Atrav s da heran a a permiss o ao uso e continuidade do trabalho na terra foi passada para os filhos e netos Assim a heran a passou a organizar a ocupa o territorial em Mesquita A terra paterna era dividida entre os filhos com o pai ainda em vida E assim sucessivamente entre as gera es Em tempos de terras dispon veis esta organiza o era satisfat ria O filho tamb m tinha acesso terra paterna em caso de produ o conjunta A manuten o da propriedade se dava de forma org nica e n o conflitiva dentro de cada n cleo pelos grupos dom sticos Quando o pai morria o seu lugar era dividido entre os filhos Na falta de herdeiro para assumir a terra do falecido ou mesmo quando a terra ficava muitos anos sem ser trabalhada Estas reas vazias sem trabalho s o chamadas de terra de ausente uma categoria importante de classifica o do ambiente que n o deve ser confundida com terra virgem Terra de ausente era a terra que ficava a As vezes a pessoa tinha aquela terra e morria N o deixava herdeiro Out
207. es e etc Melhorar a qualidade de vida dos anci os do Povoado Mesquita aumentando a sua auto estima pela valoriza o da sua hist ria de vida e pelas recorda es e reafirma o da sua import ncia hist rica para a Comunidade 288 DIN MICA Este projeto consiste no resgate e registro das hist rias reais vividas pelos idosos do Povoado Mesquita bem como no resgate e registro das hist rias relatadas por eles Posteriormente essas hist rias ter o dois caminhos l Ser o transformadas em pe as de teatro que ser o apresentadas s crian as e para toda a comunidade 2 Quando essas hist rias s o contadas logo ap s as crian as s o convidadas a fazer um desenho poesia ou m sica com base no que ouviram Esse material com a interpreta o infantil ser entregue ao idoso autor da hist ria Essa ponte entre gera es faz com que os idosos se sintam valorizados tendo suas mem rias reavivadas e suas hist rias reinterpretadas al m de possibilitar base documental para minha tese de Doutorado que trata dos Saberes Ambientais utilizados como ferramenta de Educa o Ambiental no Povoado Mesquita e DATA Outubro 2013 por ocasi o do dia das crian as e PARTICIPANTES Idosos indicados pela AREME Associa o do Povoado Mesquita e Crian as indicadas pela Escola e MOTIVADORES Professores da Escola Aleixo Pereira Braga e alunos do professor Elano A oficina acontecer em um dia inteiro os mais idosos
208. escolhido Ernesto Silva 1999 Cidades umites municipais Umites da Miss o Cruls A PARA Limites do Relat rio Belcher B NV Limites do Distrito Federal C S ios do Relat rio Bekh er 1 Castanho Verde Azul 4 t Vermelho Amarelo bs f i ji 1 k A Figura 12 Mapa geral do Ret ngulo com localiza o dos limites das reas indicadas pela Miss o Cruls e pelo relat rio Belcher Fonte CODEPLAN Esse receio de especula o imobili ria caso vazasse a informa o sobre o s tio escolhido antes de se tomarem medidas legais tinha ra zes na hist ria do Grupo de Santa Luzia onde est localizado o Quilombo Mesquita que desde a Miss o Cruls sempre defendeu a escolha do local 94 Em 1927 Germano Roriz deu novo impulso s a es do movimento mudancista implantando um loteamento denominado Planalt polis Os lotes ficavam pr ximos ao local onde est o atualmente os pal cios da Alvorada e do Planalto em terras ent o doadas pelo fazendeiro Delfino Machado de Ara jo que havia se sensibilizado com a campanha de Roriz Foi formada uma subcomiss o formada por tr s engenheiros sendo dois deles do Servi o Geogr fico do Ex rcito que fez o tra ado dos limites do futuro Distrito Federal em torno do s tio castanho compreendendo tamb m uma parte do s tio verde segundo colocado na avalia o O presidente Caf Filho em 28 de abril n o quis assinar o de
209. escrita em confronto In Afro sia n 16 Bahia publica o do Centro de Estudo Afro Orientais da UFBA em co edi o Edufba 1995 HABERMAS J Verdad y justificaci n ensaios filos ficos Trad de Pere Fabra e Luis D ez Madrid Trotta 2002a HALBWACHS Maurice A mem ria coletiva S o Paulo Revista dos Tribunais 2006 Los marcos sociales de la mem ria Barcelona Antropos 2004 HISSA C V O projeto de pesquisa valores e significados Belo Horizonte IGC UFMG 2009 INCRA Relat rio T cnico de Identifica o e Delimita o Bras lia junho de 2011 JACOBI P R Educa o ambiental cidadania e sustentabilidade Cadernos de Pesquisa S o Paulo n 118 p 189 206 2003 JORNAL Correio Braziliense Edi o 23 Setembro de 2013 LAYRARGUES P P CASTRO R S Org Sociedade e meio ambiente a educa o ambiental em debate S o Paulo Cortez 2000 LE GOFF Jacques Mem ria In Hist ria e Mem ria Campinas Ed Unicamp 1996 LEFF Enrique Saber Ambiental Cap X A forma o do saber ambiental Ed Vozes LEVI STRAUSS Claude Antropologia estrutural 6 ed Rio de Janeiro Tempo Brasileiro 2003 LITTLE Paul E Territ rios sociais e povos tradicionais do Brasil por uma antropologia da territorialidade S rie Antropologia Bras lia Departamento de Antropologia UnB v 332 2002 32p 274 LOIOLA M Lemke Trajet rias Atl nticas Percursos para a Liberdade Africanos e Descendentes na Cap
210. esse modo v se que a marmelada est vinculada forma o social do Quilombo Mesquita e ao seu processo hist rico cultural O trabalho familiar e os marmelais est o nas pequenas propriedades que restaram aos remanescentes quilombolas ou seja utiliza se a terra com m o de obra familiar para produzir de forma artesanal o doce que o s mbolo da pr pria comunidade quilombola de Mesquita Esse saber fazer culin rio faz refer ncia a autossufici ncia e a organiza o comunit ria atrav s da qual esses indiv duos resolveram um dilema fundamental de sobreviv ncia poca com a venda do produto A produ o da marmelada em Mesquita est imbricada no modo tradicional da comunidade se organizar socialmente Os relatos orais apontam que a produ o da marmelada est relacionada ao per odo colonial respons vel pelos anos de escravid o no Brasil como tamb m est vinculada subsist ncia das fam lias Mesquitenses e a um sentimento de perten a que conserva se na comunidade atrav s desse saber assim o Quilombo Mesquita se torna uma unidade singular Essa an lise decorre da narrativa de um casal sendo Tina filha de Mesquita A hist ria de vida fala do tempo passado A inf ncia da Tina foi no Quilombo Mesquita cuidando da horta das galinhas dos porcos ao redor da casa al m de buscar lenha e gua na l gica da sobreviv ncia Seus pais viviam da agricultura e por antes ser uma das atividades mais importantes do Mesq
211. eu sobre as vidas e experi ncias da comunidade O surgimento de Bras lia provocou desestrutura o da cultura tradicional na comunidade do Quilombo Mesquita Nesse conflito entre o contempor neo e o tradicional observei como se d a sobreviv ncia dos saberes tradicionais por meio da hist ria oral de alguns moradores do Povoado Para responder a essas perguntas atrav s de entrevistas sobre a hist ria de vida daquelas pessoas aprofundei a investiga o sobre narrativas em torno dos saberes tradicionais usando como parte te rica a 147 Sociologia das Aus ncias e das Emerg ncias de Boaventura de Souza Santos que permite a visibiliza o daquilo que foi exclu do ou colocado como margem pelo pensamento corrente certezas absolutas do conhecimento cient fico que afirmam que o lugar desses saberes o campo do esquecimento o campo do sil ncio guas 2010 Para rememorar e identificar saberes e fazeres como ferramentas ecol gica essa tese se propos escutar conversar reviver o saber e o conhecimento A escolha desse mix metodologico se explica pelo fato de querer explorar mergulhar nos casos sentidos e emo es Lidar com dados inesperados e ao mesmo tempo t o enriquecedores para a pesquisa reconhecendo os moradores mais antigos do Quilombo Mesquita como sujeitos da hist ria que produzem sabedoria 148 Cap tulo IV 4 O TE RICO DIALOGANDO COM O EMP RICO Conta me e eu vou esquecer mostra me e eu vou lembrar e
212. euni o de Moscou reafirmou os objetivos e princ pios orientadores propostos em 1977 considerados alicerces para o desenvolvimento da educa o ambiental em todos os n veis dentro e fora do sistema escolar Outra conclus o de Moscou foi que os objetivos da Educa o Ambiental n o podem ser definidos sem que se levem em conta as realidades sociais econ micas e ecol gicas de cada sociedade ou os objetivos determinados para o seu desenvolvimento deve se considerar que alguns objetivos da Educa o Ambiental s o comuns comunidade internacional A Educa o Ambiental tem suas grandes linhas de orienta es retiradas a partir de Tbilisi Nela tra aram se as prioridades nacionais regionais e locais e desenharam se as suas estrat gias e recursos instrucionais que dever o ser utilizados No Rio de Janeiro em 1992 a proposta de Tbilisi foi novamente confirmada na I Jornada Internacional de Educa o Ambiental evento que aconteceu paralelamente ECO 92 onde foi foi gestado o Tratado de Educa o Ambiental para Sociedades Sustent veis e Responsabilidade Global TEASS Esse documento enfatiza a import ncia da Educa o Ambiental como um processo educativo transformador e permanente na forma o de valores e na a o social para a cria o de sociedades sustent veis e equitativas baseadas no respeito a todas as formas de vida TEASS 1992 p 1 O TEASS 1992 credita s formas de produ o capitalista as
213. evistas 149 4 1 JUSTI A AMBIENTAL Direito a uma vida digna em um ambiente saud vel Partindo da situa o observada durante a pesquisa de campo da deterioriza o do ambiente natural e dos saberes tradicionais do Quilombo Mesquita em fun o de press es externas e mesmo sendo a comunidade tradicional mais pr xima de Bras lia este povo marcado pela invisibilidade social e historiogr fica al m da desenfreada ocupa o do seu territ rio que causa desequil brio ambiental sofrem tamb m a persegui o dos que lutam pelo seu territ rio e pela manuten o de seu modo de vida atrav s da conserva o do meio ambiente A categoria Justi a Ambiental na defini o de Acserald a condi o social onde a prote o contra os danos ambientais deveria ser igual para todos os grupos sociais o autor afirma que ela deve acontecer por meio de leis e regulamenta es que evitem que o mercado imponha suas decis es discriminat rias com base em ra a cor nacionalidade ou status socioecon mico A base filos fica da Justi a Ambiental diz que todos devem ter um tratamento justo e envolvimento efetivo de todos os grupos sociais no desenvolvimento implementa o e respeito a leis normas e pol ticas ambientais Acserald 2004 Por tratamento justo entende se que nenhum grupo social de ra a etnia ou classe s cio econ mica deve arcar de forma concentrada e desigual com as consequ ncias ambientais negativas resultan
214. ferenciados de apropria o uso e significado do territ rio neste trabalho preferiremos nos referir a conflitos territoriais ou conflito ambiental territorial de acordo com a diferencia o dos conflitos ambientais proposta por Laschefski e Zhouri 2010 A no o de conflitos ambientais territoriais evidencia situa es de injusti as ambientais relacionadas apropria o capitalista da base territorial de determinados grupos sociais e as tens es entre diferentes territorialidades Laschefski e Zhouri 2010 S o v rios os conflitos que podem ser observados na rela o da comunidade do Quilombo Mesquita com os outros esses outros est representado nos poderes hierarquizados Governo Federal INCRA Prefeitura Governo do Distrito Federal atritos q pol ticos n o aceita o da condi o quilombola por parte da comunidade Desmatamento do cerrado uso inadequado das reas nativas loteamentos condom nios e fazendas dentro do Territ rio em rea pleiteada como remanescente de Quilombo entre outros A regi o de Cerrado circundante ao Quilombo vem sofrendo um antigo e intenso processo de fragmenta o e degrada o desde a coloniza o portuguesa mas muito mais intensamente ap s o surgimento de Bras lia Hoje mais de 80 das reas de Cerrado foram substitu das por n cleos habitacionais pastagens soja Exemplificando cito um relato 243 frequente que fazem os idosos da comunidade sobre a
215. formalidade que me permitia introduzir outras quest es que surgiam durante a conversa Utilizei poucas vezes o recurso da grava o de entrevistas foram utilizados como ferramentas constantes o di rio de campo a observa o direta e os registros fotogr ficos todos autorizados pelos informantes Sobre o tipo de entrevista semiestruturada Matos e Pess a 2009 p 288 explicam que a mesma Necessita ter planejamento e opera es espec ficas para o seu desenvolvimento As entrevistas semiestruturadas se constituem na intera o entre perguntas abertas e fechadas previamente formuladas em que o informante tem a possibilidade de discorrer sobre o assunto proposto de forma mais espont nea Esse tipo de entrevista recomendado porque possibilita a obten o de mais informa es al m das previstas op cit Mesmo com o roteiro previamente elaborado durante a pesquisa as entrevistas conservaram a caracter stica de uma conversa na qual n o havia obrigatoriedade de as perguntas seguirem a ordem determinada pelo roteiro j que muitas vezes a resposta de uma pergunta respondia outra que vinha posteriormente assim tive que ir adaptando a conversa para ampliar o assunto sem cortar o rumo da prosa 141 A elabora o do roteiro da entrevista semiestruturada foi feito com a orientadora ponderando sobre o processo Anexo 1 e trazendo outras sugest es e observa es teve como fio condutor as pesquisas feitas duran
216. gi o em que surgiu o Quilombo de Mesquita A hist ria do Arraial foi escrita detalhadamente por Joseph de Mello lvares um historiador nativo nascido em 1837 que reuniu documentos de diferentes pocas e registrou acontecimentos conforme a tradi o oral da regi o Esta valiosa documenta o e as notas de outros autores permitiu a contextualiza o de poca referente s minas de Santa Luzia RTDI 201 1 O arraial de Santa Luzia foi fundado em 13 de dezembro de 1746 pelo bandeirante paulista Antonio Bueno de Azevedo filho do capit o mor Francisco Correia de Lima tamb m explorador de minas aur feras rumo ao Centro Oeste Estabelecido em Santo Ant nio de Paracatu em agosto de 1746 formou nestas minas uma grande bandeira de patr cios amigos e escravos marchando em rumo ocidental atravessou a serra de Louren o Castanho o rio S o Marcos o ribeir o Arrependidos fazendo alto margem de outro rio que batizou de S o Bartolomeu Arranchou se margem de um riacho que denominou Riacho Frio no 12 Atualmente essa regi o pertence ao Estado de Minas Gerais e corresponde ao que chamamos de Tri ngulo Mineiro E Regi es incorporadas ao atual territ rio goiano tocantinense uma que pertencia Bahia e que hoje faz parte do estado do Tocantins e outra que era de Minas Gerais e tualmente est incorporada ao territ rio de Goi s BARBOSA Altair TEIXEIRA NETO Ant nio GOMES Horieste p 55 14 Relat rio T cnico de Identifica o
217. gura 24 Participante Quilombola da Folia de Reis Foto Daiane Souza Flickr 2012 Figura 25 Cantoria em pouso de Folia Foto Sandra Pereira Figura 26 Sede da Associa o Fonte Facebook Quilombo Mesquita Figura 27 Galinheiro em quintal quilombola Foto Antonia Samir 2011 Figura 28 Horta em Mandala Foto Antonia Samir 2012 Figura 29 Viveiro no Quilombo Mesquita Fonte Rede Bart 2013 Figura 30 Mastruz ou Erva de Santa Maria Foto Flickr 2014 Figura 31 Fog o t pico em casa quilombola Foto Antonia Samir 2012 Figura 32 CEmit rio da Fam lia Pereira Braga Foto Antonia Samir 2013 Figura 33 Estrada Vicinal dentro do Quilombo Foto Internet 2012 Figura 34 Cerrado Envolvente Comunidade Foto Antonia SAmir 2011 Figura 35 Placa colocado por Herdeiros do Quinh o 23 em Santa Maria DF 18 19 22 23 23 27 41 43 63 89 89 94 96 129 136 157 164 166 203 206 207 220 223 224 226 227 229 233 235 237 238 241 246 248 252 Figura 36 reas dos Condom nios Dhama e Alphaville em reas requeridas como Territ rio Quilombola Fonte Google Earth 2013 255 Figura 37 P gina de Rede Social do Quilombo Mesquita denunciando a invas o do Galp o Comunit rio 02 de Agosto de 2012 Fonte Facebook 258 Figura 38 reas de Preserva o Permanente desmatadas em propriedades n o quilombolas dentro do Territ rio tnico Fonte RTDI 2011 259 Figura 39 DEsvio do C rrego Mesquita feito por n o quilombola prejudicando os moradores a
218. ha at a colheita Figura 21 Caixetas com Marmelada Foto site Slow Food Sobre o marmelo um antigo morador conhecedor das pr ticas da agricultura tradicional desenvolvida em Mesquita afirma existir uma Ci ncia do Marmelo pois uma planta de ciclo longo e 207 requer cuidados espec ficos no que diz respeito s t cnicas necess rias para a planta o poda e processamento do fruto em marmelada tal Ci ncia foi apreendida pelos quilombolas de Mesquita ainda quando trabalhavam nos marmelais de Jose Correia Mesquita o doador ou vendedor da Fazenda Mesquita para as tr s escravas do mito de origem ainda no s culo XVIII Santos 2009 A marmelada segundo a tradi o oral remonta ao chamado tempo dos antigos e denomina se Santa Luzia em refer ncia ao antigo nome de Luzi nia pois produzida desde antes da altera o do nome da cidade Embora atualmente devido s conting ncias hist ricas h poucos produtores todos os mesquitenses evocam sua imagem enquanto legitima o do discurso tnico Santos 2009 Santos 2009 referenda ainda que este produto liga Mesquita do passado ao Mesquita atual como uma pr tica cultural secular conservada por poucos integrantes da comunidade S o poucos os remanescentes que n o abandonaram do cultivo do marmelo e da produ o do doce de forma tradicional e tem prazer em passar seus conhecimentos para os mais jovens E ao transmitir estes conhecimentos ao
219. ho todo volunt rio pelos pr prios quilombolas que destinam um tempo para sua execu o O quilombo se associa ao Programa de Aquisi o de Alimentos PAA do Minist rio de Desenvolvimento Social e tamb m ao Programa Nacional de Alimenta o Escolar PNAE do Governo Federal Nesse programa tem parcerias com a ONG Rede Terra Conab Companhia Nacional de Abastecimento E atualmente est o tentando tamb m vender a produ o ao CEASA pois gra as as boas terras os produtores tem conseguido produzir al m do que os programas citados e a venda em feiras da cidade conseguem absorver Figura 28 Horta em Mandala Foto Antonia Samir 2012 233 A confec o de artesanato com madeira feita por um morador tradicional do Quilombo Seu Z reproduz na madeira todos os instrumentos usados na sua poca de inf ncia no Quilombo tais como Carro de Boi engenho de cana al m de fazer tamb m o a afr o de forma artesanal e secular de onde ele tira a renda para sua fam lia Esses produtos s o comercializados na pr pria comunidade a visitantes e aos moradores 5 2 4 1 o viveiro e as mudas para reflorestamento A Comunidade Quilombola de Mesquita j desenvolve na pr tica a es de reflorestamento Existe hoje um viveiro com cerca de 1 000 mudas de diferentes esp cies para serem plantadas nas reas desmatadas e nas margens dos c rregos e riachos da comunidade ent o not rio na comunidade o desejo dos moradores em a
220. i os importados Assim pouco ficou em 53 Santa Luzia para atestar sua grandeza como um dos centros mais importantes de produ o de ouro em Goi s Durante a poca da minera o a not cia da descoberta de ouro em Santa Luzia ocasionou uma migra o muito grande para a regi o ocasi o em que sua popula o chegou a 10 000 pessoas segundo metade do s culo XVII J perto de 1800 com o decl nio da minera o muitas fam lias foram abandonando a arraial e se fixando na zona rural passando a dedicar se a lavoura e a cria o de gado A popula o caiu ent o para a quarta parte da que existia no pico da minera o Em 1763 o local denominado Morro s margens direita do ribeir o Palmital e esquerda do ribeir o Inferno hoje chamado de ribeir o Santa Maria tamb m rico em ouro ampliava a extens o do distrito e o povoavam rapidamente Em 1770 houve a lend ria canaliza o do ribeir o Saia Velha para a explora o das minas do Cruzeiro Em 1772 foram exploradas as minas no Cubango Segundo Alvares devido sua extens o em 1773 Santa Luzia foi dividida em duas guardamorias Em 1774 houve a descoberta das minas no Bonfim s margens do rio Vermelho A canaliza o do ribeir o Saia Velha para a explora o das minas do Cruzeiro um epis dio simb lico e importante para este trabalho pois o ribeir o Saia Velha corta a regi o em que se encontravam espalhados os antepassados do que viria a ser Mesquita do
221. i cercada subitamente por uma ordem urbana Com conceitos e l gica pr prios mantidos por uma vis o de mundo muito particular o grupo dialogava com os de fora e com as press es sobre seus costumes e territ rios usando ainda os c digos de seu conhecimento tradicional claro que houve um conflito de verdades 107 Cap tulo II 2 A Educa o Ambiental de Tbilisi Uma Ecologia de Saberes Esse cap tulo propoe compreender a rela o entre o grupo social aqui estudado ou seja a Comunidade do Quilombo Mesquita e as quest es ambientais identificando e compreendendo a rela o dial gica entre os saberes propostos pela Educa o Ambiental e os saberes tradicionais constru dos e repassados em uma ecologia dos saberes Reigota 2002 afirma que a no o de meio ambiente apresenta se como uma representa o social tendo um car ter difuso e variado a partir dos questionamentos e dissensos do que significa meio ambiente o tema da pesquisa foi escolhido por entender que os quilombolas desenvolvem e repassam pr ticas ambientais O Quilombo Mesquita o resultado de um processo de ocupa o resist ncia e produ o no campo e muitas de suas atitudes e atividades est o relacionadas com o meio ambiente e a educa o ambiental Al m da import ncia hist rica da luta pela terra por parte dos quilombolas do Mesquita e da heran a herdada como uma comunidade tnica o Quilombo Mesquita apresenta se como o nico qu
222. ia deste territ rio assim sendo a categoria conflito ser aqui analisada como determinante para compreender as diferentes l gicas de uso e apropria o daquele espa o tnico Apesar desses conflitos desde minha re aproxima o comunidade 2010 as terras se valorizaram a especula o fundi ria cresceu e ali se instalou com uma efic cia muito maior que a pr pria comunidade despertando interesses de empres rios de outras regi es agravando o conflito fundi rio temos visto a expans o da grilagem com faixas de venda de lotes em condom nios de diferentes padr es do mais simples aos mais luxuosos tudo acontecendo em terras historicamente ocupadas e pleiteadas pelos quilombolas inviabilizando e diminuindo a continua o da reprodu o socioterritorial dos antigos moradores Nesse processo da pesquisa pude constatar que nessa regi o do entorno de Bras lia quem tem capital tem poder e esse poder se torna maior que os saberes que pesquiso na comunidade quilombola ou seja o poder econ mico garantido pela omiss o das institui es do Estado na figura dos grileiros despreza culturas a mem ria o territ rio tnico Milton Santos menciona os mecanismos sutis utilizados pelas frentes de expans o em particular a capitalista para apontar as formas como as economias tradicionais s o engolidas pelo sistema hegem nico sem que seja percept vel num primeiro momento fazendo refer ncia a um ordename
223. ia e de perten a muito fortes Os s mbolos que est o ligados exist ncia e afei o ao lugar exercem um papel importante na constru o da identidade da comunidade 4 2 1 Mem ria O passado reconstru do n o ref gio mas uma fonte uma fonte um manancial de raz es para lutar A mem ria deixa de ter um car ter de restaura o e passa a ser mem ria geradora de futuro BOSI 2002 p 66 quando falo de Tradi o n o me refiro a algo congelado est tico que aponta apenas a anterioridade ou antiguidade mas aos princ pios m ticos inaugurais constitutivos e condutores de identidade de mem ria capazes de transmitir de gera o gera o continuidade essencial e ao mesmo tempo reelaborar se nas diversas circunst ncias hist ricas incorporando informa es est ticas que permitem renovar a experi ncia fortalecendo seus pr prios valores SANTOS p 134 160 As comunidades tradicionais e aqui se enquadra o Quilombo Mesquita que tem caracter sticas de comunidade tradicional usam esse caminho da busca na mem ria dos saberes tradicionais para a sua sobreviv ncia ao longo do tempo A mem ria n o s um fen meno de interioriza o individual ela tamb m e sobretudo um fen meno coletivo Sendo a mem ria uma constru o social a mem ria em parte modelada pela fam lia e pelos grupos sociais Halbwachs 2006 A mem ria fundamental posto que organiza a identidade pessoal e
224. iados modos de apropria o uso e significa o do territ rio de modo que um determinado grupo se sente amea ado em suas formas sociais de apropria o e distribui o dos recursos naturais por impactos indesejados ocasionados por outro grupo ou atores Muniz 2009 p 190 Esse espa o conflitivo vivenciado hoje pelas diferentes l gicas de uso do territ rio pelos quilombolas e os grupos sociais envolventes fazendeiros moradores dos condom nios popula o da Cidade Ocidental a realidade apreendida de forma diversa cada um dentro da sua l gica de apropria o do espa o numa clara referencia s fronteiras tnicas definida por Barth 1998 Aqui se faz a dicotomiza o entre os fora e n s do quilombo Ou seja uma via de m o dupla se por um turno o contato dos quilombolas com grupos de cultura diversa da sua em conjunto com mescla das realidades rural urbano em Mesquita desagrega a comunidade no plano social por outro fortalece a constru o coletiva sobre a sua identidade tnica e a consci ncia pol tica sobre seus direitos Isso torna poss vel a compreens o de uma forma final de manuten o de fronteiras atrav s da qual as unidades e os limites culturais persistem Situa es de contato social entre pessoas de culturas diferentes tamb m est o implicadas na manuten o da fronteira tnica grupos tnicos persistem como unidades significativas apenas se implicarem marcadas diferen as no comp
225. iago Fernando Sant Anna 2008 que relata pr ticas cotidianas das escravas como pr ticas abolicionistas elas souberam resistir silenciosamente no trabalho e no v nculo solid rio cotidiano com seus donos Seguindo ainda a teoria do autor e interpretando a doa o da Fazenda Mesquita s tr s escravas em uma matriz de caracteriza o do sistema escravista cujas rela es se davam em termos de resist ncia e acomoda o e na exist ncia de espa os de negocia o entre propriet rios e escravos baseado no autor pode se dizer que a doa o da fazenda envolveu uma pr tica comum nos discursos abolicionistas da poca e na cultura da sociedade escravista onde as rela es entre escravos as e propriet rios as eram ao mesmo tempo de aprisionamento e de liberta o 67 A literatura hist rica reafirma a posi o de ref m a qual a pol tica escravista colocava tanto os escravos quanto aos seus donos pelos la os de depend ncia estabelecidos essa rela o era aumentada pelas estrat gias constru das pelos escravos especialmente na esfera dom stica uma vez que nessa rela o havia um jogo de incentivos a projetos de alforria e de limites aos mesmos Sant anna 2008 afirma que mesmo as elites procurando atribuir alforria o sentido de concess o de a o benem rita a emancipa o aconteceu principalmente por essas suaves a es de resist ncia John Scott 2011 diz que para a maioria das classes suba
226. ial uma contribui o para o debate metodol gico para os estudos de conflitos e movimentos sociais na Am rica Latina Trabalho apresentado no Semin rio internacional Conflicto Social Militarizaci n y Democracia en Am rica Latina nuevos problemas y desafios para los estrudios sobre conflicto y paz em la regi n Argentina Buenos Aires 2002a mimeo Carlos Walter A globaliza o da natureza e a natureza da globaliza o Rio de Janeiro Civiliza o Brasileira 2006 GONZ LEZ REY F 2005 Pesquisa Qualitativa e Subjetividade os processos de constru o da informa o S o Paulo Thomson Learnig 273 GONZ LEZ Catherine Naturaleza pol tica y acciones colectivas de los movimientos sociales un emblem tico caso de movilizaci n ind gena univ humanist online 2010 n 70 Accesso 12mar2014 Goyaz 1848 In TELES Jos Mendon a Vida e obra de Silva e Souza Goi nia UFG 1998 p 74 GUARIM NETO G Refletindo sobre ambiente e cultura a etnobiologia a etnoecologia a etnobot nica o saber tradicional instalado e mantido Tangar da Serra MT jun 2008 Dispon vel em lt need unemat br 3 forum artigos html gt Acesso em mar 2014 GUIMAR ES M Educa o ambiental e gest o para a sustentabilidade In SANTOS J E SATO M Org A contribui o da educa o ambiental esperan a de Pandorra S o Carlos Rima 2001 GUSM O Neusa Maria Mendes de Terras de uso comum oralidade e
227. ica em 1891 Disso decorrendo suspeitas de invalidade de tal documento 2 Relata ainda o rg o ministerial que a matr cula do im vel n o reproduz o teor do assento eclesi stico apenas mencionando artificiosamente no texto da matr cula que a rigor transcreve trecho de decis o judicial proferida em 20 12 1960 pelo MM Ju zo da Comarca de Luzi nia GO por ocasi o do julgamento de divis o judicial da fazenda Santa Maria Relata ainda que tal pr tica fora usada ardilosamente para dar seguimento cadeia dominial na qual se verifica haver quebra do princ pio da continuidade do registro imobili rio havendo quanto a isso inclusive hiato entre o per odo que medeia o registro paroquial de 1857 e a senten a judicial de 1960 esses s o os aspectos fundamentais da argiii o de nulidade da matr cula do im vel aos quais s o somados outros no mbito daquela a o civil p blica Existem variadas alega es buscando n o legitimar o direito de propriedade que os quilombolas tem sobre a propriedade da rea os reclamantes s o pessoas e empresas com extensa atua o na grilagem de terras nas reas do Distrito Federal e entorno Uma das alega oes de que por cerca de 150 cento e cinquenta anos de processo sucess rio os quilombolas jamais tomaram posse da rea e afirmam tamb m que at mesmo os pr prios autores reconhecem que nunca deram rea destina o compat vel com sua natureza original agr ria e e nem f
228. icinais na maioria das vezes demonstrado em conversas com os mais idosos da Comunidade incluindo aqui as donas de casa os raizeiros as benzedeiras as av s etc que trazem esses conhecimentos recebidas dos antigos A recupera o dessas informa es indispens vel pois esse conhecimento serve de ajuda para se obter informa es da potencialidade medicinal da flora do Cerrado ajudando no debate da sobre o uso dos recursos ambientais e tamb m sendo utilizado como um instrumento para Educa o Ambiental Hoje em dia as plantas medicinais s o estudadas sob diferentes enfoques a interdisciplinaridade um caminho para se conhecer o potencial e riqueza vegetal sendo um dos caminhos para orientar as atividades de Educa o Ambiental com essas popula es 5 2 6 Conhecimento do ciclo de vida No quilombo Mesquita a vida social est organizada em fun o da divis o do trabalho no cotidiano das fam lias a mulher tem um papel fundamental no que diz respeito satisfa o das necessidades da fam lia e manuten o da casa Ela tamb m respons vel pelo cuidado com a horta e os animais A casa n o fica restrita s ao espa o constru do mas inclui tamb m o terreiro local que rodeia a casa e onde de criam pequenos animais tais como cabra 237 galinhas e porcos para o sustento da fam lia Essas atividades de responsabilidade da mulher n o um trabalho s da m e inclui tamb m os filhos Assim a
229. identes locais e investidores externos instituiram e organizaram se igualmente em outra associa ao APROMAQ Associa o dos Produtores do Mesquita e colocaram se contra a a o de titula o de suas terras com o argumento de que tal evento impediria o desenvolvimento econ mico local e impediria os de ter acesso documenta o individual de seus im veis 257 5085085 15 ESTO STE C fi E https www facebook com per php story fbi 33431700 J amp id 2428 x VT conflito x NT contita x YE o probie x Y ay www ut mua a f oS E Aplicativos S Sites Sugeridos Novaguia 49 Maxwell 3 P Maxwell 2 XP Maxwell iy 800 Programas utilit Galer eb Slice lail gratuito A Constru o do Pr 5 Antonia Groovesh C Outros favoritos Eru pessoas ease cosas aaau E tes iwa ieor py Quilombo Mesquita PESSOA ALVEZ CONH Ver to hoje a tarde ouve a invas o do galp o comunit rio do quilombo mesquita onde ha eventos a bana Som de quilombo realiza se os projetos da associa o renovadora do quilombo mesquit nesse local Onde os quilombola que n o querem se reco onhecer e os n o quilombola que s o de fora querem tomar esse galp o para fechar para o uso s desses que n o s o a favor do quilombo PEDIMOS A AJUDA DOS QUILOMBOLAS COM FOR A MORAL CONTRA ESSES QUE N O ACREDITAM NO QUILOMBO NOS N O PODEMOS DEIXAR ELES VIM ACABAR COM O QUILOMBO TEMOS QUE DEFENDER NOSSO LOCAL IGUAL ZUMBI LUTOU
230. ido a legitima o da aquisi o da terra Vieram muitos escravos pra c e tr s escravas registraram a terra depois de medir e pagaram no cart rio Vinha desde o Maria Pereira Uma dessas tr s escravas era mulher do meu bisav SLC RTDI 2011 Observa se nessa fala a necessidade de legitimiza o da ocupa o para os de fora Se o c digo a doa o de um Senhor como o era no in cio do s culo XIX que seja a doa o Se o c digo privilegia a compra como atualmente que seja a compra Neste contexto pode ser apreendida mais uma fronteira tnica Herdar a terra de um Senhor era um c digo utilizado na rela o com a sociedade envolvente e n o era um c digo que balizava as pr ticas internas do grupo nesta poca O mesmo ocorre com a situa o da compra Se evocado a heran a ou a compra o arremate para validar para os de fora sua ocupa o sobre terra com vistas a garantir a perman ncia dos negros nestas reas Distintamente no ordenamento interno da comunidade o trabalho sobre a terra era o c digo que validava a ocupa o e n o a proximidade de parentesco a estas tr s escravas e nem a comercializa o da terra Independente do c digo necess rio legitima o da ocupa o para a sociedade envolvente a terra conquistada era uma fortaleza aonde se podia viver uma outra din mica estruturalmente diferenciada daquela que os condenou Um tratado para dentro outro par
231. iedade ap s a minera o Chaul 45 cl rigos e religiosos de diveos institutos muitos dos quais n o tem no Brasil nem convento nem casa Antonil 1963 72 apud Palac n 2001 O antigo territ rio goiano era formado por outras regi es como a do Desemboque antigo Sert o da Farinha Podre estava a sudeste e era no s culo XVIII apenas um caminho cortado pela estrada do Anhangiera que ligava S o Paulo s reas mineradoras de Goi s e Mato Grosso 2 Al m do Desemboque outras regi es tamb m fizeram parte da Capitania aquelas que se localizavam pr ximas aos rios Apor Pardo Araguaia e das Mortes atualmente pertencentes aos territ rios de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e as terras que se situavam a noroeste e nordeste da Capitania regi o conhecida como Bico do Papagaio As do noroeste foram cedidas para o Par com lit gios que duraram de 1804 a 1920 e as do nordeste para o Maranh o entre 1810 e 18382 Dessa forma estendendo se de norte a sul por quase dois mil quil metros quadrados de extens o e avizinhando se de quase todas as outras regi es da col nia luso brasileira formou se a antiga Capitania de Goi s O governo de toda esta regi o era exercido pela capitania de S o Paulo Em 1748 foi criada a capitania Geral de Goi s por m passou algum tempo com menor autonomia para s ent o se efetuar o seu real papel Um dos ltimos veios aur feros descobertos na capitania de Goi s foi o arraial de Santa Luzia re
232. ientes carecia da busca por outras atividades rent veis para a regi o Segundo a Rela o das Couzas mais Not veis e not cia formal destas Minas do julgado de Santa Luzia integrante da Not cia Geral da Capitania de Goi s em 1783 havia no julgado 14 engenhos de moer cana e 3 engenhos de pil es de fazer farinha de milho A maior parte encontrava se nas imedia es de Luzi nia e citamos os maiores de Manoel Dias Roriz com 75 escravos o famoso engenho da Palma do coronel Jo o Pereira Guimar es com 78 e o maior de todos do capit o Jos da Costa Vieira com 118 escravos Nas nove lavras de ouro citadas nesse ano apenas duas tinham uma quantidade superior em escravos a esses tr s engenhos que n o eram portanto neg cios de somenos Bertran 2000 63 Na leitura de Bertran vimos que esses engenhos em n mero cada vez menor passaram a ser apenas locais de produ o agr cola diversificada dos 17 engenhos citados em 1783 n o havia em 1810 sequer meia d zia que merecesse essa denomina o Surgem os s tios de subsist ncia familiar uma f rmula simples de dois ou tr s homens plantando um pequeno trato de terra que fornecia os alimentos do ano era a economia rural da fartura termo muito utilizado pelos moradores do Quilombo para se referir a prosperidade Seria pura perda se os colonos plantassem milho feij o e arroz em quantidade superior necess ria ao sustento da fam lia porque excetuando
233. il Prandi 2000 Devido disparidade entre livres e cativos exposta anteriormente adicionada a um n mero irris rio de oficiais e tamb m migra o de desordeiros outra caracter stica de Santa Luzia n o muito diferente de todo o Goi s foi o estabelecimento de uma mil cia pr pria pois a for a oficial enviada de S o Paulo era insuficiente para conter os assaltos ordem Segundo Alvares bandos rebelados roubavam matavam insurrecionavam a escravatura amea avam propriedades constituindo uma amea a estrutura social posta Instaurou se ent o neste local isolado uma forma selvagem de se impor n o s as leis mas tamb m a garantia da manuten o da estrat f ca o social e os interesses dos detentores do poder desta mil cia Bertran 2000 Muito comum em todo rural goiano era o fato de que os negros livres na terra em que se fixavam recebiam outros negros sem proced ncia ou mais expressamente rebelados e fugidos Assim estabeleciam se trocas e ampliava se a m o de obra Este tipo de processo em longo prazo enraizava uma comunidade negra rural pois com o tempo constitu am se fam lias matrim nios passariam a ocorrer e tudo o mais que a vida em comunidade impunha Bertran 2000 Devido inexist ncia de cercas nas imensid es de terra sem ocupa o caracter stica das primeiras sesmarias em Goi s as comunidades negras iam se expandindo territorialmente nos locais vagos mesmo que se soubess
234. ilidades pr ticas para participar respons vel e eficazmente da preven o e solu o dos problemas ambientais e da gest o da quest o da qualidade do meio ambiente UNESCO 1997 p 98 Esse objetivo fundamental por propor uma Educa o Ambiental cr tica pode ser analisado sob tr s aspectos que se articulam para avan ar com rela o a educa o conservacionista defendida pelas abordagens do desenvolvimento sustent vel Primeiramente a Educa o Ambiental sugerida na Confer ncia de Tbilisi rejeita o aspecto que procura reduzir a complexidade da rela o indiv duo sociedade tanto que fala em os indiv duos e coletividade articulando o indiv duo ao meio social ou seja o homem parte de um todo Combatia se assim a tendencia de se culpabilizar todos os seres humanos pelos impactos ambientais sem atribuir o papel que cada ator social Estado mercado sociedade indiv duo desempenha no processo assim era tratada a educa o com cunho conservacionista acreditando que o problema ambiental como fruto de um desconhecimento dos princ pios ecol gicos falta de informa o que gera maus comportamentos nos m indiv duos cabendo a esta concep o de educa o criar bons comportamentos 89 Layrargues 2000 p Em segundo lugar a Confer ncia de Tbilisi UNESCO 1997 p 98 delibera como objetivo da Educa o Ambiental lograr que os indiv duos e a coletividade compreendam a natureza complexa do meio am
235. ilombo existente pr ximo Capital Federal Acredita se que o Quilombo Mesquita por estar pr ximo de Bras lia e 108 das institui es organizadas de luta e defesa da causa quilombola promove al m do refor o na identidade tnica e na autodenomina o como quilombolas ainda contribui es no resgate da mem ria pois s o constantemente demandados por visitantes pesquisadores turistas jornalistas estudantes atrav s de quest es sobre a origem do grupo os s mbolos saberes e o processo de permanencia e luta pela defesa do territ rio Boaventura de Sousa Santos 2007 faz a proposta de substituir a monocultura do conhecimento cient fico por uma ecologia de saberes Este novo conceito definido pelo autor como express o de um conjunto de id ias e imagens te ricas onde essa mistura dos saberes e o di logo entre eles se movem para um tema de estudo comum O uso da categoria ecologia de saberes pede um esfor o epistemol gico para esse di logo do plural do coletivo esse uso deve ser constru do a partir do encontro de saberes sejam eles cient ficos ou n o cient ficos Meio ambiente se vincula a tudo que se relaciona com a vida no planeta as crises ligadas ao tema sempre existiram na hist ria da humanidade pois as rela es de poder entre indiv duos ou grupos causavam conflitos e lutas em busca da sobreviv ncia e das necessidades essenciais aos seres humanos Na d cada de 1960 os movimentos sociais em oposi o
236. imento emp rico ao cient fico Al m disso o conhecimento popular sobre o uso de esp cies vegetais nativas pode contribuir para o resgate e preserva o da cultura popular Botrel et al 2006 Quando eu era crian a era muito sofrido muito trabalho a escola n o tinha grau alto s estudava at a quinta s rie que o professor s podia lecionar at a quinta s rie e trabalhar ai o trabalho nosso aqui era na ro a E dava pra sobrevier da ro a dava a gente sobrevivia bem comia tudo natural mesmo era tudo que se plantava n o tinha qu mica nenhuma na comida Agora hoje t cheia de qu mica a comida as pessoas vivem doente O rem dio era no campo a gente ia aprender O meu rem dio eu uso porque aprendi As vezes t doente a gente mesmo faz e toma n s temos alguns curativos velano branco um bocado de raizes muita raiz Eu n o sei de onde vem este conhecimento deste povo do pessoal mais velho dos escravos pra c da frica Pode ser E tem muita gente que tem conhecimento da raiz tem muita gente que trabalha com a garrafada e se d muito bem aqui tem um negro que se curou da cirrose tem um monte de gente que vem do hospital pra morrer aqui mas chegou aqui e dava o rem dio e est aqui at hoje pra contar a hist ria E aqui no quilombo muito bom t o bom que o povo ta querendo invadir mas n s n o deixa n s estamos trabalhando E querem tirar das pessoas n s n o aceita n
237. inda ia de bangiie voc sabe n A rede A chegou ali na Saia Velha nas Lages voc v uma cruz l antigamente A o que ia levando o outro doente o sadio foi que morreu naquele lugar A foi naquele lugar enterrou l e fizeram a cruz chama cruz de Sime o A o outro seguiu pra Luzi nia doente e sarou ainda Deve fazer uns 70 ou 80 anos Quem me contou foi o finado Ageu Eu lembro que quando n s ia de p pra Luzi nia a gente passava por essa Cruz de Sime o A cruz n o existe mais porque o povo arou tudo tomou tudo era cheio de aroeira M T M Relato ao INCRA Um enfermo sendo carregado por um homem sadio No meio do caminho o sadio adoece e morre O doente finca uma cruz no lugar em que o amigo morre e depois com esfor o consegue chegar sozinho ao destino sobrevivendo Este caminho at outro dia era considerado sagrado pela comunidade O povo de Mesquita em tempo de chuva colocava lata de gua na cabe a pedra na cabe a ia tudo por l no p da cruz l rezar n o povo tudo rezando e punha as pedras l tudo H TM Relato ao INCRA As pr ticas religiosas executadas neste trajeto perduraram at que se houvesse perda de parte do territ rio Assim com o acesso a este local restringido falam que o povo foi desacreditando Eu lembro quando eu era pequenininho tinha uns oito anos vamos pra cruz de Sime o As vezes naquela poca que n o chovia e o povo queria que chovesse e seca era meio
238. indaga sobre conven es e regras que regem os modos de saber fazer concebido como signo de um sistema integrado de rela es que nos conduz ao conhecimento das caracter sticas de uma sociedade H cerca de quinze anos a oferta do marmelo no Quilombo Mesquita foi fortemente prejudicada pela doen a anteriormente j referida que se instalou nos marmelais e que para as fam lias que plantam o marmelo se originou a partir do in cio do plantio da soja nas fazendas no entorno da rea remanescente do Quilombo A disponibilidade local e sazonal do marmelo parece ser um dos elementos dessa identidade quilombola Hoje ainda que flexibilizada por uma maior oferta de marmelo e outros produtos provenientes do exterior essa rela o entre marmelada e sazonalidade permanece entre as fam lias indicando o tempo das coisas A perman ncia dessa rela o encontra respaldo em valores simb licos ligados aos crit rios locais de identidade alimentar associada organiza o do trabalho das fam lias O marmelo localiza se num per odo de tempo julho a setembro do ver o ao outono assim at o pr ximo ver o o marmelo ser consumido na forma de marmelada e outros doces revelando viv ncias constru das e mantidas pela mem ria coletiva as quais as novas gera es pertencem pelo simples fato de serem da mesma comunidade A marmelada fazia parte do dia a dia das fam lias que costumavam sempre ter em casa tanto para consumo como para as vi
239. io e uma das mais antigas do povoado remontando uma tradi o secular J a festa que atualmente a mais importante para Mesquita remonta apenas 60 anos de tradi o a Festa de Nossa Senhora D Abadia em homenagem padroeira da comunidade que ocorre entre os dias 06 e 15 de agosto Nesta festa h em todo o territ rio as casas de pouso Os foli es chegam a cavalo acompanhados de uma multid o O anfitri o oferece o bendito de mesa para os foli es e o pouso Brinca se Catira e Dan a da Raposa duas manifesta es art sticas com m sica e dan as baseadas em viola sapateios e palmas Esta festa marcada pela agrega o entre quilombolas e n o quilombolas e extrapola os limites territoriais do quilombo No per odo em que os negros conseguiram se firmar em Mesquita a comunidade tem em sua hist ria a ascens o marcada por um produto alternativo que se destacou por ampla comercializa o Apesar de todos os entraves anteriormente descritos pelo qual passava Goi s como alternativa econ mica associada pecu ria Santa Luzia desenvolveu o plantio de marmelo e a feitura de seu doce cristalizado este produto por sua especificidade deparou se com certo mercado dispon vel A Marmelada de Santa Luzia teve na comunidade de Mesquita uma ex mia produtora Em 1804 apenas dois g neros eram objetos de exporta o na capitania o bom fumo de rolo de 2 804 000 e a desde ent o famosa Marmelada de Santa Luzia cuja pro
240. io de Janeiro Paz amp Terra 1999 FUNES Eur pedes Ant nio Goi s 1800 1850 um per odo de transi o da minera o agropecu ria Goi nia Tese de MestradoEd da Universidade Federal de Goi s 1986 GEERTZ C O saber local novos ensaios em antropologia interpretativa Petr polis RJ Vozes 1997 GIDDENS A Moderniza o Reflexiva Pol tica tradi o e est tica na ordem social moderna Editora UNESP S o Paulo 1994 Risco confian a e reflexividade S o Paulo Editora da Universidade Estadual Paulista 1997 As Consequ ncias da Modernidade S o Paulo Editora da Universidade Estadual Paulista 1991 GIL A C M todos e T cnicas de Pesquisa Social 5 ed S o Paulo Atlas 1999 GLEISER M A Dan a do Universo dos Mitos de Cria o ao Big Bang S o Paulo Companhia das Letras 1997 Goi nia Editora da UFG 1997 p 46 GOMES P C C e CORR A R L Orgs Geografia conceitos e temas Rio de Janeiro Bertrand Brasil 1995 GOMES Suely Ferreira Deslandes Romeu orgs Pesquisa social teoria m todo e criatividade 27 ed Petr polis Vozes 2008 p 9 29 GOMES Ver nica Organiza o social e festas como ve culos de educa o n o formal In Brasil Minist rio da Educa o Secretaria de Educa o a Dist ncia TV Escola Salto para o Futuro Educa o Quilombola Rio de Janeiro Boletim 10 junho 2007 p 22 26 GON ALVES Carlos Walter Porto A geograficidade do Soc
241. is na preserva o do meio ambiente tentando explicar o valor dos saberes tradicionais no Quilombo Mesquita como base para a sensibiliza o em Educa o Ambiental e a conserva o do Cerrado a partir da observa o de como ocorre no quotidiano o conflito dial go entre os diferentes grupos que se relacionam no territ rio quilombola considerando que nesse espa o tnico interagem significados e representa es de grupos sociais que possuem formas pr prias de compreender o conflito A Educa o est presente no cotidiano do Quilombo Mesquita de v rias maneiras a rela o da Educa o com a Educa o Ambiental se encontra na comunidade tanto no modo formal quanto no informal podem ser percebidas em diferentes ambientes As rotinas das fam lias na comunidade apresentam cheia de simbologias que auxiliam na conserva o dos fazeres que as identificam A riqueza no Mesquita constru da coletivamente falam sobre as formas de vida os ciclos naturais o clima a vegeta o entre outros elementos parte da vida das pessoas que ali vivem e conhecem sobre o cerrado que circunda a comunidade essa riqueza de saberes que age no uso e manuten o da biodiversidade do Cerrado Esses saberes s o tamb m os caminhos para a praxis de Educa o Ambiental na comunidade tendo estes conhecimentos como ferramentas pedag gicos que podem auxiliar a rela o educativo ambiental Toda ignor ncia ignorante de um certo saber e todo o
242. iscernimento auto defesa e prazer que possibilitam a escolha de uma alimenta o saud vel e harmoniosa A Slow Food sustenta que a educa o do paladar gosto uma forma lenta de resistir globaliza o Para esta associa o internacional o prazer de saborear uma refei o de qualidade deve ser combinado com o esfor o para salvar a produ o mundial de alimentos que corre perigo de desaparecer devido ao predom nio das refei es r pidas e do agro neg cio industrial Atrav s de iniciativas como a 215 Arca do Gosto Fortalezas e Terra Madre a Slow Food pretende salvaguardar o inestim vel patrim nio gastron mico mundial A Marmelada do Quilombo Mesquita participou da primeira edi o do evento Terra Madre em Turim It lia em Outubro de 2004 Esse evento faz do movimento Slow Food um movimento pol tico mundial que inclui tanto produtores como consumidores Ele surge para construir uma rede internacional de produtores de alimentos e representantes de comunidades locais chefs acad micos e jovens com a finalidade de partilhar conhecimentos e costumes entre os agricultores pescadores produtores e n madas de todo o mundo que representam os repert rios de conhecimento moderno e tradicionais Com o evento da Terra Madre a Slow Food criou as Food Communities uma comunidade onde os membros apesar de distantes geograficamente podem manter se em contacto e enriquecerem se mutuamente gra as a discuss es inteligentes
243. itania dos Guayazes Disserta o em Hist ria Goi nia UFG 2008 LOUREIRO C F LAYRARGUES P P CASTRO R S orgs Educa o Ambiental Repensando o espa o de cidadania 3 ed S o Paulo Cortez 2005 MACEDO Roberto Sidnei Etnopesquisa cr tica e etnopesquisa forma o Bras lia Liber Livro Editora s rie pesquisa v 15 2006 MACHADO Talita Cabral Territ rio e identidade na globaliza o Estudo de caso na comunidade remanescente de quilombo Mesquita no munic pio de Cidade Ocidental GO Disserta o de gradua o Bras lia UnB 2007 MARQUES Marta Inez Medeiros Lugar do Modo de Vida Tradicional na Modernidade IN O Campo no S culo XXI territ rio de vida luta e de constru o da justi a social S o Paulo Editora Casa Amarela e Editora Paz e Terra 2004 MARX K Manuscritos econ mico filos ficos S o Paulo Boitempo 2004 MATOS G R Sistema de produ o de agricultores familiares fruticultores de Itapuranga GO Disserta o Mestrado Universidade Federal de Goi s Goi nia 2007 MATOS P F de PESS A V L S Observa o e entrevista constru o de dados para a pesquisa qualitativa em geografia agr ria IN RAMIRES J C L PESSOA V L S org Geografia e pesquisa qualitativa nas trilhas da investiga o Uberl ndia Assis 2009 544 p MATURANA H R VARELA F G A rvore do conhecimento as bases biol gicas do conhecimento humano S o Paulo Palas Athena 2001
244. jusante Fonte RTDI 2011 261 Figura 40 Po os Artesianos em propriedades n o quilombolas dentro do Territ rio tnico Fonte RTDI 2011 262 Lista de Abreviaturas e Siglas AREME Associa o dos Moradores e Amigos do Mesquita CNPIR Conselho Nacional de Promo o da Igualdade Racial FCP Funda o Cultural Palmares FUNATURA Funda o Pr Natureza INCRA Instituto Nacional de Coloniza o e Reforma Agr ria ONU Organiza o das Na es Unidas RTID Relat rio T cnico de Identifica o e Delimita o SEPPIR PR Secretaria Especial de Pol ticas de Promo o da Igualdade Racial da Presid ncia da Rep blica SEDH Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presid ncia da Rep blica SIEG Secretaria de Gest o Estrat gica e Participativa UNESCO Organiza o das Na es Unidas para a Educa o a Ci ncia e a Cultura Cap tulo I 1 A Hist ria de Goi s do cerrado e dos negros desse lugar Os caminhos da mem ria da identidade e da etnicidade Esse cap tulo pretende reconstituir as origens hist ricas do Quilombo Mesquita e compreender de que maneira essa comunidade resistiu e existe at hoje com seus tra os culturais sociais econ micos e tnicos ainda conservados frente influ ncia da constru o de Bras lia Para efeitos de esclarecimento te rico metodol gico abordo a ocupa o e a forma o hist rica da Capitania de Goi s do Arraial de Santa Luzia e do processo de ocupa
245. l de Educa o Ambiental Neste encontro Tbilisi 1977 foram determinadas quarenta e uma recomenda es e os princ pios 113 que iriam nortear a Educa o Ambiental em todo o planeta Estes princ pios podem ser resumidos em sete pontos fundamentais que revelam o pensamento abra ado pela confer ncia S o eles e Processo din mico integrativo a Educa o Ambiental foi definida como um processo permanente no qual os indiv duos e a comunidade tomam consci ncia do seu meio ambiente e adquirem o conhecimento os valores as habilidades as experi ncias e a determina o que os torna aptos a agir individual e coletivamente e resolver problemas ambientais e Transformadora a Educa o Ambiental possibilita a aquisi o de conhecimentos e habilidades capazes de induzir mudan as de atitudes Objetiva a constru o de uma nova vis o das rela es do homem com o seu meio e a ado o de novas posturas individuais e coletivas em rela o ao ambiente A consolida o de novos valores conhecimentos compet ncias habilidades e atitudes refletir na implanta o de uma nova ordem ambientalmente sustent vel e Participativa a Educa o Ambiental atua na sensibiliza o e conscientiza o do cidad o estimulando a participa o individual nos processos coletivos e Abrangente a import ncia da Educa o Ambiental extrapola as atividades internas da escola tradicional deve ser oferecida continuamente em todas as f
246. lhas frescas ra vilosa viveiro Maracuj Passiflora Sementes Folhas Suco dofruto infus o das alata folhas Poejo Mentha Estaca de ramo em Parte a rea Ch pulegium viveiro Quebra pedra Phyllantus Sementesou muda Parte a rea Ch niruri coletada nomato Rom Punica Sementes Frutos Decoc o casca do granatum em viveiro fruto bochecho Tanchagem Plantago Sementes Folhas Banho ch major em viveiro 232 Alguns quintais de Mesquita possuem hortas no sistema mandala Essa t cnica consiste em plantar os vegetais em um c rculo conc ntrico em que h pequenos caminhos para que os agricultores possam transitar para que n o pisoteie os frutos as leguminosas e as verduras Os alimentos mais comuns nas hortas s o alface tomate mandioca ab bora e cebola O cultivo de hortas um processo que foi constru do com o apoio de institui es assim a Associa o Renovadora do Quilombo Mesquita promoveu v rias capacita es junto aos moradores para a agricultura familiar consistindo tanto em forma o de reas de plantio e produ o de hortali as quanto para o viveiro de mudas os processos de reflorestamento e educa o ambiental Ao apoderar se desses saberes os quilombolas adquirem uma atividade de complementa o da renda A produ o levada toda semana para a rea comunit ria onde se processam a pesagem e o agrupamento para em seguida ser recolhida por escolas e organiza es sociais e beneficentes Esse trabal
247. liares O que estruturava estas trocas era a rede de reciprocidade que se estabelecia entre os grupos dom sticos N o apenas o porco ou qualquer mantimento era a forma de pagamento mas a certeza 85 de que assim como se prestou servi o a um familiar certamente ele far o mesmo As trocas e o trabalho coletivo eram os mantenedores desta vida social e funcionavam como rod zio entre as terras de produ o Outra forma tradicional de produ o era a meia Usavam uma s terra para cultivo e dividiam o que dela se extra a No mesmo sentido trabalhar na meia para a fam lia significava agrega o de trabalho e o uso comum das terras ao contr rio do que ocorria quando se trabalhava na meia para um fazendeiro que disponibilizava a terra para a comunidade rural subordinando os pelo trabalho Na meia entre os pr prios quilombolas todos trabalhavam dividiam a produ o e n o se era subordinado um ao outro Todos eram donos desta terra e do trabalho Uma esp cie de uni o associativa Os mutir es tamb m eram eventos de vital import ncia para a sociabilidade e sobreviv ncia A comunidade se juntava e trabalhava um dia inteiro na produ o de um membro familiar e em troca ele providenciava a comida a bebida e a festa ao final dia Aquela poca era bom Terminava o servi o tinha comida e pau comia no forr CP B RTDI 2011 Internamente enquanto comunidade Mesquita vivia seu per odo de gl ri
248. logicamente foram agregadas outras fontes que pudessem auxiliar no entendimento da din mica de se viver em uma comunidade vista como tradicional da a necessidade de se buscar amparo te rico nas institui es que trabalham com o tema quilombola Funda o Cultural Palmares CIGA GEA UNB CONAQ SEPPIR IPEA etc Assim participei ativamente das atividades desenvolvidas por essas institui es tais como Conselheira no Conselho Nacional de Promo o da Igualdade Racial CNPIR por quatro anos 2010 2013 I Semin rio de Ater Quilombola mar o 2013 Delegada na III Confer ncia Nacional de Promo o da Igualdade Racial nov 2013 Moderadora no Ciclo de Debates Ano Internacional dos Afrodescendentes Acesso Terra e Comunidades Quilombolas participa o no I e relatoria no H Semin rio Nacional de Educa o Escolar Quilombola 2010 2012 Coordena o do Semin rio Quilombos Terreiros e Juventude Justi a Ambiental e Pr ticas Culturais Africanas e Afrodescendentes durante a Rio 20 participante no Col quio Geopol tica amp Cartografia da Di spora frica Brasil CIGA GEA UNB participante da Marcha Nacional da Campanha em Defesa dos Direitos do Povo Quilombola representante governamental no Plano de A o Conjunto Brasil Estados Unidos para Promo o da Igualdade Racial JAPER Essas participa es na verdade uma atua o militante em apoio causa quilombola tornaram se fontes importantes p
249. lternas que de fato tiveram historicamente escassas possibilidades de melhorar seu status essa forma de resist ncia foi a nica op o e que as a es dentro dessa camisa de for a simb lica um testemunho da persist ncia e inventividade humana como ilustra este relato sobre a resist ncia das castas inferiores na India Empregados presos a um v nculo vital cio de trabalho lifelong indentured servants caracteristicamente expressavam descontentamento quanto a sua rela o com seus patr es atrav s do desempenho descuidado e ineficiente de seu trabalho Intencional ou inconscientemente eles podiam fingir doen a ignor ncia ou incompet ncia criando transtornos para os patr es Muito embora o patr o pudesse retaliar recusando se a conceder benef cios adicionais ao empregado ele continuava obrigado a mant lo em um n vel de subsist ncia para n o perder inteiramente seu investimento Desde que n o se expressasse como uma contesta o ostensiva esse m todo de resist ncia passiva era quase imbat vel ele refor ava o estere tipo dos Havics a respeito do car ter das pessoas de casta inferior mas lhes dava pouco recurso para agir Gonzalez 2010 p 48 49 Esse tipo de teimosia resist ncia como costuma se chamar encontrada tamb m na escravid o nos Estados Unidos onde a forma ostensiva era temida assim os negros do Sul antes da Guerra Civil em sua maioria faziam a resist ncia escravid o atrav s do co
250. m Mesquita inseria se junto a outros segmentos sociais dentro da l gica do planejamento capitalista na Capital A notar se o planejado destino dos acampamentos provis rios erguidos com a finalidade de alojar os trabalhadores da constru o de Bras lia como a Vila Planalto a Metropolitana a Candangol ndia e a Cidade Livre A previs o era de que estes acampamentos fossem de car ter tempor rio com suas desocupa es quando finalizada a constru o e o retomo dos migrantes s suas cidades de origem Por m os acampamentos da constru o da nova Capital e a din mica do trabalho imputado foram tomando dimens es que escaparam ao controle do Govemo A densidade populacional extrapolou o limite previsto A chegada constante de mais trabalhadores rapidamente ocasionou um grave problema de falta de moradias obrigando os oper rios a se instalarem precariamente V rias invas es passaram a tomar conta de diferentes pontos do DF extrapolando os acampamentos originais s v speras da inaugura o de Bras lia 102 A solu o governamental foi a de criar as cidades sat lites consideradas cidades dormit rios devido a sua depend ncia de Bras lia com o intuito de abrigar a grande popula o de trabalhadores evitando que Bras lia fosse tomada por esta popula o de classe baixa Com efeito a partir da estabelece se a solu o das cidades sat lites como maneira de manter o Plano Piloto livre da presen a da
251. m esse estudo buscar alternativas que permitam que essas experi ncias locais n o sejam desperdi adas Sato se referindo a Geertz 2003 afirma que a esperan a de escrever um texto cultural mesmo que vestido de farrapos ou a moda de uma era mas que contemple a etnografia sem medo da solid o do desconforto f sico ou da paci ncia em encontrar o fasc nio cultural escrito na natureza 121 Os saberes e os fazeres tradicionais do Quilombo Mesquita ainda existentes naquele grupo foram elementos de resist ncia contra os conflitos que perseguem a comunidade esses conflitos evidenciam injusti a socioambiental isso pode ser demonstrado atrav s da demora na titularidade da terra do n o acesso aos direitos vindos dessa titula o educa o cr dito transporte assist ncia t cnica A perda do legado cultural dos habitantes da comunidade preservado ao longo das gera es tamb m uma evid ncia de injusti a ambiental o n o reconhecimento de sua hist ria e a invisibilidade do grupo para o poder p blico Antigamente a gente chamava a benzedeira para benzer os meninos logo depois que o umbigo caia hoje quais n o se faz mais isso Dona J B entrevistada em 12 11 2005 Conforme Marques 2004 esse modo de vida s pode ser compreendida a partir de sua inser o na sociedade que hoje inclui as rela es sociais que ocupam as comunidades quilombolas na sociedade moderna capitalista entendendo como a rela
252. m 1987 o Conselho Federal de Educa o que aprova o Parecer 226 87 que inclui a dimens o da Educa o Ambiental na escola Brasileira atrav s de uma abordagem interdisciplinar Recomenda nesse parecer a cria o de Centros de Educa o Ambiental CEA para agirem nos Estados como p los irradiadores dessa dimens o educacional A CF BRASIL 1988 traz avan os sobre a PNMA envolvendo a sociedade civil como atores da Educa o Ambiental ao mesmo tempo retrocede em rela o Lei n 6 938 BRASIL 1981 quando retoma a id ia de educa o conservacionista em contraposi o a uma proposta de EA focada na capacita o da sociedade civil de modo a contribuir para a participa o ativa na defesa do meio ambiente BRASIL 1981 abordagem que sob uma primeira leitura se aproximaria da perspectiva cr tica de EA BRASIL Lei n 9 795 de 27 de abril de 1999 Disp e sobre a educa o ambiental institui a Pol tica Nacional de Educa o Ambiental e d outras provid ncias Di rio Oficial da Rep blica Federativa do Brasil Bras lia 28 abr 1999 BRASIL Decreto n 4 281 de 25 de junho de 2002 Regulamenta a Lei n 9 795 de 27 de abril de 1999 que institui a Pol tica Nacional de Educa o Ambiental e d outras provid ncias Di rio Oficial da Uni o Bras lia DF 26 jun 2002 117 Novicki e Souza 2010 observam que a PNMA retrata um entendimento sobre o meio ambiente enquanto conjunto de condi es leis
253. m de S o Paulo de Piratininga em busca do ouro e se dirigiram ao sert o mineiro goiano e mato grossense Entre elas as que chegaram em Goi s e foram chefiadas por Bartolomeu Bueno da Silva o pai em 1676 e posteriormente pelo seu filho O trafico de africanos escravizados para o Brasil central formou a base econ mica da minera o em Goi s imersos no campo da apropria o viol ncia o lado obscuro e invisibilizado da linha abissal ec ce ce 299 66 5 Os ndios goyazes guayazes guai s guoy goy ou goi ter se iam misteriosamente extinguido sem deixar o menor rasto pouco tempo ap s a chegada do Anhangiiera II dizimados pelo violento embate com os sertanistas dessa primeira grande bandeira de ocupa o e explora o ou miscigenados com esses paulistas bandeirantes O TOP NIMO GOY AZ 47 estas popula es n o existiam Entre os s culos XIV e XIX migraram para o Brasil como escravos cerca de 4 milh es de africanos de v rias etnias na es Anjos 2006 Di spora Africana assume uma dimens o peculiar no contexto geopol tico brasileiro Ela se refere popula o africana arrancada pelo sistema escravista exclu da de direitos sacrificada violentamente e espoliada segundo as formas de assujeitamento criadas pelo modelo colonial mas tamb m mais tarde pelos recalques e nega es contra o Brasil negro descolonizado e o Brasil mesti o Aguas 201
254. m os jovens para outras coisas e estes pouco demonstram interesse em ouvir os mais velhos A tradi o oral foi definida como um depoimento transmitido oralmente de uma gera o outra J Vansina 2011 afirma que suas caracter sticas particulares s o o verbalismo e sua maneira de transmiss o que n o utiliza de fontes escritas Por sua complexidade n o f cil encontrar uma defini o para tradi o oral que d conta de todos os seus aspectos 2 O autor continua dizendo que um documento escrito um objeto um manuscrito Mas um documento oral pode ser definido de diversas maneiras pois um indiv duo pode interromper seu testemunho corrigir se recome ar etc 200 Uma defini o um pouco arbitr ria de um testemunho poderia portanto ser todas as declara es feitas por uma pessoa sobre uma mesma segii ncia de acontecimentos passados contanto que a pessoa n o tenha adquirido novas informa es entre as diversas declara es Porque nesse ltimo caso a transmiss o seria alterada e estar a diante de uma nova tradi o Nas comunidades tnicas como o Quilombo Mesquita alguns idosos griots possuem mem rias referentes a diferentes casos Teve casos de uma mesma pessoa falar duas lembran as diferentes para contar o mesmo fato hist rico Um exemplo para a hist ria da legitima o da aquisi o da terra no Quilombo Vieram muitos escravos pra c e tr s escravas registraram a terra depoi
255. m se diferenciar pela singularidade e constru o de novos saberes em que os sujeitos s o os construtores do processo A ci ncia encontra se duplamente ao servi o da globaliza o hegem nica quer pela maneira como a promove e a legitima quer pela maneira como desacredita oculta ou trivializa a globaliza o contra hegem nica A hegemonia pressup e um policiamento e uma repress o constantes das pr ticas e dos agentes contra hegem nicos Desacreditar ocultar e trivializar a globaliza o contra hegem nica d se em grande parte conjuntamente com o desacreditar ocultar e trivializar os saberes que informam as pr ticas e os agentes contra hegem nicos Perante saberes rivais o conhecimento cient fico hegem nico ou os converte em mat ria prima como o caso dos saberes tradicionais sobre biodiversidade ou os rejeita na base da sua falsidade ou inefic cia luz do crit rio hegem nico da verdade e da efic cia Santos p 46 2007 Portanto esse estudo voltado a uma realidade dos saberes quilombolas buscando a valoriza o da cultura e dos conhecimentos produzidos pela comunidade do Quilombo Mesquita e busca tamb m situar a Educa o Ambiental neste contexto de diversidades e singularidade cultural da comunidade quilombola do Quilombo Mesquita por ser de fato relevante para a concretude desta pesquisa O trabalho de campo constitui uma etapa essencial da pesquisa qualitativa que segundo Minayo 2004 o recorte
256. mana de uma temporalidade e op e se hist ria como campo de produ o de conhecimento espa o de problematiza o e de cr tica Na opera o hist rica o passado tornado exclusivamente racional destitu do da aura de culto metamorfoseado em conhecimentos em representa o em reflex o na constitui o da mem ria ao contr rio poss vel reincorporar a ele passado um grau de sacro de mito Pinto 2001 Mem ria tamb m um conjunto de fun es cerebrais que permitem ao homem guardar as mensagens observando a constante possibilidade de sele o dos conte dos antes de serem buscados As mem rias mesclas de sentimentos e emo es que diversificadas brotam e tomam a cena p blica procuram ser reconhecidas terem visibilidade e articula o Em geral ocupam um lugar que a racionalidade e a hist ria n o exprimem atualizando no presente viv ncias remotas revisitadas silenciadas recalcadas ou 3 esquecidas que se projetam em rela o ao futuro Seixas 2001 p 98 Para Ferreira 2004 p 98 mem ria um elemento constitutivo do sentimento de identidade tanto coletivo quanto individual como fruto de um trabalho de constru o constantemente negociada e representa o de um fen meno social 163 Velho 2001 p 11 refor a afirmando que n o existe vida social sem mem ria a pr pria possibilidade de intera o depende de experi ncias e expectativas culturalmente compartilhadas P
257. manifesta se em rela o ao enfoque te rico posto na investiga o Ox O presente trabalho insere se dentro de uma pesquisa de Doutorado cuja principal quest o perceber como alguns remanescentes quilombolas educam e se educam em seu cotidiano e como a Educa o Ambiental pode dialogar com esses saberes e fazeres O foco deste estudo est direcionado comunidade quilombola Mesquita situada no munic pio de Cidade Ocidental Goi s que compartilharam suas Hist rias de Vida Para este estudo busca se a possibilidade de identificar a exist ncia do saber tradicional aqui usa se a defini o dada por Giddens 1994 A tradi o contextual no sentido de ser garantida por uma combina o de ritual e verdade formular Separada deles a tradi o degenera em costume ou h bito A tradi o impens vel sem guardi es por que estes t m um acesso privilegiado verdade a verdade n o pode ser demonstrada salvo na medida em que se manifesta nas interpreta es e pr ticas dos guardi es GIDDENS 1994 Assim com a ideia central de compreender at que ponto os saberes tradicionais da Comunidade do Quilombo Mesquita s o teis e v lidos como conhecimentos ecol gicos e apresentar reflex es pertinentes ao relacionamento desses saberes com a Educa o Ambiental 134 Dessa forma para estudar esta tem tica ser necess rio investigar todo o processo hist rico de forma o da comunidade assim esse estudo ve
258. marmelada a express o cultural representada num alimento mas mais intimamente ligada ao sistema cultural Mesquitense Rafael Pio 2009 engenheiro agr nomo afirma que no mundo antigo e no Brasil poucos frutos como os do marmeleiro tiveram t o relevante papel Enfatiza o autor que mesmo com a import ncia econ mica que teve para o Brasil col nia atualmente dif cil encontrar uma frut fera com esse valor hist rico social t o pouco difundida e estudada As causas prov veis desse pequeno interesse devem residir na utiliza o pouco nobre do marmelo principalmente como mat ria prima industrial e no incipiente consumo ao natural 202 Figura 19 Cozimento do Marmelo Foto Antonia Samir Num dos mais antigos livros de receitas recolhidas entre 1400 e 1500 nos manuscritos da infanta D Maria aparecem duas receitas de Marmelada a marmelada de Ximenes e a marmelada de D Joana sendo que a de Ximenes a mais parecida com a que se faz hoje no Quilombo Mesquita Na hist ria das navega oes portuguesas comum referencias s caixas de marmelada sempre levadas nas provis es de viagem Em 1497 Vasco da Gama na primeira viagem s ndias embarca nas naus a maior quantidade poss vel de marmelada para alimenta o da tripula o que tamb m serviu para presentear com marmelada os povos que encontrou pelo caminho os africanos da costa oriental de frica de Mo ambique a Calecute Bergreen 2004 p 29 afirma que Va
259. mbiental Rede Brasileira de Educa o Ambiental n O nov 2004 Bras lia Rede Brasileira de Educa o Ambiental 2004 140 p v al 278 SCOTT Jim Formas cotidianas da resist ncia camponesa Trad Marilda Aparecida de Menezes e Lemuel Guerra Ra zes vol 21 1 p 10 31 jan jun 2002 SEIXAS Jacy Alves de Percursos de mem rias em terra de hist ria problem ticas atuais In BRESCIANI S NAXARA M Orgs Mem ria e res sentimento Campinas Unicamp 2001 SOUZA Filho O descobrimento governo popula o e cousas mais not veis da Capitania de Goyaz 1848 In TELES Jos Mendon a Vida e obra de Silva e Souza Goi nia UFG 2002 p 30 31 SOUZA M J L O territ rio sobre espa o e poder autonomia e desenvolvimento In CASTRO LE STURKEN Marita CARTWRIGHT Lisa Practices of looking an introduction to culture Inglaterra Oxford University Press 2001 TEASS Tratado de Educa o Ambiental para Sociedades Sustent veis e Responsabilidade Global Rio de Janeiro 1992 p 1 THOMPSON John B A m dia e a modernidade Uma teoria social da m dia Petr polis 2002 TRECCANI Girolamo Domenico Diferentes Caminhos para o Resgate dos Territ rios Quilombolas In Territ rios Quilombolas Reconhecimento e Titula o das Terras Santa Catarina Boletim Informativo do NUER vol 2 n 2 2005 TUAN Y Fu Topofilia Um estudo da Percep o Atitudes e Valores do Meio Ambiente Ed Difel S
260. meio de a es espec ficas do pr prio MEC com os Par metros Curriculares Nacionais PCN BRASIL 1997a 1997b 1998a 1998b e do Programa Par metros em A o BRASIL 2001 dos Referenciais Curriculares Nacionais da Educa o Profissional de N vel T cnico BRASIL 2000 e por fim da Proposta de Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educa o Ambiental BRASIL 20074 Alguns anos ap s a cria o da PNEA sua regulamenta o veio a ocorrer pela via do Decreto n 4 281 2002 BRASIL 2002 e de modo distinto daquela lei decorreu de intensas discuss es realizadas no mbito da C mara T cnica Tempor ria de Educa o Ambiental especialmente constitu da pelo CONAMA para esta finalidade UEMA 2009 Em seu Artigo 1 este decreto determina que a execu o da PNEA consiste em responsabilidade dos rg os e entidades integrantes do SISNAMA das institui es educacionais p blicas e privadas dos sistemas de ensino dos rg os p blicos da Uni o Estados Distrito 118 Federal e Munic pios das Organiza es N o Governamentais ONG entidades de classe meios de comunica o e demais segmentos da sociedade No mbito do MMA o PRONEA teve sua primeira edi o em 1994 BRASIL 1994 tomando por refer ncia a Confer ncia de Educa o Ambiental de Tbilisi UNESCO 1997 sendo que somente em 2005 veio a vigorar a sua atual edi o BRASIL 2005 que aprofunda quest es relativas ao papel da EA no processo d
261. mico Em Goi s com a famosa Marcha para o Oeste de Get lio Vargas que tinha como objetivo desenvolver o interior do pa s urbanizou munic pios interioranos mudando a composi o espacial e a din mica econ micas desses interior Com a constru o de Bras lia a comunidade do Quilombo Mesquita e os seus 250 anos de conhecimento tradicional sofreram grande impacto e fez com que esses 250 anos de hist ria fossem invisibilizados os efeitos dessa trajet ria hist rica ainda est o acontecendo s passaram cinqiienta e quatro anos e as quest es atuais encaradas pela comunidade s o mais bem entendidas se seus problemas forem interpretados a partir deste fato esse um dos objetivos ao qual essa tese se prop s 106 Pode se concluir para esse objetivo espec fico que as influ ncias de Bras lia sobre a comunidade de Mesquita que um grupo etnicamente diferenciado e os impactos sociais e o sobre o seu territ rio resultam da press o do planejamento capitalista que n o considera os ambientes selvagens e as popula es primitivas e assim o Quilombo nao possuindo mecanismos suficientes para a interpreta o das transforma es em sua totalidade a comunidade foi atirada em um turbilh o de eventos sucessivos que terminaram por reinseri la em outra conjuntura macro econ mica Essa foi a conjuntura analisada nessa tese o contexto das perdas territoriais e consegiiente perda de saberes tradicionais nesta comunidade que fo
262. minado desenvolvimento e ascens o econ mica p s 1950 esse desenvolvimento foi alcan ado muitas vezes com o aniquilamento e destrui o do meio ambiente e dos grupos tradicionais que existiam por todo o territ rio goiano Neste contexto os moradores do Quilombo Mesquita lutam durante os ltimas anos para recuperar as tradi es e os v nculos culturais perdidos De tal modo a realiza o das festas tradicionais pelo grupo uma pr tica na qual a comunidade relata a sua import ncia como eventos que precisam ser mantidos para a manuten o e resgate dos valores apego ao territ rio pelas novas gera es e impedimento da usurpa o total desses territ rios Observei durante as festas que participei no Quilombo que todos aqueles respons veis pela organiza o das festividades j o fazem inten o de que o evento n o seja s de lazer mas sim um meio para a manuten o da cultura de defesa do territ rio e do fortalecimento dos la os comunit rios Esses momentos ritual sticos s o tamb m ocasioes de forma o da cidadania e comprometimento de seus moradores com o territ rio onde vivem Busco aqui as palavras de Carlos Brand o pois o autor percebe a festa como um momento de se aprender o amor 5 2 5 O terreiro de casa lugar de saberes E o seu fruto servir de alimento e a sua folha de rem dio Velho Testamento Ezequiel 47 12 228 A ci ncia tradicional engloba todos aqueles conhecimentos da comunidade a
263. mite definir e implementar pol ticas p blicas com base em um planejamento participativo voltado para as prioridades do desenvolvimento sustent vel 116 educa o de todos os cidad os MEC COEA 2006 p 52 No Brasil a tem tica ambiental nas Pol ticas P blicas Brasileiras est contemplada desde a cria o da SEMA em 1973 depois em 1981 a Lei n 6 938 BRASIL 1981 que estabeleceu a Pol tica Nacional de Meio Ambiente anterior Constitui o e vinte anos depois a Lei n 9 795 BRASIL 1999 que inseriu a Pol tica Nacional de Educa o Ambiental PNEA regulamentada pelo Decreto n 4 281 BRASIL 2002 No mbito da CF BRASIL 1988 em seu Artigo 225 o meio ambiente entendido como bem de uso comum do povo cabendo ao poder p blico e coletividade a responsabilidade pela preserva o ambiental Apesar disso a Educa o Ambiental idealizada como uma das formas que pode vir a garantir o direito de acesso a esse bem tratada BRASIL 1988 1 Inciso VI como obriga o pr pria ao poder p blico sem mencionar sociedade QUINTAS 2004 Buscava a promo o da Educa o Ambiental em todos os n veis de ensino e ainda em termos da conscientiza o p blica para a preserva o do meio ambiente ou seja sob perspectiva formal e n o formal de EA mas n o trazia explicado quem seria o encargo explicado depois na Constitui o que seria responsabilidade do pr prio poder p blico E
264. mpo de Hist rias Bras lia n 12 p 53 67 2008 SANTANA P V de A mercadoria verde a natureza In DAMIANI A L CARLOS A F A SEABRA O C De L orgs O espa o no fim do s culo a nova raridade 2 ed S o Paulo Contexto 2001 SANTOS B S A cr tica da raz o indolente contra o desperd cio da experi ncia S oPaulo Cortez 2008 Para uma sociologia das aus ncias e uma sociologia das emerg ncias In SANTOS B S Org Conhecimento prudente para uma vida decente um discurso sobre ci ncias revisitado S o Paulo Cortez 2004 p 777 821 A Gram tica do tempo para uma nova cultura pol tica S o Paulo Cortez 2006 Para Al m do Pensamento Abissal das linhas globais a uma ecologia de saberes Revista Cr tica de Ci ncias Sociais Universidade de Coimbra Coimba n 78 p 3 46 out 2007 O Forum Social Mundial Manual de Uso S o Paulo Editora Cortez 2005 P 21 SANTOS M amp SILVEIRA M O Brasil territ rio e sociedade no in cio do s culo XXI Rio de Janeiro Record 2003 SANTOS Milton A natureza do espa o T cnica e tempo Raz o e Emo o 2 ed S o Paulo Hucitec 1997 A urbaniza o brasileira S o Paulo Hucitec 1993 Economia Espacial Cr ticas e Alternativas S o Paulo Editora da USP 20 Ed 2003 Por uma geografia nova da cr tica da geografia a uma geografia cr tica S o Paulo SATO M in Revista brasileira de educa o a
265. mpo no meio das suas correrias que comprehenderam grande parte d estes sert es a plantar ro a que melhorasse a sua sustenta o reconheceu a riqueza do logar vendo folhetas de ouro bruto pendentes ao collo das ndias e com esta certeza confirmada de algumas indaga es regressou ao seu paiz natal seguindo da numerosa presa que tinha feito a utilizar se do fructo dos seus trabalhos A ocupa o da Capitania de Goi s aconteceu em uma pol tica de ocupa o e urbaniza o adotada pela metr pole portuguesa que come ou em meados do s culo XVII em consequ ncia de dificuldades econ micas com a queda do pre o do a car no mercado internacional e com a perca de algumas col nias no Oriente Boaventura cita que diante desse quadro a metr pole incentivou explora o de reas n o conhecidas que envolveram expans es territoriais al m do meridiano de Tordesilhas criando o Conselho Ultramarino que era o rg o respons vel pela elabora o e execu o dos novos rumos contratou tamb m t cnicos especializados para mapear regi es ignota al m de centralizar a economia e a administra o das terras americanas e diminuir os poderes dos donat rios que foram sendo eliminados gradualmente at o per odo pombalino que cancelou todas as capitanias particulares restantes e a proibiu a cria o de outras governadas por funcion rios do Rei Essa pol tica fica evidente no final do s culo XVII e in cio do XVIII com a
266. n rio me confundiam A metodologia de pesquisa usada compartilha teoria e pr tica viv ncia movendo se entre os processos dial gicos com as realidades vividas e analisadas em uma implica o epistemol gica Barbier 2002 A implica o se constitui portanto um diferencial desta pesquisa pois ao mesmo tempo em que 133 implico os outros que vivem comigo na experi ncia sou tamb m implicada nas circunst ncias nas quais interagimos Barbier define a implica o como Um engajamento pessoal e coletivo do pesquisador em e por sua pr xis cient fica em fun o de sua hist ria de suas posi es passada e atual nas rela es de produ o e de classes e de seu projeto s ciopol tico em ato de tal sorte que o investimento que necessariamente a resultante disso parte integrante e din mica de toda atividade de conhecimento Barbier 2002 p 101 102 pertinente ent o compreender que a problematiza o requer delimita o para se seguir caminhos em busca de vest gios que viesse a viabilizar a minha pesquisa Segundo Minayo 2008 a defini o do problema ou objeto de pesquisa a raz o da exist ncia do estudo Compreende se que a delimita o do problema significa um encaminhamento com mais visibilidade da teoria que nortear os passos do pesquisador Ao descrever o problema seus objetivos m todos e t cnicas que empregar na an lise e interpreta o das informa es a concep o do pesquisador
267. nada pelos pleiteantes ao terrreno incluindo a o Governo do Distrito Federal como as maiores contradi es sobre os direitos dos herdeiros quanto ao terreno Em 1960 por senten a foi feita a partilha geod sica da Fazenda Santa Maria cabendo aos herdeiros o Quinh o 23 rea que ora est sendo esbulhada no Condom nio Porto Rico Santa Maria DF A rea onde hoje est o Setor Habitacional Ribeir o antigo condom nio Porto Rico foi administrativamente apossadas pela extinta Funda o Zoobot nica h mais de 50 anos e a CAESB tamb m ajuizou posteriormente a o de desapropria o indireta o que impediu quilombolas herdeiros o exerc cio da posse Mesmo assim existem pessoas que continuam a vender lotes no Condom nio Porto Rico mesmo havendo uma senten a de embargo proferida em 21 01 03 a qual veda tal pr tica Existe tamb m para o mesmo caso uma peti o inicial de a o civil p blica proposta pelo Minist rio P blico perante a Vara de Registros P blicos do Distrito Federal onde este postula cancelamento das matr culas e registros de averba o relativos ao terreno reivindicando que 250 1 Em 10 10 85 foi aberta a matr cula do im vel a partir da exibi o de certid o de registro paroquial datado de 1857 o qual mencionava situar se o im vel no per metro do Distrito Federal poca em que ainda sabidamente n o havia tal denomina o surgida apenas com a primeira Constitui o da Rep bl
268. ndol ncia contribuiu bastante para levar os fazendeiros da regi o a essa situa o de pen ria E essa chegou a tal ponto que dispondo praticamente de toda a terra que lhe conv m eles n o chegam a cultivar o suficiente nem mesmo para o seu pr prio sustento SAINT HILAIRE apud Bertran p 27 Este evento presente na mem ria da comunidade representa uma liga o entre os escravos de Santa Luzia e os negros de Mesquita uma liga o entre o tempo da escravid o localizada em um passado distante e o da minoria tnica localizado no presente O professor doutor em antropologia Jos Carlos Gomes dos Anjos professor do Departamento de Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul UFRGS que pesquisa entre outros temas assuntos relativos a comunidades quilombolas afirma tamb m que os senhores usavam de mecanismos para manter os escravos Um deles era doar terras de menor valor aos negros criando assim um compromisso moral Assim foram fundados muitos dos quilombos rurais que existem at hoje 65 Os negros acabavam trabalhando para os mesmos senhores como pagamento pelas terras A id ia de que seriam livres para vender a m o de obra foi uma grande ilus o na maior parte dos casos afirma o professor Um quilombola confirma a tese do doutor Os primeiros moradores que vieram morar aqui tinham a id ia de trabalhar por conta Mas a maioria ficou com medo porque n o sabia se virar sozinho A mis ria tamb m
269. neira de pensar e apreender o tempo um tempo geneal gico A poca da funda o do quilombo personificada nos mais antigos da comunidade que pertencem a um tempo hist rico m tico a linguagem hist rica racional j a linguagem m tica simb lica representam as tr s fam lias principais de Mesquita S o as tr s ex escravas e sua sucess o direta e tamb m os negros vindos das minas de Goi s s o aqueles que em condi es adversas enfrentaram as dificuldades e empreenderam com sucesso a autonomia econ mica e social da comunidade em rela o sociedade envolvente O tempo dos fundadores recordado pelos mais velhos remete ao per odo de escravid o por m de forma difusa e gen rica sendo mesmo valorizada em seu discurso a liberdade e autonomia dos negros de Mesquita Gomes 2007 fala que o passado representado em m ltiplas linguagens com m ltiplos sentidos e que a linguagem hist rica mais racional e conceitual uma tentativa de reposi o dos fatos hist ricos nos seus diversos contextos temporais O mito como est ria narra o popular coletiva por sua vez mensageiro de sentidos esquecidos pela Hist ria entendida como narra o de acontecimentos 165 passados No entanto o tempo hist rico e o tempo m tico podem entrecruzar se num mesmo tempo o tempo do sentido Entre os mais antigos e as novas gera es encontra se o tempo do Aleixo que caracteriza se pelo apogeu pol ti
270. nha que ser uma ro a que desse conta de voc mesmo tocar P e a dez vinte pe o pra trabalhar Hoje voc n o p e nenhum C P B A doen a foi essa O povo parou de plantar e parou de zelar Quando n o zela a coisa a morre Acaba tudo R Existe uma linha de pensamento no Quilombo que atribui o enfraquecimento do cultivo do marmelo aos problemas normais da agricultura no cerrado muitos chamam de doen a da terra e tamb m reclamam que a falta de incentivo para eles produzirem diminui a rea plantada por m ouvi de alguns 206 quilombolas que a chegada da soja ou seja a chegada de uma nova l gica de produ o no campo Esta l gica capitalista lentamente entrou subsidiando a constru o de Bras lia e expandiu os seus mercados agroindustriais e depois se imp s sobre a l gica do povoado Os produtores migrantes chegavam na vizinhan a do Mesquita com novas ferramentas e ofertas de sal rios que a realidade local n o poderia competir A marmelada no Brasil em especial em Goi s tem aqui quase 200 anos de hist ria ocupa grande parte do tempo das fam lias estruturando a vida social a partir de um ritual associado atividade da prepara o do doce Tradicionalmente o marmelo um produto de sequeiro cultivado anualmente no ver o o que significa dizer o sistema culin rio inicia se com a sementeira do marmelo passando pela guarda da sementeira pela monda capinar erva daninha e recapinar erva danin
271. nsiderando a inexist ncia das cercas o fluxo de negros se dava nos vazios encontrados desde o decl nio da minera o Veio a parentalha puxando como queredor das terras Porque tudo morreu e largou a heran a para o povo aqui do Mesquita A veio o advogado CBP RTDI 2011 Relato ao INCRA Fazendas da regi o perto do rural de Luzi nia e que fizeram parte do arraial de Santa Luzia foram desapropriadas e passaram a dar suporte constru o da nova capital Assim a antiga fazenda do Gama vizinha a esta rea em Santa Maria que a comunidade de Mesquita conseguiu provar propriedade dava espa o primeira Resid ncia Oficial o Catetinho Apesar de a Companhia Urbanizadora da Nova Capital Novacap ser a respons vel pela administra o da regi o o territ rio da constru o ainda ficava sob a jurisdi o de Goi s mais precisamente sob a tutela de Planaltina e Luzi nia Bertran 2000 Algumas reas das extens es desapropriadas eram utilizadas pelos quilombolas As margens do Catetinho da mata eram extra dos materiais necess rios 187 Ali perto de Bras lia tinha muita lenha era mata s Naquele tempo se levava madeira era no carro de boi pra fazer a caixeta aqui CBP RTDI 2011 Relato ao INCRA Nossa casa era perto da Marinha mas l era terra do governo n Ai a gente teve que se mudar compramos casa aqui mais perto perto da casa da Sandra L a gente cuidava da cria o de gado aqui agora
272. ntensifica se a press oque exercem sobre os recursos naturais Al m disso tamb m desorganiza o padr o tradicional de propriedade de terra ela o desenvolvimento de estradas vicinais Isto tem sido planejado e executado em muitos pa ses Milton SAntos 1977 acentua os efeitos integrativos dos transportes nos conjunto da economia capitalista mundial sua necessidade de expans o futura e os meios sutis com que os transportes promovem a 245 penetra o em reas rurais Esse autor mostra ainda que a penetra o n o meramente a introdu o de novas maneiras de produzir mas tamb m implica a destrui o daquilo que j existia anteriormente no local e na introdu o ou no desenvolvimento de termos punitivos de troca que reorientam o com rcio rural para uma rede mundial o conjunto de toda a economia que obrigado a mudar frequentemente atrav s da distor o de linhas de desenvolvimento estabelecidas h muito tempo e mais adequadas s necessidades do pa s Esta modifica o proposital das formas espaciais introduz um novo ritmo nas trocas e em compensa o introduz nova regula o do tempo nos v rios est gios da produ o A troca cada vez mais mediada pelo dinheiro provocando a circula o mais r pida tanto do capital mercadoria como do capital dinheiro A necessidade de financiamento cresce e a necessidade de dinheiro vivo rapidamente se toma fren tica Al m disso a monetariza o
273. nterna do grupo A pr pria alteridade o limite de entendimento l gico os valores a percep o de mundo a cosmografia Enfim bases de distin o tnicas que tamb m ser o agentes de desequil brio N o possuindo dom nio suficiente das regras do novo jogo Mesquita entrar em um circuito assim trico de rela o com a sociedade envolvente que a encaminhar ao colapso de sua ordem estrutural 90 Intufam se as necessidades de novos v os e entendimentos da ordem econ mica que surgia O empreendedorismo da poca captava inclusive a urg ncia para a alfabetiza o da comunidade ainda que de forma improvisada como alguns membros da comunidade descrevem iniciava se a primeira escola na sala da casa de Aleixo Pouqu ssimos de fato foram alfabetizados neste contexto Apesar da iniciativa haviam muitas dificuldades postas As primeiras escolas foi meu pai o Benedito Ant nio que trazia professora de Luzi nia em 1949 que trazia professora de Luzi nia a cavalo Ela passava a semana inteira na casa do sogro Aleixo Pereira Braga era aquela casona azul que tem l na frente S que ainda era muito fraco J A P Relato ao INCRA A paisagem da regi o era diferenciada substancialmente da atual Matas e poucos caminhos muita dificuldade de acesso inclusive para cidade de Santa Luzia Contam que esta dificuldade de acesso era sentida mais na hora de uma emerg ncia m dica Muita gente morreu m ngua Porq
274. nto Parteiras compadrio batizados Ritos de passagem do casamento Namoro casamento espa o relativo cerim nia em si costumes diversos Morte Hist rias de morte as propagandas premoni es ritos comuns formas de equil brio reciprocidade Os valores morais ticos e espirituais Metodologicamente para tratar dos saberes tradicionais a partir do conhecimento coletivo pesquisados no Quilombo Mesquita necess rio entender o conhecimento al m da biodiversidade mas para delimitar o foco da pesquisa vou dialogar apenas com os saberes referentes ao meio ambiente especificamente sobre o Cerrado especificamente os saberes sobre o Cerrado repassados e usados como forma de educa o ambiental Analiso como as pessoas do Quilombo Mesquita lidam com este bioma e suas especificidades como educam seus filhos ao se referirem sobre o cuidado que devem ter com o espa o comum e como a constru o do imagin rio das pessoas sobre este tema vou seguir esse fio condutor Tradi o oral Hist ria Popular Calend rio Festivo Ci ncia tradicional e tecnologia Sistema de Sa de Artesanato e Conhecimento do ciclo de vida frisando que o trabalha se ateve apenas a conhecimentos relacionados a biodiversidade 5 2 1 Tradi o Oral 199 Ao caminhar pela rua principal do Quilombo Mesquita num dia de festa pode se observar a troca de saberes que acontece entre as gera es jovens e crian as velhos e adultos dividem saberes e conte
275. nto territorial orientado pelo capital 182 margem desta ordem global est o homem lento conceito criado por Milton Santos 1994b em sua discuss o sobre t cnica espa o tempo para se referir ao homem que vem da periferia de car ter muito humano que n o pode usufruir das tecnologias capaz ainda de criar v nculos o oposto do homem veloz que faz parte da engrenagem globalizacional onde tempo dinheiro como diriam os americanos Sempre otimista em rela o ao futuro afirmava que era a partir do homem lento que o mundo iria sofrer uma grande modifica o Uso o termo para cara referendar o car ter amig vel solid rio e humano dos moradores do Quilombo Mesquita que invisibilizado pelo surgimento da Metr pole nesse caso Bras lia com todas as suas idiossincrasias resiste s for as verticais externas da globaliza o 4 3 2 O Reconhecimento da Territorialidade Quilombola Antropologicamente o termo quilombo se refere a grupos que desenvolvem pr ticas de resist ncia na manuten o e reprodu o de seus modos de vida caracter sticos num determinado lugar J o conceito de lugar faz refer ncia a um territ rio uma limita o real de um espa o habitado por um grupo referendada por sua territorialidade O conceito de territorialidade o esfor o coletivo de um grupo social para ocupar usar controlar e se identificar com uma parcela espec fica de seu ambiente biof sico convertend
276. nua seu conceito de moderniza o reflexiva dizendo que as tradi es s o racionalizadas e re inventadas e os s mbolos as suposi es as pr ticas os preconceitos as normas as cren as e padr es de comportamento s o ditos trazidos do passado atuando como materiais simb licos necess rios para a autoforma o da identidade individual e coletiva A tradi o molda o sentido que cada indiv duo tem de si mesmo e de pertencer a um grupo social Evidentemente medida que os indiv duos ingressam em grupos sociais e conhecem os espa os constru dos pela coletividade e pelas intera es sociais vivenciadas por seus membros passam a habituar se a seus c digos e sua sociabilidade Para Habermas essa solidariedade e autorreconhecimento que mant m a estabilidade do grupo A rejinven o das tradi es outro ind cio do processo de racionaliza o das tradi es na modernidade tardia E poss vel criar inventar reinventar tradi es e conferir lhes a apar ncia de repeti o 192 Consequentemente s mbolos mitos de origem percursos hist ricos identidades entre muitos outros elementos podem ser criados e recordados interpretados em perman ncia atribuindo um car ter de continuidade seguran a e estabilidade tradi o As tradi es re inventadas baseiam se na refer ncia a um passado hist rico e caracterizam se por estabelecer com ele uma continuidade artificial na medida em que s o rea es a situa
277. nvolva me e eu vou entender Conf cio Quando se encontraram as palavras Educa o e Ambiental na g nese da Educa o Ambiental desdobrou se uma tal afinidade proximidade e encantamento que nos pareceu surgir uma boa amizade marcada pela pol tica de respeito de verdade e de companheirismo O amigo afinal aquele para quem nos dirigimos busca de n s mesmos numa invers o ou reflexo da imagem do que mais gostamos em n s Nas rela es de amizade a intimidade condi o para que algo nos toque nos aconte a e nos transforme Antonio Carlos Amorim 2005 Somos o que somos porque o outro existe e sua exist ncia nos afirma Makiuchi 2005 Nesse cap tulo apresento macroconceitos em di logo com o emp rico articulados durante a interpreta o dos dados quando outras categorias emergiram do trabalho de campo na verdade foram e surgindo Minayo 1994 afirma que trabalhar com categorias significa agrupar elementos id ias ou express es em torno de um conceito capaz de abranger tudo isso dessa forma durante a an lise de conte do dos dados colhidos no trabalho de campo identifiquei temas recorrentes assim agrupei os em categorias que funcionaram com macroconceitos do campo Esses macroconceitos oriundos do emp rico j haviam sido citados ao longo do trabalho ainda que n o houvesse estabelecido as categoria a priori nesse capitulo trago o conceito e a forma como foi vinculado ao real durante as entr
278. o projetos de futuro Ribeiro 2000 Assim os sujeitos devem ser vistos com palavras e atos Arendt 2003 p 189 Existem poucos dados estat sticos sobre a realidade dos quilombolas do Quilombo Mesquita o que aponta a falta de reconhecimento desses sujeitos tanto pelo poder p blico quanto pelas institui es por isso considero que a an lise documental de textos hist ricos e documentos cartoriais ser importante para entender a quest o fundi ria e as rela es na comunidade Disso pode se observar como a comunidade quilombola formada em meio rural que um locus privilegiado manuten o da cultura e os costumes tnicos n o escapou aos avan os do progresso Para construir a narrativa onde se aborda a hist ria dos quilombolas em Mesquita foram empregados alguns procedimentos metodol gicos tendo como vetor principal os saberes tradicionais usados na fam lia e na comunidade tnica Por Mesquita ser um povoado rural localizada num espa o restrito facilitou concentrar e iniciar as observa es em um s espa o da comunidade qual seja a Igreja de Nossa Senhora D Abadia onde os moradores do Quilombo Mesquita se socializam atrav s do Sal o Paroquial do Centro de 145 Mem rias e da pr pria igreja Esses encontros da comunidade s o um fator de preserva o e manuten o da cultura tornou se importante para a pesquisa buscar os significados dessas reuni es e comemora es Desta forma metodo
279. o al m de ser um prato barato ganha contorno nacional como representativo de uma regi o e de um grupo tnico A marmelada nasceu das rela es hist rico culturais entre portugu s e africano Tudo indica que as receitas foram produzidas de acordo com a realidade local ou seja produzidas em conformidade os produtos que haviam naquele momento Por exemplo na falta de rapadura houve a substitui o por a car industrializado Tamb m na forma de conserva o como na safra precisam produzir com toda a fruta dispon vel pois existe um per odo de escassez do fruto os mesquitenses desenvolveram t cnicas simples para a conserva o do 211 produto levavam a polpa ao fog o de lenha e a cozinham com a car depois antes de dar o ponto a colocam em latas de 18 ou 20 litros que pra guardar de um ano para o outro Hoje a polpa j preparada em sacos de 10 quilos e s o colocados esses sacos no freezer podendo ficar de seis meses at um ano no freezer e s tirar quando f r fazer o produto garantindo portanto a produ o da marmelada durante o ano A marmelada age como indicador da identidade coletiva al m de nos remeter a marca o de fronteiras simb licas Como afirma Belasco 2008 p 8 a identidade envolve considera es de prefer ncias pessoais e tamb m processos que representam quem voc e onde voc est Identidade inclui fatores como as mem rias pessoais Observei durante a Festa do Marmelo de 20
280. o Rodrigues Frota ao p do morro Grande distante 1 8 8 p l gua Para reafirmar essa minha suposi o na literatura consultada constatata se que Meia Ponte Atual Pirenop lis vivia situa o de prosperidade e riqueza isso pode ser confirmado com os relatos e itiner rios deixados por viajantes que atravessaram a capitania ou prov ncia de Goi s depois de passar por Santa Luzia se referiam regi o como a desertos sert es decad ncia ruinas e abandono chegando perto de Meia Ponte com as fazendas e estabelecimentos rurais em muito melhor situa o o discurso muda e se referem ao local como um contraste com as ru nas e a decad ncia de Goi s principalmente na fala de Saint Hilaire sobre a capitania lvares 1997 pag 67 afirma ainda que o sargento mor Jos Correia de Mesquita participou tamb m das comiss es para construir a Igreja Matriz no ano de 1762 Ano da ca a aos Jesu tas feita pelo Marques de Pombal em Portugal quando ele mandou executar em pra a p blica o padre Malagrida que era amigo de muitos em Santa Luzia um reduto portugu s em Goi s essa reforma religiosa que acontecia em Portugal assustava este grupo que era fervorosamente crist o Existe na literatura tamb m referencias s estrat gias de resist ncia femininas cito aqui o estudo Escravas em A o Resist ncias e Solidariedades Abolicionistas na Prov ncia de Goi s S culo XIX de Th
281. o a assim em seu territ rio ou homeland Little 2002 3 cap tulo I desta tese falou se dos diversos processos de expans o de fronteiras no Brasil colonial das entradas ao interior pelos bandeirantes da escraviza o dos ndios nos s culos XVII e XVIII do uso de escravos africanos para a expans o das fazendas de gado e para a minera o em Goi s ambas a partir do s culo XVIII Baseada no conceito de territorializa o percebe se como essas frentes de expans o produziram choques territoriais e isto gerou novos processos de territorializa o por parte dos escravos africanos O quilombo Mesquita surgiu em um desses processos de territorializa ao O reconhecimento de um territ rio por parte do Estado muitas vezes acontece de um jeito diferente do que as regras consuetudin rias do local Ap s a aplicabilidade do Artigo 68 da Constitui o Federal SANTOS Milton T cnica espa o tempo globaliza o e meio t cnico cient fico informacional S o Paulo Hucitec 1994 190p 183 muitos grupos quilombolas entraram na luta pela regulariza o de seus territ rios Eis a emerg ncia de uma nova frente de expans o baseada em direitos tnicos No Decreto 4887 2003 Art 20 83 20 S o terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos as utilizadas para a garantia de reprodu o f sica social econ mica e cultural REP BLICA FEDERATIVA DO BRASIL MINIST RIO DA CULTURA FUNDA O CULTU
282. o a sociedade ocidental urbana moderna 127 Enfim o conhecimento cient fico s um modo de conhecimento e n o o conhecimento E mais o conhecimento est inserido na vida de cada um pois n o se vive sem conhecimento Todo e qualquer ser vivo tem que estar aberto para o mundo para o ambiente de onde tira o necess rio para se alimentar Nesse esfor o defino conhecimento tradicional no Quilombo Mesquita como aqueles saberes que foram constru dos com base na viv ncia hist rica daquela comunidade esses conhecimentos aparecem no cotidiano atrav s de a es de car ter religioso material e conhecimento do ciclo de vida com car ter hol stico animista que prioriza a integra o equilibrada do homem e da natureza Berger Filho Sparemberger 2008 p 13 Assim sendo deve se ver o conhecimento tradicional do Povoado Quilombola de Mesquita al m do conhecimento sobre a biodiversidade do Cerrado e abranger tamb m o conhecimento intang vel espiritual emocional muitas vezes ritualizado As comunidades tradicionais usam de sistemas de manejo dos recursos naturais marcados pelo respeito aos ciclos da natureza e pela sua explora o observando se a capacidade de recupera o das esp cies de animais e plantas utilizadas Esses sistemas n o visam somente explora o econ mica dos recursos naturais mas revelam a exist ncia de um complexo conjunto de conhecimentos adquiridos pela tradi o herdada das gera es
283. o a todo este movimento de estudos e in cio das constru es Mesquita se assustava com elementos que nunca tinha visto 91 Passava avi o aqui o pessoal n o sabia o que era aquilo Se tocava pra casa Pensava que era guerra mundial CBP RTDI 2011 Relato ao INCRA De fato poucos anos antes depois que o Brasil declarou sua entrada na Segunda Guerra Mundial em 1942 mesquitenses foram recrutados para o Ex rcito Esta era a nica refer ncia que tinham de avi es atrav s do r dio de pilha e das not cias dadas na concentra o do ex rcito Embora a popula o deste rural tenha sido recrutada e Seu S foi um deles ningu m chegou a ser enviado It lia onde se deu a pequena participa o brasileira em campo de batalha L no ex rcito que tiram o registro a identidade que ningu m tinha aqui Nem de nascimento SLC RTDI 2011 Relato ao INCRA Assim os avioes ficaram associados na comunidade a situa es extremas de guerra de combate o grupo desconhecia a inten o e os planos do Estado e o que viria a acontecer por estas terras Eu lembro das hist rias de vov Dito Ele diz que quando passava os avi es aqui o povo se escondia pensando que era guerra Sandra Pereira Braga O primeiro avi o que passou l no Mesquita tinha uma mulher uma vizinha nossa a An sia a menina tava buchuda e com uma guria pequena no bra o quando viu saiu correndo gritando socorro o mundo ta acabando A caiu no ch
284. o das terras descrito e o real Por exemplo falava se na propriedade de 18 km2 de terras teis e o memorial descritivo abrangia 50km2 Posteriormente novas sesmarias povoadoras originariam outros desenhos na malha fundi ria com latif ndios ainda de grandes propor es A concentra o fundi ria e a exist ncia e terras devolutas do Estado propiciam a forma o de grandes vazios os quais v o abrigar a partir do s culo XIX os chamados posseiros Baiocchi 1999 31 Da mesma forma que a realidade local era a n o regular sesmaria sabe se de abandonos de terras sem registro documental e diversas ocupa es de terra que atravessaram o s culo As tentativas de regulariza o fundi ria posteriores sentiram o impacto desta poca e suas marcas existem ainda na atualidade 59 Neste momento hist rico do Brasil quase inexistia a delimita o f sica das fronteiras entre propriedades rurais no interior do pa s E assim se dava a pecu ria em Santa Luzia Inexistindo cercas de arame o gado era criado larga misturado identificado apenas pela marca do propriet rio costeado apenas uma vez por ano e servido de sal nas guas pois durante as secas os campos queimados forneciam os sais minerais necess rios De um tanto em tanto se havia a barra de dois c rregos despenhados o suficiente para impedir a travessia do gado fazia se ali uma larga ou mangueir o com o lugar para confinamento do gado em tomo de um cocho de sal s vezes
285. o de 2006 Es O referido verdade e dou f a Certidao de Auto Reconhecimento TE EE E A FCP Brasil Fone 0 XX 61 3424 0106 0 XX 61 3424 0137 Fax O XX 61 3326 0242 E mail chefiadegabineteO palmares gov br http www palmares gov br A Felicidade do negro uma felicidade guerreira Wally Salom o Treccani 2005 112 113 afirma que sob esta i perspectiva a interpreta o do art 68 do ADCT n o pode ser feita sem levar em considera o outros artigos da pr pria Constitui o de maneira especial os arts2 215 e 216 que permitem afirmar que n o se est diante de uma mera regulariza o fundi ria mas do reconhecimento de uma nova modalidade de direito que respeita a forma o pluri tnica de nossa civiliza o Por isso a titula o dos territ rios quilombolas garante de um 184 lado o reconhecimento da terra e do outro a manuten o de sua cultura pr pria Trata se portanto de um direito tnico assegurado pela constitui o Assim a regulariza o fundi ria dos territ rios quilombolas est ligada diretamente a sua condi o e o reconhecimento da sua ocupa o e afirma o territorial como um grupo tnico respeitando as suas peculiaridades culturais e sua forma de se relacionar com o ambiente Assim a demarca o de um quilombo deve levar em conta as rela es territoriais que abrangem tamb m os la os afetivos culturais hist ricos econ micos do grupo A influ ncia m
286. o de grileiros caso n tido de injusti a ambiental contra aquela comunidade os herdeiros de uma rea quilombola Quilombo Mesquita localizada em Santa Maria lutam para proteger as terras da a o de grileiros e especuladores e assim n o perderem ainda mais territ rio em rea j reconhecida Em 2010 foi assinado um Termo de Ajustamento de Conduta TAC entre GDF Terracap e os herdeiros A partir desse acordo o Condom nio Porto Rico tornou se rea p blica pass vel de regulariza o Em contrapartida ao inv s de indenizar os quilombolas o governo optou por apresentar uma proposta de elaborar projeto urban stico para a rea que atualmente n o est habitada para efeito de compensa o de valores Hoje os herdeiros entraram na Justi a para ter o direito ao recebimento de indeniza o pela desapropria o das terras Parte da cidade sat lite de Santa Maria foi constru da em territ rio quilombolas e governo acordou com seus herdeiros o pagamento de indeniza o Os herdeiros comprovam que a rea em quest o alvo de grilagem Estamos sendo obrigados a proteger as nossas terras est o vendendo lotes em terras que na verdade nos pertence alertou um dos representantes do quilombo Correio Braziliense 23 09 2013 Acserald 2004 denuncia que o capital mostra se cada vez mais m vel acionando sua capacidade de escolher seus ambientes preferenciais e de for ar os sujeitos menos m veis a acei
287. o do conhecimento das ci ncias humanas deseja pensa faz op es e se movimenta ou est crivado de desejos e sentimentos tal qual o seu estudioso Macedo 2002 p 43 A condi o humana um dos pontos de interesse de pesquisa que trago desde a gradua o nesse tema eu teria alguns caminhos a seguir e a minha interroga o inicial era de como os moradores de uma comunidade identificada como quilombola transmitiam os conhecimentos ecol gicos tradicionais aos seus descendentes e se esses conhecimentos poderiam ser considerados ferramentas de educa o ambiental Na escolha de caminhos para essa investiga o busquei diferentes estrat gias para desenvolver teoricamente minha hip tese inicial Por m sempre sobrevinha uma ang stia de n o estar retratando de forma academicamente adequada as vari veis que influenciavam essa transmiss o de saberes intergeracional Usei de uma forma muito pessoal meu caderninho verde que era meu di rio de itiner ncia o que Bourdieu 2002 chama de ferramenta de investiga o que representa um percurso estrutural de uma exist ncia concreta tal qual se manifesta pouco a pouco e de uma maneira inacabada no emaranhado dos diversos itiner rios percorridos por uma pessoa ou por um grupo Bourdieu 2002 p 134 As leituras encontros semin rios incertezas e m goas eram ali anotadas era revisitado toda vez que a mem ria falhava e quando a linha t nue da fronteira do racional e do imagi
288. o do territ rio da comunidade tradicional do Quilombo Mesquita recorrendo mem ria dos idosos da comunidade em busca de fatos No Quilombo Mesquita at a segunda metade do s culo XX s abrigava os negros estrat gia para a manuten o da terra entre este grupo tnico RTDI 2011 9 N o podia entrar outra Na o branco a com os pretos n Aqui era tudo preto Depois que foi entrando Agora t preto e branco C P B RTDI 2011 Antigamente aqui s era negro refor ado N o se via miudinho Era neg o forte nega sei da Quando se via um branco era passageiro BAP para o Correio 2009 A principal fonte documental para o desenvolvimento desse cap tulo s o as informa es contidas nos trabalhos Relat rio T cnico de Identifica o e Delimita o documento produzido pelo INCRA em 2011 uso tamb m o livro Hist ria da Terra e do Homem no Planalto Central escrito por Paulo Bertran historiador goiano em 2000 o trabalho Quilombos do Brasil Central viol ncia e resist ncia escrava 1719 1888 de Martiniano J Silva 2008 o livro Economia e escravid o na capitania de Goi s de Gilka V F de Salles 1992 e o trabalho Trajet rias para a liberdade escravos e libertos na capitania de Goi s de Maria L Loiola 2009 al m dos diversos estudos do Prof Dr Rafael Sanzio Ara jo dos Anjos em especial 9 Relat rio T cnico de Identifica o e Delimita o 2011 INCRA SR 28 38 Cartografia Da Di spora f
289. o e frentes de expans o rumo a Goi s Palac n 2001 Quanto aos quilombos continuaram a existir sob outra l gica Com a aboli o os senhores tornaram se latifundi rios e os quilombolas transformaram se em camponeses pobres Assim o que 61 antes era a luta pelo n o aprisionamento transformou se em luta pela perman ncia na terra Situados do outro lado da linha abissal a necessidade de resistir permaneceu entre eles guas 2011 Bertran 2000 relata que no arraial de Santa Luzia aconteceu o mesmo por m em um micro cen rio Em um primeiro momento a comarca do sul que foi o grande palco da minera o teve xito econ mico sobre a comarca do norte atual regi o de Formosa que subsidiou intensamente a agropecu ria Com o decl nio do ouro as pot ncias se inverteram A comarca do norte por ser localizada nos caminhos s passagens reais e receber e enviar os rebanhos para Bahia possuiu xito sobre a comarca do sul atual regi o de Luzi nia um pouco mais long nqua e fora de rota Por este motivo o arraial se retraiu um pouco mais em sua economia de subsist ncia Santa Luzia foi assim caracterizada por Saint Hilaire em sua visita no ano de 1819 E a cria o de gado que constitui atualmente a fonte de renda mais segura dos fazendeiros de Santa Luzia mas nem por isso s o grandes os lucros obtidos n o s porque eles precisam dar sal aos animais se quiserem conserv los mas principalmente porque as fazen
290. o o entrevistador coloca o tema e o entrevistado tem a liberdade de falar sobre a quest o Matos Pess a 2009 p 288 Um meio de isso acontecer atrav s da interdisciplinaridade em que permite a intera o de todas as reas de estudo tanto pelo pesquisador como pelo objeto de estudo A interdisciplinaridade proclamada hoje em dia n o s como um m todo e uma pr tica para a produ o de conhecimentos e para sua integra o mas cooperativa na explica o e resolu o dos cada vez mais complexos problemas do desenvolvimento LEFF 2007 p 72 Interdisciplinaridade muito mais que uma atitude frente ao conhecimento imposs vel pensar em atitude sem pensar em religa o de saberes sem pensar em gratid o e negocia o sem pensar em reconhecimento Nesse sentido construir e defender um conceito pr prio de interdisciplinaridade exige buscar a ess ncia do todo conceito nas partes retalhos te ricos que j foram tecidos Fazenda 2008 O saber ambiental alcan ado pelo uso da interdisciplinaridade pode proporcionar v rias op es de an lise do uso desses saberes tanto pela comunidade como pelos estudiosos O saber ambiental ultrapassa o campo da racionalidade cient fica e da objetividade do conhecimento Este saber est se conformando dentro de uma nova racionalidade te rica 3 FAZENDA Ivani C A SEVERINO Antonio J Org O que Interdisciplinaridade Ed Cortez 2008 125
291. o olh A identidade quilombola foi refor ada no Quilombo Mesquita principalmente pela liga o com a terra pelo parentesco e origem comum e pelas necessidades pol ticas no que diz respeito ao reconhecimento dos direitos das minorias antes invisibilizadas frente ao Estado O exerc cio de mem ria coletiva que explica a atual situa o cr tica a lembran a e reconstru o do passado como comunidade forte nos tempos do Aleixo e atualmente fraca por conta do encolhimento dos 218 lugares dispon veis para a reprodu o social e da baixa autoestima da comunidade diante da especula o imobili ria e dos fazendeiros que representam as for as hist ricas e hegem nicas de opress o Os jovens conhecem a hist ria e existe hoje um grupo que se articula para interagir e dar prosseguimento as lutas pela posse da terra tradicional de seus pais e av s Esse grupo um grupo musical que se denomina Som do Quilombo que se reconhece como descendente e divulga as a es culturais do Quilombo Inclusive produzindo document rios e reportagens sobre o grupo tnico do qual fazem parte O INESC lan ou o programa de r dio intitulado O desafio de educa o para comunidades quilombolas que foi elaborado por jovens moradores do quilombo Mesquita o mais pr ximo da Capital Federal A iniciativa desenvolvida pelo projeto Onda adolescentes em movimento pelos direitos foi toda concebida pelas oficinas do projeto e pelos pr prios jov
292. o que desmatar uma rea referente a quarenta campos de futebol n o lhes causas nenhum constrangimento nem moral nem tico s se incomodam com o meio ambiente por causa da exig ncia de licenciamento ambiental desconhecem se existe povo nesse territ rio Para essas pessoas o cerrado na rea do Quilombo Mesquita significa terra barata e pass vel de ser loteada e vendida a bom pre o pela proximidade com a capital federal assegurando lucros na grilagem dessas reas decididamente n o v em nela um territ rio tnico ocupado por uma comunidade centen ria historicamente relacionada com o bioma Cerrado Assim nos diferentes tipos de conflitos observados durante a pesquisa de campo na Comunidade Remanescente de Quilombo do Mesquita constatei que aquele territ rio assume diferentes significados para os grupos que o disputam significa rea que possibilita f cil escoamento de produtos quando na abertura de estradas significa lenha para os desmatadores que a vendem para fornos de padarias lavanderias e carvoarias reas para explora o de lazer 244 sem planejamento terra para grilagem e n o um territ rio reconhecido e protegido na Constitui o brasileira A Comunidade pede apenas para que sua forma de vida seja respeitada respeito inclusive devido por acad micos e estudiosos que se mudam com suas ideologias para o Quilombo interferem na din mica do grupo ao fazerem o que chamam de pesquisa militante e
293. o ser inferior O fato que mesmo ap s a aboli o estes grupos continuaram vivendo margem da organiza o social do pa s Os negros migraram da rea de extra o de ouro para o rural de Santa Luzia Em grupos direcionaram se a diversos locais O assentamento na Fazenda Mesquita se deu pela vastid o de terra virgem e principalmente pela disponibilidade de gua no local O morador continua seu relato aos t cnicos do INCRA Eles veio que foram tocado veio do garimpo os escravos Uma comitiva dos escravos N o tinha ningu m Era mato uma coisa deserta mesmo Fazia aquele limp o a muita gua por todo lado n Todo mundo trabalhava em Luzi nia arrancando ouro quando libertou a mandou tudo embora o neg cio foi assim Isto aqui foi comprado arremataram por oito primitivo isto aqui 600 alqueires 71 No relato de hist ria Oral o morador idoso se refere a Outras turmas usando uma terminologia local seguiram rumo ao norte da regi o se fixando em outras reas e estabelecendo trocas entre si A que se tem maior notoriedade de aproxima o com os negros de Mesquita foi n cleo que se fixou em rea que atualmente delimitada como a Regi o Administrativa de Santa Maria do Distrito Federal Embora as turmas ou grupos de parentesco apresentassem certa distin o entre si os negros de Mesquita consideram tudo parente da mesma fam lia os daqui eram daqui e os de
294. obre esses assuntos Ladainhas Voc conhece Me fala alguma Ainda existem Onde Folias Voc conhece Me fala alguma Ainda existem Onde Missas Voc gosta de ir a Missa Qual seu santo de devo o Oferendas a santos Voc conhece os santos Voc faz rezas pra eles Acende vela Pra quem F em Nossa Senhora da Abadia Quem foi essa Santa Por que voc devota 0 Sonhos Voc acredita que sonho um aviso de alguma coisa Me fala sobre isso Pressentimentos Voc tem pressentimento Me conta J pressentiu algo e aconteceu Cura pelos benzedores Quantos benzedores voc conhece por aqui Me fala do trabalho deles Existiam outros Quem eram os mais afamados Eles usavam o que era benzer e curar Os mais jovens ainda procuram os benzedores Hist rias contadas Voce conhece alguma historia acontecida aqui nessa regi o Me conta 285 Aqui faziam pescarias Onde Ainda fazem Por que Aqui as pessoas ca avam Que tipo de bicho tinha aqui O que aconteceu com eles Quadros pintados Existe algum pintor ou pintora por aqui livros escritos Algu m daqui j escreveu livro sobre a historia de voc s Voc tem esse livro Culin ria Me fala das comidas que voc s usam aqui nas datas festivas A comida mudou do tempo antigo para o tempo de hoje Como isso Anexo II Oficinas 2 etapa trabalho em campo OFICINA 1 O RIO DA MINHA VIDA Data 21 e 22 de Setembro de 2013 Local Associa o do Povoado Mesq
295. ocais da for a de trabalho que se caracterizou por um imbricamento da esfera p blica e privada em uma rela o assim trica entre os segmentos sociais mais favorecidos e menos favorecidos A escravid o em Goi s n o mais movimentava a economia local desde o in cio da decad ncia da minera o no per odo que contemplou as d cadas de 1780 1820 A agropecu ria n o conseguiu se desenvolver e competir com outras prov ncias e manter um elo com o mercado inter regional e internacional Assim com a decad ncias da minera o e a convers o econ mica para agropecu ria a utiliza o da m o de obra escrava foi decaindo consideravelmente no interior da Prov ncia A sa da para isso foi oferecer liberdade condicional aos cativos que ainda existiam e passaram utiliza o do trabalhador agregado fosse colono ou jomaleiro geralmente residente nos arredores das fazendas Souza Filho 2002 86 87 15 A organiza o dos grupos negros mais isolados tamb m passou por transforma es com estas adapta es Com a expans o de um mercado interno em Goi s outras caracter sticas nas rela es tra adas expressaram as necessidades contingenciais constituindo um novo cen rio Comunidades negras rurais j estabelecidas em lugares remotos algumas mesmo em total isolamento receberam o afluxo do povoamento paulatino das terras virgens antes n o imaginado Assim adaptaram se e inseriram se na rede de trocas e reciprocidades da economia de
296. ociais na Web foi feita tamb m uma entrevista semiestruturada online usando ainda a abordagem etnogr fica apesar da ferramenta ser digital e dava ao entrevistado liberdade para as respostas consegui com esse instrumental esclarecer pontos ainda obscuros na minha an lise Minha etnografia teve mais a ver com o dia a dia do que com a mem ria mesmo que eu reconhe a que as nossas conversas mesmo sem direcionamento pendia entre o passado o presente e as possibilidades futuras essas sempre eram ligadas quest o da regulariza o fundi ria 7 https www facebook com pages Quilombo Mesquita 242891922469598 fref ts 142 O trabalho de campo foi realizado em momentos de observa o onde usei a t cnica Fly on the wall que envolveu per odos entre m dios e breves de observa o local Estive presente apenas observando sem interferir nas a es do grupo ou da pessoa observada e registrei tanto a regularidade da vida cotidiana quanto momentos curtos e significativos como a conversa das mulheres na cozinha a feitura das caixetas para a marmelada o decurso das festas comunit rias ou mesmo a participa o das lideran as do Quilombo em eventos fora do Quilombo A minha inten o era conseguir uma aproxima o como pesquisadora com os moradores do quilombo mesquita sem no entanto interferir nos processos internos da comunidade por ser um tipo de observa o caracter stico dos estudos qualitativos
297. odos de vida pr ticas sociais a eles correlatos e interesses espec ficos dos grupos sociais potencialmente atingidos s o levados em considera o no processo de tomada de decis es e 5 o envolvimento dos grupos potencialmente atingidos assegurado viabilizado e facilitado pelas inst ncias respons veis pela tomada de decis o RBJA 2004 O termo Justi a ambiental um conceito recente do final do s culo XX um conceito que sofre forte resist ncia nos meios acad micos como tamb m em estudiosos da quest o tnica uma vez que acreditam que devido ao excessivo foco em quest es locais n o daria conta de encampar todas as lutas na perspectiva do racismo Na esfera governamental a n o utiliza o do conceito em textos e documentos oficiais n o abarca a diversidade dos problemas sociais brasileiros e que criminaliza o setor produtivo sem oferecer alternativas para esse segmento uma alta funcion ria me reiterou sua preocupa o com o termo um guarda Chuva grande demais que aglutina temas muito diversos de solu es distintas as pol ticas p blicas s o definidas por temas assim sendo o termo n o responde as expectativas dessa gest o 151 Para Alier 2011 o movimento inventou uma potente combina o de palavras justi a ambiental desviando o debate ecol gico da preserva o e conserva o da natureza para a justi a social e ampliando a perspectiva de lutas tidas inicialmente como locais 4 1
298. oeira MT M Um doente carregado por um sadio Na estrada o sadio adoece e morre O doente o enterra e finca uma cruz no lugar da morte e depois chega sozinho ao destino e sobrevive O caminho ficou ent o sendo considerado sagrado pela comunidade O povo de Mesquita em tempo de chuva colocava lata de gua na cabe a pedra na cabe a ia tudo por l no p da cruz l rezar n o povo tudo rezando e punha as pedras l tudo HTM O territ rio onde essa pr tica religiosa acontecia foi expropriado e com essa restri o ao local o povo foi desacreditando Eu lembro quando eu era pequenininho tinha uns 8 anos vamos pra cruz de Sime o As vezes naquela poca que n o chovia e o povo queria que chovesse e seca era meio grande a fazia a penit ncia ia com lata d gua na cabe a outro com caba a d gua na cabe a despejava l tudinho rezava l tudinho eles tinha f e chovia O tempo foi mudando o povo parece que vai n o acreditando mais nem rezar eles gostam mais MTM Este lugar da Cruz de Sime o Fica fora fica no fim de Mesquita da terra ocupada atualmente E que o Mesquita antigamente era do Saia Velha pra c a depois foi retalhando tudo e s ficou esse miolinho MTM Foi tamb m depois da perda substancial de suas terras que a comunidade desenvolveu outro tipo de rela o com os ritos funer rios e a salvaguarda de sua mem ria foi abalada Expressam dor neste tipo de situa
299. ofessores de 17 Minamata uma cidade japonesa que sofreu graves conseq ncias devido a contamina o por merc rio Centenas de pessoas morreram e milhares tiveram anomalias que acabaram passando para as novas gera es Na d cada de 30 uma empresa se instalou na regi o a Chisso A empresa que fabricava acetalde do usado na produ o de material pl stico jogava seus res duos com merc rio nos rios contaminando os peixes Como a doen a leva alguns anos para se desenvolver somente em 1956 come aram a surgir os primeiros casos da doen a Os hospitais recebiam pessoas com os mesmos sintomas problemas no sistema nervoso e no c rebro causando dorm ncia nos membros fraquezas musculares defici ncias visuais dificuldades de fala paralisia deformidades levando at mesmo morte No princ pio as autoridades acreditavam que se tratava de uma epidemia mas os gatos come aram apresentar doen as com as mesmas semelhan as Somente de dez anos depois os m dicos descobriram a causa o consumo de peixe contaminado por merc rio base da alimenta o daquela popula o Estima se que a empresa descartou de 200 a 600 toneladas de metilmerc rio na ba a da cidade Depois de v rias batalhas judiciais a empresa foi obrigada a indenizar as v timas mas o resultado da contamina o se faz sentir at hoje 8 Tratado sobre a Ant rtica ou Tratado Ant rtico firmado em Washington em 1 de dezembro de 1959 e vigente desde 1961 pro b
300. ola exerceu papel importante na conex o de Goi s s rotas do tr fico atl ntico de escravos A historiadora demonstra que apesar da abertura do Caminho Novo via Rio de Janeiro confirma que o maior fluxo de escravos que chegava regi o continuava a ser via Caminho doSert o principal trecho interno do com rcio atl ntico de almas Para Loiola melhores condi es de viagem seja pela maior seguran a seja pelo menor desgaste f sico durante opercurso tornaram essa rota mais atrativa e preferencial aos comboieiros para transportar as mercadorias e os escravos que abasteciam a Capitania de Goi s ainda que a corrup o e asonega o estivessem presentes neste trecho continental entre Goi s e Africa formando verdadeiros des caminhos do sert o 1 3 Hist rico da Cidade Luzi nia Uma cidade de escravos Finalmente ap s uma jornada longa e tediosa avistei Santa Luzia de Goi s o arraial a que me destinava Saint Hilare 1819 A forma o populacional de Luzi nia data de 1746 quando a Capitania de Goi s foi criada por alvar atendendo a Metr pole que tinha grande interesse em abrir caminhos por terra para o interior criando um acesso de S o Paulo a Minas Gerais e Mato Grosso passando por Goi s lvares 1979 15 uma das ltimas minas descobertas na capitania foi no arraial de Santa Luzia regi o do Quilombo de Mesquita O historiador Joseph de Mello lvares nascido no Arraial em 1837 re
301. oncordava com a forma e conte do da reda o Assinatura do Entrevistado 281 Local e data Anexo II ENTREVISTAS Data da realiza o Entre 16 e 22 de Setembro de 2013 ROTEIRO ENTREVISTA Jovens da Comunidade 1 DADOS PESSOAIS 1 Seu nome 2 Sua idade 3 Onde nasceu 4 Mora com quem 5 Me fale sobre o seu dia a dia o que voc faz 6 Voc trabalha em qu Quantas horas Quanto ganha 7 Voc estuda 8 Voc tem entre seus amigos e parentes pessoas idosas que nasceram no Quilombo Mesquita Quem essa pessoa Sabe a hist ria dela 282 9 Voc conhece alguma hist ria do passado contada por essa pessoa sobre essa regi o ou sobre as pessoas ou mesmo um causo ou assunto que relembre o passado do Quilombo Mesquita Conta por favor 11 Voc se identifica como remanescente de pessoas escravizadas Por qu Se sim voc tem alguma dificuldade por ser quilombola Em qu e por qu 12 Voc conheceu alguma historia do seu povoado ainda na escola com o conte do sendo trabalhado pelos as professores as 13 Voc relembra alguns ensinamentos que recebeu dos mais antigos e que voc usa hoje em dia Que ensinamento foi esse 14 Voc cuida do cerrado dos matos dos riachos do terreiro como eles cuidavam antes Voc se lembra do que os mais antigos falavam sobre o cerrado e como ele devia ser tratado 15 Qual a origem de sua fam lia 16 Como se d o relacionamento fam lia escola comuni
302. or Jnaquilo que s o suas caracter sticas expl citas e t citas Macedo 2006 p 133 A pesquisa foi realizada com o uso de m todos da pesquisa etnogr fica como a observa o participante com registro j citado em di rio de campo e entrevistas n o estruturadas conversas para a coleta dos depoimentos Outra maneira de participar e registrar os fatos no campo foi por meio de consultas a documentos hist ricos e oficiais visitas a bibliotecas e consultas a outras produ es acad micas al m do aux lio do registro fotogr fico que enriqueceu o trabalho Os jovens al m dos depoimentos participaram com os desenhos usados na tese e tamb m com as fotos Vivenciei grandes obst culos at conseguir a supera o dos mesmos s consegui caminhar no trabalho ap s ter consci ncia de que eles existiam e estavam comprometendo o meu processo da pesquisa Acredito que foi superado quando estabeleci uma atitude de escuta sens vel Barbier 2002 dos acontecimentos silenciados daquilo que as falas os olhares os gestos nos indicavam mas n o era verbalizado de tentar olhar a comunidade como um todo um esfor o para historicizar esse todo que eu buscava encontrar revelando uma ancestralidade comum ligada aos saberes e fazeres vida cotidiana dos moradores do Quilombo Mesquita e seus modos de viver tradicionais ligados ao Cerrado E foi essa atitude que me levou a entender que esse sil ncio dos saberes desse povo era provoca
303. ortamento isto diferen as culturais persistentes Contudo onde indiv duos de culturas diferentes interagem poder se ia esperar que tais diferen as se reduzissem uma vez que a intera o simultaneamente requer e cria uma congru ncia de c digos de valores melhor dizendo uma similaridade ou comunidade de cultura Assim a 242 persist ncia de grupos tnicos em contato implica n o apenas crit rios e sinais de identifica o mas igualmente uma estrutura o da intera o que permite a persist ncia das diferen as culturais Barth 1998 196 O conflito nos indica que o problema ambiental no Quilombo Mesquita um produto da rela o entre os homens que por sua vez incide sobre a quest o ambiental territ rio ou pela posse dele assim que o conflito ambiental aparece na Comunidade objeto dessa tese mostrando que existem estruturas sociais de poder naquela rea Acselrad define conflitos ambientais como Aqueles envolvendo grupos sociais com modos diferenciados de apropria o uso e significado do territ rio tendo origem quando pelo menos um dos grupos tem a continuidade das formas sociais do meio que desenvolvem amea ada por impactos indesej veis transmitidos pelo solo gua ar ou sistemas vivos decorrentes do exerc cio das pr ticas de outros grupos Acselrad 2004a p 26 Nesse conceito o autor j se refere ao conceito de territ rio j que o que est em confronto s o os modos di
304. os acontecem em ch caras dentro do quilombo usadas como reas de lazer e s o exemplos do uso privado dos recursos naturais como objetos de valor de troca significando a dimens o econ mica desses lugares de lazer onde os benef cios n o s o repartidos com o grupo Estes usos n o s o feitos com consulta ao grupo tnico e nem significam preserva o do ambiente f sico muito pelo contr rio geram lixo e polui o sonora que neste caso socializado com todos Al m de tamb m trazerem problemas com rela o seguran a para os moradores 5 3 4 Condom nios 5 3 4 1 Condom nio Porto Rico partir do final da d cada de 1970 come aram a surgir os primeiros loteamentos para os futuros condom nios que hoje se apresentam de forma bem vis vel em quase toda regi o envolvente ao Quilombo Mesquita Na Regi o Administrativa de Santa Maria DF surgiu o Condom nio Porto Rico hoje Setor Habitacional Ribeir o essa rea foi regularizada como n cleo urbano pela Lei Complementar Distrital 650 de 24 12 02 que regularizava a venda de lotes na rea do condom nio A rea onde esse loteamento considerado legal pelo GDF no entanto rea que desde 1857 foi certificada por certid o de registro paroquial como de fam lias quilombolas que ainda hoje vivem em Santa Maria DF e no Quilombo Mesquita S o terras comprovadamente ocupadas secularmente por fam lias quilombolas que tem seus descendentes vivendo ainda hoje no Povoado es
305. os caminhos e teorias n o imaginados no in cio da pesquisa Por m com o surgimento nessas teorias intui se que se n o fosse assim n o era preciso nem se fazer a pesquisa as respostas j estariam prontas C ssio Hissa 2009 p 1 questiona Como saber o futuro de resultados ainda n o constru dos N o se pesquisa para investigar algo desconhecido N o se desenvolve uma pesquisa para testar algo ainda nunca testado em determinadas situa es E sobretudo n o se pesquisa para inventar um novo arranjo de resultados um novo desenho de respostas s quest es que s o formuladas teoricamente ainda que isso se fa a a partir de dados j trabalhados Caso contr rio para que pesquisar Para que pesquisar o que j se conhece Metodologicamente essa pesquisa ao considerar como fonte de dados aspectos subjetivos do ambiente vivido no Quilombo Mesquita e sua composi o como grupo social a sua rela o com o lugar e sua percep o sobre o meio ambiente usou uma abordagem qualitativa com base nos princ pios da etnopesquisa cr tica e etnopesquisa forma o de Macedo 2006 e tamb m a escuta sens vel da pesquisa a o existencial de Barbier 2002 s o as minhas op es para compreender os processos intersubjetivamente constru dos na Comunidade como as pessoas conhecem e utilizam para definir sua hist ria e suas a es ordenar suas atividades para mostrar comportamentos que s o considerados t picos S o estas pr ticas
306. os da rea de circula o habitual 5 3 CONFLITOS NO QUILOMBO MESQUITA 0 outro me olha e como tal det m o segredo de meu ser e sabe o que sou assim o sentido profundo de meu ser acha se fora de mim aprisionado em uma aus ncia o outro leva vantagem sobre mim Sou experi ncia do outro eis o fato origin rio SARTRE 1999 p 453 Iniciei esse cap tulo partir de uma necessidade de categorizar os diversos embates vividos no Quilombo Mesquita no meu contato com a comunidade durante minha pesquisa de 241 campo notei que permeabilidade do espa o transfronteiri o traz um conjunto de conflitos socioambientais que ocupam grande parte dos problemas vivenciados por eles assim surgiu a necessidade de categorizar esses tr s termos Fronteiras alteridade e conflitos A categoria conflitos um campo de estudo da Ecologia Humana e definida como confrontos que envolvem atores socais que t m diferentes l gicas e formas de pensar a rela o entre o ser humano e natureza e surgindo nas sociedades concep es distintas e muitas vezes divergentes sobre o uso e sentido do ambiente e dos recursos naturais Em fun o disso a quest o ambiental torna se conflitiva Segundo Muniz 2009 Nesse aspecto tem se a evidencia de que o conflito ambiental se d no embate entre grupos e atores sociais de interesse e a o divergentes Dessa forma os conflitos ambientais envolvem grupos e atores sociais com diferenc
307. os herdeiros dos antigos donos o valor do terreno Hoje muitos dos 354 herdeiros do terreno de 473 hectares localizado na regi o de Santa Maria passam por dificuldades financeiras e dependem da indeniza o Os membros da associa o receiam que se repita o que aconteceu quando parte do terreno 162 hectares foi desapropriada e ergueram 5 mil casas das quadras 300 440 e 500 de Santa Maria e eles nunca receberam a indeniza o pelo que lhes de direito De acordo com o gerente de condom nios do DF n o h mais impedimentos jur dicos na quest o da indeniza o Falta apenas que a Terracap decida se vai pagar apenas pela rea do Condom nio Porto Rico ou se tamb m vai querer as reas vazias explicou Paulo Serejo Questionado pelos herdeiros do esp lio o governador Arruda garantiu que os pagamentos ser o feitos A Constitui o da Rep blica Federativa do Brasil de 1988 no artigo 683 do Ato das Disposi es Constitucionais Transit rias ADCT disp e que aos remanescentes das comunidades de quilombos que estejam ocupando suas terras reconhecida a propriedade definitiva devendo o Estado emitir lhes os respectivos t tulos O Decreto n 4 8874 de 20 de novembro de 2003 que trata da regulamenta o do procedimento para identifica o reconhecimento delimita o demarca o e titula o das terras ocupadas por remanescentes das comunidades quilombolas de que trata o art 68 do Ato das Disposi es Consti
308. ou por terem sido griladas ou vendidas bem como a quantidade de terras para plantar cana que a mat ria prima para a produ o do a car de forma escassa a conversa entre alguns quilombolas mostra o problema Senhor A o marmelo tem que plantar em terra que aceita plantar marmelo tipo aquela ali de G essa aqui e aquela nossa ali n o boa pra marmelo a eu te pergunto o marmelo tem prefer ncia de terra ou depende de quem planta Senhor C Tem prefer ncia sabe porque que eu digo pra voc s que tem prefer ncia Pra baixo poroso pra cima at topar l na Cidade Ocidental pra esse lado a qualquer lugar que plantar marmelo d bem porque uma terra barrenta dura e eu gosto dessa se tiver cascalho tamb m n o tem problema Senhor B falta terra tamb m pra plantar cana tem muitos quilombolas que tem o lugar deles e n o pode entrar no outro igual aqui eles tomou conta do quintal todo dele aqui quintal de Seu C onde que ele vai plantar cana Sr C planto mais pra incentivar porque a a gente vai incentivar e a falam mas voc n o tem marmelo n o tem n o a terra que n o permite Outro problema enfrentado pela comunidade de Mesquita no que tange ao resgate do plantio do marmelo e produ o da marmelada e do a car de forno diz respeito a uma nova l gica onde aparentemente os mais novos n o se interessam em plantar e fazer marmelada o que coloca em cheque um
309. ovem da comunidade No cotidiano da fam lia os interc mbios dos saberes sobre ervas medicinais produzidos e o resgate desse saber local s o citados e avaliados pelos jovens como patrim nio que os enriquecem na comunidade 231 Esp cie Nome Modo de Parte Forma de Cient fico Propaga o Utilizada Uso A afr o Curcuma Rizomas estacas de Rizoma Ch infus o gargarejo com longa rizoma em viveiro pressa bochecho Alecrim Rosmarinus Sementes ou estacas Folha Ch infus o banho bochecho officinalis em viveiros gargarejo compressa Alfavaca Ocimum sp Sementes ou estacas Folhas Ch infus o banho de galho em bochecho gargarejo compressa viveiro Anador Justicia Sementes estacas de Folhas Xarope infus o pectoralis galho em viveiro Babosa Aloe vera Brotos direto no campo Folhas Macera o cataplasma compressa suco p da folha Boldo Plectrathus Estacas de galho em Folha Infus o macera o barbatus viveiro Capim Cymbopo Divis o de Folha ri Infus o lim o gon citratus touceiras zoma Erva Lippia alba Estacas em Folha Infus o inala o cidreira viveiro Erva de Santa Chenopodi No campo Ramos Sumo da um ambrosi por semen folha compressa ch cataplasma oides tes repelente Guaco Mikania Estaca de Folhas Infus o xarope glomerata folhas mer Hortel vick Mentha x Estaca e Parte a rea Infus o inala o arvensis galho ou compressa banho Hortel rastei Mentha Estacas em Parte a rea Infus o fo
310. passa no tinturador triturador passa na peneira no 208 mesmo processo de peneirar antigamente mo a na m quina hoje n o m i mais no triturador pra moer o marmelo depois da polpa dela pronta a gente coloca ela em freezer ou em lata mesmo lata de 18 20 litros que pra guardar de um ano para o outro Ent o ela a polpa preparada em sacos de 10 quilos coloca os sacos no freezer a ela fica dura seis meses at um ano no freezer s tira quando vai fazer o produto quando vai fazer a marmelada a sucessivamente Pra fazer um quilo de massa e um quilo e meio de a car que comp em a composi o dela se for quinze quilos de massa s o vinte de a car e a at chegar ao ponto de colocar na caixete n o tem segredo A coloca o a car na calda faz a calda no tacho fervente depois da calda vem aquela puxazinha que engrossa at fazer a puxa a que vem a massa j descongelada coloca na calda pra dissolver pra fazer a com trinta minutos j t a marmelada pronta A calda j feita no tacho Coloca o a car a gua mais ou menos dez quilos de a car uns cinco litros de gua a dissolve a ela torna a fazer aquele melado n a quando d o ponto a a gente j coloca a massa dentro a fica trinta minutos no tacho at o processo de colocar na caixeta Portanto a marmelada composta por ingredientes que vem da terra cultivada na comunidade e por a car sem conservantes ou o
311. passado possam se inserir no presente ressignificando suas tradi es na sua rela o com a natureza Concluo que as a es cotidianas da comunidade do Quilombo Mesquita s o resultantes de um saber fazer coletivo e que sua transmiss o um exemplo de pedagogia ambiental Essa tradi o se recria hoje no Quilombo numa recombina o com a modernidade exemplificando os contatos com Slow Food viveiros agricultura org nica p ginas em redes sociais adquirindo atualmente maior visibilidade e legitimidade repassando as li es de vida no cuidado com a natureza buscam unir no uso e conserva o do ambiente a tradi o e a modernidade Assim o di logo entre saberes na transmiss o desses conhecimentos implica em um encontro entre tradi o e modernidade em novos termos ou seja mesmo que se tenha que reinventar as tradi es elas devem ser ressignificadas criando o novo A educa o Ambiental implica um olhar para o futuro e o passado ou melhor um ver de onde se est vindo que envolve a riqueza das tradi es e conhecimentos do passado mas sem ir para tr s Agregar o novo sem perder a grandeza dos conhecimentos seculares Nesse dialogo entre o moderno e o tradicional o uso da mem ria das viv ncias s cioeducativas e dos saberes ambientais no Quilombo permitem a realiza o da educa o ambiental informal atrav s dos di logos da troca de conhecimentos e da descoberta de tradi es culturais sobre o ambiente em
312. paz de dialogar com todas as categorias que surgiram nesta tese Boaventura 2002 convida a observa o a partir da margem assim teremos uma vis o de tudo que descartado para que o centro se reafirme como tal o descarte de tudo que n o considerado importante pelo poder hegem nico No Quilombo Mesquita a margem todo saber invisibilizado pelos que pretendem a ocupa o daquele territ rio centro quando negam a origem tnica e hist rica do territ rio e tratam as reinvindica es da comunidade do Mesquita como uma utopia A hist ria de Mesquita permite aplicar diferentes categorias anal ticas assim decidir se diante das diferentes quest es que apareceram e resolver sobre que arcabou o conceitual utilizar para esse projeto de tese n o foi tarefa simples primeiramente o l cus do estudo e os processos vivenciados por eles provocava em mim grande inseguran a no ato de pesquisar o tema foi necess rio rever conceitos tentar criar articula es te ricas com outras reas de conhecimentos que me permitissem essa interface entre diferentes categorias e conceitos que eu desejava ver inclu do como referencial te rico na minha tese ent o o ac mulo das metodologias de pesquisa em Ci ncias Sociais a chamada bricolagem O termo franc s bricolage em sua defini o mais simples se refere a um trabalho manual feito com o aproveitamento de todo tipo de objetos e materiais dispon veis Claude Levi Strauss 2003 e Jacq
313. pessoa pegava um terreno e dizia n o eu vou plantar isso aqui eu vou cuidar disso aqui vou dar emprego vou devolver pra voc depois isso aqui s pra pagar os impostos pra voc Porque muitas das vezes a pessoa n o tinha como pagar os impostos a os aproveitador vinha com aquelas falas e o povo simples humilde pagava os impostos Depois que eles pagavam os impostos ali depois de tantos anos a eles tentavam fazer um tal de uso de campe o usucapi o Esse uso de campe o era para pegar aquelas terras se beneficiar naquelas terras que o pessoal s vezes por simplicidade passava em procura o fazia um documento falso l n JA P Relato ao INCRA 174 Comum ouvir em Mesquita in meros casos de expropria o em que os de fora utilizavam se da ingenuidade e do desconhecimento dos indiv duos e tomavam parte da terra Quando se reclamava mandava procurar nossos direitos Por falta de acesso s condi es m nimas de cidadania sua for a de reivindica o era imobilizada Estes processos em rela o terra tiveram impactos profundos na organiza o da fam lia e no dom nio do territ rio Ao longo do tempo algumas fam lias do povoado continuaram investindo na produ o para a subsist ncia Poucos persistiram na produ o de marmelo Outros procuraram empregos nos centros urbanos que come aram a se desenvolver Muitas mulheres passam a trabalhar de dom sticas em Bras lia impactando o modelo
314. pleta sobre os aspectos a serem enfocados Durante a pesquisa essas ltimas mantiveram a caracter stica de uma conversa na qual n o havia obrigatoriedade de as perguntas seguirem uma ordem determinada j que muitas vezes a resposta de uma pergunta acabava abrangendo o s assunto s que viria m posteriormente necessitando a adapta o dopesquisador para desenvolver o tema sem interromper o fluxo da conversa A pesquisa te rica bibliogr fica deu in cio a essa tese com a inten o de cruzar as categorias de an lise que uso no trabalho buscando um encadeamento de sentidos entre os conceitos desta minha pesquisa O eixo tem tico que orientou o planejamento desse trabalho e funcionou como um sustent culo e um guia foram a sintonia entre os seguintes conceitos lugar mem ria saberes tradicionais hist ria oral educa o ambiental apesar disso durante a pesquisa surgiram assuntos relacionados justi a ambiental que se tornaram se uma grande preocupa o para mim Eram conceitos e teorias que n o faziam parte do meu projeto de pesquisa inicial e que foram acrescentados ao meu trabalho Para este trabalho foram pesquisadas fontes sobre di spora hist ria do Brasil Col nia hist ria de Goi s quilombos Hist ria da constru o de Bras lia territ rios lugar mem ria saberes tradicionais hist ria oral educa o ambiental ecologia humana metodologia cient fica dados sobre o munic pio de Cidade Ocidental entre o
315. pr pria comunidade e imposta pelo Minist rio P blico Federal atrav s de decis o judicial proferida nos autos da A o Civil P blica Processo n 2008 35 01 000868 0 CERTIFICAMOS que revendo os livros de registros paroquiais em nosso poder encontramos o livro findo de lan amentos dos registros de 80 terras possuida da freguesia da Vila de Santa Luzia aberto conforme regulamento de 30 de janeiro de 1 854 arquivado sob o n 20 e nele s folhas 60v o registro paroquial n 126 como segue N 126 Declara o que faz Delfino Pereira Braga dehumas terras que possue no munic pio desta Villa de Santa Luzia para ser registrada na conformidade do Regulamento de 30 de janeiro de 1 854 Oabaixo assignado possue hum Citio denominado o Misquita contendo no dito Citio terras de cultura e campos de criar distante desta Villa tres l guas mais ou menos dividindo pelo Nascente com terras do Senr Alferes Prof rio Ozano Baptista epela parte dopoente divide com Augostinho Camello e pela parte do Sul divide com o RyoS o Bartholom o epelaparte domesmo divide com oSenr Tenente Francisco Pereira de Mello cujas terras possuio por compra epocia que comprei doSenr Capit o Delfino Machado de Ara jo desde 27 de Janeiro de 1855 tendo de esten o de nascente apoente huma legoa emeia mais ou menos e de Norte a Sul huma legoa mais ou menos Villa de Santa Luzia 15 de julho de 1 858 Delfino Pereira Braga Eeu Padre Sime o Estylita Lopes Zedes Es
316. que j existia perdeu o sentido na cultura dominante local Os novos habitantes chegavam em massa ano ap s ano a um lugar novo constru do a partir de um marco zero Para estes que logo eram em maior quantidade que os nativos desta regi o a hist ria que interessava era o futuro E para os herdeiros deste passado invis vel restou a resigna o e adapta o cruel aos novos tempos Bras lia foi estes dias Foi muito bom mas a tenta o ficou dobrado Muito ladr o Um monte de gente pra todo lado querendo invadir o que a gente tem Antigamente o povo n o tinha esse tino n o foi de uns tempo pra c A foi vendendo foi vendendo SLC RTDI 2011 Relato ao INCRA l gico que para a comunidade de Mesquita a cria o de Bras lia trouxe mudan as com impactos positivos por outro lado a maior parte da popula o local n o conseguiu progresso Os novos modelos fundi rios vindos com o avan o urbano trouxeram junto outras formas de ocupa o e mudan as na organiza o interna das comunidades tnicas que viviam da economia de subsist ncia era muito impositivo o jeito que estavam sendo implantados esses novos valores Para um Estado cujo sistema econ mico de orienta o capitalista e at a d cada de 1970 imbu do de uma ideologia desenvolvimentista a prolifera o de cidades no territ rio nacional e a desagrega o de comunidades rurais imersas em uma economia de subsist ncia eram mec nicas previs veis p
317. que t vendendo pedacinho a Um vendia aqui vendia a meia Isto foi o que atrapalhou Atrapalhou tudo SLC RTDI 2011 Relato ao INCRA Perdendo muito de suas terras e inseridos dentro do sistema capitalista de produ o a comunidade negra de Mesquita teve que se adaptar s novas intemp ries para sobreviver Algumas fam lias venderam sua terra a troco de nada para tentar a vida em Luzi nia que tamb m seguia a tend ncia de expans o da urbaniza o Uns dizia que ia ca ar lugar melhor que pra l Mas n o produzia n o tinha muito Governo n SLC RTDI 2011 Relato ao INCRA Olha se voc v o estado em que se encontra algumas fam lia que sa ram de dar pena SPB Estas pequenas vendas trouxeram gente de fora para o conv vio do povoado As terras come aram a ser mais parceladas posto que as propriedades entre as fam lias quase n o se havia cerca Os novos agentes compravam a pre os depreciados as terras e quando cercavam a rea comprada muitas vezes ocupavam rea superior acordada no ato da compra Outro elemento que facilitava a expropria o de terras era o fato de que a comunidade n o ser letrada sendo facilmente ludibriada no momento do neg cio Seria tarefa sem fim minuciar todos os casos de expropria es a que os mesquitenses se referem Essas vendas de terra de Mesquita era assim o pessoal chegava e se aluzia com aquele povo humilde aquele povo assim que s vezes a
318. que v em nas reinvindica es e demandas do grupo apenas material para manipula o e n o parte da hist ria do povo negro no Brasil e que nunca fazem a devolu o do que foi pesquisado Comunidade Faz parte do conflito tamb m a postura do Governo do Distrito Federal quando considera a rea do territ rio como alternativa no entorno para aloca o de popula es trabalhadoras e pobres m o de obra geograficamente acess vel capital mas suficientemente longe para n o afetar sua popularidade e nem a est tica do previsto para Bras lia pelos projetos homogeneizantes age assim permitindo ou fazendo vistas grossas a loteamentos clandestinos levando o Quilombo a se tornar zona de sacrif cio em que n o t m outra alternativa sen o articular a sua luta tradicional pela titula o do territ rio com a luta ambiental 5 3 1 O impacto das estradas A impress o que se tem quando se pavimenta ou se abre uma estrada em uma localidade a de que houve um reduzido impacto ambiental j que a rea ocupada relativamente pequena S o claros os benef cios de uma estrada em uma regi o ao facilitar o entrada de pessoas e produtos permitindo acesso a bens e servi os que podem facilitar a exist ncia do grupo No entanto temos que levar em conta os impactos a m dio e longo prazo da implanta o de estradas seu alargamento e asfaltamento A facilidade de acesso aumenta o fluxo de pessoas criam se assentamentos urbanos e i
319. r 15 dias pra secar porque geralmente no tempo bom Quando seca voc tira aquele torr o ele d uma massa grossa em riba aquele neg cio do barro com o melado a voc roda e tira a fica limpinho a s cavucar Se voc quiser branquinho tira a primeira camada e fofa mais soca e p e outro barro Teve uma vez na casa do finado Aleixo que n o deu duas arroba de segunda tudo de primeir ficou na hist ria tem muito tempo eu era solteiro ainda Tanto a produ o da marmelada como do a car de forma vem sendo prejudicadas pela mudan a no regime de chuvas pela falta de disponibilidade de terras em quantidade e qualidade e pela nova l gica rural urbana a qual Mesquita est inserida principalmente os mais jovens De acordo com C antigo morador quando v m as chuvas poca de plantar milho arroz feij o mandioca No passado era outubro novembro e dezembro se plantava hoje em dia se planta at em janeiro Desde 85 as coisas mudaram muito parece que diminuiu as chuvas antes em agosto o tempo vinha mudando mudando agora n o tem mais isso chovia muito esses terrenos virava tudo lodo A terra muito porosa ainda mais em ano de pouca chuva a n o teve foi marmelo mesmo Por m outros fatores de ordem n o eminentemente f sico fazem a diferen a para a produ o da marmelada e do a car de forma Como foi dito as terras com voca o para o plantio do marmelo est o 213 indispon veis
320. r dica muito grande em rela o garantia do seu territ rio vive se a contradi o dentro do grupo pois existem os que n o se declaram quilombolas e nem aceitam a titula o das terras como tal O contexto h brido rural urbano de Mesquita tamb m propiciou que os mesquitenses procurassem e conseguissem trabalhos e empregos nos centros urbanos pr ximos ao quilombo principalmente a cidade de Bras lia o que de certa forma contribui para o aumento da renda familiar uma vez que a terra dispon vel para a agricultura ou cria de animais escassa na atualidade A realidade causada pela mistura do rural com o urbano permite diversos olhares sobre seus desdobramentos Se por um lado essa realidade vem favorecendo de certa forma uma estrutura que invisibiliza o quilombo orquestrada pela Prefeitura de Cidade Ocidental pelos agentes da especula o imobili ria e pelos grandes fazendeiros e que em certa medida vem desagregando cultural e socialmente a comunidade atrav s da migra o individual para as margens do Distrito Federal limitando a reprodu o 180 social adequada e ainda desejada no Quilombo de Mesquita Por outro lado esta mesma realidade insere a comunidade em redes muito mais amplas do que os c rculos regionais que anteriormente tinham acesso As redes formadas por outros segmentos sociais de lutas democr ticas grupos de resgate de valores e cidadania CONAQ Rede Terra Rede Bart MST etc que tamb m lutam pelo
321. r prio consentimento desta devido capacidade de se ocultar seu real planejamento e futuras consequ ncias oferecendo vantagens imediatas Santos 2003 Para a comunidade uma experi ncia nova que a princ pio s demonstra seu saldo positivo Por m como a entrada abrupta de capital s prevalece enquanto durarem os recursos de interesse em longo prazo se esvai sua aplica o A comunidade n o possui mecanismos l gicos de previs o das conseqii ncias nem que a renda ali inaugurada iria cessar Neste princ pio n o s o alfabetizados neste modelo econ mico espec fico al m de serem provenientes de uma cultura agr fica H uma rela o de contraste da l gica interna do grupo e a l gica do capitalismo Assim as desvantagens s o invisibilizadas Como a comunidade permite a entrada do capital e passa a ser diretamente afetada essa for a macro do sistema econ mico envolvente a imobiliza Da decorre uma sucess o de acontecimentos em que se come a a se sentir os sintomas mas n o se consegue identificar as causas e nem ter id ia de sua ordem total Dados apontados de forma isolada s vezes como causas outras como conseqii ncia Um mosaico de situa es em que as pe as sozinhas ao mesmo tempo em que n o explicam suficientemente a realidade s o capazes de mostrar os sintomas Com algum esfor o interpretativo poss vel alcan ar a totalidade dos fatos para conseguir tomar compreens veis os mecanismos que ali operara
322. ra chegar s minas de Paracatu Da adentrava a capitania de Goi s pelo importante registro de Arrependidos na poca localizava se em Santa Luzia Luizi nia Alvares 1996 Alvares 1996 afirma ainda que o primeiro p de marmelo foi plantado no munic pio de Santa Luzia em 17 de novembro de 1770 pelo capit o fazendeiro Jo o Pereira Guimar es na Fazenda Engenho de Palma pr xima regi o onde anos mais tarde se constituiria o Quilombo Mesquita poss vel que este marmeleiro deu origem aos demais no Estado No entanto as lembran as mais antigas dos moradores com rela o s extensas planta es de marmelo que se formavam dizem respeito poca onde Aleixo Pereira Braga dispunha de grandes quantidades deste fruto os quais tamb m ganhavam em qualidade Santos 2009 8 Na poca das minas o a car era artigo de luxo assim doces n o eram comuns no card pio dos escravos embora eles dessem um jeito de acrescentar dieta a rapadura a garapa e o melado com a dissemina o do marmeleiro e da cana de a car nas terras de Goi s e o in cio da produ o do a car nos engenhos as senhoras faziam quitutes para serem vendidos nas ruas pelas escravas Desse modo as negras aprenderam a empregar o a car na culin ria e com o surgimento dos frutos dos marmeleiros as escravas aprenderam a t cnica de fazer o doce com as portuguesas e da nascia a tradi o da marmelada no Arraial de Santa Luzia 204 D
323. ra hora tinha um que tinha filho que era pouco R RTDI 2011 O Relat rio afirma que terras de ausentes s o terras cujo leg timo ocupante membro da comunidade morre ou desaparece sem deixar herdeiros ou deixando um ou poucos herdeiros para trabalhar uma extens o de terras desproporcional s suas for as de trabalho Estas terras podiam ser ocupadas por outras fam lias preferencialmente jovens fam lias que estivessem se emancipando ou simplesmente outros membros da comunidade que tinham a inten o de trabalhar a terra Posto que para os mesquitenses a terra trabalhada que confere a legitimidade para possu la s dono quem trabalha Algumas vezes 171 inclusive a ocupa o das terras de ausente era mediada por trocas entre herdeiro e pretendentes terra RTDI 2011 Continua assim afirmando que Mesquita passou por um per odo de equilibro entre as duas no es a de territ rio comum e a de propriedade privada Isto se dava porque a terra ainda n o era vista como um bem de mercado A no o de propriedade privada referia se ao direito de gest o de determinada fam lia sobre uma por o espec fica do territ rio A terra era onde a vida acontecia era o palco do trabalho trocas e limites sociais Poderia acontecer de que o acesso terra fosse objeto de negocia o intra familiar mas do territ rio n o se perdia o dom nio apenas se concedia permiss o ao uso outrem Implicitamente o que esta pr tica
324. rabalho Suas pr ticas produtivas equilibravam se com o meio em que se inseriam desde a m o de obra ser pautada por uma rede de reciprocidades como tamb m a n o explora o limite desta for a de trabalho O equil brio entre as pr ticas produtivas e os recursos dispon veis se transformava em uma forma perpetuando se a forma produtiva tradicional do quilombo Se a terra e o homem eram os mantenedores do alimento o cuidado com estes elementos visava sua maior disponibilidade O c lculo dos ro ados previa em longo prazo a manuten o da sobreviv ncia familiar S se retirava da terra aquilo que era necess rio N o se desperdi ava nem trabalho nem outros recursos Vivendo em subsist ncia o ac mulo era perec vel Para a produ o do marmelo tamb m se havia limite Por m com a constru o de Bras lia e a instala o de fazendas modernas Mesquita foi abordada com oferta de capital em troca do trabalho ao mesmo tempo em que chegava um novo mercado competitivo Assim para dar suporte constru o de Bras lia necessitou se da m o de obra de produtos de uso do territ rio A cidade pedia oferecendo dinheiro em troca do servi o e dos produtos Este processo iniciou uma s rie de mudan as que reinseriu a comunidade em uma nova ordem econ mica A possibilidade do acesso e a possibilidade da integra o com a sociedade envolvente para um grupo que vivia at ent o isolado com marca da escravid o eram elementos dotados de um
325. radi es alimentares locais e o prazer das refei es mesa criando um ritmo de vida mais calmo e harmonioso Assim como no Quilombo Mesquita era no meio social e familiar que o conhecimento dos alimentos receitas e costumes era transmitido Hoje em dia essa transmiss o tem vindo a perder se em v rios locais e muitas sociedades lutam para preservar essa transmiss o Assim muitas crian as e jovens raramente conhecem a origem dos alimentos que utilizam Para a Slow Food o paladar dos mais novos formado por aquilo que a ind stria alimentar lhes apresenta assim o movimento defende a necessidade de promover uma campanha a larga escala para educar o consumidor permitindo que todos os indiv duos estejam numa posi o de escolher uma alimenta o saud vel O entendimento de todo o processo de um sistema alimentar deve acontecer atrav s da educa o do estudo e do exercitar dos sentidos Esse processo de educa o deve acontecer ao longo da vida para todas as idades Todos devem ter o direito de aprender a usar os sentidos o direito de ver como os alimentos s o produzidos e de onde eles v m A escola se exime de providenciar uma educa o culin ria para os futuros consumidores Por isso a Slow Food acredita que os sentidos quando treinados possibilitam a escolha de uma dieta adequada atrav s da primazia da experi ncia sensorial vis o audi o olfacto tacto e paladar O indiv duo adquire os instrumentos de d
326. rande produ o para Santa Luzia que por sua vez atravessava a por ter novos meios de escoamento aumentando assim a demanda Aqui fazia 400 500 arrobas de marmelada mandava para Luzi nia em carro de boi De l mandava at pra trindade JVixe esta marmelada teve um nome aqui medonho n C P B RTDI 2011 84 Se em um primeiro momento a marmelada reconhecida como alternativa de produ o j neste novo s culo o empreendedorismo desenvolve a ascens o do povoado Um vasto plantio e a prepara o do doce eram orquestrados por Aleixo Pereira Braga que frente da fam lia liderava a comunidade Sua import ncia t o elevada para a mem ria do povoado que da mesma forma que opera o mito de origem conectando todos os indiv duos de Mesquita s ex escravas herdeiras as hero nas fundadoras todos tamb m descendem da for a organizadora e produtiva do marmelo personificada em outro her i Aleixo Pereira Braga O tempo do Aleixo como assim relacionada a poca em que a planta o do marmelo se fazia sentir na maioria das casas dos moradores daquele povoado relembrado pelos mesquitensses como sendo o per odo em que as pessoas sobreviviam s custas da terra onde era poss vel retirar boa parte de seu pr prio sustento atrav s da comercializa o da marmelada da farinha de mandioca bem como da planta o de ro ados como feij o arroz milho e outros produtos destinados ao sustento daquela unidad
327. redito que o Sargento Mor Jos Correia de Mesquita conforme relata Bertran al m da Fazenda no Arraial de Santa Luzia possuia propriedade tamb m em Meya Ponte atual Pirenop lis onde se fixou em fun o da prosperidade daquela regi o em contraste com a escassez de Santa Luzia deixando a Fazenda Mesquita para as negras que l viviam e cuidavam com esmero Referendo essa minha hipotese sugerindo que a resist ncia pac fica das tr s escravas escravid o se deu no trato di rio com o dono atrav s da leitura que fa o de Sidney Chaloub em Vis es da Liberdade uma hist ria das ltimas d cadas da escravid o na corte 1990 onde o autor afirma que trabalhar de forma obediente e silenciosa enquanto escolha tomada pela pr pria escrava ao inv s de uma fuga ou tentativa de assassinar seus propriet rios poderia ser uma estrat gia das escravas para conquistar a alforria sob a escravid o as mulheres negras ser o na maior parte dos casos as nicas respons veis pela manuten o da cultura material e simb lica al m da sobreviv ncia dos membros do grupo familiar Ser o elas as figuras centrais dessa nova fam lia estruturada sob a escravid o e no per odo p s aboli o As mulheres negras no Brasil que quando escravas eram negras de ganho quando livres passaram a negociar bens materiais e simb licos Anjos 2006 2 O territ rio de Mesquita assim fruto da resist ncia secular da comunidade por
328. regime semi servil pelo favor moradia 81 Existem tamb m aqueles que em determinado momento de sua hist ria seguiram errantes semi n mades de futuro incerto E todos aqueles que desfrutavam da cercania de uma imensid o de terras vagas e terras virgens presenciaram as cercas subindo e delimitando propriedades no transcurso do s culo seguinte Assim as popula es negras no rural goiano adaptaram se s intemp ries criando as mais diversas estrat gias de sobreviv ncia testemunhando uma s rie de modifica es da sociedade da qual j faziam parte mesmo enquanto segmento marginalizado Estes processos sofridos por elas ainda alcan am a atualidade j no s culo XX Esta demarca o por m n o foi simplesmente apagada com as independ ncias As linhas cartogr ficas abissais que demarcavam o Velho e o Novo Mundo na era colonial subsistem estruturalmente no pensamento moderno ocidental e permanecem constitutivas das rela es pol ticas e culturais excludentes mantidas no sistema mundial Santos 2007 1 As localidades de Goi s desenvolviam se internamente Em 1867 Santa Luzia foi elevada categoria de Cidade Seguindo a l gica coronelista as fam lias tradicionais se organizavam em busca de alternativas econ micas e alguma proje o al m daquela ligada a um pequeno circuito inter regional Em Goi s como um todo as elites tinham na fam lia a base da vida pol tica e o clientelismo como base A troc
329. res e escravos entre novos arraiais eram intensos 44 A ocupa o dessa regi o insere se desta maneira no contexto expansionista e de consolida o de posses de terras garantidas pelas forma es de n cleos urbanos cujas concep es ou modos de organiza o podem remontar s diversas e complexas formas de fazer cidades possibilitadas pelas ricas experi ncias da Expans o Ultramarina n o s no Brasil como tamb m na Africa e na sia Mesmo com todas as iniciativas e propostas setecentistas que ajudaram a constru o de Goi s no s culo XIX a antiga Capitania se colocou como um ap ndice em rela o ao Brasil pois com o fim da minera o n o surgiu nenhum nexo econ mico que a reabilitasse Esse fato alimentado desde a poca dos viajantes oitocentistas europeus e cuja natureza era mais econ mica quepol tica levou a historiografia tradicional a associar a regi o s id ias de marginalidade isolamento lugar distante do litoral decad ncia e espontaneidade na forma o dos arraiais que comprometeram o entendimento da ocupa o do territ rio goiano do s culo XVIII por desconsiderar principalmente a pol tica de controle portugu s que foi adotada em todo per odo colonial Nars Fayad Chaul um dos estudiosos que alerta de equ vocos de interpreta o hist rica formados ao longo do s culo XIX e meados do XX marcaram oterrit rio de Goi s com tra os da pobreza Sob o paradigma da decad ncia confundiu se cre
330. ria objetivando assim a conscientiza o para a transforma o da realidade inclusive de modo a tamb m sensibilizar as popula es para que constituam Conselhos Populares de A o Ecol gica e Gest o do Ambiente visando investigar informar debater e decidir sobre problemas e pol ticas ambientais Esses contextos referenda que as Recomenda es de Tbilisi e do TEASS se prestam eficazmente ao objetivos desta Tese quando defende que a busca pela sustentabilidade deve se subordinar l gica social aqui a l gica da Comunidade do Quilombo Mesquita e n o somente aos interesses da classe social hegem nica capitalistas de 1992 tamb m a Agenda 21 que apresentou um plano de a o para um desenvolvimento sustent vel dos v rios pa ses De acordo com os preceitos desta agenda deveria ser promovido com a colabora o apropriada das organiza es n o governamentais todo o tipo de programas de educa o de adultos de forma a incentivar uma educa o 2 1 A Educa o Ambiental nas Pol ticas P blicas Brasileiras A id ia de Educa o Ambiental concebida no interior do movimento ambientalista como um instrumento para envolver os cidad os em a es ambientalmente corretas em busca de uma sociedade sustent vel Mas foi no universo da educa o que o termo Educa o Ambiental foi criado com a recomenda o de que deveria tornar se parte essencial da 2 Agenda 21 um instrumento surgido na ECO 92 que per
331. rica Brasil al m de outras fontes documentais e bibliogr ficas dispon veis e tamb m o registro da tradi o oral dos moradores mais idosos guardi es da mem ria local medida que essa pesquisa acontecia o tema ia se anelando em espiral se alargando e aprofundando Catal o 2012 assim a reescrita da Hist ria de Goi s e da comunidade tradicional do Quilombo Mesquita demandou um trabalho de bricolagem de v rios autores e trabalhos que foram fundamentais para entendermos como eventos do passado se relacionam com os processos observados no presente e como se deu o processo de ocupa o do territ rio tradicional e a forma o social da regi o em estudo O elemento hist rico permitiu considerar os fatos cronologicamente apesar de terem sido analisados e problematizados a partir das rela es inter tnicas e da influ ncia regional e nacional provocando mudan as sociais na comunidade do quilombo Mesquita Deste modo compreendendo o processo hist rico das mudan as poss vel estabelecer rela o entre os acontecimentos e interpretar a situa o territorial do povoado e reconhecer se esses processos de mudan a afetaram os saberes tradicionais e as possibilidades de transmiss o desses conhecimentos s novas gera es na comunidade de Mesquita Para Halbwachs 2004 os eventos hist ricos tem que ser deixados de serem vistos como situados somente em uma linha do tempo para serem problematizados em fun
332. rigem desse grupo bom frisar que o consumo da marmelada unifica as trajet rias individuais dos grupos etnoculturais iniciais africanos e europeus minimizando assim os efeitos das diferen as raciais A marmelada nos remete ao mito de origem do Quilombo e invoca as mem rias e identidades iniciais desses dois grupos antag nicos e at contradit rios escravo e senhor pobre e rico etc A marmelada envolve um saber fazer carregado de significados e emo es a partir de uma vis o simb lica que singulariza a identidade coletiva Ao analisar o processo de feitura da marmelada a partir da etnografia observa se que esse doce cria um apelo que pode ser observado entre a diversidade de doces de mercado No ato de fazer marmelada o Mesquitense se remete se realiza historicamente e se mant m como grupo sobre o controle simb lico desse imagin rio Fazer a marmelada parece provocar uma sensa o de bem estar uma esp cie de retorno a origem gerando assim certo controle sobre a nova gera o de mesquitenses que tende a relegar para o esquecimento o tradicional Mintz 2002 diz que a cozinha ancora se num lugar onde se tem alguma refer ncia de pessoas utilizando se de ingredientes m todos receitas numa base regular de produtos Nesse processo de tipifica o das cozinhas de um pa s ou de uma regi o alguns pratos se tornam representativos marcas de orgulho e distin o No caso do Quilombo Mesquita o doce do marmel
333. rincipalmente se tais comunidades localizam se em reas de interesse ao desenvolvimento econ mico RTDI 2011 Por isto o povo do Mesquita n o conseguia compreender a ordem que chegava Era a vivencia da fric o inter tnica entre o rural urbano entre o que chegava e os que estavam O que se percebia era uma ordem diferenciada em rela o a terra ao trabalho a fam lia e ao tempo O que chegava era a cultura e o elogio velocidade Jacques Le Goff 1980 explica que na Idade M dia sob a autoridade da Igreja o tempo era pertencente a Deus e regulado pelos sinos dos compromissos religiosos o que mudou com a experi ncia do negociante e sua necessidade de medi es de tempo para ter lucros com rapidez no trajeto na entrega e no com rcio Passa a existir o tempo dos rel gios a m e das m quinas passando de um mundo do mais ou menos para o universo mecanicista da maior precis o Oliveira 2003 p 45 Medir o tempo de forma mec nica precificou o trabalho humano Oliveira 2003 a produ o o mercado o lucro Paul Virilio 1996 p 123 afirma que 105 a quest o da posse do tempo renovou a da posse territorial No mundo de hoje o poder n o conferido somente a partir do dom nio do territ rio mas tamb m a partir do dom nio sobre o tempo a rapidez A reflex o sobre o tempo hegem nico e sua rela o com a vida em Comunidades tradicionais quilombolas ser feita a par
334. rma de se lidar com o territ rio Feita a divis o a vida comunit ria estabilizou se Inclusive os casamentos que eram feitos normalmente entre Pereira Braga e Teixeira Magalh es 88 USO DA TERRA DE CIDADE OCIDENTAL 1989 Legenda EE Urbano HER Campo Limpo Solo Exposto s m TMS R50483 f a Data da magam 27 07 89 EE corpo su E ada REITOR BBB cerrad o j W Agricultura Dalum WG5S4 Figura 10 Uso da Terra Cidade Ocidental 1989 USO DAS TERRAS DE CIDADE OCIDENTAL 2011 araw ara pur E Tow Legenda B urbano E Campo Limpo Pastagem Solo Exposto BE campo sujo EE cerras o BE Agricuitura O Quilombo do Mesquita Figura 11 Uso da Terra cidade ocidental 2011 O marco da paisagem de refer ncia na mem ria da comunidade de Mesquita todo o territ rio dividido e pertencente aos n cleos familiares Por mais que j tenham perdido a posse de muitas reas ainda no presente a terra tem um concomitante familiar E a terra que guarda a mem ria E l que t enterrado o meu umbigo 89 Os t cnicos do INCRA relatam e essa pesquisadora pode observar tamb m que ainda hoje ao caminhar com os mesquitenses pelas terras de Mesquita eles se referem s localidades indicando os n cleos familiares a que pertence cada parte do territ rio muito embora estas terras j estejam em poder de terceiros Ali do meu av Meu umbigo t enterrado ali Seu av mora al
335. ro melhor pro rio pra mais gua mais limpeza no rio que o rio t bem degradado de sujeira e estas coisas vai ter tudo isso que preservando a natureza o rio aparece mais protegido o rio e cria maisparte de suas terras n o chega gua porque o c rrego foi desviado por um fazendeiro o que deixou sem gua os demais moradores 234 Figura 29 Viveiro no Quilombo Mesquita Fonte Rede Bart 2013 O Viveiro existe em associa o da Funda o Banco do Brasil com a Rede Bart que colabora na comercializa o de plantas ornamentais na permacultura e na prote o do Rio S o Bartolomeu 5 2 5 Sistema de Sa de Mesmo na comunidade existindo posto de sa de no Quilombo Mesquita eles fazem uso do conhecimento da medicina popular vindos dos seus ancestrais e que s o repassados aos mais jovens atrav s das ervas medicinais Existe uma grande variedade de plantas no Povoado e os moradores tem um enorme conhecimento sobre ervas medicinais elas s o usadas na terap utica local Al m Do uso das ervas existem as rezas tradicionais e benze es que revitalizam a identidade comunit ria algumas doen as s o tratadas com rem dio de farm cia Cu llar 1997 observa que a rela o entre natureza e cultura deve fundamentar se no conhecimento tradicional das comunidades locais buscando incentivar projetos de Educa o Ambiental e a gest o sustent vel dos bens coletivos visando dessa forma unificar o 235 conhec
336. ro se fazia presente na cobran a dos impostos Vivendo margem pr ticas il citas como o pr prio quilombo o era foram a sina dos resistentes A desobedi ncia civil da poca apesar de n o documentada pode ser imaginada com pinceladas de realidade Contrabando cacha a rituais afros n o pagamento de impostos descaso para com a lei entre outras foram atitudes not rias no cotidiano do povo do lugar A sociedade local parecia construir seus h bitos e sua cultura por elementos pr prios de tradi es locais e at vicas de mem rias seculares distante da cultura europeia Formavam um mundo parte de um governo n o reconhecido ou indiferente aos olhos da popula o Chaul 1997 74 apud Souza Filho 2002 27 A hist ria de Mesquita marcada por diferenciados per odos em rela o produ o deste doce Primeiramente a Marmelada foi um marco na afirma o do territ rio e propiciou a resist ncia da comunidade neste momento da hist ria de Mesquita Posteriormente no in cio do s culo XX quando novas rotas come am a inagurar o per odo republicano de expans o rumo Goi s a produ o da Marmelada de Santa Luzia crescer e junto ocorrer uma significante ascens o comunit ria A decad ncia da produ o do doce tamb m denunciar uma concomitante desarticula o social E j no s culo XXI com a emerg ncia de uma cidadania e reivindica o de direitos tnicos em prol de sua coletividade e etnicidade
337. roblematizando o conhecimento em sua rela o com a realidade para melhor entende la explica la e transforma la No Quilombo Mesquita vive se a conquista cotidiana desse di logo no presente essa conquista se faz reatualizando o passado essa reatualiza o se faz com ensinamento pr ticos que permitam um reencontro das novas gera es com a natureza e consigo mesmo em bases sustent veis O escritor mexicano Ot vio Paz sugere o uso da po tica do agora articulando passado presente e futuro para a inven o e reinven o do movimento da hist ria 268 REFER NCIAS BIBLIOGR FICAS ACEVEDO Rosa Castro Edna Negros do Trombetas guardi es de matas e rios 2 ed Bel m Cejup UFPA NAEA 1998 ACSELRAD Henri Novas Articula es em Prol da Justi a Ambiental Revista Democracia Viva n 27 jun jul 2005 Dispon vel em lt http www ibase br pubibase media dv27 artigo ibasenet pdf ACSELRAD Henri Herculano Selene P dua Jos Augusto 2004c Justi a ambiental e cidadania Rio de Janeiro Relume Dumar GUAS Carla L P Rocha Nilton 2010 Cerrados rebeldes a festa e os rostos da resist ncia no Planalto Central Cabo dos Trabalhos dispon vel em http cabodostrabalhos ces uc pt pdf 24 Carla Aguas Nilton Rocha pdf Acessos diversos entre 2010 2014 ALIER Joan Martinez 2011 O ecologismo dos pobres conflitos ambientais e linguagens de valora o S o Paulo Contexto LVARES J M 197
338. rpo mole falsa aceita o fuga fingimento de ignor ncia preju zos de caso pensado sabotagem roubo e o que me interessa para esse trabalho que foi a resist ncia cultural Com base na vasta literatura consultada e em documentos de arquivos diversos e atentando para n o confundir diferentes realidades no tempo e no espa o pensei no contexto do sistema escravocrata vigente em Goi s e defendo aqui a hipotese de que no Arraial de Santa Luzia as pr ticas de resist ncia podem ser analisadas partir dessa no o de resist ncia cotidiana de Scott 2002 o autor afirma que a defesa dos interesses perpassa por escolhas morais articuladas a um repert rio cultural dos camponeses em suas diferentes viv ncias cotidianas permitindo que estes 68 resistam queles que est o em posi es dominantes nas rela es em que participam Scott 2002 p 12 Penso que os escravizados em Santa Luzia poca n o afrontaram diretamente aos senhores e sim resistiram agindo de forma n o expl cita e sem viol ncia Parecia haver esse entendimento sobretudo nas mulheres que na maior parte das situa es s sairiam vitoriosas se a sua resist ncia acontecesse dissimulada sob a forma da submiss o poss vel imaginar os p Essa leitura anal tica poss vel ser feita para explicar a benesse da doa o da fazenda usando como referencia os poss veis bons servi os prestados pelas tr s escravas Ac
339. rtindo do Distrito Federal sentido Lago Sul Papuda pela via que corta a RA Jardim Bot nico seguindo pela DF 140 at a fronteira inter estadual Alphaville Dhama etc e a press o dos loteamentos com car ter urbano que vem desde a sa da da Avenida Perimetral Sul que liga a Cidade Ocidental ao Povoado do Mesquita e no outro lado os fazendeiros passaram a tamb m investir na regi o As iniciativas tur sticas e de lazer muito comuns hoje no territ rio quilombola tamb m contribuem para a altera o do lugar pois s o empreendimentos privados e voltados aos moradores da cidade al m de serem pagos o que significa que nem todas as pessoas podem ter acesso Dessa forma mant m as desigualdades apesar de usarem os recursos naturais do Quilombo refor am a segrega o contra os moradores da comunidade Assim a nova reprodu o do ambiente observada no Quilombo Mesquita conta com novas territorialidades de uso privado outras l gicas de uso dos recursos naturais diferentes rela es sociais fragmentando e dividindo ainda mais esse territ rio tnico Isso ocorre pois As necessidades induzidas e produzidas em reas de grande concentra o urbana como o caso da busca pelo ar puro da procura por reas verdes s o diferenciadas em fun o da capacidade das pessoas pagarem para satisfaz las SANTANA 2001 p 184 A partir dessas ocorr ncias constatei a crescente aumento de servi os e com rcio de apoio residencial e par
340. rupo de parentesco negro com maior proximidade do grupo de parentesco de Mesquita tinha seu assentamento em uma terra que hoje p de ser localizada em Santa Maria DF O pr prio her i do marmelo Aleixo Pereira Braga era descendente deste grupo de parentesco 186 O pai de Aleixo era de Santa Maria o Z Pereira que casou com a Maria do Nascimento que era daqui Isso desta parte aqui do Mesquita Aquela parte j outra SLC RTDI 2011 Relato ao INCRA Quando ocorreu a constru o de Bras lia e sendo as terras de Santa Maria DF mais pr ximas da rea de interesse do empreendimento e do Catetinho a popula o se afastou da localidade A terra de Santa Maria tinha ela l depois que veio embora largou ela para l Aquele povo antigo voc sabe como que era n A foram e deixou com medo da cidade que foi chegando pra l j A uns ficaram aqui l depois que come ou porque sa ram daqui pra l depois voltou de novo Porque uma turma de Luzi nia uma parte ia pra um lugar e outra ia para outro Tem at uma parte desse povo dos Pereira Braga tamb m que sa ram pra l depois do Alagado Ainda tem uma turma pra l R RTDI 2011 Relato ao INCRA O povoado de Mesquita conseguiu provar propriedade e a consegiiente heran a desta rea em Santa Maria DF No passado essas duas distintas localidades eram um territ rio de uso cont nuo entre caminhos rea de extra o e pontos assentamentos humanos Co
341. s As id ias aqui apresentadas procuram demarcar diferentes formas de ver e estar no mundo A partir dos conflitos aqui mostrados observa se as injustas estruturas sociais que atuam na inivisibiliza o desse grupo tnico Os Quilombolas s o portadores de valiosos saberes e representantes hist ricos do processo de ocupa o da regi o central do Brasil eles resistem atrav s da solidariedade que transforma saberes em ferramentas de resist ncia O reflexo espacial um territ rio inclusivo e repleto de saberes sabores e poderes Porto Gon alves 2010 resistindo s l gicas perversas do agroneg cio 5 3 6 Uso Da gua 258 A conserva o de cursos d gua no territ rio do Quilombo Mesquita diante dos empreendimentos que avan am sobre a rea um grande problema pois as altera es de origem antr pica na qualidade das guas naturais acontecem com o lan amento de guas residu rias nos cursos d gua e com as infiltra es vindas das fossas e aterros sanit rios Os principais poluentes dos recursos h dricos no Quilombo s o os efluentes dom sticos as chuvas com carregam tamb m o lixo gerado pelas residencias que se fixam em torno da comunidade e que jogado em reas impr prias os pesticidas e fertilizantes usados na agricultura pelas fazendas de soja os materiais vindos da eros o causada pelo desmatamento tudo isso provoca a contamina o dos c rregos no Mesquita O surgimento de n cleos urbanos
342. s mas por n o saberem como enfrentar efetivamente essa pr tica danosa diante disso esse estudo indica que h necessidade da Educa o Ambiental transformadora ser incorporada como uma nova concep o de educa o para as comunidades tradicionais uma vez que ela valoriza a uni o entre o ser e o meio e uma educa o para viver a liberdade de sua cultura seus direitos e cidadania 4 2 Topofilia e Mem ria no Quilombo Mesquita O saber que n o nos pertencee o desconhecimento que nos pertence formam para mim a verdadeira sabedoria Jos Lezama Lima 1996 p 17 Topofilia a percep o do lugar onde se vive a partir de sua dimens o afetiva esse um conceito de Yi Fu Tuan 1980 Mesmo estando relacionado ao conceito geogr fico de lugar o sentimento topof lico 158 pode ser expresso em obras de arte em um espa o imagin rio em qualquer objeto est vel pass vel de observa o De acordo com Tuan op cit topofilia o elo afetivo entre a pessoa e o lugar ou ambiente f sico O olhar dos homens sobre seu ambiente traduz suas experi ncias e a partir de um referencial hist rico terras dos ancestrais escravizados que o Quilombo Mesquita construiu suas rela es topof licas conferindo ao lugar onde vivem identidade ou seja status de comunidade tnica mostrando em sua estrutura a resist ncia em manter fatos culturais que a tornaram hist rica As pessoas investiram ali parte de sua vida emocional no tran
343. s mudaram as rela es econ micas e sociais com maior ou menor intensidade em toda a regi o op cit No caso de Luzi nia a constru o de Bras lia produziu altera es especificas e profundas n o s em rela o popula o como tamb m organiza o pol tica do territ rio O aumento r pido e intenso das migra es alterou a composi o da popula o mudou os h bitos e diluiu a identidade cultural regional Al m disso houve um aumento brusco da popula o op cit A necessidade de alojamento liberou o surgimento de grandes n meros de loteamentos muitos deles produzidos pela especula o imobili ria e sem condi o m nimas de infra estrutura o que ainda hoje um dos mais graves problema urbanos do munic pio lvares 1979 Na segunda metade do s culo XX em 1960 foi inaugurada a nova capital do pa s Bras lia a apenas 50 km de dist ncia do Mesquita Esse fato transformou a sua estrutura territorial pois parte do territ rio do Quilombo se encontrava dentro do quadril tero do DF O territ rio quilombola foi desconsiderado no processo de demarca o do DF A desapropria o das terras foi um dos processos que acompanhou a constru o da nova capital Os quilombolas n o conseguiram provar a titularidade de suas 97 terras que foram ocupadas por atividades p blicas e para a constru o das cidades sat lites Machado 2007 32 Como a maior parte da ocupa o da rea perante o Governo
344. s o complementares indissoci veis e ao mesmo tempo s o contradit rios S o perceb veis atrav s de vis es diferentes mas s o siameses da mesma totalidade 40 Figura 7 Casar o representativo da hist ria do Quilombo Mesquita Foto Antonia Samir 1 1 A Ocupa o da Capitania De Goi s Em meados do s culo XVII as pesquisas minerais rumo ao Eldorado imaginado por muitos come aram com homens que marcharam em territ rio de ndios bravios e animais selvagens que iam sem pressa arranchando se procurando o melhor lugar da ca a e da pescaria entrando no mato atr s de mel de pau ou de outro mantimento S o esses homens que ajudaram a abrir o caminho por terra at o sert o dos Goyazes onde se iam formando s tios e lavouras que al m de pouso forneciam aos viandantes a 41 sobra do que plantavam Para Silva e Souza um desses pioneiros foi o bandeirante que tamb m pode ter realizado esse mesmo itiner rio em 1682 Bartolomeu Bueno da Silva apelidado pelo gentio de Anhangiera que na linguagem do paiz quer dizer Diabo Velho pelo estratagema de accender aguardente em uma vasilha com amea a de abrazar todos os rios e todos os ndios que se n o lhe rendessem seguido de um filho do mesmo nome de idade de doze anos que veio a ser o descobridor d esta capitania e outros aggregados chegou pouco mais ou menos em 1682 ao domicilio do pacifico gentio Goy que agora habitamos e demorando se algum te
345. s Crioulos os negros mais velhos de Mesquita lembram se de peda os da hist ria da canaliza o do Saia Velha vivida por seus antepassados e contada de gera o em gera o assim resguardada pela tradi o oral Em 1769 tr s senhores que tinham muitos escravos se associaram Manoel Pereira Guimar es Manoel Ribeiro da Silva e Ventura lvares Pedrosa para canalizar o ribeir o Saia Velha assim o servi o terminou no dia 11 de setembro de 1770 Um outro senhor de escravos o major Jos Pereira Lisboa quando ficou sabendo da sociedade dos outros para trazer as guas da Saia velha para as minas do Cruzeiro duvidou e nas ruas do julgado afirmava em tom zombeteiro que essas guas iam vir era em caba as duvidando do trabalho de fazer o canal Os s cios da empreitada rapidamente souberam das palavras de Lisboa e os dois chefes locais que ainda mantinham as apar ncias romperam de vez No dia da inaugura o do canal 11 de setembro as guas do ribeir o Saia velha s minas do Cruzeiro o capit o Jo o Pereira Guimar es um dos s cios estava de cama mas os seus parentes e seguidores juntaram milhares de caba as e encheram o canal com elas da l vieram as guas muito fortes 54 as caba as boiaram e fizeram um barulho enorme batendo umas nas outras O major Jos Pereira Lisboa que morava num sobrado na Rua do Ros rio sai assustado nessa hora os negros do Guimar es estavam dentro do canal cantando insultos e que
346. s comunidades tradicionais pela destrui o dos seus locais de vida e trabalho tudo isso e muito mais configura uma situa o constante de injusti a socioambiental no Brasil que v o al m da problem tica de localiza o de dep sitos de rejeitos qu micos e de incineradores da experi ncia norte americana Herculano 2002 A tem tica da Justi a Ambiental interessa em raz o das extremas desigualdades da sociedade brasileira No Brasil pa s das grandes injusti as o tema da justi a ambiental ainda incipiente e de dif cil 152 compreens o pois a primeira suposi o de que se trate de alguma vara especializada em disputas diversas sobre o meio ambiente A es e movimentos sociais no pa s que podem ser identificados como de busca por Justi a Ambiental mesmo que sem o uso dessa express o o caso do Movimento dos Atingidos por Barragens dos movimentos de trabalhadores extrativistas resistindo contra o avan o das rela es capitalistas nas fronteiras florestais e de in meras a es locais contra a contamina o e a degrada o dos espa os de vida e trabalho Existe hoje um conjunto de a es n o democr ticos de apropria o indevida do territ rio quilombola no Quilombo Mesquita j reconhecido como remanescente de Quilombo desde 2006 e aguarda que sua terra seja titulada s o hoje com um vi s tecnocr tico do estado atrav s do INCRA que retarda a emiss o do t tulo e facilita a a
347. s de medir e pagaram no cart rio Vinha desde o Maria Pereira Uma dessas tr s escravas era mulher do meu bisav S L C afirma que a fazenda Mesquita foi arrematada por oito primitivos N o herdou arrematou SL C Duas recorda es completamente diferentes um mesmo informante e um mesmo assunto Mem ria coletiva o grupo visto de dentro ela apresenta ao grupo um quadro dele pr prio que sem d vida se desenvolve no tempo pois que se trata de seu passado mas de tal maneira que ele se reconhece sempre nas imagens sucessivas alguns fatos personagens podem entrar ou sair da constitui o desta me m ria o essencial que os tra os que o distinguem dos outros subsistam M Halbwachs 1968 78 e 79 5 2 2 O maior dos Saberes A Marmelada do Quilombo Mesquita uma forma de resist ncia A Marmelada o maior s mbolo da cultura e tradi o Mesquitense e tamb m um s mbolo de Goi s Porto Gon alves 2010 afirma que v rias l nguas ainda indicam que se sabe n o s por meio da vis o como nos indicam o mesmo radical para saber e sabor sapere e sapore do italiano ou saveur e savoir do franc s Sabemos que toda cultura se faz transformando o cru a natureza em cozido a cultura L vy Strauss no saber criar o sabor 201 H ainda muitos saberes inscritos nos fazeres por exemplo a marmelada resultado de um processo hist rico pol tico cultural e i
348. s e estradas vasculharam rios e montanhas desviavam correntes desmatavam e limpavam regi es inteiras e exploravam os ndios Palacin 1995 O autor Palac n 2001 enfatiza que os Bandeirantes exploravam intensamente o territ rio logo que foi conhecida certa abund ncia do ouro A d cada de 1730 e o in cio da de 1740 foram descobertas as minas e assim aconteceu a funda o dos seguintes povoados o arraial de Sant Ana atual cidade de Goi s junto serra dos Pirineus o arraial de Meia Ponte atual Piren polis ao norte as minas dos Tocantins entre o Tocantins e o sert o da Bahia S o Lu s hoje Natividade S o Felix Pontal e Porto Real Arraias Cavalcante e Pilar Depois as ltimas descobertas em meados dos anos de 1740 Carmo Santa Luzia e Cocal O encontro de minas de ouro um fato hist rico que traz dinamismo e aumento populacional Popula es inteiras procuram a rea produzindo em pouco tempo mudan as profundas em todos os aspectos do local Suas fases s o quase fatais descobrimento um per odo de expans o febril caracterizado pela pressa e semi anarquia depois um breve mas brilhante per odo de apogeu e imediatamente quase sem transi o a s bita decad ncia prolongada s vezes como uma lenta agonia Tal o ciclo do ouro Palac n 2001 13 O povoamento nas regi es aur feras no Brasil col nia incluindo Goi s se dava de forma repentina O fluxo de senho
349. s e outros se agregaram ao longo da pesquisa tive conversas informais que usaram a metodologia de historia oral com moradores mais antigos e lideran as da Comunidade Em diferentes ocasi es nos anos de 2010 e 2011 encontrei com os jovens da comunidade o que me permitiu registrar as concep es e as percep es das novas gera es sobre a identidade quilombolas e os problemas vividos pela comunidade Essas intera es me deram a oportunidade de compreender os significados que tecem o imagin rio coletivo das pessoas do lugar Os jovens s o identificados como lideran as pela comunidade j que s o os sujeitos e autores da nova hist ria do Quilombo Mesquita e sofrem forte influ ncia do meio social externo a participa o desse grupo revelou novos aspectos e novos olhares sobre os saberes tradicionais na Comunidade os jovens aparecem como os sujeitos de conhecimento e isso significa partir da premissa de que s o sujeitos de a o construtores de sua pr pria hist ria Gon alves pag 3 O discurso dos jovens permite entender a percep o sobre o tema segundo Hannah Arendt a a o n o pode ser vista dissociada do discurso Arendt 2003 Se a a o corresponde ao iniciar o discurso que exp e os sentidos desse in cio e corresponde singulariza o do sujeito revelando sua identidade pessoal Arendt 2003 p 192 Atrav s da fala poss vel identificar os sentidos da a o desvendando valores e sobretud
350. s em larga escala deveria ser aplicado o princ pio da precau o o que n o est acontecendo nesse caso Conforme relatos da comunidade quilombola ao longo dos anos vem acontecendo uma diminui o no vo ume de guas nas nascentes e at mesmo o desaparecimento de algumas E uma das hip teses levantadas como causa s o as diversas perfura es de po os artesianos que traz o rebaixamento do len ol fre tico diminuindo o n vel da gua o que pode atingir at a umidade da terra 261 Figura 40 Po os Artesianos em propriedades n o quilombolas dentro do Territ rio tnico Fonte RTDI 2011 Al m disso no Jardim Edite de acordo com os moradores descendentes dos quilombolas uma rea habitacional que possui sistema de coleta de esgotos e res duos dom sticos causando polui o do len ol subterr neo e tamb m do solo porque o lixo colocado no ambiente sem nenhum controle de polui o ou de reciclagem desses res duos 262 Cap tulo VI 6 Concluindo Aqui Chegamos Al m de sustentabilidade preciso haver justi a social para que nenhum grupo seja desrespeitado em sua dignidade em nome do progresso econ mico O problema de pesquisa que foi o marco norteador desse trabalho foi o de compreender se os saberes tradicionais dos moradores do Quilombo Mesquita s o usados como ferramenta para transmiss o de saberes ecol gicos e como podem contribuir para a Educa o Ambiental A hip tese para o
351. s mais jovens eles tamb m herdam o significado simb lico da marmelada que ser uma tradi o que une todos do Quilombo que liga o passado e o presente Esses atuais mesquitenses que ainda produzem a marmelada s fazem para manter a tradi o j que pela rentabilidade n o uma atividade atraente apesar da comercializa o da marmelada ajudar em muito na renda de algumas familias Para se produzir a marmelada leva se um grande tempo al m da planta ter um ciclo longo e que precisa ter cuidados especiais com ela A receita do doce apresentada detalhadamente por um desses antigos produtores que ainda permanecem na atividade desde a planta o do marmeleiro at a produ o do doce Essa aqui a primeira muda a primeira muda depois tira ela daqui vai pra uma cova de 40 por 40 da uma m dia de 5 anos a ela j come a a dar o fruto depois de cinco anos todo ano tem que podar No primeiro ano essa aqui t no segundo ano j vai mudar pra cova de 40 por 40 depois dela formada a vai levar cinco anos todo ano podando na primeira crescente de julho e a ap s cinco anos que ela muda pra cova que ela vai ficar j no local certo ap s cinco anos a ela d no primeiro ano uma quantidade mais pouca a depois no segundo ano em diante ela s vai aumentando s vai aumentando de produ o e a depois dela formada a vem o marmelo pra fazer o doce A tira o marmelo prepara n limpa ele abre ele cozinha
352. s pr ticas produtivas que surgiam na regi o A oferta de empregos aumentou o custo de oportunidade para o pequeno produtor de Mesquita Os negros n o podiam medir os mecanismos existentes nessas transforma es e rela es mediadas pelo capital O modelo tradicional de produ o entrava em franca decad ncia sem que a comunidade pudesse calcular o real impacto Era evidente que o emprego da m o de obra local trazia certo beneficio imediato mas em longo prazo custaria caro comunidade Esse assunto para o pr ximo cap tulo S que naquela poca a vantagem que voc trabalhava E por exemplo l mesmo na comunidade eu cansei de ver meu pai o pai deles primos e os tio dele trabalhar a n o tinha como receber dinheiro do povo Por exemplo esse aqui era um fazendeiro tinha 98 25grande tal ent o ia eu R RTDI 2011 tal colocava a enxada na carcunda e ia trabalhar para ele A ele n o tinha dinheiro para pagar pra n s Ent o o que ele dava Dava l dois quilos de toicinho dava l uma meia quarta de arroz feij o Ent o era trocado o mantimento pelo servi o Ningu m tinha o dinheiro para pagar assim o servi o Depois de Bras lia pra c que foi mudando J foi aparecendo o dinheiro Foi trazendo muita gente O pessoal veio do Rio de Janeiro de S o Paulo de caminh o pau de arara Porque nem nibus entrava pra c J A P Relato ao INCRA Em Mesquita no per odo que estas novas mudan as ch
353. s somos quilombo at o fim n o adianta depoimento de Morador ao site http ancestralidadeafricana org br page id 132 As ervas mais usadas s o a erva de santa maria usam as folhas fervidas para um ch ou xarope verminoses expectorante estimulante e diur tico hortel do campo ch para dores estomacais e para vermes arnica as folhas e ramas s o colocadas no lcool usada para machucados a erva cidreira as folhas faz se um ch calmante e antigripal O broto de goiabeira usam se as folhas mais novas e as cascas para um ch pra combater diarr ias disenterias dores de dente e aftas Tamb m o barbatim o a casca do caule fervida e transformada num ch para diarr ias Estes conhecimentos foram adquiridos com seus antepassados e diariamente s o repassados aos mais jovens Pott 2004 comum o uso de ervas na pinga em alguns bares do Povoado constata se que o saber tradicional em rela o a alguns tratamentos que fazem parte da cren a popular ainda s o passados de gera o em gera o Com a diminui o da rea de Cerrado no entorno do Quilombo Mesquita plantas medicinais nativas n o s o mais encontradas com facilidade no entorno da Comunidade assim a busca ent o feita em outros lugares mais distantes ou 236 encomendados a quem vem de fora onde ainda tem assim fazem mudas e plantado no quintal Figura 30 Mastruz ou Erva de Santa Maria Foto Flickr 2014 O saber local sobre plantas e ervas med
354. saber a supera o de uma ignor ncia particular Deste princ pio de incompletude de todos os saberes decorre a possibilidade de di logo e de disputa epistemol gica entre os diferentes saberes O que cada saber contribui para esse di logo o modo como orienta uma dada pr tica na supera o de uma certa ignor ncia O confronto e o di logo entre os saberes um confronto e um di logo entre diferentes processos atrav s dos quais pr ticas diferentemente ignorantes se transformam em pr ticas diferentemente s bias SANTOS 2004 p 790 791 Esses saberes por diferentes raz es interessaram Educa o Ambiental uma raz o que nas rela es sociais essas comunidades criam a es independentes que s o instrumentos de conscientiza o ambiental para seus membros essa conscientiza oecol gica acontece de forma individual e coletiva e beneficia toda a sociedade pelos efeitos e resultados sobrevindos da transforma o social 123 Assim reafirma se o papel de atrav s da Educa o mesmo em ambientes n o formais como o e caso estudado nesta tese de se criar sujeitos cr ticos aut nomos participativos e emancipados Amorim 2005 A Educa o ecol gica que citei na introdu o desse trabalho aquela que desenvolvida no p do borralho inspirada no exemplo tamb m uma maneira expressiva de se produzir sentidos para a Educa o Ambiental A Educa o Ambiental povoada ent o
355. scimento econ mico com desenvolvimento social O decl nio do ciclo do ouro ficou estigmatizado portanto por uma vis o que possui suas ra zes na id ia de atraso e ue n o leva em conta o processo portugu s de ocupa o e urbaniza o que alcan ou a regi o portanto sob essa perspectiva que se pode entender a ocupa o de Goi s e as sua forma ao urbana pois elas s o resultados de s nteses de diferentes modelos de cidades reproduzidos ora por a es dos bandeirantes ora por governadores como Luiz de Mascarenhas Jos de Almeida e Cunha Menezes Os bandeirantes foram os primeiros respons veis pela maioria dos assentamentos goianos as bandeiras partiam de S o Paulo na expectativa de que os sert es de Goyazes representassem a continuidade das Minas Gerais e Cuiab Palac n 1994 Cada ano vem nas frotas quantidades de Portugueses e estrangeiros para passarem s minas Das cidades vilas rec ncavos e sert es do Brasil v o brancos pardos e pretos e muitos ndios de que os paulistas se servem A mistura de toda condi o de pessoas homens e mulheres mo os e velhos pobres e ricos nobres e plebeus seculares Em torno da imagem da decad ncia vai girar todo o universo interpretativo acerca da sociedade goiana que transitou da minera o para a agropecu ria A partir da id ia de um pretenso desenvolvimento da sociedade mineradora criou se o posterior espectro de decad ncia que passa a rondar a soc
356. sco da Gama perdeu grande parte da sua tripula o por causa do escorbuto cerca de dois ter os na viagem de descoberta porque ignorava que a marmelada que transportava os podia salvar A doen a melhor conhecida nas viagens mar timas do s culo XVI Pedro lvares Cabral tamb m transportou o doce na expedi o de descoberta do Brasil A 26 de Abril de 1500 ap s a celebra o da primeira missa foi servida marmelada como sobremesa ao jantar a bordo da nau capitania 203 Os marmeleiros foram introduzidos ao Brasil em 1532 por Martim Afonso de Souza de Portugal Ilhas de A ores e Madeira donat rio da Capitania de S o Vicente que recebeu do rei Jo o introduziu al m do marmeleiro e a cana de a car dali a cultura se disseminou e adquiriu grande import ncia tanto que a marmelada passou a ser o principal produto de exporta o paulista no Brasil da poca colonial onde os doces eram comercializados em caixas e caixetas poucos frutos como os do marmeleiro tiveram t o relevante papel e t o grande valor hist rico social Da conforme pude analisar em diversos escritos da poca o cultivo do marmeleiro ingressou e foi introduzido na Capitania dos Goyases atrav s da Picada de Goi s A Picada de Goi s interligava as Minas Gerais e o Rio de Janeiro com os arraiais aur feros goianos Essa rota iniciava no Rio de Janeiro passava por Minas Gerais em S o Jo o Del Rei atravessava uma imensa regi o pouco povoada pa
357. scurso do tempo Assim a afei o por determinada parcela do espa o seria a topofilia e o espa o denominado lugar A percep o do lugar por parte de quem habitante interno e externo apresenta se de forma distinta Relph 1976 para diferenciar os graus de percep o do espa o criou duas classes a dos moradores locais e a dos outros ou os de fora como s o chamados pelos Mesquitenses A topofilia varia de intensidade na rea rural sobretudo o sentimento topof lico pode ser expresso pelas pr prias marcas no corpo m sculos e cicatrizes possibilitada por um contato f sico entre o agricultor e a terra logo o seu espa o ntimo se faz muito mais por uma intimidade f sica que por uma aprecia o est tica do lugar O lugar n o deve ser visto como uma mera categoria espacial como um palco onde a sociedade constr i sua hist ria Muito pelo contr rio o lugar deve ser considerado como por o do espa o em que s o criados v nculos afetivos e subjetivos que servir o de materiais para o sentimento topof lico Essa pesquisa se aproxima da Geografia Human stica porque seu destaque para as rela es di rias dos sujeitos na demarca o do territ rio nos saberes vivenciados por esses sujeitos nesses territ rios Ent o na busca do ineditismo do n o falado ou conhecido nasceu em mim um vazio encarado primeiramente pelos meus questionamentos sobre o que eu j sabia sobre a comunidade e tamb m
358. sde a planta o do marmelo as suas t cnicas de conserva o e de armazenamento e sua transforma o em doce Entre os produtos culturais a marmelada acumula uma expressiva significa o simb lica sendo uma das manifesta es mais aut ntica da identidade do Quilombo Mesquita 212 Segundo o Sr C AR tanto a marmelada quanto o a car de forma s o produzidos em Mesquita h muito tempo desde meados do s culo XVIII os dois tem a mesma idade A produ o do a car de forma se d da seguinte maneira reproduzo aqui trecho da entrevista com o Sr C M i a cana e faz a garapa coloca no tacho com o tacho l no fogo voc pega uma cinza de madeira de prefer ncia uma cinza mais limpa e a dependendo do tanto de garapa o tanto de cinza a ela vai juntando todo o cisco a com uma escumadeira tira a espuma todinha fica a garapa limpinha A quando faz o melado tem um ponto dele porque se voc coloca com ponto fraco d pouca massa e muito melado porque aquilo que voc colocou l tem dois sentidos um tirar a espuma o outro separar a massa do melado do a car quando voc coloca l no cocho pra esfriar a a massa a ucara Voc coloca a forma assim com uma brechinha no fundo pra escorrer o melado a voc vai com o baga o de cana ou ent o palha e p e l a vem e coloca a massa a quando enche voc mete o macete soca bem arrocha e p e um achado de barro em riba e deixa l at seca
359. se fato pode ser comprovado nos estudos do pesquisador goiano Paulo Bertran Os estudos de Paulo Bertran j citado nesta tese identificam as propriedades fundi rias estabelecidas na regi o procurando associar a quantidade de pedidos as dimens es das terras e as suas finalidades aos diferentes momentos da sociedade colonial que se formava no Planalto Mais do que isso com base em antigos memoriais descritivos ele identifica os seus limites 249 tra a o mosaico das antigas sesmarias e acompanha sua fragmenta o durante um s culo at o registro paroquial de 1857 J outros permaneceram como os Pereira de Oliveira os Esp nola de Athaide os Pereira Braga os Camelo de Mendon a e os Gomes Rabello estes ltimos fundadores de Planaltina e todos eles em breve com 250 anos de exist ncia no Planalto Bertran 2000 A rea em lit gio apesar de n o ter edifica es uma rea historicamente utilizada pelos quilombolas assim representando o esp lio de ancestrais da fam lia Pereira Braga uma das herdeiras representando o Quilombo ingressou com uma a o reivindicat ria de que a leg tima propriet rios da rea e que o GDF regularizou a rea e deu posse a outros injustamente A regularidade da sucess o entre herdeiros desde o falecimento do mais remoto propriet rio em 1858 e a validade da matr cula do im vel feita exclusivamente com o documento denominado de registro paroquial est sendo questio
360. se referia s dificuldades encontradas pelos habitantes da prov ncia para produzirem e comercializarem os produtos da terra Fatores como as t cnicas agr colas rudimentares dificuldades de armazenamento grandes dist ncias entre as vilas precariedade dos caminhos que dificultavam o transporte de mercadorias para comercializa o e dificuldades de ordem fiscal contribu ram para inviabilizar a expans o da lavoura levando os pequenos agricultores ao des nimo Aqui ancoro minha hip tese sobre o mito fundador do Quilombo Mesquita Com a decad ncia da fase mineradora muitos donos de terra no Arraial de Santa Luzia desistiram de suas terras em Goi s mesmo ainda conseguindo produzir e exportar artigos como peles de animais selvagens couros e marmeladas Saint Hilaire afirmava que a cria o de gado bovino maior fonte de lucros dos fazendeiros da regi o a poca n o assegurava boas condi es de vida aos seus moradores N o havia recursos para prover as necessidades de artigos importantes com o sal e vestimentas apropriadas para sua posi o o que causava ocorr ncias at c micas Conforme Saint Hilaire Alguns agricultores chegam a um tal estado de pen ria que passam meses comendo alimentos sem sal por n o conseguirem compr lo E quando o vig rio percorre as fazendas para a confiss o pascal acontece muitas vezes que todas as mulheres de uma mesma fam lia se apresentam diante dele uma de cada vez usando o mesmo vestido A i
361. sensibilidade a base para esse entendimento Os saberes no Quilombo Mesquita s o como sementes que se cultivadas v o contribuir bastante para qualidade de vida das gera es presentes e futuras que vivem nesta regi o Os saberes desenvolvidos pela comunidade sobre as propriedades usos e caracter sticas da diversidade biol gica s o a base do conhecimento tradicional no Quilombo Mesquita e o resultado de uma transmiss o geracional sendo parte do patrim nio cultural daquela comunidade assim como a identidade tnica e o passado hist rico comum do grupo Para uma melhor compreens o uso a divis o dos saberes tradicionais agrupados em Tradi o oral a transmiss o de saberes feita oralmente pelo povo de gera o em gera o isto de pais para filhos ou de av s para netos Estes saberes tanto podem ser os usos e costumes das comunidades como podem ser os contos populares as lendas os mitos e muitos outros textos que o povo guarda na mem ria prov rbios ora es adivinhas cancioneiros romanceiros etc Tamb m s o conhecidos como patrim nio oral ou patrim nio imaterial Atrav s deles cada povo marca a sua diferen a e encontra se com as suas ra zes isto revela e assume a sua identidade cultural Alexandre Parafita 2005 p 30 Hist ria Popular Faz parte da tradi o oral de uma comunidade e reflete os mais variados sentimentos da alma de um povo os seus h bitos usos costumes seus personagens
362. simbolismo que por si j respondia a expectativas de melhorias para a comunidade A r pida entrada do capital para um grupo que estava acostumado com outro tipo de troca baseada em uma economia de subsist ncia impacta com a possibilidade de ac mulo de riquezas Assim consegue 100 se mobilizar uma massa de m o de obra que em condi es anteriores estaria envolvida em uma atividade produtiva tradicional E neste caso espec fico na situa o de constru o de uma cidade planejada que se d na concentra o de recursos em favor de um grande projeto logo que esta meta se cumpra se restabelece um equil brio e o aporte de capital diminui bastante Assim da mesma forma que o capital entra depois de esgotar o recurso de seu interesse ele se retira ou se minimiza Por m j estabeleceu na comunidade uma rela o de depend ncia na troca mediada pelo dinheiro Causou um impacto social e territorial inserindo uma comunidade antes sustent vel em sua subsist ncia novamente cativa dentro do sistema capitalista A efic cia simb lica da chegada do progresso esconde em sua forma de entrada o desarranjo e o reordenamento dos grupos menos favorecidos Na rela o l gica da entrada das estruturas sutis de avan o do capitalismo a m o de obra que passa a ser empregada a parte vulner vel A caracter stica pr pria deste tipo de rela o de natureza desigual e seu produto mais grave a separa o
363. sitas Hoje a marmelada vai assumindo a categoria de sobremesa ocasional adaptando se como doce de festa vendida em ocasioes festivas e para as pessoas de fora pelos poucos mesquitenses produtores foi na verdade transformada em ritual Menasche 2009 p 19 retrata que as e na a Ras 5 E Ee an Rae an comidas rituais pr prias de festas comemora es ritos de passagem implicam em cristaliza o Essas comidas s o portadoras de grande valor simb lico e desse modo marcadores da identidade do grupo A autora acredita que essas comidas rituais s o colocadas mesa para reafirmar uma ancestralidade uma tradi o um pertencimento comunidade Assim continua Menasche 2009 que o que antes era um espa o tradicional compartilhado por uma comunidade e vivido como natural e inquestion vel o sentimento de perten a hoje est alterado pelas referencias externas ao grupo e as pessoas do lugar perdem antigos referenciais ao mesmo tempo em que passam a ter acesso a liberdade de vivenciar outras experi ncias pela conviv ncia entre comunidades 210 de diferentes origens e culturas caracter stica n o s de processos migrat rios mas tamb m da globaliza o A marmelada tem fun es identit ria e normativa visto que transmite um saber fazer atrav s da receita repassada de gera o em gera o Por m trata se de uma identidade intemporal de sua a o como passado revelador do homem mesquitense evocando assim a o
364. sociais que nem sempre os habitantes locais ou seus representantes tinham bem claro para relatar em um question rio fechado s o situa es acontecimentos fazeres relatos testemunhos e suas representa es as ocorr ncias e inten es e projetos vivenciados quer individual ou coletivamente que formam a mat ria bricolada dessa pesquisa e com essa colcha de retalhos eu busco mais entender do que explicar Assim explico que a bricolagem tamb m aconteceu na coleta e na interpreta o dos dados pois foram realizadas de modo interativo durante todo o processo de investiga o Dencker 1998 p 126 e combinou diferentes processos para a coleta de dados 131 As pesquisas qualitativas s o caracteristicamente multimetodol gicas isto usam uma grande variedade de procedimentos e instrumentos de coleta de dados Podemos dizer entretanto que observa o participante ou n o a entrevista em profundidade e a an lise de documentos s o os mais utilizados embora possam ser complementados por outras t cnicas Alves Mazzotti Gewandsznajder 2001 p 163 Na busca de um macroconceito que unisse e interligasse as mazelas sofridas pela Comunidade do Mesquita a intensa press o fundi ria que sofrem o lento desaparecimento dos seus saberes tradicionais e as formas de resist ncia do povo quilombola o caminho te rico que se apontou foi o pensamento de Boaventura Sousa Santos que me possibilitou uma perspectiva epist mica ca
365. sou por v rias distor es ao longo da hist ria em consequ ncia do racismo Sobre esse tema Nascimento 1980 p 247 afirma que a sociedade brasileira dominante inventou formas ordenadas de destrui o e nega o da mem ria dos afro brasileiros nunca em nosso sistema educativo se ensinou qualquer disciplina que revelasse algum apre o ou respeito s culturas artes l nguas e religi es de origem africana A mem ria dos antigos remete a um tempo onde na Fazenda Mesquita se reuniam os negros locais Essa linha tnica l s mora preto ainda comum em Luzi nia a atual denomina o da cidade de Santa Luzia Para os de fora esse agrupamento representava uni o Mas no interior da comunidade as condi es dos indiv duos e suas rela es de sintonia eram diferenciadas entre si As uni es aconteciam por trabalho casamento trocas e outras tantas forma de inclus o comunit ria Este um dado hist rico em Mesquita s se aceitava negros at a segunda metade do s culo XX representando tamb m uma forma de conserva o da terra entre este segmento tnico N o podia entrar outra Na o branco a com os pretos n Aqui era tudo preto Depois que foi entrando Agora t preto e branco C P B Relato ao INCRA Antigamente aqui s era negro refor ado N o se via miudinho Era neg o forte nega sei da Quando se via um branco era passageiro BA P B para o Correio A Comunidade
366. spectos de luz e sombra formando uma paisagem colorida e viva Perceber estas voltas que comp em a vida de cada um traz de volta o movimento a capacidade de transforma o de nossas hist rias de vida 1 PASSO Reuniremos os jovens e os anci os no sal o da Igreja 2 Faremos a apresenta o de cada um e explicaremos o motivo do nosso encontro 3 Depois das apresenta es individuais cada anci o vai escolher entre os jovens um companheiro para sua viagem 4 Feito isso as duplas ter o 10 minutos para conversar entre si caminhar rir tomar caf o importante que os dois estejam juntos 5 Agora vamos colocar a musica da din mica para ouvir 6 A Pesquisadora falar sobre a import ncia dos fatos j vividos de se saber como foi sua hist ria como era o lugar as pessoas a sua pr pria vida Vou informar que nessa viagem eles ter o como marinheiros os jovens eles escrever o e tamb m ser o os provocadores da participa o e manifesta o de cada idoso ao longo do Rio 7 As duplas ir o conversando e escrevendo o que convier em cada fase do rio Da nascente a foz 287 OFICINA 2 HIST RIA VIVA OUVIR E CONTAR NO POVOADO MESQUITA Essa proposta se baseia na oficina Hist ria Viva Ouvir e Contar e tem por objetivo principal por meio de hist rias contadas pelos mais velhos aproximar crian as e idosos para levantar os saberes da Comunidade do Povoado Mesquita que s o usados como
367. ssociados ao uso da biodiversidade Tais conhecimentos se referem s maneiras e t cnicas de manejo de recursos naturais m todos de ca a e pesca at conhecimentos sobre sistemas ecol gicos e esp cies com propriedades farmac uticas aliment cias e agr colas Figura 27 Galinheiro em quintal quilombola Foto Antonia Samir 2011 Figura 27 Galinheiro no quintal de fam lia no Quilombo Mesquita Foto Antonia Samir No Mesquita hoje os espa os que est o sendo usados como alternativa segura para o plantio e cria o de animais s o os terreiros quintais substituindo as reas comunais onde todos podiam usar para diferentes fins pasto plantio lenha rem dios etc As terras de uso comum acess veis comunidade com a expropria o advinda da constru o de Bras lia e com a grilagem crescente se reduziram fato que vem se agravando com o aumento da demanda por reas para parcelamentos de car ter urbano afetando as pr ticas tradicionais de acesso e conv vio com a terra e o Cerrado circundante preciso memorar que a no o de propriedade para a comunidade de Mesquita se diferenciava da pr tica governamental que se lan ava com hegemonia A comunidade tenta se adequar a essa realidade restritiva em rela o ao seu meio ambiente e ao seu contexto social A limita o dos recursos e a busca de seguran a frente aos novos vizinhos levou os moradores da comunidade a desenvolverem estrat gias de uso desse espa o
368. subsist ncia e a reconstru o de uma vida N o excluindo aqui a import ncia econ mica da terra para ambos Mas em resumo um ponto que deve ser destacado que para o senhor empreendedor e propriet rio o valor da terra era mais associado produ o extra da dela do que por sua plena exist ncia f sica Para o negro por m a terra nua em si tinha um valor associado liberdade Bertran 2000 90 60 Em Santa Luzia 1775 o ano que marca o decl nio da produ o de ouro Com a baixa da minera o n o s este Arraial mas Goi s como um todo mergulha primeiramente em um per odo de pobreza nas cidades o que obriga sua popula o migrar para o meio rural investindo nas atividades voltadas sobreviv ncia Em decorr ncia de uma conjun o de fatores marcados pela escassa renda produzida o que desestimulava investimento em estradas ou melhorias por parte da Coroa Goi s hiberna durante um s culo em economia de subsist ncia e desenvolvimento de um mercado interno amparado na pecu ria Sua localiza o impunha limita es comerciais pois os produtos que os colonos goianos passariam a produzir tamb m eram encontrados em regi es mais pr ximas ao litoral A Convers o da economia de minera o para agropecu ria significou redefini o da composi o social e ocupa o de outras reas do territ rio Redefiniu o car ter geopol tico de crescimento demogr fico causando esvaziamento ou certa estagna o d
369. t sendo agora uso aqui o conceito de Bosi 1994 p 7 afirma que mem ria um processo permanente de constru o e reconstru o as dificuldades e tristezas vividas hoje pela Comunidade na busca da sua afirma o territorial e tnica s o consideradas por eles como passageiras at que tudo volte ao normal ao que era 164 A quest o analisada por essa tese de um modo um tanto diferente se prop e a abordar os saberes tradicionais do grupo sem apelar nem para a folcloriza o que trata os conhecimentos como mito ou como apologia nem recorrer ao fatalismo que v nos saberes apenas uma op o de reconstru o do passado Na pr tica dos fazeres e saberes o que se busca n o um fazer que vem do passado somente nem apenas a forma como esse saber vivido na comunidade mas tamb m entender as formas pelas quais esses saberes se relacionam com tema ambiental e como s o vivenciados como processo de pedagogiza o ambiental Foi atrav s do foco na hist ria e na territorialidade do Quilombo Mesquita que surgiram algumas informa es importantes para o estudo e que n o seriam percebidas em outra forma de an lise que n o a sucess o dos acontecimentos dentro de um territ rio A comunidade do Quilombo Mesquita cita continuamente tr s momentos hist ricos o tempo dos mais antigos e o mito de origem o tempo do Aleixo e os dias presentes ou das novas gera es Usam tamb m o parentesco e a genealogia como uma ma
370. tana e crist lvares pesquisou registros hist ricos e afirmou ser o Arraial um pequeno reduto portugu s ilhado grande dist ncia de sua origem Outros estudiosos tamb m garantiram que Santa Luzia realmente sofreu uma influ ncia portuguesa bem mais acentuada do que as outras localidades da prov ncia de Goi s Pimentel 1994 24 Diferente do destino de muitas minas que eram exploradas e abandonadas Santa Luzia recebeu fam lias e um n mero consider vel de mulheres e sua alta sociedade era composta de pessoas ilustres Esses contingentes populacionais faziam se acompanhar de suas esposas e filhas numa prova cabal de que mantinham o nimo de aqui permanecerem e n o apenas enriquecerem e voltarem s suas cidades de origens Pimentel 1994 24 Logo em outubro de 1749 Santa Luzia foi elevada categoria de Julgado e no ano seguinte Arraial Existem documentos da d cada de 1770 afirmando at depois da independ ncia do Brasil os distritos de S o Bartolomeu hoje Distrito Federal e de Itiquira hoje parte de Formosa pertenciam e foram regidos pelo julgado de Santa Luzia Da como pesquisadora acredito ser poss vel afirmar que o Distrito Federal foi constru do em Terras Quilombolas Joseph de Mello Alvares o historiador de Santa Luzia faz homenagens a in meros nomes os sobrenomes povoam a regi o at hoje como exemplo temos Mesquita que teve grande import ncia para a comunidade que levou seu nome S
371. tar a degrada o de seus ambientes ou submeterem se a um deslocamento for ado para liberar ambientes favor veis para os empreendimentos 153 comum que essas interven es de especula o imobili ria aconte am em regi es de grande valoriza o imobili ria a especula o imobili ria sobre as terras do Quilombo iniciou com a constru o de Bras lia mas se agravou depois de 1974 quando aconteceu a implanta o de um n cleo residencial ao norte do Munic pio de Luzi nia a Fazenda Aracati foi vendida ao senhor Cleto Meireles empres rio do ramo imobili rio que em 1976 fundou a Cidade Ocidental com previs o de 15 mil resid ncias e foi emancipado pol ticamente e o primeiro prefeito municipal tomou posse em lo de janeiro de 1993 O territ rio da Comunidade ficou assim localizado no munic pio de Cidade Ocidental GO distando aproximadamente 8 km da sede do munic pio e 40 km de Bras lia DF Embora a principal causa da persegui o da qual o Quilombo Mesquita se tornou v tima seja a especula o imobili ria h sinais de que o racismo seja uma vari vel significativa Um caso emblem tico vivenciado pela comunidade chama a aten o quando um Jornal passou a atacar Sandra Pereira Braga em reportagens a principal lideran a local que havia sido convidada a atuar como assessora para assuntos quilombolas na Secretaria Especial de Promo o da Igualdade Racial do Distrito Federal SEPIR DF Ficou evidente na
372. te a etapa explorat ria incluindo aqui as conversas informais que tive na comunidade e principalmente o referencial te rico analisado Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com 06 representantes da comunidade de diferentes idades e em diferentes per odos entre e junho 2010 a setembro de 2011 e com diversos representantes do poder p blico em pocas distintas al m das visitas pr vias em maio de 2010 e agora na fase de reda o final da tese em janeiro de 2014 essas visitas acontecem com uma boa conversa tomando caf Durante a etapa explorat ria al m da interlocu o informal com moradores locais foram consultados alguns representantes do poder p blico Funda o Cultural Palmares do INCRA da SEPPIR Prefeitura Municipal da Cidade Ocidental Arquidiocese de Luzi nia sobre a relev ncia da pesquisa quando tamb m foram coletadas subs dios que auxiliaram no rumo da investiga o J depois da qualifica o do projeto da tese e com o delineamento da pesquisa mais claro foram planejadas novas entrevistas tamb m semiestruturadas usando um roteiro de perguntas espec ficas para responder aos dados que necessitava para fechar algum dado Nesse momento surgiu uma nova ferramenta de pesquisa que se mostrou muito eficiente com alguns jovens da comunidade a Etnografia Virtual onde o contato foi feito atrav s de Redes Sociais Facebook foi um estudo etnogr fico baseado na observa o e participa o em redes s
373. te na comercializa o com Minas Gerais e S o Paulo Bertran 2000 Como ocorreu em Piren polis as pessoas que permaneceram em Luzi nia procuraram diversificar e realizar atividades mais rent veis poss veis Um dos g neros da agricultura que prosperou no territ rio de Santa Luzia foi a cana permitindo assim a produ o de a car Com a eleva o do pre o do a car no mercado internacional no final do s culo XVIII ele tornou se um produto novamente atrativo para a col nia 51 brasileira Nesse sentido Luzi nia teve uma vantagem relativa em compara o aos arraiais do Norte pois sua dist ncia em rela o aos grandes centros da col nia era menor A produ o de a car foi uma das principais atividades no in cio do s culo XIX mas isso n o favoreceu o desenvolvimento da localidade j que a Capitania de Goi s n o criou incentivos para o com rcio com o Sudeste mas sim com o Norte e possui uma grande parcela de culpa Bertran 2000 Mesmo tomada por longos per odos de seca febres paludosas constantes inc ndios fatores que propiciavam grandes taxas de mortalidade na regi o orientada pelo trabalho pesado da minera o Santa Luzia era palco declinado ao entusiasmo de sua coloniza o Alvares 1979 Decorrido tr s anos Santa Luzia j havia recebido migra o estabelecida maci amente em Portugal e tamb m em outros pontos do Brasil de forma que a cultura que ali se instaurava era arraigadamente lusi
374. tem planta o de mandioca eu ajudo mais na hora de fazer a farinha n Antonia Pereira Braga entrevistada em 10 de abril de 2006 in Machado 2007 32 As terras dispon veis para a comunidade com as desapropria es feitas para a constru o de Bras lia afetou suas pr ticas tradicionais A no o de propriedade para a comunidade de Mesquita era diferente da pr tica governamental que se lan ava com hegemonia A comunidade n o tinha os acessos necess rios cidadania N o houve pol tica p blica que a beneficiasse O paradigma progressista e a meta governamental se impunham a esta minoria invisibilizada na Hist ria As trocas que passavam a chegar comunidade tinham como base a assimetria de poder entre as partes Mesquita novamente dialogava com uma ordem externa a ela Para atender a demanda por energia para a constru o de Bras lia em 1958 foi inaugurada a primeira usina hidrel trica que serviu Capital A Usina Saia Velha que leva o nome do ribeir o que rega parte do territ rio de Mesquita empregou alguns quilombolas L na cachoeira Saia Velha ao lado do chifrudo ali A primeira gua que Bras lia recebeu foi dali A luz de Bras lia a primeira luz da CEB foi l dessa cachoeira Saia Velha Meu tio foi funcion rio da Novacap Com ele era o senguinte dava pens o pra aquela turma Porque a turma fez uma barragem muito grande pra trazer aquela gua aqui pra Bras lia J A P Relato ao INCRA
375. tes de opera es industriais agr colas comerciais de obras de infra estrutura ou da implementa o de programas e pol ticas federais estaduais municipais e locais Cabe assim uma maior aten o aos grupos que s o comumente fragilizados e invisibilizados por processos onde sua capacidade de autodefesa lhes tirada Aqui se inclu as popula es cujo modo de vida indissoci vel do meio ambiente em que vivem tais como grupos ind genas quilombolas que dependem do livre acesso a um meio ambiente saud vel para sua subsist ncia e reprodu o e tamb m popula es urbanas deslocadas de suas reas de origem por projetos de desenvolvimento dos quais foram exclu das 150 Os movimentos de luta pela Justi a Ambiental defendem o envolvimento efetivo dos grupos potencialmente atingidos nas decis es locacionais dos empreendimentos Por envolvimento efetivo entende se aquele que 1 as comunidades afetadas recebem em formato acess vel aos seus modos pr prios de produ o de conhecimento todas as informa es necess rias para avaliar os impactos que os projetos de desenvolvimento poder o produzir sobre elas 2 As comunidades afetadas t m participa o assegurada nas decis es acerca das ativ idades propostas que vir o a afetar seu meio ambiente e ou sa de 3 as decis es oriundas da participa o p blica s o levadas em conta pelas ag ncias regulat rias respons veis 4 os diversos m
376. tes mais abastadas passam a se distinguir ainda mais pelo capital intelectual em rela o s classes menos favorecidas de cultura rural e por isso sentem as transforma es bruscas de urbaniza o de forma mais amena Assim o acesso ao mundo pol tico e o preparo para a inteligibilidade das mudan as que j se iniciavam imputando nova l gica nova ordem e novo dinamismo local foi privil gio de uma elite que p de absorv las melhor As novas investidas de interioriza o da capital representaram n o s a expans o de cidades progressos e acessos mas tamb m de uma l gica econ mica que seria afrontada com a l gica local O Brasil passava por um processo de alinhamento s novas demandas internacionais orientada pelo capitalismo mas ainda com um forte teor nacionalista Todas estas investidas rumo ao interior do pa s come ava a apresentar os primeiros impactos direcionados regi o de Mesquita O ass dio de terras em suas proximidades se dava pela frente de expans o da agricultura que se instalava paulatinamente O aumento da produ o desenvolveu um outro olhar sobre a terra e o trabalho Em certa medida nesta poca a comunidade que vivia basicamente de subsist ncia come a a lidar com um ac mulo de maiores propor es O excedente o crescimento da produ o e o desenvolvimento familiar em contra senso tamb m foram fatores de press o para a divis o da terra que ocorreu orientando a comunidade para uma nova fo
377. tir da personagem criada no campo da cr tica cient fica pelo ge grafo Milton Santos O homem lento de Santos 1996 1994b que personifica o homem comum pobre do lugar que no ambiente das metr poles emergentes resiste s for as verticais externas da globaliza o Aqui incluo o Quilombo Mesquita no seu contato com a vizinhan a que chegava ao seu territ rio Milton Santos 2000 2008 1994a define territ rio como o espa o usado onde desenvolvem se rela es humanas de identidade vizinhan a solidariedade O territ rio abriga o lugar unidade de maior proximidade social No contexto da globaliza o o entendimento do territ rio contrap e se imposi o da aliena o da perda de identidade individual e coletiva da ren ncia ao futuro Pode se afirmar que no Quilombo Mesquita com a crescente press o urbana sobre o territ rio tnico recrudesceu a hist ria de domina o que materializada com o controle sobre o territ rio A falta de acesso forma jur dica Estatal imp e uma rela o de poder A forma da lida com a terra dos chegantes imp s um mercado que os Mesquitenses n o podiam competir O Estado brasileiro capitalista e at a d cada de 1970 com a ideologia desenvolvimentista controlando as suas a oes era natural o crescimento das cidades sobre as reas rurais imersas em uma economia de subsist ncia ainda mais se essas comunidades estivessem em locais de interesse ao desenvolvimento econ
378. tituto de Ci ncias Humanas Departamento de Geografia UnB 2007 135 QUINTAS J S Educa o no processo de gest o ambiental uma proposta de educa o ambiental transformadora e emancipat ria In LAYRARGUES P P Coord Identidades da educa o ambiental brasileira Bras lia DF MMA 2004 RAFFESTIN C Por uma Geografia do Poder S o Paulo tica 1993 REIGOTA M Meio ambiente e representa o social 5 ed S o Paulo Cortez 2002 v 41 RELPH E C As bases fenomenol gicas da geografia Geografia Rio Claro v 4 n 7 p 1 25 1976 REVEL JACQUES Micro an lise e constru o social In Revel J Org Jogos de escalas a experi ncia da microan lise Rio de Janeiro Ed da Funda o Get lio Vargas 1998 RIBEIRO AC Torres Comp Repensando a experi ncia da Am rica Latina quest es conceitos e valores Buenos Aires Clacso 2000 p 235 250 277 RODRIGUES Adriano Duarte Comunica o e cultura a experi ncia cultural na era da informa o 3 edi o Editorial Presen a Lisboa Junho 2010 ROSA M riam Virg nia Ramos Espinho A desconstru o da racializa o negra da escravid o Thesaurus Editora Bras lia 2004 SAINT HILAIRE Auguste de Viagem prov ncia de Goi s Belo Horizonte Ed Itatiaia S o Paulo Ed Da Univeidade de S o Paulo 1975 SANT ANNA Thiago Escravas em a o resist ncias e solidariedades abolicionistas na Prov ncia de Goi s S culo XIX Em te
379. tradi es e conferir lhes a apar ncia de repeti o Logo s mbolos mitos de origem percursos hist ricos identidades entre muitos outros elementos podem ser 194 criados e recordados interpretados em perman ncia atribuindo um car ter de continuidade seguran a e estabilidade tradi o As tradi es re inventadas fundamentam se em um passado hist rico e estabelecem com ele uma continua o artificial baseadas nas novas situa es impostas sociedade Adotam a forma de refer ncia a situa es anteriores por meio da repeti o quase que obrigat ria de pr ticas s mbolos cren as entre outros O pensamento ecol gico neste cen rio com especial nfase Educa o Ambiental surge como a necessidade de um conhecimento que satisfa a os v nculos busque as intera es e implica es m tuas os fen menos multidimensionais as realidades solid rias e conflituosas respeite a diversidade do todo reconhecendo as partes e suas injun es Emerge a vontade de dialogar nas diferen as sem tentar pasteurizar a din mica ambiental Assume a crise e sem reivindicar o caos insere se no ciclo da vida e da morte sem desprezar as dificuldades Sato 2004 Dialogar nas diferen as como afirma Sato compreendendo a import ncia do dialogo entre os saberes ajuda a evitar a perda de conhecimento nessa fase da racionaliza o das tradi es e refor am a import ncia de pesquisas como essa tese se justificarem e s
380. tratar dos bichos eu sei cuidar aprendi com ela sei quando a galinha botou ovo sei quando ela t choca W 16 anos Os animais s o criados em cercados ou soltos e para isso os moradores utilizam processos que impedem a sa da da rea delimitada como cortar asas amarrar os p s ou as patas pear existem tamb m os chiqueiros onde se criam porcos para a produ o de carne e banha para o consumo familiar anual termina de engordar um j entra outro capado para engorda e j a cria o de galinhas caipiras e umas poucas galinhas D Angola s o para o consumo da fam lia A uni o de v rias plantas em um mesmo quintal uma forma de facilitar os cuidados pela proximidade com a porta da cozinha Nesse terreiro imediato sempre tem o plantio principalmente de aliment cias e medicinais pr despesa Entre as esp cies de ervas e condimentos observei cebolinha cheiro verde mastruz poejo boldo erva cidreira sabugueiro e legumes chuchu ab bora mandioca O que produzido nos quintais serve tamb m para a troca num sistema de interc mbio e ajuda que existe na comunidade e da sua fun o de regula o e uni o social Minha fam lia dizia que antigamente tinha muito mais frutinha no cerrado do que hoje hoje as frutas a gente tem aqui no quintal mesmo mas se n o tem aqui tem no vizinho que mesmo que ser nosso Aqui a gente divide essas coisas que d no quintal W 16 anos j
381. tucionais Transit rias em seu artigo 13 prev que incidindo nos territ rios ocupados por remanescentes das comunidades dos quilombos t tulo de dom nio particular n o invalidado por nulidade prescri o ou comisso e nem tornado ineficaz por outros fundamentos ser realizada a vistoria e avalia o do im vel objetivando a ado o dos atos necess rios sua desapropria o quando couber 253 5 3 4 2 Jardim Edite Ch caras Nova Cana Condom nio Bem te vi e Grota d gua O Jardim Edite um loteamento urbano ocupado em sua maioria por fam lias carentes que ganham abaixo de um sal rio m nimo e outras que sobrevivem com a o aux lio de programas s cias do governo federal e estadual As casas s o simples n o h infra estrutura b sica como posto de sa de escola creche e posto policial Algumas casas ficam vazias durante toda a semana em fun o dos propriet rios ficarem no trabalho no Distrito Federal s retornando no final de semana Existem muitos lotes vazios sem nenhum tipo de constru o e identifica o No Jardim Edite durante pesquisa foi constatado que s quatro ocupantes s o descendentes de quilombolas Os outros moradores sabem que s o detentores possuidores ou propriet rios das reas localizadas dentro do per metro do Territ rio da Comunidade Quilombola Mesquita Ch caras Nova Cana O N cleo de Ch caras Nova Cana est em uma gleba de terras com rea de 66 7661 hect
382. ue a cidade mais perto que tinha aqui era Luzi nia N o tinha carro sa daqui pra salvar de um a j morreu CBP RTDI 2011 Relato ao INCRA As mudan as e os ventos da modernidade sopravam rumo ao interior e chegou provocadas pelas emerg ncias das elites locais atribuindo se novas caracter sticas est ticas e s cio culturais que aspiravam pelo progresso Neste contexto um ato simb lico que traz um significado desta emerg ncia em 1943 a cidade de Santa Luzia teve seu nome alterado e passa a se chamar Luzi nia segundo a tend ncia americana conforme o desejo de muitos de seus filhos ilustres Pimentel 1994 65 Em 1946 j no governo de Gaspar Dutra foi estabelecida a Comiss o T cnica de Estudos de Localiza o da Nova Capital por m sem muitas medidas pr ticas Em 1952 no segundo mandato de Vargas o Congresso Nacional aprovou a lei que determinava estudos para a edifica o da nova capital brasileira no Planalto Central Em 1954 o ent o presidente Caf Filho homologou os estudos que foram conclu dos ap s tr s anos abrangendo uma rea superior 52 000 quil metros quadrados incluindo parte de Goi s e Minas Gerais A Comiss o de Planejamento e Localiza o da nova Capital sob a Presid ncia de Jos Pessoa a convite de Caf Filho foi respons vel pela exata escolha do local onde hoje se ergue Bras lia Em 1956 sob a grande meta do ent o presidente Juscelino Kubitschek inicia se os trabalhos Em mei
383. ues Derrida 1971 ao se apropriarem do termo definiram por bricoleur aquele que cria bricolages o indiv duo que realiza um trabalho ou desenvolve um objeto de forma que n o h planejamento pr concebido se afastando consequentemente dos processos e normas comuns s t cnicas tradicionais O 132 trabalho ou objeto em quest o tem como caracter stica marcante a utiliza o de quaisquer materiais que se tenha m o e que sejam interessantes ao criador materiais estes j existentes no ambiente e com fun es definidas para al m da obra do bricoleur Depois o termo amplia seu significado sendo aplicado nas mais variadas reas Sturken e Cartwright 2001 o definem ent o como um modo de adapta o no qual coisas utilizadas para fins aos quais elas n o foram criadas e em formas que as tiram de seu contexto normal ou esperado e aqui estar sendo usado para a elabora o de uma etnografia que responda ao objetivo proposto O eixo inicial e que foi o centro de minhas interroga es foi inicialmente o estudo das comunidades quilombolas o interesse pelo tema como j afirmei se originou na minha ascend ncia paterna na regi o conhecida como Santa Luzia da Marmelada hoje Luzi nia Goi s cidade que incorporou a fazenda Mesquita L vi Strauss fala que o o objeto da pesquisa em ci ncias antropossociais da mesma natureza do seu pesquisador na releitura Macedo 2002 acrescenta preciso nos convencer de que o objet
384. uilombolas com a finalidade de uma reafirma o tnica a valoriza o de determinados acontecimentos antes esquecidos depois da exist ncia de pol ticas p blicas especiais para estes grupos Contudo estas reativa es s o processos paulatinos que imp e desafios a serem enfrentados pelas atuais gera es destas comunidades e nem sempre s o bem quistas ou ocorrem em sua totalidade Posto que muitas vezes exigido o rompimento com o mito de origem e toda a din mica da vida comunit ria estabelecido por este Gusm o 1995 p 121 161 Segundo hist ria oral relatadas no Relat rio de Delimita o feito pelo INCRA 2011 um morador de 82 anos RTDI 2011 um dos mais velhos ainda vivos em Mesquita remete se ao passado cativo Aqui no come o n o tinha dono eles eram refugiados e fizeram aquelas col nias n o era refugiado era tocado porque depois que foram libertados ningu m quis mais ser escravo a tocaram pra c Aqui n o tinha dono era tudo ndio Era ndio que morava A o povo dos engenhos os negros que era tirador de ouro foi libertado a veio para c A pegou e arremataram essa regi o SLC A mem ria como propriedade de conservar certas informa es reenvia nos em primeiro lugar para um conjunto de fun es ps quicas gra as s quais o homem pode atualizar impress es ou informa es passadas que ele representa como passadas Le Goff 1994 No entanto a mem ria do negro no Brasil pas
385. uita Participantes Anci os da Comunidade convidados atrav s de contato direto pela pesquisadora ap s indica o da Presidente da Associa o Colaboradores Estudantes do Projeto do Elano e colegas do Doutorado Motivo A oficina servir para reunir os jovens do projeto do professor Elando com os mais antigos da Comunidade na constru o de cada Rio Os alunos ser o orientados a acompanhar um anci o da comunidade durante a oficina e ir anotando e escrevendo os fatos por eles relatados ao longo do caminhar do rio O QUE A OFICINA Para que possamos entender a din mica De forma l dica podemos comparar o trajeto de nossa vida com o fluir de um rio ele nasce percorre vales montanhas guas ora calmas ora violentas passa por curvas encontra pedras 286 no seu caminho se estreita se alarga obrigado a se desviar vai deixando folhas secas tristezas nas curvas de seu trajeto vai incorporando novas lindas paisagens novos afluentes entram no seu caminho s vezes desejados s vezes n o para por fim chegar a seu lugar almejado onde por fim pode descansar e se mesclar com o mar A vida tamb m corre No meio do turbilh o em que vivemos sempre bom nos colocarmos margem deste nosso rio para contemplarmos o caminho percorrido e dele aprendermos um pouco sobre n s mesmos Ao final desta contempla o temos uma imagem de nossa pr pria hist ria de vida elaborando e integrando nossos os a
386. uita era comum os filhos seguirem a rotina dos pais no campo Ela afirma assim que come a a entender o nome as meninas carrega lenha e gua toma conta dos afazeres da casa enquanto os meninos cortavam capim para alimentar os animais e ajuda na lavoura Tina entrevista de novembro de 2011 A produ o do marmelo exige muita habilidade desde o plantio da muda at a brota o das folhas o preparo da terra feito depois vai abrindo pequenas covas e da se coloca a muda e aperta a terra em volta 205 Figura 20 Marmeleiro Foto Antonia Samir No in cio o marmeleiro muito fr gil e exige cuidados especiais uma planta de climas amenos em Mesquita a narrativa do decl nio da produ o de Marmelo coincide com a poca das mudan as ocorridas em fun o da press o fundi ria da constru o de Bras lia O impacto nas rela es sociais insidia diretamente nas rela es produtivas A produ o do marmelo ficou cara A doen a do marmelo foi um pouquinho depois de Bras lia O rem dio que vinha batia mas n o combatia doen a nada E mesmo da terra Isso aqui era marmelada pra quem n o desse conta de fazer Deu uma doen a e matou Doen a da terra E broca foi invadindo Com o espa o de tempo Melhorava um pouco tornava a morrer S L C Os p s de marmelo foi acabando Deu broca foi adoecendo a foi acabando O povo foi largando de plantar tamb m juntou com a doen a JTi
387. ultado sairia em mar o de 1957 Figura 13 Campanha em Defesa da Posse de JK 1954 Em novembro de 1956 chegaram a Bras lia 250 trabalhadores que foram instalados em barracas de lona Quando Say o chegou a Goi s necessitava de trabalhadores nessa poca meu pai nascido nas terras 96 de preto de Santa Luzia era um excelente motorista de caminh o foi contratado para trabalhar na constru o da estrada que iria at a Col nia Agr cola Nacional de Goi s do Minist rio da Agricultura O plano dessas Col nias Agr colas era o de fundar grandes fazendas para que elas atra ssem as popula es pseudo n mades do interior gente sem nenhum peso econ mico sem nenhuma oportunidade l ele conheceu minha m e casaram se e a convite do Dr Sayao em 1956 vieram para Bras lia papai inicialmente e no nicio de 1957 a fam lia foram morar em barracas de lona como todos os chegantes vindos para a constru o Ernesto Silva 1999 A constru o de Bras lia produziu uma forte altera o na vida dos habitantes de todo o Centro Oeste inclu do aqui o Quilombo de Mesquita em fun o do grande fluxo de pessoas vindas para o entorno do Distrito Federal facilitado sobretudo pela abertura estradas como a BR 040 que passa por Luzi nia ligando o Distrito Federal e Minas Gerais Emesto Silva 1999 As crescentes demandas de mat rias primas a absor o crescente de trabalhadores o engrossamento das correntes migrat ria
388. um conjunto de especializa es surgidas da incorpora o dos enfoques ecol gicos s disciplinas tradicionais antropologia ecol gica ecologia urbana sa de psicologia economia e engenharia ambientais e se estende al m do campo de articula o das ci ncias para abrir se ao terreno dos valores ticos dos conhecimentos pr ticos e dos saberes tradicionais Leff 2001 p 145 Mas no campo de saberes tradicionais ainda que hoje em fun o da restri o territorial sofrida pelo Quilombo Mesquita e da perda de suas terras n o seja mais poss vel para muitos deles explicar 124 alguns fatos observados as a es pr ticas na comunidade respondem por um entendimento adquirido na experi ncia das rela es com a natureza informando o processo de acumula o de conhecimento atrav s das gera es S o maneiras diversas de perceber ao n vel local de representar e de agir sobre o territ rio Nesse caso aqui estudado esses recursos e informa es s o incompreens veis para o grupo que tenta usurpar o territ rio do Mesquita pelos fortes tra os de preconceito e desprezo com essa cultura Para identificar e analisar os saberes ambientais nesse grupo tnico como pesquisadora que pretende o m nimo de intromiss o e influencia realizei um estudo junto a comunidade para perceber os m todos e t cnicas utilizadas no dia a dia para se relacionar com o meio ambiente usei entrevistas n o estruturadas pois quand
389. umentar essas produ es de mudas pois o local tem uma grande rea a ser replantada e retornar a ter o seu potencial natural Sobre o assunto Os conhecimentos das formas de manejo e de uso das esp cies de rios lagos e solos por esses grupos de antiga ocupa o t m na nossa percep o e sensibilidade grande import ncia pois na afirma o positiva de complementaridade e alternabilidade entre extravismo e agricultura em sistemas ecol gicos particulares e sempre que a irracionalidade de mercado n o compromete seus n veis de reprodu o biol gica encontra se a chave de economia e preserva o da Amaz nia Esse saber valioso sobre manejo e preserva o geralmente n o incorporado pelas empresas e por rg o oficiais Acevedo Castro 1998 p 31 Um dos antigos moradores se refere assim ao viveiro Aquele Viveiro l pra reflorestar a nascente pra render mais a gua pra trazer pro local ent o um trabalho que vem com este projeto N s estamos com outro projeto que do Viveiro Ornamental e est o fazendo pro quilombo pra gerar renda pra trazer alguma coisa que beneficia o quilombo e a Rede Bart A rede forte tem gente demais Foi um curso que n s fomos l e n s pensamos uma forma que podia fazer com o rio ai n s fez esta rede que todas as guas que vem aqui em volta cai dentro do rio e o rio tava ficando muito degradado e os projeto est trabalhando pra trazer um futu
390. uniu v rios documentos de pocas e registrou eventos segundo a tradi o oral da regi o Segundo lvares a Vila de Santa Luzia foi fundada em 13 de dezembro de 1746 pelo bandeirante paulista Antonio Bueno de Azevedo explorador de minas aur feras rumo ao Centro Oeste Estabelecido em Santo Ant nio de Paracatu em agosto de 1746 formou nestas minas uma grande bandeira de patr cios amigos e escravos marchando em rumo ocidental atravessou a serra de Louren o Castanho o rio S o Marcos o ribeir o Arrependidos fazendo alto margem de outro rio que batizou de S o Bartolomeu Arranchou se margem de um riacho que denominou Riacho 50 Frio no per odo entre setembro e dezembro deste mesmo ano tomando se por assaltos constantes dos ind genas da regi o Partiu ent o rumo a sudoeste e fixou se no local que correspondia sua expectativa aur fera lvares 1979 Muito agradavelmente situada na vertente de um c moro sobre um vall o ass s largo Santa Luzia se estende parallelamente margem direita de um regato chamado Corrego de Santa Luzia que corre no fundo de um valle No sentido da largura essa povoa o dividida em duas partes desiguaes por um outro corrego que muito menos consideravel que o primeiro aumenta lhe o volume das aguas Saint Hilaire maio de 1819 Bueno achou o local adequado e resolveu fundar uma fazenda de lavoura que lhe desse os meios de subsist ncia nos trabalhos de minera o que ia
391. unto do repert rio cultural brasileiro foi um exerc cio etnogr fico tentando adentrar na lida cotidiana nos fazeres e falas que aparecem nas narrativas tornando presente pela mem ria e imagina o o encontro entre saberes e educa o ambiental motivo principal deste trabalho Vivenciei como pesquisadora a integra o de elementos como a quest o ambiental as liga es entre sociedade natureza e as rela es dos de fora com os daqui e as interfaces poss veis desses fatores com a Educa o Ambiental nesse grupo social tradicional Ao fazer refer ncia ao Quilombo Mesquita como tradicional n o significa rotula lo como primitivo mas sim afirmar que um grupo social tradicional que possui uma hist ria e uma rela o muito pr xima com esse ambiente A localiza o da comunidade do Quilombo Mesquita em uma rea de vegeta o t pica de cerrado j muito antropizado faz com que mesmo com os conhecimentos que essa popula o ainda possui sobre o ambiente envolvente est passando por um processo de altera o esquecimento das pr ticas habituais de uso do ambiente local Ainda assim poss vel recuperar muitas informa es sobre a flora da regi o A comunidade do Quilombo Mesquita possui familiaridade e uma rela o n o predat ria no uso dos recursos do Cerrado observa se no conhecimento ainda retido dos processos naturais de manejo adquiridos pela observa o dos mais antigos Essa experi ncia desse modo de
392. ustentava uma forma espec fica na lida com o ambiente Era tudo em comum n o fechava pasto Essa terra tinha pouca casa era s dos mais velhos ent o nesse caso era tudo mato Voc andava aqui era mato grande mesmo R RTDI 2011 Nem a tradicional heran a fazia parte do sistema de rela es com a terra ao menos explicitamente Como era uma fam lia s a ocupa o se dava nos locais de terra virgem O trabalho de limpar a rea e puxar gua do canal orientava a ocupa o destas reas O pai n o mandava em terra nenhuma num tinha disso Quando casava podia ficar em qualquer lugar Qualquer lugar que podia fazer a tirada d gua porque aqui pra perto tinha gua por todo lugar viu Podia puxar o rego e fazer sua casa Vixe aqui tinha lugar de morar at Aonde puxava a gua podia fazer morada Quando casava podia morar onde quisesse Aqui neste tempo era em comum a terra C P B RTDI 2011 Seu S hoje afirma que a fazenda Mesquita foi arrematada por oito primitivos N o herdou arrematou Embora pare a contradit rio o dado refor a a vers o da doa o a tr s escravas quando foram estas mesmas escravas que arrematararram compraram a terra Considerando as praticas consuetudin rias em Goi s para as quais muitas vezes o registro s a mem ria ambas as vers es s o 73 poss veis e n o nos importa contrast las posto que apontam ao mesmo sent
393. utras A frequ ncia das visitas ao Quilombo foi mensal de junho 2010 a setembro de 2011 no ano de 2012 participei de diferentes atividades com a CONAQ com a Funda o Cultural Palmares e na SEPPIR como conselheira titular do CNPIR o ano de 2013 estive presente na Festa do Marmelo em Janeiro e me afastei do campo por um per odo de dez meses ap s o falecimento de minha m e em Fevereiro de 2013 s 7 Conselho Nacional de Promo o da Igualdade Racial da Secretaria de Pol ticas de Promo o da Igualdade Racial da Presid ncia da Rep blica 140 retornando em Outubro em uma visita com um grupo de estudos da UNB e da Secretaria de Educa o do DF onde atuei com monitoria da visita guiada ao Quilombo A pesquisa come ou com uma idosa bastante popular na comunidade e com grande conhecimento do Mesquita hoje j falecida ela me apresentou a outra parente e assim fui repetindo o processo e incluindo novos informantes essa forma de contato conhecida como bola de Neve Assim um entrevistado foi indicando outros at o n mero de oito entrevistados A cada entrevista buscava uma nova informa o sempre me referindo algum fato novo que havia sido citado anteriormente ou observado na pesquisa bibliogr fica Durante a pesquisa nas entrevistas semi estruturadas contendo apenas em uma ou poucas quest es guias quase sempre abertas Nem todas as perguntas elaboradas foram utilizadas a conversa ficava num n vel de in
394. utros compostos A descri o da receita revela a diferen a entre o que se produz no quilombo naturalmente e o que se compra entre o doce fresco e o industrializado Quanto ao seu preparo comum uma s pessoa produzir mas outra pessoa necess ria na hora de colocar o doce nas caixetas Como se pode observar a marmelada o resultado do cozimento do marmelo processo que consiste em colocar o marmelo numa panela com a calda fervente at seu completo cozimento ou como se diz at dar o ponto assim que o doce come a a ficar encorpado colocado em vasilhas tamb m onde pode ficar por v rios meses A marmelada se relaciona com a identidade dos moradores do Quilombo Mesquita que a ressignificam ritualizando a em um processo de afirma o territorial em defesa da sua perman ncia no territ rio tradicional A marmelada traz em si um saber fazer ligado a vida do homem do Quilombo Mesquita que al m de funcionar como elemento diacr tico est associado ao passado hist rico ligando o ao mito de origem Assim ela traz valores simb licos que transmitem a ideia da tradic o A tradic o nessa situa o vista como em risco por causa das mudan as uma ferramenta simb lica e pol tica Em diversas ocasi es ela lembrada nos discursos nas den ncias imprensa local ou nas falas nas atividades relativas a etnicidade do grupo 209 L vi Strauss 2003 diz que o alimento expressa um sistema lingu stico que
395. vivencia essa nega o hoje quando grupos de interesse no territ rio do Quilombo Mesquita usam de membros da Comunidade para denegrir e relativizar o cultura daquele povo 162 A constru o da mem ria um processo din mico e flutuante e formada com a intera o de diferentes sujeitos o conceito de mem ria de Maurice Halbwachs 1980 diz que as lembran as s o frutos de uma atividade de reconstru o do vivido A mem ria seria o encontro de muitos caminhos constru do por identifica es e diferen as passagens subjetivas e sociais a mem ria um processo continuado de reconstru o e aprendizado Sendo o grupo social a base da mem ria Chau 1992 cada gera o carrega consigo a mem ria dos acontecimentos vividos que permanecem como pontos de demarca o em sua hist ria retendo imagens e id ias valores e afetos vinculados a lembran as individuais e coletivas Assim a rela o que se estabelece com determinada tradi o n o a recupera o de tra os essenciais de uma cultura coerente e cont nua Essa categoria que expressa se na rela o entre os significados e a a o dos sujeitos Velho 2001 permite rearticular um campo de significa es em que se podem compreender as rela es dos sujeitos com sua hist ria rela es entre presente e passado Pinto 2001 p 297 traz uma importante contribui o afirmando que a mem ria recupera a hist ria vivida hist ria como experi ncia hu

SABERES TRADICIONAIS e EDUCAÇÃO AMBIENTAL

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