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universidade federal de minas gerais faculdade de educação

1. A Import ncia do Ato de Ler em Tr s Artigos que se Completam 46 ed Cortez Editora 2005 FREITAS A L S Saber de experi ncia feito In STRECK D R REDIN E ZITOKOSKI J J Org Dicion rio Paulo Freire 2 ed ver ampl Belo Horizonte Aut ntica Editora 2010 p 103 107 FREITAS H C A O curso t cnico em agropecu ria da Escola 25 de Maio conflitos em torno da constru o da proposta agroecol gica Rev Bras de Agroecologia 6 2 13 29 2011 FRESSATO S B Cultura popular reflex es sobre um conceito complexo Revista de Ci ncia Cultura Cinema e Sociedade n 12 2009 Dispon vel em lt http oolhodahistoria org culturapopular arti gos culturapopular pdf gt Acesso em 31 dez 2014 FURINI K N et al Canteiro de ervas medicinais em espiral como metodologia de incentivo permacultura e sustentabilidade da atividade rural agroecol gica In I CONGRESSO 188 PARANAENSE DE AGROECOLOGIA Pinhais Resumos Pinhais 2014 Dispon vel lt gt Acesso em 10 jun 2014 GAGNEBIN J M Pref cio Walter Benjamim ou a hist ria aberta In BENJAMIM W Magia e T cnica Arte e Pol tica ensaios sobre literatura e hist ria da cultura Trad S P Rouanet 7 ed v 1 S o Paulo Brasiliense 1994 GAIA M C M Sa de como Pr tica da Liberdade as Pr ticas de Fam lias em um Acampamento do MST e o Desenvolvimento de Estrat gias de Educa o Popular em Sa de 2005 Disserta
2. MOLINA M C e JESUS S M A de Contribui es para a constru o de um projeto de educa o do campo Bras lia DF Articula o Nacional Por uma Educa o do Campo 2004 MORAES D Congresso Campon s de 1961 um marco hist rico das mobiliza es no campo 2012 Dispon vel em lt http www mst org br content congresso campones de 1961 um marco historico das mobilizacoes no campo gt Acesso em 10 jan 2015 MORIN E O enigma do homem 2 ed Rio de Janeiro Ed Zahar 1979 228 p MORISSAWA M A hist ria da luta pela terra eo MST S o Paulo Express o Popular 2001 256 p 193 MOTA E A D PRADO G V T PINA T A Buscando poss veis sentidos de saber e conhecimento na doc ncia Cadernos de Educa o FaF PPGE UFPel Pelotas 30 p 109 134 janeiro junho 2008 MST ASPTA Instituto Giramundo Mutuando 2005 Agroecologia notas introdut rias e an lise de agroecossistemas Apostila do curso de Agroecologia e Biosseguran a Mimeo MST Como fazemos a Escola de Educa o Fundamental Cadernos de Educa o n 9 1999 In MST Dossi MST Escola Documentos e Estudos 1990 2001 Caderno de Educa o n 13 2 ed ITERRA 2005 p 199 231 MST Educa o no MST balan o 20 anos Boletim da Educa o n 9 Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra 2004 MST Feira da Agrobiodiversidade Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra 2009 Dispon vel em lt http www mst org br node 8
3. permanente Cultura agricultura com refer ncia a iniciar uma discuss o sobre uma agricultura permanente e remeter s origens do pensamento permacultural Da pra frente foram algumas horas de di logo entre os saberes do cotidiano do educador Francisco e os conhecimentos cient ficos Entre relatos de experi ncias do mundo do trabalho explica es e defini es cient ficas posicionamentos pol ticos piadas e brincadeiras ele at teve a capacidade de fazer chover E assim a aula foi acontecendo J iniciou usando conceitos que normalmente n o se espera encontrar em um agricultor considerando a nossa vis o simplista de mundo habitat interven o humana estabilidade sustentabilidade evapotranspira o reciclagem energ tica sucess o natural biodiversidade contamina o pat genos entre muitos outros Um discurso permeado de conceitos cient ficos princ pios e efeitos de intera o entre elementos do espa o Bem parecidos com aqueles que povoam as aulas de Ci ncias _ O pessoal que trabalha com agrofloresta compreende muito bem esta quest o da sucess o natural _ Isto faz parte do design permacultural se a gente quer elaborar um projeto de desenho de uma rea _ O ser humano faz parte da biodiversidade Visto o conceito de Permacultura segue com foco na teoria abordando nas horas seguintes o sistema tico da Permacultura os princ pios do design permacultural padr es na natureza setor
4. 80 Trinta de agosto de 2012 num frio diferente do mineiro fui para longe iniciar meu trabalho de campo O t tulo Permacultura no MST possibilidade de cruzamento de fronteiras Para continuar esta hist ria preciso entender a minha liga o com as partes deste t tulo E destacar tamb m os as muitos as educadores as com suas vozes e experi ncias que modulam a minha voz e orientam os meus modos de atua o no presente momento Belorizontina de nascimento cria o e gosto em 1998 fui para Vi osa interior de Minas Gerais regi o denominada de Zona da Mata Mineira para cursar Ci ncias Biol gicas na Universidade Federal de Vi osa UFV Meu gosto juvenil por ci ncias na poca do Ensino M dio 1995 a 1997 no Col gio Santa Maria me levou a uma tentativa frustrada ainda bem do vestibular para a concorrida Medicina da UFMG Em busca de uma segunda op o de curso e acompanhando a op o de umas colegas de escola que estavam indo tentar Nutri o em Vi osa resolvi me inscrever para o vestibular de l tamb m Na Ag ncia dos Correios onde a inscri o deveria ser feita em Belo Horizonte BH na companhia do meu pai descobri que n o tinha curso de Medicina na UFV O que fazer J estava l para fazer a inscri o para a prova e sem muito tempo e op o meu pai falou _ Faz Biologia pelo menos consegue eliminar umas mat rias cursadas caso queira mesmo voltar e fazer Medicina Aceitei o con
5. BASTOS F P Dizer a sua palavra In STRECK D R REDIN E ZITOKOSKI J J Org Dicion rio Paulo Freire 2 ed ver ampl Belo Horizonte Aut ntica Editora 2010 p 127 129 BATISTA A L PRADO T P PEREIRA E R Constituindo se sujeito na tens o alteridade e identidade In I EEBA ENCONTRO DE ESTUDOS BAKHTINIANOS 2013 Vit ria Anais Vit ria UFES 2013 Dispon vel em lt https 2eeba files wordpress com 2013 09 constituindo se sujeito na tensc3bao alteridade e identidade ana laura batista taync3ad do prado e eliane pereira pdf gt Acesso em 05 jan 2015 BENJAMIN W Magia e t cnica arte e pol tica ensaios sobre literatura e hist ria da cultura Trad Sergio Paulo Rouanet 7 ed S o Paulo Brasiliense 1994 BENTES J A O etal A alteridade e o di logo em Bakhtin Vol shinov In IL EEBA ENCONTRO DE ESTUDOS BAKHTINIANOS 2013 Vit ria Anais Vit ria UFES 2013 Dispon vel em lt https 2eeba files wordpress com 2013 09 a alteridade e o dialc3b4 go em bakhtin volc3b4shino v josc2ae de anchieta bentes kezya lima zaline do carmo e dc2aelcia pombo pdf gt Acesso em 05 jan 2015 BOGO A Organiza o pol tica e pol tica de quadros S o Paulo Express o Popular 2011 224 p BORSATTO R S A Agroecologia e sua apropria o pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra MST e assentados da reforma agr ria 2011 319 f Tese Doutorado em Engenharia Agr cola
6. O cap tulo 5 Sobre o observado o vivido e o experimentado reflex es e mais hist rias cont m a narrativa das aulas de Permacultura de Francisco base central dos dados bem como as categorias de an lise que emergiram neste processo de discutir a circula o de sentidos nos limiares culturais entre saberes da experi ncia e conhecimentos t cnico cient ficos Na sequencia o cap tulo 6 Li es que ficam li es que v o possui os sentidos li es que surgiram a partir da experi ncia narrada Lima 2005 e Cruz 2012 tiram li es das experi ncias narradas no contexto dos sentidos do trabalho docente e da gest o educacional Aqui as li es s o para a professora e a militante que sou a partir dos aprendizados do desenvolvimento desta pesquisa Minhas li es talvez sirvam para tantos outros com os quais compartilho o espa o da Educa o do Campo Ao longo da tese apresento ent o v rias hist rias que cujos fios de uni o vou tran ando mesmo com composi es diferentes pois dizem respeito a sujeitos envolvidos na e pela linguagem na circula o de sentidos no limiar dos saberes e conhecimentos cada qual partindo de um lado original Essa circula o cultural n o est sendo entendida como acultura o mas como dialogia como esfor o de compreens o conforme Bakhtin 2006 e 24 2010a Do conv vio dial gico entre duas posi es ambas saem modificadas Na acultura o a que estamos acostumado
7. Que derrama gua desse lado naquela pia ele usou leo de linha a leo de linha a ajuda proteger da umidade Ent o quando for fazer alguma coisa com terra j tem que pensar nisso no meio de proteger Trazia exemplos pr prios de quem vive e n o apenas conhece a lida da ro a de ouvir contar Uma sabedoria que pr pria de quem planta ou cria animais 151 _ Quando a gente tem uma horta somente pro consumo s vezes qualquer tempinho que sobra ali uns 20 minutos ou meia hora que sobra voc vai l d uma ligada na gua da horta e j consegue produzir um pouco de verdura pro teu consumo ent o com pouquinho tempo se resolve isso _ As vacas geralmente est o em reas mais distantes assim os produtores de leite p e aquelas vacas que n o est o em lacta o ou est o pra engorda Por que isso Porque n o h necessidade de todo dia ir mexendo com elas vai a cada 3 4 dias ent o j fica nessa rea mais distante na ideia do zoneamento permacultural se referindo a zona 4 Al m disso educandos e educador compartilham tamb m uma vis o de mundo extremamente politzada e uma consci ncia de classe que se expressava nos modos de tentarem compreender os caminhos da explora o capitalista e de busca pela transforma o da sociedade a partir dos movimentos sociais dos quais fazem parte _ Eu lembro que em uma palestra o professor falou assim o problema n o de produ o e sim de superprodu o O p
8. o Mestrado em Ci ncias Centro de Pesquisas Ren Rachou Fiocruz MG Belo Horizonte 2005 GAIA M C M Agroecologia a resist ncia do campon s e da camponesa Sem Terra 2008 Monografia Especializa o em Agroecologia e Desenvolvimento Sustent vel Centro Federal de Educa o Tecnol gica de Rio Pomba 2008 GEGe Palavras e contrapalavras glossariando conceitos categorias e no es de Bakhtin Grupo de Estudos dos G neros do Discurso S o Carlos Pedro amp Jo o Editores 2009 111 p GERALDI J W Portos de passagem S o Paulo Martins Fontes 2000 252 p Paulo Freire e Mikahil Bakhtin O encontro que n o houve In DI LOGOS ATRAV S DE PAULO FREIRE 2003 Portugal Colec o Querer Saber 1 Portugal IPFP 2003 p 37 52 Dispon vel em lt http www ipfp pt publicacoes N 3 20Dialo gos 20atra ves 20de W20Paulo 20Freire pd f gt Acesso em 16 jan 2015 Ancoragens estudos bakhitinianos S o Carlos Pedro amp Jo o Editores 2010a 176 p A aula como acontecimento S o Carlos Pedro amp Jo o Editores 2010b 208 p GIACOMONI M P VARGAS A Z Foucault a Arqueologia do Saber e a Forma o Discursiva Veredas On Line An lise do Discurso P 119 129 2 2010 GINZBURG C O queijo e os vermes o cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela inquisi o Trad B Amoroso S o Paulo Companhia das Letras 1987 309 p 189 GINZBURG C Os andarilhos do
9. o de sem a terra do jeito de fazer essa luta e o orgulho de passar a atender tamb m por um outro nome que n o apenas o pessoal quem voc sou Sem Terra sim senhor e atrav s da luta e das formas que ela vai assumindo a passagem do sem rosto a cidad o ou seja a constru o da identidade sem terra como sujeito social de direitos pessoas coletivos que se sabem com direitos e que se organizam para conquist los CALDART 2004 p 129 grifos da autora Desconsiderar essa perspectiva hist rica da trajet ria do MST e este car ter coletivo dos aprendizados e da forma o da identidade Sem Terra conforme ressalta Caldart 2004 p 162 qualquer discuss o sobre educa o no MST ficar longe de ajudar a superar os desafios pedag gicos e educacionais por ele MST produzidos Assim discutir saberes e conhecimentos no MST compreender os sujeitos que constroem a cada dia este Movimento com suas formas individuais e coletivas de lutar por educa o pela terra pela Reforma Agr ria e pela transforma o social 3 2 NOVELA DE FORMA O MEUS CAMINHOS embora o MST tenha a sua raiz no trabalho da terra sempre entendeu que para lutar pela Reforma Agr ria n o preciso sernecessariamente um campon s Por isso entra todo mundo porque pode entrar o padre o agr nomo a professora o economista a agente de sa de cada um participando de sua a o espec fica Roseli Caldart 2004 p 115 grifo da autora
10. anos do Ensino Fundamental II e coordenando no ano de 2012 e 2013 o Projeto de Extens o Ci ncias na Pr tica a es e reflex es para e na sala de aula que teve como foco central a implanta o de uma horta na escola com as crian as da Educa o Infantil e Ensino Fundamental I Quando fiz o curso de Permacultura em Ubatuba em 2010 eu j era Professora de Permacultura h cerca de um ano no Col gio Metodista Izabela Hendrix Unidade Fazendinha Fra uma disciplina que fazia parte da grade curricular e me candidatei a trabalhar a mesma em fun o do meu gosto e aproxima o com o tema Al m de Permacultura trabalhei tamb m com disciplinas de Introdu o Agroecologia Plantas Medicinais Seguran a Alimentar e outras afins No final do ano 2010 em fun o de alguns desencontros com a gest o do Col gio solicitei meu desligamento do curso Foi um grande pesar pois era um curso muito interessante em um espa o f sico mpar entretanto a minha inexperi ncia em escola regular me levou a n o conseguir transformar as minhas cr ticas em a es e acabei pedindo pra sair Como professora de Permacultura e desenvolvendo algumas pr ticas com os estudantes e durante o curso PDC veio a ideia de aprofundar os estudos sobre Permacultura no mbito da Educa o Surgiu ent o a vontade de cursar o doutorado A ideia de voltar aos estudos com o doutorado j me acompanhava desde final de 2009 quando fui indicada a procurar Profe
11. narrativa pois o saber que vem de longe na perspectiva do marinheiro comerciante encontra hoje menos ouvintes que a informa o sobre acontecimentos pr ximos BENJAMIN 1994 p 202 Larrosa 2002 tamb m nos convida a pensar a posi o da informa o na sociedade atual Para o autor o sujeito da informa o sabe muitas coisas mas n o necessariamente experenciou muitas coisas n o tendo ent o o que compartilhar de substancial as informa es que ele tem todos ou muitos outros tamb m t m Afirma que este n o um saber no sentido da sabedoria mas no sentido de estar informado Assistir uma aula ler um livro ou fazer uma viagem pode nos trazer informa o mas n o necessariamente experi ncia neste sentido de algo que nos toca nos acontece Ter informa o n o significa necessariamente ter conhecimento ou ter aprendido O equ voco consiste em pensar a rela o entre informa o conhecimento e aprendizado como se o conhecimento se desse sob a forma de informa o e como se aprender n o fosse outra coisa que n o adquirir e processar informa o LARROSA 2002 p 22 Cada manh recebemos not cias de todo o mundo E no entanto somos pobres em hist rias surpreendentes A raz o que os fatos j nos chegam acompanhados de explica es Em outras palavras quase nada do que acontece est a servi o da narrativa e quase tudo est a servi o da informa o BEJNAMIN 1994 p 203 Sobre i
12. o do planeta Terra ALMEIDA 2010 p 35 No interior da ci ncia existem muitas especializa es distintas SANTOS 1989 As ci ncias ditas exatas constituem uma dessas especializa es A pr pria ci ncia uma subcultura da cultura ocidental ou euroamericana AIKENHEAD 2009 p 95 Muitas s o as tentativas de caracterizar a ci ncia A nossa ser mais uma a partir das contribui es de diferentes autores SANTOS 1987 IRWIN 1995 BRUNER 1998 SANTOS 2000 etc que ao se aproximarem dessa quest o fazem a cr tica ci ncia como modo nico de explicar o mundo Santos 1989 caracteriza a ci ncia moderna como uma express o filos fica que nasce a partir do s culo XVII fundada nas concep es de pensadores como Bacon Locke Hobbes e Descartes Ela marcada pelo racionalismo empirismo pela fragmenta o e pelo reducionismo Desde ent o a racionalidade cient fica vem sendo assumida como um modelo 16 Vamos considerar pr xis enquanto express o da rela o essencial entre o pensar e o agir do sujeito consciente no seu contexto social THIERRIEN 1997 9 Ou ainda conforme Rossato 2010 p 325 pr xis pode ser compreendida como a estreita rela o que se estabelece entre um modo de interpretar a realidade e a vida e a consequente pr tica que decorre desta compreens o levando a uma a o transformadora 58 global e como o conhecimento verdadeiro chamado por Santos 2000 p 61 de paradigma dominante Par
13. o pr determmada e fixa sem as nuances de cada sujeito que ali constr i a aula com ele E desta forma sua identidade como educador vai sendo constru da No di logo com os educandos e educandas sobre os biocombust veis Francisco permitiu que os diferentes e contradit rios pontos de vista surgissem questionando inclusive uma ideia meio consensual de que a produ o de biocombust veis uma interessante alternativa para os pequenos produtores rurais que esta uma alternativa de autonomia econ mica As palavras de Francisco n o eram um discurso para pois estava aberto ao di logo e possibilidade dos educandos trazerem para a aula sua palavra verdadeira Freire mas uma escuta na busca do falar com conforme discutido por Ribeiro 2010 Os momentos de sil ncio da turma n o eram desaten o mas uma atitude responsiva ao que estava sendo expresso pelo educador sobretudo um n o entendimento ou discord ncia Este sil ncio era constantemente quebrado pelas suas perguntas turma ou manifesta es por parte dos educandos e educandas 172 E se na palavra enquanto signo ideol gico que a cultura se materializa foi atrav s de suas narrativas em dialogia com a turma que a concep o de mundo e clareza de classe de Francisco se expressava Considerando a realidade do campo comum a educandos as e educador as constru es dos enunciados estavam implicadas na postura militante que compartilhavam ali havendo um direci
14. o que deve ser criticada segundo Foucault 1997 a fim de libertar se de todo um jogo de no es que diversificam cada uma sua maneira o tema da continuidade idem p 23 O autor olha para as forma es discursivas isto pelos atravessamentos dos discursos em dados tempos e lugares pelos sujeitos falantes Entendemos como em Larrosa 2002 que a experi ncia n o o que se passa mas o que nos passa grifo do autor O que nos passa remete a cada sujeito na sua exist ncia e n o a um sujeito gen rico que poderia ser entendido com da tradi o O sujeito da experi ncia um territ rio de passagem pois aquilo que acontece o afeta de algum modo produz alguns afetos inscreve marcas deixa vest gios e gera efeitos O sujeito da experi ncia o espa o do acontecer para ele A experi ncia um encontro ou uma rela o com algo que se experimenta com algo que se prova algo que est dentro de n s tendo como componente fundamental sua capacidade de forma o ou transforma o do indiv duo singular e concreto Esta experi ncia singular individual se transmite de gera o a gera o criando um ba de experi ncias a que um povo ou um indiv duo sempre recorrem para construir compreens es sobre o que lhe acontece Para Mello e Sousa 2005 a experi ncia como intervalo funciona como um momento l gico entre dois lugares o antes e o depois de algo novo transformado aleo que nos acontece O espa o do a
15. 395 397 FOERSTE E Pedagogia da Terra di logos entre MST e universidade In 28 REUNI O ANUAL DA ANPED 2005 Caxambu Anais Caxambu ANPEd 2005 Dispon vel em lt https w ww goo gle com br url sa t amp rct j amp q amp esrc s amp source web amp cd 1 amp cad rja amp uact 8 amp ved 0CBOQFI AA amp url http W3 A 2F 2F28reuniao anped org br 2Ftextos 2FGTO3 2FGTO3 612 Int rtf amp eei NIPK VLTWNcOHsQTK5IGIBQ amp usg AFQICNFPZ zR70Zk5Gdl wixItXyCq7 V IFw amp sig2 BjUbNengwe6 YRZ4937nzQ gt Acesso em 01 jan 2015 FOLZ R R TEIXEIRA B SHIMBO I Saneamento Ambiental Sustentabilidade e Permacultura em Assentamentos Rurais Projeto SAMSPAR Assentamento Rural Sep Tiaraju SP Brasil In VI ENCONTRO NACIONAL e IV ENCONTRO LATINO 187 AMERICANO SOBRE EDIFICA ES E COMUNIDADES SUSTENT VEIS 2011 Vit ria Anais Vit ria UFES 2011 FOUCAULT M A arqueologia do saber Trad L F B Neves 5 ed Rio de Janeiro Forense Universit ria 1997 239 p FREIRE A M A Org Pedagogia dos sonhos poss veis S o Paulo Ed UNESP 2001 FREIRE P Pedagogia del oprimido Trad J Mellado 10 ed Siglo XXI Argentina Editores S A 1973 271 p Por uma escola s ria e alegre Revista Nova Escola ano IV n 30 1989 p 22 25 Pedagogia da autonomia saberes necess rios a pr tica educativa Coletivo Sabotagem 2002 92 p Educa o e mudan a 12 ed Rio de Janeiro Ed Paz e Terra 2003
16. A experi ncia formadora Revista Educa o amp Realidade 35 1 35 48 jan abr 2010 SILVA M R F Ci ncia natureza e sociedade di logo entre saberes Cole o Contextos da Ci ncia S o Paulo Editora Livraria da F sica 2010 150 p SILVA K M A Abordagem CTS no Ensino M dio um estudo de caso da pr tica pedag gica de professores de Biologia 2010 Disserta o Mestrado em Educa o em Ci ncias e Matem tica Universidade Federal de Goi s 2010a SIQUEIRA R S GON ALVES R P A Dialogismo alteridade e cultura uma pesquisa para a articula o a leitura e escrita na doc ncia da l ngua portuguesa In II EEBA ENCONTRO DE ESTUDOS BAKHTINIANOS 2013 Vit ria Anais Vit ria UFES 2013 Dispon vel em lt https 2eeba files wordpress com 2013 09 dialo gismo alteridade e cultura rosemary gonc2baalves e renata siqueira pdf gt Acesso em 05 jan 2015 198 SOARES A L J Conceitos B sicos sobre Permacultura Bras lia MA SDR PNFC 1998 SOBRAL A Do dialogismo ao g nero as bases do pensamento do c rculo de Bakhtin 1 ed Campinas Mercado de Letras 2009 175p TEZZA C Sobre O autor e o her i um roteiro de leitura In FARACO C A TEZZA C CASTRO G Org Di logos com Bakhtin 4 ed Curitiba Editora UFPR 2007 p 231 256 THERRIEN J Saber da experi ncia identidade e compet ncia profissional como os docentes produzem sua profiss o Revista Contexto e Educa
17. Escola Municipal do Campo de mesmo nome e ambos os espa os s o frequentados pelas crian as jovens e adultos da rea para a realiza o dos estudos formais um pr dio novo constru do em 2011 que conta com algumas salas de aula cozinha refeit rio secretaria sala de coordena o sala de materiais banheiros Todo pintado de azul e branco Foi em 2011 que Francisco retomou seus estudos As aulas da EJA s o organizadas por disciplina estudam todo o conte do de uma determinada disciplina do 6 ao 9 anos fazem as avalia es e depois mudam para outra disciplina No momento que nos conhecemos ele cursava a disciplina de Ci ncias Conforme Francisco o EJA tem um conte do bem carregado Diz a professora que at mais carregado que o ensino regular e a gente faz por mat ria n A gente pega uma mat ria termina de 5 a 8 atual 6 ao 9 anos Agora estamos na mat ria de Ci ncias estamos encerrando a mat ria de Ci ncias As aulas acontecem quatro dias por semana de segunda quinta noite Ele tinha a previs o de concluir esta etapa da escolariza o em meados de 2014 totalizando a cerca de 3 5 anos para o Ensino Fundamental II No seu percurso profissional al m de agricultor Francisco j trabalhou tamb m na constru o civil como pedreiro e mestre de obra dentro e fora do Assentamento e como educador em atividades do MST Atualmente Francisco lda com a pr pria ro a no Assentamento e tamb m
18. Faculdade de Engenharia da Universidade Estadual de Campinas Campinas 2011 BRATT B Org 2005 Bakhtin conceitos chave S o Paulo Contexto 2005 264 p BRAIT B A natureza dial gica da linguagem formas e graus de representa o dessa dimens o constitutiva In FARACO C A TEZZA C CASTRO G Org Di logos com Bakhtin 4 ed Curitiba Editora UFPR 2007 p 61 80 BRAIT B Bakhtin Dialogismo e Polifonia S o Paulo Editora Contexto 2009 184 BRAND O C R O que educa o popular 1983 Dispon vel em lt http sitiodaro sados ventos com br livro images stories anexos o que ed popular pdf gt Acesso em 13 jun 2014 BRAND O C R Cultura Movimentos de cultura popular In STRECK D R REDIN E ZITOKOSKI J J Org Dicion rio Paulo Freire 2 ed ver ampl Belo Horizonte Aut ntica Editora 2010a p 100 101 BRAND O C R Cultura Popular In STRECK D R REDIN E ZITOKOSKI J J Org Dicion rio Paulo Freire 2 ed ver ampl Belo Horizonte Aut ntica Editora 2010b p 103 107 BRAND O N amp MENEZES NETO A J 2009 O trabalho como princ pio educativo na educa o do campo e no MST In MENEZES NETO A J etal Org Trabalho pol tica e forma o humana interlocu es com Marx e Gramsci S o Paulo Xam 2009 207 vp BRASIL PRONERA Manual de Opera o Bras lia INCRA 2004 BRUNER J Realidade mental mundos poss veis Trad M A G Do
19. LARROSA 2002 uma possibilidade de compartilhar o que nos passa por meio de hist rias Mas a hist ria que eu apresento neste trabalho n o uma hist ria qualquer e provavelmente n o a mais importante que voc j ouviu leu a hist ria da minha intera o como professora com o professor Francisco que eu encontrei no percurso desta tese durante uma aula de Permacultura bem como com os estudantes participantes da aula Narro o percurso de vida escolariza o e trabalho do educador Francisco que teve sua aula observada bem como meu percurso como professora pesquisadora e militante ao observar as aulas de Francisco Esses percursos s o parte dos dados sobre os quais me debru o Ambos somos militantes do MST com caminhadas e inser es distintas configurando assim jeitos de ser educador muito distintos Apesar de nossa liga o com o MST e comprometimento com sua luta a diferen a que permeia o ato de pesquisa foi posta e Francisco passou a ser o meu outro se tomou um estrangeiro pelo simples fato de eu pretender estud lo Colocar este sujeito no lugar de objeto de estudo instaura entre o sujeito cognoscente e o sujeito a conhecer uma rela o de alteridade fundamental que emerge de uma diferen a de lugar na constru o do saber AMORIM 2001 p 31 grifo da autora Contudo n o considero Francisco um objeto de estudo Nas Ci ncias Humanas investigamos gente e seus discursos Gentes como diria Paulo Freire
20. Tirar o n vel coisa de pedreiro _ primeira coisa que eu acho que n s temos que dar uma boa nivelada Talvez voc s at j tenham um pouco de no o alguns mais alguns menos J teve lugar que eu fui que eu falei Permacultura e o pessoal ficou olhando pra mim e dando risada Mas o que que isso um xingamento Por que ainda bastante desconhecido Eu at comentava com ela referindo se a mim de uma conversa anterior que tivemos que at pra dentro de nossas organiza es o pessoal n o conhece e muitas vezes estranha Ent o talvez para n s come armos eu queria at ouvir um pouco de voc s o que voc s compreendem ou entendem de Permacultura O que j ouviram falar ou n o ouviram falar nada de Permacultura Eu sei que tem uns que j tem at pr ticas de Permacultura Ent o talvez era importante a gente tentar compreender um pouco o que voc s j tem de conhecimento nessa rea Quem quer falar Seguido de uma pausa sil ncios Francisco direciona a pergunta alternadamente para quatro jovens que elaboram algumas frases em termos conceituais Um at arrisca Conhecer eu conhe o mas falta pr tica Naquela frase j indiciava pelo menos o que ele buscava Dadas as respostas muda a tela da apresenta o no datashow e apresenta a defini o de Permacultura Vai ao quadro escreve Permacultura e ajuda na defini o ao decompor a 144 palavra e dizer a partir da raiz seu significado Perma
21. cio Martins de Carvalho um pesquisador refer ncia sobre o tema do campesinato e organiza o de trabalhadores rurais no Brasil O curso foi oferecido a uma equipe nacional do MST envolvida com as quest es dos PDA s nos diferentes estados da federa o onde o Movimento est organizado sendo composta por profissionais de diversas reas de forma o Agronomia Engenharia Florestal Pedagogia Ci ncias Biol gicas Arquitetura Geografia etc A equipe nacional tinha por fun o propor possibilidades de metodologias participativas e tem ticas a serem discutidas para no desenvolvimento dos PDA s Brasil afora Com dura o de alguns dias e uma primeira aproxima o s discuss es do PDA a partir do MST retornei da capacita o e iniciei junto com outros profissionais e militantes uma jornada de mais de 20 PDA s em diferentes reas organizadas pelo MST em Minas entre 2004 e 2008 O meu processo de inser o no Movimento continuava sendo por meio da minha forma o credenciada por pessoas ligadas ao MST A travessia ia sendo 26 O MST em Minas Gerais constituiu se em 1988 com a sua primeira ocupa o de terra na regi o do Vale do Mucuri no munic pio de Novo Cruzeiro hoje Assentamento Aruega Quando eu entro no MST este j tem 15 anos de caminhada e constru o no estado de Minas 21 Destaco que o MST n o uma entidade jur dica portanto n o recebe e n o temrecursos para operar pol ticas p blicas governamentais ou
22. comprometido com a singularidade de cada realidade espec fica sem deixar de lado a sua identidade de Sem Terra militante e agricultor A aula de Francisco se caracteriza como acontecimento aberto como narrativa de experi ncias e como exerc cio de dialogia e alteridade Destaca se no conjunto das aulas a centralidade da pr tica o car ter singular e particular de suas hist rias e a dimens o coletiva do sujeito Por meio da voz de Francisco flagro alguns conselhos que ele d e ent o extraio alguns ensinamentos para o meu trabalho na Educa o do Campo e como militante Palavras chave Saberes Conhecimentos MST Narrativa Dialogia Alteridade XII ABSTRACT In this thesis I investigate the tension between the natural science knowledge and the experience know how that emerges from life in the field I tried to understand the ways to approximate the science and experience speeches and extract lessons for my practice as a teacher in the Field Education Degree in Life and Natural Science Entitlement as well as for my other activities as a teacher and a militant in the Landless Workers Movement MST Therefore I retraced the path of many authors that worked with the Narrative Inquiry I narrated a set of Permaculture classes in a course for field workers ministered by another MST militant here caled Francisco Because of the complexity of the discussion and singularity of this research subject I sought different authors to help me
23. comum ou vulgar distinto dos saberes da experi ncia pois estes mesmo que distantes dos prop sitos e pressupostos da ci ncia moderna tamb m s o elabora es cognitivas espec ficas e operam por meio das universais aptid es para conhecer expressa contextos narrativas e m todos Ibid p 66 distintos daqueles da ci ncia mas segundo regularidades que envolvem desde seus objetos at seus modos de enuncia o como estudado por Foucault 1997 A observa o sistem tica dos fen menos por meio de m todos espec ficos para conhecer decifrar e explic los poss vel na ci ncia e tamb m nos saberes da experi ncia possibilita que os sujeitos ultrapassem o senso comum ALMEIDA 2010 p 116 Os saberes da experi ncia s o orientados por modos de pensar que comportam articula es e retotaliza es em fun o do seu permanente di logo com a vida vivida coletivamente nos espa os e tempos pr prios da finitude humana Aqui o passado revitalzado pelo presente a partir das narrativas das experi ncias tradicionais vividas ALMEIDA 2010 p 59 Os modos de pensar dos saberes da experi ncia correspondem ao que Bruner 1998 chama de modo narrativo de ordenamento da experi ncia e de funcionamento cognitivo O modo narrativo de funcionamento cognitivo baseado em hist rias pretensamente verdadeiras ou pretensamente fict cias que devem persuadir n o pela veracidade como no modo l gico cient fico mas pela semelhan a
24. gica bakthiniana cheguei ao presente momento com esta jun o de temas e acontecimentos que culmnaram em uma tese que aborda o MST a Permacultura e a circula o de sentidos nos discursos dos sujeitos que se interp em entre conhecimentos cient ficos e saberes da experi ncia Estudar algo que perpassou muito tempo minha milit ncia e atua o profissional parecia t o bvio que me custou v lo como objeto de compreens o no doutoramento Foi preciso estranh lo ver de outro jeito aquilo que era visto como aproblem tico l gico natural Uma ideia inicial que luz da teoria foi se tornando quase que outra pela sua complexidade e demanda por aprofundamento anal tico 3 3 PERCURSO PROFISSIONAL MILITANTE DO EDUCADOR OS CAMINHOS DO OUTRO A hist ria de Francisco sou eu quem conta Vou contar do meu jeito com base no que ele me contou Francisco iniciou sua trajet ria no MST em 1986 ainda bem jovem quando foi com os pais para um acampamento da Reforma Agr ria Teria uns 15 anos Talvez menos n o sei Passou por v rias experi ncias comuns quela de outras fam lias acampadas vivenciou despejos de terra viu o acampamento mudar de local algumas vezes sentiu na pele a instabilidade de estar na luta por um peda o de ch o Anos depois seus pais foram assentados Ele participa do MST quase desde o in cio do mesmo oficialmente criado em 1984 Durante a juventude mesmo morando em uma rea organizada pelo MST Francisco re
25. instauram se e s o instaurados por esses discursos E a dial gico e dial tico aproximam se ainda que n o possam ser confundidos uma vez que Bakhtin vai falar do eu que se realiza no n s insistindo n o na s ntese mas no car ter polif nico dessa rela o exlbid a pela linguagem BRAIT 2007 p 69 O dialogismo permite as inter rela es entre discurso realidade ideologia intera o contexto significa o BENTES et al 2013 p 16 2 Para Bakhtin 2006 a palavra a ponte lan ada entre o eu e o outro sendo um elemento ideol gico Para Freire a palavra est no centro do processo educativo como a o cultural Romper o sil ncio subverter a hist rica cultura do sil ncio condi o primeira para homens e mulheres se assumirem como seres culturais Mas h um silenciar que a educa o precisa cultivar aquele sil ncio que torna poss vel o verdadeiro di logo a palavra aut ntica Quem n o escuta n o pode falar com mas fazer discursos para ou em termos de cultura vai continuar perpetuando invas es culturais RIBEIRO 2010 p 249 15 Ainda em Bakhtin na dialogia oferecemos as nossas contrapalavras ou seja enunciados que respondem ao nosso interlocutor e isso ocorre sempre que falamos e sempre que ouvimos considerando que enquanto ouvimos tamb m falamos Falar falar a outros que falam e que portanto respondem AMORIM 2001 p 95 Se com Freire consideramos a pala
26. interesses e de projetos A Educa o do Campo defende a supera o da antinomia rural e urbana e da vis o predominante de que o moderno e mais avan ado sempre o urbano e que a tend ncia de progresso de uma localidade se mede pela diminui o de sua popula o rural Existe toda uma outra matriz de pensamento com a qual nos identificamos que busca construir um outro olhar para esta rela o campo e cidade vistos dentro do princ pio da igualdade social e da diversidade cultural Est inclu da neste debate a necessidade de rever a forma arbitr ria atual de classifica o da popula o e dos munic pios como urbanos ou rurais ela d uma falsa vis o do significado da popula o do campo em nosso pa s e tem servido como justificativa para a aus ncia de pol ticas p blicas destinadas a ela Ibid p 16 114 A Educa o do Campo conforme Caldart 2010 p 106 nasceu como uma cr tica realidade da educa o brasileira particularmente situa o educacional do povo brasileiro que trabalha e vive no do campo Aqui a Educa o do Campo n o abordada apenas como direito educa o no meio rural meios de acesso da popula o do campo escola seja no pr prio ambiente do campo seja na cidade mais pr xima mas como concep o ideol gica e metodol gica de uma educa o comprometida com os sujeitos do campo suas vozes e seus saberes Uma concep o que considera relevante a incorpora o de pa
27. melhor imposs vel saber quando e onde come a um processo de reflex o Por m uma vez terminado poss vel ressignificar o que veio antes e tentar ver ind cios no que ainda n o era e que passou a ser Mar lia Amorim 2001 p 11 2 1 DA CONSTRU O DO OBJETO DE PESQUISA AO ITINER RIO METODOL GICO A constru o da metodologia desta pesquisa se deu no processo de desenvolvimento da mesma e s com todo o caminho percorrido ap s quase quatro anos que acho que j sei qual foi ele e posso contar ao leitor o movimento metodol gico que percorri com minhas orientadoras preciso compreender que olho para uma hist ria real tal como foi encontrada no seu acontecer de modo a reconstru la como pesquisa Embora houvesse toda uma antecipa o e prepara o para ida ao campo a realidade acabou se impondo de modo diverso ao esperado e o seu enfrentamento inevit vel como se ver pela hist ria que vou contar Constrangida pelo que encontrei tive que procurar novos caminhos reescrever o objeto e as hip teses assim como os objetivos por mais de uma vez A Investiga o Narrativa muito pr pria do campo da Educa o tem como compromisso fundante falar com a escola e seus sujeitos e processos como tamb m produzir conhecimentos a partir dela e n o sobre ela LIMA GERALDI GERALDI no prelo Lima Geraldi e Geraldi reconhecem a diversidade das investiga es narrativas na forma o e na pesquisa em educa o mapeando a
28. ncias N o existe uma unidade de conhecimento assim como n o existe uma unidade de ignor ncia SANTOS 2007a p 85 87 Entretanto ao valorizar o local o particular e o singular ele n o nega a universalidade ou a pluralidade Por isso defende tanto os princ pios 5 3 6 A DIMENS O COLETIVA DO SUJEITO NA AULA A fala de Francisco carregada do discurso do MST esta traz ecos de outros discursos discursos de outrem reorganizados dialogicamente nas falas dos sujeitos GEGe 2009 p 33 34 fazendo sempre refer ncias ao contexto hist rico a rela o com a pol tica e economia e Permacultura como alternativa para supera o de alguns problemas no campo Se a rela o com a alteridade faz parte da constitui o da identidade do sujeito no caso do MST trata se de um sujeito coletivo ALVAR Z 2011 COMERLATO 2010 O sujeito coletivo do MST tem uma perspectiva hist rica de mundo 175 No seu movimento dial tico na contemporaneidade recorre hist ria para aprender com ela e manter valores humanistas das tradi es sapienciais para contrapor se a alguns valores estabelecidos pela modernidade e insurgir se enquanto revolucion rio revolucionando conceitos posturas projetos e modelos A partir da luta pela terra inaugura um novo olhar para a velha quest o da terra no Brasil vendo na terra mais que terra um novo modo de reproduzir a vida ALVAREZ 2011 p 1 2 Dizer que os indiv duos no MST assumem
29. numa biofossa que da a equipe que estava fazendo o servi o j fez ela conforme falamos pra fazer o tratamento adequado do esgoto da ficou s o dreno pra traz que da o diretor falou Vamos deixar o dreno que no caso o c rculo de bananeira e foi muito bom os alunos da Educa o B sica gostaram bastante No outro centro de forma o do MST que trabalhou com Permacultura tamb m me narrou algumas atividades _ No CEAGRO onde eu dei aula num curso de T cnico em Agropecu ria Eu acompanhei tr s etapas do curso l e fui dar aula e de l tamb m a gente desenvolveu trabalhei com eles essa parte da introdu o Permacultura e depois fizemos uma oficina de bambu de como trabalhar fazer o tratamento e trabalhar com o bambu e tamb m trabalhamos algumas pr ticas pr ticas de desenho Permacultura Essas pr ticas j s o de praxe toda vez que a gente vai fazer um curso de Permacultura a pr tica de fazer desenho de planejar uma rea todas elas a gente faz e de l a gente fez alguma t cnicas por exemplo n s fizemos uma horta mandala fizemos algumas experi ncias de tratamento de esgoto tamb m Antes mesmo de ser educador de Permacultura mas j com alguns conhecimentos sobre a mesma Francisco construiu sua casa assim como a de outras fam lias do Assentamento com tijolos de solo cimento Hoje no seu lote no Assentamento Francisco possui algumas constru es que chama d
30. o 12 48 7 36 Ed UNJUL 1997 TIRIBA L SICHI B Cios da terra saberes da experi ncia e saberes do trabalho associado Trabalho Necess rio ano 10 n 15 2012 TROMBETTA S Alteridade In STRECK D R REDIN E ZITOKOSKI J J Org Dicion rio Paulo Freire 2 ed ver ampl Belo Horizonte Aut ntica Editora 2010 p 34 36 TROMBETTA S TROMBETTA L C Inacabamento In STRECK D R REDIN E ZITOKOSK KI J J Org Dicion rio Paulo Freire 2 ed ver ampl Belo Horizonte Aut ntica Editora 2010 p 221 222 VARANI A FERREIRA C R PRADO G V T Narrativas docentes Campinas Mercado de Letras 2007 352 p VIGOTSKI L S A constru o do pensamento e da linguagem Trad P Bezerra 2 ed S o Paulo Editora WMF Martins Fontes 2010 496 p YOSHIOKA E et al Trabalho livre na produ o do espa o sustent vel contribui es a partir do desenvolvimento de cobertura de teto verde e Plano de Desenvolvimento da Escola Nacional Florestan Fernandes In VI ENCONTRO NACIONAL e IV ENCONTRO LATINO AMERICANO SOBRE EDIFICA ES E COMUNIDADES SUSTENT VEIS 2011 Vit ria Anais Vit ria UFES 2011 ZABALA A A pr tica educativa como ensinar Tradu o F F Rosa Porto Alegre Artmed 1998 224 p 199 ZITKOSKIL J J Di logo Dialogicidade In STRECK D R REDIN E ZITOKOSKIL J J Org Dicion rio Paulo Freire 2 ed ver ampl Belo Horizonte Aut ntica Editora 201
31. o governamentais de ambientalistas dos as agricultores as locais organizados ou n o em associa es ou representa es dos as profissionais da rea agr ria dos movimentos sociais Tal constru o vem ganhando espa o no surgimento de disciplinas e cursos de Agroecologia em institui es de ensino na ado o de pol ticas p blicas com foco na Agroecologia nos servi os governamentais de assist ncia t cnica rural na realiza o de diversos encontros que contam com a participa o de pesquisadores as estudantes agricultores as militantes pol ticos entre outras experi ncias Assim a mesma vai caminhando de um status de paradigma para a consolida o de uma ci ncia como j considerada por diversos autores da rea Segundo Gliessman 2005 4 Com esta discuss o n o estamos afirmando que as demais abordagens das agriculturas alternativas n o tenham um prop sito de rompimento com o modelo agr cola vigente mas que em muitas situa es esta orienta o ideol gica de contraposi o ao capital e seu modelo de desenvolvimento n o est presente ou evidente nas discuss es te ricas das mesmas No caso da Permacultura como veremos adiante o pr prio MST tem buscado desenvolver esta perspectiva com car ter pol tico ideol gico em seus assentamentos 133 a Agroecologia como ci ncia estabelece as bases para a constru o de estilos de agriculturas sustent veis e de estrat gias de desenvolvimento rural sust
32. o pode ver as partes de seu corpo inacess veis ao seu pr prio olhar a cabe a o rosto e sua express o o mundo atr s dele toda uma s rie de objetos e rela es que em fun o dessa ou daquela rea o de reciprocidade entre n s s o acess veis a mim e inacess veis a ele Quando nos olhamos dois diferentes mundos se refletem na pupila dos nossos olhos Esse excedente da minha vis o do meu conhecimento da minha posse excedente sempre presente em face de qualquer outro indiv duo condicionado pela singularidade e pela insusbstitutibilidade do meu lugar no mundo porque nesse momento e nesse lugar em que sou o nico a estar situado em dado conjunto de circunst ncias todos os outros est o fora de mim BAKHTIN 2010 p 21 Na busca por acabamento e por cruzar fronteiras os sujeitos usam a sua palavra em di logos Os saberes da experi ncia e os conhecimentos da ci ncia cient ficos ou didatizados podem estar inseridos em culturas diferentes ou serem compartilhados confrontados dentro de uma mesma cultura dependendo dos sujeitos e do contexto A linguagem a chave para compreendermos a coexist ncia desses saberes conhecimentos ou o afastamento entre eles A linguagem uma forma de comunica o carregada por rela es de poder conforme Freire e as diferen as de linguagem tem um fundamento pol tico e ideol gico Portanto mudar a linguagem faz parte do processo de mudar o mundo OSOWSKI 2
33. pois os seres humanos se 74 fazem no encontro na escuta na comunh o e no di logo com os outros TROMBETTA 2010 p 34 Na perspectiva freiriana o di logo permite ao sujeito dizer a sua palavra a sua palavra verdadeira Para Freire n o h palavra verdadeira que n o seja pr xis que n o seja carregada de a o e reflex o implicada na transforma o do mundo BASTOS 2010 A dialogia atividade do di logo sendo um confronto de entona es e dos sistemas de valores que posicionam as mais variadas vis es de mundo dentro de um campo de vis o GEGe 2009 p 29 Al m de alternar discursos a dialogia oportuniza a intera o de consci ncias e as vozes e entona es s o fundamentais pois valoram e ideologizam as palavras Bakhtin afirma que a entona o a minha presen a na palavra o modo de passar palavra o meu ponto de vista o valor que atribuo quele peda o do mundo significado Ibid p 35 Por um lado o dialogismo diz respeito ao permanente di logo nem sempre sim trico e harmonioso existente entre os diferentes discursos que configuram uma comunidade uma cultura uma sociedade nesse sentido que podemos interpretar o dialogismo como o elemento que instaura a constitutiva natureza interdiscursiva da linguagem Por outro lado o dialogismo diz respeito s rela es que se estabelecem entre o eu e o outro nos processos discursivos instaurados historicamente pelos sujeitos que por sua vez
34. prias de aprendizagem dos povos do campo que seja capaz de reconhecer e legitimar os saberes constru dos a partir das experi ncias de vida A Educa o do Campo considera a necessidade de se por em rela o diversas formas de saberes de modo que os sujeitos envolvidos qualifiquem suas pr xis Neste aspecto levar em considera o as particularidades do mundo social no percurso de forma o do sujeito uma forma de contribuir para que os educandos as possam se movimentar nas fronteiras culturais constru das a partir de suas experi ncias aquelas pr prias dos modos de produzir a vida no campo at ao que Aikenhead 2009 denomina de subcultura acad mica e tamb m no sentido inverso da academia promover o di logo com outros modos de pensar e produzir a vida no campo Acreditamos na possibilidade dessa aproxima o e na necessidade de 25 construir conhecimentos acerca do cruzamento de fronteiras que marcam a cultura ou subcultura acad mica e os saberes do campo mais pr ximos da experi ncia Conforme Aikenhead 2009 o ensino deve levar em considera o o mundo cultural multidimensional do estudante ou seja a exist ncia de um envolvimento contato com diversas subculturas a subcultura dos seus colegas a subcultura da sua fam lia a subcultura da ci ncia a subcultura da ci ncia escolar entre outras Deste modo os estudantes protagonizam um cruzamento de fronteiras culturais ao entrar em contato com outros modos de v
35. tico ideol gica consideramos que a Agroecologia n o s uma contraposi o tecnol gica s pr ticas da Revolu o Verde mas tamb m uma proposta de contraposi o socioecon mica intergeracional de classe de g nero e de identidade ao modelo vigente GUTERRES 2006 Neste sentido conforme Leff 2002 a Agroecologia incorpora al m do funcionamento ecol gico para a sustentabilidade da agricultura princ pios de equidade na produ o para proporcionar acesso igualit rio aos meios de vida Muitas s o as refer ncias encontradas na literatura para defini o da Agroecologia JESUS 2005 Por vezes a Agroecologia considerada como t cnica como um paradigma produtivo emergente como ci ncia como um novo marco conceitual e de desenvolvimento como veremos mais adiante Segundo Freitas 2011 p 18 a Agroecologia como pr tica social pol tica e pedag gica o resultado de uma constru o coletiva social e historicamente delimitada e portanto n o tem uma defini o nica Portanto nossa preocupa o localizar essa proposta sobretudo a partir da forma o discursiva do MST mais do que disputar conceitua es ou proferir defini es prontas e acabadas Para Jesus 2005 p 44 o paradigma agroecol gico vem sendo constru do de forma participativa a partir dos conhecimentos da comunidade acad mica pesquisadores as estudantes professores as dos as trabalhadores as de organiza es governamentais e n
36. todo conhecimento tem o saber como pano de fundo O saber pode se transformar em v rias coisas inclusive em conhecimento podendo ainda estar contido neste a Filosofia a Pol tica a Literatura al m de existirem saberes que s o independentes dos conhecimentos cient ficos como se a palavra conhecimento coubesse dentro da palavra saber e n o o contr rio sendo o conhecimento uma especializa o do saber MOTA PRADO PINA 2008 p 113 grifos dos autores luz de Foucault o saber o processo por meio do qual o sujeito se modifica pelo trabalho realizado para conhecer o que permite a modifica o do sujeito e a constru o do objeto cognosc vel Por sua vez o conhecimento o processo que permite a multiplica o dos objetos cognosc veis o desenvolvimento de sua inteligibilidade a compreens o de sua racionalidade SILVA 2010 p 20 No campo dos saberes interessa nos em especial aqueles que emergem da experi ncia constru da pelos sujeitos do campo como modo de produzir e reproduzir a vida no seu lugar de exist ncia Quanto aos conhecimentos referimo nos de modo espec fico aos das ci ncias da vida e da natureza e em particular aos que s o est o escolarizados Os conhecimentos escolares ser o tamb m referidos como acad micos visto que nosso di logo tem como cerne a forma o dos sujeitos do campo no mbito do Ensino Superior cursos de Licenciatura em Educa o do Campo e de Agroecologia As disciplinas e
37. 2 1 DA CONSTRU O DO OBJETO DE PESQUISA AO ITINER RIO METODOL GICO 33 2 1 1 AS CONSTRU ES NARRATIVAS E SUAS AN LISES 39 2 1 2 INVESTIGA O NARRATIVA AS NARRATIVAS NA CONSTITUI O DO SUJEITO E ATO SD fe 6 PRN E RIR ENG 2 RSS NM UNIR NG REST DE CIP 44 2 2 LUZ DAS TEORIAS OU H LUZ NAS TEORIAS iettereneeos 49 2 2 1 SABERES E CONHECIMENTOS xe si eNU INTO STUSS SEUL renda LN SAS Sa Dna LI a arrn 49 2 2 2 SABERES DA EXPERI NCIA E CONHECIMENTO CIENT FICO 55 2 2 2 1 CONHECIMENTO CIENT FICO E O PENSAMENTO PARADIGM TICO NOS MARCOS DAMODERNIDADE eita eia a A a SR sai 57 2 2 2 2 SABERES DA EXPERI NCIA E A NARRATIVA COMO MODO DE CONHECER O MUNDO es eat alia cai ID EO IO ELLA Dea fc E end R nin ded o 61 2 2 3 FRONTEIRAS E CIRCULA O CULTURAL ENTRE CAMPOS DIFERENTES 65 2 2 3 1 ALTERIDADE E DIALOGIA NA CIRCULA O EM TORNO DE FRONTEIRAS CULTURAIS ass iss rasidoss iyraa Eras sntedadaaidio Epa anaia GPe Iaea AIEE AETERNI ERES ETES 69 3 OS SUJEITOS E SEU DES ENCONTRO seseseesesesoeseseseeeesosorsoroesesesoceesosorseseroeeesosorsoseee 76 3 1 SUJEITO COLETIVO MST E A IDENTIDADE SEM TERRA 76 3 2 NOVELA DE FORMA O MEUS CAMINHOS s esisssieiisissesirisirrisrrsieirisrrsrerrsreren 79 3 3 PERCURSO PROFISSIONAL MILITANTE DO EDUCADOR OS CAMINHOS DO OUTRO A TE T T E E E E A A di st ST 95 3 4 DES JENCONTRO DE EDUCADORES E SEUS MUNDOS ENTRE O EU E O OUTRO 102 4 PANO DE
38. 31 Como professora que sou frequento espa os de ensino formal e n o formal dentro e fora do MST e direcionar o meu doutoramento para a rea de Educa o me permitiu aliar em uma mesma pesquisa temas de interesse com minha atua o profissional e militante Esta pesquisa conforme Lima Geraldi e Geraldi no prelo me oportunizou aprender a pesquisar e pesquisando aprender mais sobre o meu exerc cio como docente e sobre minha vida militante Foi tomando a distin o elaborada por Foucault entre conhecimento e saberes que estabeleci discutir a tens o na circula o de sentidos que se estabelecem entre saberes e conhecimentos com base nas narrativas de sujeitos que emergem desses dois campos o da experi ncia e o da ci ncia N o vou me limitar ao ato de contar uma hist ria ou muitas hist rias meu desafio consiste em compartilhar experi ncias narradas e contribuir para a reflex o de outros sobre suas pr prias experi ncias para que assim esses sujeitos possam re criar novas experi ncias 18 e outras hist rias Cada hist ria o ensejo de uma nova hist ria que desencadeia uma outra que traz uma quarta etc essa din mica ilimitada da mem ria a constitui o do relato com cada texto chamando e suscitando outros textos GAGNEBIN 1994 p 13 A narrativa tem sido a forma mais comum e recorrente de partilha quando se fala de saberes da experi ncia Se a experi ncia o que nos passa o que nos acontece
39. FUNDO sussa ee CS SSEA DS 111 4 1 EDUCA O DO CAMPO SABERES DOS POVOS DO CAMPOE O SEU PARADIGMA DE EDUCACAO ndarane a ensen a a a a e a a 111 4 1 1 A ALTERN NCIA NA EDUCA O DO CAMPO tienen 120 4 1 2 DOIS CEN RIOS NA EDUCA O DO CAMPO titan 122 XVI 4 1 2 1 CURSO TECN LOGO EM AGROECOLOGIA ititia eres 123 4 1 2 2 CURSO LICENCIATURA EM EDUCA O DOCAMPO henee a puros 124 4 2 ENSINO DE CI NCIAS NO CAMPO COMO EMPREENDIMENTO SOCIAL E CULTURAL PAE A AE EEA A EE A A EAE E AO AA A RE SR SP 126 4 3 AGROECOLOGIA E PERMACULTURA OUTROS PARADIGMAS DE PRODU O CONSUMO PENSAMENTO E VIDA tee eerr een eerree ee err aan era aeee acer aeee errada 130 5 SOBRE O OBSERVADO O VIVIDO E O EXPERIMENTADO REFLEX ES E MAIS HIST RIAS pag iii 142 5 1 TEMPO E ESPA O DA AULA DE PERMACULTURA iiiiiiiiiiiaas 142 5 2 NARRANDO COM O PROFESSOR A AULA DE PERMACULTURA MUITAS VOZES MULTAS HISTORIAS as NAN EE ns Se CDs AS AA AE li an re asno Za Red Es Lea de di sea ce sacas ane 143 5 3 CIRCULA O DE SENTIDOS E MOVIMENTA ES NOS LIMIARES CULTURAIS 159 5 3 1 A AULA COMO ACONTECIMENTO eertreeerrrere err aa ee err aeee rar ae ee ca ae ne ncarada 160 5 3 2 A AULA COMO NARRATIVA oceniacie eenia iier kdah 162 5 3 3 A PR TICA COMO CENTRALIDADE DA AULA atear 166 5 3 4 A AULA COMO EXERC CIO DE DIALOGIA E DE ALTERIDADE mas 170 5 3 5 O SINGULAR E O PARTICULAR NA AULA eererrereerree aaa eree aaa
40. Forma o Setor de Frente de Massas respons vel pelo trabalho de base com novas fam lias com finalidade de ocupa o de terras e forma o de novos acampamentos etc 84 entre as pessoas por elas justificadas com a car ncia dos servi os oficiais de sa de na regi o A utiliza o dessas pr ticas principalmente de plantas medicinais e da bioenerg tica era incentivada pelo Setor de Sa de do MST Regional Vale do Rio Doce H alguns anos antes da minha visita regi o ocorreram em todas as reas desta regional oficinas sobre plantas medicinais que serviram para ensinar a elabora o de tinturas pomadas xaropes e ch s s fam lias assentadas Tais oficmas haviam sido realizadas por militantes do MST com forma es complementares na rea e parceiros estudantes e profissionais da rea da Sa de a partir da pr pria demanda das fam lias e das orienta es do Movimento de promo o de uma sa de popular Nesta visita em minhas conversas com o pessoal do Setor de Sa de do MST foi apontada a necessidade de um aprofundamento e maior conhecimento luz das explica es cient ficas da utiliza o de determmadas plantas como por exemplo qual o princ pio ativo das mesmas e para que elas servem A partir da produzir uma cartilha informativa contendo o nome das plantas em que tipo de problema de sa de utilizada qual parte da referida planta utilizada folha flor raiz etc como medicamento aonde ela
41. Fundamental II com uma turma para cada s rie e a maior parte dos professores oriundos da cidade Esta Escola assim como outras no interior de reas organizadas pelo MST trazia na sua organiza o uma presen a muito pr xima da comunidade do Acampamento e do Setor de Educa o local contribuindo ent o na gest o coletiva da mesma Nesta Escola estudavam as crian as e jovens do Acampamento e da comunidade rural adjacente comunidade Tabocal Assim como outras escolas do campo esta escola tamb m foi fechada em fun o da instabilidade da posse da terra em uma rea de acampamento e das press es para o deslocamento dos educandos as para as escolas das cidades Eu trazia de casa um contato com a doc ncia atrav s dos relatos de minha m e professora Relatos por vezes desanimadores outras vezes desafiadores Minha m e assim como tantas outras professoras e professores Brasil a fora passou por diversas escolas sentindo no dia dia durante anos a desvaloriza o da profiss o N o aguentou e abandonou a carreira sem nem conseguir aposentar se Busquei a Licenciatura n o por gosto inicial mas como uma op o poss vel para a vida sobretudo no campo na proposta de que aula nunca falta para ser dada Diferentemente de hoje quando a vida docente me preenche me desafia me leva a cada dia a novos aprendizados e ensinamentos N o me imagino em outro lugar sen o como professora Ainda em 2008 enquanto estudava fui convidada pelo S
42. Meu primeiro destino foi a casa de uns parentes de uma fam lia do Acampamento Padre Gino que se dispuseram a me receber Esse contato havia sido feito 85 naquela primeira visita no agosto anterior e confirmado depois por alguns telefonemas Enfim tinha sido n o s autorizada a entrar naquele territ rio como convidada a partilhar a casa Assentaria mesa como oferta de comunh o Nesta primeira temporada na rea tive minha primeira tarefa no MST a ciranda infantil No MST tem se por pr tica organizativa a divis o das tarefas entre as pessoas envolvidas em determinado espa o ou evento Como eu estava l por uns vinte e poucos dias fazendo as observa es e anota es da minha pesquisa e neste intervalo aconteceria uma reuni o da Coordena o Regional do MST esta tarefa me foi delegada pela Coordena o do Acampamento Era uma forma de fazer parte daquela comunidade e organiza o social mesmo que temporariamente e me mostrava que eu n o estava ali apenas para coletar meus dados mas que deveria participar com meu trabalho da vida coletiva Li o etnogr fica para a pesquisadora A Ciranda Infantil o espa o destinado s atividades com as crian as principalmente de O a 6 anos enquanto os pais sobretudo as m es participam das atividades coletivas organizativas reuni o curso de forma o trabalho coletivo na ro a etc O MST tem por princ pio que as mulheres sejam p blico e alvo de todas as ativi
43. O conjunto de hist rias contadas converge para um ensinamento ou moral que se pretende que venha a ser compartilhado 165 Comparado ao modo l gico cient fico as narrativas de Francisco n o s o contadas para serem ouvidas como verdade gen rica abstrata no sentido de istina apontado por Bakhtin mas como verdade pravda aquela pr pria do acontecimento que traz ensinamentos e n o regras absolutas e princ pios inquestion veis ou procedimentos pr estabelecidos no campo do designer permacultural Ele buscava os princ pios da Permacultura para pensar conjuntamente com os educandos a organiza o do espa o rural Longe de ser uma mera reprodu o de como fazer uma horta mandala ele introduz o diferente como leg timo _ N s partimos daquela ideia e acabou sendo uma experi ncia muito boa fizemos l a mandala ficou uma mandala como posso dizer at diferente das outras mas seguindo os mesmos princ pios das outras mandalas Como narrativas s o dependentes do contexto e realidade locais singulares mas capazes de trazer uns ensinamentos em vez de prescreverem modo de ser e de fazer Como bom marinheiro comerciante BENJAMIN 1994 Francisco trouxe hist rias de longe para contar falando dos canteiros flutuantes dos Astecas e da utiliza o do bambu nas constru es na Col mbia e no Equador e assim trabalhou melhor o princ pio permacultural de transformar problemas em solu es A narrativa mesmo quando
44. O in cio da engrenagem ensina como fazer Para conseguir alcan ar os objetivos que queremos basta querermos cuidar Pisando no ch o moreno o conhecimento ir chegar Quando aprendermos a praticar o que na teoria n s sabemos 157 Em coro cantaram Cidad o de Z Ramalho T vendo aquele edif cio mo o Ajudei a levantar Foi um tempo de afli o Eram quatro condu o Duas pra ir duas pra voltar Hoje depois dele pronto Olho pra cima e fico tonto Mas me vem um cidad o E me diz desconfiado Tu t a admirado Ou t querendo roubar Meu domingo t perdido Vou pra casa entristecido D vontade de beber E pra aumentar meu t dio Eu nem posso olhar pro pr dio Que eu ajudei a fazer T vendo aquele col gio mo o Eu tamb m trabalhei l L eu quase me arrebento Fiz a massa pus cimento Ajudei a rebocar Minha filha inocente Vem pra mim toda contente Pai vou me matricular Mas me diz um cidad o Crian a de p no ch o Aqui n o pode estudar Essa dor doeu mais forte Por que que eu deixei o norte Eu me pus a me dizer 158 L a seca castigava Mas o pouco que eu plantava Tinha direito a comer T vendo aquela igreja mo o Onde o padre diz am m Pus o sino e o badalo Enchi minha m o de calo L eu trabalhei tamb m L foi que valeu a pena Tem quermesse tem novena E o padre me deixa entrar Foi l que Cristo me disse Rapaz deixe de tolice N o se deixe amedrontar Fui eu quem criou
45. al O pluralismo epistemol gico e o ensino de ci ncias na educa o do campo In 64 REUNI O ANUAL DA SBPC S o Lu s Resumos S o Lu s UFMA 2012 Dispon vel em lt http www sbpcnet org br livro 64ra resumos resumos 4682 htm gt Acesso em 19 jan 2015 MDA Programa de Aquisi o de Alimentos Minist rio do Desenvolvimento Agr rio 2014 Dispon vel em lt http portal mda gov br portal saf pro gramas paa gt Acesso em 16 jan 2014 MELLO E D SOUSA E A L A experi ncia como intervalo para novas visibilidades Psicologia amp Sociedade 17 1 17 28 jan abr 2005 MENEGA O R C C Li es das descontinuidades fragmentos de tempos e espa os compartilhados na forma o da educadora 2004 Disserta o Mestrado em Educa o Faculdade de Educa o da Universidade Estadual de Campinas Campinas 2004 MENEZES NETO A J Forma o de Professores para a Educa o do Campo projetos sociais em disputa In ANTUNES ROCHA M I MARTINS A A Org Educa o do Campo desafios para a forma o de professores 2 ed Cole o Caminhos da Educa o do Campo v 1 Belo Horizonte Aut ntica Editora 2011 p 25 38 MICHAELIS Verbete Conhecimento Dicion rio Online Michaelis 2009 Dispon vel em lt http michaelis uolcom br gt Acesso em 16 jan 2015 MICHAELIS Verbete Saber Dicion rio Online Michaelis 2009 Dispon vel em lt http michaelis uolcom br gt Acesso em 16 jan 2015
46. as orientadoras como eu ensinava e ensinei esse assunto no LeCampo e na Forma o Intercultural de Educadores Ind genas FIEI na UFMG assim como em um curso t cnico de Agroecologia em uma escola particular Ent o foi inevit vel estabelecer rela es entre os modos de ensinar dele e meu A tens o do encontro entre dois sujeitos professora eu e professor outro acabou fornecendo elementos para redefini o do foco desta pesquisa como ocorrem os movimentos de circula o em torno das fronteiras culturais na aula deste militante do MST na condi o de professor de ci ncias Permacultura e na minha aula como esfor o de cruzamento ou encontro confronto de perspectivas O meu plano de aula que orientava minha atividade de doc ncia preparado antes de ir a campo instrumentalizaria a coleta dos dados assim como explicitou para a minha orientadora os conhecimentos cient ficos presentes em uma aula de Permacultura considerando a pouca aproxima o dela com o tema Como eu j havia lecionado anteriormente aulas de Permacultura e n o tinha a grava o ou narrativa da mesma para explicita o de conceitos modelos e teorias que d o suporte para a constru o da Permacultura e que eu pressupunha estar presente em qualquer aula com o referido tema na Educa o do Campo recorri ao manual que elaborei para os conte dos de Permacultura na disciplina O cultivo dos alimentos e a persist ncia da fome do LeCampo E tamb m com base n
47. bastante para n o sair desbravando aquela casa conhecida e ao mesmo tempo t o estranha Encarei e fui tomar caf A turma de educandos e educandas do Curso j estava l reunida para o desjejum p o de sal chimia nossa velha conhecida geleia caf e leite tinha ch tamb m Apresentei me para alguns sentados mais pr ximos conversei um pouquinho com outros come ava a ouvir os primeiros sotaques sulistas portunhol norte nordeste 104 Encontrei me com um dos coordenadores da escola o mesmo que havia me recebido na madrugada e juntos tomamos caf ouvindo um pouco sobre o percurso do Curso at o momento e me preparando para a aula que aconteceria em breve O caf da amanh acontecia rigorosamente das 07 00 s 07 30h Alguns precisavam estar de p s 06 00h para desenvolver algum trabalho coletivo por exemplo o de preparar o refeit rio e os alimentos para os demais N o estando em alguma equipe para trabalhar naquela manh os demais ficavam livres para acordar as seis e pouco quase sete e se prepararem para o caf da manh e as atividades do dia Ap s o caf todo mundo foi para uma rea externa a c u aberto e em uma grande roda teve in cio a Formatura Sem nenhum estranhamento fui com a turma para este momento De quantas Formaturas j n o tinha participado N o no sentido acad mico que estamos acostumados naquele espa o a Formatura era o momento de uma primeira reflex o para o dia apresen
48. com a vida isto pela verossimilhan a tanto quanto pelos ensinamentos que capaz de transmitir Aqui as afirma es tamb m podem implicar causalidades mas tratam se de causalidades perceptivelmente diferentes Enquanto o modo paradigm tico de funcionamento cognitivo leva busca de verdades universais o narrativo busca condi es particulares prov veis entre dois eventos BRUNER 1998 p 13 A aplica o imaginativa do modo narrativo leva na verdade a hist rias boas dramas envolventes relatos hist ricos cr veis embora n o necessariamente verdadeiros Ele trata de a es e inten es humanas ou similares s humanas e das vicissitudes e consequ ncias que marcam seu curso Ele se esfor a para colocar seus milagres atemporais nas circunst ncias da experi ncia e localizar a experi ncia no tempo e no espa o Ibid p 14 Bruner 1998 p 15 argumenta que a F sica Moderna por exemplo prediz resultados que podem ser testados e verificados mas que as hist rias n o t m essa necessidade de 65 comprova o ou de verifica o j que sua credibilidade est nas li es que as experi ncias trazem dentro de um espectro de significados poss veis Ibid p 26 O modo narrativo leva a conclus es n o sobre certezas em um mundo primitivo mas sobre as diversas perspectivas que podem ser constru das para tornar a experi ncia compreens vel Ibid p 40 Nas hist rias existem diversos elementos q
49. com o plantio de hortali as A horta cultivada em coopera o com outras quatro fam lias da rea e seus produtos s o vendidos para o Programa de Aquisi o de Alimentos PAA Junto com 31 Criado em 2003 o Programa de Aquisi o de Alimentos PAA uma a o do Governo Federal para colaborar com o enfrentamento da fome e da pobreza no Brasil e ao mesmo tempo fortalecer a agricultura familiar Para isso o programa utiliza mecanismos de comercializa o que favorecem a aquisi o direta de 97 estas fam lias possui cerca de um hectare de horta Conta que devido a proximidade de um grande centro comercial a produ o e comercializa o de hortali as e outros produtos como o mel s o a base principal da renda da fam lia dele Cria galinhas porcos duas vacas basicamente para o sustento da fam lia e faz algumas vendas espor dicas destes animais leite e queijo al m da Apicultura Disse que possui certifica o como produtor org nico o que valoriza ainda mais os produtos que vende para o mercado consumidor As reas destinadas produ o agropecu ria no Assentamento s o individuais Cada fam lia maneja a sua Entretanto devido ao potencial da produ o de hortali as e demanda do mercado consumidor as fam lias t m se agregado duas tr s quatro cinco fam lias para desenvolver estes cultivos Deste trabalho cooperado das fam lias surgiram ent o as primeiras hortas mandalas na rea qu
50. conforme Larrosa 2002 A Novela de Forma o contribui tanto para a forma o profissional quanto para a constitui o do pesquisador LIMA GERALDI GERALDI no prelo A novela de forma o da professora que eu fui ganhou contornos pela escrita da pesquisadora 1l Para mais informa es sobre Memorial de Forma o Prado amp Soligo 2007 40 A hist ria com recortes da vida de Francisco que conto n o obviamente uma novela de forma o denominada aqui por esse termo n o foi escrita por ele e sim por mim como pesquisadora Sou eu quem narra o percurso de Francisco naquilo que interessa pesquisa que realizei No ato de narrar podemos refletir n o s sobre o acontecimento mas sobre o sentido que ele tem para n s Entendendo com base em Larrosa 2002 que a Novela de Forma o deve ser uma escrita baseada na experi ncia sobre o que toca o que comove seu narrador n o poss vel que eu escreva sobre o que se passou com Francisco ou o que o tocou N o conto nesta tese o que Francisco viveu mas o que ele me contou ter vivido o seu percurso como filho pai pedreiro militante assentado educador permacultor etc Eu poderia contar a hist ria de outros educadores quaisquer que s o professores de Permacultura para os sujeitos do campo entretanto n s dois fomos colocados em uma rela o de sentidos criada pela singularidade desta pesquisa e por isso que passou a existir a vers o da hist ria que est aqui
51. contada Para a narrativa do percurso de Francisco utilizei dados de uma entrevista semiestruturada realizada com o mesmo Ap ndice A Concordando com Oliveira e Pezzato 2010 de que as mem rias n o bastam para compreender uma trajet ria al m da entrevista semiestruturada e das diversas conversas realizadas com ele observei a sua aula de Permacultura que tamb m serviu para compor a hist ria Ao utilizar a entrevista como ferramenta de produ o de dados em uma pesquisa qualitativa importante que o entrevistador conhe a a estrutura social na qual o narrador de uma hist ria est inserido bem como a representatividade de suas a es no meio em que vive para que n o se produzam grandes dissimetrias e conflitos durante a conversa OLIVEIRA amp PEZZATO 2010 Apesar das origens e trajet rias distintas n s dois temos como base o universo do movimento social aproximando assim nossas hist rias e utopias Isso faz de n s cumplices e contamina meu jeito de ver o Francisco e de falar sobre ele Para narrar a hist ria de Francisco eu selecionei informa es extra das de um conjunto de dados produzido nas entrevistas conversas e na observa o das aulas entre as quais dei especial destaque aquelas nas quais eu 1 identifiquei uma rela o mais forte com a minha Novela de Forma o ii vislumbrei a possibilidade de derivar algum ensinamento da an lise dos dados a partir do foco que eu busquei dar a alguns eventos em es
52. de come ar a ver os desdobramentos O que voc acha Beijim Foi a noite que a orientadora respondeu 110 Estou achando que vai rolar menos teoria e portanto suporte desta para pensar a pr tica Podemos ver se a pr tica reverte em reflex o te rica Enfim s temos que ficar atentas e se alguma coisa lhe chamar aten o pergunte a eles educandos fomente o debate mesmo que depois da aula Voc e eles saberiam dizer quais conhecimentos cient ficos e tecnol gicos est o em pauta nesta aula O pr prio professor saberia explicit los e dizer como eles se relacionam d o suporte para a pr tica Quando estas perguntas vieram a aula j tinha finalizado e Francisco voltado a ser o agricultor no Assentamento Eu ainda tinha aquela noite e a manh seguinte s bado l na Escola Mas j tinha resolvido n o entrevistar os as educandos as No s bado ent o mesmo sem aulas os hor rios de despertar caf e Formatura se mantinham Das 08 05 s 13 00h tinham o tempo educativo do Trabalho Coletivo que naquele dia se resumia basicamente s a es de limpeza e manuten o do espa o da Escola e do Assentamento prepara o do almo o que nos finais de semana era de responsabilidade da pr pria turma Contribu na tarefa de catar o feij o separar as pedras e pauzinhos antes de ir cozinhar Pode parecer pouco mas era um saco de uns 60 kg de feij o preto que demorei umas tr s horas n o sozinha para catar Detalh
53. de pa s e de sociedade e nas concep es de pol tica p blica de educa o de forma o humana CALDART 2012 p 257 A Educa o do Campo para al m da garantia da escolariza o da Educa o Infantil Universidade envolve lutas mais amplas pela educa o do conjunto dos trabalhadores do campo e para isso articula 117 experi ncias hist ricas de luta e resist ncia como as das escolas fam lia agr cola do Movimento de Educa o de Base MEB das organiza es ind genas e quilombolas do Movimento dos Atingidos por Barragens MAB de organiza es sindicais de diferentes comunidades e escolas rurais fortalecendo se a compreens o de que a quest o da educa o n o se resolve por si mesma e nem apenas no mbito local n o por acaso que s o os mesmos trabalhadores que est o lutando por terra trabalho e territ rio os que organizam esta luta por educa o Tamb m n o por acaso que se entra no debate sobre pol tica p blica CALDART 2012 p 259 A express o Educa o do Campo come ou a ser cunhada no primeiro Encontro Nacional de Educadores da Reforma Agr ria ENERA realizado em julho de 1997 na UnB Este Encontro pode ser considerado o pontap inicial da Educa o do Campo enquanto paradigma de luta pol ica buscando uma conforma o posterior de pol tica p blica O ENERA foi promovido pelo MST em parceria com a pr pria UnB o Fundo das Na es Unidas para a Inf ncia UNICEF
54. de totalidade e esta somente nos dada pelo outro como cria o e n o como solu o A vida concebida como acontecimento tico aberto n o comporta acabamento e portanto solu o GERALDI 2010a p 111 112 5 3 5 O SINGULAR E O PARTICULAR NA AULA Francisco demonstrou em muitos momentos da aula valorizar respeitar o local e o particular condizente com o modo narrativo de conceber o mundo Quando encaminhou o exerc cio do design permacultural de diferentes ambientes da Escola Francisco afirmou que a 173 gente nunca pode ignorar uma realidade que j existe dando nfase que o seu saber enquanto educador n o o nico pois sabe da exist ncia e valoriza o de outros saberes al m na necessidade de prestar aten o realidade Os saberes da experi ncia e os conhecimentos da ci ncia s o constru dos com base em saberes pr existentes A experi ncia julga com base naqueles eventos e na hist ria que o sujeito viveu ou que contaram para ele A ci ncia tamb m se comporta assim os trabalhos cient ficos t m referencial te rico que justifica a pertin ncia daquela pesquisa junto ao que j se sabe Entretanto a experi ncia contextualizada singular vem de uma realidade n o generaliz vel ao contr rio do que se passa com a constru o do saber cient fico Partindo da particularidade do contexto Francisco n o busca uma universalidade nas pr ticas permaculturais mas uma aplica o dos princ pios da
55. de uma oficina de tratamento do bambu Francisco se posiciona no plural mesmo quando est claro que o pr prio que tem tal habilidade _ N s aprendemos a fazer e n o tem muito segredo n o Tamb m na entrevista se posicionou no plural ele foi convidado para desenvolver uma oficina na escola mas era o n s que esteve nesta atividade _ Esses dias a gente fez um trabalho com a crian ada que foi muito bom foi de saneamento tamb m N o se trata de um n s ret rico como vemos e fazemos em diferentes situa es para sermos politicamente corretos mas encarnado no seu modo de pensar e de ensinar Assim no desenrolar da aula Francisco assume a sua identidade Sem Terra como o trabalhador sem a terra que passa a lutar pela terra Sem Terra como membro de uma 176 organiza o social de massas que luta pela Reforma Agr ria Sem Terra que aos poucos vai se transformando em um lutador do povo CALDART 2004 p 162 grifos da autora 177 6 LI ES QUE FICAM LI ES QUE V O O saber a gente aprende comos mestres e os livros A sabedoria se aprende coma vida e comos humildes Cora Coralina Muitas foram as li es que Francisco deu em sua aula para os educandos e educandas do campo Muitas s o as li es que ficam para mim ao assistir aula dele e ao desenvolver esta pesquisa S o li es que ficam para a pesquisadora para a professora e para a militante E por que n o dizer que s o li es que v o
56. discuss o a cerca da matriz energ tica biocombust veis do capitalismo at o MAB entrou na prosa Um educando lembrou o risco de produzir soja e cana para fazer biodiesel e etanol e assim deixar de produzir alimentos para produzir combust vel E logo o educador Lu s alertou _ N o adianta dizer que vamos embargar a extra o do petr leo e vamos produzir o biocombust vel Voc s muda o tipo de combust vel mas se voc n o muda uma matriz que t 4 Se referiu ao Movimento dos Atingidos por Barragens MAB quando discutiu sobre a gera o de energia el trica o impacto social e ambiental das barragens das hidrel tricas O MAB um movimento nacional em defesa dos direitos dos atingidos e atingidas em defesa da gua e da energia e pela constru o de um Projeto Popular para o pa s MAB 2011 146 por tr s disso Ent o tem uma mudan a muito mais ampla que precisa ser feita at no caso da energia el trica Logo depois liberto da cartilha a sim continuava ensinando principalmente a partir da sua experi ncia das suas muitas hist rias Assim a teoria que orienta a Permacultura ia sendo tranquilamente incorporada ao discurso dele teorizando a pr pria pr tica sem que eu percebesse algum constrangimento ou inseguran a na utiliza o desta Sua experi ncia muitas vezes foi o melhor recheio para os conceitos que estavam sendo explicados _ Eu inclusive tenho um exemplo Bem que aconteceu co
57. do curso Francisco iniciou a aula mostrando fotos de uma escola em Santa Catarina organizada na proposta da Permacultura Na sequ ncia encaminhou um trabalho pr tico com a turma que pode ser compreendido com um trecho do email que troquei com a minha orientadora mais tarde depois da aula Hoje a atividade em grupo foi bem interessante e os educandos puderam exercitar um pouco da teoria ao pensar algumas modifica es para 4 reas aqui do Assentamento sob a tica da Permacultura Acompanhei o trabalho dos grupos e filmei as explica es deles sobre a proposta que foi pro papel em forma de croqui Ainda neste email acrescentei como tentei dar o fechamento deste a princ pio primeiro momento com Francisco mas na verdade acabou sendo o nico para este processo de constru o da tese Sugeri ao educador que perguntasse ao final da aula de que forma eles podem ver este aprendizado aqui na pr tica e tivemos algumas respostas vagas mas de rela o com a pr tica Ter o como uma das atividades do Tempo Comunidade desenvolver alguma estrat gia de Permacultura seja uma pr tica uma oficina ou ensinar a algu m Penso que o retorno no pr ximo Tempo Escola pode nos indicar como o aprendizado foi colocado em pr tica Vou ver ainda com a coordena o como vai ser o encaminhamento para esta tarefa Penso que n o preciso fazer entrevistas com educandos que esta rodada na sala sobre a aplica o da Permacultura cumpre o objetivo
58. dos custos e benef cios em confronto entre t cnicas sustent veis e predat rias Nos anos mais recentes mesmo n o sendo uma vis o hegem nica a Permacultura tamb m vem sendo incorporada por alguns movimentos sociais em uma perspectiva n o s ambiental como comumente observa se entre seus multiplicadores mas tamb m em uma perspectiva tica que fortalece a op o pol tico ideol gica pela Agroecologia No MST existem algumas experi ncias de Permacultura principalmente nos estados do sudeste e sul do pa s LEPRI 2006 PRUDENTE 2007 JACINTHO 2007 MARCOS 2007 PRUDENTE COSTA RIPOLL 2009 FOLZ TEIXEIRA SHIMBO 2011 YOSHIOKA et al 2011 FREITAS 2011 FURINI et al 2014 Esta surge como complementar s propostas da Agroecologia sobretudo em rela o organiza o espacial dos agroecossistemas s possibilidades para as moradias e para aproveitamento de alguns recursos naturais principalmente a gua No MST a Permacultura vista como uma forma de pensar o espa o de planejar os assentamentos na medida poss vel da sustentabilidade por meio de um design diferenciado que contemple constru es e outras infraestruturas necess rias ao desenvolvimento dos assentamentos Dentro de uma racionalidade que considera a topografia do terreno o tipo de vegeta o a disponibilidade de gua o sentido e a for a dos ventos em contraposi o a uma simples divis o do per metro do assentamento em diversos quadrados de
59. e coletivo a terra bem da natureza MST 2013 on line Nestes 31 anos de exist ncia o MST segue com os mesmos objetivos desde seu surgimento cada dia mais atuais e necess rios 1 a luta pela terra i a luta pela Reforma Agr ria e ii a luta pela transforma o social Esses objetivos embora diferentes n o s o divergentes ou excludentes pelo contr rio s o acumulativos e buscam alcan ar as mudan as que o MST defende para a sua base social e para a sociedade Ao estabelecer como seu objetivo n mero um a luta pela terra o MST se coloca como mobilizador de pessoas que est o em busca de um peda o de terra para trabalhar e produzir o sustento de sua fam lia Algumas pesquisas t m mostrado a atualidade da luta pela terra no Brasil entre 1988 e 2012 somaram se 8 789 ocupa es de terra no pa s e 1 221 658 fam lias que participaram dessas a es DATALUTA 2013 p 6 Sem contar a infinidade de fam lias sem terra que n o est o organizadas 18 Dentre os 116 movimentos socioterritoriais que realizaram ocupa es de terra no Brasil entre 2000 e 2012 23 realizaram ocupa es em 2012 sendo que em ordem de maior n mero que fam lias que participaram de ocupa es o MST est em primeiro lugar com a participa o de 13 862 fam lias a CONTAG em segundo com 1 053 fam lias e os movimentos ind genas em terceiro com a participa o de 816 fam lias sendo que os tr s t m sido os principais respons veis
60. e pesquisadores acad micos Em vez de dar exemplos ao ensinar Francisco conta hist rias O pensamento que emerge da experi ncia constru do por um encadeamento de hist rias que n o foram selecionadas previamente e estruturadas como sequ ncia did tica tal como se concebe hoje no mbito das metodologias de ensino de ci ncias Sua aula configura se como um acontecimento uma hist ria que evoca a outra que tamb m evoca Francisco n o conta hist rias sozinho ele as conta na rela o com os outros e com as que os educando tamb m contam Cada hist ria contada muda a composi o da aula A aula de Francisco n o um amontoado de hist rias desconexas mas escolhidas na riqueza de suas experi ncias vividas para delas passar uma moral um ensinamento um conselho extra do previamente dos princ pios que orientam sua pr tica O narrador pode dar conselhos n o como prescri es morais mas como testemunho daquilo que aconteceu com el e pode vir a acontecer com os outros com os quais quer compartilhar uma hist ria militante Para Benjamin 1994 a natureza da verdadeira narrativa sua natureza utilit ria pois esta pode resultar em um ensinamento moral ou uma sugest o pr tica ou um prov rbio ou uma norma de vida Segundo esse autor o narrador a figura que sabe dar conselhos ou pelo menos deveria saber Mas pondera que como as experi ncias est o deixando de ser comunic veis dar conselhos parece n o s raro como an
61. elementos da sua realidade para as discuss es em aula Os educandos as desta turma s o oriundos do campo o que os aproxima em termos de origem e viv ncias com o educador Um banhado um problema no assentamento porque o banhado n o considerado rea de agricultura n o serve _ Aquino Assentamento tem uma tend ncia grande de vir fogo l da costa do rio _ No caso dos assentamentos a gente poderia considerar que a zona cinco a reserva permanente 150 Vamos pegar um exemplo bem simples do que a gente conhece um produtor de feij o o que ele faz Na poca do plantio do feij o que por exemplo aqui vai em torno de do m s de setembro pra frente mais em outubro e novembro O que o agricultor faz Uns 10 15 dias antes dele plantar o feij o ele come a a preparar a terra e a faz o plantio p e a aduba o colhe e se foi Este o modelo convencional de produ o de feij o E s vezes at mesmo em algum modelo org nico vai um pouco nessa linha O que a Permacultura t dizendo aqui Que n o pode ser dessa maneira a gente tem que pensar em um ciclo cont nuo n o pode ter uma interrup o entre uma colheita ou entre uma safra e outra ent o tem que ser uma agricultura permanente Isso significa que eu vou plantar um feij o mas eu j vou pensar no que eu vou plantar depois do feij o e depois e depois A eu n o vou chegar a este ponto de que o dia que eu vou plantar o feij o eu tenho que ter tantos s
62. esta distin o com a discuss o de que os conhecimentos cient ficos e os saberes da experi ncia se fazem presentes nas pr ticas permaculturais e na Educa o do Campo A narrativa da aula de Permacultura foi ent o analisada no intuito de perceber a circula o de sentidos da ci ncia e da experi ncia Para a discuss o desta circula o de ideias 13 O nome Francisco foi escolhido entre tantos outros lutadores e lutadoras lembrados pelo MST em fun o de um legado de luta em refer ncia a dois Franciscos O primeiro Francisco Juli o 1915 1999 pernambucano fundador das Ligas Camponesas movimento antecessor ao MST na luta pela terra Em 1 de janeiro de 2015 as Ligas Camponesas completaram 60 anos Elas nem existem mais por m seu legado hist rico ainda est a vivo e pulsando Surgiram no Engenho Galileia em Vit ria de Santo Ant o em 1 de janeiro de 1955 e foram extintas logo ap s o golpe militar de mar o de 1964 Em 9 anos de exist ncia conseguiram levar o campon s para a sala de estar da pol tica nacional a reivindica o de reforma agr ria conseguiu assento na agenda de prioridades do Brasil e tornou se o principalitem das Reformas de Base idealizadas pelo governo Jo o Goulart SANTIAGO 2015 Ao discursar em Belo Horizonte durante o 1 Congresso Nacional de Lavradores e Trabalhadores Agr colas em novembro de 1961 Francisco Juli o disse uma c lebre frase muito utilizada pelo MST anos mais tarde A
63. estudo na escola e outro com a fam lia Tinha como prop sito a inser o dos saberes da agricultura francesa no universo dos estudos escolares As fam lias organiza o camponesa e os dirigentes sindicais e religiosos compunham a gest o colegiada destas escolas Ibid p 1177 121 Modelo semelhante existe no Brasil desde a d cada de 1960 e s o chamadas de Escolas Fam lias Agr colas EFA s sendo muito presente no estado de Minas Gerais A proposta de altern ncia foi incorporada pelo MST no in cio da luta pelo direito educa o dos jovens e adultos altern ncia nos tempos de estudos para viabilizar a participa o dos militantes do Movimento na escola e tamb m na luta e nas atividades produtivas CALDART 2004 NASCIMENTO 2012 n o demandando 200 dias letivos ou quase todo o ano civil para a finaliza o de um ano escolar No MST a altern ncia brota do desejo de n o cortar ra zes ela permite uma troca de conhecimentos e o fortalecimento dos la os familiares e do v nculo dos educandos com o assentamento ou acampamento o MSTe a terra MST 1999 p 204 No caso dos cursos superiores retomando aos primeiros desenvolvidos pelo PRONERA a Pedagogia da Terra volta se principalmente aos professores e professoras em atua o nas escolas dos assentamentos e acampamentos portanto tamb m assume esse car ter pragm tico de garantir a participa o destes no curso sem comprometer a continuidade do tra
64. experi ncia rica para promover aproxima es entre diferentes tipos de racionalidades diferentes discursividades Compartilhamos da ideia de que s O povo com seus mitos cren as incongru ncias e tamb m com suas racionalidades diversas com seus sabores da experi ncia e da imagina o seus saberes diversos e seus n o saberes diversos na mesma medida pode controlar as desmesuras do poder Povo aqui entendido como fluxo comunicativo de anseios sonhos e necessidades construindo se a cada instante e de novo e de novo como um coletivo que se reinventa nas pr ticas discursivas e na a o comprometida com a vida na medida em que desmascara as dicotomias que a raz o moderna instituiu CASTRO LIMA PAULA 2010 p 24 Muitos autores t m discutido que as aulas e os materiais did ticos do campo ainda se organizam com base nos curr culos urbanos o que um problema para a Educa o do Campo BARROS 2009 MATOS et al 2012 por apresentarem principalmente uma vis o de vida e desenvolvimento destoando da realidade dos alunos do campo MATOS et al 2012 p 1 Perassoh Corr a e Vieira 2009 p 2 discutem que um dos desafios em ensinar ci ncias aos sujeitos do campo reside na dificuldade de transposi o did tica do conhecimento cient fico para uma linguagem significativa ao educando ou seja ensinar ci ncias relacionando os conceitos vida Por m os conte dos de Ci ncias F sica Qu mica e Biologia est
65. fam lias e estruturas no espa o geogr fico do assentamento assim como da regulariza o ambiental da rea defini o das reas de preserva o permanente e de Reserva Legal para abrigo da fauna e flora locais Destacam se outros produtos inclu dos no PDA tais como o planejamento do programa de produ o agropecu ria visualiza o e planejamento da aplica o dos primeiros cr ditos governamentais destinados ao p blico da Reforma Agr ria defini o das estruturas coletivas do assentamento entre outros sonhos e desejos das fam lias para o local Estando nesta equipe de PDA t nhamos que desenvolver o trabalho em aproximadamente seis ou sete assentamentos situados na regi o noroeste do estado nas redondezas dos munic pios de Una e Paracatu principalmente Destes assentamentos dois eram organizados pelo MST do Distrito Federal J n o lembro mais os nomes de todos os assentamentos Os trabalhos iniciaram e quando chegou o momento do trabalho nos assentamentos do MST n s da Universidade n o fomos autorizados pelo MST a fazer o PDA nestas reas Esta situa o de n o sermos autorizados entenda se confi veis a fazer o diagn stico e planejamento dos assentamentos do MST no noroeste de Minas Gerais me deixou muito curiosa naquela ocasi o O que haveria l dentro de diferente ou de incomunic vel para n s da Universidade Por que n o poder amos entrar para simplesmente fazer o nos
66. gente vai ver que muitos erros cometidos por n s sejam nas cidades ou em v rios outros locais porque n s n o levamos em conta a hist ria Isso d pra gente informa es importantes _ aquilo que eu falei antes da hist ria por exemplo se tivesse levado em conta a hist ria era t o simples s levar em conta o conhecimento dos ndios E n o podiam faltar conselhos sobre esta quest o 148 _ Ent o esse neg cio da hist ria tem muito a dizer para n s e s vezes n s negamos a pr pria hist ria nossa E assim Francisco contava hist rias suas e as que contaram pra ele tamb m n o se limitando apenas a hist rias locais como quando falou que 40 das casas constru das no Planeta s o constru das com t cnicas que utilizam terra _ Quem que conhece o M xico Antes de eu passar essas imagens para voc s voc s devem ter ouvido muito isso na hist ria No M xico teve alguns povos que viviam l os Maias e os Astecas e os Incas eu acho que tamb m Ent o hoje a Cidade do M xico que seria a capital do M xico morar l mais ou menos assim uma montanha depois outra montanha A Cidade do M xico est nesta rea aqui s que esta rea aqui uma rea enorme muito grande porque a Cidade do M xico uma cidade grande n o sei talvez como S o Paulo e ela est em cima ou dentro de uma montanha Antes de se construir a cidade como que vivia esse povo l no M xico Essa parte aqui ela pra
67. ieppecpb2011 xpg uol com br conteudo G Ts GT 20 2008 21 pdf gt Acesso em 02 jan 2015 AMORIM M O pesquisador e seuoutro Bakhtin nas ci ncias humanas S o Paulo Musa Editora 2001 304 p AMORIM M Cronotopo e exotopia In BRAIT B Org Bakhtin outros conceitos chave S o Paulo Contexto 2006 p 95 114 ANTUNES ROCHA M I Desafios e perspectivas na forma o de educadores reflex es a partir do curso de Licenciatura em Educa o do Campo desenvolvido na FAF UFMG In SOARES L org Converg ncias e tens es no campo da forma o e do trabalho docente Belo Horizonte Aut ntica 2010 ANTUNES ROCHA M I Licenciatura em Educa o do Campo hist rico e projeto pol tico pedag gico In ANTUNES ROCHA M I MARTINS A A Org Educa o do Campo 182 desafios para a forma o de professores 2 ed Cole o Caminhos da Educa o do Campo v 1 Belo Horizonte Aut ntica Editora 2011 p 39 55 ANTUNES ROCHA M I MARTINS M F A Tempo Escola e Tempo Comunidade territ rios educativos na Educa o do Campo In In ANTUNES ROCHA M I MARTINS M F A MARTINS A A Org Territ rios educativos na Educa o do Campo escola comunidade e movimentos sociais Cole o Caminhos da Educa o do Campo v 5 Belo Horizonte Aut ntica Editora 2012 p 21 33 ARROYO M G FERNANDES B M A educa o b sica e o movimento social do campo Articula o Nacional por uma Educa o B
68. inter e transdisciplinar conforme indica es de Antunes Rocha e Martins 2011 Assim ao iniciarem o TC os educandos e educandas possu am um conjunto de tarefas que pouco se comunicava entre si muito menos ainda com o contexto de atua o e da vida no campo As 7 Outras discuss es sobre Investiga o Narrativa est o desenvolvidas na sess o 2 1 2 deste texto 8 Esta dist ncia foi argumento arrolado contra a oferta do curso pela FaF UFMG quando de sua cria o Acreditava se que era preciso produzir e acumular conhecimentos em uma perspectiva mais antropol gica para depois criar essa Licenciatura desvelando um modo tipicamente do mundo acad mico em que o conhecimento deve anteceder a experi ncia como se durante a experi ncia de oferta do curso n o se pudesse produzir os conhecimentos necess rios a sua pr pria execu o 35 atividades orientadas do TC eram muitas vezes um tipo de ensino dist ncia de qualidade inferior designa es de leituras sem media es antecipadamente e intencionalmente planejadas diagn sticos e interven es que pouco colocavam em di logo os saberes ali presentes e os que estavam sendo constru dos em conson ncia com os aprendizados na Universidade Pelo contr rio acabavam por reproduzir um modelo de campo como campo de pesquisa como fonte de dados para os trabalhos acad micos sem na pr tica conseguir superar a perspectiva de que a escola lugar da teoria e a comunidade luga
69. is nesta hist ria tese Sobre este g nero de pesquisa e escrita narrativa e a reflex o sobre a pr pria pr tica Cruz 2012 afirma que Existe um debate recorrente nos meios acad micos sobre a produ o do conhecimento cient fico e sobre o que significa ou n o fazer pesquisa A dist ncia entre o pesquisador e seu objeto costuma ser uma recomenda o de praxe para resguardar o car ter de cientifcidade e se constituir como conhecimento generaliz vel e confi vel CRUZ 2012 p 59 2 A escolha da investiga o narrativa no entanto condizente com a pesquisa nas Ci ncias Humanas uma vez que faz emergir as experi ncias dos sujeitos da hist ria suas viv ncias a polifonia da vida humana A pesquisa em Ci ncias Humanas pode ser entendida enquanto texto que se produz sempre como intertexto uma vez que pesquisador e sujeito da pesquisa est o em condi o de intersubjetividade onde necessariamente n o h eu que n o se constitua na rela o com um tu AMORIM 2001 p 89 grifos da autora Atrav s da pol mica e da discuss o de ideias o g nero cient fico participa de uma rela o alterit ria do tipo dial gico Nas ci ncias naturais e matem ticas entretanto essa rela o restringe se ao processo de pesquisa mas n o concerne ao conte do objetal propriamente dito uma vez que o objeto dessas ci ncias um objeto mudo Bakhtin formula o objeto das ci ncias humanas como sendo de outra natureza tal ob
70. l gico cient fico e de pensamento ou modo narrativo Nossa op o seguir a esse autor que n o trata um e outro modo por oposi o ou pela nega o ou falta em um em rela o ao outro Mota Prado e Pina 2008 p 127 com base em Fiorentini e colaboradores 1998 e Geraldi 2003 distinguem conhecimento e saber da seguinte maneira 52 o conhecimento corresponde a uma produ o cient fica sistematizada e acumulada historicamente com regras mais rigorosas de valida o tradicionalmente aceitas pela academia J o saber consiste numa forma de conhecer saber mais din mica menos sistematizada que incorporam de maneira mais evidente as pr ticas as experi ncias e os fazeres produzidos pelos professores no ato do seu trabalho MOTA PRADO PINA 2008 p 127 os conhecimentos s o constitu dos pelas disciplinas cient ficas por seus m todos de pesquisa seus resultados e fracassos seus caminhos n o lineares mas que v o contribuindo para a emerg ncia de um corpus de conhecimento que vai sendo sistematizado e acumulado ao longo da hist ria compondo uma das dimens es da heran a cultural Quanto outra dimens o da heran a cultural os saberes Geraldi os define enquanto um conjunto de pr ticas sociais que n o chegam sistematiza o mas orientam nossos ju zos e muitas de nossas a es cotidianas Deste modo enquanto o saber 2 produto das pr ticas sociais o conhecimento a
71. locais que foram constru das cisternas tamb m Eu n o constru ainda mas j est no meu projeto no meu design da minha moradia cisterna de placa para capta o de gua da chuva _ Como ainda s o recentes os cursos que eu fiz em Permacultura os conhecimentos que adquiri eu posso at dizer que meio contradit rio mas eu tenho quase mais pr tica de Permacultura ensinando as pessoas do que propriamente desenvolvendo l no meu lote Eu desenvolvi algumas coisas l s que eu tamb m aprendi Porque s vezes a gente recebe uma carga do conte do dessa e fica querendo revolucionar tudo s que da eu aprendi uma coisa de Permacultura que muito importante Nesse caso a gente n o pode radicalizar muito porque se radicalizar a gente corre o risco depois de n o querer nem mais ouvir falar de Permacultura Para suas aulas e pr ticas de Permacultura Francisco utiliza como base um conjunto de materiais a maior parte deles em formato digital e cartilhas que ganhou quando fez o curso PDC Francisco utiliza tamb m alguns materiais do s tio eletr nico Permacoletivo entretanto tem dificuldades de acesso internet que ainda funciona precariamente no Assentamento em que reside 3 4 DES JENCONTRO DE EDUCADORES E SEUS MUNDOS ENTRE O EU E O OUTRO No finzinho de agosto de 2012 em um ambiente bem mais frio em termos de temperatura ambiente que o de costume tive a oportunidade de me encontrar pela primeira
72. logo dialogia Boaventura de Sousa Santos tamb m se faz presente neste texto com as suas epistemologias dos saberes Antes de seguir com as narrativas constru das faz se necess rio discutir um pouco sobre este g nero discursivo e sua import ncia na constitui o do sujeito hist rico e nas pesquisas em Educa o 2 1 2 INVESTIGA O NARRATIVA AS NARRATIVAS NA CONSTITUI O DO SUJEITO E DO OUTRO Podemos ir mais longe e perguntar se a rela o entre o narrador e sua mat ria a vida humana n o seria ela pr pria uma rela o artesanal N o seria sua tarefa trabalhar a mat ria prima da experi ncia a sua e a dos outros transformando a num produto s lido til e nico Walter Benjamin 1994 p 221 Nos ltimos anos a utiliza o de investiga es narrativas tem sido uma op o crescente na rea de Educa o sobretudo em estudos sobre forma o e atua o de professores MENEGA O 2004 CUNHA 2009 OLIVEIRA amp PEZZATO 2010 MARQUESIN amp NACARATO 2011 CRUZ 2012 PRADO FERREIRA FERNANDES 2011 etc A pesquisa narrativa oportuniza aos docentes um mergulho interior proporcionado n o apenas pela investiga o da pr pria pr tica mas sobretudo por suas lembran as e experi ncias formadoras refletindo de maneira consciente sobre os acontecimentos que realmente contribu ram para sua forma o pessoal e profissional CUNHA 2009 p 1 Antes de discutir as contribui es da pesquis
73. minhas mem rias de aula recaindo principalmente nos conte dos selecionados Cheguei inclusive a construir e apresentar na vers o do texto de qualifica o um quadro comparativo da condu o de nossas aulas apontando os conte dos conceituais procedimentais e atitudinais de ambas as aulas Por m agora que percebo e voc ler na narrativa da aula e na discuss o posterior principalmente que a diferen a central entre as duas aulas est na experi ncia e n o nos conte dos de ci ncias consagrados nos curr culos de forma o de professores E n o falo de experi ncia docente mas do saber da experi ncia que cada um de n s levou para aquela aula Se de fato como j apontado o caminho se faz ao caminhar foi ap s muitas leituras e um olhar mais profundo para os dados que alcan o com minhas orientadoras um 39 arredondamento do objetivo final desta tese ou seja compreender os discursos t cnico cient ficos e aqueles que emergem dos saberes da experi ncia indiciar sentidos em circula o no ensino de Permacultura no MST e tirar li es para a minha pr tica como professora da Educa o do Campo Ressalto que estudar os saberes que circulam em um espa o de forma o do MST demanda um tipo de pesquisa que privilegie uma investiga o militante e engajada de forma a possibilitar um melhor entendimento do local em que se atua no meu caso tanto o MST quanto a academia visando transforma o da realidade soc
74. o 2 outro semelhante ou dessemelhante mas afirmar a diversidade e que o outro irredut vel a mim e a ele mesmo e assim a minha identidade se forma AMORIM 2001 a rela o com a alteridade que fornece um acabamento sempre provis rio ao sujeito Esse acabamento vem de fora pois o outro que nos completa que v o que n o podemos ver assim como n s vemos no outro o que ele pr prio n o pode ver TEZZA 2007 p 240 Esta vis o exterior do sujeito pelo outro e vice versa estabelece um excedente de vis o e em uma viagem exot pica o sujeito volta o olar a si mesmo e buscar acabamento TEZZA 2007 BAKHTIN 2010a BATISTA PRADO PEREIRA 2013 Em s ntese o outro que me d unidade e acabamento TEZZA 2007 p 249 A cria o est tica expressa a diferen a e a tens o entre dois olhares entre dois pontos de vista Se tomamos o exemplo do retrato em pintura falaremos do olhar do retratado e do olhar do retratista ou artista O trabalho deste ltimo consiste em dois movimentos Primeiro o de tentar captar o olhar do outro de tentar entender o que o outro olha como o outro v Segundo de retornar ao seu lugar que necessariamente exterior viv ncia do retratado para sintetizar ou totalizar o que v de acordo com seus valores sua perspectiva sua problem tica O retratado aquele que vive cada instante de sua vida como inacabado como devir incessante Seu olhar est voltado para um horizo
75. o uma cidade que tem muito esse tipo de problema Isso aqui como est a cidade hoje e aqui mostra um pouco da polui o da cidade tamb m Olha o cara com barquinho nas Chinampas fazendo colheita Ent o aqui mais ou menos como come ou Voc s podem ver que aquela mancha maior em azul um lago e do lado aquela de amarelo a cidade e voc s percebem que aqui em volta tudo montanha Ent o a cidade cercada praticamente de montanha e a a cidade foi crescendo e voc s podem perceber que o amarelo vai aumentando indo pra cima d gua e hoje a Cidade do M xico E o que eles fizeram Colocaram uma bomba gigantesca pra puxar a gua do lado pra evitar os problemas de alagamento na cidade Ent o uma solu o muito complexa e exagerada que com certeza deve ter tido um custo muito alto pra poder tirar a gua dali e mesmo assim n o resolveu o problema Quantos s culos o povo da poca viveu l sem ter esses tipos de problema Ent o o que na poca parecia ser um problema era um potencial e agora com a evolu o a gente deveria potencializar mais isso e n s fizemos ao contr rio transformamos aquilo que j era uma solu o em problema Ent o esse um exemplo que se repete muito de coisas que s o bvias as solu es e acaba se transformando em problema Conseguiram compreender Quanto detalhe Quanta informa o Teria Francisco ido ao M xico ver essas coisas Educador e educandos trouxeram muitas vezes
76. o conhecia nada de Permacultura Ent o o que eu fiz Eu juntei todas as guas do banheiro joguei no mesmo cano e as guas caem tudo num cano s A depois eu descobri que se eu separar a gua do vaso a quantidade de gua que vou t contaminando com as fezes bem menor ent o a quantidade de gua que vai ter que ter um tratamento mais eficiente bem pouca outra gua tipo a 50 O MST incentiva o desenvolvimento de grupos coletivos de trabalho produtivo a fim de maximizar a utiliza o da rea produtiva melhor organizar o trabalho e promover o cooperativismo No caso se referia a grupos de fam lias no desenvolvimento de hortas coletivas no Assentamento que reside 147 gua do chuveiro a gua da pia o tratamento dela bem mais simples porque n o vai ter contamina o Ent o pra que eu vou tirar elas juntas Eu vou separar Se eu n o vou fazer um banheiro seco ou um banheiro mais diferenciado pelo menos o m nimo eu posso fazer que separar as guas dali de dentro da casa Certa hora assim explicou sobre a tal setoriza o na Permacultura _ Como eu j analisei os setores j sei de onde t vindo o vento frio Se o frio vem desse lado significa que quanto mais janela eu colocar aqui mais frio eu vou ter na casa mesmo que a janela permane a fechada Por exemplo uma janela de vidro passa 20 vezes mais o frio do que uma parede feita de tijolo com terra Ent o voc v o vidro ele n o isola transf
77. o em assentamentos rurais O PDA uma exig ncia legal para a cria o instala o de um novo projeto de assentamento de Reforma Agr ria do Instituto Nacional de Coloniza o e Reforma Agr ria INCRA Atualmente uma demanda contratada juntamente com os servi os de Assist ncia T cnica O PDA baseado em uma constru o coletiva com as fam lias assentadas um documento fundamental para orientar a organiza o do espa o do projeto de assentamento e as atividades produtivas a serem desenvolvidas pelas fam lias agricultoras no local A partir de um diagn stico das condi es f sicas socioecon micas culturais e estruturais bem como dos sistemas produtivos sobretudo os agr colas e dos servi os sociais b sicos constru do um plano de a o para o desenvolvimento sustent vel daquele assentamento que se inicia Dentro deste plano de a o um dos produtos principais do PDA a elabora o da proposta de 21 A assist ncia t cnica dos assentamentos n o realizada pelo INCRA Instituto Nacional de Coloniza o e Reforma Agr ria autarquia do Minist rio do Desenvolvimento Agr rio respons vel pela cria o manuten o e emancipa o dos assentamentos rurais brasileiros sendo ent o estabelecidos conv nios com outras entidades associa es cooperativas etc que s o terceirizadas para a realiza o do servi o 82 anteprojeto de parcelamento do territ rio ou seja a proposta da distribui o das
78. o intrinsicamente presentes no cotidiano das pessoas da cidade e do campo talvez o problema resida mais no enfoque e nas estrat gias que tem privilegiado a memoriza o e as avalia es nacionais do que a contextualiza o e aproxima o dos conte dos Lima e Freixo 2011 afirmam que os estudantes do campo v m para as aulas de ci ncias carregados de conhecimentos acerca da natureza em geral provenientes das suas rela es pr prias com a natureza seja por curiosidade ou necessidade O trabalho com temas geradores e de temas com problem ticas da comunidade como as ambientais s o possibilidades interessantes para a abordagem de conte dos de ci ncias no 129 campo como forma de agregar outras disciplinas distintas abordagens e os saberes pr prios da lida na ro a PERASSOLI CORR A VIEIRA 2009 LINDEMANN 2010 MATOS et al 2012 Uma alternativa para a contextualiza o da ci ncia para a educa o do campo a aplica o de ideias defendidas pelo pluralismo epistemol gico O pluralismo epistemol gico defende que o ensino de ci ncias deve contemplar os diferentes saberes produzidos nas mais diversas culturas sendo ensinados conjuntamente na escola explicitando que os saberes populares e os cient ficos t m a mesma import ncia e que um n o exclui o outro Contudo importante explicitar que eles s o diferentes deixando claro o dom nio epistemol gico de cada conhecimento atrav s do di logo em sala de a
79. o pr prio homem e por isso encontra se ligada tecnologia ao ponto de n o discernir dela O conhecimento cient fico nesse contexto serviu como pilar de sustenta o ao sistema capitalista dado que assegurou o desenvolvimento de t cnicas de absor o de apropria o e de transforma o dos recursos naturais para a produ o de bens de consumo SILVA 2010 p 42 De acordo com Bruner 1998 a ci ncia moderna orienta se dentro do modo paradigm tico ou l gico cient fco de pensamento Este modo paradigm tico baseia se na argumenta o visando postular verdades objetivas provas formais e emp ricas dentro de determinados procedimentos e m todos de investiga o em um sistema formal e matem tico de descri o e explica o A grosso modo o modo l gico cient fico trata de causas gen ricas de seu estabelecimento e faz uso de procedimentos para assegurar a refer ncia comprov vel e testar a veracidade emp rica Sua linguagem regulada por necessidades de consist ncia e de n o contradi o Seu 59 dom nio defindo n o apenas por elementos observ veis aos quais suas afirma es b sicas se referem mas tamb m pelo conjunto de mundos poss veis que podem ser gerados logicamente e testados contra os elementos observ veis ou seja conduzido por hip teses fundamentadas BRUNER 1998 p 14 Neste modo paradigm tico busca se uma forma precisa para se chegar a uma verdade que supostamente
80. o que ensina como comumente ocorre comigo em minhas aulas ele tem o que contar a partir do que lhe aconteceu LARROSA 2002 na experi ncia permacultural nos espa os de moradia e de inser o pol tica em outros espa os Muito do que aconteceu com ele esteve a servi o das suas narrativas ao inv s de estar a servi o da informa o BENJAMIN 1994 Nas aulas de Ci ncias normalmente eu n o conto hist rias estou sempre preocupada e pressionada pelo tempo pela necessidade de vencer o conte do programado havendo pouca abertura para narrativas E olha que o cerne de minha preocupa o com o aprendizado e n o em esgotar o livro did tico adotado Em minha proposta de aula de Permacultura que serviu de par metro para a aula observada e mesmo na minha mem ria de tantas aulas que dei sobre o mesmo assunto a pobreza de minhas experi ncias se reflete na quase aus ncia de hist rias narradas e no recorrente uso de exemplos gen ricos de pr ticas e propostas permaculturais de terceiros Eu falo sobre Permacultura enquanto Francisco fala por meio dela Em minha aula que julgo bastante dialogada o di logo n o est baseado no que me aconteceu mas em situa es hipot ticas ainda que bem adequadas ao universo do campo que conhe o como militante e como professora Ao discutir sobre as muitas possibilidades de constru o utilizando a terra como mat ria prima Francisco trouxe para a aula a sua primeira experi ncia de utiliza o de
81. para a Educa o do Campo quem sabe contribuindo na Licenciatura e em outros cursos para com os sujeitos do campo S o li es que v o para quem as quiser ou puder aprender com elas Os saberes que emergem da experi ncia da vida de Francisco remetem a hist rias vividas ouvidas e compartilhadas de diferentes modos e lugares Na aula de Francisco o g nero predominante o narrativo Narra a sua experi ncia de vida como agricultor militante professor marcada pol ica e ideologicamente por uma identifica o entre os sujeitos que compartilham modos de viver e de pensar o mundo O saber produzido pela experi ncia intransfer vel pois ela feita pelos sujeitos singulares e n o podemos viver a vida de outrem todavia ouvir a sua narrativa tamb m uma experi ncia E pela narrativa que os saberes das experi ncias s o transmitidos A cada vez que o sujeito narra uma experi ncia o ouvinte vive a experi ncia da escuta da narrativa E por meio dessa experi ncia ele tem acesso ao saber que o outro elaborou Assim compreendemos a transmiss o do saber da experi ncia pela narrativa Se n o houvesse essa experi ncia partilhada pela narrativa n o existiria conhecimento popular e a imensa riqueza de saberes produzidos a partir das pr ticas sociais CAMPOS 2014 p 44 Concordo com Bakhtin nos seus estudos sobre a cultura popular em Rabelais e com Ginzburg sobre o moleiro Menocchio flagrei um movimento de infiltra o d
82. pesquisadora virei militante e profissional neste Movimento O caminho convencional das pessoas se inserrem no MST em fun o da necessidade de terra para produzir sua pr pria exist ncia a principal porta de entrada no Movimento mesmo a luta pela terra Entretanto h pessoas que se inserem n o pela necessidade de garantia das condi es b sicas mas por op o de espa o para atua o militante tentando fazer da sua vida e trajet ria profissional uma possibilidade de a o para a transforma o social Este foi o meu caminho Desde 2004 fa o parte da estrutura organizativa do MST intercalando per odos de total envolvimento al m de militante desenvolver um trabalho profissional nesta organiza o na assist ncia t cnica social ambiental e produtiva s fam lias e envolvimento apenas como militante tendo tamb m uma atua o profissional para al m do MST como professora em escolas urbanas por exemplo Mas importante saber como isso come ou e como chego at aqui mais uma vez procurando compreender o MST e contribuir para o avan o do Movimento e de suas conquistas H uma terceira pesquisa a ser relatada Remonta ao per odo de 2006 e 2008 entre o mestrado e o doutorado Foi quando cursei a especializa o em Agroecologia e Desenvolvimento Sustent vel beneficiada por uma vaga destinada a militantes do MST pelo Centro Federal de Educa o Tecnol gica de Rio Pomba CEFET RP Mais uma vez os sujeitos da pes
83. por fam lias em ocupa es desde 2005 Sobre o local de ocorr ncia dessas ocupa es o MST o mais territorializado com a es em quase todos os estados DATALUTA 2013 p 6 O segundo objetivo do MST de lutar pela Reforma Agr ria est relacionado ao comprometimento com as fam lias j beneficiadas legalmente assentadas Ou seja ao identificar que a conquista de um lote de terra insuficiente para resolver todos os problemas da fam lia incorporou se a luta por pol ticas p blicas e projetos governamentais que viabilizassem melhores condi es de vida e de trabalho para os sujeitos que moram no campo um espa o historicamente carente da assist ncia do Estado A Reforma Agr ria precisa assegurar que as fam lias assentadas sejam atendidas nas suas necessidades mais elementares e que tamb m s o seus direitos tais como acesso escola assist ncia m dica transporte energia el trica gua encanada assist ncia t cnica financiamentos dos seus projetos etc na sua comunidade Assim esse objetivo orienta as fam lias para as reivindica es dos direitos que extrapolam a luta especificamente pela posse da terra assumindo uma dimens o maior em busca de qualidade de vida melhor para os trabalhadores e trabalhadoras O terceiro objetivo do MST a luta pela transforma o social se refere s mudan as mais profundas que precisam ser feitas na sociedade Aqui est contida a ideia de revolu o Tal como a luta pel
84. pr prio MST mas j foi educador de um curso espec fico de Permacultura voltado para assentados as do MST no seu estado Este curso ocorreu em 2011 e fora dividido em quatro etapas sendo a primeira te rica e as demais pr ticas _ A partir do curso que eu fiz em Botucatu n s iniciamos aqui na Escola uma experi ncia assim fizemos uma turma de 30 educandos de Permacultura educandos do Estado dos assentamentos mais pr ximos Al m deste curso para assentados as na pr pria EA Francisco conta j ter ministrado v rios cursos de Permacultura em outros centros de forma o do MST no estado assim como diretamente em acampamentos e assentamentos Tamb m ministrou oficinas neste tema em mais de uma edi o da Jornada de Agroecologia _ Eu j apresentei v rias oficinas de Permacultura na Jornada de Agroecologia mas com algumas t cnicas mais focadas Teve uma Jornada que eu dei uma oficina de cisterna outra de saneamento b sico Na ltima Jornada eu n o fui mas na pen ltima a que foi mais focado na quest o da Permacultura mesmo Em muitos dos cursos e oficinas que ministrou tentou desenvolver atividades pr ticas principalmente relacionadas constru o _ Esses dias a gente fez um trabalho com a crian ada da Escola Municipal de seu Assentamento que foi muito bom foi de saneamento tamb m Fizemos l um c rculo de bananeira at expliquei pra eles como o c rculo de bananeira que um tratamento simples de e
85. pr ticas dispersas que respondem s condi es ecol gicas econ micas t cnicas e culturais de cada geografia e de cada popula o Estes saberes e estas pr ticas n o se unificam em torno de uma ci ncia as condi es hist ricas de sua produ o est o articuladas em diferentes n veis de produ o te rica e de a o pol tica que abrem o caminho para a aplica o de seus m todos e para a implementa o de suas propostas Os saberes agroecol gicos se foram na interface entre as cosmovis es teorias e pr ticas A Agroecologia como rea o aos modelos agr colas depredadores se configura atrav s de um novo campo de saberes pr ticos para uma agricultura mais sustent vel orientada ao bem comum e ao equil brio ecol gico do planeta e como uma ferramenta para a autosubsist ncia e a seguran a alimentar das comunidades rurais LEFF 2002 p 37 Muitos movimentos sociais de luta pela terra como o MST consideram a Agroecologia como organizadora da sua matriz produtiva sendo esta conforme Barcellos 134 2010 apontada como alternativa de viabiliza o socioambiental e econ mica para as fam lias assentadas Alguns documentos do MST nos ltimos anos t m destacado a ado o da Agroecologia no processo de desenvolvimento produtivo dos assentamentos de Reforma Agr ria No mbito do MST a Agroecologia tamb m percebida como uma ci ncia que se prop e a promover um di logo entre diversas correntes de pensame
86. procurei dar continuidade aos meus estudos Fui ent o no in cio de 2003 aprovada na primeira turma do Programa de P s Gradua o em Ci ncias da Sa de no Centro de Pesquisas Ren Rachou CPgRR da Fiocruz MG Estava ent o de volta para casa Devido aos meus interesses anteriores na rea de Educa o escolhi a linha de pesquisa Educa o e Sa de dentro da nfase em Sa de Coletiva Desde a entrevista para a sele o no mestrado manifestei interesse em orientar minha pesquisa para o MST Seria uma possibilidade de compreender o que ocorria no interior do Movimento e o porqu da interdi o de elementos externos ao mesmo Queria conhecer o interior de suas reas suas pr ticas modos de compartilhar conhecimentos de se organizarem etc Vestida com a capa de mestranda a pesquisadora estaria ent o autorizada a entrar naquele espa o cruzar as fronteiras ou n o No decorrer de 2003 aliado aos estudos te ricos comecei a estabelecer contatos com o MST MG Em algumas idas sede f sica do MST em BH denominada de Secretaria Estadual do MST para conversar com alguns militantes do Movimento me foram indicadas pessoas para conversar mais a respeito do Setor de Sa de do MST Nesta ocasi o descobri que a regi o leste do estado que na organiza o territorial do MST denomina se Regi o Vale do Rio Doce nas proximidades de Governador Valadares poderia ser a mais promissora para meus estudos com foco na Educ
87. quanto nos saberes da experi ncia o que nos possibilita tirar li es dessa rela o para as Licenciaturas do Campo Vamos nos valer das concep es de Michel Foucault 1997 sobre conhecimento e saber pela nossa identifica o com a an lise que ele apresenta na Arqueologia do Saber a partir da cr tica de que essa distin o efeito de uma delimita o silenciosa que se imp s p 201 at ent o e pela sua preocupa o coincidente com a nossa com a quest o da domina o e da internaliza o de estruturas de poder mediadas por signos FOUCAULT 1997 Signos ideol gicos para o pensamento bakhtinano BAKHTIN 2006 A arqueologia uma forma de fazer hist ria que eleva tudo aquilo que as pessoas disseram e dizem ao estatuto de acontecimento O que foi dito instaura uma realidade discursiva e sendo o ser humano um ser discursivo criado ele mesmo pela linguagem a Arqueologia o m todo para desvendar como o homem constr i sua pr pria exist ncia Nesta l gica os sujeitos e objetos n o existem a priori s o constru dos 14 Mais informa es sobre exotopia excedente de vis o e acabamento conforme Bakhtin na sess o 2 2 3 1 50 discursivamente sobre o que se fala sobre eles GIACOMONI amp VARGAS 2010 p 122 Tal op o se justifica conforme Silva 2010 p 48 na ideia que a Arqueologia do Saber de Foucault nos permite mostrar as opacidades e os sil ncios produzidos pela ci ncia moderna conferindo c
88. que cuidar tamb m pra gente partir um pouco da realidade que j existe aqui Porque a gente pode at propor modifica o n o tem problema s que a gente nunca pode ignorar uma realidade que j existe ent o depois de coletar as informa es que a gente vai chegar conclus o se aquela realidade que existe ali aquilo que j t feito se precisa ser alterado modificado dentro de um plano de a o Os grupos foram para os respectivos espa os da Escola com papel e outros materiais em m os Ap s muitas discuss es inclusive com a assist ncia do educador em cada grupo foram colocando no papel o croqui com as propostas de modifica o dos espa os luz da Permacultura Enquanto ele se deslocava de grupo em grupo eu fazia o mesmo tentava decifrar o portunhol escutava as propostas trocava ideias registrava Na sequ ncia os grupos retornaram para a plen ria e fizeram a apresenta o do que foi discutido e proposto 156 E eu que n o consegui escrever nenhuma vez no meu fiel caderninho a Moral da Aula encontro na transcri o da aula as palavras de Francisco no fechamento do exerc cio do design permacultural _ O nosso principal objetivo era fazer com que voc s exercitassem um pouco aquilo que eu passei ontem pra voc s tentar exercitar e aliar isso com alguma poss vel pr tica para aprender Ao final da aula Francisco ainda quis ouvir mais um pouco os jovens _ Como voc s poderiam a partir do que n s estu
89. que essa d ensejo Tais aspectos variam continuamente decorrendo da que cada onda diferente de outra onda mas da mesma maneira verdade que cada onda igual a outra onda mesmo quando n o imediatamente cont gua ou sucessiva Nas suas observa es o senhor Palomar se convence que para compreender como uma onda feita preciso trazer presente o impulso em dire es opostas que promovem o balan o das ondas Para ajudar sua compreens o resolve ent o limitar o seu campo de observa o tendo um quadrado de digamos dez metros de praia por dez metros de mar pode levantar um invent rio de todos os movimentos de ondas que ali se repetem com frequ ncia variada dentro de um dado intervalo de tempo Quando ele acredita ter observado tudo o que poderia ver de seu ponto de observa o sempre ocorre alguma coisa que n o tinha levado em conta Prestar aten o em um aspecto faz com que este salte para o primeiro plano invadindo o quadro como em certos desenhos diante dos quais basta fecharmos os olhos e ao reabri los a perspectiva j mudou Assim pela pr pria caracter stica da onda a imagem que o senhor Palomar formou da mesma se perde com facilidade pena que a imagem que o senhor Palomar havia conseguido organizar com tanta min cia agora se desfigure se fragmente e se perca S conseguindo manter presentes todos os aspectos juntos ele poderia iniciar a segunda fase da opera o estender esse conhecimento a todo o
90. que viaja que tem muito a contar remete ao saber das terras distantes Segundo Gagnebin 1994 p 10 11 a arte de contar hist rias est cada vez mais rara na sociedade moderna pois quase j n o existem condi es da transmiss o de uma experi ncia no seu sentido pleno Para a autora luz de Walter Benjamin estas condi es est o relacionadas intera o narrador ouvinte intera o no sentido de narrar uma experi ncia que seja comum a ambos e ao n o isolamento das pessoas em seu mundo particular e privado e a disponibilidade de tempo das pessoas para ouvir e contar hist rias disponibilidade reduzida em fun o do ritmo acelerado da vida moderna O depauperamento da arte de contar parte portanto do decl nio de uma tradi o e de uma mem ria comuns que garantiam a exist ncia de uma experi ncia coletiva ligada a um trabalho e um tempo partilhados em um mesmo universo de pr tica e de linguagem GAGNEBIN 1994 p 11 A pobreza de experi ncia impele o sujeito a partir para frente a come ar de novo a contentar se com pouco sem olhar nem para a direita nem para a esquerda BENJAMIN 1994 p 116 46 O caminhar da narrativa para a extin o consolida se na raridade de pessoas que sabem narrar devidamente BENJAMIN 1994 p 197 Esta raridade resulta principalmente do excesso de informa o na sociedade capitalista moderna A informa o enquanto forma de comunica o estranha e amea adora
91. rio Com este professor ele realizou depois o PDC em fun o deste contato nas aulas e do seu interesse por Permacultura Pelo seu of cio e conhecimento na constru o civil pela motiva o da Escola em aprofundar suas pr ticas permaculturais e por sua curiosidade na rea Francisco foi um dos principais respons veis pela concretiza o de algumas pr ticas da Permacultura na EA Francisco participou de algumas oficinas e cursos de curta dura o sobre Permacultura e em 2010 fez o curso PDC que visa a forma o de novos permacultores em Botucatu SP _ Aqui na escola a gente sempre teve um sonho j tinha um pouco essa coisa da Agroecologia e j tinha um sonho depois de avan ar com a Permacultura E sempre desde o come o j estava escrito pra eu ir fazer um curso uma coisa assim a acabou surgindo as oportunidades Uma das coisas que talvez tenha demorado e at hoje eu acho que isso um problema que geralmente os cursos de Permacultura s o muito caros A EA viabilizou financeiramente a participa o de Francisco no PDC com apoio do Professor Tomaz Lotufo instrutor do curso que construiu uma proposta mais barata para o desenvolvimento do mesmo a fim de atender alguns militantes de movimentos sociais _ O curso que eu fiz O professor que organiza esse curso realmente o fez pra quem n o tem condi o de pagar ent o a inscri o dele bem barata acho que paguei na poca R 180 00 mais as despesas de
92. se trata de uma perspectiva hist rica trabalha contra o tempo ao produzir um efeito de sincronismo e contemporaneidade que ajuda a converter o estranho em familiar e o remoto em coevo SANTOS 2014 p 133 Naquela aula narrador educador e ouvintes educandos compartilhavam o mesmo universo militante da luta pela terra motivando a exist ncia de uma experi ncia coletiva e garantindo abertura arte de contar Segundo Benjamin 1994 a narrativa sempre para o outro dentro de uma experi ncia comum ao narrador e ao ouvinte por exemplo quando lembrou do sof aqui na Ciranda espa o que todos ali conheciam bem Os muitos exemplos ou contextos de assentamentos bem como as discuss es de tom mais pol tico como a dos biocombust veis oportunizaram o di logo Talvez este seja um tempo de purgar a desqualifica o apostamos tanto em nossos ideais de liberdade igualdade e fraternidade e tinhamos f no caminho do progresso como forma de sua concretiza o que esquecemos de compreender qualquer outra f qualquer outra ideia qualquer outra pessoa O mundo viu desaparecerem outros saberes tornou se pobre em narrativas e em narradores apequenou se no grande feito de desqualificar o diferente e mold lo imagem real e concreta de homem branco ocidental e europeizado GERALDI 2010a p 104 166 5 3 3 A PR TICA COMO CENTRALIDADE DA AULA A partir da utiliza o de conceitos cient ficos o agricultor Francis
93. seus desdobramentos em conte dos de Ci ncias da Vida e da Natureza correspondem a uma vers o escolarizada da ci ncia na academia 2 2 2 SABERES DA EXPERI NCIA E CONHECIMENTO CIENT FICO O que aproxima ou afasta a ci ncia moderna dos demais saberes da vida Como os saberes da experi ncia constru dos na produ o e reprodu o da vida no campo se 15 x s f E preciso lembrar que os cursos superiores da Educa o do Campo s o muito recentes e que diferentemente de outros tem curr culos e percursos pedag gicos muito diferentes daqueles tradicionalmente existentes 56 encontram confrontam com os conhecimentos cient ficos e os escolarizados Dicotomizar a diferen a destacar o que os aproxima e o que os diferencia de forma a entender como s o complementares Compreender outra cultura pressup e p r em rela o os sentidos que cada uma confere ao mundo por meio da linguagem LIMA amp GERALDI em fase de elabora o A dicotomiza o consiste em um exerc cio anal tico de reconhecer relacionar e confrontar modos de pensar de dizer e de viver assumir que existem campos com fronteiras mas n o significa uma concep o de exist ncia de lados opostos ou paralelos e incomunic veis A diferen a constitutiva dos seres humanos enquanto que as desigualdades s o produzidas ideologicamente com o objetivo de inferiorizar por nos posicionarmos contra uma indiferencia o redutora que consiste na un
94. sica do Campo Cole o Por uma Educa o B sica do Campo v 2 1999 AZEVEDO S D R Forma o discursiva e discurso em Michel Foucault Filogenese 6 n 2 2013 BAKHTIN M M Marxismo e filosofia da linguagem Trad M Lahud amp Y F Vieira 12 ed S o Paulo Ed HUCITEC 2006 203 p Est tica da cria o verbal Trad P Bezerra 5 ed S o Paulo Ed WMF Martins Fontes 2010a 476 p Quest es de literatura e de est tica A teoria do romance S o Paulo Hucitec 2010b Para uma filosofia do ato respons vel Trad V Miotelo amp C A Faraco S o Carlos Pedro amp Jo o Editores 2010c 155 p BARBOSA M V Aula um acontecimento constru do por m ltiplas a es de linguagem Linguagem amp Ensino Pelotas v 13 n 2 p 375 396 jul dez 2010 BARCELLOS S B A forma o do discurso da Agroecologia no MST 2010 140 f Disserta o Mestrado em Ci ncias Instituto de Ci ncias Humanas e Sociais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Serop dica 2010 BARCELLOS S B As iniciativas e experi ncias em agroecologia como estrat gia de desenvolvimento local em um assentamento de reforma agr ria Mundo Agr rio vol 12 n 23 2011 183 BARROS F B Ensino de Ci ncias em escolas multisseriadas do campo uma an lise dos Guias de Aprendizagem de Ci ncias do Programa Escola Ativa Revista Educa o em Quest o Natal v 35 n 21 p 146 181 maio ago 2009
95. social armado brasileiro entre sertanejos popula o cabocla e o governo ocorrido entre 1912 e 1916 tendo como centro de disputa a regulariza o de terras na regi o entre os estados de Santa Catarina e Paran O monge Jos Maria foi o l der mais conhecido contribuindo para a forma o de povoados onde se buscava igualdade social e autonomia Destes povoados nomeados de Contestado vem o nome do conflito AGECON 2011 CPDOC 2012 143 estudante da EJA Voc n o leu errado isso mesmo professor de Curso Superior e aluno da Educa o de Jovens e Adultos Todos e todas j se conhecem se chamam pelos nomes n o o primeiro encontro deles Eu sou a estranha O sil ncio e a aten o eram bem presentes entre os estudantes Poucos cochichos entre os mesmos e eles pr prios solicitavam a alguma dupla ou trio em conversa paralela que retomasse a aten o aula As falas eram quase sempre direcionadas ao professor e ao tema da aula Ningu m perguntando se j tinha feito a chamada O lugar j nos dizia o qu e o porqu de estarem ali e o qu vinham buscar O que ser mesmo que cada um buscava O que ser que aquele professor levava 5 2 NARRANDO COM O PROFESSOR A AULA DE PERMACULTURA MUITAS VOZES MUITAS HIST RIAS Francisco come a a aula querendo saber o que sabem sobre o tema que ali estavam para trabalhar Chamamos de levantamento dos conhecimentos pr vios Para ele necessidade de di logo Puxar uma prosa
96. sujeito O que Francisco demonstra ao ensinar uma pr tica docente cr tica que envolve o movimento din mico dial tico entre o fazer e o pensar sobre o fazer ibidem Os saberes mobilizados por Francisco referem se organicamente ao modo como conduz tamb m suas pr ticas no Assentamento e suas reflex es sobre estas Alia ao seu saber da experi ncia os conte dos conceituais procedimentais e atitudinais de base cient fica A aula na sua complexidade resulta de uma teoria e pr tica tecidas juntas como compreendido por Morin na sua teoria da complexidade Esse seu modo de compartilhar experi ncias no processo de ensino aprendizagem Normalmente em uma aula ou no processo de uma pesquisa acad mica percorremos o caminho teoria pr tica teoria No caso da aula aqui analisada Francisco caminha da sua pr tica para a teoria dos cursos e cartilhas retornando pr tica de um fazer outro Um novo balizado pela reflex o e viv ncia compartilhadas a partir da pr xis que ele constr i seus ensinamentos A pr xis implica a teoria como um conjunto de ideias capazes de interpretar um dado fen meno ou momento hist rico que num segundo momento leva a um novo enunciado em que o sujeito diz a sua palavra sobre o mundo e passa a agir para transformar esta mesma realidade ROSSATO 2010 p 325 A teoria para ele n o uma pris o n o vem para prescrever o que deve ser feito no assentamento a teoria princ pio ajuda na re
97. tijolo de solo cimento e destacou o erro cometido na funda o da moradia Para Bruner 1998 p 13 o modo narrativo busca condi es particulares prov veis entre dois eventos e assim j deu dica aos educandos e educandas caso invistam em algum tipo de constru o com base de terra da necessidade de uma funda o diferenciada Assim o que ele viveu no passado foi 164 revitalizado pelo presente ao recontar sua experi ncia e da extrair uma boa li o conforme discuss o de Almeida 2010 Santos 2014 p 135 discute que a narrativa n o uma repeti o verbal e literal das hist rias o seu prop sito encontra se na sua subst ncia e significados O que nico na narrativa a sua capacidade de descrever um acontecimento passado como se estivesse a decorrer no presente isto no momento em que expresso pela fala Francisco tamb m usa met foras e analogias como a ci ncia o faz Esse recurso permite evocar sentidos conhecidos e p los em rela o com os novos para construir entendimentos rec procos e abrir a possibilidade de surgimento de outros Usou a bota como met fora para falar da funda o da moradia ao dizer que assim como ao caminhar no barro muito comum no campo preciso proteger cal ar a base da resid ncia por onde a umidade sobe Como Francisco n o explica como se faz a bota posso pressupor a exist ncia de um conhecimento compartilhado ou n o sendo compartilhado isto demandaria um tempo ma
98. universo Bastaria n o perder a paci ncia coisa que n o tarda a acontecer O senhor Palomar afasta se ao longo da praia com os nervos tensos como havia chegado e ainda mais inseguro de tudo 160 Inspirada na leitura da onda feita pelo senhor Palomar passo a discutir aqui um pouco dos esfor os pessoais e coletivos de compreens o de como se d a circula o em torno das fronteiras culturais processo que venho apreendendo ao longo desta pesquisa Tenho clareza de que meus apontamentos n o correspondem a todo o universo das pr ticas pedag gicas mais especificamente ainda das pr ticas pedag gicas no campo muito menos a todo o universo da circularidade cultural e de compreens o de sua ocorr ncia Busco conforto no senhor Palomar para compartilhar muitas inseguran as decorrentes desta pesquisa Mesmo ao tentar sistematizar as movimenta es nas fronteiras considero ainda dif cil explicitar alguns conselhos para promover uma discuss o te rica acerca deles sem deixar de considerar que estes s o ensinamentos retirados de uma experi ncia espec fica singular e concreta e n o generaliz vel Resgatando Larrosa 2002 p 27 duas pessoas n o vivem a mesma experi ncia mesmo que enfrentem o mesmo acontecimento Este ent o o saber da minha experi ncia que n o pode ser separado do indiv duo concreto em quem encarna ibidem Depois de ler as transcri es da aula do educador e as anota es no meu caderno percebo a riqu
99. zoneamento permacultural n o apenas exemplifica as zonas representadas descritas como na cartilha que tem em m os mas enriquece a aula com elementos do que j viveu que conhece bem ao saber exatamente o lugar mais adequado para sugerir onde ficar a horta ou as vacas na proposta de organiza o do ambiente de assentamentos em zonas Diz ele Quando a gente tem uma horta somente pro consumo s vezes qualquer tempinho que sobra ali uns 20 minutos ou meia hora que sobra voc vai l d uma ligada na gua da horta e j consegue produzir um pouco de verdura pro teu consumo Assim assume a autoria daquilo que fala e tem como crit rio de verdade a experi ncia Vale destacar que os ensinamentos de Francisco n o se limitam apenas ao relato de suas experi ncias de suas pr ticas Se assim fosse poderia considerar ser possuidor de um saber de experi ncia feito FREIRE 2002 FREITAS 2010 O saber de experi ncia feito segundo Freire traduz a leitura de mundo dos educandos e deve ser tomado como ponto de 167 partida na rela o educador educandos entretanto isso n o significa ficar girando em torno desse saber mas requer super lo FREITAS 2010 p 365 Para Freire 2002 p 22 o saber que a pr tica docente espont nea ou quase espont nea desarmada indiscutivelmente produz um saber ing nuo um saber de experi ncia feito a que falta a rigorosidade met dica que caracteriza a curiosidade epistemol gica do
100. 0 p 117 118 200 AP NDICE 201 AP NDICE A ROTEIRO DA ENTREVISTA EDUCADOR DE PERMACULTURA 1 Dados de identifica o 2 Forma o ensino regular e forma o pol tica 3 V nculo como MST 4 Principais atividades j desenvolvidas no MST 5 Desde quando trabalha com Permacultura 6 Como aprendeu aprende Permacultura 7 O que l de Permacultura 8 Quais atividades relacionadas Permacultura j desenvolveu pr ticas e de ensino 9 Porque trabalhar a partir da Permacultura
101. 010c Com Vigotski 2010 e Bakhtin 2006 compreendemos que a linguagem muito mais que forma de comunica o constitutiva do pensamento Vale destacar que aproximar culturas pela linguagem n o significa simplesmente eliminar as diferen as de sintaxe entre grupos distintos ao simplificar ou rebuscar a fala e 13 sim aproximar palavras e ideias das realidades experenciadas pelos sujeitos problematizando as diferen as de significado pontuando a riqueza de sentidos e principalmente abrindo espa o para o di logo OSOWSKI 2010c Em Bakhtin entendemos que a polifonia a marca fundamental de alteridade AMORIM 2001 p 50 que pode promover esse tipo de aproxima o entre culturas Vou a Paulo Freire e Mikhail Bakhtin para compreender a no o de di logo Apesar de Paulo Freire utilizar o termo di logo e Bakhtin mais o termo dialogia para ambos adotar como postura o di logo dialogia aqui entendidos como sin nimos em rela o concep o destes dois autores implica compreender a rela o entre um eu e um tu mas isso n o quer dizer defender o consenso ou defender que todo o di logo se faz harmoniosamente Ao contr rio ambos os autores reconhecem que h pol mica h lutas de classes h interesses antag nicos entre as partes em di logo GERALDI 2003 p 50 Para al m da altern ncia de falas no di logo disputam se sentidos em um esfor o de p r estes sentidos e culturas em rela o buscando comp
102. 163 gt Acessado em 16 jan 2014 MST Nossa hist ria Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra 2013 Dispon vel em lt http ww w mst org br node 7702 gt Acessado em 16 jan 2014 MST A reforma agr ria al m de uma necessidade pol tica uma obriga o moral disse Papa Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra 2014 Dispon vel em lt http www mst org br node 16674 gt Acesso em 12 jan 2015 NASCIMENTO G W Educa o do MST e crise do paradigma moderno de ci ncia podem os povos do campo constitu rem se produtores coletivos de conhecimento In IV EPEPE ENCONTRO DE PESQUISA EDUCACIONAL EM PERNAMBUCO 2012 Caruaru Anais Caruaru UFPE 2012 Dispon vel em lt http www epepe com br EP EPE2012 IV Trabalhos 08 C 08 C8 144 pdf gt Acesso em 05 jan 2015 NETO A J M Educa o do MST In OLIVEIRA D A DUARTE A M C VIEIRA L M F Dicion rio trabalho profiss o e condi o docente Cd rom Belo Horizonte UFMGyFaculdade de Educa o 2010 OLIVEIRA G S P L PEZZATO J P A potencialidade da pesquisa narrativa para as investiga es sobre o ensino de geografia In IV SEMIN RIO INTERNACIONAL DE PESQUISA E ESTUDOS QUALITATIVOS Anais 2010 194 OLIVEIRA A A Forma o e trabalho no Movimento Sem Terra MST processos de resist ncia do campesinato 2014 Disserta o Mestrado em Educa o Faculdade de Educa o Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizont
103. 171 pensada e desenvolvida de forma a ser efetiva para todos os sujeitos incluindo aqueles historicamente exclu dos os analfabetos e analfabetos funcionais t o comuns no mbito dos assentamentos e nunca deixados de fora nos processos formativos do MST _A gente tenta trabalhar de forma que qualquer pessoa possa fazer A gente sabe da dificuldade que nossos camponeses tem e que a maioria deles nem estudo tem s vez mal sabe escrever ou nem escrever sabe Francisco se reflete e se refrata neste sujeito outro quando planeja a sua aula afinal tamb m estudante da EJA n o sendo totalmente letrado no universo escolar um campon s mas neste momento em posi o exot pica ao oferecer o excedente de vis o sobre o outro tamb m se completa Francisco n o prescreve mas acolhe e incentiva a diferen a por exemplo quando lembrou da aula desenvolvida em outra escola onde se dedicou escuta atenciosa e incorporou a fala de seus educandos no desenvolvimento da horta mandala a ser implantada _ Que tipo de mandala voc s querem fazer Eles foram l me mostraram a rea j colocaram um pouco das ideias que eles tinham da mandala E a o que n s fizemos Eu sugeri mais algumas coisas partimos daquela ideia que eles j tinham n o falei pra eles Olha essa ideia que voc s t m aqui n o serve vamos fazer essa outra aqui Assim o acabamento de sua aula vinha a partir do outro esta n o parecia ser uma idealiza
104. 2010b p 29 Considerando que a cultura ou culturas est sobre fronteiras no contato com a cultura do outro que a materialidade de dada cultura mostra sua significa o QUEIROZ 2013 p 68 Ou ainda uma cultura s se revela na sua completude pelo olhar de uma outra cultura AMORIM 2001 p 191 Para Queiroz 2013 p 69 a cultura apresenta uma rela o imediata com a palavra e na produ o de linguagem ou linguagens na intera o social que a cultura acontece se materializa se cria se mostra se multiplica ou seja a cultura est ligada linguagem concreta na vida ibidem e atrav s das intera es sociais dentre as quais a intera o verbal que nos inserimos na cultura e nos relacionamos com o outro A import ncia da palavra do logos neste processo salientada pelo pensamento bakhtiniano porque sobre toda intera o 70 social constru mos uma compreens o e esta se faz com palavras forma da tornar intraindividual o que interindividual Siqueira e colaboradores 2013 p 114 entendem a cultura como o resultado do trabalho e do desenvolvimento hist rico social de uma sociedade em um dado momento tem se a linguagem como dela indissoci vel pois ela que constitui organiza e intermedeia as rela es sociais Para Bakhtin a produtividade cultural do ser humano que nos permite ingressar na hist ria e esta a cultura se constr i dentro das condi es socioecon micas objetiva
105. 3 Historicamente os saberes s o referidos como hierarquicamente inferiores aos conhecimentos num expl cito confronto ideol gico Para enfrent lo optamos por discutir a natureza de cada um buscando elementos de car ter epistemol gico Colocamos sob suspeita a pretensa universalidade e verdade do conhecimento cient fico posto que este tem sua origem nos saberes mais amplos que desqual fica no mesmo passo em que descarta o conjunto das experi ncias sociais e culturais al m de desconsiderar outras alternativas epistemologicamente diferentes pr prias aos saberes da experi ncia tradi o Os saberes emergentes da experi ncia humana s o desqualificados pelos discursos hegem nicos e tomados como sendo de segunda categoria Tamb m n o tentaremos aqui promover uma redu o de um ao outro muito menos ainda sacralzar os conhecimentos da experi ncia mas tentaremos nos aprofundar no estabelecimento de diferen as entre eles como modos complementares MORIN 1979 SANTOS 2002 N o se trata de decretar a morte da institui o cient fica e edificar um altar para os saberes da tradi o ALMEIDA 2010 p 40 pois a reificac o e a sacraliza o dos saberes n o cient ficos uma atitude t o perigosa e simplista quanto o a sacraliza o da Ci ncia Ibid p 95 uma vez que homens e mulheres fazem uso dos dois modos de conceber o mundo e todo conhecimento cient fico gera ao mesmo tempo regi es imensas de sombra conforme Sant
106. AS DE PRODU O CONSUMO PENSAMENTO E VIDA Consideramos importante que a Educa o do Campo inclua outros paradigmas de desenvolvimento e de produ o sustent vel da vida ANTUNES ROCHA 2010 Uma das possibilidades a inclus o das discuss es de Agroecologia e de Permacultura O MST considera a Agroecologia como organizadora da sua matriz produtiva e tem desenvolvido algumas experi ncias de Permacultura em diversos assentamentos A pr tica da agricultura existe j h cerca de 10 000 anos quando os seres humanos come aram a abandonar a ca a e coleta de alimentos Entretanto a partir da segunda metade do s culo XX com o processo de industrializa o da produ o que o desenvolvimento tecnol gico da agricultura incorporou um conjunto de tecnologias ditas avan adas ou modernas com o objetivo de aumentar a produtividade e os lucros O aumento da produ o e da produtividade das atividades agropecu rias veio marcado pelo desenvolvimento de novas variedades de plantas do uso de agrot xicos sementes e variedades transg nicas fertilizantes sint ticos de alta solubilidade das grandes infraestruturas de irriga o do cultivo intensivo do solo das monoculturas etc A grande produtividade da agricultura agora j convencional que em alguns momentos se escondia atr s do discurso da necessidade de maior produ o de alimentos tende a minar a pr pria capacidade produtiva da terra e comprometer a produ o futura GLIES
107. Agroecologia EA uma escola da Via Campesina e a coordena o da mesma aceitou ap s diversos contatos virtuais e explica o da intencionalidade do estudo que esta pesquisa fosse ali desenvolvida A busca do espa o de forma o teve como crit rio essencial selecionar um espa o organizado pelo MST Entre os centros de forma o do MST e em outras escolas parceiras mas com atua o com p blico do MST que trabalham a Agroecologia foram levantadas quatro possibilidades indicadas por militantes do pr prio MST Dessas quatro a EA foi escolhida por ser a primeira a ter aulas de Permacultura em 2012 Ap s os primeiros contatos virtuais com a coordena o do Curso onde as aulas de Permacultura observadas ocorreram e um levantamento pr vio de informa es ao chegar EA veio a grande surpresa O educador respons vel por ensinar Permacultura Francisco n o se enquadrava no perfil para o qual a pesquisa estava sendo pensada Era um militante do MST n o tinha forma o acad mica vinha do assentamento onde praticava Permacultura Francisco estava ali para trabalhar um conte do de cunho pr tico pouco visto na academia e por ser um permacultor no MST poderia estar ali desenvolvendo uma pequena parte de uma disciplina Bioconstru es de responsabilidade de um professor de uma institui o de ensino superior Ele n o era o respons vel pela disciplina cabia a ele apenas a contribui o em um conte do espec fico J em camp
108. Atuo no Setor de Produ o Coopera o e Meio Ambiente SPCMA do MST desde 2004 Contribuo em diversas frentes principalmente na assist ncia t cnica social produtiva e ambiental s fam lias assentadas e em processos educativos em cursos formais e informais de escolariza o e de forma o t cnica para com os sujeitos dos acampamentos e assentamentos organizados pelo MST Essa inser o est relacionada tamb m minha trajet ria acad mica de aproxima o cient fica com as quest es do campo a partir de diferentes enfoques sa de matriz produtiva e educa o durante a gradua o especializa o mestrado e doutorado Dessa forma assumo o meu papel de narradora militante professora pesquisadora e educanda Face minha curiosidade e interesse pelo tema a escolha da Permacultura foi proposital Essa se aponta como um referente comum entre distintos dom nios tendo por defini o a discuss o e proposi o de uma forma de manejo e cuidado da vida que alia os saberes das comunidades do campo saberes da experi ncia aos conhecimentos das comunidades cient ficas conhecimento cient fico e tecnol gico no intuito de transformar os assentamentos humanos em locais sustent veis ou suficientes para a vida A Educa o do Campo tamb m se configura como um referente comum entre esses dom nios pois tem como um dos seus pilares a indissocia o entre conhecimento tradicional e o t cnico cient fico MENEZES NETO 2011 p
109. Bacharelado em Ci ncias Biol gicas pela UFV pude dar vaz o minha vontade profissional de direcionar meus trabalhos para as quest es sociais Tal vontade relaciona se aos muitos anos da adolesc ncia atuando no grupo de jovens da igreja cat lica em BH Portanto atribuo minha a o social e coletiva minha base espiritual de car ter religioso Eu queria trabalhar com ind genas mas muita gente me falou que para mulheres n o ndias trabalhar com ind genas n o muito f cil por ser uma sociedade ainda mais machista que a nossa Enfim Naquele ano me inscrevi no Programa Universidade Solid ria que estava enviando estudantes de diversas reas de forma o para Tef AM para realizar trabalhos junto s comunidades tradicionais da Reserva de Desenvolvimento Sustent vel de Mamirau Esse projeto acabou n o indo para frente Devido a esta oportunidade n o concretizada acabei conhecendo o professor Jos Roberto Pereira do Departamento de Economia Rural da UFV e em fun o deste contato fui convidada para fazer entrevista para composi o de uma equipe que desenvolveria alguns estudos t cnicos em assentamentos rurais da Reforma Agr ria no noroeste de Minas Felizmente fui selecionada para participar da equipe em constru o Iniciei ent o minha participa o na equipe de Plano de Desenvolvimento de Assentamentos PDA sendo uma equipe de trabalho composta por membros da UFV e da Universidade de Bras lia UnB com atua
110. Boff n s somos terra e vamos voltar a ser terra novamente Ent o as duas coisas se complementam Se n s vamos cuidar da terra j se inclui o cuidado com as pessoas 152 Entre um conceito e outro algumas pausas para animar a concentra o da turma novamente Por vezes cantavam umas m sicas outras vezes ele pr prio coordenava a pausa contando causos para descontra o da turma Numa delas Francisco contou a hist ria de dois irm os que moravam no s tio e s comiam ab bora e por serem analfabetos e n o entenderem o card pio acabaram comendo mais ab bora Outra hora fez uma din mica onde os as educandos deveriam bater com um dedo na palma da outra m o juntos depois dois dedos tr s dedos quatro dedos os cinco dedos ao final naquele barulho que parecia chuva disse que era uma alternativa para resolver o problema do Nordeste fez chover No barulho de tantos dedos juntos aludindo chuva todos riram descontraidamente E teve tamb m a historinha de um pesquisador que comprovou que a aranha fica surda depois que lhe arrancaram as patas _ Eu vou contar uma historinha pra voc s uma historinha que aconteceu aqui na escola talvez alguns j saibam mas n o d pra n o repetir J que voc s est o nessa fase a de trabalho de conclus o do curso tem que fazer pesquisa tem muito trabalho pra fazer Tiveram algumas turmas anteriores e um educando tinha que fazer uma pesquisa e o trabalho do curso
111. Comiss o Pastoral da Terra CPT no Rio de Janeiro a base material de produ o de tantos saberes Os saberes da experi ncia destas fam lias s o oriundos dos diversos trabalhos anteriormente realizados pelos trabalhadores saberes dos processos de ocupa o e assentamento da terra saberes apreendidos com as lideran as do MST e CPT saberes do processo de cria o da unidade de produ o associada E ainda que tais experi ncias podem se constituir como palco de produ o de saberes e pr ticas sociais que de alguma maneira se contraponham l gica do sistema capital Ibid p 4 Para Pereira et al 2014 o MST caracteriza se por suas Epistemologias da Terra em alus o s Epistemologias do Sul de Boaventura que se referem s alternativas de resist ncia ao modelo imperialista hegem nico e dominante entendido enquanto as diferentes formas de produzir saberes conhecimentos e pr ticas educativas associadas ao projeto pol tico mais amplo do MST Ibid p 626 Moraes 2012 p 304 discute que o saber campon s vem sendo h tempos dentre outros tantos saberes de nossa sociedade desqualificado em sua cultura e em seu saber pelo discurso hegem nico da ci ncia moderna A partir do estudo de dois contos liter rios que abordam o campon s e sua identidade e dialogando com as discuss es de Boaventura de Sousa Santos com a sua cr tica raz o indolente da ci ncia moderna o autor afirma que o saber do campon s
112. Educa o do Campo ANTUNES ROCHA 2011 Se a entrada das turmas em 2005 e 2008 eram efetivadas atrav s da aprova o em vestibular especial e indica o do MST turma de 2005 e ou de outras organiza es sociais do campo turma de 2008 atualmente para a entrada no LeCampo o candidato deve realizar o Exame Nacional do Ensino M dio ENEM conforme forma de acesso UFMG para todos os cursos e enviar documenta o comprobat ria de sua condi o de sujeito do campo Tal documenta o refere se principalmente carta de inten o com o curso e comprova o de v nculo com o campo seja atrav s do trabalho professor de escola do campo ou presta o de assist ncia t cnica produtiva ou de moradia O Tempo Escola acontece em duas etapas por ano fevereiro e julho em Belo Horizonte havendo um encontro no TC em alguma regi o do interior do estado com a presen a de todos os educandos e educandas e alguns professores as O professor a formado no LeCampo est habilitado para lecionar nos anos finais do Ensino Fundamental e Ensino M dio conforme sua rea de forma o Em termos de organiza o curricular o LeCampo apresenta como diferencial a proposta de quebrar com a estrutura r gida disciplinar de como s o comumente trabalhados os conte dos na Universidade introduzindo a inter e a transdisciplinaridade ANTUNES ROCHA 2011 Se pegarmos a habilita o em Ci ncias da Vida e da Natureza por exemplo a disciplina Uso Pru
113. IA Um dos cen rios desta pesquisa configura se ent o em um curso de gradua o em n vel de forma o de tecn logo destinado a militantes de diversos movimentos sociais de luta pela terra na Am rica Latina Curso Tecn logo em Agroecologia Este Curso ocorre em um espa o privilegiado para os movimentos sociais um centro de forma o localizado dentro de um Assentamento de Reforma Agr ria organizado pelo MST a Escola de Agroecologia EA A FA se localiza na rea social do Assentamento aqui denominado de Assentamento Terra Prometida pr xima ao Col gio Estadual e Escola Municipal existentes no Assentamento Esta foi criada com o intuito de possibilitar a estrutura o de uma rede de interc mbio entre os camponeses latino americanos e defender a soberania alimentar dos povos MST 2009 O Curso na poca da pesquisa encontrava se com sua terceira turma em andamento Contava com 52 educandos as de diversas nacionalidades quando as aulas de Permacultura foram observadas A referida turma iniciou seus estudos em 2010 e finalizou os mesmos em outubro de 2013 O Curso promovido e certificado por um Instituto Federal L assim como outros cursos desenvolvidos pelo MST estabelece se uma parceria com institui es de ensino para o seu desenvolvimento Este organizado em regime de altern ncia e no momento da observa o das aulas a Turma encontrava se no in cio do quinto TE com dura o prevista de quase 90 dias de a
114. Mucuri UFVIM campus Diamantina a altern ncia se d em 5 semanas de aula entre janeiro e fevereiro e mais cinco semanas entre julho e agosto havendo um UFMG ou dois UFVIM encontros no TC fora da Universidade Na Universidade Federal do Tri ngulo Mineiro UFTM campus Uberaba o TE acontece durante todo o m s de Janeiro e nos recessos escolares de julho 15 dias e de outubro semana da crian a e dia do professor Na UFTM o curso ainda est em constru o e pretende se realizar um encontro em cada TC Na UFV campus Vi osa os as educandos tem 15 dias de TE e 15 dias de TC em cada m s letivo segundo o calend rio regular da institui o 122 Tempo Escola e Tempo Comunidade n o s o pr ticas separadas n o representam um alternar f sico mas uma movimenta o dos sujeitos em distintos espa os educativos os locais de produ o da vida casa trabalho luta movimento social sindicato etc e a escola ibidem Assim o TC n o um complemento do TE mas um tempo de intera o permanente entre as atividades formativas e o trabalho do formador no processo educativo onde os sujeitos e os sistemas constituem se num movimento din mico de forma o e n o uma mera transmiss o de conhecimentos Ibid p 25 Na organiza o do TE e TC importante pensar na articula o entre saberes produzidos pelos sujeitos em suas realidades e os conhecimentos elaborados na escola A forma o est no e para al m do espa o
115. N VALEN A 2012 p 109 Para Foerste 2005 p 4 as demandas de forma o superior do p blico dos assentamentos da Reforma Agr ria devem abranger as diferentes modalidades dos saberes constru dos pelo ser humano objetivando o fortalecimento da educa o no do campo na perspectiva do desenvolvimento rural sustent vel Tudo isso porque a forma o de 9 PRONERA Programa Nacional de Educa o na Reforma Agr ria a ser apresentado no item 3 1 deste texto na discuss o sobre a Educa o do Campo 31 professores como a pr pria Universidade refor a a racionalidade t cnica que dicotomiza teoria e pr tica uma vez que a Universidade tende a valorizar uma perspectiva de produ o cient fica que hierarquiza saberes desprestigiando algumas reas ibidem Estes trabalhos ressaltam que no seio do MST muitos saberes se fazem presentes e precisam ser considerados nas constru es dos cursos de distintos n veis de ensino voltados para os sujeitos do campo 1 3 AONDE QUEREMOS CHEGAR AFINANDO OBJETIVOS Neste trabalho me propus compreender os discursos t cnico cient ficos e aqueles que emergem dos saberes da experi ncia indiciar sentidos em circula o no ensino de Permacultura no MST e tirar li es para a minha pr tica como professora da Educa o do Campo Para tanto considerei os conhecimentos t cnico cient ficos didatizados que circulam na academia e os saberes oriundos do modo de produzir e reproduzir a vi
116. N o posso nem devo coisific lo Se o narrador retira da experi ncia o que ele conta sua pr pria experi ncia ou a relatada pelos outros e incorpora as coisas narradas experi ncia dos seus ouvintes BENJAMIN 1994 p 201 parto da experi ncia da professora que sou como representante da academia mas tamb m militante do MST frente narrativa da experi ncia de Francisco formado nos movimentos sociais Ent o como pesquisadora valho me das hist rias desses dois sujeitos para extrair aprendizados 1 2 Nome fict cio Minha intera o com esses estudantes n o comp e o foco desta pesquisa 19 Se o narrador retira da experi ncia o que ele conta sua pr pria experi ncia ou a relatada pelos outros e incorpora as coisas narradas experi ncia dos seus ouvintes BENJAMIN 1994 p 201 parto da experi ncia da professora que sou como representante da academia mas tamb m militante do MST frente narrativa da experi ncia de Francisco formado nos movimentos sociais Ent o como pesquisadora valho me das hist rias de n s dois para extrair aprendizados Francisco e eu somos ent o conforme Bakhtin 2010a os her is desta trama Para Bakhtin mesmo quando o her i autobiogr fico ele n o coincide com o autor porque o autor para construir esse personagem deve tornar se outro em rela o a si mesmo encontrar se em extralocalidade em exotopia GEGe 2009 p 54 Tenho aqui ent o autora e her
117. Neste caso como pesquisadora sou a autora e posso oferecer um acabamento minha experi ncia de ensino aprendizagem como professora acrescentando teorias reflex es e at conselhos a partir das experi ncias narradas O autor o agente da unidade tensamente ativa do todo acabado do todo da personagem e do todo da obra e este o transgrediente a cada elemento particular desta GEGe 2009 p 19 Paulo Freire nos indica que compreender a realidade e transform la exige um distanciamento do vivido para constitu lo como objeto de em ad mira o FREIRE 2005 FALKEMBACH 2010 ou conforme Bakhtin 2010a estabelecer uma posi o de exotopia afastamento e retorno realidade E este o pretendido nesta narrativa distanciar a professora do objeto vivenciado entrando em a o a pesquisadora para narrar analisar e dar conselhos Desta forma o presente texto est assim organizado O cap tulo 1 Para entender e me fazer entender al m da apresenta o do texto que aqui se l apresento uma introdu o s inquieta es que motivaram esta pesquisa e uma revis o de literatura sobre saberes e conhecimentos no MST Na sequ ncia apresento os objetivos do trabalho J o cap tulo 2 Caminhos Percorridos Referencial Te rico Metodol gico cont m o percurso feito para chegar at a escolha da escrita e da concep o da pesquisa no g nero narrativo Os autores e as ideias que d o base constru o deste t
118. Permacultura integrada a cada realidade Disto se pode extrair que sua concep o de Permacultura n o de uma ci ncia com regras de como fazer mas um conjunto de princ pios que funcionam como corrim os para um fazer N o h regras h princ pios Trabalhar a partir da realidade concreta ressaltar os potenciais ali presentes como Francisco mesmo destaca na discuss o sobre as biofossas onde existem trocentos modelos e a escolha de faz las com pneu bambu pedra ou bananeira vai depender do contexto e dos sujeitos singulares envolvidos que o importante seguir o princ pio permacultural n o apenas uma repeti o da proposta Ao olhar para as pr ticas permaculturais desenvolvidas em uma outra escola no estado de Santa Catarina condizentes com a realidade e intencionalidade pedag gica da mesma Francisco apresenta estas como exemplos como possibilidade n o que se tenha que fazer tudo aquilo tamb m na EA ou na propriedade de cada um para que se tenha um espa o organizado sob a tica da Permacultura Ressaltando as singularidades Francisco se contrap e monocultura do saber conforme discuss o de Santos 2002 uma vez que esta considera os outros saberes carentes de legitimidade por serem locais j a ci ncia seria universal portanto leg tima GUAS BENZAQUEN VALEN A 2012 p 91 O local visto como limitado monol tico cristalizado circunscrito assim um n o saber por n o ser til em ou
119. SMAN 2005 p 33 Tais tecnologias modernas n o significaram a redu o da fome epid mica e end mica no Brasil CASTRO 1946 e no mundo al m disso favoreceram o xodo rural e a degrada o ambiental entre outros fatores extremamente negativos Desse modo colocamos sob suspeita os discursos que se escondem por tr s dos conceitos de progresso e modernidade das pr ticas agr colas O custo social e ambiental decorrente do que se chama de avan os na agricultura e na pecu ria coloca em xeque a efic cia econ mica deste modelo e o seu rumo daqui pra frente PAULUS amp SCHLINDWEIN 2001 Portanto se faz necess ria a consolida o de s outro s modelo s de agricultura s Esse desenvolvimento da agricultura p s Segunda Guerra Mundial comumente denominado de Revolu o Verde resultou no aumento do impacto negativo das a es humanas no ambiente natural principalmente pela devasta o de florestas envenenamento de solos e rios e perda de biodiversidade N o s o ambiente est ficando irremediavelmente comprometido tamb m est em quest o a seguran a alimentar dos povos tanto no que se refere disponibilidade quanto qualidade de alimentos produzidos consumidos 131 Paralelamente a este avan o vemos o emergir de um modo de produ o agr cola de bases ecol gicas que busca outra organiza o dos agroecossistemas com menor impacto ambiental social cultural que aquele constru do pela produ o a
120. UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE EDUCA O PROGRAMA DE P S GRADUA O EM EDUCA O CONHECIMENTO E INCLUS O SOCIAL O ENSINO DE PERMACULTURA NA EDUCA O DO CAMPO CIRCULA O DE SENTIDOS ENTRE CI NCIA E EXPERI NCIA MARILIA CARLA DE MELLO GAIA BELO HORIZONTE 2015 Marilia Carla de Mello Gaia O ENSINO DE PERMACULTURA NA EDUCA O DO CAMPO CIRCULA O DE SENTIDOS ENTRE CI NCIA E EXPERI NCIA Texto da Defesa de Tese de Doutorado apresentado como requisito parcial obten o do grau de doutora Programa de P s Gradua o em Educa o da Faculdade de Educa o da Universidade Federal de Minas Gerais Linha de pesquisa Educa o e Ci ncias Orientadora Prof Maria Em lia Caixeta C Lima Co orientadora Pro Andr a Horta Machado Belo Horizonte 2015 Gaia Marilia Carla de Mello 1980 O ensino de permacultura na educa o do campo circula o de sentidos entre ci ncia e experi ncia Marilia Carla de Mello Gaia Belo Horizonte 2015 201 f enc Tese Doutorado Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Educa o Orientadora Maria Em lia Caixeta de Castro Lima Bibliografia f 181 199 Ap ndices f 200 201 1 Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra Teses 2 Educa o Teses 3 Educa o rural Teses 4 Permacultura Teses 5 Ci ncia Estudo e ensino Teses 6 Aprendizagemexperimental Teses 7 Sociologia do conhecimento Tes
121. a es deste texto a voz de cada leitor molda um pouco mais o que aqui est sendo narrado e refletido Narrar sempre implica um outro ou outros as que ir ir o escutar o fato narrado Gagnebm 1994 p 10 inspirada em Walter Benjamin afirma que a experi ncia transmitida pelo relato deve ser comum ao narrador e ao ouvinte Para Benjamin 1994 p 210 a rela o ing nua entre o ouvinte e o narrador dominada pelo interesse em conservar o que foi narrado De acordo com Boaventura de Souza Santos 1997 p 121 a situa o mais promissora em termos de possibilidade de inclus o de outras vozes e culturas aquela que representa o c rculo mais amplo de reciprocidade a vers o que vais mais longe no reconhecimento do outro e assim geram zonas de contato mais promissoras Ent o aqui narro tanto para a academia no g nero tese quanto para os sujeitos do campo camponeses e camponesas construtores di rios de experi ncias e narrativas Narro para as professoras e professores do campo e da cidade incluindo aquelas es que s o formadoras es de professores as e de outros profissionais buscando dar visibilidade sobre as muitas movimenta es nas fronteiras dos saberes conhecimentos em di logo e em disputa Narro para mim para que como professora possa compreender melhor aquilo que me passa e transformar as minhas pr ximas experi ncias em sala de aula De acordo com Lima 2005 3 x O sentido aqui de
122. a o do Campo em 2004 A capacidade demonstrada pelos sujeitos que se empenharam no debate da Educa o do Campo articulada com o potencial de mobiliza es dos movimentos sociais e sindicais tem no PRONERA sua principal vitrine e considerando tantas sistematiza es reunidas nesse Programa em um curto espa o de tempo foi poss vel apresentar n meros expressivos de realiza es junto aos sujeitos da Reforma Agr ria SANTOS 2012 p 634 Entretanto as conquistas obtidas n o vieram sem muitas lutas e processos de resist ncias O PRONERA por exemplo apontou o caminho da Educa o do Campo para al m dos sujeitos da Reforma Agr ria que passaram a exigir mais aten o e pol ticas p blicas que atendessem s suas demandas o curso de Licenciatura em Educa o do Campo regularizado em algumas Universidades pelo MEC pode ser apontado como exemplo para essa afirma o Na busca por atender aos sujeitos do campo levando em conta suas especificidades o Programa inovou ao incorporar a possibilidade de ressignificar metodologias e conte dos sugerindo mudan as importantes no curr culo da escola do campo e se abrir para o di logo com os sujeitos e a comunidade onde a escola se localiza etc A partir daqui se estabelece um marco de qual seria a educa o que atenderia aos sujeitos do campo Os cursos em regime de altern ncia por exemplo adotando os tempos educativos alternados Tempo Escola Universidade e Tempo Comunidad
123. a o e Sa de no MST Historicamente uma regi o que agrega muitos militantes da rea da sa de do MST tendo experi ncias e diversas atividades de forma o e pr ticas neste campo cursos de sa de popular e plantas medicinais cursos de homeopatia humana e na agricultura implanta o de hortas medicinais e farm cias de sa de popular entre outras atividades A defini o do tema de minha disserta o constituiu se como um momento de muita ang stia pessoal Queria que o tema eleito fosse algo importante para mim enquanto pesquisadora educadora e militante social e igualmente importante para aquela parcela da popula o da Reforma Agr ria com a qual j vinha me identificando Em fun o desta regi o organizativa do MST ser a mais f rtil em termos de experi ncias em sa de fiz uma vista ao Assentamento Oziel Alves Pereira Governador Valadares MG e ao Acampamento Padre Gino Frei Inoc ncio MG no per odo de 12 a 15 de agosto de 2003 Percebi como as pr ticas complementares de sa de eram constantes 23 OMST possui uma estrutura organizativa baseada na divis o de tarefas Esta divis o se d em Setores Estes Setores s o as distintas reas de atua o do MST junto s fam lias assentadas rg os p blicos e demais entidades A saber Setor de Educa o Setor de Sa de Setor de Produ o Coopera o e Meio Ambiente Setor de Finan as Setor de Rela es Internacionais Setor de G nero Setor de
124. a Organiza o das Na es Unidas para Educa o Ci ncia e Cultura UNESCO e a Confer ncia Nacional dos Bispos do Brasil CNBB MOLINA amp JESUS 2004 p 38 Este momento configura se tamb m como pontap inicial para a organiza o da Articula o Nacional pela Educa o do Campo Dadas as discuss es realizadas no ENERA e posteriormente na Confer ncia Nacional por uma Educa o B sica do Campo Luzi nia GO em julho de 1998 fortaleceram se as propostas em torno da import ncia da cria o de um programa de governo para viabilizar o atendimento aos sujeitos da Reforma Agr ria posteriormente denominado de PRONERA Programa Nacional de Educa o na Reforma Agr ria O PRONERA coordenado pelo INCRA vinculado ao Minist rio do Desenvolvimento Agr rio MDA e n o ao Minist rio da Educa o e Cultura MEC envolvendo parcerias entre o Governo Federal financiamento institui es de ensino superior respons veis pelo desenvolvimento dos projetos de forma o e movimentos sociais e sindicais respons veis pela mobiliza o dos educandos e educadores A necessidade de um programa de educa o espec fico para a popula o da Reforma Agr ria justificava se poca pela constata o expressa em um estudo denominado Censo da Reforma Agr ria Schmidt Marinho e Rosa 1997 encomendado pelo Minist rio Extraordin rio da Pol tica Fundi ria em 1997 ao Conselho dos Reitores das Universidades Brasileir
125. a com a responsabilidade de viabilizar os meios para que essas crian as estudassem As formas para a garantia desses direitos variavam muito mas em geral se criavam escolas pr ximas s moradias das fam lias ou viabilzava se o transporte escolar para levar as crian as para a escola da cidade mais pr xima nesse processo que surge a experi ncia da Escola Itinerante uma escola regularizada que acompanha o acampamento no caso de despejo da rea CAMINI 2009 Vale ressaltar que esse processo de reivindica o dos meios para que as crian as dos acampamentos tivessem garantido o direito de frequentar s escolas serviu de aprendizado e se deu associado s demais lutas do MST pela garantia dos demais direitos dos sujeitos Como afirmam Arroyo e Fernandes 1999 al m da garantia dos direitos essa a o dos movimentos sociais tamb m pedag gica educativa uma educa o dos povos do campo O movimento social no campo representa uma nova consci ncia dos direitos terra ao trabalho justi a igualdade ao conhecimento cultura sa de e educa o O conjunto de lutas e a es que os homens e mulheres do campo realizam os riscos que assumem 113 mostram quanto se reconhecem sujeitos de direitos ARROYO amp FERNANDES 1999 p 18 Mas tamb m importante destacar que em se tratando da educa o para esses sujeitos os movimentos sociais tinham uma proposta e um projeto considerado avan ad ssimo em
126. a escola ao participar dos momentos pol ticos e formativos desses movimentos dentro ou fora dos assentamentos os educandos e educandas entram em contato com o mundo exterior que refor a e agu a quest es apreendidas e desenvolvidas na escola bem como apresenta outros saberes aos sujeitos em forma o Nesse sentido cabe escola a sensibilidade de processar essas informa es saber canalizar essas novidades e as traduzir nos seus conte dos pedag gicos ensinados em salas de aulas se abrindo para um mundo de aspira es dos seus sujeitos que em muitos casos s o trazidas pelos educandos para a sala de aula mas infelizmente descartadas em fun o dos conte dos e rigidez das escolas Deslocar os limtes r gidos da escola em termos de tempos organiza o gest o dos espa os curr culos modos de avalia o das aprendizagens projetos de sujeitos e de sociedade entre outros uma necessidade que se apresenta a todas nossas escolas independentemente de serem do campo ou da cidade Contudo vale em especial s escolas do campo porque estas surgem como direto e como forma de resist ncia a um projeto hegem nico e autorit rio de explora o que perdura no Brasil capitaneado pelo latif ndio o agroneg cio e o capital financeiro e cultural das elites A escola tem o dever de preparar a juventude para uma nova sociedade BOGO 2011 p 183 Cabe a ela proporcionar o aprendizado a apropria o da realidade formando profissiona
127. a mem ria das aulas dadas elaborei esse plano de aula que levei a campo Naquele momento sobretudo depois de encontrar Francisco eu imaginava encontrar algumas diferen as na forma de trabalhar os conceitos cient ficos e no desenvolvimento da aula como um todo Nesse caso tal planejamento teve uma fun o exot pica ou de extraposi o permitiu olh lo e estranh lo a partir do que eu tinha constru do desenvolvido e de volta permitiu me olhar e me estranhar como docente O meu planejamento foi organizado em tr s partes te rica dialogada com dura o de 6 horas aula uma oficina de elabora o de sab o caseiro 2 horas aula e uma atividade pr tica de planejamento permacultural design 4 horas aula A realidade encontrada diferente da conhecida ou esperada me imp s assumir a condi o de investigar aquilo que se apresentou para mim na realidade Poderia evadir dessa 38 responsabilidade no sentido conferido por Bakhtin 2010 Assumi como responsabilidade do ato tico por n o existir libi na exist ncia para nos evadirmos investigar o que encontrei a realidade mesma que se imp e n o fugindo dela e olhando para ela como lugar de construir epistemologias da pr tica Voltei a Paulo Freire para fortalecer por meio dele meu compromisso com a pesquisa e a educa o do povo O meu olhar de pesquisadora interessada na compreens o da realidade e o projeto de estudo enfrentam se diante do inesperado e foi nesta tens o q
128. a narrativa no mbito da Educa o necess rio entender melhor sobre a narrativa enquanto modalidade do discurso oral e escrito 45 Para Benjamin 1994 p 198 a narrativa a faculdade de intercambiar experi ncias e que a experi ncia que passa de pessoa a pessoa a fonte a que recorrem todos os narradores A narrativa que durante tanto tempo floresceu num meio de artes o no campo no mar e na cidade ela pr pria num certo sentido uma forma artesanal de comunica o Ela n o est interessada em transmitir o puro ems da coisa narrada como uma informa o ou um relat rio Ela mergulha a coisa na vida do narrador para em seguida retir la dele Assim se imprime na narrativa a marca do narrador como a m o do oleiro na argila do vaso Assim seus vest gios vest gios do narrador est o presentes de muitas maneiras nas coisas narradas seja na qualidade de quem as viveu seja na qualidade de quem as relata BENJAMIN 1994 p 205 o Em 1936 Walter Benjamin 1892 1940 escreveu um texto com considera es oy obra de Nikolai Leskov romancista russo 1831 1895 onde apresenta duas analogias figura do narrador que ele chama de duas fam lias principais de narradores A primeira figura personificada no campon s sedent rio conhecedor de hist rias e tradi es representaria o saber do passado A segunda figura representada pelo marinheiro comerciante algu m que vem de longe
129. a o mesmo autor a ci ncia estabelece um pensamento abissal que separa o conhecimento aceit vel do conhecimento n o aceit vel SANTOS 2007 Uma ades o cega ci ncia moderna possibilita uma e s uma forma de conhecimento verdadeiro SANTOS 1987 p 11 que desconfia sistematicamente das evid ncias da nossa experi ncia imediata Ibid p 12 considerando a experi ncia como um conhecimento vulgar E conforme Santos 1987 2000 este paradigma dominante precisa ser ultrapassado Por muito tempo a ci ncia foi vista como o conhecimento certo em oposi o exist ncia de um conhecimento incerto como a busca da verdade como verdade absoluta como atividade de pesquisa e como m todo de aquisi o do saber Ainda hoje essa vis o est presente para aqueles que contrap em as ci ncias a todas as outras formas de pensar A ci ncia ocidental na verdade uma etnoci ncia euroc ntrica ALMEIDA 2010 p 41 Irwin 1995 por sua vez tamb m cr tica a ci ncia moderna que se apresenta como modelo de esclarecimento por parte daqueles que a consideram como dotada de uma racionalidade superior s demais por sua suposta neutralidade pela suposta verificabilidade de suas asser es que daria origem constru o de certezas Dada aceitabilidade de seus resultados a no o de verdade com que sustenta suas aproxima es realidade A ci ncia moderna encontra se estreitamente associada a um poder sobre as coisas e sobre
130. a o sujeito professor S o os acontecimentos de sua vida e de suas experi ncias docentes que tornam Francisco professor 5 3 2 A AULA COMO NARRATIVA Francisco um narrador por excel ncia haja vista sua aula repleta de hist rias e de experi ncias pessoais e de terceiros de que tomou conhecimento e de que se faz narrador S o experi ncias de trabalho de estudante e pol ticas vinculadas sua atua o militante no MST e 163 em outros espa os de luta S o experi ncias oriundas do seu fazer como agricultor das suas atividades no lote do Assentamento da sua milit ncia pol tica da sua forma o expl cita em fun o da milit ncia H sobretudo experi ncias como intelectual oriundas das suas atividades como professor em diferentes cursos de Permacultura e outros como estudante da EJA e participante efetivo da forma o oportunizada no mbito do MST Como bom narrador de acordo com o que define Benjamim 1994 trouxe para a aula suas hist rias pessoais sejam aquelas que viveu a separa o das guas na pr pria casa O problema da umidade na constru o com terra no coletivo da horta ou as que ouviu como a hist ria do aeroporto do motor a diesel das Chinampas no M xico e da matriz energ tica brasileira Ao contr rio do que Benjamin 1994 chamou de pobreza de experi ncias Francisco rico destas e por isso rico na arte de narrar Ele n o tem o excesso de informa o nem uma teoria expl cita sobre
131. a origem executava projetos de alfabetiza o a partir de 2005 passou a se encarregar tamb m de projetos de escolariza o de Ensino Fundamental e M dio atrav s da modalidade da EJA E com a crescente demanda por educadores o PRONERA tamb m passou a viabilizar forma o em cursos superiores para professores das escolas dos assentamentos que inicialmente eram restritos rea de Pedagogia e outras licenciaturas Ibid p 630 Posteriormente se expandiu para outras reas de forma o al m de oferecer cursos t cnicos profissionalizantes e especializa o Foi tamb m a partir de 2005 que o PRONERA passou a contar com recursos diretos do Or amento Geral da Uni o OGU destinados para suas a es Entre as conquistas no mbito das pol ticas da Educa o do Campo importante mencionar a assinatura do Decreto n 7 352 em 04 de novembro de 2010 pelo ent o presidente Luiz In cio Lula da Silva que disp e sobre a pol tica da Educa o do Campo e o PRONERA A assinatura desse decreto foi importante porque mobilizou os olhares para as especificidades e os sujeitos diretamente beneficiados por esse ato al m de conferir ao PRONERA um lugar de estabilidade or ament ria e legal 119 Al m desses avan os na pol ica da Educa o do Campo necess rio destacar a institui o das Diretrizes Operacionais para a Educa o B sica das Escolas do Campo em abril de 2002 a realiza o da segunda Confer ncia Nacional Da Educ
132. a terra insuficiente para resolver todos os problemas da fam lia camponesa a luta pela Reforma Agr ria se apresenta muito limitada para provocar as demais reformas que a sociedade precisa sobretudo aquelas relacionadas classe trabalhadora um objetivo ut pico mas uma utopia necess ria como j disse o uruguaio Eduardo Galeano em refer ncia ao cineasta argentino Fernando Birri A utopia est l no horizonte E eu sei muito bem que eu n o a alcan arei que se eu caminhar dez passos ela ficar dez passos mais longe Quanto mais eu buscar menos a encontrarei porque ela vai se afastando medida que eu me aproximo Para que serve a utopia Pois a utopia serve para isso caminhar PROGRAMA SINGULAR 2013 19 CONTAG Confedera o Nacional dos Trabalhadores na Agricultura 19 Nesse sentido os problemas que exp e grande parte da popula o a situa es de desigualdade social racial de g nero de renda etc acentuando a exclus o o analfabetismo o desemprego a viol ncia dom stica etc bem como os problemas de envenenamento dos alimentos de concentra o de terras de patenteamento de sementes de explora o irracional dos recursos naturais entre outros fazem parte das bandeiras de luta do MST Toda esta luta do MST constru da em 31 anos de hist ria o que leva a forma o da identidade dos sem terra passando a Sem Terra por meio da constru o da decis o de rebelar se contra sua condi
133. a terra Enchi o rio fiz a serra N o deixei nada faltar Hoje o homem criou asa E na maioria das casas Eu tamb m n o posso entrar Fui eu quem criou a terra Enchi o rio fiz a serra N o deixei nada faltar Hoje o homem criou asas E na maioria das casas Eu tamb m n o posso entrar Fim da aula Espera a palmas poema e cantoria Como assim no final de uma aula Ah uma aula no MST E a aquela cobra l no quadro do in cio da hist ria n o deu o bote mas como eu foi testemunha desse acontecimento 159 5 3 CIRCULA O DE SENTIDOS E MOVIMENTA ES NOS LIMIARES CULTURAIS Italo Calvino 1994 em seu conto Palomar na praia nos convida atrav s da leitura de uma onda a prestar mais aten o nas rela es do que nos fen menos isolados O senhor Palomar est de p na areia da praia e observa uma onda n o s o as ondas que ele pretende observar mas uma simples onda e pronto no intuito de evitar as sensa es vagas ele predetermina para cada um de seus atos um objetivo limitado e preciso Mas sua observa o n o se limta a ver a onda aproximar se modificar se quebrar se e desfazer se na praia O senhor Palomar percebe que observar uma onda isolada tarefa dif cil pelo simples fato de que separ la da que a precede ou daquela que vem depois quase imposs vel Em suma n o se pode observar uma onda sem levar em conta os aspectos complexos que concorrem para form la e aqueles tamb m complexos a
134. acos de adubo e tantos litros de veneno Por qu Porque eu j tenho algo que a cada safra eu vou preparando pra que seja um processo cont nuo que a entra aduba o verde aduba o org nica e v rias outras coisas que voc s sabem muito bem o que que As hist rias que Francisco contava remetiam sempre ao mundo social e estavam ligadas ao espa o concreto onde a vida dele e dos educandos se realiza tamb m marcado por um tempo compartilhado pela mem ria de eventos ocorridos _ Aqui na ciranda eu n o sei se voc s chegaram a ver mas aqui tinha um sof foi feito aqui bem no canto s que ele n o ficou acabado Ent o aquilo que eu falei se voc faz as coisas pela metade acaba n o funcionando Da acabou meio que sem terminar esse sof Mas o que eu queria dizer assim toda constru o ou tudo que a gente for fazer com terra n s temos que achar um meio de proteger Uma das coisas proteger de baixo pra cima fazer tipo uma bota que nem eu falei E a outra coisa proteger de cima pra baixo N s at coment vamos que aqui no quiosque se a gente for fazer alguma parede com terra o beiral j tem que ser um pouquinho mais largo Ent o qualquer constru o que fizermos se as paredes forem de terra tem que proteger pra ela n o correr o risco de desmoronar e proteger da umidade E a tem outras formas tamb m de proteger voc usar alguns materiais Viu que o cara no filme ontem falou numa pia que ele fez l
135. ade OSOWSKI 2010b Brand o 2010b afirma que a diferen a entre culturas um bem e que a pluralidade cultural desej vel As fronteiras que os sujeitos cruzam para alcan ar aproximar de outras culturas podem ser suaves manej veis acess veis arriscadas ou virtualmente imposs veis dependendo de como o mundo social destes e como este considerado e o qu o imposta ou constru da for a nova cultura AIKENHEAD 2009 Um dos esfor os para o cruzamento de fronteiras culturais o sujeito reconhecer o seu inacabamento reconhecer que existem outros saberes a conhecer e compreender E um dos 11 princ pios da vida alterit ria em que se admite o outro como leg timo Como seres culturais que somos estamos sempre nos fazendo refazendo come ando recome ando TROMBETTA amp TROMBETTA 2010 Vivemos como um ato tico essa possibilidade cultural de refazer e recome ar dado seu inacabamento A alteridade ent o a presen a do outro na constitui o do eu sujeito somos povoados pelo outro e nossas rela es com o outro fazem de n s e deles os elementos constituintes da sociedade SOBRAL 2009 p 48 Portanto somos constitu dos e transformados sempre por meio do outro sempre em rela o dial gica com o outro REIS 2013 p 43 e assim a no o de alteridade relaciona se com a de pluralidade ibidem s tornar o Ox Falar em alteridade n o destacar diferen as de forma reduzida n
136. alimenta o At a Escola que bancou tudo Da eu pude fazer este PDC Em 2012 por ocasi o das aulas de Permacultura da terceira turma do curso tecn logo Francisco era o educador E foi a que eu o conheci O que o motivou mesmo para se envolver com a Permacultura contou me Francisco 33 A biofossa esta organizada em diferentes tanques onde a gua com res duos cai at cair em uma rea com vegeta o que continua o processo de filtragem onde as plantas utilizam os nutrientes vindos desta gua cinza e s ent o a gua em tese livre de res duos liberada no ambiente por infiltra o no solo ou evapora o O banheiro seco uma proposta de sanit rio compost vel onde os res duos s o transformados em adubo Em uma banheiro seco n o utilizada gua limpa para descarte dos res duos e sim adicionada serragemou outra mat ria seca para contribuir no processo de decomposi o 34 Maiores informa es em http www bioarquiteto com br 100 _ Foi aqui na Escola pelo fato da Escola j ter esse diferencial com a Agroecologia e a gente ouvia de vez em quando algu m falar em Permacultura mas eu n o conhecia nada conhecia um pouco da rea da constru o civil porque quem est na constru o civil a tend ncia ter certa curiosidade pela Permacultura tanto que meu professor de Permacultura arquiteto profissionalmente ele tamb m arquiteto Francisco nunca fez um curso de Permacultura desenvolvido pelo
137. alogia enquanto possibilidade de cruzamento cultural Artigo em elabora o LIMA M E C C GERALDI C M G GERALDI J W Trabalhar com narrativas na investiga o em educa o No prelo submetido e aprovado na Educa o em Revista UFMG previs o de publica o em 1 2015 LIMA M E C C PAULA H F SANTOS M B L Ci ncias da vida e da natureza no curso Licenciatura em Educa o do Campo UFMG In ANTUNES ROCHA M L MARTINS A A Educa o do Campo desafios para a forma o de professores Belo Horizonte Aut ntica Editora 2009 P 107 118 LIMA L A FREIXO A A Dialogando saberes no campo um estudo de caso em uma Escola Fam lia Agr cola In VII ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCA O EM CI NCIAS Campinas Anais Campinas UNICAMP 2011 Dispon vel em lt http www nutes ufrj br abrapec viiienpec resumos R0426 2 pdf gt Acesso em 19 jan 2015 191 LINDEMANN R H Ensino de qu mica em escolas do campo com proposta agroecol gica contribui es do referencial freireano de educa o 2010 Tese Doutorado em Educa o Cient fica e Tecnol gica Faculdade de Educa o da Universidade Federal de Santa Catarina Florian polis 2010 339 p LOPES T As Chinampas astecas 2012 Dispon vel em lt http conscientesustentavel blo gspot com br 2012 12 as chinampas astecas html gt Acesso em 31 dez 2014 LOSEKANN M B WIZNIEWSKY C R F Desenvolvimento rural sustent ve
138. ampo que eu tive o prazer de ensinar e aprender entre os anos de 2009 e 2015 N o vou sair do campo pra poder ir pra escola Educa o do Campo direito e n o esmola O povo campon s o homem e a mulher o negro VIII quilombola com seu canto de afox Ticuna Caet castanheiros seringueiros pescadores e posseiros com certeza est o de p Aos educandos e educandas que fazem o meu ser professora na Educa o B sica e no Ensino Superior Educar com o sujeito que chegou para aprender desafiando limites compartilhando o saber Resgatar nossa cultura soletrar soberania e ver presente no povo a nossa pedagogia Pedagogia da Terra s minhas amigas e amigos irm s irm os de cora o e sonhos Dani Marciano F Silveira Janine Arlindo R L via Bianca Graz Flavinha Paulo Enrique Dana D co nio Helenice Carine Soninha Cris Francelina Vanderlei Cida Dias T nia Haley E no entretanto o sonho se faz canto quando com coragem a luta f E no entretanto o sonho se faz canto quando a gente planta faz florir E no entretanto o sonho se faz canto quando a esperan a o tesouro E no entretanto o sonho se faz canto quando a esperan a uma verdade Sonhar n o cansa V nia Bastos Aos colegas de trabalho no LeCampo professores e bolsistas pelo desafio da constru o da Educa o do Campo na academia F tima Isabel Gil Pablo Penha Wagner Marina Cristene Nayara Ana P
139. ancisco continuou atuando como educador na mesma e acompanhou a constru o de algumas casas na rea da EA Estas casas seguindo alguns princ pios permaculturais na constru o t m por objetivo abrigar algumas fam lias de militantes que atuam na Escola e que nem sempre s o moradoras daquele Assentamento ou do pr prio estado nas tarefas de coordena o e tamb m educadores as externos ao MST enquanto estiverem trabalhando nos cursos que l s o desenvolvidos Quando nos conhecemos em 2012 Francisco n o estava participando de nenhuma inst ncia organizativa do MST nem na Escola e nem no Assentamento A EA pela sua concep o fundamental de trabalhar a Agroecologia traz na sua hist ria de constru o a ideia de avan ar tamb m no mbito da Permacultura principalmente na quest o da organiza o do espa o f sico e manejo dos diversos res duos al m da parte de forma o dos as educandos as que passam por l Francisco j tinha ouvido falar de Permacultura antes mesmo do in cio da Escola _ Porque quando eu vim para o Assentamento j me disseram que aqui j tinha uma proposta Na poca se falava muito de produ o org nica e a j comecei a me interessar ent o eu pensei Vai que vai d certo Porque eu tinha certo interesse a quando vim pra c come ou a discuss o da Agroecologia e sempre quando se falava em Agroecologia Eu at fiz um curso de Agroecologia um curso informal aqui mesmo n
140. ar Fez por fim ent o a rebeldia que nos d a garantia que nos leva a lutar pela Terra Can o da Terra Pedro Munhoz minha fam lia meu suporte e inspira o m e pai irm sobrinhos e sobrinhas sogro sogra cunhadas cunhados tios e tias madrinhas e padrinhos agregados Mais um dia vai amanhecer logo o sol j vai nascer Se prepara para poder trabalhar somos pobres temos que lutar Novo amanhecer Marcos Santos Ao Pedrinho pela minha aus ncia e impaci ncia por meus erros e acertos pelo seu amor rebeldia e alegria Vai correndo pelos campos do lugar se esconde bem atr s da bananeira como bom ter um tempinho pra brincar Pode ser um indiozinho pinta a cara de carv o Se a mam e chama obedece antes que a noite escurece tem que fazer a li o Soletrando liberdade na escola aprendendo um novo jeito pro pa s Escrevendo pelas linhas da esperan a pois crian a pra brincar e ser feliz Soletrando liberdade Z Pinto Ao Antonkl calmaria e tens o amor e constru o sonhos criados e compartilhados organiza o e desordem meu acabamento e incompletude Em cada canto uma esperan a de se plantar criar raiz E a gente vai ergue a bandeira vai ergue a bandeira vai n o podemos desistir Terra Esperan a Irmeu Albernaz Cada passo que andar essa hist ria vai nos dar novo tempo pra colher aprender e ensinar Passos do Saber s minhas orientadoras aco
141. ara minha atua o no MST Foi poss vel me aproximar de discuss es e pr ticas compat veis com a realidade de acampamentos e assentamentos e sobretudo com a import ncia pol tica desta alternativa A partir das aulas e experi ncias que acompanhei no curso de Sa de Ambiental busquei outros espa os para aprender Permacultura Entre os principais cito um curso de fim de semana em um apartamento em BH sobre Permacultura Urbana e um curso chave para forma o de permacultores as Permaculture Design Course PDC em Ubatuba S o Paulo no Instituto de Permacultura da Mata Atl ntica IPEMA Neste PDC conheci o Professor Skye australiano que tinha se formado permacultor com os fundadores da mesma David Holmgren e Bill Mollison Com ele vi algumas outras possibilidade da educa o permacultural Ap s a cola o de grau da Licenciatura em fevereiro de 2009 iniciei a carreira profissional como professora substituta da disciplina de Pr tica Pedag gica do Ensino Fundamental no Curso de Ci ncias Biol gicas do CEUNIH Come ava a trabalhar no mesmo curso que finalizava at aquele momento coordenado por uma professora que eu havia encontrado nos tempos do mestrado quando cursamos a disciplina de Educa o e Sa de juntas Com esta professora M rcia Nogueira Amorim havia estabelecido um bom contato na poca da disciplina e uma empatia m tua E esta empatia e conhecimento do meu trabalho e comprometimento social bem como o percu
142. ara n o tem pneu a regi o dif cil de encontrar pneu mas eu quero porque quero fazer uma biofossa de pneu a voc vai dificultar de repente vai transformar num custo mais alto que uma convencional a o cara vai dizer Ah n o ent o eu prefiro fazer um sumidouro que simplesmente fazer um buraco e jogar tudo l dentro Ent o essas coisas que a gente tem que ter bastante cuidado por exemplo n o d pra fazer com pneu De repente eu posso utilizar bambu ou de repente tem bastante pedra vamos utilizar a pedra E assim esse exemplo da biofossa da mandala ou de v rias outras t cnicas a gente ter essa capacidade de observar aquilo que pode ser um potencial Se a gente pegar aqui na Escola por exemplo o que pode ser um potencial Nas reas que voc s v o desenhar e v o projetar eu quero que voc s procurem compreender bem isso essa quest o daquilo que aparentemente parece ser um problema a gente transformar em solu o e procurar achar nesses locais os potenciais que tem O que parece ser t o dif cil s vezes est ali nos atrapalhando e pode ser uma solu o a quest o 155 s a gente entender como que transforma aquilo numa solu o Depois eu vou passar algumas imagens pra voc s irem compreendendo melhor _ Eu tenho aqui um trabalho que foi feito numa escola do ponto de vista da Permacultura implementando pequenas a es Voc s v o ver o quanto essa escola ficou bonita com coisas b
143. as Campinas 2014 CASTRO J Geografia da Fome S o Paulo C rculo do Livro SA Ed Integral 1946 314 p CASTRO R S LIMA M E C C PAULA H F Forma o de professores e compreens o p blica das ci ncias contribui es para a participa o democr tica In VII JORNADAS LATINOAMERICANAS DE ESTUDIOS SOCIALES DE LA CIENCIA Y TECNOLOGIA Buenos Aires Anais Buenos Aires ESOCTTE 2010 CERTEAU M A Cultura no Plural 4 ed Pairus Editora Campinas SP 1995 CERTEAU M A A Inven o do Cotidiano v 1 artes de fazer Petropolis Vozes 2000 CERTEAU M A A Inven o do Cotidiano v 2 morar cozinhar Petropolis Vozes 2002 CORDEIRO G N K SCALABRIN R A rela o teoria e pr tica como elemento articulador na forma o de professores do campo em parceria com a universidade In XXIII SIMP SIO BRASILEIRO DE POL TICA E ADMINISTRA O DA EDUCA O e V CONGRESSO LUSO BRASILEIRO e COL QUIO IBERO AMERICANO DE POL TICA E ADMINISTRA O 2007 Porto Alegre Cadernos ANPAE n 4 Porto Alegre UFRGS 2007 Dispon vel em lt http www anpae org br congressos antigos simposio2007 161 pdf gt Acesso em 01 jan 2015 186 CORDEIRO G N K REIS N S HAGE S M Pedagogia da Altern ncia e seus desafios para assegurar a forma o humana dos sujeitos e a sustentabilidade do campo Em Aberto Bras lia v 24 n 85 p 115 125 abr 2011 CPDOC Contestado 2012 Dispon vel em lt http c
144. as Crub de que nos projetos de assentamentos PAs havia um ndice de analfabetismo 118 acima da m dia verificada no campo e um ndice de escolaridade extremamente baixo ambos decorrentes da aus ncia do poder p blico municipal ou estadual na organiza o das condi es que assegurassem educa o para essa parcela da popula o SANTOS 2012 p 630 O processo de discuss o em torno da cria o do PRONERA foi qualificado com a participa o e contribui o dos movimentos sociais e sindicais que trouxeram suas experi ncias educativas para dentro do Programa Por exemplo os princ pios filos ficos e pedag gicos da educa o do MST denominados de Pedagogia do MST como a sele o de conte dos formativos socialmente teis e eticamente preocupados com a forma o humana integral a educa o para o trabalho e pelo trabalho a gest o democr tica incluindo a auto organiza o dos educandos para a sua participa o efetiva nos processos de gest o da escola MST 2004 p 27 entre outros foram incorporados e enriqueceram a proposta do PRONERA Assim o Programa assumiu como objetivo geral Fortalecer a educa o nas reas de Reforma Agr ria estimulando propondo criando desenvolvendo e coordenando projetos educacionais utilizando metodologias voltadas para a especificidade do campo tendo em vista contribuir para a promo o do desenvolvimento sustent vel BRASIL 2004 p 17 Esse programa que na su
145. as completam 60 anos 2015 Dispon vel em lt http www mst org br node 16912 gt Acesso em 10 jan 2015 SANTOS B S Um discurso sobre as Ci ncias 13 ed Porto Edi es Afrontamento 1987 59 p Introdu o a uma ci ncia p s moderna Rio de Janeiro Graal 1989 176 Uma concep o multicultural de direitos humanos Lua Nova n 39 p 105 124 1997 197 A cr tica da raz o indolente contra o desperd cio da experi ncia Para um novo senso comum a ci ncia o direito e a pol tica na transi o paradigm tica vol 1 4 ed S o Paulo Cortez 2002 415 p A Gram tica do Tempo para uma nova cultura pol tica Cole o para um novo senso comum v 4 S o Paulo Cortez 2006 Para al m do pensamento abissal das linhas globais a uma ecologia de saberes Novos estud CEBRAP online n 79 pp 71 94 2007a Renovar a teoria cr tica e reinventar a emancipa o social S o Paulo Boitempo 2007b Se Deus fosse um ativista dos direitos humanos 2 ed S o Paulo Cortez 2014 SANTOS C A Programa Nacional de Educa o na Reforma Agr ria Pronera 2012 In CALDART R S etal Org Dicion rio da Educa o do Campo Rio de Janeiro S o Paulo EPSJV Express o Popular 2012 p 629 637 SANTOS W L P MORTIMER E F Tomada de decis o para a o social respons vel no Ensino de Ci ncias Ci ncia amp Educa o v 7 n 1 p 95 111 2001 SCHWARTZ Y
146. as das perguntas que a orientadora fez eu j tinha as respostas mas acabei n o relatando tudo no email anterior Achei muita gra a do plantar batatas desliguei o notebook e fui dormir Cheia de coisas na cabe a deixei para responder na manh seguinte depois do sino do despertar e antes do toque do sino da Formatura Na manh seguinte ap s uma noite ininterrupta de sono coisa que n o conhecia h meses perdi o primeiro sino e fui acordar depois das sete Nem acreditei que dormi a noite toda Tomei o caf Respondi o email A resposta central foi Ele usa os conhecimentos da Permacultura no seu dia dia por exemplo ele coordena a constru o de 15 casas no momento aqui no Assentamento e est o sendo constru das com a 109 ideia do saneamento ecol gico A casa que ele mora de solo cimento uma t cnica de Permacultura Conversei com ele sobre a aula me dispus a contribuir mas isso n o ocorreu porque ele j sabia o que ia passar e n o rendeu muito esse di logo n o Creio que ele entendeu o que a pesquisa Mas n o percebi que ele fez falas que poderiam estar sendo pra me ajudar na pesquisa Fui para a Formatura e na sequ ncia para a aula Naquele dia n o haveria o tempo educativo da Leitura e a aula duraria uma hora a mais na parte da manh para dar tempo de ver tudo o que Francisco havia proposto como aula e encerrou perto do hor rio do almo o dando fim a abordagem de Permacultura naquele momento
147. aula Bruno Josi Franciane Conde Juliana Neuraci T nia Luciane Lane Maria Jos Andr a etc A educa o do campo do povo agricultor precisa de uma enxada de um l pis de um trator Precisa educador pra trocar conhecimento o maior ensinamento a vida e seu valor A Educa o do Campo Gilvan Santos Aos colegas de estudos e de esfor o de compreens o no doutorado T nia C lio Luis e J nia e tamb m as esposas que se fizeram presentes na minha vida em momentos especiais D bora e Ra ssa J que voc decidiu d as m os vamos simbora Porque pela estrada afora vamos juntar muita gente pois no campo vai florir uma educa o decente Pra vida continuar Z Pinto Aos militantes do MST em especial do Setor de Produ o Coopera o e Meio Ambiente de ontem e de hoje companheiros e companheiras de uma sociedade necess ria Cultura e produ o sujeitos da cultura a nossa agricultura pro bem da popula o Construir uma na o construir soberania pra viver o novo dia com mais humaniza o N o vou sair do campo Gilvan Santos toda e todo Sem Terra Seguimos ocupando terra derrubando cercas conquistando o ch o Que chore o latifundi rio pra sorrir os filhos de quem colhe o p o E a luta por Reforma Agr ria a gente at para se tiver enfim coragem a burguesia agr ria de ensinar seus filhos a comer capim Assim j ningu m chora mais Z Pinto s professoras e ao
148. balho nas escolas O TE como ainda hoje se faz presente em algumas Licenciaturas em Educa o do Campo ocorre durante as f rias escolares janeiro e julho e a continuidade dos estudos se d no TC nos per odos entre fevereiro junho e agosto dezembro quando est o em suas comunidades de origem CALDART 2004 Mais que um artif cio de conjuga o de tempos para viabilizar trabalho e estudo a altern ncia tem outra dimens o que nos interessa pensar Para Antunes Rocha e Martins 2012 a organiza o dos estudos em dois territ rios educativos escola e comunidade traz uma modifica o na forma de funcionamento da escola sendo que o TE TC se coloca como encontro entre dois territ rios o territ rio do campo e o territ rio da escola Ibid p 23 Com base nas discuss es e conceito de territ rio do Prof Bernardo Man ano Fernandes as autoras entendem que o conceito de territ rio permite a compreens o do espa o articulado pelas dimens es produtivas culturais educacionais pol ticas e sociais ibidem 2 atualmente a altern ncia se encontra em todos os cursos da Educa o do Campo desenvolvidos com institutos federais universidades e centros universit rios cada qual com sua din mica espec fica Em Minas Gerais por exemplo nas Universidades que possuem a Licenciatura em Educa o do Campo tem a seguinte din mica de altern ncia na UFMG campus Belo Horizonte e na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e
149. bandas Quem tem interesse em participar quem que se prontifica para ensinar T lan ado o desafio e o refr o vamos cantar Sempre tempo de aprender sempre tempo de ensinar Sempre tempo de aprender Z Pinto A todos os colegas amigos de trabalho no Col gio Metodista Izabela Hendrix em seu fazer saber ensinar di rio especial Romulaa Dias Cristiane Bargas Maria Inez Hoffmann Fernanda Goodwin Andr a Battaglia Oziel de Souza Cristiano Her clito Flaviane Luz Ana Carolina Caetano Graciete Oliveira Cristina Travassos C lia Goodwin Jovens e adultos papel e l pis na m o unificando educa o e produ o num gesto lindo de aprender e ensinar se educando com palavra e com a o Sempre tempo de aprender Z Pinto A amiga professora chefa sonhadora mspiradora M rcia Nogueira Amorim que me mostra que a Escola da Ponte sou eu quem fa o todos os dias aonde estou Quantos saberes v m do viver quanta alegria nos tr s o saber Educar saber amar uma sociedade poder transformar Passos do Saber As educadoras da Escola Cen rio Baby que desde 2012 de janeiro e janeiro foram presen a insist ncia cuidado e amor ao meu pequeno Pra come ar quando vi o sol raiar vi que soletrar a vida bem mais que o BA B s contar subtrair ou somar dividir felicidade pra vida multiplicar Pra vida continuar Z Pinto s turmas do curso de Licenciatura em Educa o do C
150. bem feiti arias e cultos agr rios nos s culos XVI e XVII Companhia das Letras 1988 GLIESSMAN S Agroecologia processos ecol gicos em agricultura sustent vel 3 ed Porto Alegre Editora da UFRGS 2005 GONH M G M A pesquisa das Ci ncias Sociais Considera es Metodol gicas Caderno CEDES Pesquisa Participantes e Educa o n 12 S o Paulo Cortez 1984 GUTERRES I Agroecologia militante contribui es de Enio Guterres 1 ed S o Paulo Express o Popular 2006 p 184 HADICH C As Jornadas de Agroecologia e sua contribui o na constru o do Projeto Popular 2014 Dispon vel em lt http jornadaagroecolo gia com br node 1 gt Acesso em 03 jan 2015 HERMANN J A hist ria cultural de Carlo Ginzburg 1998 Dispon vel em lt http www ifcs ufrj br humanas 0013 htm gt Acesso em 04 jun 2014 HOLMGREN D Os Fundamentos da Permacultura Holmgren Design Services 2007 IRWIN A Ci ncia cidad um estudo das pessoas especializa o e desenvolvimento sustent vel Trad M F S Aubyn Lisboa Instituto Piaget 1995 257 p JACINTHO C R S A Agroecologia a Permacultura e o paradigma agroecol gico na Extens o Rural uma experi ncia no Assentamento Col nia I Padre Bernardo Goi s 2007 178 f Disserta o Mestrado em Desenvolvimento Sustent vel Centro de Desenvolvimento Sustent vel da Universidade de Bras lia Bras lia 2007 JESUS F L Diferentes abordagens de a
151. ca e cient fica de acordo com Santos 2007a uma decorr ncia do n o compartilhamento de um sentido nico e universal imposto e legitimado pela racionalidade cient fica S o fronteiras que se interp em entre diferentes culturas que foram sendo constru das discursivamente pelo pensamento moderno ocidental ao longo de s culos Se de um mesmo lado da fronteira a troca proporcionada pela capacidade de di logo e negocia o de sentidos entre lados fronteiri os v se uma dificuldade enorme e at mesmo impossibilidade de di logo pela incomensurabilidade entre culturas ou subculturas Lima e Geraldi em fase de elabora o v m trabalhando na constru o de referenciais te ricos das compreens es analisando o campo da dialogia como possibilidade de cruzamento cultural entre o conhecimento cient fico e saberes dos trabalhadores do campo Minha expectativa e de minhas orientadoras como sujeitos hist ricos e ideologicamente engajados a de que importante criar intencionalmente pontes entre mundos t o distanciados e hierarquizados Algumas delas j est o sendo erguidas haja vista a cria o desses cursos de Licenciaturas do Campo e Ind gena e no emblem tico discurso do MST na se o de abertura do curso de Pedagogia da Terra na UFMG em que a palavra de ordem era o latif ndio do saber n s vamos ocupar Com certeza temos muito o que aprender a partir dos espa os de forma o do MST que tem se desafiado a construir outros
152. cada pelos sistemas discursivos das constru es te ricas Desta forma nossa investiga o sobre os modos de circula o dos conhecimentos cient fico tecnol gicos e os saberes da experi ncia pode fornecer pistas aos processos da Educa o do Campo em n vel superior no mbito da Permacultura de modo a promover o cruzamento de fronteiras entre os cursos de Licenciatura em Educa o do Campo Ci ncias da Vida e da Natureza Mas por que a Permacultura A Permacultura preconiza uma redefin o da rela o ser humano natureza dos processos de produ o consumo e sobreviv ncia possibilitando uma aproxima o de distintos saberes Faz parte das discuss es em alguns assentamentos do MST al m de ser um contexto muito oportuno para tratar de conte dos de ci ncias tradicionalmente ensinados na escola de Educa o B sica principalmente nas escolas do campo Essa converg ncia de significados nos ajudou a tom la como foco para esta pesquisa Este delineamento nos possibilitou refletir sobre os espa os educativos e os saberes que circulam no MST e na academia com o objetivo de pensar sobre a circula o de saberes nas fronteiras culturais A partir da vislumbramos produzir reflex es que pudessem orientar a es pr ticas em termos de encontros confrontos de perspectivas de forma que cada um movimento social e academia pudesse sair fortalecido e modificado dessa rela o Almeida 2010 p 80 81 afirma que o exerc cio de r
153. cado e o capital sem que haja altera o na sua base de sustenta o Um exemplo a abordagem fragmentada e parcial dos aspectos ambientais para o desenvolvimento da produ o agropecu ria a partir da simples substitu o de insumos sint ticos por insumos org nicos que mesmo sem contaminar o solo mant m a l gica da aquisi o de insumos das empresas controladoras do mercado convencional A produ o continua baseada em rela es explorat rias de trabalho no empobrecimento dos solos e nos monocultivos Neste sentido alguns as agricultores as altemnativos as e consumidores as acabam por criar um nicho de mercado dos alimentos org nicos a partir da agricultura dita alternativa Esta acaba por sustentar a dieta alimentar de consumidores as oriundos das classes m dia e alta com grande poder aquisitivo para a compra dos produtos org nicos com 43 Utilizaremos aqui os dois termos como sin nimos por ser uma contraposi o agricultura industrial ou agricultura convencional que tem como pilares tecnol gicos fundamentais a agroqu mica a motomecaniza o e a manipula o gen tica JESUS 2005 p 24 132 pre os diferenciados e alos sem representar uma contraposi o l gica industrial capitalista de produ o no campo Em uma perspectiva mais simplificada a Agroecologia pode ser enquadrada no rol das agriculturas alternativas como as anteriormente citadas Entretanto a partir de uma perspectiva pol
154. cheio de simbologias que remetem a luta pela terra a sociedade transformada almejada uma manifesta o ritual stica que congra a a vida e os momentos hist ricos do MST portanto uma pr tica pedag gica presente nos processos formativos do Movimento ROSENO amp CAMPOS 2012 40 Na proposta da Pedagogia do MST os tempos educativos s o os distintos espa os de aprendizado em um curso N o s no tempo educativo aula que se aprende mas tamb m no tempo destinado leitura ao trabalho pr tico normalmente associado aos cuidados e manuten o do espa o f sico da escola ou dos plantios e cria es m stica ao esporte entre outros 105 porque Francisco j estava informado previamente sobre minha chegada pelo coordenador da Escola autorizando assim a minha ida para l para acompanhar suas aulas Come a a aula Mas esta uma outra hist ria que deixo para depois pela urg ncia que sinto em fazer uma digress o Antes de partir para a viagem havia preparado tamb m uma aula de Permacultura com dura o de cerca de 12 horas o mesmo tempo previsto para a aula de Francisco Na condi o de doutoranda fui orientada a preparar previamente uma aula de Permacultura a partir daquelas que eu j tinha experi ncia N o foi dif cil pelo contr rio pois j havia trabalhado esse tema em outros momentos e aproveitei a aula que preparei e lecionei para as turmas de Licenciatura em Educa o do Campo e Licenciatura In
155. cionalmente planejadas com objetivo de pesquisa envolvem a tentativa de compreens o de uma experi ncia significativa na vida do sujeito pesquisado sendo uma pesquisa vivencial e n o experimental LIMA GERALDI GERALDI no prelo A especificidade deste tipo de narrativa reside no fato de que o sujeito da experi ncia a narra para debru ando se sobre o pr prio vivido e narrado extrair li es que valem como conhecimentos produzidos a posteriori resultando do embate entre a experi ncia e os estudos te ricos realizados ap s a 48 experi ncia narrada A pesquisa que pode ser deflagrada a partir da narrativa da experi ncia n o uma constru o anterior experi ncia da experi ncia vivida que emergem temas e perguntas a partir dos quais se elegem os referenciais te ricos com os quais vem a dialogar e que por sua vez fazem emergir as li es a serem tiradas Como o objeto emp rico aqui a experi ncia vivida h muito de autobiografia mas diferentemente desta n o faz emergir o sujeito e sim a li o que se extrai da experi ncia li o no sentido de conselho a que apontava Benjamin 1985 LIMA GERALDI GERALDI no prelo Na Investiga o Narrativa a possibilidade de intercambiar experi ncias permite aos sujeitos compreender melhor o que lhes constitui visualizar os tempos e espa os que os constituem como s o no presente olhando para o passado e pensando no sujeito do futuro Desta forma olhar para a
156. co mostra ter se apropriado de conceitos sofisticados da Permacultura para al m da mera defini o e exemplifca o em contextos da pr tica Tal apropria o se mostra imbricada com uma pr tica de um fazer pessoal ricamente compartilhada e detalhada em min cias experi ncias e conselhos Sua palavra palavra pr pria n o palavra alheia BAKHTIN 2006 palavra verdadeira FREIRE 1973 Adequada quele contexto utilizada com bastante apropria o e comprometida com os prop sitos permaculturais de um modo de viver e n o apenas de falar sobre modos particulares Percebo isso por exemplo quando ele se recorda da op o do c rculo de bananeiras que funciona muito bem segundo testemunho pr prio no tratamento do esgoto da sua casa A centralidade da aula de Francisco s o as pr ticas que traz da sua vida cotidiana assentado militante professor estudante E a partir destas pr ticas que teoriza e apresenta os conte dos conceitos na sua aula A sua autoridade a experi ncia da que tira suas li es Ele pode dar conselhos j fez j viveu j construiu casas de solo cimento e descobriu o problema da umidade j fez sistema de saneamento de casas e refletiu sobre a separa o das guas a serem descartadas A aula permite a Francisco um distanciamento de sua pr tica cotidiana de pedreiro ao compartilhar as li es tiradas do seu fazer em forma de uma teoria da pr tica Em outro momento quando fala do
157. compara o com os demais projetos do pa s NETTO 2010 Assim os movimentos sociais passaram a reivindicar muito mais do que vagas nas escolas Nos materiais elaborados pelo MST a educa o que se pretendia para os povos do campo precisava ir al m das discuss es de conte dos observados nas escolas tradicionais era necess rio apresentar a novidade de ser e estar com a responsabilidade de formar os sujeitos do campo em processos de luta na perspectiva de dar conta da forma o t cnica pol tica social ambiental humana religiosa etc desses sujeitos NETTO 2010 Molina e Jesus 2004 p 7 consideram que as formas tradicionais de desenvolverem se as pol ticas p blicas de educa o rural foram desqualificadoras da pr pria exist ncia do campo e dos seus sujeitos Da a necessidade dos movimentos sociais ao fazerem a cr tica escola rural pensarem outra reconfigura o da educa o visando a atender os interesses dos povos do campo como sujeitos de identidades singulares e desejos particulares que n o aqueles que decorrem de uma educa o urbana e voltada para a forma o das elites ou de fam lias pobres que ocupam as periferias das grandes cidades Outro paradigma de educa o se imp s de modo a contribuir para reafirmar o campo como territ rio leg timo de produ o da exist ncia humana e n o s da produ o agr cola ibidem Assim se fez e se faz a Educa o do Campo dentro desse campo de disputas de
158. contecer LARROSA 2002 p 19 para o sujeito do campo a lida di ria na ro a das festividades culturais e religiosas das lutas sociais dos camponeses das diversas atividades das comunidades ind genas e quilombolas etc espa os repletos de experi ncias e portanto de aprendizados pelo compartilhamento de saberes e experi ncias A experi ncia envolve as atividades do sujeito como agricultor a pedreiro a cozinheiro a terapeuta popular benzedeira raizeiro sanfoneiro a contador a de causos etc Se a experi ncia o que nos acontece o saber da experi ncia tem a ver com a elabora o do sentido ou do sem sentido do que nos acontece enquanto objeto elaborado individualmente com base nas contrapalavras compartilhadas pelo indiv duo com seu coletivo um saber particular subjetivo relativo contingente pessoal LARROSA 2002 O saber da experi ncia portanto a form como o indiv duo vai respondendo reagindo dando sentido ao que vai lhe acontecendo ao longo de toda a sua vida Therrien 1997 afirma que o saber da experi ncia n o s um saber oriundo das pr ticas sociais mas tamb m um saber que transforma o indiv duo daquela pr tica pr xis social 64 Os saberes da experi ncia n o s o o senso comum O senso comum um conhecimento cotidiano pouco lapidado casual fruto das impress es primeiras n o refletido metodicamente sem cr tica ALMEIDA 2010 p 66 O tamb m denommado conhecimento
159. culdades conquistas sua produ o intelectual ibidem Nosso interesse inicial de pesquisa esteve implicado com o trabalho da orientadora e meu como docentes do curso de Licenciatura em Educa o do Campo LeCampo da UFMG onde duas inquieta es se fizeram presentes A primeira delas era sobre como ensinar ci ncias para os estudantes do campo uma vez constatada a enorme dist ncia entre os mundos e os modos de pensar daqueles e de n s professores acad micos Como far amos aproximar o nosso discurso did tico de ci ncia do discurso da vida e da produ o da vida no campo No sentido inverso como trazer os saberes da experi ncia daqueles sujeitos desenvolvidos na lida do campo para conversar com o conhecimento cient fico mediado pedagogicamente e didatizado em sala de aula da licenciatura Portanto quer amos olhar para o discurso da academia e dos estudantes do campo ao ensinar ci ncias para eles e elas Outra inquieta o inicial esteve relacionada certa e grande insatisfa o com as indica es e orienta es das atividades acad micas destes estudantes no per odo do Tempo Comunidade TC no momento que saiam do per odo de estudos condensados na Universidade e retornavam para suas comunidades de origem levando consigo um conjunto de tarefas determinadas prescritas pelos as professores as As atividades do TC em geral n o acompanhavam a proposta original do curso de uma forma o por rea que fosse
160. d gena no ano anterior bem como a experi ncia de ministrar este tema como disciplina em curso t cnico de n vel m dio Responder demanda da orientadora consistia em fazer uma s ntese de um trabalho j desenvolvido em outros momentos Reescrevi esta aula consultando meus planos e com alguns detalhes que julgava importantes e provavelmente at coincidentes com a aula que eu iria encontrar constru da na intera o com o di logo que estava por acontecer neste espa o antecipando me aos sujeitos e aos acontecimentos O intuito de ter o meu Plano de Aula de Permacultura vinha da ideia de coloc lo em rela o com as aulas que al estava para observar como esfor o de compreens o acho que entendi a tal exotopia do Bakhtin Recorr ent o a Antoni Zabala 1998 para recordar algumas quest es relacionadas a conte dos de aprendizagem conceituais procedimentais e atitudinais conforme minha orientadora indicou Partindo da al m de ir anotar minuciosamente o desenrolar das aulas de Francisco separei tr s p ginas do meu caderninho de anota es e registrei em cada uma os seguintes t tulos CONCEITUAL PROCEDIMENTAL ATITUDINAL Fiz algumas anota es nesta parte destacando o que percebia no transcorrer da aula relacionadas a estes tr s tipos de conte dos educacionais ficando assim ao final CONCEITUAL i Princ pios do design permacultural ii Setoriza o iii Zoneamento PROCEDIMENTAL Olhar os padr es formas
161. da fala e refutado quando usado para negar o estabelecimento desta O sil ncio absoluto n o aceito com naturalidade principalmente quando vindo do aluno Falar muito e n o falar nada s o portanto posi es que ele n o pode assumir porque as intera es pressup em interc mbio comunicativo BARBOSA 2010 p 377 378 Nesta aula de Permacultura o sil ncio surge durante as falas de Francisco mas sempre interrompido quando este direciona uma pergunta turma ou quando algum educando tem alguma d vida ou coment rio por vezes tamb m quando se percebia algum cansa o na turma e havia uma pausa para umas brincadeirinhas ou m sicas N o observei nenhuma atitude mais en rgica ou de intimida o por parte de Francisco para que os educandos 162 respondessem s suas quest es esperassem a vez do outro ou se concentrassem na aula Como educandos e educador j se conhecem e entendem o lugar de cada um na rela o educativa o sil ncio ou a defer ncia se d em respeito posi o que por hora assume de professor Essa uma pr tica comum em aulas no mbito do MST indicando disciplina e respeito ao mestre de tentativa de m ximo aproveitamento do aprendizado Nas aulas na UFMG isso tamb m era a regra na primeira turma da Pedagogia da Terra turma majoritariamente composta por militantes do MST Ao contr rio do perfil do intelectual acad mico Francisco se mostrou um intelectual org nico Al m dos cursos de que pa
162. da natureza 106 ATITUDINAL tica da Permacultura Anotei na margem de uma das folhas trabalhando com uma cartilha em refer ncia ao material que tinha em m os e que utilizou para dar sequ ncia a uma parte te rica da aula Tratava se de um material que eu conhecia Parte dos estranhamentos e observa es centrais da aula tamb m estavam destacados no meu caderminho de campo dentro de umas nuvenzinhas com alguns coment rios Em um Faltou clarear elemento e fun o estava me referindo a uma parte do conte do em que Francisco abordou o um dos princ pios da Permacultura cada elemento tem v rias fun es Eu outras nuvens utiliza o do quadro e imagens do datashow E traz elementos da sua pr tica quest o da constru o da casa S pensava no pedido da orientadora de desvendar a moral da aula e enviar e mails ao final do dia para compartilhar o que estava observando As duas vezes que escrevi moral da aula no caderninho acabaram ficando em branco Meu caderno ficou cheio de anota es de conte do esquemas desenhos al m de anota es sobre o Curso que aquelas aulas faziam parte Francisco iniciou sua aula com uma frase cl ssica projetada pelo datashow com a defini o Permacultura um sistema de design para a cria o de ambientes humanos sustent veis e produtivos em equil brio e harmonia com a natureza e a refer ncia da mesma a Bil Mollison 1928 aos dias atuais um de seus fundadores Neste prim
163. da no campo que os sujeitos camponeses trazem para a sala de aula Abordamos o encontro confronto de perspectivas no movimento da linguagem tendo em vista a circula o de saberes e conhecimentos e apropria o cultural em espa os de forma o em Permacultura na Educa o do Campo especificamente em um curso de forma o de tecn logos de Agroecologia no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra MST e de um curso de Licenciatura em Educa o do Campo habilita o Ci ncias da Vida e da Natureza na Universidade Federal de Minas Gerais UFMG Para tanto temos como objetivos espec ficos 1 Distinguir saberes e conhecimentos para compreender a rela o entre estes ii Caracterizar os modos l gico cient fico e o narrativo de compreender e explicar o mundo iii Caracterizar os sujeitos e cen rios da pesquisa professor de Permacultura como docente em um curso do MST e professora de Permacultura como docente e doutoranda em um curso da UFMG iv Narrar um conjunto de aulas de Permacultura mais especificamente o encontro confronto entre os saberes da experi ncia e os conhecimentos cient ficos 32 v Extrair li es sobre minha pr tica docente e sobre as necessidades e possibilidade de uma Educa o do Campo mais inclusiva capaz de incorporar os diversos modos de pensar presentes no campo 33 2 CAMINHOS PERCORRIDOS REFERENCIAL TE RICO METODOL GICO Toda pesquisa s tem come o depois do fim Dizendo
164. dades devendo ser destinadas 50 das vagas a elas Entretanto sabendo do envolvimento das mesmas com o universo dom stico a Ciranda Infantil vem como forma de contribuir para a participa o efetiva das mesmas nas diversas atividades As m es n o precisam deixar de se envolver na organiza o em fun o dos cuidados com os filhos e filhas podendo lev los aonde forem Nesta minha primeira tarefa ent o cuidei de algumas crian as por dois dias enquanto os pais m es estavam na reuni o da Coordena o Regional que ali acontecia Pela primeira vez ouvi o Hino do MST e me emocionei com o vigor daquelas pessoas de punho esquerdo cerrado e erguido bradando uma p tria livre e forte constru da pelo poder popular Mais uma li o sobre o lugar em que estava e quem eram aquelas pessoas Estava aprendendo a cada instante a cada gesto Mergulhava naquele modo de existir e defender os direitos terra vida digna ao trabalho coletivo ao ambiente saud vel entre tantos outros 24 Ear o f E l Na proposta organizativa hier rquica as fam lias de um assentamento acampamento s o organizadas em grupos denominados de N cleos de Base NB s Al m de participarem dos NB s estas comp em os diversos Setores da organiza o Sa de Forma o Educa o etc Ent o cada acampamento as sentamento possui esta organiza o em Setores que se mant m tamb m em n vel de regi o estado e na o Representantes de cada Setor local com
165. damos ontem e hoje a partir do exerc cio que voc s fizeram como que voc s poderiam aplicar ou ajudar l na comunidade de voc s Voc s acham que teriam condi es de contribuir com a comunidade desenvolver alguma pr tica de Permacultura Como que voc s se veem nesse contexto a Depois de quase uma d zia de respostas encaminhou a tarefa do Tempo Comunidade _ Eu n o vou sugerir pra voc s uma leitura ou uma coisa assim de algum material mas eu vou sugerir pra voc s fazerem um trabalho no Tempo Comunidade desenvolver na comunidade de voc s alguma experi ncia de Permacultura Pode ser qualquer uma experi ncia pode desde um projeto de design que nem voc s fizeram aqui at uma t cnica de Permacultura uma oficina alguma coisa assim voc s ficam vontade para fazer da voc s preparam ela e tragam na pr xima etapa que a gente vai terminar pra voc s apresentarem Pode ser Palmas Poema Cantoria Uma das educandas se levanta e l um poema possivelmente constru do por um integrante daquela turma Que beleza o conhecimento navegando na hist ria Numa rela o de intimidade o tempo mata a ansiedade e a esperan a faz mem ria Os pulsos tornam se a o solidificando a corrente A luta se faz com bra os guiados pela mente Interpretando a realidade n o pela apar ncia A busca da verdade fazendo a Ci ncia Aprendendo que ainda temos muito que aprender A nossa aprendizagem depende tamb m de querer
166. de circularidade para evitar a ideia de volta a si mesmo sem transforma o Compartilhamos da ideia de que 68 o conceito de circularidade na obra de Ginzburg obedece maneira como Mikhail Bakhtin escreveu sobre o riso e a cultura popular no contexto de Rabelais e sobre as leituras que fizeram dele nos anos d cadas e s culos seguintes Circularidade em ambos autores designa o movimento de infiltra o dos produtos culturais entre os setores hier rquicos da sociedade ou seja o conceito permite verificar que os discursos dos setores representativos da cultura erudita e letrada podem permear e moldar as pr ticas de outros grupos sociais iletrados e que da mesma forma mas em sentido inverso os setores subalternos atravessam a cultura hegem nica com as pr ticas discursivas que elaboram fundadas na oralidade e que desse modo tamb m exercem influ ncia nos setores chamados de portadores da cultura erudita O conceito de circularidade em suma diz respeito constante permeabilidade cultural dentro da sociedade hierarquizada AGRA 2008 on line De acordo com esses autores a cultura din mica devido a sua capacidade de circular entre os setores da sociedade e intercambiar sentidos e valores Assim como a cultura popular e a cultura das elites se intercambiam defendemos que os saberes da experi ncia e os conhecimentos da ci ncia se misturam se estranham provocam mudan as entre si e por isso mesmo se complemen
167. dele era pesquisa de uma aranha ent o ele pegou um caderno e uma caneta pra fazer as anota es dele a ele pegou a aranha foi em cima de uma mesa largou a aranha em cima da mesa e a aranha saiu correndo a ele catou a aranha prendeu ela anotou no caderno que a aranha saiu correndo A ele foi e arrancou duas pernas da aranha e largou a aranha em cima da mesa e deu uma batida em cima da mesa quando ele bateu a aranha com seis pernas saiu correndo ele pegou e anotou l no caderno dele A aranha com seis pernas saiu correndo Pegou e cortou mais duas pernas da aranha a aranha ficou com quatro pernas s largou ela em cima da mesa e bateu a aranha saiu correndo ele foi e anotou l no caderno A aranha com quatro pernas saiu correndo Cortou mais duas pernas dela largou em cima da mesa e bateu pois a aranha mesmo com duas pernas ainda saiu caminhando a ele anotou l no caderno A aranha com duas pernas ainda consegue caminhar Cortou as ltimas duas pernas largou a aranha em cima da mesa e batia batia e nada da aranha correr a ele anotou l A aranha sem nenhuma perna fica totalmente surda Por vezes tamb m remetia cartilha que o acompanhou em boa parte das suas aulas para ajudar a apresentar a ideia de forma mais literal 2 Hist ria dispon vel tamb m no site do Movimento dos Pequenos Agricultores MPA em lt http www mpabrasilorg br biblioteca textos artigos
168. dente do Solo aborda os aspectos f sicos qu micos e biol gicos do solo al m de quest es de cunho pol tico e social impacto dos agrot xicos na sa de e no ambiente por exemplo 126 O percurso curricular se estrutura em disciplinas de Forma o Espec fica que abarca forma o na rea habilta o em Ci ncias da Educa o e forma o integradora Forma o Complementar e Forma o Livre PPP LeCampo 2009 Na habilita o Ci ncias da Vida e da Natureza as disciplinas da Forma o na rea s o Qualidade da gua e da vida T picos Espec ficos em Ci ncias da Vida e da Natureza Lixo e esgoto quest es de saneamento b sico Corpo Humano e Sa de Luz vis o e sa de Uso prudente do solo Riquezas do solo e do subsolo a diversidade mineral Energia e Ambiente Energia el trica produ o distribui o e consumo O cultivo dos alimentos e a persist ncia da fome Seguran a alimentar produ o conserva o e partilha dos alimentos A constru o de modelos di logo entre as ideias e os fen menos do mundo 1 parte A constru o de modelos di logo entre as ideias e os fen menos do mundo 2 parte Hist ria da vida na Terra Diversidade da Vida Heran a e tecnologias gen ticas Diversidade de saberes e os cuidados com a sa de dos seres e do planeta PPP LeCampo 2009 Eu j lecionei aulas de Permacultura dentro das disciplinas O cultivo dos alimentos e a persist ncia da fome Uso prudente do
169. discuss es que fossem voltadas para o concreto da vida dos assentamentos acampamentos n o apenas as valiosas teorias da academia por vezes distantes ou incompreens veis para o campo A equipe da EPSJV tinha abertura para este di logo e constru o para esta associa o de educadores as do MST e da Fiocruz na condu o dos temas Mas isso n o aconteceu sem bater muito a cabe a confrontar olhares noites a dentro de discuss o Enfim um esfor o mesmo de alterar o tracejado das fronteiras entre os conhecimentos sistematizados pela Ci ncia Academia e os saberes forjados pela experi ncia dos sujeitos do campo e da luta pela terra do MST Neste curso entre tantos educadores as que encontrei foi poss vel verificar ainda mais este esfor o de cruzamento de fronteiras com a Professora Simone Cristina Ferreira minha parceira nas aulas de Planejamento Andr B rigo D co um dos coordenadores do curso pela EPSJV que acompanhou todas as aulas e atividades do mesmo e a Bianca Ruckert militante do MST que compunha a coordena o do curso e tamb m acompanhou todas a aulas e atividades D co e Bianca eram os principais barqueiros neste cruzamento de fronteiras tentando levar e trazer os demais educadores as nesta jornada de ir e vir dos conhecimentos e saberes de origens distintas que emergiam no curso Al m das aulas que ministrei no curso de Sa de ambiental acompanhei tamb m as aulas de Agroecologia ministradas por um militante a
170. e 2014 OSOWSKI C I Cultura do sil ncio In STRECK D R REDIN E ZITOKOSKL J J Org Dicion rio Paulo Freire 2 ed ver ampl Belo Horizonte Aut ntica Editora 20104 p 101 102 OSOWSKI C I Cultura In STRECK D R REDIN E ZITOKOSKI J J Org Dicion rio Paulo Freire 2 ed ver ampl Belo Horizonte Aut ntica Editora 2010b p 98 100 OSOWSKI C I Linguagem In STRECK D R REDIN E ZITOKOSKI J J Org Dicion rio Paulo Freire 2 ed ver ampl Belo Horizonte Aut ntica Editora 2010c p 247 248 PAULUS G amp SCHLINDWEIN S L Agricultura sustent vel ou re constru o do significado de agricultura Agroecol e Deseny Rur Sustent Porto Alegre v 2 n 3 2001 PERASSOLI R A CORR A T H B VIEIRA M A O processo de ensino aprendizagem em ci ncias na educa o do campo desafios e possibilidades In 7 MOTRA ACAD MICA UNIMEP Piracicaba Anais Piracicaba UNIMEP 2009 Dispon vel em lt http www unimep br p hp g mostraacademica anais 7 mostra 2 330 pdf gt Acesso em 19 jan 2015 PEREIRA E et al Epistemologias da terra e pr ticas educativas estrat gias do mst para uma luta emancipat ria frente ao modelo de globaliza o hegem nico In COL QUIO INTERNACIONAL DE EDUCA O Florian polis Anais Florian polis UNOESC 2014 Dispon vel em lt https w ww goo gle com br url sa t amp rct j amp q amp esrc s amp source web amp cd 1 amp cad rja amp
171. e cada um de n s Vale destacar que a experi ncia de vida de Francisco n o empobreceu a aula ou desvalorizou os conhecimentos cient fico tecnol gicos pelo contr rio os mesmos estavam presentes na aula imbricados com suas narrativas principalmente A diferen a que enquanto minha aula um discurso sobre um modo de vida permacultural a aula dele um modo de vida permacultural ou de uma Permacultura vivida Enquanto eu emprego enunciados gen ricos supostamente aplic veis a situa es concretas seu modo narrativo de exposi o parte de situa es concretas de que extrai enunciados gen ricos na forma de ensinamentos 169 No plano de aula que elaborei havia uma proposta de atividade pr tica de oficma de sab o a partir de leo de cozinha utilizado e esta atividade tamb m foi desenvolvida por mim em aula de Permacultura em outros momentos Esta escolha foi feita de acordo com os sujeitos na aula professores as em forma o com base em conte dos que tradicionalmente s o esperados no mbito das Ci ncias ou seja sab o e rea es qu micas Neste sentido os contextos e a pr pria pr tica permacultural eram pretextos para ensinar a qu mica Para Francisco o contexto de vida o seu texto b sico da aula Quando ele relata na aula uma oficina pr tica que haviam feito h pouco tempo de tinta de terra para pintar os banheiros e o espa o da Ciranda Infantil percebe se que o contexto n o pretexto tratava se de rea
172. e n o s por catar tanto feij o mas por comer apenas feij o preto enquanto estava l nunca senti tanta falta do feij o vermelhinho ou carioquinha mais costumeiro em Minas para os quais normalmente nem dava tanta bola assim Al m de catar o feij o ajudei tamb m na organiza o da cozinha e refeit rio e vi algumas pessoas do Assentamento chegando para uma reuni o da Coordena o da rea Depois do almo o fui embora felz da vida deixando uma casa e voltando para a minha ansiosa por encontrar meu filho e meu companheiro Enfim voltar vida de m e dona de casa companheira professora militante do MST e doutoranda 111 4 PANO DE FUNDO Trabalhamos por uma identidade pr pria das escolas do meio rural com um projeto pol tico pedag gico que fortale a novas formas de desenvolvimento no campo baseadas na justi a social na coopera o agr cola no respeito ao meio ambiente e na valoriza o da cultura camponesa Manifesto das Educadoras e dos Educadores da Reforma Agr ria ao povo brasileiro 1997 4 1 EDUCA O DO CAMPO SABERES DOS POVOS DO CAMPO E O SEU PARADIGMA DE EDUCA O Os povos do campo s o sujeitos que possuem muitos saberes e dominam muitas t cnicas que lhes permitem desenvolver solu es para problemas que se colocavam no cotidiano para garantir a sobreviv ncia de si e do grupo LESSA amp TONET 2008 As formas de enfrentamento de fen menos da natureza que se apresentavam muita
173. e possibilitam a vincula o dos as educandos as com a realidade objetiva de produ o material da vida na sua comunidade podendo contribuir com as tarefas que j desempenha e mesmo com a solu o de problemas da comunidade sinalizando para a perspectiva da forma o t cnica como contribui o e qualifica o do trabalho produtivo Outra contribui o desse programa o financiamento das despesas dos as educandos as que lhes permite fazer o curso tais como transporte hospedagem alimenta o material did tico pedag gico al m dos custos do curso Sem tais condi es possivelmente a maioria destes sujeitos n o teria estudado ou n o estaria estudando Assim a Educa o do Campo como ponto de converg ncia dos saberes e resist ncia dos povos do campo tem se tornado tamb m expoente do uso desses saberes para a supera o das desigualdades a que os povos do campo sempre estiveram submetidos E tem contribu do inclusive como um paradigma de educa o de supera o da educa o como ferramenta de 120 manuten o dos privil gios de uns em detrimento dos direitos dos outros E da mesma forma a Educa o do Campo resume a capacidade e o potencial que os sujeitos do campo t m para trilhar seu pr prio caminho definindo o futuro que almejam Apesar do reconhecimento oficial da Educa o do Campo esta uma pr tica em constru o Mais ainda segundo Caldart 2012 um conceito em constru o A r
174. e alternativas luz da proposta da Permacultura galinheiro constru do com bambu chiqueiro ecol gico que utiliza palha e serragem _ Ent o j fiz v rias coisas e a gente vai avan ando mas n o implementei uma mudan a radical estou implementando aos poucos _ Quando eu comecei a fazer os cursos que fui conhecendo novas experi ncias de Permacultura algumas eu fui desenvolvendo l em casa e tem algumas que a gente fez no Assentamento Por exemplo no Assentamento j tem v rias experi ncias de saneamento b sico de tratamento de esgoto Porque tratamento de esgoto tem v rios modelos pra cada situa o tem um modelo tem uns que preferem mais um outros preferem mais outro ent o 36 Centro de Desenvolvimento Sustent vel e Capacita o em Agroecologia CEAGRO outra escola do MST de forma o t cnica e pol tica no mbito da Agroecologia localizada em Rio Bonito do Igua u Para n 37 Este tijolo tamb m conhecido como tijolo ecol gico um material alternativo de menor custo obtido pela mistura de terra cimento e um pouco de gua Por possuir como principal material a terra em abund ncia na natureza e dispon vel no Assentamento este tipo de tijolo considerado uma excelente tecnologia alternativa para os assentamentos de Reforma Agr ria e outras comunidades rurais 102 tem v rios modelos aqui no Assentamento desses tratamentos de esgoto Inclusive eu ajudei a fazer em v rios locais t m alguns
175. e culturas na aula de Francisco em se tratando das subculturas da ci ncia e da experi ncia onde ambas dialogam e se enriquecem mutuamente Francisco um sujeito singular e complexo cujo discurso est recheado de pistas md cios de que ele tem contado com os conhecimentos 178 acad micos com os documentos artigos cartilhas hist rias de outros povos etc reconhecidos como cient ficos Os modos como os discursos circulam na situa o em que Francisco foi protagonista prova da interpenetra o dos produtos culturais entre os setores hier rquicos e subalternos da sociedade AGRA 2008 on line Sua aula rica de evid ncias de que ele tem ou teve acesso aos discursos dos setores representativos da cultura erudita e letrada ibidem e se comporta como a pr pria fronteira que sofre influ ncia e tamb m influencia Ele atravessa a fronteira da cultura hegem nica ou atravessado indo praticar seu discurso de professor de n vel superior avalizado pela academia pelos saberes de pr tico pelas in meras experi ncias oportunizadas pelo MST aos militantes e assentados e agora por esta tese O seu discurso h brido d a ver as diferentes fontes em que ele bebeu embora seja mais marcante no seu discurso o modo narrativo de pensar e de ensinar Permacultura Por consequ ncia sua presen a na academia tamb m faz circular os seus saberes e dizeres da experi ncia junto aos portadores da cultura erudita professores
176. e elementos formados de maneira regular por uma pr tica discursiva e indispens vel constitui o de uma ci ncia apesar de n o se destinarem necessariamente a lhe dar lugar FOUCAULT 1997 p 206 O saber visto como uma constru o hist rica e como tal produz verdades que se instalam e se revelam nas pr ticas discursivas AZEVEDO 2013 p 149 pois n o h saber sem uma pr tica discursiva definida e toda pr tica discursiva pode definir se pelo saber que ela forma FOUCAULT 1997 p 207 E importante aqui esclarecer o que uma pr tica discursiva conforme Foucault N o podemos confundi l a pr tica discursiva com a opera o expressiva pela qual um indiv duo formula uma ideia um desejo uma imagem nem com a atividade racional que pode ser acionada em um sistema de infer ncia nem com a compet ncia de um sujeito falante quando constr i frases gramaticais um conjunto de regras an nimas hist rias sempre determinadas no tempo e no espa o que definiram em uma dada poca e para uma determinada rea social econ mica geogr fica ou lingu stica as condi es de exerc cio da fun o enunciativa FOUCAULT 1997 p 136 Foucault 1997 recorre Arqueologia do Saber para analisar as condi es de exist ncia dos discursos quer sejam cient ficos ou n o e conclui que o conhecimento n o o resultado do desenvolvimento dos saberes rumo verdade muito embora todo conhecimento tenha orige
177. e percurso militante quero destacar a minha participa o em dois grandes eventos do MST no per odo A Marcha Nacional pela Reforma Agr ria em maio de 2005 com dura o de 17 dias onde aproximadamente 12 000 pessoas percorreram a p os duzentos e poucos quil metros que separam Goi nia de Bras lia estudando e debatendo diariamente com a sociedade em geral o sentido e necessidade da Reforma Agr ria em nosso pa s E em junho de 2007 o V Congresso Nacional do MST em Bras lia que reuniu cerca de 18 000 militantes Sem Terra em um momento de consolida o das discuss es dos rumos e diretrizes da luta do MST para os pr ximos anos No VI Congresso n o estive presente em fevereiro de 2014 em fun o das demandas da qualifica o do doutorado No in cio de 2008 ap s contribuir em algumas atividades de forma o do MST e pretendendo uma maior atua o nos cursos formais do MST que acontecem em parceria com centros de ensino inclusive pensando na possibilidade de lecionar regularmente na Educa o 28 Os cursos do MST s o realizados em sua maioria a partir de projetos e conv nios estabelecidos com algumas entidades INCRA centros de ensino e pesquisa ag ncias financiadoras de pesquisas Organiza es n o Governamentais ONG s e entidades internacionais etc Tais cursos t m como objetivo central a qualifica o para o dom nio t cnico e pol tico das diversas demandas no mbito da Reforma Agr ria produ o a
178. e solu es para problemas pontuais as distintas linguagens simb licas de compreens o do mundo Ibid p 35 Instru dos por uma educa o formal que quase sempre privilegia valores e crit rios como verdade objetividade demonstra o e verifica o somos muitas vezes levados a crer que a cultura cient fica a nica linguagem capaz de explicar e fazer compreender os fen menos do mundo a vida da Terra as dores do corpo e da alma os processos sociais o ecossistema a origem do universo Esse entendimento tem protagonizado o progresso das ci ncias modernas e desconhece ou desclassifica outras linguagens que operam igualmente compreens es e explica es dos fen menos nossa volta e dos quais somos parte produto e produtores Ibid p 139 O ensino de ci ncias caracteriza se comumente pela transmiss o da ideologia dominante como forma de inser o dos estudantes na subcultura da ci ncia na sua dimens o cient fica ou da ci ncia ocidental como se fosse o todo e a nica forma de racionalidade porque n o admite outras formas de racionalidades e mesmo quando as admite para tom las como seu objeto de explica o e enquadramentos Essa parte tomada como se fosse o todo chamada de raz o meton mica SANTOS 2007b p 96 Recorrendo Bakhtin Martins 2013 p 242 afirma que o discurso dominante aos poucos vai tomando lugar do senso comum n o cient fico a partir dos processos de transmiss o das id
179. e sujeitos n o cientistas ALMEIDA 2010 p 36 Entretanto s o saberes que n o podem ser entendidos nem reduzidos a um ensaio ou a um est gio anterior da explica o cient fica Ibid p 88 A bot nica utilizada por numerosas popula es brasileiras para curar suas doen as os m todos de medir volume e rea como o denominado cuba o que se distinguem da geometria euclidiana a constru o de artefatos e t cnicas capazes de permitir a coleta de frutos em espa os de dif cil acessibilidade como o caso da coleta do a a na Amaz nia brasileira e do corte da palha da carna ba no Nordeste do Brasil s o algumas das refer ncias que atestam a exuber ncia de um pensamento desafiador e criativo e a destreza de uma ci ncia perto da natureza Ibid p 63 grifo da autora A valida o a posteriori demonstra o quanto a pesquisa cient fica deve s antecipa es dos saberes da tradi o Por exemplo as propriedades medicinais da planta babosa s o hoje referendadas e validadas al m de receber um novo nome Aloe vera Tamb m o antigo costume das mulheres comerem galinha caipira durante o per odo p s parto recebe hoje autoriza o da pesquisa cient fica que descobriu as propriedades dessa ave para curar infec es Para citar mais um exemplo o que no Nordeste do Brasil se denomina dedinho do c o cujo nome avel s sempre foi utilizado como um medicamento para v rios fins que inclui dentre outros
180. e vive e que hoje possui 11 hortas deste tipo O Assentamento em que Francisco reside acolhe uma escola de forma o da Via Campesina que desenvolve v rios cursos de forma o pol ica e t cnica na rea da Agroecologia Nestes cursos devido ao car ter internacionalista da Escola sempre est o presentes al m de brasileiros as muitos educandos as e educadores as de outros pa ses da Am rica Latina A Escola de Agroecologia EA foi instalada na sede do Assentamento Terra Prometida e para isso foram necess rias reformas e constru es para abrigar suas demandas alojamentos refeit rio cozinha banheiros coletivos etc Quando a Escola foi criada Francisco foi convidado a contribuir na organiza o da mesma coordenando a parte da infraestrutura Francisco participa da organiza o da EA praticamente desde o seu in cio sempre presente na coordena o inclusive atuando como coordenador executivo uma esp cie de coordenador geral no quadri nio 2008 2011 Neste per odo como coordenador executivo ele participava da Dire o Estadual do MST pois o Movimento no referido estado tem de produtos de agricultores familiares ou de suas organiza es estimulando os processos de agrega o de valor produ o Parte dos alimentos adquirida pelo governo diretamente dos agricultores familiares assentados da Reforma Agr ria comunidades ind genas e demais povos e comunidades tradicionais para a forma o de estoq
181. ealidade que produz a Educa o do Campo n o nova mas ela inaugura uma forma de fazer seu enfrentamento Ibid p 259 No MST a materializa o da Fduca o do Campo se baseia na constru o de uma escola preocupada com a forma o humana e com o movimento da hist ria MST 1999 p 201 Assim a potencialidade da Pedagogia do MST se faz na luta social na organiza o coletiva na terra no trabalho e na produ o na cultura nas escolhas na hist ria e na altern ncia 4 1 1 A ALTERN NCIA NA EDUCA O DO CAMPO Tenho interesse especial em discutir o regime de altern ncia que orienta a organiza o 2 do curr culo da Educa o do Campo em fun o do meu interesse de pesquisa que a aproxima o e a circula o de saberes entre cultura cient fica e saberes da experi ncia Assumindo o trabalho como princ pio educativo a Pedagogia da Altern ncia permite aos jovens do campo a possibilidade de continuar os estudos e de ter acesso aos conhecimentos cient ficos e tecnol gicos n o como algo dado por outrem mas como conhecimentos conquistados e constru dos a partir da problematiza o de sua realidade que passa pela pesquisa pelo olhar distanciado do pesquisador sobre o seu cotidiano CORDEIRO REIS HAGE 2011 p 116 A proposta da altern ncia remonta ao in cio do s culo XX Maisons Familiales Rurales francesas denominado no Brasil como Casas Rurais Familiares onde os jovens tinham um tempo de
182. eiro dia de aula tive aproximadamente 77 horas aula para acompanhar quase 4 horas pela manh e quase 3 horas no per odo da tarde A interven o de Francisco fecharia no dia seguinte com mais 5 horas aula Intercalado aos momentos de aula Francisco e tamb m os as educandos puxavam uma m sica para animar contavam um causo algo para quebrar a rotina e restabelecer o nimo e a concentra o Fu conhecia as m sicas cantava junto estava acostumada com estes intervalos nas aulas mas t o ausentes nas nossas escolas urbanas e mesmo rurais Muito embora Destaco o que se encontrava no meu cademinho ao redor dos registros das aulas que acompanhei pois um bom exemplo do universo e dos espa os em que eu estava circulando naquele momento Antes com data de meados de agosto 2012 o caderno continha anota es de uma reuni o do Setor de Produ o do MST MG de que havia participado Depois disso uma folha quase em branco com uma nica anota o de caneta rosa um lembrete para a reuni o com a coordenadora do Ensino Fundamental I do Col gio em que lecionava uma reuni o sobre o projeto de uma horta para a escola A primeira anota o depois das aulas de Francisco e demais informa es sobre o Curso Tecn logo eramos pontos de uma palestra ministrada em setembro daquele ano O tema Permacultura em uma jornada acad mica dos cursos da rea de Agr rias de uma faculdade particular do interior de Minas 107 professora no LeCa
183. em rela o com o curso de Agroecologia em fun o de minha atua o no mesmo A Licenciatura em Educa o do Campo iniciou na UFMG como um projeto especial para o p blico da Reforma Agr ria em 2005 atrav s do PRONERA em uma turma majoritariamente composta por militantes do MST Esta turma finalzou os estudos em fevereiro de 2010 Uma turma de transi o entre esta experi ncia do PRONERA e a institucionaliza o do curso teve inicio em 2008 nas habilita es Ci ncias da Vida e da Natureza e Linguagens Arte e Literatura Em fun o desta experi ncia o curso tornou se 125 regular na UFMG em 2009 sendo oficialmente reconhecido em 2012 e mant m o car ter de atender o p blico do campo A cada ano h a entrada para uma habilita o distinta deste ent o O LeCampo possui habilita o em quatro reas do conhecimento sendo que a cada ano uma turma inicia em uma destas reas Ci ncias da Vida e da Natureza turmas iniciantes em 2009 e 2013 Linguagens Artes e Literatura turmas 2010 e 2014 Ci ncias Sociais e Humanidades turmas em 2011 e 2015 e Matem tica turma de 2012 e previs o para 2016 PPP LeCampo 2009 As primeiras discuss es para a cria o do LeCampo na FaE iniciaram em 2004 com um grupo reduzido de professores e professoras a grande maioria com pouca ou nenhuma aproxima o com o campo e seus sujeitos Naquele momento muito se refletia sobre o perfil do educador que se queria formar para atuar na
184. em simples e que foram feitas praticamente sem custo O custo mesmo foi o trabalho de voc ir l e fazer Isso vai criando na gente uma vontade de ir implementando essas mudan as Por exemplo ontem n s fizemos esse trabalhinho aqui de observar os padr es da natureza ent o a gente pode procurar adaptar olhar esses padr es e tentar implementar na nossa pr tica Ciente de que o conhecimento e o aprendizado permacultural se d o a partir das condi es singulares de cada espa o por exemplo a topografia do terreno a disponibilidade de gua a fertilidade do solo o clima a quantidade de fam lias o potencial produtivo o n vel de consci ncia e de conhecimento dos sujeitos etc e que os diversos saberes n o devem ser ignorados Francisco encaminhou assim o trabalho em grupo sobre o planejamento do design permacultural Neste planejamento que uma aplica o pr tica dos princ pios permaculturais os estudantes deveriam propor altera es em reas distintas da Escola p tio da Escola espa o da Ciranda Infantil dormit rios refeit rio moradias etc a partir das contribui es da Permacultura Como os as educandos as j estavam organizados em sete N cleos de Base NB foi a partir desta divis o que foram pensar o planejamento permacultural destes espa os _ partindo da realidade existente pode ser que algum local j tenha algumas coisas mais avan adas outro local ainda esteja menos avan ado mas A gente tem
185. ent vel Muitas entidades governamentais e acad micas por meio de documentos artigos palestras mesas redondas entre outros tratam a Agroecologia como referencial te rico supostamente neutro a ser incorporado nas pol ticas de desenvolvimento rural sustent vel compat vel ao e parte do modo de produ o capitalista CAMARGO 2007 p 178 Ao contr rio disso na perspectiva tamb m considerada pelo MST a Agroecologia pressup e uma tomada de posi o de classe uma valoriza o das rela es sociais que envolvem quest es centrais como a concentra o privada da gua e da terra o campesinato a soberania alimentar a Reforma Agr ria a luta de classe a justi a ambiental os movimentos sociais de luta pela terra etc LEFF 2002 GUTERRES 2006 CAMARGO 2007 Jesus 2005 p 26 chama aten o para a constata o de que do ponto de vista cient fico a Ci ncia Agr cola baseia se nas ideias do positivismo reducionista um modelo muito adequado aos interesses econ micos que dominam os sistemas de produ o e os mercados agr colas mundiais J a Agroecologia se organiza sobre uma nova postura cient fica que conforme Prigogine e Stengers 1984 citados por Jesus 2005 p 27 busca integrar a cultura cient fica tecnol gica com a cultura cient fica de car ter mais humanista que reconhece tamb m o saber popular e tradicional Os saberes agroecol gicos s o uma constela o de conhecimentos t cnicas saberes e
186. ental como irrelevantes e por isso ocultadas s o capazes de contribuir efetivamente na melhoria da qualidade de vida das coletividades das quais fazem parte Ibid p 108 109 Esses dois militantes atrav s da luta por educa o para as fam lias e por alternativas produtivas condizentes com a realidade dos assentamentos e acampamentos do estado do Pernambuco s o exemplos de apostas em emancipa es sociais Ibid p 108 Portanto dentro de tal complexidade desenvolvemos este artigo a partir do prisma epistemol gico ao enfatizarmos a rela o entre os movimentos sociais e a educa o apresentando sujeitos que defendem simultaneamente dois aspectos por um lado a valoriza o de outros saberes e da educa o em espa os n o escolares Por outro os mesmos sujeitos defendem a necessidade de transforma o da escola p blica de tal forma que o ensino formal sirva a prop sitos emancipadores e n o manipuladores Esses e outros sujeitos protagonistas das suas pr prias hist rias d o pistas de um mundo mais complexo e diverso do que a raz o indolente aceita e credibiliza Tal multiplicidade desafia as Ci ncias Sociais convida percep o da exist ncia de saberes e culturas ocultados pela vis o hegem nica da realidade tamb m alerta para a exist ncia de caminhos emancipat rios sutis ou evidentes protagonizados por tantos nomes rostos e m os que atuam a partir dos movimentos sociais GUAS BENZAQUE
187. eologias dominantes atrav s da intera o social verbal No caso do ensino de ci ncias e em especial no ensino de f sica a quest o da tentativa de domina o e sujei o fica mais evidente Isto se deve pr pria epistemologia desta ci ncia que presa por postulados leis e defini es que devem ser seguidos rigorosamente e apoiados pela comunidade cient fica em geral fica sem muito espa o para vozes dissonantes Nesta rea do conhecimento a quest o da mudan a conceitual muito evidente Atrav s desta metodologia o novato levado a ressignificar suas ideias e seus conceitos espont neos Fica evidente ai a a o do grupo dominante e sua tentativa de monologizar os discursos MARTINS 2013 p 239 Enfim embora a educa o em ci ncia se fa a por meio de discursos pedag gicos sobre a ci ncia pela transposi o did tica das produ es cient ficas vale se mais dos produtos do que dos processos de produ o Esse reducionismo tanto decorre de uma vis o 128 estereotipada da ci ncia como produtor de estere tipos perpetuando uma vis o colonizadora da ci ncia ocidental como recorrentemente denuncia Boaventura de Sousa Santos Ao contr rio disso consideramos ser importante que os estudantes compreendam a ci ncia como um empreendimento social e cultural como produ o humana Uma das formas de compreender e de explicar o mundo Acreditamos que ensinar ci ncias para os sujeitos do campo pode ser uma
188. epensar de forma complexa o conhecimento por meio da diversidade de saberes deve contaminar pesquisas pontuais disserta es teses congressos e o pr prio aparato do Estado sendo este um exerc cio de se pensar de modo mais harm nico planet rio e ecol gico Portanto esta tese representa um esfor o de se pensar o di logo entre os sujeitos da Universidade e da Educa o do Campo a partir do reconhecimento e da compreens o de outras configura es do saber conforme Foucault 1997 Assim interrogar sobre as condi es de circula o dos distintos saberes produzidos pelas sociedades uma quest o importante se queremos entender e intervir na din mica do processo social com vistas a incluir conhecimentos diversos e n o exclu los ALMEIDA 2010 p 133 28 Partindo destas inquieta es iniciais uma revis o de literatura foi feita a fim de resgatar alguns trabalhos dos ltimos 10 anos com aproxima o discuss o espec fica que constitui esta tese sobretudo em rela o a saberes e conhecimentos no mbito do MST Utilizei ent o os seguintes descritores para empreender a revis o de literatura saberes e MST e conhecimentos e MST A revis o acerca do ensino de ci ncias na Educa o do Campo e da Permacultura no MST ser o apresentadas nas sess es 4 1 e 4 3 respectivamente Tiriba e Sichi 2012 p 26 apontam que a experi ncia do trato com a terra de fam lias em um assentamento organizado pelo MST e pela
189. ere muito r pido o frio ent o uma parede vai demorar pra transferir o frio Quando o frio bater na parede at esse frio chegar l dentro demora muito mais e o vidro n o o vidro quase que imediato Ent o mesmo que eu deixe essa janela aqui fechada eu vou ter problema com o frio Ent o para o lado do frio a gente evita de por a janela p e janela para o lado que a gente quer que entre o calor Se for para uma regi o muito quente eu j tenho que adotar outra estrat gia p e a janela do lado que entra o ar mais fresco porque a minha casa muito quente dentro 4 casa mais certa a casa constru da com palha porque a palha consegue segurar mais ainda a temperatura dentro da casa Eu confesso n o ter ficado satisfeita com a explica o fisica Essa hist ria de vidro vento frio entrar calor segurar a temperatura Tentei puxar pela lembran a das aulas de termodin mica os conceitos de energia trabalho calor temperatura condutividade isolantes Cad o professor de F sica pra me socorrer Independentemente da corre o conceitual a hist ria fazia sentido para os educandos entenderem a ideia de conforto t rmico em uma moradia de assentamento rural e a necessidade de um planejamento que levasse isso tamb m em conta Remeteu v rias vezes perspectiva hist rica de como o que feito hoje tem rela o direta com o que ocorreu no passado e influencia diretamente as a es do presente acarretando o futuro _ A
190. erraaennnna 172 5 3 6 A DIMENS O COLETIVA DO SUJEITO NA AULA n on 174 6 LI ES QUE FICAM LI ES QUE V O ccererseneneeseneesenseeeseneeensenearensess 177 REFER NCIAS BIBLIOGR FICAS ccreeneeeeeneemeeeeeeeeeneeneereersernserneenserneeneensers 181 A APENDICE sussa isarativosadastassiatenaiooatidinadasdecioapia otica assen sasso tes gndica sda ecrabiaasan ta a cnosti enoii sese 200 16 1 PARA ENTENDER E ME FAZER ENTENDER Se quer seguir me narro lhe n o uma aventura mas experi ncia a que me induziram alternadamente s ries de racioc nios e intui es Tomou me tempo des nimos esfor os Dela me prezo sem vangloriar me Surpreendo me por m um tanto parte de todos penetrando conhecimento que os outros ainda ignoram Jo o Guimar es Rosa 1962 p 77 1 1 APRESENTA O GERAL DO TEXTO Essa tese teve como objeto investigar a tens o entre os conhecimentos de ci ncias naturais e os saberes da experi ncia que emergem da vida no campo Por meio das hist rias contadas e ouvidas procurei compreender modos de aproxima o dos discursos da ci ncia e da experi ncia e por isso mesmo entre sujeitos no ensino de Permacultura nos cursos de educa o para os sujeitos do campo Assim a partir da extrair li es para a minha pr tica como docente no curso de Ci ncias da Vida e da Natureza na Licenciatura em Educa o do Campo bem como para as demais atividades como professora e militante n
191. es ticos i cuidar da Terra de todas as coisas vivas ou n o solos esp cies e suas variedades atmosfera florestas micro habitats animais e guas ii cuidar das pessoas de forma que nossas necessidades b sicas de alimenta o abrigo educa o trabalho satisfat rio e contato humano saud vel sejam supridas i compartilhar excedentes repassar para quem o necessite tempo conhecimento dinheiro trabalho etc iv 136 estabelecer limites produ o e ao consumo que requer um repensar de valores um replanejamento dos nossos h bitos e uma redefini o dos conceitos de qualidade de vida pois alimento saud vel gua limpa e abrigo existem em abund ncia na natureza basta que com ela cooperemos RICIARDI amp DOMINOT 2008 p 2 grifos dos autores A partir da tica permacultural foram estabelecidos alguns princ pios que v m contribuindo para organizar a diversidade do pensamento permacultural Existem diferentes formas de apresentar tais princ pios e optamos pelo modo proposto por Riciardi e Dominot 2008 Os princ pios da Permacultura oferecem uma dire o para desenvolver a tica de cuidado com o planeta cuidado com as pessoas e partilha de recursos sendo 1 Posi o relativa Cada elemento posicionado relativamente a outro s de forma a criar uma rea o SIN RGICA em que cada um beneficia de alguma maneira do outro destaque dos autores 2 Cada elemento tem v rias fun es Uma rv
192. es 8 Camponeses Narrativas pessoais T tulo ll Lima Maria Em lia Caixeta de Castro Ill Universidade Federal de Minas Gerais Faculdade de Educa o CDD 370 19346 Cataloga o da Fonte Biblioteca da FaF UF MG UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE EDUCA O PROGRAMA DE P S GRADUA O EM EDUCA O CONHECIMENTO E INCLUS O SOCIAL Tese intitulada O Ensino de Permacultura na Educa o do Campo circula o de sentidos entre ci ncia e experi ncia de autoria da doutoranda Marilia Carla de Mello Gaia avaliada pela banca examinadora constitu da pelos segumtes professores Profa Maria Em lia Caixeta de Castro Lima FaF UFMG orientadora Maria Isabel Antunes Rocha FaE UFMG Prof Helder Figueiredo e Paula COLTEC UFMG Prof Joao Wanderley Geraldi UNICAMP Profa J nia Freguglia Garcia UFES Belo Horizonte 27 de fevereiro de 2015 Ao Pedro que possa tremer de indigna o enquanto ainda existirem sem terra sem teto sem trabalho sem comida sem escola e que fa a de sua vida sua parcela na transforma o necess ria Amo voc meu pequeno MI AGRADECIMENTOS Pego emprestado os Cantares da Educa o do Campo do MST e outras belas m sicas sempre presentes nos espa os educativos dos e das Sem Terra para compor parte dos meus agradecimentos Ao Criador que fez a Natureza fez os campos e florestas fez os bichos fez o m
193. escolar e portanto a experi ncia se torna um lugar com estatuto de aprendizagem e produ o de saberes em que o sujeito conquista um lugar de ator protagonista apropriando se do seu processo de forma o Ibid p 25 Assim o TC n o tempo apenas de listas de exerc cios resenhas de textos e livros revis o simples e solit ria de conte dos H de se pensar a constru o efetiva de conhecimentos nos dois momentos da altern ncia O TC pode se transformar em tempo e espa o em que a pr tica assume uma centralidade maior do que a teoria ao encontro de projetos de dizer da academia e dos saberes da vida no campo 4 1 2 DOIS CEN RIOS NA EDUCA O DO CAMPO Entre as centenas de possibilidades de escolas da Educa o B sica aos cursos t cnicos e cursos superiores a Fduca o do Campo se mostra com suas particularidades em cada experi ncia em andamento Nesta tese temos duas como base para conhecer um pouco esta configura o Ambas em cursos de n vel superior desenvolvido por institui es p blicas federais mas com suas especificidades em fun o de maior ou menor proximidade com os movimentos sociais O Curso Tecn logo em Agroecologia foi o espa o de encontro com Francisco e sua aula de Permacultura O Curso de Licenciatura em Educa o do Campo aquele em que trabalho desde 2009 e coloco em rela o com as aulas que lecionei ali e as que observei de Francisco 123 4 1 2 1 CURSO TECN LOGO EM AGROECOLOG
194. etor de Produ o Nacional a dar algumas aulas sobre planejamento de assentamentos em um curso de Especializa o T cnica em Sa de Ambiental para Trabalhadores Rurais um curso do MST junto com a Escola Polit cnica de Sa de Joaquim Ven ncio EPSJV da Fiocruz RJ Este convite veio da minha atua o nos ltimos anos nesta tarefa e reconhecimento da minha possibilidade de contribuir neste espa o como educadora O curso foi realizado entre 2008 e 2009 no munic pio de S o Mateus no interior norte do Esp rito Santo no Centro de Forma o Maria Olinda CEFORMA situado em um assentamento do MST Como educandos militantes do MST e de algumas outras organiza es de luta pela terra de todo o pa s Nestas aulas sobre Planejamento no curso de Sa de Ambiental no CEFORMA elaboradas e ministradas em parceria com uma pesquisadora da EPSJV e ao longo do planejamento e decorrer do curso como um todo vivenciei momentos riqu ssimos de aprendizado sobre a pr tica e gest o da doc ncia e de um curso A experi ncia de constru o deste curso me levou mais uma vez a vivenciar como se d a constru o dos saberes e conhecimentos em paradigmas distintos experi ncia e ci ncia O primeiro contato havia sido na constru o da disserta o do mestrado Mais uma vez um olhar com outras lentes em um esfor o de aproxima o Aqui os esfor os para cruzar 92 fronteiras se davam na constru o de cada disciplina n s do MST quer amos
195. eza da aula de Permacultura observada o passear entre os saberes da experi ncia e os conte dos cient ficos as formas de aproximar aquele conte do do contexto dos educandos as e construir di logos em sala de aula 5 3 1 A AULA COMO ACONTECIMENTO A aula de Francisco um acontecimento como diz Geraldi 2010b e exemplar neste sentido Ensinar n o mais transmitir e informar ensinar ensinar o sujeito aprendente a construir respostas portanto s se pode partr de 2 perguntas Tomar a aula como acontecimento eleger o fluxo do movimento como inspira o rejeitando a perman ncia do mesmo e a fixidez m rbida no passado GERALDI 2010b p 100 acontecimento medida que acolhe cada momento do discurso em sua irrup o de acontecimentos FOUCAULT 1997 p 28 uma vez que Francisco torna a aula um campo dos acontecimentos discursivos Ibid p 30 seus e dos educandos Todo enunciado um acontecimento inesgot vel e assim tamb m uma aula pois todo acontecimento nico 161 aberto repeti o transforma o reativa o est ligado n o apenas a situa es que o provocam e a consequ ncias por ele ocasionadas mas ao mesmo tempo e segundo uma modalidade inteiramente diferente a enunciados que o precedem e o seguem Ibid p 32 Para Barbosa 2010 a aula um acontecimento quando assume a possibilidade de ser um sistema aberto e portanto complexo Este sistema aber
196. f gt Acesso em 05 jan 2015 196 RIBEIRO M Luta In STRECK D R REDIN E ZITOKOSKI J J Org Dicion rio Paulo Freire 2 ed ver ampl Belo Horizonte Aut ntica Editora 2010 p 248 251 RICIARDI J DOMINOT T Cartilha Permacultura II Manual de Design Ecol gico Coletivo Permacultores Florian polis UFSC CTC 2008 39 p ROSA J G Primeiras est rias Ed Nova Fronteira 1962 ROSENO S M Educa o do campo pedagogia em l cus de resist ncia In I ENCONTRO DE PESQUISAS E PR TICAS EM EDUCA O DO CAMPO DA PARA BA 2011 Jo o Pessoa Anais Jo o Pessoa UFPB 2011 Dispon vel em lt http ieppecpb2011 xpg uol com br conteudo GTs GT 20 2001 14 pdf gt Acesso em 02 jan 2015 ROSENO S M CAMPOS R C Notas sobre Marcha e M stica no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra MST Trabalho amp Educa o 21 3 p 293 302 set dez 2012 ROSSATO R Pr xis In In STRECK D R REDIN E ZITOKOSKI J J Org Dicion rio Paulo Freire 2 ed ver ampl Belo Horizonte Aut ntica Editora 2010 p 325 327 SAITO C H AZEVEDO A A 2012 O Conceito gramsciano de intelectual org nico aplicado aos embates entre ambientalistas e ruralistas a experi ncia do Mato Grosso Dispon vel em lt http www anppas org br encontro5 cd artigos GTI0 130 97 20100808085451 pdf gt Acessado em 18 02 2014 SANTIAGO V Reforma agr ria na lei ou na marra Ligas Campones
197. fala por alto T meio perdida A turma n o traz muitos elementos da pr tica experi ncia para a aula ou porque n o sabem ou por falta de espa o n o sei O educador tenta colocar algumas de suas experi ncias Terminei o email assim Deu pra ter uma ideia E mais d pra me dar alguma luz rsrsrs Um pouco mais tarde s 19 34h enviei mais um email s orientadoras referindo me a alguns question rios j preenchidos e devolvidos pelos as educandos as Havia dado uma olhada r pida nas respostas e ficado um pouco confusa sem saber o que fazer com aqueles dados achando que n o extrairia muita coisa dali Em maioria refermdo me aos educandos as s o jovens que residem no campo e com contato com produ o agropecu ria no Assentamento acampamento que mora com a fam lia Muitos j tinham um contato anterior com Permacultura mas basicamente de participar de alguma viv ncia pontual nada de pr ticas mais elaboradas nos locais de origem 108 Naquela noite ainda tinha mais um tempo educativo da turma e decidi acompanhar as apresenta es das experi ncias agroecol gicas que os educandos e educandas haviam desenvolvido durante o Tempo Comunidade anterior Acompanhei o relato de tr s experi ncias e Francisco tamb m estava l neste momento e aprendemos algumas coisas com os educandos as Sab o medicinal pr secados para caprinos silagem para alimenta o de caprinos e minhoc rio como fonte de adub
198. financiamentos diversos muito menos contratar profissionais Todas as atividades s o desenvolvidas no MST pelos profissionais de forma volunt ria em algumas parcerias principalmente A contrata o de profissionais para os servi os de assist ncia t cnica e elabora o de PDA s por exemplo se d atrav s de entidades que n o s o o do movimento social No caso me incorporei a Associa o Estadual de Coopera o Agr cola de Minas Gerais AESCA MG uma associa o criada pelas fam lias assentadas para poder ser contratada e atuar profissionalmente com os PDA s e desenvolver outros projetos diversos 88 misturada por um caldo de cultura sobre o Movimento sobre uma pesquisa de natureza participativa por um aprofundamento nos conhecimentos biol gicos implicados nas necessidades com os quais estava comprometida pol tica e ideologicamente Ent o neste per odo em vez de equipes de universidades ou de outras entidades ligadas presta o de assist ncia t cnica rural estava numa equipe ligada estrutura org nica do MST que desenvolvia as discuss es e constru o do documento do PDA nos assentamentos do Movimento Isso mudava tudo como percebo agora ao me debru ar teoricamente sobre as metodologias de pesquisa no doutorado A equipe de PDA do MST MG foi composta por distintos profissionais ao longo destes cinco anos cada um com sua contribui o e tempos distintos de atua o Por esta equipe passaram economista do
199. flex o e organiza o das atividades Assim a reflex o cr tica sobre a pr tica se torna uma exig ncia da rela o Teoria Pr tica sem a qual a teoria pode ir virando bl bl bl e a pr tica ativismo FREIRE 2002 p 11 O que n o poss vel negar a pr tica em nome de uma teoria que assim deixa de ser teoria para ser verbalismo ou intelectualismo ou negar a teoria em nome de uma pr tica que assim se arrisca a perder se em tomo de si mesma Nem elitismo teoricista nem basismo praticista mas a unidade teoria e pr tica FREIRE 1989 p 22 23 grifos do autor Em minhas aulas o foco recai essencialmente e primeiro sobre a teoria na rela o com a realidade dos as educandos as de onde busco exemplos para ilustrar comprovar a teoria a 168 partir do que est sendo ensinado A realidade n o o motivo mesmo da aten o do estudo permacultural mas exemplo de uma generaliza o ou abstra o te rica Na Licenciatura do Campo eu me esforcei no sentido de trazer a vida dos estudantes para serem pensadas no mbito das explica es cient ficas buscando fazer com que eles cruzassem fronteiras culturais com ajuda de elementos que s o concretos e significativos para eles Ao mesmo tempo procurei sair do campo te rico e promover di logos com um saber da experi ncia que n o domino na oferta de contrapalavras dos educandos que pude me aproximar mais desse outro campo cultural que j venho vivendo nos assentamen
200. forma es e saberes constitu dos s vezes por hibridismos ou mesti agens entre dom nios de especialidades ALMEIDA 2010 p 151 152 Assim este espa o tempo de contato entre as diferentes culturas e saberes essas fronteiras e encruzilhadas s o zonas interm dias nem exteriores nem interiores nem familiares nem estrangeiras nem sujeito nem objeto s o condi es de ex lio sem deixar de pertencer comunidade uma posi o de encruzilhada ou de patamar um dihiliz a palavra que designa o espa o intermedi rio entre a rua e o interior da casa Quando visto da rua o dihiliz interior e quando visto do interior da casa exterior SANTOS 2014 p 132 grifos do autor O p tio em frente casa o alpendre ou varanda por exemplo comp em a casa e acessam tanto o interior dela quanto a rua Para quem se posiciona dentro da casa estar no alpendre significa estar l fora para quem passa na rua estar em casa l no alpendre Cruzar fronteiras s poss vel se os limites entre os campos fronteiri os forem flex veis de forma a estabelecer interlocu es pertinentes pelo di logo SILVA 2010 Tal di logo s poss vel com a descoloniza o dos saberes e a aceita o de que os mesmos s o complementares e igualmente leg timos como modos de pensar sem que um seja hegem nico em rela o ao outro SANTOS 2007a Com isso pode se privilegiar uma vis o multicultural e favorecer a participa o de t
201. futuras na Educa o do Campo Essas v rias hist rias se unem de alguma forma mesmo com composi es diferentes pois dizem respeito a sujeitos envolvidos na e pela linguagem na circula o de sentidos no limiar dos saberes e conhecimentos Essa circula o cultural est sendo entendida como esfor o de compreens o conforme Bakhtin 2006 e 20104 Ser pesquisadora e figurar tamb m como um dos sujeitos pesquisados por vezes trouxe confus es na forma de pensar apresentar e analisar os dados A polifonia do texto concorre para uma polissemia que poder por vezes ser flagrada na superf cie textual diante da pr pria dificuldade encontrada de separar distanciar o dito do dizer em um trabalho escrito a muitas m os e vozes Por vezes utilizo da primeira pessoa do singular para falar daquilo que me compete como sujeito nico Fui eu quem assistiu s aulas fui eu tamb m professora de Permacultura em outros momentos etc Mas penso com os outros a partir deles e para al m Nesse caso uso a terceira pessoa do plural Ent o destaco que esta uma narrativa polif nica luz das ideias de Bakthin pois convivem muitas vozes nesta hist ria n o sendo a minha como narradora a voz central pois todas as vozes presentes no texto dialogam em p de igualdade GEGe 2009 p 91 Para Amorim 2001 p 107 o texto polif nico ou dial gico um conceito bakhtiniano que permite examinar a quest o da alteridade enquanto presen a de um
202. go enorme embora n o com uma profundidade muito grande mas era bastante gua Eles foram enchendo isso aqui Isso aqui se chama 51 2 2 Chinampas Como s o as Chinampas O terreno assim a tem uma cavidade aqui est cheio 5l T cnica agr cola apropriada para terrenos alagados desenvolvida pelos ind genas Astecas no M xico Funcionam como canteiros flutuantes uma esp cie de ilha artificial comhastes fixadas ao fundo do lago tendo a lama do fundo como substrato para os plantios LOPES 2012 149 de gua de peixe e aqui est o as plantas A o que eles faziam Na borda que pra favorecer eles pra n o ficar toda hora reconstruindo eles plantavam as plantas pra segurar isso aqui Aqui inclusive eles produziam flores at hoje tem muitos que produzem flores pra comercializar desta forma E como foi se tornando a vida deles Eles se abrigavam aqui tinha uns barcos canoas ent o no per odo de fazer a colheita e s vezes era muito no meio do lago ent o eles utilizavam o barco pra fazer a colheita ou talvez pra fazer o plantio S que da foi avan ando a cidade e isso aqui tudo se transformou na Cidade do M xico que aquela cidade ali Por m n o levaram em conta toda essa gua que tinha aqui E o que acontece agora Se aqui tem um morro uma montanha e aqui tem outra pra onde essa gua vai escoar Quando chove isso aqui alaga tudo ent o boa parte da cidade tem muito problema de alagamento ent
203. gr nomo do MST RJ Denis Monteiro e por um professor da Medicina Veterin ria de uma universidade fluminense e aulas de Permacultura ministradas por um militante do MST RS Leandro Tchesco e por um professor da Fiocruz Alexandre Nascimento N o tenho certeza mas acho que foi aqui que tive meu primeiro contato com a Permacultura no interior do MST Percebe se aqui mais uma vez a op o metodol gica de abordar os temas centrais do curso com pelo menos dois educadores um de cada lado da fronteira um educador a militante alguns com forma o acad mica tamb m e um educador a acad mico a Em rela o Permacultura j a conhecia e era relativamente curiosa disciplina antes de acompanhar as aulas neste curso Entretanto foi neste momento que esta tomou uma configura o pol tica para mim Tive a oportunidade de acompanhar aulas te ricas e pr ticas de Permacultura sendo ministradas pelo educador Tchesco que trabalhava a Permacultura como proposta de emancipa o das fam lias Sem Terra em busca de melhor aproveitamento de recursos naturais sobretudo de energias renov veis Leandro Tchesco militante do MST do Rio Grande do Sul permacultor e naquela poca estudante de Geografia na Universidade Estadual Paulista J lio de Mesquita Filho UNESP em um curso especial para o p blico da Reforma Agr ria 93 A Permacultura se configura aqui como algo palp vel antes tinha um car ter meio hippie chique meio elitizado p
204. gricultura n o convencional hist ria e filosofia In AQUINO A M ASSIS R L Editores t cnicos Agroecologia princ pios e t cnicas para uma agricultura org nica sustent vel Bras lia Embrapa 2005 p 21 48 LA VIA CAMPESINA La voz de las campesinas y de los campesinos del mundo 2013 Dispon vel em lt http viacampesina org es index p hp organizaciainmenu 44 gt Aceessado em 16 01 2014 190 LARROSA J Pedagogia profana dan as piruetas e mascaradas 3 ed Trad A Veiga Neto Belo Horizonte Aut ntica 2000 LARROSA B J Notas sobre a experi ncia e o saber d experi ncia Revista Brasileira de Educa o 19 20 28 jan fev mar abr 2002 LEFF H Agroecologia e saber ambiental Agroecole Desenv Rur Sustent Porto Alegre v 3 n l jan mar p 36 51 2002 LEGAN L A escola sustent vel eco alfabetizando pelo ambiente 2 ed Piren polis S o Paulo Ecocentro IPEC Imprensa Oficial 2007 173 p LESSA S amp TONET I Introdu o Filosofia de Marx 1 ed S o Paulo Express o Popular 2008 128 p LEPRI M C Hist rias de um Futuro Poss vel Experi ncias com Biodiversidade de Movimentos Sociais Brasileiros In II ENCONTRO ANUAL DA ANPPAS 2006 Bras lia Anais Bras lia ANPPAS 2006 LIMA M E C C Sentidos do Trabalho a Educa o Continuada de Professores Belo Horizonte Aut ntica 2005 LIMA M E C C GERALDI J W A constru o das compreens es o campo da di
205. groecol gica alfabetiza o de jovens e adultos forma o pol tica sa de ambiental cooperativismo agroindustrializa o entre outros 2 O Congresso Nacional do MST o maior encontro nacional dos Sem Terra objetivando consolidar nacionalmente a luta pela terra desta organiza o seus rumos e diretrizes Tem por proposta que seja realizado a cada cinco anos mas nem sempre este intervalo foi seguido em fun o das condi es objetivas para umevento de tal magnitude O I Congresso em 1985 em Curitiba PR apontou como tema para os pr ximos anos Sem Reforma Agr ria n o h democracia O II Congresso Nacional do MST em 1990 em Bras lia DF teve como palavra de ordem Ocupar Resistir Produzir O lema Reforma Agr ria uma luta de todos marcou o HI Congresso novamente em Bras lia em 1995 Os dois Congressos seguintes tamb m em Bras lia trazem como bandeiras respectivamente Reforma Agr ria por um Brasil sem latif ndios IV Congresso em 2000 e Reforma Agr ria por justi a social e soberania popular V Congresso 2007 Em fevereiro 2014 foi realizado o VI Congresso Nacional do MST com o tema Lutar construir Reforma Agr ria Popular quando se reuniram 16 mil delegados as de todos os estados representando as 350 mil fam lias assentadas e as 90 mil fam lias acampadas em todo o pa s 90 B sica de alguma escola do campo localizada em algum acampamento ou assentamento decidi vol
206. gropecu ria convencional CAMARGO 2007 Estes modos de produ o com enfoque ecol gico ficaram genericamente conhecidos como agriculturas alternativas ou agriculturas n o convencionais Conforme Camargo 2007 e Jesus 2005 dentro das agriculturas alternativas n o convencionais com maior destaque na Europa e no Brasil pode se citar n o ignorando as especificidades te ricas metodol gicas e epistemol gicas de cada uma destas proposi es as seguintes Agricultura Org nica Agricultura Natural Agricultura Biol gica Agricultura Ecol gica Agricultura Biodin mica Permacultura Agricultura Regenerativa Agricultura Sustent vel entre outras O foco neste momento n o est em discutir as especificidades de cada uma destas abordagens mas ressaltar que estas t m em comum t cnicas e pr ticas diferenciadas que caminham para a nega o do modelo da Revolu o Verde ou seja buscam uma sa da do padr o produtivo convencional CAMARGO 2007 MARCOS 2007 Desta forma visam desenvolver e consolidar uma agricultura que seja produtiva mas n o a qualquer custo que ale a esta produtividade um respeito ao ambiente com conserva o dos recursos naturais melhor adapta o dos cultivos maior sustentabilidade MARCOS 2007 Apesar da proposi o ecol gica das agriculturas alternativas Camargo 2007 nos chama a aten o para uma poss vel reprodu o de valores e atitudes t picos da produ o convencional voltada para o mer
207. ia b sica ou primeira mas um leque de princ pios que podem conduzir uma pr tica local transformar uma realidade espec fica somar luta pela terra Francisco reconhece a hist ria de que faz parte assume a sua identidade coletiva de trabalhador da terra e coloca a sua experi ncia em movimento me oportunizando um outro sentido para a Educa o Como militante tenho poucas hist rias para contar como professora menos ainda como pesquisadora fica aqui a melhor hist ria acad mica militante que contei at hoje E que esta modifique a minha pr tica em alguma medida n o s pelo que j fu capaz de compreender mas tamb m pelas muitas li es que ainda poderei tirar dessa mesma hist ria ao dar continuidade pesquisa narrativa Que elementos de compartilhamento de sentidos evocados por Francisco deixam pista marcas nas enuncia es Quais s o as marcas presentes no modo de dizer de Francisco que antecedem a narrativa de uma hist ria Em outras palavras como ele introduz cada narrativa Como ele d continuidade a ela Resume Explica Generaliza Em que contextos situa es ou momentos ele usa met fora e analogias ou outros recursos de linguagem como esfor o de compreens o Para Bakhtin compreender significa por sentidos em rela o Nesta pesquisa o esfor o de compreens o se expressa pelo di logo entre um sentido novo para os sujeitos do campo o da ci ncia com outros sentidos que lhes s o familiares ou que pressup
208. ial Uma metodologia dial tica que leve reflex o sobre os acontecimentos visualiza o das contradi es presentes no movimento como este se reproduz e se transforma GONH 1984 Uma metodologia que incorpora os sujeitos da pesquisa no seu processo de constru o na sua historicidade 2 1 1 AS CONSTRU ES NARRATIVAS E SUAS AN LISES A Novela de Forma o termo emprestado de Larrosa 2000 um refinamento do Memorial de Forma o Compreende se como Novela de Forma o o relato do percurso do indiv duo que encadeia diversos acontecimentos ligados experi ncia forma o pr tica profissional e vida como um todo no mbito da Educa o buscando extrair da algum ensinamento PRADO FERREIRA FERNANDES 2011 LARROSA 2002 CRUZ 2012 No caso desta tese a minha Novela de Forma o forneceu muitos elementos para confrontar modos de pensar e de ensinar ajudou a pensar dados relevantes a serem perseguidos na an lise dos registros das aulas do professor Francisco e ainda orientou a busca do referencial te rico para realizar essa an lise Para escrita de minha Novela lancei m o da mem ria sobretudo em rela o minha condi o de professora e militante e tamb m do meu planejamento de aula de Permacultura Na Novela de Forma o o interesse n o rememorar o todo do passado mas alguns acontecimentos que ganham significado no curso da pesquisa como experi ncia como algo que nos toca
209. ida e interpreta o de mundo pessoas conceitos aprendizados aproximando se de outras subculturas como por exemplo a subcultura cient fica Um dos grandes desafios enfrentados pelos militantes na Faculdade de Educa o da Universidade Federal de Minas Gerais FaF UFMG no momento de cria o da Licenciatura em Educa o do Campo LECampo chamado naquela poca de Pedagogia da Terra ou simplesmente PTerra foi a resist ncia interna devido a n o experi ncia anterior na Educa o do Campo e a falta de pesquisas que pudessem orientar a constru o desse curso De fato a UFMG n o tinha nenhuma experi ncia em ofertar cursos para um p blico que vive no campo Inclusive o curso de Ci ncias Agr rias do Campus Montes Claros j havia sido fechado Mesmo depois que o curso experimental transformou se em um curso regular da Universidade muitos desafios permanecem como o caso da proposta da altern ncia entre tempos educativos Em diversos momentos que trabalhei no LeCampo ou acompanhei discuss es do PTerra como militante do MST surgiram quest es sobre a articula o entre os espa os pedag gicos de ensino aprendizagem Tempo Escola TE e Tempo Comunidade TC Como aproximar esses dois universos em termos de di logos entre saberes Podemos falar da r gida separa o entre os saberes hegem nicos representados pela academia e os saberes que emergem da pr tica ou da experi ncia com a lida no campo chamados por alguns de le
210. iformiza o que toma todos os elementos comut veis id nticos privados de singularidade ALMEIDA 2010 p 55 que n o tomamos saberes e conhecimentos como sin nimos Acreditamos que assim poderemos melhor explorar e entender como ambos est o ou podem estar imbricados e em v rios aspectos apresentarem aproxima es bastante significativas Tamb m consideramos que o conhecimento cient fico n o o nico modo leg timo de conhecer o mundo Caso o fosse permaneceria a contraposi o entre um conhecimento dominante e um saber perif rico Diferenciar e promover o encontro e confronto entre eles por meio do di logo uma atitude que permite localizar ambos na constitui o dos sujeitos e no caso da Educa o do Campo indagar sobre os curr culos de forma o de educadores e profissionais da rea de Ci ncias da Vida e da Natureza que estejam abertos s diferen as como ponto de partida para uma forma o mais ampla do ser humano preciso ressaltar que na escola os conhecimentos cient ficos s o transformados muito embora guardem ecos dos modos de pensar e produzir ci ncia O exerc cio de estabelecer diferen as nos auxiliar na organiza o do pensamento Para Almeida 2010 diferenciar representa o senso est tico de observa o do mundo a partir desse esfor o que faremos emergir categorias de an lise dos dados desta tese e li es que podem da decorrer para o nosso trabalho na Educa o do Campo De acordo co
211. igos ou populares Independentemente do nome s o saberes ignorados pelos primeiros que n o os tomam como outros numa rela o alterit ria de posi es equipolentes Via de regra a circula o dos saberes ocorre de forma mais frequente Alguns autores discutem a experi ncia a partir das pr ticas do fazer e do pensar como o caso de Michel de Certeau em A Inven o do Cotidiano em suas artes de fazer morar cozinhar 2000 2002 N o trabalharemos com estas obras nesta tese Esta primeira turma da Licenciatura em Educa o do Campo iniciada em 2005 foi realizada em parceria da UFMG com o PRONERA Programa Nacional de Educa o na Reforma Agr ria e n o se caracterizava como um curso regular da Universidade mas com um projeto espec fico de forma o em n vel superior para o p blico de assentamentos rurais a partir de uma demanda apresentada pelo MST UFMG em 2003 Esta turma era composta ent o por sujeitos oriundos do MST e outros movimentos sociais de luta pela terra de Minas Gerais S o Paulo e Bahia 26 e vis vel entre aqueles que pertencem a uma mesma racionalidade que residem de um mesmo lado da fronteira porque s o dotados de comensurabilidade que lhes concedida pelo reconhecimento de sua relev ncia e autoridade Os saberes do campo s o considerados como desqualificados ou mesmo inexistentes pela racionalidade cient fica A aus ncia dos diferentes saberes que est o fora da racionalidade t cni
212. imavera Massacre de Felisburgo impunidade at quando tamb m como refer ncia a este epis dio da luta pela terra em Minas Gerais 43 deve pela n o indica o desta possibilidade de explicita o do nome real no projeto aprovado pelo Comit de tica da UFMG Optei por um nome fict cio para o educador uma vez que n o consegui que ele lesse todas as narrativas antes da constru o final do texto da tese Assim esse valoroso sujeito educador neste texto chamado de Francisco gt Os nomes apresentados em minha Novela de Forma o s o todos reais 2 Sabendo que teorizar cotejar um texto com outro texto a leitura das hist rias narradas o olhar para o vivido permitiu que o referencial te rico fosse sendo constru do e os autores sendo re encontrados No decorrer da escrita da tese tornou se essencial uma melhor distin o entre conhecimento e saber muitas vezes utilizados como sin nimos ou como estruturas de oposi o na literatura na rea de Educa o Neste momento deparei me com a Arqueologia do Saber de Michel Foucault e com os modos de pensamentos paradigm tico e narrativo de Jerome Bruner para essa delimita o que se tornou central nesta tese Era preciso dar visibilidade ao fato que a ci ncia e a experi ncia t m formas distintas de constru o de sentidos e de organiza o e compreens o do mundo A partir destes autores entendemos que conhecimentos e saberes s o complementares sendo condizente
213. ior para fazer com os educandos uma oficina de constru o de alicerce e assim compartilhar esta experi ncia Mesmo sem explicar como se faz a bota Francisco chama a aten o para a mesma de forma que os educandos levem em considera o as singularidades do solo e das moradias nos assentamentos e quanto necessidade de aprender com as experi ncias Os momentos de explica es mais abstratas e generalizantes assim como a apresenta o de defini es s o mais raros na aula de Francisco Por consequ ncia ele n o fecha sentidos n o d um fim um acabamento pessoal como regra e prescri o Francisco exemplifica fazendo compara es que s o introduzidas pela express o que nem ou simplesmente que nem Esse recurso tamb m foi amplamente observado na fala dos educandos embora n o tenha sido objeto de an lise aqui o que nos leva a pensar que faz parte do discurso que emerge dos saberes da vida Francisco pensa por compara o colocando hist rias em rela o remetendo umas s outras Isso me leva a concluir que n o se trata de um amontoado de hist rias ou de experi ncias como se quer crer quando falamos de conta o de caso Cada hist ria evocada contada compondo uma hist ria maior Benjamin fala que a narrativa n o se explica mas que a uma narrativa segue se outra que vai sendo evocada nos ouvintes A partir das hist rias contadas por Francisco e aqui analisadas pude compreender melhor o que aquele autor quis dizer
214. istemas naturais est o em crise Por toda a parte constata se a degrada o ambiental em diversas formas O mundo perde bilh es de toneladas de solos f rteis anualmente Os desertos continuam crescendo a uma velocidade amea adora O abastecimento de energia e gua pot vel para o futuro pr ximo est amea ado al m de outros problemas generalizados que continuam se agravando como as mudan as clim ticas recentes ocasionadas pelo impacto do nosso consumo excessivo de combust veis f sseis SOARES 1998 p 5 A Permacultura segundo Soares 1998 p 4 uma s ntese das pr ticas agr colas tradicionais com ideias inovadoras unindo o conhecimento secular s descobertas da ci ncia moderna proporciona o desenvolvimento integrado da propriedade rural de forma vi vel e segura para o agricultor familiar Segundo Holmgren 2007 a palavra Permacultura foi cunhada para descrever um sistema integrado de esp cies animais e vegetais perenes ou que se perpetuam naturalmente e s o teis aos seres humanos da a fus o de Agricultura Permanente surgindo o termo Permacultura A Permacultura n o se limita a uma nova forma de a o apenas no mbito da agricultura mas permite planejar assentamentos humanos sustent veis rurais e urbanos que sejam ricos em alimentos autossuficientes em energias renov veis e que trabalhem em harmonia com a natureza A Permacultura baseia se em quatro quest es centrais tamb m consideradas como valor
215. iza o zoneamento an lise dos recursos Conte dos conceituais procedimentais e atitudinais tamb m estavam ali presentes tal como nas aulas mais bem cuidadas em termos de planejamento e intencionalidade pedag gica Muitas vezes Francisco ia ao quadro anotando os pontos centrais fazendo alguns esquemas e desenhos Teve at um feij o com cara de rim de porco Ou seria de orelha Tinha sempre uma cartilha de refer ncia na rea em m os que orientava a sequ ncia a ser seguida e algumas coisas que estavam sendo anotadas no quadro Ao escrever compartilhar excedentes disparou _ Talvez possa aparecer uma palavra meio esquisita esse professor aqui n o muito bom de portugu s E a aula foi seguindo _ Aqui agora que j vamos entrar no ponto dos princ pios da Permacultura esses princ pios a gente j vai come ar a entrar na quest o do planejamento de como a gente organiza uma moradia um lote uma casa enfim a partir dos princ pios da Permacultura 145 ele come a a aula de modo muito parecido com o meu Ent o ao planejar um habitat humano sua casa escola pr dio bairro cidade uma horta jardim floresta ou qualquer outra a o de interven o humana voc s dever o dar se conta de alguns princ pios que regem a estabilidade e sustentabilidade do Projeto Primeiro princ pio Posi o relativa Exp e cada um dos princ pios num total de 10 a partir da leitura da cartilha e em alguns apresentava uns e
216. jeto coloca o problema espec fico da transmiss o da palavra do outro Tal como nas disciplinas filos ficas aqui o locutor e sua palavra constituem o objeto fundamental do conhecimento Para estas disciplinas o texto representa uma realidade imediata nica ali s suscet vel de engendra las Ali onde n o h 20 texto n o h objeto de estudo e de pensamento AMORIM 2001 p 187 Nas Ci ncias Humanas o texto te rico pode se localizar na intercess o entre o g nero cient fico e o g nero liter rio construindo a escrita mais aproximada do texto liter rio do que aquelas t picas nas experimenta es e nos c lculos AMORIM 2001 p 196 Narro como pesquisadora este texto da tese Na voz da pesquisadora h a minha voz de professora e a voz de Francisco meu her i e personagem que oferece material de an lise E esses dois personagens Francisco e eu que enquanto sujeitos hist ricos t m suas pr prias rela es e compartilhas s o colocados em rela o pela pesquisadora Ent o esta uma narrativa de muitas vozes a da pesquisadora narradora a da professora a de Francisco a das minhas orientadoras e a dos te ricos que selecionamos para dialogar e fornecem o aporte metodol gico e te rico desta tese Conforme Amorim 2006 p 105 quando em uma obra qualquer se ouvem vozes ouvem se tamb m com elas mundos cada um com o espa o e o tempo que lhe s o pr prios E ao ler e fazer suas interpreta es e signific
217. khail Bakhtin como refer ncias para discutir a circularidade cultural A partir da discuss o sobre linguagem alteridade e dialogia di logo desenvolvida por Bakhtin e Paulo Freire em diferentes momentos e contextos bem como por outros autores que neles se inspiraram como Jo o Wanderley Geraldi discuto algumas particularidades da aula de Francisco Boaventura de Sousa Santos tamb m se faz presente na an lise da narrativa por ressaltar a necessidade de inclus o de outras vozes saberes na partilha de significados do mundo Os saberes que emergem da experi ncia da vida de Francisco remetem hist rias vividas ouvidas e compartilhadas de diferentes modos e lugares ao longo de sua aula O modo narrativo e o l gico cient fico atravessam esse mesmo sujeito com uma maior intensidade na narratividade o que trouxe muitos elementos para compreender como os saberes da experi ncia funcionam e como comparecem na sala de aula do campo Ao inv s de dar exemplos para ensinar Francisco conta hist rias Mas n o s o hist rias desconexas e fragmentadas S o escolhidas no rico acervo de suas experi ncias vividas contribuindo para passar uma moral um ensinamento deixar um conselho Sem prescrever Francisco remete sempre sua fala aos princ pios permaculturais O central na aula dele n o uma teoria sobre a vida do assentado e da Permacultura na vida dele A teoria est presente embora a aula dele esteja orientada essencialmente por um fazer pr tico
218. l perspectivas de inser o no Assentamento Alvorada J lio de Castilhos RS In 4 ENCONTRO NACIONAL DE GRUPOS DE PESQUISA 2008 S o Paulo Anais S o Paulo p 446 468 2008 MAB Hist ria do MAB 20 anos de organiza o lutas e conquistas Movimento dos Atingidos por Barragens 2011 Dispon vel em lt http www mabnacional org br historia gt Acesso em 31 dez 2014 MACHADO R Foucault a Ci ncia e o Saber Cap 4 Epistemologia arqueologia genealogias 3 ed e book Ed Zahar 2007 MARCOS V Agroecologia e campesinato uma nova l gica para a agricultura do futuro Agr ria S o Paulo n 7 p 182 210 2007 MARCHEZAN R C Di logo In BRAIT B Org Bakhtin outros conceitos chave S o Paulo Contexto 2006 p 115 131 MARQUESIN D F B NACARATO A M Narrar a experi ncia e trans formar se uma professora diante do desafio de aprender e ensinar geometria Interac es 18 54 75 2011 MARS R O design b sico em Permacultura Trad P Preiss Porto Alegre Via Sapiens 2008 167 p MARTINS R Transmiss o da ideologia dominante como forma de inser o na cultura cient fica In I EEBBA ENCONTRO DE ESTUDOS BAKHTINIANOS 2013 Vit ria Anais Vit ria UFES 2013 Dispon vel em lt https 2eeba files wordpress com 2013 09 transmissc3a20 da ideolo gia do minante como forma de inserc3a77c3a2o0 na cultura cientc3acfica ok pdf gt Acesso em 05 jan 2015 192 MATOS E C A et
219. latou me que esteve pouco envolvido com as quest es organizativas e atividades externas do Movimento Entretanto sempre esteve junto com sua fam lia nas ocupa es de fazendas quando contribu a nas atividades internas do Assentamento e tamb m pode fazer um curso de forma o atrav s da Pastoral da Juventude Seu pai participava da Coordena o do acampamento em que moravam o que explica em parte o envolvimento dele tamb m Mais tarde quando se casou viu tamb m surgir a oportunidade de ser assentado Sua nova fam lia foi ent o para uma outra rea no ano 2000 sendo o Assentamento em que 96 residem at o momento Assentamento Terra Prometida A rea da antiga fazenda que hoje acolhe este Assentamento foi ocupada por fam lias organizadas pelo MST em fevereiro de 1999 e conta atualmente com 108 fam lias assentadas Morador do Assentamento Terra Prometida Francisco sempre esteve ligado ao Setor de Produ o da rea mas tamb m me disse que tinha uma forte liga o com as atividades diversas ligadas infraestrutura no local Por n o ter podido concluir os estudos b sicos na idade regular Francisco s retornou aos estudos recentemente cursando ent o o Ensino Fundamental II 6 ao 9 anos na modalidade da Educa o de Jovens e Adultos EJA As aulas que frequenta acontecem no Col gio Estadual do Campo Terra Prometida situado na rea social do Assentamento O pr dio do Col gio compartilhado tamb m com a
220. lhedoras de sonhos a medida certa do ensinar aprender Maria Em lia Caixeta de Castro Lima e Andr a Horta Machado J que voc me sorriu vamos fazer parceria voc pega o viol o que eu escrevo a poesia pra falar de educa o nessa nossa cantoria Que Paulo Freire e o Bakhtin nos ilumine de l da onde ele deve estar com sua pedagogia Aqui na terra vamos lutando por ela aprendendo nessa guerra soletrar cidadania Pra vida continuar Z Pinto VII s educadores e aos educadores do MST em especial quelas e aqueles que eu tive o prazer de assistir suas aulas nestes ltimos anos e me mostraram essa tal Educa o do Campo Betinha MST MG B b MST MG Eliane Cristina MST MG Bianca MST MG Denis MST RJ Tchesco MST RJ Luis Schons MST PR Na nossa escola n s somos os sujeitos lutamos pela vida e pelo que de direito As nossas marcas se espalham pelo ch o a nossa escola ela vem do cora o A Educa o do Campo Gilvan Santos Aos colegas c mplices de trabalho do Curso de Ci ncias Biol gicas do Centro Universit rio Metodista Izabela Hendrix pelos aprendizados e desafios em especial Danielle Marciano Fabiana Alves Karen Pagla Marina Alvim Rodrigo Itaboray Ricardo Latini Francisco Vieira D bora Naves Maria Esther Macedo Valdemir da Silva Ayran Albino Let cia Braga Ricardo Dias Hudson Santos L cia Leiga e Ana Luiza Castanheira e tamb m ao F bio Augusto Silva agora em outras
221. lmente modificar esteticamente o espa o f sico da Escola e assim ele vai construndo o seu texto de aula Ele apresenta ent o na sua aula experi ncias e experimentos em um exerc cio de promover nos com educandos as a capacidade de experimentar controlar vari veis da a gente foi experimentando v rias amostras botava um pouquinho mais de terra um pouco mais de gua e assim fomos experimentando A experimenta o al m de ser pr pria produ o do conhecimento cient fico e ao ensmo de ci ncias na escola est presente tamb m na vida cotidiana Entretanto a experimenta o com as tintas foi para solucionar um problema n o para testar comprovar ou ensinar uma teoria como comumente na academia e na escola foi um experimento com fun o pr tica A aula de Francisco afina se aos seus saberes da experi ncia oriundos de suas tentativas de conforme Silva 2010 enfrentar os problemas do seu cotidiano A pr tica comparece tamb m como possibilidade de dar um fechamento melhor ao aprendizado do como fazer _ Se voc s quiserem a gente pode combinar um dia desses e fazer uma oficina de tratamento do bambu N s aprendemos a fazer e n o tem muito segredo n o e tamb m n o tem muito custo Como aqui n s temos o bambu tem toda uma t cnica pra voc cortar o bambu de maneira que ele brote depois pra produzir mais bambu depois e tamb m como preparar ele Os pr prios educandos tamb m demonstram a import ncia da
222. lmente para o trabalho e desenvolvendo a consci ncia de classe Embora a escola n o seja a respons vel sozinha por enfrentar e achar solu o para os problemas dos trabalhadores ela um meio que ajuda a organiza o pol tica a alcan ar seus objetivos Cabe organiza o pol tica ou seja ao conjunto do MST estabelecer os v nculos necess rios entre escola e projeto pol tico 116 respeitando as especificidades desse estabelecimento atribuindo lhe a fun o de suporte e de instrumento da pol tica O MST como um dos protagonistas da Educa o do Campo acumulou experi ncia na luta em defesa dos trabalhadores sem terra e conta com o reconhecimento da sociedade para continuar discutindo a educa o que se pretende libertadora para os povos do campo e qui das cidades A rela o entre a escola e o trabalho confere um avan o na perspectiva da qualidade de vida no campo e tamb m na luta pelos direitos historicamente negados ao povo campon s conforme pode ser encontrado nos documentos e espa os de debate do MST Cremos na transforma o social constru da na pr tica de sua base social As pol ticas de educa o voltadas para o espa o rural n o conseguiram alterar e qualificar a condi o dos sujeitos desse espa o ao contr rio contribu ram com a continuidade da n o efetiva o dos seus direitos e condi es que poderia at mesmo definir sobre o seu rumo na hist ria fazendo suas outras escolhas Isso ex
223. m stica engenheira agr cola arquiteta ge grafo agr nomo agr noma zootecnista engenheira florestal t cnica em administra o de cooperativas e bi loga Neste per odo compreendi porque fomos eu e a equipe enquanto oriundos da Universidade barrados nos PDA s das reas no noroeste do estado em 2002 Ent o o MST estava no auge de uma discuss o nacional sobre o planejamento e organiza o de seus assentamentos e naquele ano come ava a formar algumas equipes multidisciplinares com profissionais e militantes da pr pria organiza o e parceiros para pr pria elabora o de seus PDA s Naquele momento eu n o estava autorizada a fazer tal discuss o no MST por n o conhecer a sua realidade por trazer uma discuss o puramente da Universidade fundamentada do ponto de vista te rico mas sem a experi ncia da vida no seio do MST Com os anos nesta atividade muitas pessoas e situa es cruzaram o meu caminho e foram me ensinando como se d a constru o dos conhecimentos nos seus distintos espa os S o saberes da experi ncia de vida conhecimentos da Ci ncia e Tecnologia saberes e conhecimentos que se movimentam e fazem os sujeitos se movimentarem em torno de fronteiras No MST espera se que ambos saberes e conhecimentos sejam valorizados constru dos e aplicados e eu fui sendo conduzida neste percurso de cruzamento de fronteiras por estas experi ncias com as fam lias Sem Terra Residindo em BH e sempre viajand
224. m Almeida 2010 p 35 os saberes s o como um enorme iceberg em que os conhecimentos cient ficos s o apenas a parte vis vel dele Como se sabe a parte subaqu tica de um iceberg muito maior do que aquela que se v Pretendemos contribuir para uma maior compreens o dos distintos saberes e conhecimentos que povoam a constitu o das subjetividades neste caso espec fico observando os dados da forma o dos sujeitos desta pesquisa Esses saberes s o constru dos 57 tanto na pr xis social do sujeito THERRIEN 1997 em nossos termos pela experi ncia LARROSA 2002 quanto naqueles adquiridos no mbito da academia e baseados nos conhecimentos cient ficos e tecnol gicos 2 2 2 1 CONHECIMENTO CIENT FICO E O PENSAMENTO PARADIGM TICO NOS MARCOS DA MODERNIDADE Na g nese dos conhecimentos cient ficos encontram se os saberes Nem todos eles gestam conhecimentos cient ficos tais como os conceituamos hoje no ensinamento de Foucault 1997 Constru dos com base na sistematiza o de experi ncias singulares de sujeitos s posteriormente se tornam interpreta es consideradas v lidas e pertinentes ALMEIDA 2010 p 37 A ci ncia um tipo particular de saber Pauta se por m todos regras crit rios e formas de organiza o de informa es que lhes s o pr prias e evoluem no interior da comunidade cient fica e no decorrer de sua hist ria em grande parte distanciados da hist ria comum da maioria da popula
225. m em algum campo dos saberes O saber n o o canteiro epistemol gico que desapareceria na ci ncia que o realiza FOUCAULT 1997 p 209 Os saberes s o em grande parte independentes das ci ncias j que se valem de diferentes campos discursivos Enquanto a epistemologia normativa estabelece a legitimidade ou a falta dela de um discurso a arqueologia interroga as condi es de exist ncia dos discursos sejam eles cient ficos ou n o Sabemos que a epistemologia normativa subordina a verdade ci ncia A ci ncia o lugar espec fico da verdade no sentido em que ela n o tem que se adequar a uma verdade que lhe seria anterior pois s seus procedimentos s o capazes de produzi la a quest o da verdade se reduz dos crit rios do conhecimento verdadeiro crit rios esses definidos pela ci ncia em sua atualidade A arqueologia desloca radicalmente essa problem tica Priviegiando em sua an lise n o 55 mais a ci ncia mas o saber a hist ria arqueol gica tamb m neutraliza a quest o da verdade Ou melhor desvincula a reflex o hist rico filos fica sobre a verdade da ci ncia e sua atualidade eliminando a utiliza o de qualquer crit rio externo de verdade para julgar o que dito nos discursos A arqueologia aceita a verdade como uma configura o hist rica e examina seu modo de produ o unicamente a partir das normas internas dos saberes de determinada poca MACHADO 2007 p 54 Para Foucault 1997
226. m para completar a Licenciatura e ser ent o uma professora diplomada Foram muitas discuss es interessantes nas aulas da Licenciatura destaco as aulas de Pr tica Pedag gica de Biologia com o Professor F bio Augusto Silva hoje professor da Universidade Federal de Ouro Preto UFOP Tinha ah um timo exemplo de condu o e dinamismo em sala de aula sendo hoje um grande amigo Tamb m neste per odo o contato mais pr ximo com uma escola do campo durante os est gios curriculares obrigat rios da Licenciatura me aproximou do tema que mais tarde conduziu o recorte da pesquisa do doutorado na Educa o do Campo Nos est gios na escola do campo do Acampamento Juscelino dos Santos Frei Inoc ncio MG acompanhei as aulas das Professoras Elisabeth Gomes da Silva Geografia Fundamental II Elisabeth Pereira turma multisseriada 4 e 5 anos do Fundamental I e Eliane Cristina turma multisseriada 1 2 e 3 anos do Fundamental I todas militantes do MST e estudantes do curso de Pedagogia da Terra da UFMG Estas professoras eram moradoras de outras reas do MST mas ficavam toda semana ou boa parte dela nesta rea enquanto ministravam as aulas Acompanhei tamb m as aulas da Professora de Ci ncias cujo nome n o lembro que vinha da cidade todos os dias que tinha aula para lecionar al A Escola atendia todas as s ries do Ensino Fundamental sendo o Ensino Fundamental I oferecido em duas turmas multisseriadas 91 e o
227. mas uns com os outros e uns entre os outros culturalmente BRAND O 1983 p 7 grifos do autor O grande desafio de uma sociedade plural e inclusiva consiste em p r sentidos em rela o de forma dial gica e respeitosa com as diferentes explica es de mundo e com a alteridade Para isso acontecer a primeira condi o criar situa es e momentos para a circula o dos saberes e conhecimentos principalmente dentro da academia Portanto essa op o epist mica pol tica ideol gica e de classe 2 2 3 1 ALTERIDADE E DIALOGIA NA CIRCULA O EM TORNO DE FRONTEIRAS CULTURAIS Neste texto luz das discuss es bakhtinianas compreendemos que cultura o tempo espa o social e hist rico no qual as pessoas se colocam em rela o dial gica a partir de enunciados concretos BAKHTIN 2010b QUEIROZ 2013 N o se deve por m imaginar o dom nio da cultura como uma entidade espacial qualquer que possui limites mas que possui tamb m um territ rio anterior N o h territ rio interior no dom nio cultural ele est inteiramente situado sobre fronteiras fronteiras que passam por todo lugar atrav s de cada momento seu e a unidade sistem tica da cultura se estende aos tomos da vida cultural como o sol se reflete em cada gota Todo ato cultural vive por ess ncia sobre fronteiras nisso est sua seriedade e import ncia abstra do de fronteira ele perde terreno torna se vazio pretensioso degenera e morre BAKHTIN
228. mento cient fico Ibid p 9 atrav s das conquistas de cursos superiores espec ficos para seus militantes com vistas a aumentar a escolaridade garantir o acesso ao estudo e formar tecnicamente os militantes e a base para continuar a condu o do Movimento Entretanto tais cursos devem estar em conson ncia com a luta do MST ou seja que a luta a constru o estrat gica de trajet rias coletivas de vida seja o crivo de validade do conhecimento Ibid p 10 Esta conson ncia se materializa por exemplo com a metodologia da altern ncia entre os tempos de estudos que permite que os ent o estudantes possam continuar militantes com a presen a de temas no curr culo que contribuam tamb m para refor ar as bandeiras reivindicat rias do Movimento Cordeiro e Scalabrm 2007 abordam a essencial rela o entre teoria e pr tica na forma o de professores do campo a partir de um Curso de Pedagogia da Terra na Universidade Federal do Par em parceria com o MST ao relatarem a experi ncia desenvolvida em duas disciplinas da grade curricular em articula o com a realidade de um assentamento As professoras da Universidade e a turma durante o Tempo Escola planejaram as atividades que foram posteriormente realizadas no assentamento estabelecendo as rela es entre os conte dos adquiridos nas disciplinas e as necessidades presentes e prementes naquela comunidade rural Ibid p 8 Tais atividades tendo como p blico as educadora
229. mergem da vida no campo Procurei compreender modos de aproxima o dos discursos da ci ncia e da experi ncia e extrair li es para a minha pr tica como docente no curso de Licenciatura em Educa o do Campo na habilita o em Ci ncias da Vida e da Natureza bem como para as minhas demais atividades de professora e militante no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra MST Para tanto refiz o percurso de v rios outros autores e autoras que trabalham com a Investiga o Narrativa Narrei um conjunto de aulas de Permacultura de um curso para trabalhadores do campo ministradas por um outro militante do MST aqui denominado Francisco Em fun o da complexidade da discuss o e da singularidade do sujeito dessa pesquisa busquei diferentes autores para me ajudar a narrar pensar e analisar a vers o da aula que apresento no texto Coloco em di logo a experi ncia dele com a que emerge do meu pr prio trabalho Fiz um esfor o de construir um di logo entre ci ncia e experi ncia Tomando a distin o elaborada por Michel Foucault entre conhecimento e saberes e a caracteriza o dos modos de pensamentos paradigm tico e narrativo de Jerome Bruner estabeleci um recorte entre os saberes da experi ncia e o conhecimento cient fico presentes igualmente no campo e na academia A narrativa das aulas de Permacultura foi ent o analisada pela circula o de sentidos da ci ncia e da experi ncia entre culturas diferentes Utilizei Carlo Ginzburg e Mi
230. mingues Porto Alegre Artes M dicas 1998 211 p CALDART R S Pedagogia do Movimento Sem Terra 3 ed S o Paulo Express o Popular 2004 CALDART R S Educa o do Campo Notas para uma An lise de Percurso Trabalho Educa o e Sa de Rio de Janeiro v 7 n 1 mar jun 2009 p 35 64 CALDART R S Educa o do Campo notas para uma an lise de percurso In Educa o do Campo e Pesquisa II quest es para reflex o M C Molina org Bras lia MDA MEC 2010 212 p CALDART R S Educa o do Campo In CALDART R S etal Org Dicion rio da Educa o do Campo Rio de Janeiro S o Paulo EPSJV Express o Popular 2012 p 257 265 CALVINO I Palomar S o Paulo Companhia das Letras 1994 185 CAMARGO P Fundamentos da transi o agroecol gica racionalidade ecol gica e campesinato Agr ria S o Paulo n 7 pp 156 181 2007 CAMINI I Escola Itinerante na fronteira de uma nova escola S o Paulo Express o Popular 2009 296 p CAMPOS A M Hist rias contidas e nem sempre contadas na forma o de jovens e adultos 2014 Tese Doutorado em Educa o Faculdade de Educa o da Universidade Estadual de Campinas Campinas 2014 CARCAIOLI G F Conhecimentos ordin rios curr culo e cultura artes de fazer no acampamento Elizabeth Teixeira 2014 167 f Disserta o Mestrado em Ensino de Ci ncias e Matem tica Faculdade de Educa o da Universidade Estadual de Campin
231. modos de ensinar e aprender No MST os sujeitos se formam a partir do intenso di logo como exerc cio pol tico de constru o coletiva de pr ticas discursivas A hist ria do MST contempla experi ncias de forma o pol ica em que diversos atores sociais externos e internos s o convidados a participar dos processos de forma o Para se fazer entender os sujeitos acionam modos diversos de explicar e entender de compreender e interpretar S o lugares de interc mbio de conhecimentos e saberes Segundo Santos 2006 esse o modo poss vel de construir deslocamentos de uma ci ncia autorit ria esclarecedora da ignor ncia e monopolizadora de verdades universais para circunscrev la como uma das formas de produzir conhecimento sobre o mundo O que tem sido chamado de ignor ncia ou ignorante s o de fato aus ncias e ausentes saberes e sujeitos exclu dos dos di logos ditos legitimadores SANTOS 2006 Essas 27 aus ncias que n o foram ainda penetradas ou conhecidas pelo pensamento moderno ocidental podem trazer luz para os di logos fechados entre aqueles que compartilham o mesmo ambiente cultural Bakhtin 2006 toma como desafio compreender a origem do fosso existente entre o mundo da vida e o mundo da cultura tal como concebida pelas ci ncias Procuramos olhar para lugares onde h um esfor o expl cito e deliberado de encontro entre a experi ncia marcada pelo vivido e compartilhado entre gera es e a ci ncia mar
232. mpo ou no FIEI nunca ousara fazer aquilo A seriedade acad mica n o me permitiu fazer Essas 7 horas de aula na quinta feira somados aos outros momentos com a turma e com Francisco estavam me deixando angustiada e at mesmo desnorteada J n o tinha tanta certeza de que estava em casa Esperava ver uma aula mais pr tica n o sei talvez ter mais clareza em como Francisco lan ava m o dos saberes da sua experi ncia e tamb m dos saberes mais acad micos na constru o condu o de sua aula N o conseguia ver nada disso naquele momento No in cio da noite ap s a aula escrevi para as minhas orientadoras orientadora e co orientadora T tulo do email in cio dos trabalhos Envio 18 44h Comecei minha pesquisa de campo Estou aqui na Escola Hoje teve aula te rica o dia todo Pelo que entendi n o ter atividade pr tica neste momento infelizmente Amanh os as educandos as ter o atividade em grupo de propor um planejamento design permacultural olhar um espa o penso que ser o daqui da escola mesmo para pens lo utilizando o olhar e as pr ticas permaculturais Continuei a mensagem relatando um pouco mais de como foi o dia o que fiz o que teve na aula Compartilhei inclusive os primeiros estranhamentos e ang stias As aulas est o bem mornas na minha opini o percebo que ele sabe bem do assunto mais na pr tica na parte te rica ele entende mas n o tem uma did tica muito boa algumas coisas importantes ele
233. munidades Fclesiais de Base CEFET RP Centro Federal de Educa o Tecnol gica de Rio Pomba atual Instituto Federal Sudeste de Minas Gerais CONTAG Confedera o Nacional dos Trabalhadores na Agricultura CPT Comiss o Pastoral da Terra CPgRR Centro de Pesquisas Ren Rachou da Fiocruz MG CEAGRO Centro de Desenvolvimento Sustent vel e Capacita o em Agroecologia CEFORMA Centro de Forma o Maria Olinda CEUNIH Centro Universit rio Metodista Izabela Hendrix CNBB Confer ncia Nacional dos Bispos do Brasil CVN Ci ncias da Vida e da Natureza EJA Educa o de Jovens e Adultos EA Escola de Agroecologia ENEM Exame Nacional do Ensino M dio ENERA Encontro Nacional de Educadores da Reforma Agr ria ENFF Escola Nacional Florestan Fernandes EPSJV Escola Polit cnica de Sa de Joaquim Ven ncio da Fiocruz RJ FaF UFMG Faculdade de Educa o da Universidade Federal de Minas Gerais FIEI Forma o Intercultural de Educadores Ind genas Gepec Grupo de Estudos e Pesquisas em Educa o Continuada IFPR Instituto Federal do Paran INCRA Instituto Nacional de Coloniza o e Reforma Agr ria IPEMA Instituto de Permacultura da Mata Atl ntica LabEC Laborat rio de Educa o para a Cidadania LeCampo Licenciatura em Educa o do Campo MAB Movimento dos Atingidos por Barragens MEC Minist rio da Educa o e Cultura MDA Minist rio do Desenvolvimento Agr rio MPA Movimento d
234. narrate think and analyze the class version which I present in the text I open a dialogue about his experience with the one that emerges from my own work I did my best to create a dialogue between science and experience Considering the distinction elaborated by Michel Foucault between knowledge and know how and the characterization of the ways of paradigmatic thoughts and narrative of Jerome Bruner I established a cutout between the experience know how and the scientific knowledge which are equaly present in the field and in the academy The Permaculture class narrative was then analyzed through the circulation of science senses and experience among difficult cultures I used Carlo Ginzburg and Mikhail Bakhtin as references to discuss the cultural circularity Form the discussion about language alterity and dialogue developed by Bakhtin and Paulo Freire in different moments and contexts as well as other authors that inspired themselves in them such as Jo o Wanderley Geraldi I discussed some class particularities with Francisco Boaventura de Sousa Santos also makes himself present in the narrative analyzes by highlighting the need to include the other voices know how in the sharing of the world s meaning The know how which emerges fiom Francisco s life experience refers to lived heard and shared histories from different places and forms throughout his class The narrative way and scientific logical cross this same subject with a greater inten
235. ncisco reside Assim escolhi este nome em homenagem ao Acampamento Terra Prometida localizado no munic pio de Felisburgo Minas Gerais onde ocorreu o Massacre de Felisburgo em que cinco Sem Terras foram brutalmente assassinados al m de v rios feridos e da destrui o da escola e de v rias moradias no Acampamento por inc ndio 2 Apesar de ter observado em v rios trabalhos sobre o MST que os nomes reais das escolas e espa os de forma o e muitas vezes at o nome dos militantes sujeitos das pesquisas s o mantidos como forma de destacar o compromisso pol tico e de valorizar os espa os constru dos pelo povo em luta neste trabalho me limito a denominar a escola que abrigou as aulas observadas de Escola de Agroecologia ou simplesmente EA Esta escolha se 1 O Massacre de Felisburgo ocorreu em 20 de novembro de 2004 O assassino confesso propriet rio da fazenda onde o acampamento se localiza foi julgado e condenado em 2013 quase nove anos depois e at o presente momento apesar da pena de mais de 90 anos de reclus o o mesmo se encontra solto em fun o de recursos na Justi a Uma palavra de ordem muito presente no MST MG em alus o a mais este massacre entre tantos outros ocorridos no Brasil na luta pela terra Tombaram 5 Sem Terra mas n s seguimos em frente Na ocasi o do V Congresso Nacional do MST em 2007 na blusa da delega o de Minas lia se Os poderosos podem matar uma ou duas rosas mas n o poder o deter a pr
236. nominados pelos militantes do MST como quadrado burro que n o levem em conta esse conjunto de elementos FAGUNDES 2010 Para Prudente 2007 a Permacultura mais uma ferramenta da qual o MST vem se apropriando para colaborar na luta de um modo de vida que respeite o meio ambiente Jacintho 2007 v a Permacultura como possibilidade de um novo reordenamento socioespacial da ocupa o humana nos assentamentos do MST t Segundo Fagundes 2010 on line a Permacultura visa organizar o espa o para que as pessoas consigam conviver dentro de uma certa sustentabilidade pois mesmo dentro das experi ncias diferenciadas de organiza o da vida estas se encontram em desenvolvimento dentro do sistema capitalista de produ o e portanto neste n o h como falar em sustentabilidade plena 140 Para Lepri 2006 a Permacultura permite pensar novas possibilidades em termos de liga o entre o ser humano e a natureza no interior do MST H diversos artigos que tratam de iniciativas permaculturais ligadas aos movimentos do campo Por exemplo Prudente 2007 relata a organiza o de um centro de forma o e educa o pol tica do MST no estado do Rio Grande do Sul RS onde se desenvolveu um projeto que prioriza a sustentabilidade econ mica social e ambiental atrav s de pr ticas de Permacultura como a bioarquitetura constru es com terra edifica es que levem em considera o a ilumina o natural telhado verde etc Em outr
237. nosco Na poca eu n o conhecia nada da Permacultura mas a gente decidiu fazer a casa de solo cimento e a a gente n o conhecia quase nada de solo cimento Mas fizemos as casas O problema que tivemos s rios problemas Qual foi o primeiro problema Como n s est vamos fazendo uma casa de terra n s n o caprichamos na funda o E a o que aconteceu N s fizemos toda ela de terra Tinha que ter feito uma funda o Uma casa constru da com terra ou construida em local mido tem que fazer as botas dela pra n o subir a umidade que nem a gente quando vai andar no barro na umidade a gente cal a as botas ent o na casa a mesma coisa tem que fazer as botas e n s n o fizemos as botas O que aconteceu A umidade subiu nas paredes at um metro um metro e pouco as paredes ficaram encharcadas inclusive teve caso at de cair a parede por causa disso _ Eu fiz l em casa o c rculo de bananeiras acho que uns tr s anos ou mais e est funcionando _ Aqui no assentamento a gente lida muito com hortali a E o que a gente percebe dentro do acampamento Que tem grupos de horta que conseguiram desenvolver mais ou trabalhar melhor alguma esp cie de hortali a outro grupo de horta j n o conseguiu j teve dificuldade Ent o voc v mesmo dentro do assentamento cada local tem as suas diferen as ent o a gente tem que procurar sempre trabalhar com essas diferen as _ A outra vez que eu constru a minha casa eu n
238. nte sem fim O sentido da vida para aquele que vive o pr prio viver O retratista tenta entender o ponto de vista do retratado mas n o se funde com ele Ele retrata o que v do que o outro v o que olha do que o outro olha De seu lugar exterior situa o retratado num dado ambiente que aquilo que cerca o retratado e em rela o ao qual situado pelo artista O ambiente uma delimita o dada pelo artista uma esp cie de moldura que enquadra o retratado A delimita o do artista d um sentido ao outro fornece uma vis o do outro que lhe completamente inacess vel N o posso me ver como 72 totalidade n o posso ter uma vis o completa em mim mesmo e somente um outro pode construr o todo que me define AMORIM 2006 p 96 A exotopia o movimento que propicia o encontro e o confronto com o outro em um exerc cio de ocupar um lugar de fora da rela o e depois voltar ao seu lugar buscando acabamento A exotopia olhar de fora O movimento da exotopia e o consequente excedente de vis o permite completar o indiv duo naqueles elementos em que ele n o pode completar se uma vez que somos inacabados Quando contemplo no todo um homem situado fora e diante de mim nossos horizontes concretos efetivamente vivenci veis n o coincidem Porque em qualquer situa o ou proximidade que esse outro que contemplo possa estar em rela o a mim sempre verei e saberei algo que ele da sua posi o fora e diante de mim n
239. nto sobre a agricultura e os saberes tradicionais dos agricultores e agricultoras camponeses MST ASPTA MUTUANDO 2005 p 11 Diversos s o os trabalhos que t m relatado a Agroecologia em assentamentos e acampamentos organizados pelo MST entre tantos podemos citar Marcos 2007 Jacintho 2007 Gaia 2008 Losekamn amp Wizmiewsky 2008 Barcellos 2010 Barcellos 2011 Borsatto 2011 Nestes destaca se a Agroecologia como alternativa para a produ o e comercializa o nas reas do MST Barcelos 2010 p 13 ao discutir a Agroecologia no MST parte da premissa que a Agroecologia como discurso n o orienta apenas as rela es produtivas e econ micas no MST mas tamb m influencia as mais diversas rela es pol ticas e cotidianas junto base social do Movimento Uma vez que al m da proposi o econ mico produtiva a Agroecologia refor a no discurso e na pr tica o enfrentamento s ind strias transnacionais que se apropriam dos recursos naturais e dos territ rios defesa soberania alimentar dos povos e intensifica o do combate ao uso de agrot xicos algumas das bandeiras de luta do MST Al m da Agroecologia dentro das possibilidades das agriculturas alternativas n o convencionais a Permacultura configura se como uma refer ncia de pr ticas sustent veis para assentamentos humanos que considera o equil brio de fatores econ micos sociais e ambientais demonstrando que poss vel um impacto po
240. o organismos vivos Cultivos Agroecol gicos Sistemas Agroflorestais Plantas Forrageiras Ecologia de Insetos e Fitopatologia Em Produ o Animal Agroecol gica tem se aulas de Gen tica Anatomia e Fisiologia Animal Nutri o Animal Sanidade Animal na Agroecologia Melhoramento Animal Produ o de Leite base de Pasto em PRV Pastoreio Racional Voisin e Cria o Intensiva e Integrada de Animais a Pasto Por fim a disciplina Gest o Rural cont m Bioconstru es M quinas Agr colas Tecnologia e Processamento de Alimentos Administra o Rural Economia e Mercado e Projetos de Gest o Agroindustrial As aulas de Permacultura que foram alvo de observa o nesta pesquisa foram desenvolvidas dentro da disciplna Gest o Rural na subdisciplna de Bioconstru es A disciplina com suas subdivis es ministrada por professores da institui o respons vel pelo curso bem como professores universit rios parceiros entretanto a peculiaridade do tema espec fico da Permacultura que demanda algu m que tenha um conhecimento mais pr tico sobre o mesmo abriu a oportunidade para a contribui o de Francisco no curso 4 1 2 2 CURSO LICENCIATURA EM EDUCA O DO CAMPO Meu outro cen rio de pesquisa foi o Curso de Licenciatura em Educa o do Campo LeCampo da Faculdade de Educa o da UFMG FaE UFMG especificamente a habilita o em Ci ncias da Vida e da Natureza N o foi um cen rio observado com fins de pesquisa mas colocado
241. o T o parecidas e t o diferentes Mas aquela sala e aquela aula nem de longe eram convencionais como tantas outras que conhecemos A sala de aula ocupava a antiga sede de uma fazenda um sal o bem amplo al chamado de plen ria Em uma das quatro paredes um mural com os dizeres Rumo ao VI Congresso uma refer ncia ao VI Congresso Nacional do MST realizado posteriormente em fevereiro de 2014 uma bandeira do MST e alguns cartazes de cujo conte do j n o me recordo Na outra parede um estandarte pendurado se referindo Guerra de Contestado e um cartaz com uma foto de Paulo Freire Uma cobra de artesanato de cip repousava na parte superior do quadro verde quase dando o bote no professor Entre tantas estampas e sotaques na camisa de um deles lia se Ser jovem e n o ser revolucion rio uma contradi o gen tica Ernesto Che Guevara No fundo uma t mida mesinha com um xarope de plantas medicinais e mel para ajudar nas gripes e dores de garganta efeito do clima Pela janela um verde muito verde l fora E os sons das maritacas volta e meia me lembravam que aquela era uma escola no campo uma escola do campo A aula era de Permacultura O curso era tecn logo de n vel superior Os alunos e as alunas cheios de luz eram educandos provenientes de diversos movimentos sociais de luta pela terra da Am rica Latina O professor Francisco era um agricultor militante pol tico 8 A Guerra de Contestado foi um conflito
242. o distando uns 70 km do aeroporto e ainda esperou algu m aparecer antes de ir embora sem me deixar sozinha l quase no meio do nada no escuro Como era zona rural a movimenta o de luzes e humanos era nula restavam apenas as luzes dos vagalumes das estrelas que parece que tem mais l do que em BH e os sons dos animais Acolhida instalada enrolada em muitos cobertores dormi sem ver e fui acordada com um sino pela manh Estava em casa Apesar de nunca ter ido quele lugar j tinha uma ideia do que me esperava em termos e me reconheci em um espa o do MST ao ouvir o barulho do sino pela manh de costume que os espa os e tempos educativos nos cursos de forma o do MST iniciem e ou terminem com o toque vigoroso de um sino Tem sempre algu m para lembrar a todos que as coisas t m hor rio para iniciar e terminar e que se trata de um acontecimento coletivo Batido o sino aos poucos umas pessoas em maioria jovens iam saindo dos alojamentos em dire o aos banheiros coletivos lavar o rosto espichar o corpo buscar uma frestinha de sol para quentar o corpo e dar in cio a mais uma jornada de estudos e trabalhos Iniciavam a quinta etapa do curso e estavam l h pouco mais de uma semana Eu cheguei com as atividades j em andamento mas as aulas de Permacultura ainda n o haviam iniciado Ouvi o sino levantei me preparei fui para o banheiro e voltei pro quarto Sim estava me sentindo em casa mas t mida o
243. o Assentamento organizado pela EMATER e da nesse curso falava muito de Agroecologia at citava de vez em quando a Permacultura e a Agricultura Biodin mica tamb m E a como tem esse lado da bioconstru o e eu j trabalhei na constru o civil e eu sempre gostei muito desse lado da constru o civil ent o come ou a me chamar a aten o a Permacultura por conta disso e claro que a gente foi percebendo tamb m um conte do Como vou dizer talvez mais pol tico e ideol gico que vem junto com a Agroecologia e vem junto com a Permacultura que vai bater na verdade de frente com a realidade que est ali muitas vezes muita coisa imposta e com a Agroecologia e com a Permacultura a gente percebe que pode ir trazendo certa independ ncia para os camponeses Francisco me contou que naquele momento existiam algumas pr ticas permaculturais na EA principalmente ligadas ao saneamento cisterna de capta o de gua da chuva sistema 99 de aquecimento de gua atrav s de lenha biofossa para destina o dos res duos de pia banheiro seco Durante algumas aulas nas duas primeiras turmas do curso de forma o de tecn logos em Agroecologia l desenvolvido enquanto coordenador da Escola Francisco conta que acompanhou as aulas de Permacultura do Professor Tomaz Lotufo arquiteto permacultor membro da Rede de Permacultura Permear que desenvolve trabalhos focados em Arquitetura de Baixo Impacto Ambiental e Desenho Comunit
244. o MST Utilizei essencialmente a narrativa de um conjunto de aulas como modo de produ o dos dados Nesta pesquisa refa o o percurso de v rios outros autores e autoras que trabalham com a Investiga o Narrativa LIMA 2005 VARANI FERREIRA PRADO 2007 CRUZ 2012 CARCAIOLI 2014 CAMPOS 2014 etc A concep o da narrativa como estrat gia de pesquisa busca resgatar o nexo entre o mundo da vida e o mundo da teoria j que contar hist rias a forma mais comum de comunica o entre os humanos Quem vive conta quem conta vive e entre contadores e ouvintes o mundo vai se fazendo intelig vel Assim como em outras pesquisas acad micas que tomam experi ncias como objetos emp ricos o objetivo e os percursos reflexivos de ordem te rico metodol gica sofreram diversas mudan as no decorrer do processo Os temas centrais foram estabelecidos desde o in cio em fun o da minha trajet ria e motiva es pessoais antes mesmo da entrada no doutorado MST Permacultura Educa o do Campo Entretanto a op o pela Investiga o Narrativa e consequente escrita desta tese no g nero narrativo s se deu com o in cio dos trabalhos de campo e a partir de um primeiro olhar sobre os dados 17 A primeira motiva o para a constru o desta pesquisa vem do meu compromisso pol tico com a luta pela terra e por uma Educa o do Campo em fun o da minha inser o no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra MST de Minas Gerais
245. o Minas a fora para a constru o dos PDA s dos novos assentamentos se passaram cinco anos 2004 2008 fazendo do meu trabalho profissional como bi loga a minha milit ncia no MST junto ao Setor de Produ o Coopera o e Meio Ambiente SPCMA Participei como educanda de muitos cursos de forma o pol tica e t cnica sobretudo no campo da Agroecologia e muitas reuni es e encontros regionais e estaduais do MST neste per odo al m de muitas tarefas na Secretaria Estadual do MST Como eu era uma das poucas 89 da equipe de PDA que residia em BH sempre ficavam a meu cargo algumas rela es com o INCRA cuja sede em BH tais como busca e entrega de documentos diversos articula o de projetos para os assentamentos reuni es bem como rela o com entidades parceiras Fui educadora tamb m em outros tantos cursos principalmente dentro do tema do processo de planejamento e organiza o dos assentamentos e possibilidades para a organiza o territorial dos mesmos Ser educando a ou educador a nos cursos do MST vem das indica es feitas pelas Coordena es ou regionais ou estadual ou nacional em fun o do perfil e da necessidade da organiza o para capacita o e expans o dos conhecimentos que podem ser revertidos em a es concretas nos acampamentos e assentamentos Como integrante do SPCMA mais especificamente na tarefa de PDA tive a oportunidade de atuar como educanda e educadora em diversos cursos do MST Nest
246. o conhecimento do princ pio ativo da planta e seus desdobramentos na produ o de f rmacos seriam cient ficos enquanto que o saber fazer uso de plantas medicinais seria um saber adjetivado de popular A defini o dicionarizada encontrada em Michaelis 2009 trata saber como estar informado de estar a par ter conhecimento de conhecer Para o mesmo dicion rio conhecimento o ato ou efeito de conhecer faculdade de conhecer ideia no o informa o Mesmo na Filosofia n o h uma distin o muito clara entre os termos saberes e conhecimentos MOTA PRADO PINA 2008 Muitas vezes ao nos referirmos gama de informa es cient ficas utilizamos o termo conhecimento e ao se referir aos aprendizados habilidades pr ticas cotidianas populares tradicionais utilizamos o termo saber 51 Frequentemente a distin o entre um e outro traz uma carga ideol gica na dire o de uma compara o entre um conhecimento que mais e um saber que menos O conhecimento mais ou superior porque se diz sistematizado organizado objetivo enquanto que o saber menos ou inferior porque n o sistematizado nem estruturado e nem objetivo Comparando os pela falta ou nega o de um em detrimento do outro muitas vezes desconsideramos que lidamos com epistemologias diferentes e de origens coincidentes Essa obsess o por distinguir e em seguida separar e opor fruto por um lado de um conhecimento recente que se solid fca com a pa
247. o cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela Inquisi o 1987 Ginzburg se vale da mesma ideia para discutir pe as inquisit rias de 1584 para compreender as ideias defendidas por um moliro condenado pela Igreja e sobretudo para aprofundar a compreens o acerca da rela o de opress o contra os mais pobres O moleiro Menocchio deixa ind cios de ter tido acesso a livros que faziam parte do universo das pessoas letradas e faz uma s ntese pessoal a partir de suas convic es religiosas e ideol gicas O contato com o mundo das letras e mesmo com textos sofisticados n o retirou Menocchio de sua cultura mas ao contr rio real ou a especificidade de suas interpreta es adaptadas a uma realidade ainda refrat ria a abstra es e fortemente marcada pela viv ncia concreta e materializada dos fen menos religiosos e das religiosidades Ginzburg descobriu com Menocchio a resist ncia da cultura subalterna e a circularidade cultural entre as classes dominantes e populares HERMANN 1998 on line Para Bakhtin os sentidos sempre se atualizam e voltam resignificados pela produ o de contrapalavras e assim que se d a movimenta o da cultura permanentemente por meio das classes grupos de uma dada sociedade Movimenta o esta que permite a apropria o de elementos de uma cultura pela outra de acordo com os interesses de classe em disputa numa rela o dial gica sempre tensa Preferimos falar de circula o em vez
248. o espa o de forma o a Escola 25 de maio em Fraiburgo SC a Permacultura aparece como proposta curricular no curso t cnico de Agroecologia FREITAS 2011 A produ o agroecol gica em mandalas pr tica permacultural t pica relata em assentamentos da Para ba por Marcos 2007 assim como a produ o de ervas medicinais no canteiro em espiral espiral de ervas em assentamento do MST no Paran FURINI et al 2014 As t cnicas de bioconstru o por exemplo vem sendo difundidas nas habita es rurais das fam lias Sem Terra dentro do design permacultural PRUDENTE COSTA RIPOLL 2009 De modo semelhante t m ocorrido outras t cnicas como a implanta o de telhado verde em constru es Uma delas foi experimentada dentro da Escola Nacional Florestan Fernandes ENFF Guararema SP espa o internacional de forma o pol tica dos movimentos sociais da Via Campesma sobretudo o MST YOSHIOKA et al 2011 Para Folz Teixeira e Shimbo 2011 a Permacultura apresenta uma proposta vi vel e concreta para o saneamento rural atrav s de infraestruturas de saneamento ambiental permaculturais nos assentamentos tais como a implanta o de fossa s ptica e c rculo de bananeiras para tratamento adequado do esgoto e das guas residu rias de cata vento para bombeamento de gua de cisterna para armazenamento de gua da chuva e de composteiras para aproveitamento dos res duos org nicos Neste trabalho consideram
249. o para outros cultivos foram os temas daquela noite s 22 43h minha orientadora respondeu a segunda mensagem com rela o aos question rios dos educandos as Voc identificou pr ticas que poderiam ser enquadradas como permaculturais entre as coisas modos de trabalhar e viver que j fazem saberes da experi ncia Logo depois veio a resposta para o primeiro email Am m L vinha luz para o dia seguinte ou n o Deu para entender sim Acho que voc vai precisar descobrir qual crit rio que a escola adotou para convid lo Ele do MST Tem outras pessoas a que poderiam dar esse curso Ele j deu esse curso antes Ele usa o que est ensinando no trabalho dele O qu por exemplo Voc conversou com ele sobre a aula ele deu espa o para isso Voc se colocou a disposi o dele para ajud lo Ele entendeu o que sua pesquisa Preste aten o como ele faz a ponte entre o que ele sabe da pr tica na constru o civil para tentar o di logo com os alunos que lidam com o campo Ser bom ao final do curso voc entrevistar os alunos e tentar ver o que eles dizem sobre a aprendizagem deles sobre certos conceitos chaves de Permacultura e de como eles veem o aprendido sendo ou n o usado na vida deles no campo Vai usar o qu por exemplo e o que isso teria a ver com o trabalho dele sei l por exemplo plantar batatas Enfim por em di logo experi ncia vidaftrabalho e escola academia ci ncia tecnologia Para algum
250. o tempo problematiza faz a cr tica ao modo de conhecimento dominante e hierarquiza o epistemol gica pr pria desta sociedade que deslegitima os protagonistas origin rios da Educa o do campo como produtores de conhecimento e que resiste a construir refer ncias pr prias para a solu o de problemas de uma outra l gica de produ o e de trabalho que n o seja a do trabalho produtivo para o capital CALDART 2009 p 4 115 E nessa concep o outros sujeitos tempos e espa os assumem o car ter pedag gico com muita relev ncia para esse paradigma tais como os movimentos sociais o trabalho a cultura as lutas etc A educa o do campo assume a complexidade da vida em todas as suas dimens es como sua origem e seu destino A educa o no campo est intimamente ligada educa o do olhar para ver e compreender o campo com todos os desafios que isso significa em pleno s culo XXI num pa s eivado de contradi es entre ricos e pobres latifundi rios e sem terra possu dos e despossu dos dos bens materiais e culturais Assim o campo ressignificado e concebido como espa o social e cultural com identidade pr pria e n o espa o do latif ndio da produ o capitalista da grilagem de terras do xodo rural BRAND O amp MENEZES NETO 2009 p 180 Em geral os espa os de mobiliza o e forma o organizados pelos movimentos sociais com grande destaque para o MST visam contribuir com os aprendizados d
251. o troquei algumas mensagens com uma de minhas orientadoras no intuito de compartilhar o des encontrado e n o esperado sujeito de pesquisa bem como de tra ar Nome fict cio 10 A Via Campesina um movimento internacional que agrupa milh es de camponeses e camponesas pequenos e m dios produtores as rurais povos sem terra ind genas migrantes e trabalhadores as agr colas de todo o mundo Surgiu em 1993 e compreende cerca de 150 organiza es locais e nacionais de diversos pa ses da frica sia Europa e Am rica Defende a agricultura sustent vel em pequena escala como modo de promover a justi a social e a dignidade da vida no campo Op e se firmemente ao agroneg cio e as multinacionais que est o destruindo os povos e a natureza um movimento aut nomo pluralista e multicultural sem nenhuma afilia o pol tica econ mica ou de qualquer outro tipo LA VIA CAMPESINA 2013 O MST faz parte da Via Campesina 37 alguns novos olhares para aquela experi ncia Essa tens o do encontro pode ser lida na narrativa que est apresentada na sess o 3 4 Des encontro de educadores e seus mundos entre o eu e o outro como contribui o compreens o desse itiner rio metodol gico A tens o entre o esperado e o observado nas aulas e tamb m a pr pria forma o e atua o de Francisco me colocou enquanto pesquisadora no lugar de professora pesquisadora Antes de ir para campo j havia registrado em papel e contado para
252. odos os sujeitos SILVA 2010 p 65 A movimenta o em torno da fronteira p e em contato saberes da experi ncia e conhecimentos cient ficos predominantes em culturas ou subculturas distintas Bakhtin desenvolveu essa ideia movimenta o nas fronteiras a partir dos conceitos de dialogia polifonia pensamento equipolente e vozes equipotentes ao tratar do plurilinguismo Embora esses conceitos apare am mais especificamente em O problema da po tica em Dostoievski 67 foram desenvolvidos em 4 cultura popular na Idade M dia e no Renascimento 1970 ao tratar da obra de Rabelais Rabelais foi um cr tico cido aos costumes dos reis e padres pela sagacidade e oportunidade de conviv ncia com o alto clero e com a pra a p blica pela sua posi o privilegiada de m dico e escritor Desses estudos Carlo Ginzburg valeu se em suas diferentes obras em que estuda a cultura popular bem como o seu paradigma indici rio Ginzburg resgatou do linguista russo a din mica cultural que levou Rabelais a assimilar aspectos da cultura popular e aprofundou a reflex o sobre o movimento rec proco e cont nuo que influencia os diferentes n veis culturais HERMANN 1998 on line Em sua obra Os andarilhos do bem feiti arias e cultos agr rios nos s culos XVI e XVII 1988 Carlo Ginzburg apropriou se dos estudos rabelesianos de Bakhtin cunhando o termo circula o traduzido para o portugu s como circularidade Tamb m em O queijo e os vermes
253. onamento e intera es de ideologias significados e realidades nas palavras Assim conforme Reis 2013 p 44 Esse sujeito traz em sua subjetividade as marcas dos aspectos sociais e hist ricos de sua vida em sociedade de sua intersubjetividade que v o juntando se gradualmente a sua identidade a partir do reconhecimento de seu ser pelo outro O sujeito age sempre incluindo todos os atos verbais cognitivos etc com base em uma avalia o valora o daquilo que o faz agir falar e pela qual se responsabiliza a partir da identidade que forma e das coer es que suas rela es sociais lhe imp em ao longo da vida e que v o alterando essa identidade que ele veio a formar REIS 2013 p 44 Considerando a alteridade conforme compreendida a partir de Bakhtin o meu acabamento de professora est sendo dado pelo Francisco a partir do nosso encontro Se somos constitu dos e nos transformamos sempre atrav s do outro olhar para as aulas de Francisco me permitiu re ver a minha pr tica e assim refletir sobre a mesma Sendo inacabados a hist ria que recontada aqui descont nua e em constru o No mundo dos acontecimentos da vida campo pr prio do ato tico estamos sempre inacabados porque definimos o presente como consequ ncia de um passado que construiu o pr dado e pela mem ria do futuro com que se definem as escolhas no horizonte das possibilidades Nosso acabamento atende a uma necessidade est tica
254. or veis Respeitar as condi es do ambiente priorizando e selecionando esp cies mais adaptadas ao local atrav s de sistemas agroflorestais 8 Promover a biodiversidade atrav s da policultura com nfase para esp cies ben ficas As culturas sin rgicas entre diferentes plantas originam ecossistemas cujas esp cies beneficiam mutuamente das caracter sticas das vizinhas Estes benef cios passam por diferentes tipos de ra zes sombra fixa o de azoto prote o do vento redu o de pragas entre outros 9 Praticar o efeito de borda e padr es naturais A Natureza mostra nos em tudo o que nos rodeia os seus padr es atrav s de formas circulares espiraladas ondula es bifurca es deltas entre muitos outros Por exemplo uma horta plantada em linhas onduladas comporta mais plantas do que semeadas em linha reta 10 Transforme problemas em solu es Quando se consegue perceber que problemas crises e mudan as s o grandes oportunidades para aprender conseguimos notar onde devemos aperfei oar nossas a es Assim habituamos a ver oportunidades em vez de dificuldades Quando se considera qualquer sistema em particular as mudan as r pidas servem para uma estabilidade de ordem mais elevada do pr prio sistema ao longo do tempo RICIARDI amp DOMINOT 2008 p 3 4 A Permacultura auxilia o planejamento de uma propriedade rural a partir de princ pios e com base nos conceitos de zoneamento e setoriza o A Permacul
255. ore de frutos silvestres providencia abrigo para pequenos animais corta vento sombra frutos mat ria org nica beleza paisag stica biomassa etc 3 Cada fun o importante sustentada por v rios elementos A energia el trica pode provir da rede normal mas dever tamb m provir por exemplo de pain is solares turbina e lica gerador por moinho a gua entre outros 4 Planejamento eficiente dos recursos energ ticos do local an lise e distribui o por setores e zonas Um curso natural de gua setor localizado no terreno acima da casa dever ser aproveitado para canalizar gua para a rega das hortas mais abaixo Estas por sua vez relativamente casa zona dever o ser posicionadas de modo a facilitar os acessos consoante as prioridades da colheita 5 Usar prioritariamente recursos biol gicos renov veis em vez de recursos provenientes de combust veis f sseis n o renov veis Energia solar vento gua g s metano proveniente da compostagem org nica animais mat ria org nica em vez de petr leo e derivados 6 Promover a reciclagem energ tica do local Todos os res duos dever o ser reciclados pelo sistema local transformando os num recurso energ tico para outra aplica o 45 E A escolha destes se deu em fun o dos mesmos serem os autores da cartilha que o educador Francisco trabalhou muito durante sua aula 137 7 Promover a sucess o natural das plantas a fim de criar solos e habitats fav
256. organiza o desse produto das pr ticas sociais de forma sistem tica racional na atividade cientifica MOTA PRADO PINA 2008 p 127 Tamb m em Mota Prado e Pina 2008 p 112 113 lemos que a palavra conhecimento refere se a situa es objetivas e te ricas que devidamente sistematizadas d o lugar ci ncia Enquanto que a palavra saber pode referir se a situa es tanto objetivas como subjetivas tanto te ricas quanto pr ticas grifos dos autores Nesta tese mesmo assumindo epistemologicamente que saberes e conhecimentos s o distintos embora complementares ao afirmar que ambos s o produ es humanas que refletem a forma como os homens e mulheres compreendem e se relacionam com o mundo n s colcamos em d vida a escolha por afirmar que uns s o organizados sistematizados enquanto que os outros n o s o Conforme nosso entendimento a partir de Foucault n o temos elementos para dizer que os saberes n o s o sistematizados ou que n o chegam sistematiza o O que ocorre que os enunciados a proferidos encontram suas regras de enuncia o nas pr ticas correntes enquanto os enunciados proferidos no interior do campo da ci ncia devem obedecer a regras restritas de produ o Afirmar que os conhecimentos t cnico cient ficos s o mais sistematizados que saberes da experi ncia carrega uma ideia de hierarquia e dicotomia qualificadora segundo as rela es de poder constru das ao longo da hist ria 5
257. os 2002 N o toa que a ci ncia ocupa lugar privilegiado na normatiza o da produ o da vida no mundo moderno As tecnologias associadas ci ncia s o acionadas como prova de verdade cient fica como se resultassem exclusivamente do desenvolvimento cient fico As tecnologias s o utilizadas para construir argumentos contra o pensamento m gico ou religioso 2 Um saber o dom nio constitu do pelos diferentes objetos que ir o adquirir ou n o um status cient fico tamb m o espa o em que o sujeito pode tomar posi o para falar dos objetos de que se ocupa em seu discurso um saber o campo de coordena o e de subordina o dos enunciados em que os conceitos aparecem se definem se aplicam e se transformam finalmente um saber se define por possibilidades de utiliza o e de apropria o oferecidas pelo discurso FOUCAULT 1997 p 206 207 O saber que para Foucault 1997 p 205 206 possui elementos definidos d o base para a constru o de proposi es descri es verifica es teorias coerentes ou n o assim como o conhecimento cient fico Tais elementos do saber s o formados em uma pr tica 54 discursiva caracterizados por uma forma e um rigor espec ficos assim como pelos objetos de que se ocupa e dos tipos de enuncia o dos conceitos e das estrat gias que utiliza O saber n o um pr conhecimento ou um est gio anterior ao conhecimento mas o conjunto d
258. os Pequenos agricultores MST Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra XIV NB s N cleos de Base OGU Or amento Geral da Uni o ONG s Organiza es n o Governamentais PAA Programa de Aquisi o de Alimentos PDA Plano de Desenvolvimento de Assentamentos PDC Permaculture Design Course PRONERA Programa Nacional de Educa o na Reforma Agr ria PTerra Pedagogia da Terra SPCMA Setor de Produ o Coopera o e Meio Ambiente do MST TE Tempo Escola TC Tempo Comunidade UFMG Universidade Federal de Minas Gerais UFOP Universidade Federal de Ouro Preto UFPR Universidade federal do Paran UFTM Universidade Federal do Tri ngulo Mineiro UFV Universidade Federal de Vi osa UFVJM Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri UnB Universidade de Bras lia UNESCO Organiza o das Na es Unidas para Educa o Ci ncia e Cultura UNESP Universidade Estadual Paulista J lio de Mesquita Filho UNICEF Fundo das Na es Unidas para a Inf ncia XV SUM RIO 1 PARA ENTENDER E ME FAZER ENTENDER sesessseseosseseosceseosceseoscsscosesscoscoscosesseese 16 1 1 APRESENTA O GERAL DO TEXTO reeeneeereeeeerereeeeeeeerene serranas 16 1 2 INTRODU O S INQUIETA ES QUE MOTIVARAM ESTA PESQUISA E REVIS O DA EIRERA TUR A aaa e o e a 24 1 3 AONDE QUEREMOS CHEGAR AFINANDO OBJETIVOS 31 2 CAMINHOS PERCORRIDOS REFERENCIAL TE RICO METODOL GICO 33
259. os que a Permacultura uma forma o discursiva luz de Foucault 1997 Para Foucault uma forma o discursiva remete aos casos em que se puder descrever entre um certo n mero de enunciados semelhante sistema de dispers o e no caso em que entre os objetos os tipos de enuncia o os conceitos as escolhas tem ticas se puder definir uma regularidade Ibid p 43 Assim a Permacultura uma forma o discursiva pois d lugar a outros discursos Agroecologia sustentabilidade etc Ela n o uma ci ncia e nem tem mostrado pretens es de ser mas tamb m n o exclu a ci ncia incorporando quest es da Arquitetura Biologia 141 Artes Sociologia Qu mica F sica entre outras Assim a Permacultura tem se configurado como uma aproxima o de discursos colocando em rela o modos diferentes de viver de se relacionar com a natureza e de ocupa o territorial aproximando se assim de algumas propostas do MST 142 5 SOBRE O OBSERVADO O VIVIDO E O EXPERIMENTADO REFLEX ES E MAIS HIST RIAS O que podemos aprender com as narrativas e experimentos dos saberes sistematizados pelos intelectuais da tradi o Maria da Concei o de Almeida 2010 p 121 5 1 TEMPO E ESPA O DA AULA DE PERMACULTURA Quinta feira oito e pouco da manh o sol querendo sair Sala de aula Quatro paredes Carteiras Mesa Quadro verde e giz Cinquenta e poucos alunos Um professor Uma sala de aula como tantas outras que conhe
260. ostas para os problemas enfrentados no dia a dia sejam estes de ordem ambiental econ mica ou social Tbid p 49 50 respaldados por quadros de refer ncias qualificados estabelecem estrat gias distintas de leitura do mundo Essa forma de compreens o diz respeito a saberes que s o desenvolvidos s margens do conhecimento escolar e da ci ncia sendo ao longo da hist ria repassados de pais para filhos de forma oral e experimental Desse modo desde o aparecimento da esp cie humana na Terra os homens procuram responder aos problemas que lhe s o postos em todos os dom nios de sua vida sejam esses problemas individuais ou coletivos materiais ou espirituais Ibid p 92 Tais saberes englobam as cren as as opini es a magia os entendimentos intuitivos e subjetivos as hist rias vividas ou narradas as supersti es que a partir do olhar da ci ncia moderna n o s o uma forma leg tima de conhecimento e na melhor das hip teses podem tornar se objetos ou mat ria prima para a averigua o cient fica SILVA 2010 p 25 Na verdade muitas descobertas cient ficas s o oriundas das experi ncias singulares e cotidianas 17 Obviamente isto n o quer dizer que no interior mesmo de uma comunidade ou na rela o entre diferentes culturas ou povos n o haja nega o de saberes de parte a parte O que interessa aqui ressaltar que a ci ncia tal como concebida no mundo moderno nega valor a estes saberes 62 d
261. osto como tal Pretendo revisitar os dados futuramente para olhar para esse fen meno de aproxima o de sentidos nas narrativas Desdobramentos futuros dessa pesquisa se justificam pela riqueza dos 180 dados coletados e pela possibilidade necessidade e pertin ncia de aprofundamentos s agora vislumbrados 181 REFER NCIAS BIBLIOGR FICAS AGECON Contestado 2011 Dispon vel em lt http w ww agecon org br p gContestado asp 31 12 2014 gt Acesso em 31 dez 2014 AGRA L A cultura popular no campo da historiografia 2008 Dispon vel em lt http www webartigos com artigos a cultura popular no campo da historio grafia 11723 ixzZ23Q74gC vIM gt Acesso em 03 jun 2014 GUAS C BENZAQUEN J VALEN A M Sementes e arupembas a rela o entre os saberes no contexto dos movimentos Sociologia Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto Vol XXIV 2012 p 89 111 AIKENHEAD G S Educa o cient fica para todos Trad M T Oliveira Portugal Edi es Pedago Ltda 2009 187 p ALMEIDA M C Complexidade saberes cient ficos saberes da tradi o 1 ed Cole o Contextos da Ci ncia S o Paulo Ed Livraria da F sica 2010 174 p LVAREZ A M A Da luta pela terra constru o da identidade sem terra O sujeito coletivo MST In I ENCONTRO DE PESQUISAS E PR TICAS EM EDUCA O DO CAMPO DA PARA BA 2011 Jo o Pessoa Anais Jo o Pessoa UFPB 2011 Dispon vel em lt http
262. ou outro movimento social suas experi ncias na produ o agropecu ria e o contato pr vio com a Permacultura conhecimento pr ticas leituras etc Como iniciei o trabalho de campo com a ideia de observar os movimentos discursivos entre educador e educandos as este question rio visava levantar mais informa es sobre os saberes que os as educandos as traziam para a aula Como a rela o entre educandos as e educador e suas intera es discursivas deixou de ser o foco da pesquisa tais question rios acabaram n o sendo utilizados na constru o dos dados No entanto no novo foco a circula o entre saberes e conhecimentos dentro de uma aula tornou se relevante a compreens o entre os jeitos de ensinar de um sujeito singular e por consequ ncia o meu jeito Realizei tamb m uma entrevista com a coordena o do Curso para levantar informa es gerais sobre o mesmo Essas informa es contribu ram para a descri o de parte do cen rio da pesquisa apresentado no item 4 1 2 1 Curso Tecn logo em Agroecologia Todos as os sujeitos envolvidos as que aceitaram participar da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido conforme a legisla o que regula a tica em pesquisas com seres humanos Em rela o aos espa os e sujeitos desta pesquisa um esclarecimento se faz necess rio quanto aos nomes apresentados ao longo do texto Terra Prometida n o o nome real do Assentamento em que a EA se localiza e onde Fra
263. outro discurso no interior do discurso Escrever algumas partes na primeira pessoa do singular vem como op o para negar a suposta neutralidade e o distanciamento dito necess rio escrita cient fica Ainda assim 22 nesse caso o excedente de vis o experi ncia narrada da professora continua sendo fornecido por mim como pesquisadora pois tal excedente vem a partir do referencial te rico utilizado e das an lises dos dados da pesquisa que foram desenvolvidas no excedente de vis o entre autor e personagem que se constroem de forma tensa as subjetividades O eu e o n s se emaranharam nas ideias e falas A pesquisadora sabe mais tem o excedente de vis o do que aquela professora que fui ensinando Permacultura Mas a pesquisadora constr i o seu discurso na tens o com o meu discurso de professora por meio de uma rela o de alteridade e enquanto pesquisadora perco muito do que sei como professora precisamente porque introduzo um foco um recorte na experi ncia No v rtice de um tri ngulo como pesquisadora vejo tamb m o outro personagem Francisco que me serviu como espelho Olhar para Francisco e sua pr tica me permitiu ver e rever a hist ria dele e a minha a pr tica dele como permacultor e a minha como professora de Permacultura e para ambos na condi o de professores militantes do MST Conforme Bakhtin 20104 o autor tem um excedente de vis o espec fico em rela o ao todo da obra e de suas personagens
264. p em o Setor Regional que por sua vez comp em o Setor Estadual que comp em o Setor Nacional O conjunto destes Setores v o compor as Coordena es Regionais Estaduais e Nacional do MST Estes s o os espa os de discuss o estudos e encaminhamentos do MST Cada rea de assentamento acampamento tamb m tem sua Coordena o composta por representantes dos NB s e dos Setores locais 25 Trecho do Hino do MST 86 que se seguiram e ainda hoje aqui quando passo pela experi ncia de narrar o que me aconteceu me comoveu Trago desta primeira tarefa que se repetiu muitas vezes nos anos seguintes e das propostas e discuss es do MST para este espa o da Ciranda Infantil um olhar diferenciado sobre a inf ncia sobretudo a inf ncia Sem Terra E a certeza que Ciranda n o s espa o de olhar o filho a dos outros mas de ensinar e aprender como sempre li em Paulo Freire mas comecei a viver ali agora sei disso tamb m como m e e tia O ano de 2004 foi marcado por in meras idas e estadas no Acampamento Padre Gino em decorr ncia da pesquisa e por um crescente desejo de estar ali Foram idas para pesquisa logo em seguida para festas casamentos batizados visitas a amigos que tenho at hoje N o tardaram a surgir os convites para madrinha de casamento e batizado em decorr ncia da rela o de compromisso e cumplicidade com as fam lias Quase nem percebi j estava inclu da na organiza o do MST para al m da condi o de
265. pdoc fgv br conte stado abertura gt Acesso em 31 dez 2014 CREPALDE R S AGUIAR JR O O desenvolvimento do conceito energia em um di logo intercultural entre as ci ncias e as viv ncias de estudantes de licenciatura do campo In VII ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCA O EM CI NCIAS Campinas Anais Campinas UNICAMP 2011 Dispon vel em lt http www nutes ufr br abrapec vilienpec resumos R0142 1 pdf gt Acesso em 19 jan 2015 CRUZ R C A gestora escolar entre a pr tica e a gram tica 2012 280 p Tese Doutorado em Educa o Faculdade de Educa o da Universidade Estadual de Campinas Campinas 2012 CUNHA R C A pesquisa narrativa uma estrat gia investigativa sobre o ser professor In V ENCONTRO DE PESQUISA EM EDUCA O DA UFPI Teresina Anais Terseina UFPI 2009 Dispon vel em lt http www ufpi br subsiteFiles pp ged arquivos files e ventos e vento2009 GT 2 35 Renata 20Cristina 20da 20Cunha pdf gt Acesso em 13 dez 2013 DATALUTA Banco de Dados da Luta pela Terra Relat rio Brasil 2012 N cleo de Estudos Pesquisas e Projetos de Reforma Agr ria NERA Departamento de Geografia da Faculdade de Ci ncias e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista UNESP campus de Presidente Prudente 2013 46 p FALKEMBACH E M F Texto Contexto In STRECK D R REDIN E ZITOKOSKI J J Org Dicion rio Paulo Freire 2 ed ver ampl Belo Horizonte Aut ntica Editora 2010 p
266. pecial Para a constru o da narrativa do meu encontro com Francisco eu utilizei as anota es do caderno de campo as mensagens trocadas com a minha orientadora enquanto acompanhava a aula o meu planejamento de aula de Permacultura e a mem ria de minhas aulas de Permacultura j lecionadas 41 A narrativa da aula de Permacultura observada corresponde a epis dios de aula transcritos e selecionados em dois momentos Uma primeira vers o de narrativa da aula foi escrita e a partir dela retornei transcri o da aula aos te ricos estudados e a minha quest o de pesquisa Com isso novos acontecimentos se destacaram e foram incorporados ao texto da narrativa Uma primeira an lise da hist ria permitiu a constru o das categorias de an lise e assim novos epis dios foram localizados para compor a narrativa apresentada nesta tese como base dos argumentos que iremos apresentar Nesse processo elementos que caracterizam a aula como acontecimento ou exerc cio de dialogia e alteridade bem como a centralidade da pr tica o singular e o particular de suas hist rias e a dimens o coletiva do sujeito demandaram acr scimos ao texto inicial A narrativa foi constru da n o s com o que Francisco disse em aula mas tamb m incorporando o modo como ele disse procurando contextualizar para o leitor as circunst ncias em que os enunciados foram elaborados Os acontecimentos narrados n o obedecem necessariamente a sequ ncia temporal no in
267. pesquisador conclui uma aranha sem patas fica surda gt 153 _ A zona zero tudo que corresponde casa moradia diz aqui apontando para o escrito na cartilha N o seja em solos nobres que seriam solos mais prop cios para desenvolver a produ o Chamou me a aten o a forma como Francisco tentava simplificar alguns conte dos para se fazer melhor entender Uma simplifica o sem ser simplista mas como forma de compartilhar sentidos de modo mais eficaz _ Olha s quantos quadradinhos v o se repetindo com uma caixa de marimbondos em m os ao discutir os padr es presentes na natureza Eu falei quadradinho mas na verdade n o quadrado s o seis lados Por experimentar os princ pios e as pr ticas permaculturais no seu cotidiano e tamb m ao ensinar acredita que a Permacultura pode tamb m estar presente no contexto de muitos outros camponeses e camponesas _ O design em Permacultura n o uma coisa complexa que s um arquiteto um engenheiro possa fazer A gente tenta trabalhar de forma que qualquer pessoa possa fazer A gente sabe da dificuldade que nossos camponeses tem e que a maioria deles nem estudo tem s vez mal sabe escrever ou nem escrever sabe E que o melhor jeito de aprender e tamb m de ensinar Permacultura praticando a experimentando a _ Aquele dia que n s fizemos os testes da tinta de terra terra gua e cola n s fizemos l atr s do banheiro dos meninos da a gente foi e
268. plica a luta dos movimentos sociais por outra educa o do campo identificada com a perspectiva de sujeito de hist ria e de sociedade a favor da emancipa o e da transforma o Assim no final da d cada de 1990 quando o debate pela Reforma Agr ria no Brasil estava em maior evid ncia juntou se a ele o debate da Educa o do Campo como pol tica p blica e requisito imprescind vel para assegurar direitos dos povos do campo Entretanto a universaliza o da oferta de vagas escolares permitindo o acesso a todas as pessoas escola n o significa atender aos pressupostos da Educa o do Campo pois para isso necess rio passar a olhar para o jeito de educar quem sujeito deste direito de modo a construir uma qualidade de educa o que forme as pessoas como sujeitos de direitos capazes de fazer a luta permanente pela sua conquista MOLINA amp JESUS 2004 p 18 Historicamente a Educa o do Campo surge como demanda dos movimentos sociais camponeses protagonizada principalmente pelo MST a partir das lutas pela transforma o da realidade educacional espec fica nas reas de assentamentos e acampamentos de Reforma Agr ria alcan ando hoje uma dimens o de pol tica p blica O objetivo e sujeitos da Educa o do Campo remetem s quest es do trabalho da cultura do conhecimento e das lutas sociais dos camponeses e ao embate de classe entre projetos de campo e entre l gicas de agricultura que t m implica es no projeto
269. pode ser encontrada entre outras informa es Estava lan ada ent o uma oportunidade de pesquisa para mim e assim defini o meu objeto de estudo Coloquei me como pesquisadora desse conhecimento buscando dar algumas contribui es que fossem se mostrando necess rias a partir dos meus conhecimentos acad micos Na certeza de que muitos saberes est o fora da academia me envolvi com este objeto de pesquisa com foco na Educa o Popular em Sa de Tive a oportunidade de aprender discutir questionar e sistematizar um pouco desta pr tica das fam lias do Acampamento Padre Gino munic pio de Frei Inoc ncio em rela o s suas posturas e pr ticas no mbito da Sa de Foi poss vel ter contato com outros lugares de produ o do conhecimento aliando a aos meus conhecimentos oriundos da Ci ncia Surge desse processo ent o a disserta o de mestrado Sa de como pr tica da liberdade pr ticas de fam lias em um acampamento do MSTe o desenvolvimento de estrat gias de Educa o Popular em Sa de GAIA 2005 Em janeiro de 2004 com mala e colchonete nas costas tomei a Estrada de Ferro Vit ria Minas rumo a Valadares com o objetivo de iniciar o trabalho de campo para a elabora o da disserta o Percurso que fiz v rias vezes nos anos seguintes tamb m pela bela paisagem do trem por for a da atua o no MST e por motivos pessoais Desembarcada do trem fui para a cidade de Frei Inoc ncio cerca de 40 km de Governador Valadares
270. pr tica no aprendizado de Permacultura Logo no in cio da aula um deles afirmou que j tinha ouvido falar em Permacultura mas que lhe faltava pr tica destacando que o que importa n o o conhecimento pelo conhecimento e que a pr tica fundamental O poema lido ao final da aula tamb m apresenta este destaque ao afirmar a necessidade de aprendermos a praticar o que na teoria n s sabemos 170 As experi ncias de Francisco s o recursos de autoridade que fundamentam os conselhos que fornece aos seus estudantes E assim que se constr i o modo narrativo de viver perceber o mundo a partir das experi ncias do vivido onde existe o singular o local o imprevis vel e o implicado LIMA GERALDI GERALDI no prelo ao contr rio do modo paradigm tico de base l gico cient fica que abstrai dos casos particulares para produzir leis gerais 5 3 4 A AULA COMO EXERC CIO DE DIALOGIA E DE ALTERIDADE Dialogia e alteridade s o de acordo com Geraldi 2010a os dois pilares que fundam o pensamento bakhtiniano A alteridade pressup e se o Outro como existente e reconhecido pelo eu como Outro que n o eu e a dialogia pela qual se qualifica a rela o essencial entre o eu e o Outro p 105 Eu n o vi uma cultura do sil ncio FREIRE 1973 nesta aula de Permacultura Muito ao contr rio em diversos momentos Francisco convidava os educandos a trazerem seus conhecimentos pr vios seus pontos de vista para a aula e assim ia condu
271. quisa eram as fam lias do MST e seus modos de sobreviver resistir e produzir a vida no campo construindo o estudo Agroecologia a resist ncia do campon s e da camponesa Sem Terra GAIA 2008 87 Ent o vamos ao in cio da minha atua o org nica no MST Era abril de 2004 quando toca o telefone era uma liga o de uma antiga colega da equipe de PDA de Vi osa Estavam procurando algu m da rea de Biologia com experi ncia em PDA para compor a equipe de PDA do MST MG Como j dito desde 2002 o MST tinha como proposta que a elabora o do PDA dos assentamentos seja realizada por profissionais com alguma rela o com o Movimento Desta forma intensificou se a busca por profissionais das mais diversas reas com perfil para trabalho em um movimento social que pudessem compor o quadro t cnico de alguma entidade parceira do MST que prestasse o servi o de assist ncia t cnica aos assentamentos rurais e elabora o dos PDA s Esta era uma orienta o nacional O noroeste de Minas como parte do MST DF iniciou tal atividade ainda em 2002 e o MST MG em 2003 em um nico assentamento naquele ano Com a entrada de 2004 e a formaliza o legal de mais alguns novos assentamentos organizados pelo MST MG entre 2002 e 2004 havia ent o mais alguns PDAs a serem elaborados e o MST buscou ampliar a sua equipe t cnica Aquele telefonema veio junto com um convite para participar de uma capacita o em S o Paulo com o Professor Hor
272. r da aplica o transforma o ANTUNES ROCHA 2011 p 44 Sem falar na atitude desabonadora de colocar os interesses institucionais e pessoais de pesquisa acima das necessidades e direitos dos educandos e educandas Assim inicialmente no momento da elabora o do projeto de pesquisa para o doutorado minhas orientadoras e eu busc vamos aprender com os outros ou conosco mesmo sobre o modo como se davam as aproxima es entre o projeto de dizer da academia e o projeto de dizer dos estudantes LIMA PAULA SANTOS 2009 Na primeira vers o o objetivo elaborado textualmente foi Investigar os modos pelos quais ocorrem aproxima es entre os saberes populares e o conhecimento sistematizado de Permacultura nos processos de forma o no MST A ideia era analisar os movimentos discursivos envolvidos nos espa os de ensino aprendizagem entre saberes populares e conhecimentos cient ficos na rela o educador a educandos as Com esta proposta pretend amos criar possibilidades de redimensionamento das abordagens te rico metodol gicas no mbito da forma o de professores nos cursos de Licenciatura em Educa o do Campo A elabora o que agora damos ao reler o percurso metodol gico j um produto desse processo como parte da forma o pela pesquisa Contudo sempre estivemos interessadas em olhar para os di logos entre culturas diferentes Em um segundo momento j definido o cen rio do estudo curso e sujeitos o encontro com a
273. rabalho aparecem neste cap tulo 23 Como me propus a olhar a circula o entre saberes e conhecimentos no ensino de Permacultura uma forma de compreender melhor a minha atua o na academia minha ferramenta de an lise inicia com a distin o entre saberes e conhecimentos com base em Michel Foucault com recorte aos saberes da experi ncia e ao conhecimento cient fico ambos presentes nas duas culturas que estou observando campo e academia Discuto a import ncia de olhar i o que difere e o que aproxima saberes e conhecimentos ii como suas fronteiras se estabelecem e se ligam Para tanto introduzo os conceitos de linguagem dialogia e alteridade a partir principalmente de Paulo Freire e Mikhail Bakhtin ao recorrer a autores que neles se inspiraram No cap tulo 3 Os sujeitos e seu des encontro apresento os meus caminhos e os caminhos de Francisco no MST na Permacultura e na doc ncia bem como o encontro de nossos caminhos O cap ulo 4 Pano de Fundo discute a Educa o do Campo incluindo a caracteriza o dos dois cursos cen rios desta tese e a Agroecologia e a Permacultura de essencial entendimento para compreender a possibilidade de movimenta o nas fronteiras culturais entre saberes da experi ncia e conhecimento t cnico cient fico E se a discuss o gira em torno de aula de Permacultura n o h como n o falar do ensino de ci ncias neste contexto como perspectiva de empreendimento social e cultural
274. radigmatiza o da cultura cient fica por outro fruto da ocidentaliza o do mundo e dissemina o de um conhecimento domesticado ALMEIDA 2010 p 156 Foucault em sua Arqueologia defende o ponto de vista de que o conhecimento chamado cient fico resulta da organiza o estrutura o e fixa o de um campo dos saberes de parte destes saberes dentro de um campo segundo regras historicamente constru das que definem os diz veis e os indiz veis Nesse sentido genealogicamente os conhecimentos teriam sua origem nos saberes embora deles se afastem seguindo uma l gica pr pria de produ o de novos enunciados Entretanto nos atravessamentos das rela es de poder os conhecimentos esquecendo suas pr prias origens se sobrep em aos saberes e os subalterniza Neste trabalho importa sublinhar que os saberes e os conhecimentos entram em rela o e tentar desvendar as formas como enunciados pr prios de um e outro circulam em ambos os lados o da ci ncia e o da experi ncia Bruner 1998 refere se a dois modos de funcionamento cognitivo cada um fornecendo diferentes modos de ordenamento de experi ncia de constru o de realidade Os dois embora complementares s o irredut veis um ao outro Esfor os para reduzir um modo ao outro ou para ignorar um s custas do outro inevitavelmente deixam de captar a rica diversidade do pensamento Ibid p 12 Bruner 1998 chama esses dois modos de pensamento de paradigm tico ou
275. redibilidade a outras formas de conhecer marginalizadas suprimidas e desacreditadas pela ci ncia moderna Compartilhamos da ideia de que os discursos em circula o s o capazes de alterar nossa pr pria percep o da realidade A palavra institunte Os discursos nos seduzem e nos conquistam eles criam mundos e cristalzam cren as conforme Paulo Freire j nos ensinou Em nenhuma sociedade em nenhum discurso o poder natural mas algo que vai sendo naturalizado por pr ticas sociais historicamente constru das e ideologicamente forjadas pelas disputas de sentidos como na predomin ncia do g nero masculino na nossa escrita no uso de rural no lugar de campo de invas o em vez de ocupa o e at mesmo quando a rec m empossada ministra da Agricultura K tia Abreu diz que no Brasil n o existe latif ndio Saber ou conhecimento guardam uma ambiguidade sem ntica nos discursos correntes de forma que tanto podem ser entendidos como sin nimos quanto considerados diferentes e at mesmo excludentes Dizemos por exemplo que os conhecimentos ou saberes do campo s o mobilizados com frequ ncia pelas comunidades no enfrentamento dos problemas cotidianos fazendo uso dos termos como sin nimos Outras vezes chamamos de saberes os conhecimentos sobre plantas medicinais de uma comunidade para distinguir aqueles dos conhecimentos qu micos e farmacol gicos que identificam os princ pios ativos que podem ser encontrados nas plantas Assim
276. reens o Di logo no sentido bakhtiniano n o tem nada de harm nico e muito mais uma arena Discuss es discord ncias mas tamb m um profundo entendimento AMORIM 2006 p 107 A palavra di logo mesmo mal dita quando utilizada para caracterizar t o somente tipos de estrutura gramatical ou quando empregada no sentido socialmente cristalizado de consenso o di logo reificado finalizado convertido em mon logo A palavra di logo ao contr rio bem entendida no contexto bakhtiniano como rea o do eu ao outro como rea o da palavra palavra de outrem como ponto de tens o entre o eu e o outro entre c rculos de valores entre for as sociais A essa perspectiva n o interessa a palavra passiva e solit ria mas a palavra na atua o complexa e heterog nea dos sujeitos sociais vinculada a situa es a falas passadas e antecipadas MARCHEZAN 2006 p 123 Segundo Amorim 2001 p 97 n o h linguagem sem que haja um outro a quem eu falo e que ele pr prio falante respondente tamb m n o h linguagem sem a possibilidade de falar do que um outro me disse O di logo para Freire a rela o que n o anula a alteridade do outro pelo di logo que podemos olhar o mundo e a nossa exist ncia em sociedade como processo algo em constru o como realidade inacabada e em constante transforma o ZITKOSKI 2010 O di logo contribui ent o para a constitui o do eu a partir do outro
277. reforma agr ria ser feita na lei ou na marra comflores ou com sangue MORAES 2012 O outro Francisco que inspirou o nome fict cio do her i da narrativa apresentada nesta tese o atual papa da Igreja Cat lica Papa Francisco Apesar de discordar desta hierarquia na igreja os posicionamentos do atual Papa t m me chamado muito a aten o A Igreja sempre esteve presente no seio do MST desde sua liga o com as Comunidades Eclesiais de Base CEB s em sua origem apesar de n o ser um movimento religioso Recentemente em outubro de 2014 durante o Encontro Mundial dos Movimentos Populares organizado pelo Pontif cio Conselho Justi a e Paz em colabora o com a Pontif cia Academia das Ci ncias Sociais e com os l deres de v rios movimentos sociais o Papa Francisco defendeu a Reforma Agr ria e fez duras cr ticas ao modelo do agroneg cio MST 2014 Um cartaz recente do MST com uma foto de perfil do Papa apresenta os seus dizeres em ocasi o do referido Encontro Nenhuma fam lia sem casa Nenhum campon s sem terra Nenhum trabalhador sem direitos 44 e apropria o cultural me aproximo das discuss es de Carlo Ginzburg e Bakhtin sobre circularidade cultural Acompanhando Geraldi 2003 p 40 propus um encontro que n o houve entre Paulo Freire e Mikhail Bakhtin apesar das dist ncias de programas de reflex o que os separaram mais do que os espa os geogr ficos trazendo para a discuss o a quest o da alteridade e do di
278. remover verrugas Ibid p 102 grifos da autora Almeida 2010 p 93 destaca que tais saberes discriminados pelo r tulo de n o cient ficos t m se reduzido a um ap ndice do acervo do suposto saber universal e que sem cidadania e sob a tutela dos saberes cient ficos perdem sua identidade ao deixar de ser reconhecidos e de autorreconhecerem como uma das formas de investiga o e interpreta o do mundo No contexto dos sujeitos do campo esses saberes est o presentes nas estrat gias de produ o e reprodu o ARROYO 1992 da vida A luta pela terra a rela o entre trabalho e vida os h bitos alimentares as pr ticas religiosas e sociais a Reforma Agr ria a cultura camponesa o embate de classe entre projetos de campo e entre as l gicas do agroneg cio s o entre outros elementos constitutivos dos saberes dos camponeses e camponesas A esse conjunto de saberes chamamos agui de saberes da experi ncia conforme Larrosa 2002 Muitos autores se valem da express o saberes da tradi o contudo o termo tradi o n o coerente com o referencial anal ico de Foucault por remeter s continuidades hist ricas como 18 O termo saberes da tradi o ser mantido neste texto apenas quando assim for referido na cita o literal de outros autores 63 desenvolvimentos progressivos em que uma perspectiva leva inexoravelmente ao seu desdobramento e repeti o por adensamento Entre outras tradi o uma no
279. res novas compreens es A Investiga o Narrativa propicia ent o a forma o de professores como profissionais reflexivos LIMA GERALDI GERALDI no prelo Como citado anteriormente Lima Geraldi e Geraldi no prelo apontam para quatro tipos de emprego de narrativas na pesquisa em educa o A narrativa como constru o de sentidos de um evento corresponde s pesquisas em geral em hist ria oral que possibilitam recontar hist rias a partir das mem rias dos sujeitos envolvidos O foco aqui s o os fatos ou eventos que tanto podem ser fen menos sociais amplos como podem ser acontecimentos restritos como uma aula por exemplo As narrativas biogr ficas ou autobiogr ficas possibiltam o encontro do narrador com o personagem que coincidem nas ltimas mas n o nas primeiras e como formas de narrativas de vida permitem a compreens o do sujeito e de sua forma o Neste grupo o foco o sujeito J nas narrativas de experi ncias planejadas para pesquisas a pr tica pedag gica tem uma intencionalidade pr via ou seja as a es educativas s o planejadas de modo a responder determinadas quest es previamente estabelecidas como por exemplo a avalia o de novos recursos did ticos Neste caso pode ocorrer ou n o a coincid ncia entre o pesquisador e o sujeito que realiza a a o pedag gica LIMA GERALDI GERALDI no prelo As narrativas de experi ncias educativas narrativas de experi ncias vividas mas n o inten
280. roblema da fome um problema de superprodu o n o um problema de falta de produzir produzir muita coisa que n o serve para alimentar o povo alimentar a popula o Ent o como que n s vamos atender as necessidades b sicas sendo que a gente produz coisas que n o tem nada a ver com a necessidade do ser humano Ent o quanto maior for a produ o maior problema de fome n s vamos ter Ent o seria estabelecer limites produ o e ao consumo O que esse limite produ o N o adianta n s produzirmos soja soja soja e mais soja sendo que o povo n o vai viver s comendo soja Ent o tem que estabelecer limites mesmo produ o E outra ao inv s de produzir de soja porque n o vamos produzir arroz vamos produzir feij o vamos produzir mandioca Se n s quisermos realmente matar a fome vai ser desta forma aqui estabelecer limites Em algumas regi es de S o Paulo por exemplo vamos produzir cana de a car e agora o povo vai tudo comer cana E ele n o deixava de se posicionar como agricultor assentado militante pol tico Numa clara evid ncia de perten a ao campo ao MST N s precisamos cuidar das pessoas e a os nossos movimentos fazem isso tamb m A luta pela terra a luta pelos direitos por tantas outras coisas est incluindo este cuidar das pessoas Porque se n s cuidamos da terra e n o cuidamos das pessoas aonde vamos colocar as pessoas Como dizia o te logo chamado Leonardo
281. rso como estudante em 2008 renderam o convite para assumir a referida disciplina No ano de 2009 eu j n o era mais contratada da AESCA MG como profissional que compunha a equipe de assist ncia t cnica pois o conv nio entre INCRA e AESCA MG tinha se encerrado em meados de 2008 e todos os profissionais t cnicos que estavam trabalhando nesta tarefa nos ltimos anos estavam procurando outras formas de sobreviv ncia financeira Alguns foram assentados as outros sa ram da organiza o e outros como eu tentaram conciliar algum trabalho externo milit ncia no MST Desta forma o convite para assumir aquelas aulas no Izabela Hendrix vieram em hora muito apropriada As aulas n o consumiam todo o meu tempo semanal me rendiam alguns trocados que eu somava s aulas particulares que lecionava e me permitiam continuar minha milit ncia no MST A oportunidade de substituir um professor resultou na minha contrata o efetiva pelo CEUNIH onde atuo at o presente momento principalmente em disciplinas da rea de Ensino de Ci ncias e de Meio Ambiente Entre agosto de 2009 e dezembro de 2010 lecionei algumas disciplinas no Curso T cnico de Agroecologia da mesma institui o em uma unidade em outro campus unidade Fazendinha na cidade de Sabar regi o metropolitana de BH Em 94 2013 iniciei tamb m como professora de Educa o B sica no Col gio da mesma Institui o lecionando aulas de Ci ncias para as turmas do 8 e 9
282. rticipa tamb m se intelectualza na experi ncia na din mica dos movimentos sociais N o s o sujeito acad mico intelectual e tem capacidade para teorizar sua pr tica de argumentar baseando se no seu saber fazer Os dados evidenciam que Francisco apresenta grande capacidade de elabora o transitando da pr tica teoria e desta pr tica novamente Tal capacidade vem sendo formada diariamente a partir do meio em que vive sua vida como agricultor e pedreiro e como educador e militante at assumir a condi o de docente autorizado pela autoridade do seu saber De acordo com Ant nio Gramsci entendemos que o termo intelectual org nico refere se ao intelectual que est vinculado e comprometido com a classe trabalhadora ou burguesa O intelectual cl ssico que aquele reconhecido pela Academia em fun o dos t tulos acumulados e de sua atividade de elabora o te rica pode ou n o ter ou camuflar ou desconhecer um comprometimento de classe O intelectual org nico para al m de ter ou n o t tulos acad micos aquele que envolvido em uma organicidade tem comprometimento e participa o na formula o de ideias que contribuam com a es pol ticas sejam a es hegem nicas ou contra hegem nicas SAITO amp AZEVEDO 20197 Sendo este intelectual org nico Francisco se torna professor Conforme Geraldi 2010b p 82 a forma o inicial que Francisco n o tem forma o professor mas n o necessariamente tom
283. rticularidades relacionadas forma o de professores as ao calend rio aos objetivos educacionais e sociais s pr ticas agr colas s tradi es do campo etc Pensar a educa o desde ou junto com uma concep o de campo significa assumir uma vis o de totalidade dos processos sociais no campo dos movimentos sociais significa um alargamento das quest es da agenda de lutas no campo da pol tica p blica significa pensar a rela o entre uma pol tica agr ria e uma pol tica de educa o por exemplo ou entre pol ica agr cola pol tica de sa de e pol tica de educa o E na dimens o da reflex o pedag gica significa discutir a arte de educar e os processos de forma o humana a partir dos par metros de um ser humano concreto e historicamente situado MOLINA amp JESUS 2004 p 15 Apesar de a Educa o do Campo se centrar tamb m nas escolas fazendo a luta para garanti las como o seu ponto forte ela estabelece como requisito a extrapola o desse ambiente a Educa o do Campo n o cabe em uma escola MOLINA amp JESUS 2004 p 23 Conforme Caldart 2009 a Educa o do Campo historicamente ligada atua o dos movimentos sociais e sindicais do campo nas pol ticas p blicas educacionais brasileiras tem se centrado na escola na garantia de acesso dos as trabalhadores as rurais ao conhecimento produzido na sociedade Mas n o se limita a isso pelo contr rio a Educa o do Campo ao mesm
284. s reas de Reserva Legal e Preserva o Permanente J a Setoriza o consiste na avalia o do ambiente quanto aos recursos energ ticos no local vento sol gua fogo etc de forma a trazer estas informa es para o planejamento Por exemplo localizar a casa de forma a aproveitar a luminosidade do sol posicionar quebra ventos nas reas cultivadas que recebem muitos ventos desenvolver estrat gias de capta o das guas superficiais e pluviais etc Podemos citar com pr ticas permaculturais t picas horta mandala espiral de ervas banheiro seco c rculo de bananeiras constru es com terra adobe super adobe solo cimento telhado verde galinheiro rotativo minhoc rio fossas ecol gicas biofossas entre outras LEGAN 2007 RICIARDI amp DOMINOT 2008 MARS 2008 Mas afinal qual rela o existe entre Agroecologia e Permacultura A Permacultura apesar de ser frequentemente apresentada como uma das correntes da agroecologia pode ser compreendida como uma ci ncia em constru o semelhante agroecologia visto que apresenta toda uma epistemologia pr pria seus m todos s o replic veis e composta por processos que englobam diversas reas do saber Por ser uma metodologia de desenho e gest o ambiental pr elaborada esta pode ser vista como complementar aos princ pios ecol gicos j que aborda quest es n o contempladas na agroecologia com rela o ocupa o humana nos agroeco
285. s infantis dos assentamentos ultrapassavam todo o costumeiro roteiro dos est gios e pr ticas de ensino ibidem e buscava se antes de tudo escutar ouvir as experi ncias e saberes daquelas educadoras para a partir da e com elas valoriz los e ressignific los luz das teorias estudadas Tbid p 9 Nesse momento as experi ncias adquiridas e as viv ncias e dificuldades enfrentadas por essas educadoras em escolas de assentamentos rurais deram a t nica nas reflex es realizadas por todos al momento no qual se fazia verdadeiramente o ato de reflex o a o reflex o Em outro momento os pr prios alunos da 30 Pedagogia se viam diante das crian as para com elas organizarem as experi ncias de aprendizagem encravadas na realidade de uma escola do campo coberta de lona longe das condi es ideais e estruturas adequadas e recomendadas para atividades de ensino na educa o infantil CORDEIRO amp SCALABRIN 2007 p 9 guas Benzaquen e Valen a 2012 analisam as rela es entre as epistemologias dominantes e subalternizadas a partir da voz de dois miltantes do MST GUAS BENZAQUEN VALEN A 2012 p 89 ambos formados em cursos promovidos por institui es de ensino superior em parceria com o MST atrav s do PRONERA Pedagogia da Terra e Engenharia Agron mica A partir da trajet ria de milit ncia e de estudos destes sujeitos os autores afirmam que as vozes consideradas pela ci ncia moderna ocid
286. s vezes hostis possibiltaram aos humanos o necess rio desenvolvimento biol gico e a consciente transforma o da natureza em benef cio da ra a humana Ao se colocar frente aos desafios os homens e mulheres com a sua a o consciente passam a agir sobre ela modificando a e assim v o aprendendo perpassando pelo processo produtivo educativo e formando se homens mulheres eles elas aprendem a ser homem mulher A produ o do homem mulher o seu percurso para a forma o A educa o assim como o pr prio homem mulher um produto do trabalho OLIVEIRA 2014 p 137 A Educa o do Campo tal qual concebida e operacionalizada hoje pode ser observada pela tica da marcha da hist ria dos brasileiros resultado de muitas lutas e da inven o de diferentes formas de resist ncia Resistem imposi o da lei do mais forte sobre o mais fraco que vem desde a coloniza o do Brasil pelos europeus Ora para se manter nas suas propriedades rurais ora para retomar condi o de propriet rios de um lote de terra perdido ou mesmo para ter a garantia de acesso aos conhecimentos produzidos por seus antepassados e compartilhados com os seus descendentes esses sujeitos desenvolveram v rios mecanismos frente ofensiva do sistema de produ o dominante no Brasil em pocas diferentes 112 Tal sistema produtivo foi intensificado na segunda metade do s culo XX com o crescente e estimulado xodo rural que ocorreu den
287. s de uma sociedade GEGe 2009 por meio da cultura que os sujeitos criam os s mbolos os saberes os sentidos e os significados que os rodeiam e os constituem BRAND O 2010a Em um mundo de oprimidos e opressores conforme Freire muitas vezes os sujeitos s o impedidos de construir sua cultura de dizer sua palavra vivendo na cultura do sil ncio dominados e interditados de participar ativamente dos acontecimentos FREIRE 1973 OSOWSKI 2010a No processo da hist ria a desigualdade de condi es humanas de produ o de bens poderes e s mbolos nega a universaliza o da cultura e institui posi es subalternas de saberes valores e s mbolos de sujeitos e grupos tnicos e sociais dominados por conhecimentos valores e c digos de relacionamentos de outro grupo BRAND O 2010b A cultura do sil ncio discutida por Freire produzida pela impossibilidade de homens e mulheres dizerem sua palavra OSOWSKI 2010a p 101 Para Freire na dialogia e em uma educa o cr tica e emancipadora que podem emergir sujeitos de pr xis em condi es de interferir na realidade possibilitando muitas culturas rompendo o sil ncio Segundo Certeau 1995 somos parte de um universo multicultural vivemos portanto uma cultura no plural Com Freire ent o aprendemos que todos letrados ou iletrados s o fazedores de cultura ao aceitar e responder aos desafios da vida alterando e dominando a natureza dinamizando e humanizando a realid
288. s demais do texto mas uma forma de garantir a sequencia do texto sem deixar de relacionar as importantes informa es relativas ao MST com os acontecimentos narrados dos sujeitos Antes de detalhar os sujeitos importante falar brevemente do sujeito coletivo MST respons vel pela nossa identidade Sem Terra A narrativa do meu encontro com Francisco apresentada na sequ ncia 3 1 SUJEITO COLETIVO MSTE A IDENTIDADE SEM TERRA Cada sem terra de hoje carrega emsi ainda que n o saiba disso a heran a rebelde de Sep Tiaraju de Zumbi dos Palmares dos camponeses que lutaram em Canudos Trombas e Formoso Contestado nas Ligas Camponesas Assim como carrega a mem ria da repress o sofrida por todas essas lutas e o desafio de impedir que a destrui o possa ocorrer de novo Roseli Caldart 2004 p 108 N o h como falar da constitu o de uma identidade Sem Terra sem antes contextualizar o sujeito coletivo MST a partir de seu surgimento e objetivos de luta Iniciado oficialmente em 1984 o MST representa parte dos trabalhadores e trabalhadoras que buscam por terra desde os tempos da coloniza o do Brasil iniciado com a divis o das capitanias 77 heredit rias a liberta o dos negros escravos chegando aos tempos mais atuais das Ligas Camponesas O MST fruto de mobiliza es e ocupa es de terra que vinham acontecendo desde 1979 com a emblem tica ocupa o na Encruzilhada Natalino no Rio Grande do Sul Mui
289. s experi ncias narradas com seus muitos enunciados olhar para a constitui o do sujeito individual e do sujeito coletivo para a constitui o pessoal e a do outro Se em uma narrativa pressup e se a exist ncia de locutores quem fala ou escreve e interlocutores quem escuta ou l insere se nesta pesquisa a quest o da natureza dial gica da linguagem discutida por Bakhtin Para Bakhtin a linguagem um processo de intera o dial gica na rela o com a alteridade sendo desenvolvido atrav s de enunciados concretos que s o ouvidos e reproduzidos ou seja a linguagem produto da intera o social e da intera o entre os interlocutores BRATT 2005 Na perspectiva bakhtiniana atrav s da intera o social sobretudo da intera o verbal que o sujeito se constitui e se transforma em fun o mesmo da sua rela o com o outro O sujeito constitu do de fora para dentro GEGe 2009 p 96 Para esta concep o a alteridade fundamental pois o sujeito eu s existe a partir do sujeito outro pois cada sujeito se constitui na rela o com o outro e por isso reflete e refrata se no outro Paulo Freire tamb m refletiu muito sobre a constitui o do sujeito e sua capacidade de alterar a realidade uma vez que para ele imposs vel pronunciar o mundo sozinho da mesma forma que se tornar sujeito quando apartado dos outros pois pela a o afirmativa de dizer a palavra pronunciando o mundo em colabora o os s
290. s face s condi es sociais da exist ncia apenas um dos lados sai modificado Por isso prefiro pensar na circula o entre saberes e conhecimentos do que na acultura o de um segmento social pelas imposi es das posi es hegem nicas Assim como Freire 2001 convoco educadores as e educandos as leitores as e escritores as a um processo de reinven o cont nua do texto no contexto cultural e hist rico que lhes pr prio Aqui convido voc meu le tor a a contextualizar este texto no seu contexto 1 2 INTRODU O S INQUIETA ES QUE MOTIVARAM ESTA PESQUISA E REVIS O DA LITERATURA Paulo Freire afirmava que a educa o um ato fundamentalmente pol ico e deve possibilitar ao sujeito escrever e reescrever o seu mundo ou seja transform lo por meio de uma pr tica consciente fundamentada nas pr ticas educativas emancipadoras FREIRE 2005 No contexto da Educa o do Campo em que o protagonismo e a constru o do conhecimento como pr tica social s o valorizados fundamental destacar que concep o de educa o se busca para os povos do campo e como esta pode ser constru da Tal concep o articula se com os projetos sociais e econ micos dos sujeitos do campo alinhados com o MST de modo a criar conex es entre forma o e produ o educa o e compromisso pol tico Uma concep o de educa o e de escola que considere em seus processos educativos o universo cultural e as formas pr
291. s foram produzidas edifica es foram feitas etc A ci ncia tem se mostrado til como conhecimento e tecnologia a despeito das cr ticas Concordamos com Larrosa 2002 quando considera que z Atualmente o conhecimento essencialmente a ci ncia e a tecnologia algo essencialmente infinito que somente pode crescer algo universal e objetivo de alguma forma impessoal algo que est 61 a fora de n s como algo de que podemos nos apropriar e que podemos utilizar e algo que tem que ver fundamentalmente com o til no seu sentido mais estreitamente pragm tico num sentido estritamente instrumental O conhecimento basicamente mercadoria e estritamente dinheiro t o neutro e intercambi vel t o sujeito rentabilidade e circula o acelerada como o dinheiro Ibid p 27 2 2 2 2 SABERES DA EXPERI NCIA E A NARRATIVA COMO MODO DE CONHECER O MUNDO Os saberes que circulam na oralidade entre popula es humanas ao longo da nossa hist ria resultam da experi ncia Na condi o de saberes mais pr ximos do mundo da vida e mais distantes do circuito de dissemina o do conhecimento cient fico ALMEIDA 2010 p 35 contribuem sobretudo para a preserva o cultural dos povos De acordo com Silva 2010 s o frutos das experi ncias sociais das popula es quilombola cai ara de pescadores artesanais de ribeirinhos de agricultores entre outras que est o diretamente preocupadas em encontrar resp
292. s mesmas em quatro categorias a saber 1 a narrativa como constru o de sentidos de um evento ou hist ria 11 a narrativa auto biogr fica ii a narrativa de experi ncias planejadas para serem pesquisas e iv a narrativa de experi ncias do vivido narrativas de experi ncias educativas Esta tese percorre diferentes caminhos e por isso transita entre o primeiro e o quarto tipo de emprego de narrativas na pesquisa apontados pelos autores Ao mesmo tempo narro a experi ncia de outro as aulas de Francisco mas sem deixar de narrar o que vivi ao observ las Isto porque a experi ncia selecionada para o desenvolvimento da minha pesquisa e a 34 narrativa do que vivi ao observar as aulas de um outro professor me permitiu resgatar as mem rias de minhas experi ncias pedag gicas como professora de Permacultura para os sujeitos do campo As Investiga es Narrativas em Educa o denominadas tamb m por alguns autores como narrativas pedag gicas PRADO FERREIRA FERNANDES 2011 p 145 valem se de textos predominantemente narrativos e autobiogr ficos escritos para compartilhar li es aprendidas a partir da experi ncia da reflex o sobre a experi ncia da observa o da pr tica dos pares da discuss o coletiva da leitura do estudo e da pesquisa Este tipo de abordagem uma forma privilegiada para que os educadores documentem o que fazem o que pensam o que pensam sobre o que fazem assim como suas inquieta es difi
293. s professores que se disp em a partilhar diariamente os conhecimentos e saberes e aceitaram fazer a avalia o desta minha narrativa militante pedag gica Maria Isabel Antunes Rocha Jo o Wanderley Geraldi Helder Figueiredo e Paula J nia Freguglia Garcia Penha Souza Silva e V ndiner Ribeiro Eu quero uma escola do campo que tenha a ver com a vida com a gente querida e organizada e conduzida coletivamente Eu quero uma escola do campo que n o tenha cercas que n o tenha muros onde iremos aprender a sermos construtores do futuro Eu quero uma escola do campo onde o saber n o seja limitado que a gente possa ver o todo e possa compreender os lados Construtores do Futuro Gilvan Santos Aos funcion rios e funcion rias da FaE UFMG em especial da Secretaria da P s Financeiro e Biblioteca pela aten o e contribui o nesta constru o CAPES pela bolsa de estudos que oportunizou s condi es materiais de estar no doutorado Aos compositores as cantores as e artistas da luta pela terra por me emprestarem sua poesia de vida nesta composi o Um sistema social est profundamente doente quando um campon s trabalha a terra pensando que se ele campon s porque n o era inteligente o bastante para tornar se professor Simone Weil Estou aqui por qu E pelo MST XI RESUMO Nessa tese investigo a tens o entre os conhecimentos de ci ncias naturais e os saberes da experi ncia que e
294. selho e assim me inscrevi Prova feita aprovada fui para Vi osa de mala e cuia j para o meu primeiro dia de aula O um semestre que o meu pai falou para eu cursar foi suficiente para me mostrar que quem gosta de Ci ncias pode fazer Ci ncias Biol gicas e que Medicina n o tinha nada a ver comigo Al ent o naquele curso e naquela cidade me encontrei como estudante de gradua o sobre as diversas nuances da vida biol gica E assim se passaram quatro anos de muitos aprendizados Durante a gradua o junto a colegas amigos do Laborat rio de Ecologia Quantitativa incluindo o orientador Professor Paulo De Marco J nior criamos o Laborat rio de Educa o para a Cidadania LabEC O LabEC era um projeto de extens o do Laborat rio de Ecologia Quantitativa onde elabor vamos aulas diferenciadas de Ci ncias em parceria com os as professores as regentes das turmas para escolas p blicas da periferia de Vi osa Constru mos aula pr tica de estudo de morfologia interna de rato naquela poca ainda era permitido o estudo com cobaias jogo de RPG Role Playing Game sobre uso e manuten o da gua e 20 Tamb m o t tulo da tese mudou algumas vezes 81 uma par dia do jogo Detetive sobre o fincionamento do sistema end crino entre tantas outras metodologias Muitas aulas Muito aprendizado E um primeiro despertar para a carreira docente s legalizado quase 10 anos depois No in cio de 2002 a alguns meses do t rmino do
295. senvolvimento de armas qu micas bem como o agravamento dos problemas ambientais decorrentes do desenvolvimento cient fico e tecnol gico levou a v rios questionamentos sobre as consequ ncias do uso da tecnologia e sobre os aspectos ticos do trabalho dos cientistas SILVA 2010 PA A ci ncia n o uma atividade neutra e o seu desenvolvimento est diretamente imbricado com os aspectos sociais pol ticos econ micos culturais e ambientais Portanto a atividade cient fica n o diz respeito exclusivamente aos cientistas e possui fortes implica es para a sociedade Sendo assim ela precisa ter um controle social que em uma perspectiva democr tica implica em envolver uma parcela cada vez maior da popula o nas tomadas de decis o sobre Ci ncia e Tecnologia SANTOS amp MORTIMER 2001 Dentro da pr pria comunidade de cientistas e entre membros da sociedade em geral sempre aconteceram questionamentos a esta ci ncia como verdade absoluta como nica sa da para o mundo como modelo de esclarecimento e desenvolvimento da para popula o Os conhecimentos cient ficos fazem parte da riqueza e capital essencial que sustentam a sociedade globalizada em que vivemos THERRIEN 1997 S o o polo mais formal e acad mico dos saberes e s o transmitidos por meio do uso de conceitos SCHWARTZ 2010 Reconhecemos as grandes contribui es da ci ncia para a vida Por meio dela muitas doen as foram conhecidas e tratadas vacina
296. ser comum remete n o ao fato narrado ou a seus sentidos mas ao mundo mais amplo dos sistemas de refer ncias antropo culturais e cabe ao narrador atravessar dist ncias quando elas existem para se fazer compreender pelo ouvinte e a este cabe um deslocamento de seu lugar pr prio para o lugar do narrador 21 tamb m narramos para n s mesmo como exerc cio de exotopia e compreens o categorias que assumem centralidade na discuss o do sujeito bakhtiniano Dialogo com todos estes leitores Poderiam e poder o ser outros em outro momento ou o texto estando em outras m os mas a estes que a princ pio estas palavras se dirigem Assim este um texto dial gico conforme Bakhtin uma vez que possui falante autora e co autor e ouvinte leitores um eu e um outro a serem considerados na enuncia o BENTES et al 2013 Assim ao longo deste texto narrativo ser o apresentadas algumas hist rias que nos contam um pouco sobre o percurso da constru o do objeto de pesquisa dos sujeitos colocados em rela o em fun o do desenvolvimento deste trabalho dos dados e da an lise dos mesmos Tais hist rias luz do referencial te rico trazem alguns apontamentos desdobramentos da pesquisa que pretendem contribuir para a compreens o da rela o entre conhecimentos e saberes da experi ncia dos modos desta rela o extrair li es ou conselhos que iluminam o que se narrou mas tamb m apontam para caminhos de experi ncias
297. sgoto A destina o da gua de pia para a rea das bananeiras Ali quando a Prefeitura construiu a Escola o diretor do col gio j me chamou pra dialogarmos com a 35 As Jornadas de Agroecologia s o parte de um processo de articula o das organiza es que promovem a agroecologia e a luta permanente contra o projeto das empresas transnacionais do agroneg cio Iniciou em 2002 na cidade de Ponta Grossa no Paran e em sua 12 edi o 2013 ocorreu na Escola Milton Santos em Maring PR uma escola de forma o do MST As edi es da jornada tem um p blico em m dia de 4 mil participantes de diversos movimentos sociais organiza es populares t cnicos acad micos pesquisadores profissionais da sa de educa o e segue fortalecendo a unidade pol tica entre o campo e a cidade As jornadas configuram se como um espa o de estudo mobiliza o e troca de experi ncias Promovem as Jornadas MST Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra MPA Movimento dos Pequenos Agricultores MAB Movimento dos Atingidos por Barragens MMC Movimento de Mulheres Camponesas CPT Comiss o Pastoral da Terra FEAB Federa o dos Estudantes de Agronomia do Brasil Terra de Direitos e GALO Grupo de Agroecologia de Londrina HADICH 2014 101 Prefeitura e fazer um sistema j mais alternativo de tratamento de esgoto E a eles foram super tranquilos a gente j conseguiu fazer ent o as fossas no caso mas transformando ela
298. simetria exatid o e pelo princ pio l gico da identidade Destaca se aqui tamb m que a escrita regida por exig ncias de um argumento cient fico tende a escolher palavras com o objetivo de assegurar a rela o clara e definida e o sentido literal BRUNER 1998 p 23 valorizando inclusive uma forma de express o que contenha ap ndices gr ficos tabelas c lculos de probabilidades conceitos IRWIN 1995 Essa ci ncia valoriza a t cnica e portanto o desenvolvimento tecnol gico percebe a natureza como fonte de mat ria prima a ser transformada O desenvolvimento hegem nico da sociedade baseado no capitalismo fez perdurar por muito tempo a cren a no modelo linear 60 de progresso baseado no desenvolvimento cient fico o que fez crer que a ci ncia e a tecnologia seriam aliadas na promo o do desenvolvimento econ mico e que avan ada economicamente a sociedade alcan aria enfim o seu desenvolvimento social A ci ncia funcionaria ent o como o principal motor do progresso humano ao consolidar o modelo econ mico capitalista SILVA 2010 p 43 Esse modelo come a a ruir e a ci ncia passa a ser questionada sobre seus rumos e inten es no per odo entre as duas guerras mundiais fen meno que se intensificou ap s a II Guerra O desenvolvimento do Projeto Manhattan em 1945 que culmmou posteriormente no lan amento da bomba que atingiu Hiroshima e Nagasaki Jap o os projetos militares que deram origem ao de
299. sitivo do homem no planeta PRUDENTE 2007 p 1165 N o se encontra na literatura refer ncias com uma abordagem de car ter pol tico ideol gico como em rela o Agroecologia entretanto muito tem se visto de Permacultura em rela o ao aspecto tico social Apesar de menos predominante no discurso e nas experi ncias tem crescido o desenvolvimento dos princ pios e pr ticas permaculturais no mbito dos assentamentos do MST E esta tamb m est presente como tema de aula disciplna ou no desenvolvimento de atividades pr ticas em muitos cursos do MST na rea de forma o agr ria Para a Permacultura tamb m h uma diversidade de conceitos utilizados para sua defini o Nas refer ncias consultadas entendida como m todo de design como conjunto de 135 t cnicas como modo de vida como cria o de espa os configurados a partir de uma determinada tica e est tica de vida baseada na ideia de sustentabilidade O termo Permacultura vem da d cada de 1970 criado pelos ecologistas australianos Bill Mollson e David Holmgren em um esfor o para aliar formas de agricultura permanente e a coexist ncia ecologicamente sustent vel em resposta imensa degrada o ambiental e perda de recursos naturais que a Austr lia acumulava em fun o do modelo de agricultura convencional adotado SOARES 1998 O Planeta Terra encontra se em um momento cr tico Apesar da evolu o r pida das tecnologias existentes os nossos s
300. sity in the narrative which brought many elements for the understanding how the know how from experience work and how they appear in a classroom in the field Instead of giving examples to teach Francisco tells histories But they are not discomected or fragmented histories They were chosen from the rich collection of his life s experiences contributing to share a moral a teaching to leave an advice Without prescribing Francisco always refers to the permacultural principles in his speech The main point in his class is not the theory about the settled s life and the Permaculture in his life The theory is present although his class is essentially oriented by practice compromised with the singularity of each specific realty without putting aside his Landless militant and agricultural identity Francisco s class is characterized by an open happening as experiences narratives and dialogue and alterity exercises In the set of classes the centrality of practice the singular and particular character of his histories and the collective dimension of the subject were the highlighted points Through Francisco s voice I capture some advice given by him and then extract some lessons for my work in the Field Education as a militant Key words Know how Knowledge MST Narrative Dialogue Alterity XIII LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AESCA MG Associa o Estadual de Coopera o Agr cola de Minas Gerais BH Belo Horizonte CEB s Co
301. so trabalho V nhamos de centros acad micos renomados na rea agr ria UFV e UnB e com um hist rico positivo de elabora o de PDA s Afinal fomos formados para desempenhar esse tipo de trabalho Quem seriam os escolhidos para elaborar o PDA deles Eles pr prios que n o seriam ou seriam O trabalho acabou sendo desenvolvido nos demais assentamentos revezando em alguns dias de estadia e trabalho dentro das reas em algumas capacita es na UnB sobre o universo agr rio e elabora o dos documentos do PDA Em fun o da minha forma o mesmo participando de todas as fases da constru o do Plano tinha como principal responsabilidade contribuir no diagn stico ambiental levantamento de flora e fauna basicamente e na proposta de regulariza o ambiental da rea Passei ent o alguns meses de 2002 nesta atividade 22 Em termos organiza o geogr fica as reas do noroeste de Minas s o organizadas pelo MST DF Distrito Federal que respons vel pela organiza o de acampamentos e assentamentos localizados do Distrito Federal e entorno Como entorno entende se al m dos munic pios integrantes do DF os demais munic pios do estado de Goi s e alguns munic pios do noroeste de Minas Gerais geograficamente mais pr ximos do DF do que de Belo Horizonte As demais regi es do estado de Minas s o organizadas pelo MST MG 83 Terminado o ano de 2002 e os trabalhos de PDA e tamb m j formada na gradua o
302. solo e Lixo e esgoto quest es de saneamento b sico para as turmas iniciadas em 2008 2009 e 2013 Exemplos de demais disciplnas da habilta o relacionadas forma o geral integradora e complementar s o Forma o da sociedade brasileira Numeramento Letramento An lise da Pr tica Pedag gica Educa o Conhecimento e Cultura Temas Espec ficos em Educa o do Campo Pedagogia da Altern ncia Pol ticas P blicas e Educa o do Campo Escola gest o e curr culo A escola e a diversidade sociocultural Processos de Ensino e Aprendizagem etc 4 2 ENSINO DE CI NCIAS NO CAMPO COMO EMPREENDIMENTO SOCIAL E CULTURAL Considerando a especificidade dos dois cen rios ambos com recorte nos conte dos relacionados s Ci ncias da Vida e da Natureza n o h como deixar de discutir sobre as perspectivas do ensino de ci ncias nesta tese uma vez que a Permacultura se localiza como conte do circunscrito a esta rea de conhecimento Segundo Almeida 2010 o ensmo de ci ncias tradicional carrega as marcas estereotipadas da ci ncia moderna Utiliza se de uma linguagem universal um m todo nico uma forma de pensar que privilegia a suposta realidade objetiva Essas caracter sticas n o s 127 est o presentes como s o amplamente disseminadas tanto na Educa o B sica quanto no Ensino Superior E como se n o coubesse na escola a diversidade das hist rias locais os modos diversos de conhecimento da natureza o elenco d
303. ssistemas tais como energia habita es e saneamento al m do cultivo da terra propriamente dito JACINTHO 2007 p 36 37 Assim Agroecologia e Permacultura s o abordagens distintas e a Permacultura n o uma corrente da Agroecologia Estas oferecem o componente ecol gico aos sistemas produtivos humanos rurais ou n o sendo que ambas buscam construir m todos e metodologias por meio da pesquisa participativa que rumam para modelos sustent veis seja pela organiza o socioecon mica seja pela meta da auto sustentabilidade dos processos produtivos ou seja pela percep o da transversalidade das quest es ambientais JACINTHO 2007 p 16 17 Agroecologia e Permacultura pelo seu car ter de constru o coletiva e de contraposi o ao modelo vigente de superexplora o de recursos naturais humanos etc e do ambiente se alinham com as pautas do MST e v o assumindo discursos e experi ncias ao 139 mesmo nos ltimos anos N o s o nem uma nem outra 100 da matriz produtiva nos assentamentos e acampamentos no MST mas convivendo tamb m com o modelo de produ o t pico do agroneg cio muitas vezes presente em fun o das condi es objetivas de produ o press o do mercado e n vel de consci ncia dos agricultores e agricultoras No bojo da contradi o entre modelos de produ o a Permacultura essencialmente formativa e transformadora na medida em que coloca o desafio de pensar fazer e concluir acerca
304. ssora Maria Em lia Caixeta de Castro Lima orientadora desta tese por sua aproxima o e sensibilidade com a Educa o do Campo e pelo dom nio e refer ncia das quest es te ricas da Educa o e Ci ncias Em 2009 no primeiro contato pessoal com a professora Maria Em lia tamb m coordenadora do curso de Licenciatura em Educa o do Campo Ci ncias da Vida e da Natureza ela deixou claro que para estudar aqui tem que trabalhar Era preciso que eu me engajasse de forma efetiva no curso dando minha contribui o Deu me ent o como tarefa contribuir com algumas aulas da disciplina Cultivo de Alimentos e a Persist ncia da Fome da grade curricular do LeCampo Acei tei o desafio l gico pois queria me aproximar dela e da UFMG e dei algumas aulas em 2010 de Permacultura dentro desta disciplina Veio da a ideia de estudar o ensino de Permacultura no MST como proposta de projeto de doutorado 30 Neste momento o curso de Licenciatura em Educa o do Campo j era um curso regular da UFMG tendo a educadora acad mica trabalhado com as turmas da habilita o de Ci ncias da Vida e da Natureza que iniciaram em 2008 e 2009 o referido curso N o sendo mais a turma com predomin ncia de educandos as do MST 95 Com a entrada no doutorado e a orienta o das Professoras Maria Em lia Caixeta e Andr a Horta Machado que surgiu na hist ria pela curiosidade pr via sobre Permacultura e trabalhos anteriores com a abordagem metodol
305. sto Cunha 2009 p 3 afirma que a informa o conclusiva busca a apenas a explica o do fato ocorrido e pode ser contada por qualquer um A narrativa por sua vez inconclusa busca a compreens o do fato ocorrido e tem impressa a marca do narrador Para Cruz 2012 p 62 63 a narrativa uma importante ferramenta de significa o para a nossa cultura e estar sempre expressando um saber baseado na autoridade da experi ncia vivida Segundo Santos 2014 p 133 a narrativa a linguagem privilegiada das permutas interculturais Contar hist rias gera um imediato e concreto sentido de copresen a por meio do qual as experi ncias sociais que ocorrem em diferentes tempos espa os e culturas se tornam mais facilmente acess veis e 47 intelig veis um tipo de copresen a que n o poss vel atingir por meio da linguagem conceitual seja ela t cnica filos fica ou cient fica SANTOS 2014 p 133 Voltando ao campo da pesquisa em Educa o nas investiga es sobre forma o de professores as Cunha 2009 afirma que as experi ncias narradas por um sujeito no caso o professor permitem que o pesquisador tamb m professor possa refletir sobre o seu pr prio processo formativo revendo sua trajet ria mediante a narra o da trajet ria do outro Oliveira e Pezzato 2010 acrescentam que as mem rias compostas por narrativas significativas podem suscitar ao pr prio indiv duo que narra sua hist ria novos sabe
306. subaltemizado pelo discurso hegem nico dessa ci ncia oficial Conforme seus estudos nos contos e na ci ncia em geral o campon s representado pela figura do capiau do matuto do jeca tatu impedido de dizer sua palavra ou simplesmente sem palavra a ser dita e que o MST tem se configurado enquanto recurso atrav s do qual o trabalhador rural brasileiro reivindica o direito palavra idem p 308 E esta palavra aproximando de Bakhtin o signo que se torna arena onde se desenvolve a luta de classes O autor conclui que romper a tend ncia de essencializa o do sujeito campon s requer que se reconhe a portanto o car ter h brido de sua identidade de seu saber permeado por princ pios de saberes antigos das culturas ind genas africanas europeias asi ticas assim 29 como das ci ncias avan adas MORAES 2012 p 313 e que o educador do campo deve assumir a tarefa de desconstruir tanto o lugar a que relegado o sujeito campon s desprovido de sua voz quanto o car ter essencial e puro com que revestida a sua imagem e de reconstruir em seu discurso a identidade h brida do sujeito campon s levando em conta o seu car ter hist rico ibidem Para Nascimento 2012 os povos do campo s o produtores coletivos de conhecimentos e a educa o do MST vem enfrentando o paradigma moderno da ci ncia ressaltando a crise deste Para a autora o MST enquanto sujeito coletivo investe na aquisi o do conheci
307. ta o e confer ncia dos NB s dos educandos as relembran a das tarefas do dia e relato dos trabalhos do dia anterior Foi a que tive a oportunidade de me apresentar para o coletivo dizer de onde vinha e porque estava ah Achei importante ressaltar que era do MST e que estava ali para partilhar aprender Normalmente como j experimentei em outros momentos os professores as que n o s o do MST acham este momento da Formatura estranho ou desnecess rio uma perda de tempo at j ouviu algu m dizer que aquilo estava tomando o tempo da aula Para mim mais uma vez estava em casa Ap s a Formatura acompanhei a m stica desenvolvida por um dos n cleos Depois deste momento os educandos e educandas se espalharam pela rea da Escola em um momento chamado de Leitura sendo 50 minutos destinados para este tempo educativo Liam individualmente sobre temas e textos relacionados ao curso possivelmente indicado pela coordena o ou algum a professor a Enfim chega a hora da aula e antes disso tive a oportunidade de ser apresentada a Francisco e trocamos as primeiras ideias e impress es Ele receptivo aparentemente uma pessoa simples e tranquila um t pico agricultor Eu ainda tentando me acostumar com o frio de uma manh literalmente gelada expliquei o motivo da visita sem me prolongar muito A M stica para o MST a express o ut pica de seus sonhos e ideais representado em um momento de reflex o em geral teatralizado
308. tam Na ideia da circularidade cultural de Bakhtin e Ginzburg n o h cultura pura e a cultura popular din mica tendo inclusive o potencial de influenciar uma cultura dita hegem nica FRESSATO 2009 p 12 O conceito de circularidade assim pressup e que elementos da cultura popular interajam e passem a compor a cultura hegem nica sendo que a rec proca tamb m verdadeira numa troca cont nua Esse conceito permite problematizar a influ ncia rec proca entre as manifesta es populares e as hegem nicas perceber a imprecis o de suas fronteiras sugerindo assim um fluxo regular de permeabilidade entre elas Permite abordar a cultura de uma perspectiva social privilegiando sua dimens o de complexidade e de diversidade de valores e sentidos Partindo do princ pio de circularidade Bakhtin revelou a partilha de padr es e signos a exist ncia de uma intensa rela o cultural de permuta cont nua e permanente A cultura transita em v rios sentidos estabelecendo incessantes intera es determinadas por realidades hist ricas espec ficas Ela n o pura e secularizada estando em transforma o ao mesmo tempo em que permanece em espa os e tempos definidos Ibid p 12 13 Trazendo essa discuss o para o campo da Educa o Popular pode se dizer que o saber surge e circula dentro e entre grupos e espa os permitindo que os sujeitos aprendam n o 69 diretamente do e com o seu meio natural naturalmente
309. tar cadeira da universidade para concluir a Licenciatura em Ci ncias Biol gicas E assim fui obter um novo t tulo de gradua o no Centro Universit rio Metodista Izabela Hendrix CEUNIH O MST MG tinha uma parceria com o referido Centro Universit rio naquele momento atrav s de concess o de bolsas de estudo para integrantes de distintos movimentos sociais como uma parte da a o confessional e filantr pica da entidade Volto no tempo para esclarecer por que at este momento mesmo atuando como educadora em algumas oportunidades no MST eu n o era uma professora formada Entre 1999 e 2000 ainda na gradua o em Vi osa optei por largar as aulas da Licenciatura e dar continuidade apenas ao Bacharelado Quando entrei na Universidade era poss vel terminar o curso com as duas habilita es se eu assim quisesse e cursasse os cr ditos referentes tanto ao Bacharelado quanto Licenciatura Acreditava naquela poca com minha arrog ncia e ousadia juvenil que aquelas aulas da Licenciatura em nada estavam me acrescentando na forma o docente Muita teoria muito sono pouco entendimento e nada de pr tica Retorno a 2008 e complementa o dos estudos para o t rmino da Licenciatura Foi uma loucura conciliar tantas viagens pelo MST na elabora o dos PDA s e participa o de outras atividades da milit ncia e as aulas noturnas da gradua o Por fim nos dois semestres de 2008 consegui terminar as 16 disciplinas que me faltava
310. terior da aula havendo alguns saltos e algumas digress es Ent o a narrativa resulta de um recorte pessoal da aula que vi a partir do meu jeito de contar o que ele disse e do que julguei que ele queria dizer ou que eu desejava contar Vou narrando os acontecimentos entremeando os com as falas de Francisco Enfim narro com ele As aulas observadas assim como outras atividades no per odo em que estive presente na EA foram registradas n o s no di rio de campo mas tamb m por meio de fotos filmagens e grava o em udio Os udios da aula e entrevistas realizadas foram posteriormente transcritos para s ent o dar in cio narrativa da aula As fotos e filmagens ajudaram muito na caracteriza o da aula e do espa o da aula e da Escola A aula observada ocorreu em dois dias consecutivos de atividades com aproximadamente 12 horas de dura o 7 horas em um dia e 5 horas no outro Neste per odo foi poss vel observar os conceitos utilizados por Francisco suas estrat gias de ensino aprendizagem suas formas de trazer para a aula suas experi ncias e compor a constru o do conhecimento Tamb m observei os materiais impressos e digitais que Francisco utilizou para a prepara o e desenvolvimento de sua aula Apliquei um question rio aos as educandos as do Curso no momento da visita Escola com quest es que giravam em torno da identifica o do educando a sua forma o 42 pol tica e t cnica v nculo com o MST
311. terpreta o produ o e partilha de significados Significa reconhecer que as ideias e os conceitos de um lado podem interessar ao outro e vice versa ALMEIDA 2010 p 106 Negar a fronteira por outro lado seria criar uma falsa ilus o de igualdade homog nica criada pelo universalismo centralista BRAIT 2009 p 154 A fronteira geogr fica que divide dois pa ses ou munic pios nada mais que uma linha imagin ria uma rua ou um rio que se interp e entre os territ rios Mas a fronteira geogr fica 66 que divide n o necessariamente isola ou exila os habitantes de um lado ou de outro que podem intercambiar seus costumes suas moedas suas formas de rela es sociais A fronteira um limiar entre pelo menos dois modos de pensar de viver de produzir e compartilhar conhecimentos e saberes Um limiar por onde circulam saberes e culturas um espa o onde poss vel dialogar e procurar os campos de vizinhan a entre diversos modos de conhecer ALMEIDA 2010 p 138 A fronteira pode ser pensada como ecologia do conhecimento como opera o do pensamento que considera as m ltiplas correla es as determma es as aproxima es os distintos padr es de auto organiza o Assim esta ecologia do conhecimento seria a possibilidade de comunica o entre e intra conhecimentos cient ficos e outras formas de saberes Tal como um ecossistema uma ecologia dos conhecimentos sup e comunica o e troca entre a diversidade de in
312. ticamente toda cheia de gua s que era uma gua de certa forma rasa e o que o povo que morava l come ou a perceber Eles cultivavam faziam agricultura aqui nas bordas e aqui na outra borda aqui no meio a maior parte era gua Pensando claro que aqui as plantas se desenvolviam melhor e o que eles come aram a fazer Eles come aram a colocar pedra em alguns lugares Vamos supor que aqui seria um lago e eles pegaram pedras e come aram a fazer uma entrada assim tipo um canteiro e come aram a plantar aqui foram enchendo de canteiros deixando esses espa os assim e foram cultivando Aqui plantavam um milho plantava uma rvore at animais eles criavam aqui Tinha canteiro de dois metros de tr s de cinco metros e foram indo at chegar um ponto que isso aqui ficou desse jeito E a eles descobriram que no meio aonde eles cultivavam aqui de vez em quando caia algumas folhas aqui dentro da gua e os peixes se aproximavam daqui ent o come avam a comer e aqui j se beneficiavam dos peixes tamb m Com o passar do tempo quando isso come ava a enfraquecer eles entravam na gua retiraram uma camada que tinha no fundo e jogaram em cima que era aquilo que tinha ca do l e virado uma esp cie de um composto Ent o por muitos anos inclusive at por mais de mil anos eles viveram dessa forma organizando a produ o desta forma At hoje na Cidade do M xico tem campon s que vive dessa forma ainda Isso aqui era um la
313. tiquado ou ousado Aconselhar menos responder a uma pergunta que fazer uma sugest o sobre a continuidade de uma hist ria que est sendo narrada ou mesmo para evocar outra que venha compor a li o perseguida Francisco n o define mas atrav s de suas hist rias contadas vai 179 dizendo qual a moral a conclus o tirada N o s o conclus es que fecham sentidos mas que se abrem para outras hist rias inclusive de educandos Os sentidos n o se fecham porque estes s o compreendidos pelo professor narrador da experi ncia como pr prios O caso que se passou com ele em outras circunst ncias e lugares e com outros sujeitos pode configurar outros sentidos Contra o desperd cio da experi ncia s n o podem se esquecer dos conselhos dados por algu m que viveu e por isso ensina O central da aula de Francisco n o a teoria apesar da mesma estar presente Toda a fala de Francisco est orientada em um fazer em uma oficina assim como evidenciado no seu encaminhamento do trabalho do TC ao propor o desenvolvimento de uma experi ncia e n o uma leitura ou a uma lista de exerc cios de refor o do TE Isso me remete a pensar como t m sido conduzidos os TC s os sentidos conferidos a eles e sua articula o com os TE s O modo de pensar de Francisco extremamente comprometido com a singularidade cada casa cada assentamento cada grupo de gentes cada experi ncia N o um manual de arquitetura ou engenharia sua refer nc
314. tividades Conforme proposta do MST para seus cursos conhecida como Pedagogia do MST as atividades durante o TE s o organizadas em diferentes Tempos Educativos Ou seja al m do tempo da aula existem outros tempos espa os e atividades tamb m com fun es educativas que comp em o curr culo do TE Neste Curso os Tempos Educativos estavam assim organizados Trabalho Formatura com M stica Leitura Aula Descanso Organiza o pessoal Experi ncia agroecol gica Reuni es C rculo de cultural Elabora o do TCC Esporte Cinema A grade curricular deste Curso envolve cinco grandes disciplinas Ci ncias B sicas Ci ncias Humanas Produ o Vegetal Agroecol gica Produ o Animal Agroecol gica e Gest o Rural Assim a disciplina de Ci ncias B sicas envolve as subdisciplinas Matem tica F sica Qu mica Biologia Comunica o e Express o e L ngua Estrangeira A disciplina Ci ncias 124 Humanas engloba Filosofia Hist ria Geral Hist ria da Am rica Latina Sociologia Rural Economia Pol tica Psicologia Social Coopera o e Cooperativismo Educa o para a Coopera o Teoria Pedag gica Metodologia de Pesquisa Cient fica e Geografia J a disciplina Produ o Vegetal Agroecol gica abarca as subdisciplinas de Ecologia Bot nica Bioqu mica Climatologia Fisiologia Vegetal Balan o Energ tico das Culturas e Cria es Princ pios e Fundamentos da Agroecologia Manejo e Desenho de Agroecossistemas Sol
315. to em fun o do dinamismo da aula proveniente dos peguenos acontecimentos que atravessam e transformam a aula em um evento com garantias sobre como come ar mas n o de como terminar Ibid p 393 Na aula observada por exemplo quando discutam sobre a necessidade de diminui o da utiliza o de recursos f sseis n o renov veis a discuss o foi ampliada para al m da Permacultura e da quest o ambiental e tica o tema deflagrou uma s rie de posicionamentos de classe assumindo um car ter tamb m pol tico Foram colocados em pauta na discuss o a matriz energ tica brasileira o impacto das hidrel tricas e a pol mica da produ o de biocombust veis em reas que poderiam ser produtoras de alimentos para a popula o Francisco entrou na provoca o colocada por um dos educandos e trouxe novos elementos para o debate al m do que se encontra nas cartilhas de Permacultura Ele trouxe a sua experi ncia como militante do MST e da Via Campesina apresentando a discuss o do MAB sobre o tema na aula O sil ncio muito presente nesta sala de aula ao contr rio do que indicado por Barbosa 2010 p 377 n o parece ser uma resposta subjetivo emotiva diante do fracasso no estabelecimento de di logo n o constitui uma forma de resist ncia devido ao desencontro de objetivos e desejos Ibid p 379 2 O sil ncio na sala de aula assume car ter contradit rio pois reivindicado para estabelecer limites ao transbordamento
316. tos pequenos movimentos estavam se organizando Brasil afora e os trabalhadores as em busca de seus direitos receberam o cunho pejorativo de sem terra pela m dia 1984 marca uma unifica o destes trabalhadores e trabalhadoras sob a sigla de MST aproveitando o nome com que j estavam sendo designados MORISSAWA 2001 CALDART 2004 Em 1984 em Cascavel PR centenas de trabalhadores rurais decidiram fundar um movimento social campon s aut nomo que lutasse pela terra pela Reforma Agr ria e pelas transforma es sociais necess rias para o nosso pa s Eram posseiros atingidos por barragens migrantes meeiros parceiros pequenos agricultores Trabalhadores rurais sem terras que estavam desprovidos do seu direito de produzir alimentos Expulsos por um projeto autorit rio para o campo brasileiro capitaneado pela ditadura militar que ent o cerceava direitos e liberdades de toda a sociedade Um projeto que anunciava a moderniza o do campo quando na verdade estimulava o uso massivo de agrot xicos e a mecaniza o baseados em fartos e exclusivos ao latif ndio cr ditos rurais ao mesmo tempo em que amplavam o controle da agricultura nas m os de grandes conglomerados agroindustriais Mas sera injusto dizer que come amos al A semente para o surgimento do MST talvez j estivesse lan ada quando os primeiros ind genas levantaram se contra a mercantiliza o e apropria o pelos invasores portugueses do que era comum
317. tos e atividades do MST de que participo Nesse sentido n o s tenho oportunizado esses cruzamentos como tamb m experimento a travessia J no caso de Francisco a realidade texto mais que pretexto ou exemplo um genu no contexto Ele conhece de perto o que est ali para ensinar constr i pr xis a partir do que vivencia e ensina aprendendo tamb m Para mim que estou predominantemente na academia a realidade do campo apenas o contexto did tico no sentido estrito de ilustra o das teorias e lugar de aplica o para o qual uma teoria transferida Eu falo sobre o que se passa no campo e ele sobre o que lhe passa no campo Concordando com Larrosa 2002 e Geraldi 2000 Francisco o territ rio portos de passagem o sujeito da experi ncia o espa o do acontecer Olhamos de lugares diferentes no mesmo esfor o de por em di logo mundos cindidos da cultura e da vida tal como faz Bakhtin 2010b e seu esfor o de articular o mundo da vida com o mundo da cultura na sua filosofia do ato respons vel O pr prio Francisco relata um pouco como costuma organizar as suas aulas de Permacultura atrav s de atividades pr ticas de praxe como o design da rea uma oficina de bambu a constru o de uma horta mandala e de experi ncias de tratamento de esgoto Os conte dos mobilizados por n s dois nas aulas perpassam os conhecimentos cient ficos e os saberes da experi ncia entretanto o peso destes diferente na proposta d
318. tro de um processo caracterizado como lento e gradual de mudan as radicais na estrutura da produ o e posse das reas agricult veis do Brasil CALDART 2004 Apesar das dr sticas consequ ncias desse processo preciso considerar que o mesmo foi marcado pela resist ncia dos povos do campo e dela os as trabalhadores as no final do s culo XX alavancaram a chamada Educa o do Campo Foi assim imersos nos processos de resist ncia que a partir do final da d cada de 1970 em diferentes regi es do pa s v rios movimentos sociais de luta pela terra retomaram suas articula es pol ticas fazendo grande agita o das massas populares que vinham sofrendo com as pol ticas agr ria e agr cola implementadas dando origens a muitas organiza es de trabalhadores no campo e na cidade CALDART 2004 A Educa o do Campo foi uma conquista inserida no pacote das mais variadas reivindica es desses atores sociais Para citarmos um exemplo segundo Netto 2010 ao montar os acampamentos o MST trazia para as ocupa es de fazendas a fam lia inteira inclusive as crian as e jovens em idade escolar Assim j nos primeiros acampamentos criados nos estados da regi o sul do Brasil constatava se a exist ncia de um grande n mero de crian as e jovens que haviam sido retiradas das escolas por seus pais que se mudaram para esses acampamentos nas fazendas ocupadas Frente a esta situa o o MST foi criando uma estrutura organizativa intern
319. tros contextos O que a ci ncia tradicional hegem nica oculta que a sua pretensa universalidade local A ci ncia possui um local de enuncia o parte na sua maioria de homens ricos brancos europeus e crist os Esse local de enuncia o determina a audi o e ouve se s aquilo que 174 conveniente tornando as outras vozes saberes irracionais Ibid p 92 A aula de Francisco tamb m uma contraposi o monocultura da escala SANTOS 2006 A l gica da escala dominante valoriza o universal e o global e invisibiliza as realidades consideradas particulares ou locais Assim a monocultura da escala produz a n o exist ncia das realidades consideradas particulares ou locais valorizando o universal e o global GUAS BENZAQUEN VALEN A 2012 p 93 Ao destacar as singularidades Francisco oportuniza o di logo e a constru o de saberes para com os sujeitos do campo reconhecendo assim a infinita pluralidade dos saberes afirmando conforme Santos 2007a uma Ecologia dos Saberes a ecologia de saberes confronta a monocultura da ci ncia moderna na medida em que se funda no reconhecimento da pluralidade de conhecimentos heterog neos sendo um deles a ci ncia moderna e em intera es sustent veis e din micas entre eles sem comprometer sua autonomia A ecologia de saberes se baseia na ideia de que o conhecimento interconhecimento Na ecologia de saberes cruzam se conhecimentos e tamb m ignor
320. tura trata da conserva o de energia a sua humana e a energia renov vel Ent o faz sentido planejar o projeto de acordo com o n mero de vezes que se z utilizam os elementos e com que frequ ncia necess rio trabalhar neles LEGAN 2007 A posi o relativa dos elementos conhecida como Zoneamento ou seja a devida disposi o dos elementos da propriedade rural de forma a otimizar o uso dos mesmos e a energia despendida no trabalho No caso a moradia ou centro de atividades por exemplo uma escola estaria posicionada na zona 0 na zona 1 estariam as atividades de trabalho di rio com visitas mais de uma vez ao dia horta compostagem espiral de ervas etc destinados a promover a seguran a alimentar da fam lia ou grupo envolvido A zona 2 considerada a zona de produ o e armazenagem onde se localizam o pomar os pequenos animais viveiro de mudas estrat gias de armazenamento de gua entre outros As zonas 3 e 4 respons veis 46 Para este princ pio n o utilizei a explica o da cartilha por avaliar que a mesma possivelmente por um erro de diagrama o do material n o est totalmente adequada 138 por atividades para a renda excedente e poupan a como pastagem com animais apicultura cultivos sazonais rvores para madeira etc a zona 5 por sua vez geralmente mais afastada da moradia normalmente s o reas de preserva o e contempla o da fauna e flora no caso dos assentamentos a
321. uact 8 amp ved 0CBOQFI AA amp url http W3 A 2F 2Feditora unoesc edu br 2Findex php 2Fcoloq uointernacional 2Farticle 2Fdownload 2F5203 2F3195 amp ei 9IbO VOJIpCxBK3 gJAH amp usg AFQICNF2KTknZYKIvYF UJIB GH44 gscQ amp sig2 mo2 BwC xRLjK Ye3cQ xohw3Q amp bym bv 85076809 d cWc gt Acesso 15 jan 2015 PINTO T H O A apropria o do discurso cient fico sobre evolu o biol gica por futuros professores de ci ncias em forma o no curso de Licenciatura em Educa o do Campo da UFMG 2013 Disserta o Mestrado em Educa o Faculdade de Educa o da Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte 2013 PITANO S Sujeito social In STRECK D R REDIN E ZITOKOSKI J J Org Dicion rio Paulo Freire 2 ed ver ampl Belo Horizonte Aut ntica Editora 2010a p 384 385 195 PPP LeCampo Projeto Pol tico Pedag gico Licenciatura em Educa o do Campo Faculdade de Educa o UFMG 2009 PRADO G V T SOLIGO R Memorial de Forma o quando as mem rias narram as hist rias de forma o In Org Porque escrever fazer hist ria Campinas Editora Al nea 2007 p 47 62 PRADO G V T FERREIRA C R FERNANDES C H Narrativa pedag gica e memoriais de forma o escrita dos profissionais da educa o Revista Teias 12 26 143 153 set dez 2011 PROGRAMA SINGULAR Entrevista Eduardo Galeano Publicada em 26 jan 2013 Dispon vel em lt https w ww youtube com
322. ue atuam n o s sobre a a o e a inten o mas principalmente sobre o personagem a hist ria ocorre conjuntamente no plano da a o e na subjetividade do protagonista Ibid p 21 A inseparabildade entre personagem ambiente e a o est profundamente enraizada na natureza do pensamento narrativo Tbid p 41 No que se refere linguagem centrada na oralidade o modo narrativo pode substituir o dado e o novo por met foras permitindo certa ambiguidade no que est sendo dito BRUNER 1998 p 25 O modo narrativo um modo de pensar mais dial gico e criativo e quase sempre surge a partir das experi ncias locais ALMEIDA 2010 2 2 3 FRONTEIRAS E CIRCULA O CULTURAL ENTRE CAMPOS DIFERENTES Partindo ent o do pressuposto de que existem formas diferentes mas complementares de estar e pensar o mundo importante destacar que existe algo entre essas duas possibilidades que as distinguem sem necessariamente impedir que nos movimentemos de uma a outra ALMEIDA 2010 Essa distin o pode ser melhor percebida na fronteira epistemol gica dos campos Tal fronteira din mica uma zona de contato um estar entre epistemol gico sem o qual os interc mbios interculturais n o poderiam ser bem sucedidos SANTOS 2014 p 132 Assumir a exist ncia deste tipo de fronteira conforme Santos 2014 adotar uma epistemologia de conhecimento posicional ou situado e permite estabelecer interc mbios interculturais visando a in
323. ue esta pesquisa se constitui Por m conforme Bakhtin a tens o n o algo negativo nem algo a ser superado ao contr rio a tens o constitutiva da cria o humana porque ela o que atesta a presen a do outro AMORIM 2006 p 111 grifo da autora Este percurso me levou condi o de narradora narrat ria e tamb m personagem desta hist ria tal como em outros trabalhos que se inscrevem na metodologia da pesquisa narrativa LIMA 2005 Apresento ao leitor a minha Novela de Forma o e uma vers o da hist ria de vida trabalho e milit ncia que me foi contada por Francisco bem como a narrativa da aula de Permacultura ministrada por ele e por mim observada e outra narrativa referente ao meu encontro com Francisco conforme citei anteriormente e a tens o decorrente disso S o v rias hist rias contadas que caracterizam os sujeitos da pesquisa apresentam o percurso e os dados hist rias de aula As hist rias que conto hoje n o s o tal como aconteceram mas vers es uma vez que receberam destaque as partes que me chamaram aten o e faziam sentido para mim na constru o da narrativa pretendida Em Lima Geraldi e Geraldi no prelo aprendi que toda vez que uma hist ria contada ela recriada tanto no universo do narrador quanto no de quem escuta Destaco que at ap s o exame de qualifica o em fevereiro de 2013 ainda acreditava que a an lise da aula de Francisco se daria em compara o com a minha meu plano e
324. ues estrat gicos e distribui o popula o em maior vulnerabilidade social Os produtos destinados doa o s o oferecidos para entidades da rede socioassistencial nos restaurantes populares bancos de alimentos e cozinhas comunit rias e ainda para cestas de alimentos distribu das pelo Governo Federal Cada agricultor pode acessar at um limite anual e os pre os n o devemultrapassar o valor dos pre os praticados nos mercados locais MDA 2014 2 A horta mandala uma atividade comum nas pr ticas permaculturais consiste em organiza o espacial da horta em formato circular Esta proposta circular visa otimizar o consumo de gua e tamb m aumentar quantidade de plantas por canteiro al m de contribui o est tica ao local Seguindo um outro princ pio permacultural a mandala possibilita trabalhar com os padr es naturalmente presentes na natureza pois os canteiros n o s o retangulares e n o formam ngulos retos pelo contr rio s o canteiros sinuosos acompanham os formatos naturais v rtices c rculos ondas etc 98 praxe que todas as escolas de forma o pol tica l existentes tenham um militante dirigente que participa da Dire o Estadual Al m das tarefas de coordenador Francisco foi educador em diversas atividades formativas que por l se realizaram inclusive envolvendo as tem ticas de Permacultura Nos anos de 2012 e 2013 n o mais participando diretamente da equipe de coordena o da escola Fr
325. ujeitos provocam um processo complexo no qual s o simultaneamente transformadores e transformados PITANO 2010 p 384 Se o sujeito mediado pela linguagem se constitui atrav s do outro pois este outro lhe d acabamento em fun o da exotopia que ocupa e do excedente de vis o que disp e 49 conforme Bakhtin Ao narrar narrador es personagens her is colocam se em movimenta o exot pica e adquirem um excedente de vis o uns em rela o aos outros buscando o seu acabamento ouvindo a hist ria do outro refazendo a sua hist ria transformando e sendo transformado 2 2 LUZ DAS TEORIAS OU H LUZ NAS TEORIAS 2 2 1 SABERES E CONHECIMENTOS O que se caracteriza como saber e qual a import ncia dele Como nos aproximamos dos discursos impl citos de domina o do ser humano pelo ser humano na medida em que colocamos em oposi o saberes e conhecimentos Em outras palavras que rela es de poder se estabelecem ao distinguirmos saberes e conhecimentos Olharemos para essas quest es te ricas mais gerais de modo a construir refer ncias para analisarmos discursos que se elaboram em uma sala de aula na qual se ensina Permacultura aproximando no ensino as ci ncias e os saberes da experi ncia na Educa o do Campo Nosso pressuposto consequ ncia da pr pria defini o e Permacultura que os discursos da pr tica do ensino de Permacultura no campo est o constru dos tanto com base nos conhecimentos cient ficos
326. ula O desafio para os professores seria desenvolver nas crian as o discernimento de escolher qual saber melhor se aplica aquela determinada situa o pois as pessoas utilizam diversos modos de pensar a depender do dom nio em que se encontram MATOS et al 2012 p 1 Para Lima e Freixo 2011 um desafio posto disciplina de ci ncias articula o dos saberes que os estudantes trazem para a sala de aula e o cotidiano das aulas de ci ncias com seus conceitos procedimentos e compet ncias Crepalde e Aguiar Jr 2011 ao descreverem atividades para o desenvolvimento do conceito de energia com estudantes da Licenciatura do Campo observaram que al m de n o abandonarem o conceito cotidiano de energia os professores em forma o reconhecem e dominam os aspectos centrais constitutivos do conceito cient fico de energia associando os a contextos espec ficos dando uma nova significa o para o conceito em um di logo intercultural com as ci ncias Pinto 2013 discute que a apropria o do discurso cient fico sobre evolu o biol gica por educandos da Licenciatura do Campo revela uma recria o das explica es da ci ncia atrav s dos discursos e cren as que estes trazem da vida para a sala de aula Para a autora os educandos do campo n o se entregam facilmente coloniza o domina o aos discursos ass pticos e formatados da ci ncia hegem nica Ibid p 96 130 4 3 AGROECOLOGIA E PERMACULTURA OUTROS PARADIGM
327. uma perspectiva coletiva e hist rica implica tamb m dizer que s o sujeitos concretos reais e datados S o diferentes mas feitos iguais a partir das condi es resultantes de opress o de car ncias de exclus o de discrimina o dos sujeitos ROSENO 2011 p 3 Se o ser sujeito conforme Alvar z 2011 p 11 12 aquele que pensa e age por si pr prio por m numa rela o de acolhimento ao Outro porque s o outro capaz de trazer para mim o que eu jamais poderia me dar a rela o Eu Tu que confere sentido vida No MST Francisco est inserido em um projeto coletivo pol tico ideol gico de transforma o social Assim este sujeito coletivo que forma a sua identidade Sem Terra Sem Terra em letra mai scula e sem o h fen se refere identidade camponesa e a correspond ncia com a luta pela terra n o denotando a nega o n o sendo a condi o de n o possuir terra No MST mesmo ap s a condi o da pessoa assentada e portanto com direito de uso de uma terra sua identidade continua sendo de Sem Terra dentro de um movimento que n o acaba para um indiv duo quando consegue sua terra Esta o compromete ideologicamente com os Outros Participante e construtor deste sujeito coletivo Francisco traz essa sua identidade inscrita no modo de dizer Muitas vezes se posicionou em aula na terceira pessoa do plural numa refer ncia ao conjunto do MST e n o s aos atos de sua pessoa Quando discutiam sobre a possibilidade
328. universal usa se uma linguagem de defin es em busca da precis o especializa se e fragmenta se o conhecimento dividindo o em disciplinas e desintegrando os saberes Opera na perspectiva cartesiana e positivista que separa o sujeito do objeto do conhecimento e que considera como sendo a forma nica e v lida de conhecimento aquela que sujeita especula o observa o e ao experimento SILVA 2010 p 43 Caracter sticas marcantes tamb m deste modo de pensar s o a reprodutibilidade dos argumentos e as abstra es distanciadas das experi ncias vividas ALMEIDA 2010 p 36 assim como a assimila o redu o e nega o das diversas formas de representa o e percep o do mundo Ibid p 58 O modo paradigm tico busca transcender o particular buscando cada vez mais a abstra o e no final renuncia por princ pio a qualquer valor explicativo que diga respeito ao particular BRUNER 1998 p 14 Assim o conhecimento adjetivado como cient fico remete a certo modo de produ o e circula o de enunciados que buscam a universalidade como constru o geral independente dos contextos ou realidades locais estabelecendo leis e teorias universais fazendo crer na exist ncia de um m todo seguro para atingir seus fins chamado m todo cient fico De acordo com Almeida 2010 p 118 esse m todo prioriza propriedades como linearidade rela es de causa e efeito e infer ncias orientadas pela regularidade
329. utores e conceitos como Aikenhead cruzamento de fronteiras e Bakhtin e Ginzburg circula o circularidade algumas altera es nos levaram a outra elabora o do problema Investigar os esfor os de cruzamento de fronteiras dos saberes da experi ncia e os saberes da ci ncia e da tecnologia nos processos de forma o em Permacultura no MST sendo por muito tempo este o objetivo da pesquisa Entretanto ainda aqui e assim foi at o in cio do trabalho de campo vislumbr vamos direcionar o olhar para a circula o desses saberes nos movimentos discursivos do educador que se supunha ser professor universit rio urbano com afinidade ou milit ncia no MST com os educandos do campo na sala de aula Tamb m aqui trabalh vamos com o termo saberes para referir tanto quilo que 36 produzido na experi ncia da vida no campo quanto ao que produzido pela ci ncia e ensinados na academia Na condi o de professora de Permacultura no LeCampo com o objetivo de me afastar da condi o de pesquisadora que ao mesmo tempo pesquisada sa em busca de uma escola do campo em que essa disciplina fosse ministrada na poca do ano mais conveniente para coletar os dados Era o fantasma da objetividade e neutralidade me rondando Al m da necessidade de enriquecer o meu excedente de vis o e exerc cio de exotopia a partir da alteridade e ent o transformar impress es subjetivas em saber intersubjetivo Assim identifiquei a Escola de
330. vez com Francisco Eu saindo de minha zona de conforto casa fam lia filho pequeno amamentando trabalho estudos vou ao encontro de algu m que foi indicado por diferentes fontes do MST e parceiros como sendo umas das refer ncias no mbito da Permacultura no seio do MST Como tinha contato anterior com outro militante do MST tamb m educador e permacultor esperava encontrar um determinado perfil de educador e acabei encontrando outro Vou contar ent o esse encontro curioso desconcertante e oportuno 38 lt http permacoletivo wordpres s com gt 103 Com a previs o de passar uns dias em outro estado para vivenciar as aulas de Francisco sofri com a expectativa desse encontro M e de primeira viagem com o filho pequeno ainda amamentando vivi o dilema de resolver se ia sozinha e assim ter mais tempo e dedica o s aulas al m de sossego ou se levava o filho para evitar a saudade continuar a amamenta o e adiar a primeira oportunidade de estarmos distantes por uns dias Depois de muitas idas e vindas nas decis es tomadas contando com o suporte do meu companheiro mesmo com o cora o apertado decidi que o melhor era viajar sozinha e experimentar quase quatro dias longe E assim fui Com uma mudan a n o programada no voo e alguns contratempos na chegada acabei chegando Escola no in cio da madrugada de uma quinta feira Felizmente pude contar com um taxista gente boa que me deixou dentro do Assentament
331. vra como pr xis com Bakhtin podemos afirmar que esta indicia o sujeito sem libi da exist ncia Ou seja cada sujeito chamado a responder eticamente pelos seus atos e suas palavras sem libi sem prote o n o escapando da sua reponsabilidade assumindo o seu dever de responder BAKHTIN 2010c N o temos libi para a exist ncia porque n o temos libi para o lugar nico e irrepet vel que ocupamos Neste sentido a responsabilidade abarca cont m implica necessariamente alteridade perante a qual o ato respons vel uma resposta GERALDI 2010 p 85 Todos os sujeitos do campo ou da cidade jovens ou adultos educadores ou educandos as s o constitu dos na alteridade nesta tens o entre o eu e o outro estabelecendo situa es de di logo assim como os personagens desta hist ria 76 3 OS SUJEITOS E SEU DES ENCONTRO Nosotro semo la frontera m s que cualqu r o m s que cualquier puente F bian Severo 2014 p 17 Apresento a seguir o meu percurso e o de Francisco culminando na nossa rela o com o MST e a Permacultura Optei por apresentar as informa es sobre o MST sobretudo as hist ricas e alguns esclarecimentos da sua estrutura organizativa como notas dentro das narrativas destes sujeitos entrela adas a alguns momentos da minha hist ria de vida e da hist ria de Francisco Tais dados apresentados em notas n o conferem um car ter menos importante a estes fatos quando comparados ao
332. watch v QZ7S zy0s g6M t 316 gt Acesso em 22 jan 2015 PRUDENTE L T Permacultura uma pr tica eco s cio ambiental Centro de Forma o do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra MST do Rio Grande do Sul In IV ENCONTRO NACIONAL e II ENCONTRO LATINO AMERICANO SOBRE EDIFICA ES E COMUNIDADES SUSTENT VEIS 2007 Campo Grande Anais Campo Grande Unochapec 2007 p 1165 1174 PRUDENTE L T COSTA F C RIPOLL A C Habita o Social Rural Bioconstru o em Assentamento da Reforma Agr ria no Pampa Ga cho In V ENCONTRO NACIONAL e HI ENCONTRO LATINO AMERICANO SOBRE EDIFICA ES E COMUNIDADES SUSTENT VEIS 2009 Recife Anais Recife UFPE 2009 QUEIROZ I A Apontamentos sobre o conceito de cultura no C rculo de Bakhtin e a esfera pol tico cultural no Brasil contempor neo In I EEBA ENCONTRO DE ESTUDOS BAKHTINIANOS 2013 Vit ria Anais Vit ria UFES 2013 Dispon vel em lt http 2eeba files wordpress com 2013 09 apontamentos sobre o conceito de cultura no cc2alrculo de bakhtin e a esfera polc2al tico cultural no brasil contemporc3b3 neo pdf gt Acesso em 05 jan 2015 REIS C Alteridade cultura e m dia digital a constitui o dos sujeitos no Facebook In II EEBA ENCONTRO DE ESTUDOS BAKHTINIANOS 2013 Vit ria Anais Vit ria UFES 2013 Dispon vel em lt https 2eeba files wordpress com 2013 09 alteridade cultura e mc2aldia digital a constituic2bac3bao dos sujeitos no facebook pd
333. xemplos para al m desta Pra mim foi um momento meio truncado qui um pouco confuso Eu n o conseguia ver como ele pretendia contemplar toda a parte te rica com aquele momento Algumas hist rias vinham para exemplificar um ou outro princ pio permacultural Quando falava sobre a an lise e distribui o por setores e zonas dentro do princ pio planejamento eficiente dos recursos energ ticos do local contou sobre a hist ria do aeroporto _ Foi constru do um aeroporto em S o Paulo que se chama Aeroporto de Cumbica Cumbica um lugar uma regi o que os ndios n o constru am Quando iam construir suas ocas eles n o constru am nesse local e deram o nome de Cumbica O que quer dizer Cumbica Ventos fortes E foi l que constru ram o aeroporto l onde tem os ventos fortes Ent o a gente n o olha pra essas coisas Enquanto abordava o quinto princ pio permacultural usar prioritariamente recursos biol gicos renov veis em vez de recursos provenientes de combust veis f sseis n o renov veis contou nos tamb m que _ O motor a diesel muito utilizado na agricultura ele poderia funcionar com qualquer leo comum leo vegetal S que tem uma legisla o que impede isso Por qu Para nos obrigar a usar um leo que produzido por uma grande ind stria que de combust vel f ssil produzido com petr leo Pra que isso Para que o agricultor n o produza seu pr prio leo E por conta dessa hist ria rendeu uma boa
334. xperimentando v rias amostras botava um pouquinho mais de terra um pouco mais de gua e assim fomos experimentando _ Outra coisa que em alguns pa ses da Am rica Latina muito usado o bambu para constru o No Brasil ainda pouco usado at porque o bambu tem que fazer um tratamento pra ele ser melhor usado e n o ter muito problema de inchar ou de apodrecer t o r pido Eu sei que na Col mbia e no Equador bastante usado A eles t m que fazer o tratamento dele Se voc s quiserem a gente pode combinar um dia desses e fazer uma oficina de tratamento do bambu N s aprendemos a fazer e n o tem muito segredo n o e tamb m n o tem muito custo Como aqui n s temos o bambu tem toda uma t cnica pra voc cortar o bambu de maneira que ele brote depois pra produzir mais bambu depois e tamb m como preparar ele Depois das teorias e hist rias de uma pr tica fartamente teorizada Francisco trabalhou muito com imagens projetadas pelo datashow exemplificando algumas pr ticas permaculturais constru es com terra e com bambu telhado verde c rculo de bananeiras 154 biofossas horta mandala espiral de ervas galinheiro m vel minhoc rio composteira aquecedor e secador solar forno solar cisternas de capta o de gua da chuva biodigestor entre outras E atrav s das imagens detalhava um pouco como era cada uma destas pr ticas Mostrou muitas fotos de uma escola em Santa Catarina com suas constru es organi
335. zadas sob a tica da Permacultura Exibiu um v deo document rio em espanhol idioma comum ah naquela Escola que apresentava diversas constru es com terra _ Vejam aqui um exemplo de mandala que tamb m muito usado na Permacultura Como tem v rios exemplos sempre bom a gente discutir com o grupo que a gente vai fazer o projeto Por exemplo eu fui dar aula no CEAGRO e eles tinham um local l que eles queriam fazer uma mandala a eu perguntei pra eles Que tipo de mandala voc s querem fazer Eles foram l me mostraram a rea j colocaram um pouco das ideias que eles tinham da mandala E a o que n s fizemos Eu sugeri mais algumas coisas partimos daquela ideia que eles j tinham n o falei pra eles Olha essa ideia que voc s t m aqui n o serve vamos fazer essa outra aqui N s partimos daquela ideia e acabou sendo uma experi ncia muito boa fizemos l a mandala ficou uma mandala como posso dizer at diferente das outras mas seguindo os mesmos princ pios das outras mandalas que a tamb m aquilo que falei ontem das biofossas As biofossas eu tenho inclusive aqui no material e depois vai ficar pra voc s Tem trocentos modelos de biofossas mas o que importa o princ pio voc seguindo o princ pio e partindo daquela ideia que voc vai utilizar o material que tem no local Por exemplo o cara tem l um estoque de pneu velho ent o facilita pra fazer uma biofossa com pneu Agora o c
336. zindo a mesma A primeira coisa que eu acho que n s temos que dar uma boa nivelada Ent o talvez para n s come armos eu queria at ouvir um pouco de voc s o que voc s compreendem ou entendem de Permacultura Eu sei que tem uns que j tem at pr ticas de Permacultura Quem quer falar Reconhece que em uma sala de aula cada sujeito nico e que tem suas experi ncias Os conhecimentos dos estudantes n o eram esquartejados na m o do educador triturados e desqualificados frente s verdades universais que ele estava ali para ensinar A aula se deu em constante di logo com os educandos desviando do conte do te rico por vezes para dar espa o s coloca es dos estudantes e apresentar novas narrativas Francisco se contrap e na pr tica ao que foi chamado por Freire de concep o banc ria de educa o que considera apenas os conhecimentos ditos sistematizados os conhecimentos cient ficos assumindo uma concep o dial gica da mesma tornando relevantes os diversos e diferentes tipos de saberes que n o podem ser hierarquizados e separados do mundo da vida Considerando conforme Bakhtin que a rela o com o outro essencial na constitu o e transforma o do sujeito e conforme Freire que imposs vel pronunciar o mundo sozinho Francisco me deu bons exemplos de como trazer para a composi o da sua aula o outro com seus enunciados concretos Especificamente afirmou que a aula precisa ser

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